Você está na página 1de 3

Apontamentos aula 27/03/2018- História Global e estudos de gênero

Thebaud
Pensar historicamente as produções de mulheres dentro da historiografia ocidental é,
automaticamente, desnudar os mecanismos de invisibilidade e silenciamento aos quais estas
produções foram submetidas. É, antes de tudo, denunciar um modo masculinistas de
construção da narrativa histórica e produzir, nas palavras de Thébaud, uma “feminilização dos
saberes”. O que significa isso? Significa entender que o gênero, conforme Scott, torna-se uma
categoria extremamente útil para análise histórica e a partir disso, é possível recontar histórias
e entrecruzar experiências.

Panegírico- Elogio Solene.

Historiadoras e pesquisadoras recensearam e organizaram um catálogo para perceber o


número de produções feitas por mulheres sobre mulheres. Concluíram que havia uma
infinidade de obras, desde biografias, autobiografias, narrativas da condição feminina, teses e
periódicos. Contudo, essas produções foram enterradas e esquecidas por falta de legitimidade
e conhecimento do público, já que não seriam atraentes ou interessantes por não se tratarem
de produções que se adequavam ao caráter científico.

A história foi, assim, por muito tempo, “um ofício de homens que escrevem a história
dos homens, apresentada como universal, enquanto que as paredes da Sorbonne se
cobrem de afrescos femininos” (Duby et Perrot, 1991 : 14).

Mas se o pós Segunda Guerra é um pouco mais aberto às mulheres pesquisadoras , o é


em relação a certos perfis de mulheres e não ainda história das mulheres.

A autora aponta que houve inúmeras contribuições, localizadas nos anos de 68 para romper
com os pressupostos modernos, cientificistas e masculinistas da História. Contudo, ela diz que
o que provoca uma ruptura profunda capaz de promover um giro epistêmico dentro das
ciências humanas foi o feminismo de “segunda onda”, que se volta para o passado o
interrogando e tentando buscar as raízes das opressões e suas revoltas.

O feminismo de segunda onda comporta uma forte crítica cultural dos saberes estabelecidos.
Leva em conta a perspectiva feminina na construção da narrativa histórica sobre os
acontecimentos do passado. Para tanto, propõe que as pesquisas sejam feitas utilizando fontes
femininas.

Impasses do campo da história das mulheres-


As relações entre militância e pesquisa, entre a instituição e o seu exterior são, muitas vezes, tensas e
diversas.

Utilizado frequentemente em um grande número de países da Europa e da América, o


termo “ história feminista” é, aliás, de pouco uso na França (salvo de maneira pejorativa) onde
se prefere sublinhar que, se a historiadora ou o historiador da história das mulheres é
feminista, seu discurso é pouco “científico”. É que, como segundo complicador, as
resistências encontradas são grandes. As origens feministas da história das mulheres e o
desenvolvimento de uma “história no feminino” suscita então a desconfiança da disciplina
histórica, que denuncia a subjetividade, a ideologia e a militância, mesmo porque a profissão
dos historiadores que é fortemente masculina em suas escalas superiores e plena do prestígio
nacional da história, dispõe do poder de recrutamento.
A militância e a academia, enquanto um contraponto, dificultam o avanço da história
das mulheres, estudos de gênero e estudos feministas/ feminismos.

-Crítica a história das mulheres: a história proposta não simplifica a realidade em proveito de
uma história da infelicidade e da revolta das mulheres, que evoca a dominação masculina sem
explicitar seu funcionamento e em detrimento da procura daquilo que Cécile Dauphin e
Arlette Farge chamariam mais tarde “o nuance infinito do encontro entre homens e mulheres.

De forma mais ampla, qual seria o sentido em fazer das mulheres um objeto autônomo da
história e elas constituírem um grupo social homogêneo?

HISTÓRIA DAS MULHERES E HISTÓRIA DE GÊNERO UM DEPOIMENTO

Outrossim, alerta Chartier, uma tal incorporação da dominação não exclui a presença
de variações e manipulações, por parte dos dominados. O que significa que a aceitação pelas
mulheres de determinados cânones não significa, apenas, vergarem-se a uma submissão
alienante, mas, igualmente, construir um recurso que lhes permitam deslocar ou subverter a
relação de dominação. Compreende, dessa forma, uma tática que mobiliza para seus próprios
fins uma representação imposta – aceita, mas desviada contra a ordem que a produziu. As
fissuras à dominação masculina não assumem, via de regra, a forma de rupturas espetaculares,
nem se expressam sempre num discurso de recusa ou rejeição. Elas nascem no interior do
consentimento, quando a incorporação da linguagem da dominação é reempregada para
marcar uma resistência.

Assim, definir os poderes femininos permitidos por uma situação de sujeição e de


inferioridade significa entendê-los como uma reapropriação e um desvio dos instrumentos
simbólicos que instituem a dominação masculina, contra o seu próprio dominador.
(Mencionar a crítica radical ao filme Pantera Negra).

Queremos refletir sobre a historicidade de nossas categorias de análise, e, ao mesmo


tempo,mostrar que já não se trata de reparar uma exclusão.O que precisamos é buscar
formas mais eficientes de fornecer legitimidade ao que temos feito, ou seja, a
constituição de um novo campo de estudos, intitulado “História das Mulheres e das
Relações de Gênero”.

Alejandra Olberti

Pensar a construção da memória histórica usando o gênero como categoria de análise para
história. O objetivo era tensionar os discursos que circulavam na Argentina na década de
1970, em um processo de ditadura civil-militar.
Uma biopolítica do gênero.

Os problemas dos usos da linguagem para significar os sujeitos. Como nós, enquanto uma
língua latina vamos conseguir fazer isso? Que disputas políticas vamos ter que travar para
pensar uma alternativa mais inclusiva.

História das mulheres com uma abordagem de gênero- a análise é relacional.

Apresentar a multiplicidade e entrecruzamento de fontes de pesquisa a fim de construir


narrativas históricas, memórias históricas e epistemologias que contemplem a recente história
das mulheres, das relações de gênero e dos feminismos significa, antes de tudo, pensar as
dimensões de aproximação, distanciamento e as tensões e desacordos produzidos a partir dos
debates. Como se sabe a História tentou, durante muitos anos, se legitimar enquanto um
campo masculinista, excludente e normatizador (ainda tenho minhas desconfianças de que
muitos historiadores o fazem). Diante desses jogos e disputas acirradas por posições e
exercícios de poder privilegiados, as produções que se localizam no campo dos estudos de
gênero, história das mulheres e feminismos se apresentam enquanto contra-ponto de
resistência para denunciar a estrutura presumidamente constituída dos sujeitos, dos saberes e
das práticas sociais. Muito se alcançou no que tange a ocupação dos espaços públicos,
sobretudo na academia, além de assistirmos a um assustador refluxo conservador que tenta
afogar vozes antes veladas, hoje ensurdecedoras. Dito isto, fica a reflexão: É possível
abandonar completamente a História das Mulheres enquanto um campo de análise para (re)
escrever a história como propõe a crítica "pós-moderna"?
Ainda nesse sentido, conforme argumenta Chartier:
"As fissuras à dominação masculina não assumem, via de regra, a forma de rupturas
espetaculares, nem se expressam sempre num discurso de recusa ou rejeição". 
Quais são as estratégias das quais nós, enquanto sujeitos históricos e de gênero, dispomos
hoje para enfrentar as novas reconfigurações do patriarcado ocidental?

Você também pode gostar