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APRESENTAÇÃO
Companheiras e companheiros Sem Terra,
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que as massas sobrantes precisam ser suprimidas.
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Estamos fazendo um grande esforço para diagnosticar em
que medida a violência, em suas várias manifestações, im-
possibilita a vida digna da classe trabalhadora geral, mas
principalmente de pessoas LGBT, crianças e adolescentes,
jovens, mulheres, negras e negros, que têm seus direitos
violados e sua dignidade ferida, inclusive no interior de
nosso Movimento.
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É necessário pensar também como estamos formando ‘os
novos homens e novas mulheres’ no processo de cuidado
com a infância em nossas áreas. Pois, em relação às crian-
ças e adolescentes a violência também tem se aprofundado.
Mesmo antes da pandemia, o Brasil já tinha 1,7 milhões de
crianças em situação de exploração de trabalho, nos colo-
cando a necessidade de refletir sobre como compreendemos
o trabalho em relação às crianças e adolescentes em nossos
territórios - ele é encarado como um princípio educativo, ou
um processo de exploração? Quantas vezes, a militância não
presencia uma criança assumindo responsabilidades, na casa,
na roça, que estão muito para além de sua idade?
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tão em condições de vulnerabilidade; 3. o abusador, muitas
vezes, é encoberto por ser pessoas de referências no local,
4. falta de prioridade nos espaços de direção para discutir o
assunto, sendo encarado como tema “delicado” ou “privado”;
5. as denúncias não são frequentes por medo de retaliação
vinda por parte do agressor e as autoridades exigem muitas
provas para que a denúncia se efetive.
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mulher é estuprada a cada 11 minutos e 51% das vítimas de
violência sexual são mulheres negras. (Atlas da Violência/
IPEA, 2021). Construir infográfico
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outras ações tem trazido consequências graves para a so-
brevivência do nosso povo.
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Poderíamos seguir elencando muitas outras expressões
da violência em nossos assentamentos e acampamentos,
como a violência contra as mulheres, o abandono de idosas
e idosos, a exposição de crianças e jovens (principalmente
negros) à violência letal, o aumento alarmante de número
de suicídios entre a juventude. Sabemos que a pandemia
contribuiu para o aprofundamento desta realidade e cabe
a nós o compromisso de revertê-la.
A violência estrutural
e projeto de poder
Violência do capital
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ao capitalismo. Fazer parte da massa sobrante nos colo-
ca num lugar de extrema exclusão social, vivenciada como
opressão de classe, acrescida a opressões específicas, ma-
nifestadas por nossa cor (racismo), gênero (patriarcado),
orientação sexual (LGBTfobia), idade (exploração infantil,
maus tratos a idosos), entre outras.
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Violência de Estado
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Temos que olhar com
profundidade e preo- O fundamentalismo é a forma
cupação para esta for- de cimentar os valores ultra ne-
oliberais na sociedade, garantin-
ma política como está do que a implementação dessas
em pauta, articulada políticas tenha menos resistência
ao machismo, ao racis- e até mesmo apoio na classe da
trabalhadora. Baseado em doutri-
mo, a LGBTfobia e que na ou prática das religiões que in-
muitas vezes nós mes- terpretam de modo literal a bíblia.
mos colocamos para afirma ser essencial a obediência
excessiva e literal aos bíblicos
debaixo do tapete, ao conservadores.
tratamos como perfu-
maria, como cortina de
fumaça. Ao encararmos
assim, deixamos de
desvendar como estes elementos estão articulados num
projeto em que Bolsonaro é apenas um personagem mal
acabado, mas que segue sem ele.
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No que avançamos com a formulação da Reforma
Agrária Popular em nosso Programa Agrário
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Isso nos coloca diante do fato de que a construção da Re-
forma Agrária Popular não está acabada, portanto, é neces-
sário e fundamental, que tenhamos um olhar crítico, orga-
nizado para o nosso Programa Agrário e nos perguntarmos:
no que ainda precisamos avançar frente ao que já construí-
mos? O que precisamos rever e que, inclusive, hoje nos limi-
ta, porque como fruto de processos dialéticos, precisam ser
superados. Este não é um debate teórico, abstrato, é um de-
bate que tem de estar vinculado diretamente ao nosso ser
Sem Terra, enquanto sujeitos individuais e sujeitos coletivos.
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Nossos desafios
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de novas relações com a natureza e entre os seres huma-
nos. Nesse sentido, temos que projetar como redirecionar
a nossa ação política para fazer o enfrentamento às vio-
lências, enquanto organização, em nossos territórios mas
também nos espaços de militância.
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nossa subjetividade. Legado deixado por Lélia Gonzalez,
Clóvis Moura, Beatriz Nascimento e Carolina Maria de Je-
sus, por exemplo, mas pouco referenciados em nosso re-
pertório formativo. Faz-se necessário, aliás, conjugar arte e
política, para compreendermos nossa totalidade.
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se ou Coletivo LGBT, mas deve compor estruturalmente o
nosso Programa.
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mobilização popular e de formação;
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opressões que o sujeito LGBT, negro/a, mulher lida em seu
cotidiano, inclusive no interior de nossa organização.
No debate do nome ficou claro quem iria. Helena não pode simples-
mente largar marido e filho e se mudar para outro país - mesmo que
fosse por um ano, mesmo que organizasse os cuidados com o filho
com sua família que está no Nordeste - que tipo de mãe, de esposa
ela seria se fosse? Assim, automaticamente, ela abre mão de ter uma
experiência tão instigante e formadora como essa, pois é incogitável
que fosse ela e não ele. Teve medo do que a sociedade, a comunidade,
a militância pensariam dela.
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Construir uma práxis revolucionária das novas relações humanas, as-
sumindo o enfrentamento à violência como central, é um caminho de
superação dialética da violência estrutural. Estas são questões a serem
enfrentadas coletivamente como um combate direto, na vivência das re-
lações cotidianas, mas também pelo anúncio, pela projeção de quais são
as novas relações que nós queremos construir. Essa bonita capacidade de
utopia, construída no cotidiano pelo MST, é decisiva para um processo de
transformação de nossas relações e deve estar pautada nas dimensões
educacional, produtiva, formativa, cultural, organizativa e das lutas.
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Acolher aquelas e aqueles que sofrem a violência >>
26
<< Enfrentar as violências
27
Construir um programa de transição >>
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Questões para o debate
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Era o último dia da reunião. Na noite anterior teve uma
cultural para celebrar o reencontro da militância depois
de tanto tempo em isolamento social. As cadeiras vão
sendo ocupadas e a reunião está para começar, mas
lá de trás se ouve um burburinho que parte de uma
rodinha que tem no centro uma companheira. Ela está
visivelmente nervosa.
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