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Introdução
“Não existe [...] uma luta de uma só questão, porque nós não vivemos vidas de uma só
questão”. /-*+
Audre Lorde
Este artigo consiste num esforço inicial de refletir sobre a viabilidade da utilização da
epistemologia feminista negra, na sua perspectiva interseccional, a partir da História Social das
Mulheres. Aqui assumo o desafio de cruzar matrizes teóricas historicamente excludentes
intentando desenvolver um quadro teórico que melhor atenda aos objetivos do projeto de
pesquisa intitulado: O peso do garimpo: quanto vale o trabalho da mulher? Divisão sexual e
racial do trabalho nas Lavras Diamantinas da Bahia (anos de 1950 a 1996), em
desenvolvimento no Programa de Pós Graduação de Estudos Interdisciplinares em Mulheres,
Gênero e Feminismo (PPGNEIM), na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Na tentativa de
(re)escrever a história das trabalhadoras negras dos garimpo de diamantes, almeja-se romper com
o “paradigma da ausência”2 que expõe a baixa incidência do componente racial nos estudo sobre
as trabalhadoras/es no Brasil, especialmente quando reportados ao século XX.
Se em pesquisa anterior3 houve o desvelar da presença e do exercício laborativo de
mulheres no garimpo, espaço historicamente ocupado por homens, atestando que a atividade
garimpeira tem dois sexos, na pesquisa a ser desenvolvida no doutorado a ideia é demonstrar que
além de classe, do sexo, o garimpo também tem cor, e é preta! Problematizar este enegrecimento
requer a adoção de lentes epistemológicas que dêem conta das complexidades das interconexões
1
Graduada em Licenciatura em História (UEFS/BA), bacharela em Serviço Social (UNIT/SE), mestra em Serviço
Social (UFS/SE) e doutoranda em Estudos Interdisciplinares sobre Mulher, Gênero e Feminismo (NEIM/UFBA).
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Segundo Nascimento (2016) dentre as dificuldades citadas pelos historiadores/as estão o “problema das fontes” por
não trazerem a cor dos trabalhadores e pelo frágil argumento da transição do trabalho escravo para o livre. Neste
caso, argumenta Nascimento (2016) não seria pertinente o diálogo com os estudiosos da escravidão e do pós-
abolição para buscar outras fontes e ferramentas teóricas e metodológicas sensíveis à participação dos negros e
negras nos mundos do trabalho? Acrescenta que seus pares da História do Trabalho pouco discutem o legado de lutas
da população negra e os problemas raciais que eles enfrentavam.
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Ver Jesus (2021)
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dos sistemas de opressão. O feminismo negro, através da interseccionalidade será este horizonte
de análise por oferecer mecanismos de compreensão de múltiplas desigualdades que atingem as
mulheres negras.
Estruturado em três tópicos, este artigo discute num primeiro momento o impacto da
incorporação da categoria gênero na pesquisa histórica e os desacordos teóricos e metodológicos
quanto a sua utilização no âmbito da História das Mulheres. O gênero, ao conceder o status de
sujeitos históricos às mulheres, redefiniu as bases epistemológicas da historiografia, que implicou
não somente em uma renovação da História das Mulheres, mas numa nova história. O desacordo
entre as historiadoras Louise Tilly e Joan Scott é representativo de um debate mais amplo, que
perpassa pela condução teórica e metodológica dos estudos sobre as mulheres e as relações de
gênero, com registros de pontos de tensão entre as vertentes da História Social do Trabalho e pós-
estruturalistas, que disputavam a hegemonia deste campo.
As experiências de subjugação sofridas pelas mulheres negras e a invisibilização de suas
vivências no âmbito do feminismo (branco) hegemônico motivaram o desenvolvimento de
epistemologias alternativas e ferramentas analíticas capazes de apreender a imbricação das
opressões de gênero, raça e classe. No segundo tópico deste texto a epistemologia feminista negra
é apresentada em seus principais pressupostos. Em seguida discute-se sobre a sobre a
interseccionalidade e alguns pontos de convergência com a História Social, caminho que
considero promissor para capturar experiências históricas de mulheres negras, por propiciar um
olhar mais acurado, integral e democrático.
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O que, em seu ponto de vista, demonstra que o gênero não é um subproduto da economia.
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pesquisadores “encontram subsídios para projetos políticos que implicam romper com
“determinismos biológicos” e questionar desigualdades sociais baseadas nas percepções da
diferença sexual”, pontuou Pinsky (2009, p. 181, grifos da autora).
Apesar das divergências entre Louise Tilly e Joan Scott, representantes da História
Social e do pós-estruturalismo, respectivamente ambas questionaram a aplicação do gênero pela
história, apontando a necessidade de ruptura com uma discussão outrora mais descritiva que
analítica. A categoria gênero, portanto, deveria questionar os conceitos dominantes da disciplina
histórica, acionar novos pressupostos teóricos e metodológicos, de modo a democratizar a escrita
da história ao incorporar as experiências de grupos historicamente excluídos, dentre eles as
mulheres negras trabalhadoras.
Face às questões específicas que afligem as mulheres negras foi preciso acessar
epistemologias alternativas e ferramentas analíticas que pudessem apreender as opressões
interseccionais de raça, classe e gênero. A invisibilidade da categoria raça nos estudos feministas
iniciais trouxeram uma série de questionamentos quanto às práticas excludentes desse
movimento. Nesse sentido, a epistemologia feminista negra e a perspectiva interseccional
revelaram os limites do feminismo (branco) ocidental e alertaram para os perigos de análises
pautadas unicamente pelo gênero. Desvelaram a multiplicidade das mulheres e os diversos
feminismos.
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aos grupos historicamente oprimidos, não apenas como meros objetos de investigação e/ou
consumidores de seus resultados, mas como sujeitos ativos5.
A contemplação da diversidade é um ponto central na promoção de uma “ciência a
partir de baixo” por promover a perspectiva “[...] das pessoas pobres, de “minorias” étnicas e
raciais, [...], de mulheres, de minorias sexuais [...], perspectivas mais amplamente utilizadas a
partir das quais as reinvindicações de conhecimento dominantes [...] começaram a ser
reavaliada”, tal qual ponderou Harding (2015 apud AYMORÉ, 2017, p. 180).
Como teoria social crítica, a epistemologia feminista negra e/ou epistemologias
insubmissas, conforme denominou Figueiredo (2020) reflete os interesses e ponto de vista
daquelas que as elaboraram. O ponto de vista das mulheres negras oferece um campo de visão
privilegiado, através do qual é possível observar aspectos importantes do grupo do qual se é
parte. Historicamente, o conhecimento produzido por mulheres negras em instituições sociais,
controladas por homens brancos, assim como no âmbito do feminismo hegemônico, foi
suprimido quando não apagado. Tal prática foi definida por Carneiro (2005) como epistemicídio,
que consiste num processo de negar aos negros/as a condição de sujeitos/as de conhecimento, ao
desvalorizar, negar ou ocultar as contribuições dos povos africanos e da diáspora à humanidade,
através da imposição do embranquecimento cultural. “[...] Por isso o epistemicídio fere de morte
a racionalidade do subjugado ou a sequestra, mutila a capacidade de aprender” (CARNEIRO,
2005, p. 19).
Dessa feita, os grupos subordinados desenvolveram desde sempre estratégias de
resistência. Tal qual asseverou Collins (2019, p. 402) as mulheres negras recorreram “[...] a
formas alternativas para criar autodefinições e auto-avaliações independentes, rearticulando-as
por meio de nossos próprios especialistas”. Desenvolveram um ponto de vista específico e se
valeram de formas alternativas, a exemplo da música, da literatura, das conversas e
comportamentos cotidianos, para produzir e validar o conhecimento produzido. Conforme
veremos a seguir a experiência é um conceito importante para o feminismo negro, sendo base
fundamental de sua epistemologia. Integrantes do grupo subordinado “[...] as mulheres negras
não pode se dar ao luxo de ser idiotas, pois nossa objetivação com o Outro retira de nós as
5
Tendo como base os ensinamentos da feminista negra Bell Hooks, a psicóloga Grada Kilomba (2019, p. 28)
argumenta que sujeitos são aqueles que têm o direito de definir suas próprias realidades e nomear a suas histórias. Na
condição de objeto esta realidade é definida por outros, as identidades são criadas pelos outros. A passagem da
condição de objeto a sujeito concebe a escrita como ato político.
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proteções conferidas pela branca, pela masculinidade e pelo dinheiro". A sabedoria construída
por meio da experiência vivida é essencial para a sobrevivência dos subordinados.
Na epistemologia feminista negra os valores éticos são o cerne do processo de validação
do conhecimento. São quatro as dimensões da epistemologia feminista negra: a experiência
vivida como critério de significado, o uso do diálogo, a ética do cuidar e a ética da
responsabilidade pessoal. De acordo com Patrícia Hill Collins (2019) quando estas dimensões são
politizadas e associadas a um projeto de justiça social elas apresentam potencial para formar um
referencial que sirva tanto ao pensamento quanto à prática feminista negra.
A experiência como veiculo simbólico associado a imagens de práticas cotidianas ocupa
centralidade nos sistemas de pensamento afro-americanos. As imagens práticas do dia a dia
auxiliam na construção de simbologias que são valorizadas como critério de significado e
auxiliam na construção e reivindicação de conhecimento. Acrescenta Collins (2019, p. 414) que:
“[...] essas formas de conhecimento permitem o surgimento de uma subjetividade entre o
conhecimento e o conhecedor. Residem nas próprias mulheres [...] e são vivenciadas diretamente
no mundo (e não por intermédio de abstrações)”.
Outra dimensão epistemológica apresentada diz respeito ao reconhecimento do diálogo
como ferramenta de transmissão e construção do conhecimento. Compartilhando das ideias de
Bell Books Collins (2019) afirma que o diálogo pressupõe uma conversa entre dois sujeitos e não
um discurso entre sujeito e objeto. Um dos pressupostos básicos na utilização do diálogo na
avaliação de reivindicações de conhecimento permeia a ideia de conexão, que tem raízes
profundas nas tradições orais de matrizes africanas.
A ética do cuidar também é um elemento importante da epistemologia feminista negra e
têm como base elementos como as emoções, a expressão pessoal e a empatia. As emoções se
relacionam à intensidade com que é utilizado aos argumentos nos diálogos, indicando o quanto de
validade tem no argumento. A expressão pessoal se relaciona com a expressão única do espírito,
o poder e a energia emanada de toda vida. Alicerça-se em uma tradição de humanismo africano
que dá ênfase à singularidade de cada indivíduo.
O último ponto da ética do cuidar é a ordem da empatia, que consiste na capacidade de
se solidarizar com o sentimento e/ou sofrimento do outro. A ideia de irmandade baseada na
sororidade é um item importante dentro da validação do conhecimento. Desta forma, a abertura
ao outro vai ocorrer quando houver, principalmente, confiança e empatia. A última dimensão
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epistemológica do feminismo negro corresponde a ética da responsabilidade pessoal. Por este
viés, as pessoas devem tanto desenvolver reivindicações do conhecimento por meio do diálogo e
apresentá-las em um estilo que demonstre sua preocupação com as ideias, como se
responsabilizar pelo conhecimento reivindicado.
Na linha interpretativa de Patrícia Hill Collins (2019), ela reitera que as reivindicações
individuais de conhecimento levam em conta o caráter, os valores e a ética do individuo. Rejeita
a ideia de que investigar o ponto de vista pessoal foge do centro da discussão. Para a autora, todas
as opiniões e medidas tomadas derivam de um conjunto de crenças centrais que são antes de tudo
pessoais. Acrescenta ainda que, ao procurar dados da dimensão da vida pessoal, excluídos das
abordagens tradicionais, estes apontam a experiência de vida como critério de significado.
Estudar as experiências de trabalho de mulheres negras requer a adoção de
epistemologias alternativas às adotadas pelo feminismo hegemônico. As mulheres negras
permanecem sendo um grupo subjugado e atingido pela conjugação de opressões interseccionais
de raça, classe e gênero que repercutem em suas experiências, da mesma forma que as fazem ter
um ponto de vista diferenciado como outsiders, por essa razão o pensamento feminista negro
continua sendo importante enquanto resposta ativista a essa opressão.
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mito da fragilidade feminina nunca se sustentou em se tratando das mulheres negras, haja vista
que as mesmas nunca se viram ou foram tratadas como frágeis.
Carneiro (2019), assim Hill Collins (2019), Luiza Bairros (1995) ratificam a
inviabilidade de pensar a opressão sexista deslocada de outros eixos de opressão, notadamente de
raça e classe. “Numa sociedade racista sexista marcada por profundas desigualdades sociais o que
poderia existir de comum entre mulheres de diferentes grupos raciais e classes sociais?”
(BAIRROS, 1995, p.458). Esta questão embora recorrente, nunca foi resolvida a contento pelos
diversos feminismos, que segundo Bairros (1995) continuaram reclusos às suas origens brancas e
ocidentais. As mulheres negras, portanto, foram invisibilizadas e reclusas num discurso
genderizado (não racializado).
A interseccionalidade, conforme ressalvaram as autoras Bilge e Collins (2021) surgiu
como resposta às experiências de opressão das mulheres negras, tendo sido definida da seguinte
forma:
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“diferença dicotômica por oposição” do tipo ou/ou, que ao estabelecer uma opressão como
primária hierarquiza e diminui o peso das demais.
É importante ressalvar, que embora alguns grupos vivam experiências de opressões mais
duras que outros, não devemos confundir a primazia de um tipo de opressão na vida das pessoas
com uma postura teórica que defende a imbricação das opressões. Isto porque o reconhecimento
da primazia de uma categoria sobre a outra em determinado tempo e lugar, não minimiza o peso
teórico de raça, classe e gênero como categoria que estruturam todas as relações. Cabe a nós
redefinir a opressão e desvelar as conexões existentes entre as categorias, pontuou Collins (2015).
Uma vez sinalizados os principais pressupostos teóricos atinentes à epistemologia
feminista negra e sua perspectiva interseccional passaremos a etapa final deste texto que consiste
em apontar algumas fronteiras entre o pensamento feminista negro e a História Social das
Mulheres. O objetivo é perscrutar possibilidades de diálogos entre estas duas vertentes,
aparentemente de matrizes teóricas diferentes e conflitantes, no intuito de refletir sobre as
experiências históricas de mulheres negras trabalhadoras. Pautado nos questionamentos trazidos
Rosane Borges (2021), diríamos que o feminismo negro é uma plataforma de expansão da
História Social, pautada em bases teóricas marxistas não ortodoxas, com enfoque nas
experiências e vivências individuais de cada mulher negra.
Semelhantemente à sabedoria imprimida pelo feminismo negro quanto ao
comprometimento ético de revirar os silêncios que recobrem as experiências de mulheres negras
a partir de seu próprio ponto de vista, a História Social apresenta em seu projeto político a
ampliação da narrativa histórica por pensá-la “por baixo” e incorporar a experiência de homens e
mulheres “ordinários”. A experiência, conceito central no feminismo negro, é também aceitável
entre os estudos que tem por base a História Social.
Baseados no conceito de experiência proposto pelo historiador Thompson (2009) vários
estudos buscaram resgatar a ação e a palavra das mulheres, que forneciam provas não somente da
opressão, mas das estratégias de luta e resistência para sobreviver aos sistemas opressores. A
utilização desse conceito possibilitou afastar-se das armadilhas de vertentes marxistas que
desconsideravam o papel do sujeito na história e reduzia os acontecimentos sociais ao
econômico. A História Social, quando atrelada aos preceitos do pensamento feminista negro e
interseccional, portanto, é um campo profícuo à execução de pesquisas que desejem compreender
as experiências de mulheres negras na História.
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Uma das maiores pensadoras negras contemporâneas, Angela Davis, autora da clássica
obra Mulheres, raça e classe, articularam de forma brilhante a perspectiva marxista com o
feminismo negro e o pensamento interseccional. Sua obra nos mostrou que os marcadores de
gênero quando desvinculados de raça e classe não dão conta das complexidades das mulheres
negras. Davis (2016) ao analisar as condições das mulheres negras escravizadas nos Estados
Unidos da América demonstrou que as mesmas dificilmente eram vistas como mulheres, haja
vista que o sistema escravagista lhes suprimia esta atribuição. A ideologia da feminilidade,
amplamente cortejada no século XIX, evidenciava o papel das mulheres como mães, esposas,
donas de casa, etc. As mulheres negras eram vistas como anomalias.
Dessa feita, o ponto de partida da análise da exploração da vida das mulheres negras
escravizadas foi através do seu papel como trabalhadoras, atuando ao lado dos homens na
lavoura. A condição de mulher que lhes eram atribuídas na maternidade as animalizava e as
reduziam à condição de meras reprodutoras. Segundo Davis (2016, p. 19), “[...] quando era
lucrativo explorá-las como se fossem homens, eram vistas como desprovidas de gênero, mas
quando podiam ser exploradas, punidas e reprimidas [...] elas eram reduzidas [...] à sua condição
de fêmeas”.
A análise da feminista negra estadunidense Ângela Davis não se prende a uma
perspectiva marxista ortodoxa e busca dialogar com categorias estruturais e subjetivas não as
antagonizando, posto que seja partes de um todo. Nas palavras, de Davis:
[...] as organizações de esquerda têm argumentado que classe dentro de uma visão
marxista e ortodoxa que a classe é a coisa mais importante. Claro que classe é
importante. É preciso compreender que classe informa raça. Mas, a raça também informa
a classe. E gênero informa a classe. Raça é maneira como a classe é vivida. Da mesma
forma que gênero é a maneira como a classe é vivida. A gente precisa refletir bastante
para perceber as intersecções entre raça, classe e gênero, de forma a perceber que entre
essas categorias existem relações que são mútuas e outras que são cruzadas. Ninguém
pode assumir uma primazia de uma categoria sobre as outras. (DAVIS, 1997, S.P.)
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o olhar universalista que adquiriu o gênero, no âmbito das análises feministas em meados do
século XX. Em concordância com Borges (2021, p. 59) diríamos que: “[...] a tentativa não é fazer
desaparecer as discordâncias, mas apontar que o feminismo negro se põe em outra dimensão para
interrogar o marxismo; coloca-se no lugar de desnaturalizar, num golpe só, raça e gênero, tarefa
não efetuada por Marx [...]”. O feminismo negro é um elemento teórico essencial de construir
uma história com sujeitos históricos com vozes, historicidade, vivências e experiências
singulares.
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