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A NATUREZA DE UM PROBLEMA PARA A HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS


HISTORIOGRAFIA DE MULHERES NEGRAS NA CIÊNCIA

Article · December 2017

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Victor R. Limeira-Dasilva
Universidade Federal da Bahia
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A “NATUREZA” DE UM PROBLEMA PARA A HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA E
HISTORIOGRAFIA DE MULHERES NEGRAS NA CIÊNCIA

Victor Rafael Limeira da Silva118

Introdução
Desde o surgimento da História da ciência como disciplina há pouco mais de um século119 as formas de
narrar o passado dos campos científicos passaram por consideráveis mudanças. Muitas reivindicações e
críticas continuaram surgindo por parte da filosofia e da sociologia da ciência, para não me reportar aos
diálogos com as próprias ciências estudadas (físicas, naturais, médicas, etc.). Dentre essas críticas, uma
parece sofrer maior resistência por parte dos historiadores120 e foi endereçada por um conjunto de
estudos que começaram a emergir na década de 1970, tendo como mote principal as relações de gênero
no processo de elaboração da ciência, e mais posteriormente, a relação gênero-sexo-ciência, levando
em conta que as tradições dos primeiros feminismos demoraram a se preocupar com uma distinção
mais precisa entre sexo e gênero.
Esse campo de relações parece ainda mais complexo quando olhamos para as reivindicações de
enunciação histórica por parte de “mulheres de cor”121, e mais especificamente de “mulheres negras”,
cuja relação com a ciência carece de radical reconsideração das bases da elaboração do conhecimento
científico ocidental a partir de um corte racial, sexual e de gênero, entendendo que os princípios da
ciência integraram inegavelmente o processo de ascensão dos Impérios coloniais europeus (SANTOS,
1988; RAJ, 2013) e a predação epistêmica dele resultante.
Viso problematizar as construções históricas que dizem respeito às narrativas sobre mulheres negras na
história das ciências. Percorro a literatura feminista, selecionada de uma imensa produção intelectual do
campo “feminismo e ciência”. Transitando pela literatura de mulheres, em sua maioria cientistas, viso
garantir uma avaliação mais fecunda daquilo que considero o problema crucial a ser discutido: saber

118
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências (UFBA/UEFS) –
v.limeiradasilva@gmail.com e membro do NINETS-UEPB
119
Essas transformações foram muito semelhantes tanto na História das ciências como na História tout court até o final da
década de 1970, quando começaram a dialogar com esferas distintas do conhecimento e problemas históricos muito
específicos. Isso se torna notório quando lembramos que na História das ciências não tivemos até hoje o surgimento de algo
semelhante a uma “história vista de baixo” ou “micro história” para além de propostas pontuais e pontes teóricas provisórias.
120
Apesar do pouco impacto da maneira como os diversos feminismos começaram a reivindicar suas narrativas na história das
ciências, entre os historiadores é notório que hoje se considera ponto de concordância o fato de as mulheres serem legítimos
sujeitos históricos com narrativas de vida e experiências que não devem ser invisibilizadas. É interessante e também irônico
perceber que as mulheres é que se beneficiaram de mudanças ocorridas na própria tradição historiográfica, notadamente com
a emergência de transformações nos estudos sobre mutação e revolução científicas após as teses kuhnianas e a grande
aproximação dos historiadores com os Social Science Studies a partir dos anos 1980.
121
Ao usar “mulheres de cor” viso localizar que a literatura da história das ciências e principalmente da crítica feminista à
ciência, com maior concentração no mundo anglofôno, utiliza “colored women” para se referir genericamente a uma série de
correntes e movimentos específicos de mulheres, as quais possuem pontos de pauta distintos, concepções sobre gênero e
ciência também distintos e experiências de vida próprias. Refiro-me a esse aspecto no sentido de evidenciar que minha análise
não pretende tomar distintas formas de crítica feminista, tais como black feminism, feminismo chicano, feminismo terceiro
mundista, feminismo camponês, sul-asiático, lésbico, indígenas etc. sob as pautas que são reivindicação de uma única tradição.
Ao contrário, demarco que a construção do problema teórico debatido se preocupa sobremaneira com o ponto de vista de
“mulheres negras” sem deixar de considerar que: a) esta também é uma categoria problemática; b) nem toda relação das
pautas do feminismo é harmônica com a narrativa e reivindicação de mulheres negras; c) a análise não deve excluir narrativas
de mulheres indígenas, chicanas, sul-asiáticas, da diáspora etc. A partir daqui utilizarei majoritariamente mulheres negras (sem
aspas), considerando implicitamente a problematização a qual acabo de me reportar. Quando me referir a outras mulheres,
além das mulheres negras, utilizarei mulheres de cor (sem aspas) por preferir essa expressão a “mulheres não-brancas” cuja
conotação é plenamente centrada no padrão caucásico.

218
qual história das mulheres na ciência reivindica-se que se conte, pois, saber que deve ser contada nos
soa como um lugar comum.
A problematização proposta busca analisar questões teóricas envolvidas nos modelos de compreensão
e crítica que endossam a escrita de uma história (ainda) ocidentalizada das ciências, e que por tabela,
mantem a trajetória de mulheres negras na/pela ciência ocidental sob a égide de uma epistemologia
privilegiada, que em meio a reivindicações de (re)escrita da história dessas mulheres segue caminhos
que endereçam críticas parciais que finalizam na conciliação ou acomodação com o saber dominante.
Ensaio historicamente a partir de uma compreensão ampla de “epistemologias de mulheres negras”122
(COLLINS, 2000). Invertendo os termos e a ordem do jogo, busco refletir sobre o confronto histórico de
narrativas outras que não aquelas construídas sob padrões e aportes comprometidos com a lógica da
colonialidade do saber, cuja linguagem teórica está imbricada por profundas analogias raciais e
sobreposições epistêmicas.

Mulheres, ciências e novas narrativas históricas


São diversas as críticas do feminismo à ciência ocidental moderna e à narrativa histórica que pinta sua
imagem. Se por um lado, algumas tradições propuseram reavaliar o papel do gênero na construção da
ciência, mas mantendo intacto o “núcleo duro” e o conhecimento científico depurado
epistemologicamente, por outro, há tradições do feminismo que radicalizaram o entendimento da
ciência e chegaram a propor uma “ciência feminista” ou um know how científico próprio, decorrente da
maneira como as mulheres experimentam o mundo e a vida em sociedade.
Essas agendas de estudos deram aos feminismos ganhos em diversas frentes: a oportunidade de
produzir pesquisas sobre a relação das mulheres com a ciência, de fortalecer os argumentos no próprio
corpo da crítica feminista à ciência ocidental, e de construir caminhos para um maior e mais consolidado
acesso das mulheres à ciência, principalmente nas chamadas “áreas duras”. Tais conquistas são
inegáveis resultados de transformações nas sociedades ocidentais desde que o feminismo começou a
ser delineado como corrente de pensamento no século XIX. São mais ainda, produto da atuação crítica
dos próprios feminismos e da resistência das mulheres à recepção passiva de discursos científicos sobre
seus corpos, subjetividades ou comportamentos.
Todo o quadro até aqui levantado, mesmo tratando o feminismo no plural, deixa a profunda sensação
de se estar reportando-se à construção de temas e críticas muito importantes para as mulheres em
geral, mas pouco ou nada referentes a questões idiossincráticas que tocam nas experiências de
mulheres de cor, e em um nível mais denso, de mulheres negras, para delimitar o terreno por onde
caminharemos no debate proposto.
Há quase quatro décadas, a física e bióloga molecular Evelyn Fox Keller (1978) deu passos importantes
para uma série de estudos hoje amplamente definidos pelo binômio gênero e ciência. As provocações
teóricas resultaram na proposição de dois caminhos distintos que, se por um lado concordaram
plenamente que a ciência é constituída por relações de poder, e que a produção do conhecimento
científico está comprometida com um bias masculino branco, por outro, discordam quanto ao atual
estado da participação das mulheres na ciência e quanto à maneira como essas devem ocupar os
diversos espaços científicos (LINO; MAYORGA, 2016).

122
Patrícia Hill Collins (2000, pp. 251-71) propõe uma complexa definição de “epistemologias de mulheres negras” que considera
como elementos principais: a experiência vivida como critério de sentido; o uso do diálogo no acesso a reivindicações de
conhecimento; e a ética do cuidado. Um elemento importante que constitui a reivindicação da legitimidade dessas
epistemologias é o turn point decorrente do corte que Collins propõe entre conhecimento e sabedoria. Segundo os processos
de validação coletiva do conhecimento entre mulheres negras, a sabedoria é elemento essencial em longas relações opressivas
do ponto de vista da subalternizada, levando em conta que o conhecimento sem sabedoria (entendida como a reunião dos
elementos que constituem aquelas epistemologias) só faz sentido do ponto de vista daquele/a que subalterniza.

219
Essa discordância reside, em parte, no fato de que não há entre as feministas acadêmicas um pleno
consenso quanto aos resultados da crítica feminista à ciência na transformação epistemológica de
aspectos fundamentais dos diversos campos científicos (FERREIRA, 2016, pp. 261-2; GROSS; LEVITT,
1994; PINNICK; KOERTGE; ALMEDER, 2003). Assim como também não há nenhuma aceitação massiva da
argumentação feminista quanto às transformações na maneira de narrar a experiência das mulheres na
história das ciências (FERREIRA, op. cit.), fato que se verifica pela completa ausência de menção ao
problema nos principais debates entre os historiadores dessa área.
Frente ao quase ausente impacto das reivindicações feministas na história das ciências, a análise
imprescinde de uma leitura a contrapelo, em busca, na própria literatura feminista, pelos lugares de
enunciação histórica que desejamos evidenciar e problematizar. O programa crítico do feminismo à
ciência pode ser dividido em três principais orientações. A primeira, comprometida com um projeto
mais prático e genérico - ainda no amplo campo dos “estudos de mulheres” – reivindicou o acesso das
mulheres aos espaços de educação e produção científicas, e a recuperação histórica de mulheres
cientistas esquecidas nos textos de história das ciências. Se revelou, porém, a reprodução do mesmo
modelo de compreensão científica dominante, propondo a “acomodação” das mulheres aos padrões
ortodoxos da ciência ocidental (TOSI, 1998; LETA, 2003; LOPES et al., 2004).
A segunda, conhecida como “feminismo crítico”, “científico” ou “empirista” da ciência, avançou para
além do reconhecimento da comunidade científica como um espaço de poder aonde o discurso da
objetividade masculina é dominante, propondo a depuração e transformação dos mecanismos que
mantêm a ciência enlaçada ao projeto normativo androcêntrico. De modo geral, originando boa parte
de sua crítica nos estudos marxistas da ideologia de classe envolvida na produção do conhecimento
econômico e social, a corrente “empirista” reconheceu a imagem tradicional e normativa da ciência
como busca universal e racional pela “verdade” que está, de alguma forma, no mundo concreto
(HUBBARD, 1979; GILLIGAN, 1982; HARTSOCK, 1983; HARAWAY, 1989) e observável da experiência
social.
Essa orientação se construiu sobre um pressuposto sujeito “trans histórico” do conhecimento e a
consideração de um conceito não problematizado de experiência (SCOTT, 1991). Apesar de não
prescindir da “localização” da produção do conhecimento (HARAWAY, 1991), o feminismo “empirista”
de crítica à ciência se generalizou123 ao pensar tais questões em termos de análise materialista da
sociedade, perdendo em alguns pontos o refinamento da crítica endereçada às fundações do
conhecimento científico ocidental.
A terceira, mais voltada para uma abordagem “filosófica”, radicalizou na crítica e rejeição dos padrões
de pesquisa e compreensão objetiva da ciência. Essa tradição provavelmente foi a que mais se mostrou
conflitante com os filósofos da ciência, investindo na compreensão de diferenças irreconciliáveis entre
motivações, objetivos e métodos científicos que compõem um projeto teórico feminista da ciência
(KELLER, 1985, 1987; HARDING & HINTIKKA, 1983; HARDING, 1986; LONGINO, 1989) e aqueles
característicos da ciência sob a égide da Epistemologia normativa.
Este quadro sintético deixa evidente que, mesmo diante da grande diversidade de pontos de vista
teóricos e de reivindicações programáticas, os feminismos têm elaborado saídas tanto para problemas
pragmáticos (acesso das mulheres à ciência), quanto para teóricos (ciência como espaço de poder),
como para epistemológicos (gênero e objetividade científica). Quando considerando as mulheres

123
Aqui devo menção de justiça ao trabalho de Donna J. Haraway, posteriormente a esse momento ao qual me refiro. Seu
radical “manifesto cyborg” é um conhecido exemplo do que a bióloga estadunidense pensa como uma nova taxinomia do
feminismo, aonde não somente os padrões binários de compreensão do mundo são ultrapassados, como também a própria
noção de “espécie” e “humanidade”. Ver: HARAWAY, Donna. “Um manifesto para os cyborgs: ciência, tecnologia e feminismo
socialista na década de 80”. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da
cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, pp. 243-88.

220
negras, seu acesso à ciência, a recuperação de suas histórias e de suas formas de conhecimento,
encontramos dois caminhos precisos que são: a narrativa da história das mulheres negras enquanto
objeto do escrutínio masculino branco que deu base ao pensamento científico europeu, e a
reivindicação de seu acesso ao conhecimento e à prática científica no caleidoscópio de outras mulheres
que objetivam o mesmo.
Essas duas possibilidades se mostram complemente limitadas, pois, se de um lado a história das
mulheres negras na ciência começa a ser paulatinamente contada, por outro, nos vemos frente ao
maior problema que é analisar qual a história que está sendo contada e que parâmetros de
compreensão histórica e científica estão sendo utilizados. A socióloga negra Patrícia Hill Collins, ao
discutir a construção do pensamento feminista negro, chama atenção para especificidades da
experiência e das formas pelas quais essas mulheres produzem conhecimento:
Acho a minha formação como cientista social inadequada para a tarefa de estudar o
conhecimento subjugado de um ponto de vista das mulheres negras. Isso porque há muito
tempo grupos subalternizados têm que usar caminhos alternativos para criar auto definições
e auto avaliações independentes e para rearticulá-los através dos nossos próprios
especialistas. Como outros grupos subalternizados, as mulheres afro americanas não apenas
têm desenvolvido um ponto de vista distinto, mas também tem o feito usando caminhos
alternativos de produção e validação do conhecimento (COLLINS, 2000. p. 252)124.
Torna-se notório que um questionamento se levanta quando pretende-se escrever a história de
mulheres negras na ciência. As histórias de muitas delas estarão irrecuperavelmente perdidas nos
meandros de uma narrativa que tenta conciliar o irreconciliável; a história de mulheres negras em uma
ciência branca deveria ser antes a história de epistemologias concorrentes e não de acomodações,
deveria ser a narrativa de como formas de saber e viver distintas se confrontam, e não necessariamente
produzem um resultado, mas antes um processo, no qual é necessária constante demonstração da
existência autônoma de uma epistemologia que é resistente à epistemologia hegemônica e à epistéme
que esta busca afirmar (FOUCAULT, 2007).
Essa pressuposição não leva, por outro lado, à idealização de que se tratam de relações entre iguais; a
concorrência entre epistemologias e lugares de enunciação na história das ciências se dá em contextos
que foram produzidos por relações assimétricas disparadas pelos Imperialismos coloniais europeus e
por seu filho pródigo, o colonialismo. As disputas nas quais as mulheres negras acadêmicas e cientistas
enfrentam, lembra Collins, revelam como a própria construção de credenciais acadêmicas para o
discurso de mulheres negras se apoia na legitimação de um sistema que exclui a grande maioria das
outras mulheres, contando aquelas que entraram e saíram da ciência pelo pior caminho: como objetos
de análises que supostamente atestaram sua inferioridade. Essa armadilha é desmontada por Collins
quando afirma:
[...] Um caminho para excluir a maioria das mulheres negras do processo de validação do
conhecimento é permitir que poucas mulheres negras adquiram posições de autoridade nas
instituições que legitimam o conhecimento, e encorajá-las a trabalhar com os pressupostos
estabelecidos sobre a inferioridade das mulheres negras compartilhados pela comunidade
acadêmica e a cultura em geral [...] (COLLINS, 2000, p. 254).
Tudo isso se expressa na forma de analisar a ciência em sua relação com o gênero, pensando a história
das mulheres na ciência como a narrativa das pioneiras, ajudantes, diletantes e companheiras
resignadas de cientistas famosos (SCHIENBINGER, 2001; 2008). Essa escolha de abordagem, porém,
revela-se extremamente colonizadora quando reduz o estudo histórico das mulheres na ciência sob o
trinômio gênero-sexo-ciência e adiciona transversalmente a raça quando se trata de reporta-se aos
casos “específicos” de mulheres negras que foram objetificadas pelo conhecimento científico.

124
N.T.: Tradução minha.

221
Analisando as propostas feministas de crítica ao conhecimento científico e de que maneira as mulheres
devem ser incluídas na narrativa histórica, não somente vislumbra-se completa ausência das
reivindicações de outras experiências, como uma escrita histórica que legitima em tudo os mecanismos
de conhecimento científico que inscreveram o corpo negro racializado e sexualizado dentro do projeto
colonial das sociedades modernas.

Mulheres negras, epistemologias e descolonização histórica da ciência


Até aqui, entendemos que as mulheres feministas possuem amplo projeto que estuda o papel
desempenhado pelas relações de sexo e gênero na conformação do conhecimento científico, e que
elaboraram paralelamente distintas propostas que visam, de um lado, combater o preconceito de
gênero que impede o acesso pleno das mulheres à elaboração e validação do conhecimento científico
ocidental, e de outro, a criação de uma base histórica de narrativas sobre a experiência de mulheres
cientistas, visando consolidar seu acesso e forjar a transformação das técnicas de subjugação de sexo e
gênero presentes em toda a arquitetura da ciência moderna.
Resta demonstrar, a partir da persistência do colonialismo e do privilégio epistêmico ao qual me referi,
como se opera na escrita histórica das mulheres na ciência, ou mesmo de uma história feminista da
ciência, a aguda exclusão que é promovida por qualquer ato de nomeação ou pela elaboração do que as
feministas estão acostumadas a chamar de taxinomias125.
Essa demonstração passa pelo entendimento daquilo que chamei atenção a partir de Hill Collins. O que
pode ser identificado por “mulheres cientistas” ou “ciência feminista” nada mais é do que o produto
complexo de relações que se baseiam sobremaneira na atualização da matriz de dominação feminista
sobre outras mulheres, vetadas que estão de enunciação histórica, devido aos lugares simultaneamente
racializados e sexualizados que ocupam em suas experiências, e dos rituais, maneiras e práticas que são
próprias dos mecanismos que induzem à afinidade em seus contextos comunitários, marginalizados ou
incorporados através da criação de uma ontologia que garante uma epistemologia explícita e
dominante sobre as demais (HARAWAY, 1994, pp. 252-3).
Com o que contamos até aqui de uma história das mulheres na ciência, parece inegável que as mulheres
negras ou as mulheres de cor estão excluídas de cada um dos seus pontos de argumentação. Acionando
as categorias de sexo, gênero e, por vezes raça, na tentativa de se ancorar em uma unidade essencial, as
narrativas históricas que resultam das cronologias e taxonomias de mulheres cientistas estão bem
distantes de uma percepção de raça, gênero e classe como resultados da “terrível experiência histórica
das realidades sociais contraditórias” (HARAWAY, 1994, p. 250) da escravidão, do colonialismo e do
capitalismo, sustentadas primordialmente pelo discurso científico ocidental.
Se essa análise recaísse sobre a escrita de uma história feminista da ciência a percepção da exclusão
seria um pouco mais difícil de localizar. Por vezes, a confusão resultada da dificuldade cada vez mais
perceptível de definir com precisão o feminismo (tarefa hoje já abdicada em razão do seu insucesso)
tem conduzido a um caleidoscópio de reivindicações que colocam certas dificuldades para quem se
lança na missão de inscrever as mulheres negras na história das ciências.
Mesmo uma possível história social das ciências profundamente comprometida com a visão “dos de
baixo” - no caso das ciências com a visão dos “malsucedidos”, “vencidos” ou “coadjuvantes” do
processo científico - não teria fôlego para trazer sem riscos de distorções cada parte da experiência de
mulheres negras que transitaram ou transitam pela/com a ciência, e menos ainda, não seria capaz de

125
Taxonomias feministas são estratégias de narratividade utilizadas por correntes do pensamento feminista como uma
reinscrição de sua história, nos sentidos de encontrar seu ponto de convergência e em alguns casos sua unidade teórico-
política. No uso que aqui lanço mão, “taxonomias de mulheres cientistas” poderia funcionar como um termo intercambiável
com “genealogias de mulheres na Ciência”. Ver: HARAWAY, Donna. Op. cit.

222
caracterizar ou compreender cada elemento que constitui as epistemologias de mulheres negras e de
mulheres de cor, as quais, mesmo ocupando espaço dentro do corpo científico, não conseguem colocar
as interpelações de sua forma de conhecer e de validar um saber, que não seja em detrimento do sujeito
histórico feminista que elabora seu conhecimento nos marcos da ciência ocidentalizada.
A escritora negra Bell Hooks, discutindo as muitas relações estratégicas, conflitantes e de resistência de
mulheres negras no contexto científico, notadamente através do feminismo acadêmico, elabora uma
crítica serena e bastante fundamentada na longa experiência como professora de inglês e relações
étnicas na Universidade da Califórnia. Hooks relembra que
[...] No geral, as acadêmicas negras, já gravemente marginalizadas pelo racismo e sexismo
institucionalizados da academia nunca se convenceram plenamente de que lhes é vantajoso
(quer em matéria de progresso na carreira, quer de comodidade pessoal) declarar
publicamente seu compromisso com a política feminista [...] (HOOKS, 2013, p. 168).
Enquanto viam o trabalho teórico do feminismo ganhar cada vez mais notoriedade no debate sobre a
produção do conhecimento científico, as mulheres negras que passaram a ocupar esses espaços viram
suas pautas decrescendo em atenção, e ainda pior, sendo subsumidas em meio a enunciação de
mulheres brancas ou simplesmente de mulheres. É sobre essas bases que estão fincadas as próprias
formas que hoje se utiliza para arregimentar esforços no sentido de escrever uma história feminista126
das ciências.
Também Glória Hull, Patrícia Bell Scott e Bárbara Smith (1982) tencionaram a tranquilidade de
enunciados sobre mulheres e a escrita de suas histórias. Organizando a coletânea de ensaios All the
women are white, all the men are black but some of us are brave: black women’s studies elas colocaram o
que Chela Sandoval (2000), se posicionando a partir do feminismo chicano e terceiro mundista anos
depois, classificou como “consciência oposicional”, a saber, a habilidade de identificar redes de poder
pelas marginalizadas/os das categorias de raça, gênero, sexo etc. na busca por forjar identidades
nascidas da diferença e da fronteira. Sem também prescrever o telos de um todo chamado “mulheres
de cor”, Sandoval pontua que a definição desses grupos se manifestou pela apropriação consciente da
própria negação, manifesta naquilo que as autoras de All the women denunciam: às mulheres negras
não era facultado falar nem enquanto “mulheres”, nem enquanto “negros”, dado o fato de que,
estando na mira de uma sequência de estereotipadas marcações identitárias127 construídas
historicamente desde a escravidão (HALL, 2016, pp. 169-71), consequentemente estavam excluídas
inclusive das únicas categorias que se poderia imaginar abarca-las, tais como “negros” ou “mulheres”.
Temos como resultado da discussão que a narrativa histórica de mulheres negras na ciência,
referenciada en passant na historiografia geral de mulheres cientistas, se acomoda com muitos
problemas nos eixos teóricos que orientam as reivindicações pela (re)escrita das mulheres nos quadros
da ciência moderna. Mesmo na vertente mais radical, assentada na crítica profunda da produção de
uma “má ciência”, cujo processo e resultados estão inevitavelmente orientados pelo gênero
(SARDENBERG; MINELLA, 2016, p. 9), o papel das mulheres negras - tanto as “vítimas” da ciência como
as suas colaboradoras - estará perdida na opacidade de uma teoria que entende a multiplicidade de

126
É evidente que a atuação de mulheres negras como escritoras/intelectuais não se limita ao campo dos estudos feministas.
Pensando especificamente em termos de historiadoras, Bell Hooks (2013, p. 170) relembra os trabalhos de Rosalyn Terborg
Penn, Deborah White e Paula Giddings como exemplos de historiadoras comprometidas em estudar formas antigas de
conhecimento de mulheres negras, sem, no entanto, portar um rótulo ou a preocupação com um ponto de vista feminista. No
Brasil, relembro as pesquisas pioneiras da historiadora Maria Beatriz do Nascimento (1942-1995).
127
A discussão de Hall (2016, pp. 171-74; 189-94) é consonante com a proposta de pensar para além de termos de acúmulo de
opressões ou pirâmide do sofrimento, tendo em vista que essa perspectiva reafirma a significação do dominador e simplifica
uma complexa economia de relações de poder e resistência. Prefiro pensar em um processo de “naturalização” que fixa a
“diferença” e promove o que Hall chama de “um ‘fechamento’ discursivo ou ideológico”. No caso das mulheres negras, essa
“naturalização” atua simultaneamente no seu fenótipo e na sua sexualidade reduzindo-as à sua essência “como raça, como
espécie”.

223
epistemologias, mas simplesmente narra a história com o corte epistemológico hegemônico.
De fato, o caminho para chegar até as falas, escritas e vivências de mulheres negras não se reduz a um
projeto utópico de que um dia as suas narrativas estarão massivamente entre os cânones. Um caminho
interessante que a teoria feminista da ciência ofereceu, e a produção de conhecimentos entre as
próprias mulheres negras deixou evidente, reúne tanto uma análise crítica da elaboração do
conhecimento científico ocidental, como a proposição de conhecimentos outros, que ao diferirem
drasticamente daquele, não almejam ocupar seu lugar ou se beneficiar de seus processos de validação
para reivindicar legitimidade.
A crítica ao conteúdo da ciência na (re)escrita das mulheres negras é o reconhecimento histórico de
como operaram, e continuam operando sob outros modelos, os postulados que se erigiram na negação
de todas as formas de conhecimento que não fosse o científico ocidental. A proposta crítica a qual me
refiro não tem sido mérito de nenhum constructo teórico acadêmico tal como o que venho elaborando,
senão pela conquista da noção de como o racismo e o colonialismo se expressam na própria forma de
pensar a ciência. Tal como provoca apropriadamente Ramón Grosfoguel (2010), não podemos
normalizar o fato de ver nossos problemas com teorias que outros criaram para entender os seus
problemas, ao passo que essa atitude demonstra a persistência da colonialidade nos atuais constructos
teóricos que se utiliza para pensar as relações assimétricas de raça, gênero e sexualidade em um
sistema moderno global.
Nancy Leys Stepan (1994), historiadora da ciência, em ensaio hoje clássico, demonstrou como as
metáforas e as analogias que nelas se interpõem desempenham um papel histórico na conformação do
moderno pensamento científico. Estudando sobremaneira a analogia raça e gênero, no contexto do
século XIX, Stepan recupera o filósofo analítico Max Black (1909-1988) em suas reflexões sobre o papel
da metáfora na construção do conhecimento e do discurso científicos. Chama atenção para o fato de
que uma noção historicista da história das ciências, resguardando os termos e significados do contexto
estudado, não deve ser confundida com um negacionismo das contradições sociais e raciais que
estavam entrelaçados nas fontes da Ciência moderna e que sobrevivem moldando nossas percepções e
ações envolvendo o conhecimento científico, inclusive a escrita de sua história:
Este aspecto da ciência [...] é não raro despercebido em discussões sobre paradigmas,
modelos e analogias científicas, para os quais o foco principal seria a metáfora como uma
construção com consequências intelectuais para a ação da ciência. As metáforas [analogias],
porém, são mais do que isso, moldando nossas percepções e alterando nossas ações, que
tendem a ficar em conformidade com elas. As analogias que relacionam diferenças de raça,
classe e gênero na espécie humana, desenvolvidas nas ciências biossociais do século XIX, por
exemplo, tiveram consequências sociais ao ajudar na perpetuação do status quo social e
sexual (STEPAN, 1994, p. 90. Grifo meu).
Na esteira de Stepan, penso que a analogia raça/gênero/espécie é uma poderosa representação de
como os postulados da ciência ocidental articularam a marcação da diferença e a naturalização das
assimetrias, da mesma forma como as “interseccionalidades” foram importantes para que o feminismo
começasse a perceber os racismos imbuídos nas suas próprias construções teóricas e políticas.
O que trago como “consciência oposicional” em Chela Sandoval, ou “epistemologias de mulheres
negras” em Patrícia Hill Collins, aliado à noção de “conhecimento localmente situado” em Donna
Haraway, se dá nas experiências históricas de mulheres negras, a partir das quais diversos modelos
teóricos e projetos políticos foram elaborados e são suficientes para endereçar uma crítica à ciência
desde o lugar dessas mesmas mulheres.
Compreender a diferença entre historicizar a experiência das mulheres na ciência e elaborar uma
história descolonizada da relação entre mulheres e o conhecimento científico, significa considerar
aquilo que Paul Gilroy (2007, p. 31) coloca como a cegueira dos historiadores, sociólogos etc. que nem

224
sempre percebem o significado de “contra-culturas modernas, por vezes escondidas, formadas em
experiências longas e brutais de subordinação racializada através da escravidão e do colonialismo”,
lançando mão de forças e táticas que atuaram dinamicamente nas relações assimétricas de poder no
contexto dos imperialismos e do resultante colonialismo.
Gostaria de relembrar que essas experiências podem estar “no passado”, tal como objeto da História,
mas ao mesmo tempo podem estar acontecendo hoje, no momento mesmo em que a ciência está
sendo produzida. Nada mais representativo do que a narrativa de Gail Smith, pesquisadora descendente
do povo khoi-san da atual África do Sul, sobre o seu contato com os restos mortais de Saartjie
Baartmaan, jovem mulher negra do mesmo povo que foi exibida em freak shows em Paris e Londres na
primeira metade do século XIX, e cuja história se tornou amplamente conhecida e discutida (WISS, 1994;
HALL, 1997; CITELLI, 2001).
Além de atração cômica e sexual, Baartmaan foi objeto da devassa científica de Georges Cuvier (1769-
1832), eminente cientista francês, interessado que estava na precisa definição da espécie humana
mediante os muitos registros fósseis que começavam a emergir. Ao documentar o processo de
recolhimento e reenvio dos restos mortais de Baartman ao seu povo, absurdamente já nos anos 2000,
Gail capta com precisão o perigo de reatualização da lógica dominadora da ciência ocidental que se
busca criticar:
Eu estava fascinada pela garrafa contendo sua genitália. Perguntei-me sobre os tesouros da
descoberta científica que poderiam ter produzido, e de como Georges Cuvier sentiu o
momento em que ele conseguiu examinar sua vagina de perto, sem resistência de Baartman
que havia provado ser um espécime hostil durante a sua estadia no Jardin des Plantes, aonde
ela foi exibida em meio a uma variedade de outras exóticas faunas e floras. O conteúdo do
frasco não era atraente, e meu fascínio me colocou a par com Cuvier e todos os outros
homens cultos da ciência francesa, e então eu parei de olhar [...] (SMITH, 2002)128.
Relembrando tantos exemplos semelhantes ao de Saartjie, como o de Henrrietta Lacks (GILROY, 2007;
SKLOOT, 2011), /Khanako (RASSOOL; HAYES, 2002), Julia Pastrana (BROWNE; MESSENGER, 2003) e
outras, somos lançados novamente à incômoda pergunta inicial: qual história dessas mulheres negras
na ciência pretende-se que se conte? Ciraj Rassool e Patrícia Hayes dão condições de pensar na história
que (ainda) está sendo contada:
Em grande medida, Saartjie Baartman ainda não foi totalmente historiada dentro de um
paradigma mais amplo da produção de imagens de mulheres esteatopígicas inclinadas que
continuou vigente tanto nas “metrópoles” como nas “periferias” do globo. Para além da
dicotomia branco olha/negro é olhado, tão estabelecida nos estudos de Baartman, como
entendemos realmente as condições coloniais, raciais e de gênero que levaram à reprodução
dessas imagens em diferentes momentos e lugares? (RASSOOL; HAYES, 2002, p. 315).
As condições coloniais históricas mencionadas pelas autoras como ponto de apoio necessário para a
produção de uma narrativa história descolonizada, estão em consonância com aquilo que colocou
Ramón Grosfoguel (2010, p. 458-9) sobre o projeto colonial do saber, em primeiro lugar desmascarado
na maneira como produz conhecimento no ocidente moderno, mas que ainda adquire êxito quando
“leva sujeitos socialmente situados do lado oprimido da diferença colonial a pensar epistemicamente
como aqueles que se encontram em posições dominantes”.
Falando em termos muito próximos ao corte proposto por Patrícia Hill Collins
(conhecimento/sabedoria), Grosfoguel reivindica uma distinção entre “lugar epistêmico” e “lugar
social”, alertando para o cuidado de não pressupor que alguém situado do lado subalternizado das
relações de poder necessariamente pense a partir de um lugar epistemicamente subalterno.
A história das mulheres negras na/pela ciência se beneficiaria em grande medida de uma radical

128
N.T.: Tradução minha.

225
descolonização das formas de escrita de sua experiência, mesmo as poucas que conseguimos encontrar
na literatura. Esse processo incluiria uma mudança não somente de arranjos teóricos, mas em primeiro
lugar de perspectiva. Sua narrativa seria a dessas mulheres que se quer evidenciar, de suas
epistemologias, ou de seu “corpo-política do conhecimento” (ANZALDÚA, 2007; FANON, 2008) em uma
geopolítica histórica aonde várias formas de saber são concorrentes e não apenas partícipes de um jogo
estático dominação/dominado, na qual, ao fim e ao cabo, o subalterno tem sua subjetividade esmagada.
Para concluir, novamente com o exemplo de Saartjie, retomo o episódio final de sua morte, cuja
narrativa evidentemente é a de Cuvier, e cujo desfecho é a confirmação de alguém que teve sua vida
reduzida ao seu corpo, reduzido por sua vez à genitália, reduzida por sua vez à natureza (DAMASCENO,
2008). Em um lance finalíssimo, porém, em meio a um grande esforço para tentar ouvir, mesmo
fragmentada, a voz daquela mulher negra, entendemos o significado perfeito de “consciência
oposicional”: Saartjie Baartman bebeu até a morte depois de ser noticiada ter contraído séria doença,
suicidando-se - lembra cruel e sensivelmente Janaina Damasceno - destruiu as marcações dominadoras
sobre seu corpo e enunciou a libertação de sua subjetividade.

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