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A INSTABILIDADE DAS CATEGORIAS ANALÍTICAS NA TEORIA FEMINISTA -

HARDING, SANDRA 1986.

PROBLEMA GERAL - DESAFIOS FEMINISTAS À CIÊNCIA E À EPISTEMOLOGIA. p.


6.

PROBLEMA
- objetivo inicial da teoria feminista: estender e reinterpretar as categorias de
diversos discursos teóricos de modo a tornar as atividades e relações sociais
das mulheres analiticamente visíveis no âmbito das diferentes tradições
intelectuais.

- não foram as experiências das mulheres que fundamentaram qualquer das


teorias a que recorremos. Desse modo, modelos teóricos aos quais
recorremos, ao mesmo tempo, se aplicam e não se aplicam às mulheres e às
relações de gênero. Para isto, o feminismo busca entender os limites propostos
pelas teorias conhecidas, reinterpretar suas afirmações centrais e quando
possível tomar emprestado conceitos e categorias para tornar visíveis a vida
das mulheres e a visão feminista das relações de gênero. Porém é preciso
perceber que essas teorias perdem sua essência original, saem da órbita da
intenção original de seus criadores e dos adeptos não-feministas.

- PROBLEMA:
- indagar se não estaríamos - ao estudar outras experiências femininas -
distorcendo a análise das vidas das mulheres e homens com as extensões e
reinterpretações que fizemos.

"Uma vez entendido o caráter mítico do homem universal e essencial que foi
sujeito e objeto paradigmático das teorias não-feministas, iniciamos a duvidar da
utilidade de uma análise que toma como sujeito ou objeto uma mulher universal -
como agente ou como matéria do pensamento. Tudo aquilo que tínhamos
considerado útil, a partir da experiência social de mulheres brancas, ocidentais,
burguesas e heterossexuais, acaba por nos parecer particularmente suspeito,
assim que começamos a analisar a experiência de qualquer outro tipo de mulher.
As teorias patriarcais que procuramos estender e reinterpretar não foram
criadas para explicar a experiência dos homens em geral, mas tão-somente a
experiência dos homens heterossexuais, brancos, burgueses e ocidentais."

"Na busca de teorias que formulem a única e verdadeira versão feminista da


história da experiência humana, o feminismo se arrisca a reproduzir, na teoria e
na prática política, a tendência das explicações patriarcais para policiar o
pensamento.
[...] Uma vez que se tenha dissolvido a ideia de um homem essencial e universal,
também desaparece a ideia de sua companheira oculta, a mulher."
- Desse modo, não podemos pensar de modo universal em experiências de
gênero binários, ou somente de gêneros, porque há elementos históricos,
complexos de classe, raça e cultura.

- PROBLEMA:
- O artigo disserta sobre desafios que se colocam, ao processo de construção
de teorias e, em particular, a elaboração de teorias feministas. Os desafios
relacionam-se com o uso da teoria para nossa própria transformação e das
relações sociais, na medida em que nós, como agentes, e nossas teorias, como
concepções de reconstrução social, estamos em transformação.

"A própria teorização é, em si mesma, perigosamente patriarcal, porque


presume a separação entre aquele que conhece e aquilo que é conhecido."

- Crítica ao pós-modernismo: o pós-modernismo, como uma espécie de


relativismo absoluto, quando impensado, se coloca em uma postura alienada e
distanciada das necessidades políticas e intelectuais que orientam o dia a dia de
nossos pensamentos e práticas sociais.

- PROBLEMA:
Como poderemos construir uma teoria feminista adequada, ou mesmo diversas
teorias feministas, pós-modernas ou não? Onde iremos encontrar conceitos e
categorias analíticas livres das deficiências patriarcais? Quais serão os termos
apropriados para dar conta do que fica ausente, invisível, emudecido, que não
somente reproduzam, como uma imagem, as categorias e projetos que
mistificam e distorcem os discursos dominantes?
- Usando parte de um e outro discurso, improvisando, usando a criatividade,
revendo e repensando sempre as teorias e procurando sobre descobrir novos
androcentrismos nos conceitos e categorias que vimos utilizando,
- É preciso ainda, para Harding, dar mais ênfase a realidade, ou seja, a
instabilidade das categorias analíticas e a falta de um esquema permanente de
construção de explicações, pois, precisamos e é possível e viável aprender a
entender essa instabilidade das categorias analiticas, e mais, é por meio dessa
instabilidade que podemos encontrar as reflexões teorias pertinentes sobre
determinados aspectos da realidade política, ou seja, Harding defende que é
preciso usar a própria instabilidade como recurso de pensamento e prática, e
ainda entender que em se tratando de feminismo, não há uma ciência normal,
estamos sempre à margem, propondo ciências extraordinárias em razão da
insatisfação com a ciências normais.
- Isso porque, para Harding, é uma utopia pensar que o feminismo poderá ser
uma teoria perfeita, um paradigma de ciência natural com elementos conceituais
e metodológicos universais. Ao contrário, Harding defende que o feminismo e
suas categorias analiticas devem ser instáveis, isto porque, o universo para o
feminismo, e sob a ótica feminista é instável e incoerente.
- O que acontece é que há no universo androcêntrico inúmeros conceitos
à disposição, porém, para a autora, eles criam dilemas impossíveis de serem
respondidos pelo e em prol do feminismo.

--
- Para Harding, ao criticar a ciência e a epistemologia normal buscamos não
responder aos seus problemas e sim repensar, propor melhores problemas do
que aqueles dos quais estas ciências partem.
- Desse modo, entendemos que a crítica feminista à ciência "normal"
mostram, inicialmente, que as categorias do pensamento ocidental necessitam de
revisão.
- O feminismo questiona e problematiza as teorias e os métodos iniciais
que formularam os "problemas" da ciência normal ocidental, e seus métodos ou
meios de respondê-los.
- O feminismo, para Harding, precisa refletir sobre tudo que a ciência
normal não faz, as razões destas exclusões e ausências.
- Harding defende que não precisamos buscar a coerência teórica, ou
uma universalidade para o feminismo, e que é mais plausível tomar como padrão
a fidelidade aos parâmetros de dissonância entre os pressupostos dos
discursos patriarcais.

- Para Harding, precisamos compreender um mundo que não foi criado por nós,
um mundo - masculino - que desencoraja a fantasia sobre os modos de ordenar
a realidade segundo nossos desejos.
- Questão pessoal: porque fantasia e desejos são atrelados a mulher? e
em oposição ao homem?
- Harding entende que precisamos olhar para os desconfortos
intelectuais, mesmo dentro da própria produção científica feminista, reconhecer
que alguns deles podem ser inadequados e errôneos, e que certos problemas
não tem - ao menos ainda - uma solução viável, real e somente utópica.

- MÁ CIÊNCIA OU CIÊNCIA CORRIQUEIRA?


- Será que os pressupostos sexistas da pesquisa científica substantiva resultam
de procedimentos de má ciência ou apenas de uma ciência corriqueira?

- Harding entende que pensar em má ciência facilita, pois oferece possibilidades


de reformar o tipo de ciência que esta sendo feita, e a segunda, parece a
resposta mais triste, porque demonstra que a ciência normal - e masculina -
pode ser a única possível no momento.
- De todo modo, Harding reconhece que o feminismo mostra que a ciência
normal - quando universal e/ou masculina - é má conduzida, em razão de ser
distorcida pela visão masculina pré-concebida que toma conta dos problemas da
ciência normal, suas teorias, conceitos, métodos e ainda, interpretação dos
resultados.
- Como possível resposta ao problema: Harding advoga que é preciso
identificar e eliminar a visão masculina por meio da adesão aos métodos
científicos que permitam configurar um quadro objetivo, destituído de gênero - e
consequentemente, não valorativo, quanto ao gênero -, e de pressupostos
"naturais".
"A pesquisa feminista não representa a substituição da lealdade a
um gênero pela lealdade a outro - a troca de um subjetivismo pelo outro - mas a
transcendência de todo gênero, o que, portanto, aumenta a objetividade."
- Tudo isto em prol de obter resultados de pesquisa objetivos e isentos de
juízos de valor. Harding mostra que o movimento de mulheres - ou em defesa da
igualdade entre os gêneros - gera mais cientistas e mais cientistas - homens ou
mulheres - feministas, e consequentemente dotados de maior propensão para
reconhecer a predisposição androcêntrica do que produzem os homens - e
mesmo as mulheres - não feministas.

- Harding entende que as categorias mais fundamentais do pensamento científico


sofrem de desvios machistas. Homens e mulheres não feministas como
categoria social.

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- PROBLEMA:
- A completa eliminação do androcentrismo na ciência significa o fim da própria
ciência? Como podemos nos dar ao luxo de escolher entre redimir a ciência ou
dispensá-la totalmente quando nenhuma das alternativas nos convém?

CIÊNCIA ALTERNATIVA OU PÓS MODERNISMO:

- Harding entende que as primeiras conclusões das pesquisas feministas que


merecem ser comentadas são aquelas que dizem respeito à possibilidade e
importância de compreender a natureza e a vida social por meio de uma ótica
que transcende o gênero, que subverte qualquer interpretação subordinada a
um gênero.
"Os apelos feministas à verdade e objetividade revelam confiança no papel da
razão no triunfo do feminismo, a crença de que este venha a ser
corretamente entendido como algo mais do que uma política de poder - embora
também o seja."

- Segundo Harding, erroneamente as defensoras de uma epistemologia alternativa


e feminista defendem que: "a experiência social caracteristica dos homens, assim
como a da burguesia, oculta a natureza política das relações sociais que eles
veêm como naturais. Os padrões dominantes do pensamento ocidental justificam
a subjugação da mulher como necessária ao progresso da cultura e as visões
muito parciais e mais despropositadas do homem como sendo as únicas dotadas
de excelência humana. A mulher é capaz de usar a análise e a luta política para
oferecer uma compreensão menos parcial, menos defensiva, menos descabida
tanto das relações sociais humanas como da natureza."
- ponto de partida: experiência social do sexo-gênero dominado.
- crítica pós-moderna: ciência alternativa como modo tipicamente
masculino de estar no mundo.

- PROBLEMA:
- Como é que o feminismo pode redefinir totalmente a relação entre o saber e
o poder, se ele está criando uma nova epistemologia, mais um conjunto de
regras para controlar o pensamento?

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