Você está na página 1de 21

1

TEORIA E MÉTODO DOS ESTUDOS FEMINISTAS: PERSPECTIVA HISTÓRICA E


HERMENÊUTICA DO COTIDIANO uv

Maria Odila Leite da Silva Dias

São muitas as dificuldades que se apresentam para as que ousam se enveredar


pelos estudos das mulheres em sociedade, pois trata-se de terreno minado de
incertezas, saturado de controvérsias movediças, pontuado de ambigüidades
sutis que é preciso discernir, iluminar, documentar, mas que resistem a
definições. Trata-se de um domínio inóspito para quem sofre de ansiedade
cartesiana, já que mais cabe ao pensamento feminista destruir parâmetros
herdados do que construir marcos teóricos muitos nítidos (Bordo, 1986, p.439). O
tema pressupõe soterradas as balizas epistemológicas tradicionais, como o
Sujeito humano universal( entenda-se maculino, branco, europeu), a Verdade, a
Razão, que norteavam as Ciências Humanas no século passado (Bernstein, 1983).
Entretanto, reconstruir de imediato uma teoria feminista seria não somente
impossível, como indesejável, uma vez que redundaria em substituir um sistema
de dominação cultural por outra versão das mesmas relações, quiçá invertidas, de
poder, embutidas nas relações sociais e de gênero (Flax, 1987, p.621).
As potencialidades dos estudos feministas confrontam-se pois com um dilema
básico, que diz respeito a sua própria viabilidade; partem de um tema - as
mulheres enquanto seres sociais - bastante fluido, abrangente demais e
impossível de ser definido em termos precisos, que surge como uma
manifestação de crise das relações de gênero e projeta-se para o futuro enquanto
esperança de transformação.
O feminino é excluído do discurso e aprisionado por ele; é genérico e sem
condição de explicitação, a não ser no plano da especificidade histórica, de sua
concretude, de sua negação enquanto categoria universal.
As teorias feministas cada vez mais se apegam a uma postura de consciência
estritamente histórica, na medida em que insistem na crítica de dualidades
2

genéricas, de categorias universais herdadas de um contexto cultural prescrito -


o masculino e o feminino. Joan Scott(1990) propõe justamente a elaboração da
historicidade das relações de gênero como meio de desmitificar o próprio
conceito. “Os homens e as mulheres não cumprem sempre os termos das
prescrições de sua sociedade ou de nossas categorias de análise. Os
historiadores devem antes de tudo examinar as maneiras pelas quais as
identidades de gênero foram construídas e relacionar seus achados com toda
uma série de atividades, de organizações e representações sociais
historicamente situadas" (Scott, 1990, p. 15).
Em outra vertente de análise, a da Semiótica, da Psicologia e do Cinema, Teresa
de Lauretis (1984, p.159) também se propõe elaborar a experiência feminina como
parte da historicidade das representações das mulheres, em contextos
delimitados no tempo e no espaço, voltando-se para a construção da
subjetividade como processo essencialmente social e histórico.

Libertar-se de categorias abstratas e de idealidades universais como a condição


feminina é uma preocupação que decididamente enfatiza a necessidade de
desconstruir valores ideológicos e de perseguir trilhas do conhecimento
histórico concreto que, reduzindo o espaço e o tempo a conjunturas restritas e
específicas, permitem ao estudioso a re-descoberta de papéis informais, de
situações inéditas e atípicas, que justamente permitem a reconstituição de
processos sociais fora do seu enquadramento estritamente normativo.
Documentar o atípico não quer dizer apontar o excepcional, no sentido episódico
ou anedótico, mas justamente encontrar um caminho de interpretação que
desvende um processo importante até ali invisível, por força da tonalidade restrita
das perguntas formuladas tendo em vista estritamente o normativo. Encontrar a
trilha certeira e a perspectiva que ilumina a terceira margem do rio é um modo de
renovar o conhecimento e nunca é bastante chamar atenção para o quanto
podem ser renovadores os estudos feministas. Ao contrário de constituir área do
saber restrita e marginal, os estudos das mulheres têm se revelado capazes de
contribuir para a renovação de mana nciais importantes das Ciências Humanas
como um todo.
3

Os estudos feministas constituem um modo de desconstruir amarras


ideológicas, e, ao mesmo tempo, dizem respeito a mulheres que, como seres
humanos, são também e, a despeito dos condicionamentos culturais, agentes
de si mesmas. Vale dizer que o tema das mulheres enquanto objeto do
conhecimento partilha com as Ciências Humanas as incertezas inerentes ao
próprio processo do conhecimento.
Os estudos feministas, fronteira e vanguarda, partem da aceitação de um desafio
drástico, que consiste na busca de novas balizas do conhecimento que não
reproduzam, como espelho distorcido, as próprias categorias do sistema de
dominação que pretendem criticar (Gergen, 1987; Malson et al., 1989; Griffith e
Whitford, 1988). Trata-se, sem dúvida, de opor uma contrapartida a enfoques
excessivamente preocupados com universalidades e permanências do
simbólico, da linguagem ou do discurso, núcleo de um sistema de dominação de
que justamente se pretende fazer a crítica.
A perspectiva historista oferece um panorama mais amplo do que temas
excessivamente fragmentados de negação da temporalidade, como os de certas
correntes feministas estruturalistas ou essencialistas, preocupadas com o
erotismo, o corpo ou a histeria feminina, do prisma um tanto segregado de
demarcação de uma suposta cultura feminina (Alcoff, 1988).
Na perspectiva historista, trata-se de reconstruir ou redefinir os processos de
subjetividade, de identidade, da própria racionalidade no mundo contemporâneo,
que se volta para o passado a fim de se reencontrar, devidamente relativizado, no
presente. São estudos sem dúvida renovadores, porém necessariamente
polêmicos, pois foram delimitados pelas vanguardas do conhecimento
contemporâneo. Os estudos feministas participam em cheio deste processo de
reelaboração do conhecimento e de crítica dos métodos das Ciências Humanas,
no qual parece indiscutível a necessidade de precisar novos métodos e de tentar
teorias mais condizentes (Harding, 1986). Justamente como reforço de seu
prisma movediço, surgido num mundo instável e em processo de transformação,
é que o enfoque feminista se torna uma frente crítica do conhecimento
contemporâneo.
4

Há que recorrer a tipos de conhecimento em que sujeito e objeto estejam diluídos


um no outro, pois o engajamento faz parte da crítica feminista. Neste ponto
insistem inúmeras feministas que enfatizam, em artigos recentes, a importância
do aproveitamento de uma característica primordial da consciência feminina, que
é o fato de ser de oposição, por referência ao gênero masculino e,
conseqüentemente, ao mesmo tempo presa e alienada das dualidades do
pensamento ocidental. A crítica feminista é de contexto, relacional e relativista
(Cocks, 1989, p. 205), o que de início implica numa atitude crítica iconoclasta,
que consiste em não aceitar totalidades universais ou balizas fixas. Trata-se de
historicizar os próprios conceitos com que se tem de trabalhar não somente as
categorias das relações de gênero, como também os conceitos de reprodução,
famílias, público, particular, cidadania, sociabilidades, a fim de transcender
definições estáticas e valores culturais herdados como inerentes a uma natureza
feminina,
Sandra Harding (1986, p. 650) propõe justamente um aproveitamento mais
intenso e sistemático da instabilidade das categorias feministas de
conhecimento, de modo a encontrar, na própria precariedade dos conceitos,
reflexos de certos aspectos da realidade política em que vivem e pensam as
mulheres. Esta autora opta justamente por usar essas instabilidades como
recurso para o pensamento e as práticas feministas. A partir do momento que
negam totalidades universais, os estudos feministas lidam com problemas
propostos pelo relativismo cultural, como parte de seu esforço de reconstrução
das bases do conhecimento que consiste numa de suas principais metas.
Famílias, modos de produção, sistemas linguísticos, reprodução biológica
passam a ser historicizados enquanto conceitos, devidamente nuançados no
espaço e relativizados no seu devir temporal.

A abordagem perspectivista propriamente histórica é uma das múltiplas opções


que se apresentam para a delimitação de abordagens metodológicas para os
estudos das mulheres. Propicia o esforço feminista de re-elaborar os estudos das
mulheres fora da linguagem enquanto sistema abstrato ou estrutural, de teorias
semióticas e da ordem simbólica in abstrato. Um enfoque feminista mais nítido
5

ou preciso está ainda para ser construído, porém algumas balizas metodológicas
podem ser emprestadas das Ciências Humanas, desde que provenham dessas
frentes contemporâneas de crítica do conhecimento, com a qual os estudos
feministas têm um compromisso fundamental e iniludível (Hawkesworth, 1989, p.
327).
Nesses estudos, o que decididamente não deve ser tentado é a inclusão de
métodos tradicionais, apropriados a sociedades estáveis, bem assentadas, e cuja
permanência esses métodos tradicionais pretendem reforçar. É o risco no qual
incorrem trabalhos de história das familias, quando são tomadas como
instituições e não processos em permanente mudança. Da mesma maneira, o
estudo do processo de construção das normas culturais da Igreja Católica, do
Direito ou do próprio senso comum por vezes incorre no erro de aceitar sua
funcionalidade, incorporando sem querer as premissas universais em que se
baseiam. Essa é uma armadilha sutil e amplamente presente na bibliografia de
estudos da mulher, que compromete às vezes seus resultados.
A abordagem historista e historicizante é profícua justamente pelo fato de
incorporar o estudo de conjunturas de mudanças, de rupturas, na medida em
que aceita a transitoriedade do conhecimento, dos valores culturais em processo
de transformação no tempo. Sergio Buarque de Holanda em seu estudo sobre
Ranke sugeriu a substituição da palavra historicismo, que vem associada à ideia
de determinismo e de evolução pelo termo “historismo”. (Holanda,S.B. (1979).
Meinecke,F.(1936).

O historismo se refere ao modo de pensar dos filósofos e historiadores alemães


anti positivistas como o filósofo Herder ou Dilthey, os quais ao enfatizarem a
historicidade do próprio conhecimento se anteciparam a Heidegger, introduzindo
a importância de se ater às múltiplas e diferentes temporalidades do processo do
devir histórico, enfatizando a importância de suas inter-relações entre passado,
presente e futuro para a compreensão das experiências humanas,
documentando-as nas suas inserções em conjunturas específicas do tempo
histórico. A perspectiva temporal do historismo trouxe uma concepção
6

iconoclasta de instituições e costumes tidos como permanentes.

Afinal, as próprias relações de gênero a que se prendem de imediato os estudos


feministas ante vêm, no futuro, a transcendência desta dualidade cultural por um
pluralismo de nuanças e diferenças multiplicadas. Não há por que considerar a
oposição masculino/feminina tal como se apresenta hoje, como uma carga de
definições culturais herdadas do passado, como se fossem necessárias e fixas
ou inatas. Natureza e cultura ja não se opõem no pensamento ambientalista
contemporâneo. Do mesmo modo,não ha por que definir as mulheres como seres
biológicos por sua capacidade de reprodução, que é interpretada pelos estudos
feministas como fenômeno eminentemente cultural.

Trabalhar no sentido de vencer estas polaridades, tanto das relações de gênero


como de categorias de pensamento, implica lidar com os problemas teóricos de
mudança, ruptura e descontinuidades históricas. Coincidentemente, certas
tendências da historiografia contemporånea confluem no sentido das
inquietações feministas. O pensamento historista substituiu a linearidade
evolutiva de um processo histórico nacional e universal por temporalidades
múltiplas, focalizando conjunturas provisórias e relativas a seu próprio tempo.

Essas tendências trouxeram à tona aspectos arduamente trabalhados na


historiografia através de polêmicas como as de Henri Pirenne sobre crise,
continuidade no tempo, etapas, periodização e progresso linear, que varreram as
décadas entre a atualidade de Nietszche e a nossa. Tais polêmicas opuseram
drásticos limites a noções globalizantes como a da filosofia universal da História,
à linearidade das grandes épocas ou etapas da história antiga, medieval,
moderna, com ênfase na história do presente e pois na contemporaneidade de
todo conhecimento histórico (Pomian, 1984).
Parecem insensatas, nesse sentido, obras de história geral ou universal das
mulheres pois, ao adotar a moldura da história evolutiva, linear, do progresso,
incorporam categorias de dominação que a crítica feminista pretende neutralizar
e a historiografia contemporânea já descartou.
7

O conceito de modernidade no pensamento do Iluminismo implicou sobretudo na


esperança de descobrir um método racional de decifrar as leis da mudança na
história, de atinar com uma teoria da história que possibilitasse o prognóstico do
futuro. Envolvia a idéia de aceleração e movimento do tempo, de modo a revelar
o segredo das fases de transição e progresso rápido, a fim de poder acionar a
história ou predizer o futuro. No pensamento ilustrado dominava ainda o
conceito de um sujeito humano universal, o que equivalia a excluir as mulheres
da história; de fato, o jusnaturalismo e o pensamento liberal após a Revolução
Francesa garantiram a cidadania masculina e suspenderam as conquistas já
significativas de liderança política que as mulheres tinham conquistado nas
últimas décadas do Antigo Regime (Landes, 1988; Duhet, 1974). Retomando
posturas da Idade Clássica, principalmente dos greco-romanos, os liberais
trabalharam no sentido de redefinir o público e o particular, enfatizando e
delimitando com nitidez renovada, senão drasticamente exagerada, a dualidade
das esferas do homem e da mulher, desta vez incorporada nas constituições
liberais que suprimiram direitos da cidadania feminina.
A revolta contra o lluminismo do século XVIII assim como contra os interpretes
do positivismo cientificista, que identificava modernidade e progresso, abriu as
trilhas para um conhecimento histórico, fudamentalmente relacional e
configurativo. Esta forma de conhecimento tornou aceitável um conhecimento
que se pretende antes concreto do que científico, abstrato, ou normativo,
oferecendo alternativas para a interpretação da mudança no tempo e para
entrever eventualmente a integração na história da experiência social
das mulheres. A historiografia, ao incorporar uma diversidade de interpretações
possíveis, a pluralidade de ritmos de tempo, a multiplicidade de perspectivas
analíticas, definiu novas e diferentes trilhas para integrar em contextos sociais
definidos a experiência feminina, com toda sua implicação de diferenças e de
diversidade (Antoni, 1951; Iggers, 1983).
Antipositivista desde os tempos dos historistas alemães, certa corrente
renovadora da historiografia contemporânea pôs-se no encalço da crítica da
modernidade racionalizadora dos ilustrados, voltando-se para a relativização dos
8

conceitos e para a crítica da ideologia. Anti-intelectualistas, certos historiadores


procuraram ater-se à concretude da experiência humana no seu devir, criticando
o jargão cientificista e o racionalismo abstrato. Para eles, a história requeria
antes recursos de pensamento crítico e dialético do que propriamente um
método ou conceitos teóricos rígidos no tempo. Diversificaram-se em correntes
as mais variadas: revisionismo neomarxista, Escola de Frankfurt ou teoria crítica,
historistas, estudiosos e interpretes das mentalidades ou do discurso, no sentido
da desconstrução de Derrida, ou nas linhas de interpretação de Foucault.

A própria natureza da consciência feminista parece aderir ao historismo, dadas


as proporções relativistas e demolidoras que toma, diante de conjunturas
sociais, históricas, culturais pre-determinadas, no sentido de estarem
condicionadas por pressupostos ideológicos.

É bem verdade que as teorias feministas compartilham o historismo com outras


frentes afins de renovação do conhecimento contemporâneo, tais como a
deconstrução de Derrida, ou a genealogia de Michel Foucault. Deconstruir,
desmontar, criticar totalidades universais formam o caudal de opções teóricas
com que lidam as estudiosas feministas.

Nesse sentido, a fim de melhor integrar a experiência das mulheres em


sociedade, convém partir de conceitos provisórios e perseguir abordagens
teóricas necessariamente parciais, pois o saber teórico implica também num
sistema de dominação. Assumir a historicidade do próprio conhecimento num
mundo em processo de transformação e de mudanças é postura que se
generaliza no mundo contemporâneo entre os pensadores das Ciências
Humanas. A partir desse ponto crítico, deparamo-nos com posturas afins,como o
próprio historismo ou o perspectivismo do conhecimento. Ambos partem de um
"ponto de inserção” do tema para, a partir deste ponto, construir as balizas de um
conhecimento, configurativo, sem pretender a uma neutralidade prefixada. Trata-
de de um ponto dialético de interpretação, pois envolve a interação do sujeito e do
objeto . Este tipo de conhecimento, que se caracteriza por sua concretude,
consiste basicamente em delimitar o lugar, a situação, a posição relativa do
9

grupo social e das mulheres a serem estudadas no conjunto de uma certa


sociedade. A hermenêutica de Hans Georg Gadamer (1984; v. também Weinsheimer,
1985) postula antes um método do que uma teoria para o conhecimento histórico,
na medida em que acrescenta, à precariedade do ponto de vista (standpunkt,
standort, zustand), o conceito da historicidade inerente a todo conhecimento.

O primeiro passo consiste em assumir a temporalidade histórica do tema e, a


partir daí, proceder à construção do objeto de estudo, vale dizer delimitar e
problematizar todas as balizas do conhecimento relativas a estas mulheres.
Gadamer elaborou como premissa do encontro do historiador\a com suas fontes
uma metáfora de um ponto de fusão na linha do horizonte, seria o ponto do
encontro do historiador, enraizado nas condições do mundo contemporâneo, com
as tradições do passado .Esta metáfora enquanto uma possibilidade ou condição
precipua para a interpretação histórica supõe a inexistência per se do passado
enquanto um conceito formal . O passado é continuamente reconfigurado no
ponto possivel do horizonte em que se estabelece um diálogo entre o
contemporâneo do historiador e os rumores e vestígios que suas fontes
oferecem.

Para tanto, convém criar conceitos adequados, deconstruí-los para que possam
servir de balizas instáveis, porém críticas, renegadas todas e quaisquer categorias
universais, abandonados quaisquer parâmetros fixos ou permanentes, pois trata-
se de posturas teóricas que se constroem enquanto processo de conhecimento
movediço num mundo transitório.
O conhecimento histórico tornou-se relativo tanto a uma determinada época do
passado como a uma dada situação do historiador no tempo. Aceitou o
engajamento do historiador em sua contemporaneidade e a relativização de sua
objetividade no decifrar a linguagem das suas fontes, a necessidade de abarcar
com os conceitos de seu próprio tempo a especificidade dos conceitos peculiares a
outros momentos históricos. Em vez de ter em mente leis ou etapas de
desenvolvimento, o historiador passou a interpretar processos de mudança
através de um conhecimento antes relacional, dialético, do que "científico".
Esse conhecimento aderiu aos limites de sua própria historicidade. Como
10

perspectiva construída no tempo, restringiu-se a procurar uma nitidez de foco,


uma relação cognitiva, nuanças de verdade, uma tradução aproximativa,
pressupostos relacionais em diferentes culturas (Kosellek, 1985). Abriu-se, pois,
um campo historiográfico favorável aos estudos feministas, que procuram
enfatizar a experiência histórica e social das mulheres enquanto seres concretos,
à margem de sujeitos abstratos, de sistemas teóricos, de conceitos intelectuais,
que sempre se constituíram como um sistema de dominação e de exclusão das
mulheres da história racional e finalista que conceituavam.
Assistimos, nos últimos vinte anos, a uma tendência convergente da filosofia das
ciências e do historismo antipositivista, de crítica às noções totalizantes de
episteme, techne, modernidade enquanto razão. Muitos dos seus argumentos
subsistem na atualidade, envoltos nos re manescentes do methodenstreit de 1890,
transformados pela preocupação com o estudo das ideologias e da historicidade
do próprio processo de conhecimento, que veio tornar sem sentido a busca de um
método apropriado às Ciências Humanas e distinto das Ciências Naturais. Hoje,
Ciências exatas e experimentais reconhecem uma pluralidade de métodos, de sist
emas e abordagens parciais (Iggers, 1983). Este, sim, seria o tema do historiador
social, do historiador das mentalidades.
A hermenêutica contemporânea nasceu justamente da crítica à racionalidade dos
ilustrados. Enfatizou a parcialidade das verdades possíveis, passando a conviver
com a crítica epistemológica do espelho da natureza (Rorty, 1979), das verdades
científicas, dos sistemas universais de conhecimento, a devassar objetivismos,
identidades, sujeitos.
A noção de perspectiva histórica como a construção de eixos parciais entre o
presente e o passado não consiste propriamente num modismo pós-moderno,
pois nasce com a modernidade e a consciência histórica em meados do século
XVIII. Chladenius foi um dos pensadores que primeiro definiu o ponto de vista ,do
perspectivismo, amplamente discutido e debatido por historiadores e
antropólogos do nosso tempo (Kosellek, 1985). É verdade que toma um sentido
contemporâneo novo, quando se coloca como método para um processo crítico
de revisão dos fundamentos epistemológicos do saber. Pressupõe a consciência
11

de um processo de crise de identidade do Sujeito universal, tanto do eu


masculino como da tão proscrita e tardia individualidade feminina, aquisição
histórica da contemporaneidade, duramente conquistada.

As posturas iconoclastas e relativistas do historismo parecem adequadas à


busca do conhecimento específico da experiência das mulheres em sociedade.
Em vez de lidar com a mera confirmação, no passado, de princípios teóricos
preestabelecidos, os adeptos do historismo, en quanto forma de mentalidade ou
escola historiográfica, cultivam a compreensão da experiência humana em sua
concretude. O interesse nos testemunhos de outras épocas, que sempre
apontaram subsídios para o estudo de vidas em sociedade, tendem a ignorar
conceitos alheios a seu próprio tempo.

Nesse sentido, foi fundamental a atuação de Lucien Febvre e de Marc Bloch na


criação do grupo dos Annales que, se não incorporou de imediato uma
historiografia social das mulheres, abriu caminho para ela na medida em que
lutou para desvencilhar a historiografia de idealidades abstratas e conceitos
teóricos. Como historiadores, abordaram realidades vivas, concretas, em
contraposição a normas estáticas. Preferiram temas relativos à vida humana,
estados de alma, sensibilidade, a mentalidade do quotidiano, de preferência a
uma racionalidade universal. A história, escrevia Lucien Febvre (1952, p. 20), não
devia se interessar pelo homem abstrato, eterno, imóvel, no fundo per
petuamente idêntico a si mesmo, e sim voltar-se para “os homens sempre
tomados no enquadramento da sociedade de que são membros e inseridos numa
época bem determinada do seu desenvolvimento. Esses historiadores preferiam
ater-se à história de seres vivos e concretos e à trama do seu quotidiano, um
conjunto emaranhado de suas múltiplas atividades, preocupações, atitudes
variadas que se entre-relacionavam,possivelmente em conflitos, acabando por
constituir um modus vivendi.
Herdeiros dessa tendência, entre 1930 e 1960 críticos da racionalidade e da
cultura se empenharam em desenvolver conceitos capazes de relacionar o
quotidiano de seres humanos individuais e concretos aos sistemas abstratos e
12

aos processos históricos em que estavam inseridos.


Dentro desta vertente da historiografia, somente pode se configurar como
história o que não é definível em termos de um raciocínio intelectualista
(Kosellek, 1985). Para os pioneiros do historismo, os conceitos deviam ser
reinterpretados pelo historiador em sua historicidade no tempo. Ao contrário dos
historiadores , os historistas acreditaram na história narrativa, que almejava ao
mesmo tempo a descrição dos eventos e a interpretação dos conceitos (Antoni,
1951). O seu antiintelectualismo não prescindiu de conceitos. Pelo contrário, acei
taram o desafio da história mais dificultosa e mais sofisticada, procurando
compatibilizar a história conceitual com a história social. Esta seria impossível
sem conceitos, mas o historiador devia adaptá-los ao devir, às transformações do
tempo, dedicando-se à elaboração sutil das possíveis equivalências e devidas
atenuações de conceitos através de suas mudanças no tempo (Kosellek, 1985).
Aderiram á hermenêutica crítica e aceitaram o conhecimento participante,
decifrando os diferentes ritmos de tempo de um mesmo texto. Aceitavam o
conceito da fusão na linha do horizonte de Gadamer, que sugere uma síntese ou
cadinho de diferentes contemporaneidades. O horizonte possível dos
historiadores se voltou para o esforço de encontrar a justa medida do
incomensurável, do indefinivel: a equivalência e a coexistência entre os
conceitos contemporâneos a eles e os conceitos não contemporâneos de suas
fontes e testemunhos, a fim de interpretar o real de um ponto de vista dado, que
aceitaram e assumi ram no processo do conhecimento que tinham como
histórico, no sentido de uma aventura engajada em busca de verdades
aproximadas.
Esforçaram-se por recriar a perspectiva da mudança e reequilibrar a perspectiva
do presente, entre o passado e o futuro, para a qual delinearam etapas e níveis de
interpretação, a fim de criar um instrumental que desse conta do conhecimento
enquanto processo e experiência de natureza essencialmente relacional,
movediça, mutavel.
Munidos de um vocabulário e de conceitos contemporâneos, os historiadores
passaram à crítica do universo de conceitos dos testemu nhos de outros tempos.
13

Para eles, uma palavra continha possibilidades de significação; o conceito reunia


em si plenitudes de significados (Kosellek, 1985). Assim, um conceito podia ser
claro para o historiador e ainda plurívoco, pois cultivaram a sensibilidade para
ritmos de tempo diferentes, coexistindo no tempo.
Estrutura, evento, representação eram os principais componentes da
interpretação histórica. Nada mais estratégico para uma história social das
mulheres do que a crítica dos sujeitos histórico no sentido de aceitar sua
fragmentação e de torna-los visíveis humanizando a representação desses
sujeitos do processo histórico .Foi o momento em que os sujeitos históricos
começaram a aparecer no lugar de processos abrangentes como capitalismo ou
mercantilismo. Os sujeitos dos processos começaram a ter visibilidade. Foi
preciso rever o problema do conceito de representação e do co nhecimento
ideológico implícito na interpretação do historiador. Uma história social das
mulheres não pode deixar de proceder, como etapa primordial, a uma cuidadosa
análise interpretativa da historicidade dos conceitos: trabalha com processos
não determinantes, secundários ou alternativos e, por isso, com estruturas,
conjunturas, eventos, temporalidades diversas, que se entrecruzam no tempo. A
coexistência de uma pluralidade de tempos simultâneos abre uma vertente
estratégica para o estudo da experiência histórica das mulheres. Esta
multiplicidade de temporalidades diferentes coexistindo no prisma do historiador
é um passo importante para viabilizar uma historiografia feminista. Seu processo
de interpretação implica em analisar estruturas que se rompem a cada instante, a
fim de que as mulheres, enquanto sujeitos e agentes da história, não
permaneçam presas a categorias fixas ou universais, tais como foram tidas pelos
estruturalistas (Kristeva, 1982). Lembrar Merleau Ponty para o qual os sujeitos
eram essencialmente temporais e somente apreensíveis como fenômenos dde
uma multiplicidade de tempos.

Houve momentos importantes de abertura para uma hermenêutica crítica


propriamente feminista, entre os quais avulta a possibilidade, tão apontada pelos
historistas, de interpretar estruturas como tempos longos do processo histórico,
simultaneamente entremeados por momentos de disrupção e de aceleração do
14

ritmo de tempo.
Estrutura e disrupção de eventos foram coincidentemente os conceitos com os
quais se trabalhou a crítica da modernidade linear e dos determinismos finalistas.
Em vez de categorizar a realidade como objeto do conhecimento, procurou-se
interpretá-la em seu devir, tendo como objetivo precípuo documentar a
materialidade social dos conceitos e das palavras, sobrepor uma a outra história
social e história dos conceitos, tornando uma dependente da outra(Koselleck,R).

A historiografia feminista há de perseguir o estudo da semântica, assim como


diferenciar na linguagem ritmos de tempo diferentes. A palavra tende a uma
historicidade mais lenta, ao passo que os conceitos variam mais rápido, de modo
que, na obra do historiador, níveis de temporalidade diferentes se entrecruzam,
configurando uma pluralidade de tempos simultâneos. Não por mero acaso, Julia
Kristeva escrevia em 1979 seu ensaio sobre a temporalidade inerente aos ciclos
vitais das mulheres em oposição à linearidade do tempo histórico. Tal como
pode ser captada pelos historiadores da modernidade, esta pluralidade de
tempos varia, de modo que muitas vezes existe um descompasso entre certas
transformações sociais e as palavras dos testemunhos; em outras ocasiões, os
conceitos estão adiantados em relação a uma potencialidade do devir social
prestes a irromper (Kristeva, 1982).
Ao falar da morte da história, Nietzsche colocava suas dúvidas sobre a
racionalidade da dialética hegeliana, tema retomado por sucessivas gerações de
pensadores críticos, que contribuiram indiretamente para o enfoque de uma
história das mulheres. Os marxistas existencialistas, por exemplo, deram um
passo decisivo para introduzir a categoria feminina na análise marxista: Sartre,
ao incorporar conceitos de subjetividade e de totalização à crítica da dialética
estritamente racional e objetiva, possibilitou uma nova interpretação do processo
dialético, capaz de abarcar o processo social e, dentro dele, as subjetividades
dos seres humanos enquanto indivíduos (Sartre, 1960; Sartre et al., 1962).
Merleau-Ponthy e os marxistas fenomenologistas levariam adiante a crítica da
racionalidade e da representação dos sujeitos . Quotidiano e poder constituem o
fulcro do estudo de nossa contemporaneidade, tal como nela se imbricam
15

métodos modernos e pós modernos, em busca de uma compatibilização de


enfoques tão diversos como a desconstrução de Derrida, a teoria crítica marxista,
a historiografia das mentalidades, a história social e conceitual dos historistas
alemães, os estudos de arqueologia dos discursos de Foucault. É o campo por
excelência de atuação e de construção da teoria feminista e tambem , por
coincidência significativa, a de reconstrução do conhecimento contemporâneo
(Cocks, 1989; Gergen, 1987; Griffiths e Whitford, 1988; Mal son et al., 1989,
p.15).
A historiografia feminista segue os mesmos parâmetros, pois tem seu caminho
metodológico aberto para a possibilidade de construir as diferenças e de explorar
a diversidade dos papéis informais femininos. O campo de visibilidade ainda é
restrito, porém cada vez mais nítido, construindo aos poucos um campo novo do
conhecimento, na medida em que se devassam as distâncias entre norma e
prática social, papéis normativos e informais.

Este propósito implica em pôr de lado quase tudo o que existe como dado na
historiografia atual, que em geral reflete o projeto social das elites dominantes.
Este projeto dificilmente coincide com a vivência concreta de indivíduos,
principalmente quando se trata de mulheres, mesmo que de elite pois, enquanto
projeto, aparece necessariamente impregnado por toda uma ideologia normativa
e institucionalizante. Quer seja na maneira como podem ser resgatados nas
fontes, quer ao se apresentarem ao historiador enquanto intérprete, normas e
estereótipos culturais impõem-se com a necessidade de ofuscar. As ideologias do
poder que marcam o advento do capitalismo industrial na Europa ocidental
(liberalismo, nacionalismo, romantismo e costumes burgueses do dia a-dia)
reafirmaram o potencial transformador do processo histórico, marcadamente
explicitado na nova historiografia com o método dialético e a utopia
revolucionária de Marx. Entretanto, nem na filosofia liberal do Iluminismo, nem na
crítica marxista enquanto matrizes essencialmente totalizantes,abriram-se
parâmetros para apreensão do quotidiano, ou da história social das mulheres
enquanto historicidade, concretude e espaço de transformação ou resistência
social..
16

Quando se trata de um tema da história social dos oprimidos ou de mulheres das


classes trabalhadoras, de grupos enfim que nada têm de hegemônicos na
conjuntura histórica em foco, o contra-senso entre a concretude de suas vidas
humanas e o formalismo da ideologia assoma como desafio extremo (Thompson,
1966). Nesse sentido é que a historiadora feminista abre a sua trilha de
historicidade na aventura do contemporâneo: a fim de dar conta da construção
do quotidiano das classes trabalhadoras ou marginalizadas, a historiadora deve
refazer perspectivas, parâmetros, conceitos, para não cair na armadilha do
hegemônico.

O cunho renovador da história social das mulheres, ao concentrar se nos papéis


informais e nas mediações sociais, abre espaço para a relativização das normas
e das temporalidades prefixadas. Mais do que isto, acumula conhecimentos
extremamente diversificados sobre papéis femininos nas mais diferentes
culturas, no sentido de documentar ad infinitum a diferença, pois, evidentemente,
não se trata de estudos históricos comparativos em busca de padrões universais.
Destaca-se, ainda, no trabalho da corrente neomarxista da história social, uma
meticulosa elaboração das mediações sociais, sem as quais seria impossível para
o\a historiador\a trabalhar a especificidade histórica de cada sociedade. De onde
as abordagens sutis da especificidade histórica do quotidiano na formação das
classes sociais, que na década de 60, por sua vez, redundaram em trabalhos
inovadores como o de E.P. Thomp son (1966).

A perspectiva de construir a narrativa através do pormenor e de suas inter-


relações com o global implicou, para os historiadores neo marxistas, na
preocupação em decifrar o determinismo econômico dentro das peculiaridades
históricas de cada sociedade (Godelier, 1984; Habermas, 1985; Thompson, 1966).
Nesse sentido, foi preciso proceder proce- der a uma revisão das relações entre a
base e a superestrutura, e à síntese ou à subsunção do econômico e dos valores
culturais.
17

A dialética do pormenor e do global, das relações entre minúcias e o conjunto do


processo social de uma época implica, para o historiador, em uma atitude aberta
tanto para a crítica dos estereótipos das culturas dominantes, como, e sobretudo
para a possibilidade de tornar visíveis papéis informais que escapam aos papéis
prescritos, às normas, às institucionalizações, situados num espaço
intermediário entre a norma e a ação dos agentes históricos.
É o que define a busca da especificidade histórica, que nunca é produto de
racionalidades, pois admite o contingencial, o fortuito, a inventividade, a
liberdade de ação dos agentes históricos. É o que justamente torna possível
vislumbrar, na interpretação do processo histórico, a reinvenção de um futuro
libertário e não mera inferência de necessidades estruturais. Este o sentido da
teoria feminista de desbra vamento do quotidiano na perspectiva histórica, pois o
acumular de conhecimentos específicos sobre a experiência concreta das
mulheres em sociedade a longo termo vem se contrapor aos valores culturais de
dominação. Este o trabalho de perspectiva histórica, que consiste no
"aperfeiçoamento da hermenêutica do quotidiano.
Para Agnes Heller (1985, p. 41), apesar da mímese e da alienação inerente à vida
quotidiana, pareceu-lhe sempre possível a individuação e a configuração de
novas atitudes. O quotidiano envolve uma margem de liberdade, certa
possibilidade de equilíbrio entre a individualidade e o ser genérico. "A ordenação
da quotidianidade é um fenômeno nada quotidiano; o caráter representativo,
provocador, excepcional transforma a própria ordenação da quotidianidade numa
ação moral e política."
A hermenêutica do quotidiano, que consiste na teoria possível dos estudos
feministas, remete por sua vez à hermenêutica das Ciências Sociais. Os estudos
feministas abrem-se para um campo essencialmente multidisciplinar, onde a
perspectiva de uma pluralidade de métodos é interessante e mesmo
imprescindível para a reconstituição crítica da experiência social das mulheres,
de modo a documentar toda a sua diversidade e a explorar ad infinitum as
diferenças. Não necessariamente no sentido de encadear fragmentos de um
relativismo cultural sem fronteiras, mas na busca de novas totalidades parciais,
18

com as quais podemos sonhar, na medida em que acumulam novos


conhecimentos e se expandem as fronteiras do espírito crítico. A crítica da
racionalidade e a perspectiva histórica colocam-nos de novo diante do desafio da
busca de uma nova racionalidade ou phronesis da teoria feminista e das
humanidades.

A crítica da racionalidade e a descoberta do quotidiano como um tema das


Ciências Humanas na contemporaneidade pode-se dizer que partem de uma
multiplicidade de vertentes críticas renovadoras do conhecimento, e que todas
têm indiretamente uma participação crucial na formulação de uma teoria
feminista. Até onde se pode transcender o relativismo e reencon trar, para além
da historicidade, um novo ponto neutro de Arquimedes?(Heller, 1989, p. 291) O
quotidiano, visto pelo prisma de nossa contemporaneidade enquanto espaço de
mudança, de resistência ao processo hegemônico do consumo e da dominação,
define um campo social de múltiplas interseções de fatores que contribuem
decisivamente para transcender categorias e polaridades ideológicas. Interseções
que aproximam e diluem um no outro conceitos ideológicos estratégicos como o
público e o privado, o biológico e o mental, a natureza e a cultura, a razão e as
paixões,o sujeito e o objeto - e que envolvem, todos esses conceitos, na
dualidade das relações de gênero, tanto na medida em que estão determinadas,
como no processo em que estão se transformando e sendo transformadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCOFF, Linda. Cultural feminism versus post-structuralism: the identity crisis
in feminist theory. Signs, Chicago, v. 13, n. 3, p. 405-36, 1988.
ANTONI, Carlo: Dello storicismo alla sociologia. Florença: G. C. Sansoni, 1951.
BERNSTEIN, Richard J. Beyond objectivism and relativism; science,
hermeneutics, and praxis. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1983.
BORDO, Susan. The cartesian masculinization of thought. Signs, Chicago,
v, 11, n. 3, p. 439-56, 1986.
COCKS, Joan. The oppositional imagination: feminism, critique, and politics of
theory. Nova Iorque: Routledge, 1989.
19

DUHET, Paulę-Marie. Las mujeres y la Revolución 1789-1794. Barcelona: Pe


ninsula, 1974.
FEBVRE, Lucien. Combats pour l'histoire. Paris: Plon, 1952.
FLAX, Jane, Postmodernism and gender relations in feminist theory. Signs,
Chicago, v. 12, n. 4, p. 621-43, 1987. GADAMER, Hans-Georg. Truth and method.
Nova Iorque: Crossroad, 1984. GERGEN, Mary M. (ed.) Feminist thought and the
structure of knowledge. Nova Iorque: New York University Press, 1987.
GODELIER, Maurice. L'idéel et le matériel. Paris: Fayard, 1984. GRIFFITHS,
Morwenna, WHITFORD, Margaret. Feminist perspectives in Philosophy.
Bloomington: Indiana University Press, 1988.
HABERMAS, Jurgen. Après Marx. Paris: Fayard, 1985.
HÅRDING, Sandra. The instability of the analytical categories of feminist
theory. Signs, Chicago, v. 11, n. 4,p.645-541986.
HAWKESWORTH, Mary E. Knowers, knowing, known: feminist theory and
claims of truth. In: MALSON, Micheline R. et al. Feminist theory in practice and
process. Chicago: University of Chịcago Press, 1989.
HELLER, Agnes. O cotidiano e a historia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
_. From hermeneutics in social science toward a hermeneutic of social
science. Theory and Society, Nova Iorque, n: 18, p. 291-322, 1989.
IGGERS, George C. The German conception of history. Middletown (Conn.):
Wesleyan University Press, 1983.
MacCORMACK, Carol, STRATHERN, Marilyn (ed.) Nature, culture, and gender.
Cambridge: Cambridge University Press, 1980 MACHADO, Lia Z. Diálogo sobre a
Brasileiro, 1983. p. 349-61.
O lugar da tradição na modernidade latino-americana: etnicidade e gênero.
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 77, p. 35-45, maio 1991.
MARSHALL, T.H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
Merleau-Ponty, Fenomenologia da percepção. São Paulo, Martins Fontes, 1996.

MICHEL, Andrée. O feminismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. MOI, Toril (ed.) The
Kristeva reader. Londres: Basil Blackwell, 1986.
20

MORENO, Rachel. De feminismos, de feministas, de mulheres. In: CARVA LHO,


Nanci (org.) A condição feminina. São Paulo: Vértice, 1988.

MUSZKAT, Malvina, SEABRA, Zelita. Identidade feminina.Petrópolis: Vozes, 1985.

OLIVEIRA, Rosiska D. Le féminin ambigu. Genebra: Le Concept Moderne, 1989.

OLIVIER, Christiane. Les enfants de Jocaste. Paris: Denöel, 1980.

ORTNER, Sherry. Is female to male as nature is to culture? In: ROSALDO, M.,


LAMPHÈRE, L. (eds.) Woman, culture, and society. Stanford: Stanford University
Press, 1974. p. 67-88.

ORTNER, Sherry, WHITEHEAD, Harriet (eds.) Sexual meanings. Cambrid ge:


Cambridge University Press, 1981.

REITER, Rayna (ed.) Toward an anthropology of women. Nova Iorque: Monthly


Review Press, 1975.

ROSALDO, Michelle, LAMPHÈRE, Louise (eds.) Woman, culture, and society.


Stanford: Stanford University Press, 1974. [ed. brasileira Mulher, cultura e
sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

RUBIN, Gayle. The traffic in women: notes on the "political economy" of sex. In:
REITER, R. (ed.) Toward an anthropology of women. Nova Iorque: Monthly Review
Press, 1975. p. 157-210.

SORJ, Bila. O feminismo na encruzilhada da modernidade e pós-modernidade.


Rio de Janeiro, 1990. [Texto apres. ao Seminário Estudos sobre Mulher no Brasil,
São Roque, SP
SARTRE, Jean-Paul et al. Marxisme et existencialisme: controverse sur la
dialectique. Paris: Plon, 1962.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Rea
lidade, Porto Alegre, v. 16, n. 2, jul./dez. 1990.
THOMPSON, E. P. The making of the English working class. Nova Iorque:
Methuen, 1966. WEINSHEIMER, Joel C. Gadamer's hermeneutics. New Haven:
Yale's University Press, 1985.

VICENTINI, Ana. Mudar a referência para pensar a diferença: o estudo dos


21

gêneros na crítica literária. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 70, p. 47-52, ago.
1989.
KOSELLECK, Reinhart. Future's past: on the semantics of historical time. Boston:
The MIT Press, 1985.
KRISTEVA, Julia. Women's time. In: KEOHANE, N., ROSALDO, M. (eds.) Feminist
theory: a critique of ideology. Chicago: University of Chicago Press,
1982.
LANDES, Joan. Women and the public sphere in the age of the French
Revolution.CornellUniversity Press, 1988.
LAURETIS, Teresa de. Alice doesn't: feminism, semiotics, and cinema.
Bloomington: Indiana University Press, 1984.
MALSON, Micheline R. et al. Feminist theory in practice and process. Chicago:
University of Chicago Press, 1988.
POMIAN, Krzysztof. L'ordre du temps. Paris: Gallimard, 1984.
RORTY, Richard. Philosophy and the mirror of nature. Princeton: Princeton
University Press, 1979.
SARTRE, Jean-Paul. Critique de la raison dialectique. Paris: Gallimard, 1960.
2v.

Você também pode gostar