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UFMS – CPTL

HISTÓRIA – LICENCIATURA

Discente: Matheus Medeiros Piquera

Docente: Luiz Carlos Bento

PROVA 2

A autora Maria da Glória de Oliveira centra sua reflexão acerca da História da


Historiografia na perspectiva de história de gênero e da decolonização da historiografia.
A autora fazendo um balanço historiográfico tece uma tese muito particular, em sua
análise ela percebe principalmente que a exclusão das mulheres na história, seja como
objeto de pesquisa, seja como divulgação de trabalhos feitos por mulheres, vem
relacionado à partilha de temas e interdições causadas pela intencionalidade de um âmbito
acadêmico, e de um mundo na realidade, pautado pela perspectiva patriarcal dominante
que enlaça as possibilidades de visibilidade e controla o desenvolvimento do âmbito
social de pesquisa.

Oliveira faz uma análise quantitativa e percebe dados interessantes, primeiramente


ela percebe que dentro da área de Teoria da História e História da Historiografia, apenas
39% dos cadastrados na SBTHH são mulheres o que denota uma forte mal distribuição
no número de pesquisadoras mulheres da Teoria frente aos pesquisadores homens. Porém,
a autora também nota que esses números não acompanham a distribuição geral dos
mestres e doutores em História, onde a distribuição é equilibrada.

Para a autora, uma preocupação real no que diz respeito a problemática da


participação feminina na historiografia, é a da possibilidade de uma diferença da escrita
masculina da história frente a perspectiva feminina no escrever historiográfico. Oliveira
aponta que além disso a preocupação real é entender a aplicação e o impacto
epistemológico da categoria de gênero na base do estudo histórico.
No que diz respeito a Historiografia brasileira, Oliveira argumenta que a
distribuição das temáticas de gênero e sua incorporação como problemática científica
ocorreu de forma desigual, superficial servindo como tema complementar de outras áreas
e não com centros de pesquisa próprios. No século XIX no auge do IHGB, ser historiador
estava muito ligado a uma índole cívica, os trabalhos acadêmicos da área de História
surgiam para justificar uma posição do estado brasileiro e uma equiparação social visando
o modelo europeu, no geral tratando em demasia de temas que legitimavam as práticas da
camada dominante e a burguesia dos grêmios que compunham seu corpo de
pesquisadores. A questão do método não era uma preocupação, e o tema de estudo de
gênero não era nem considerado como interesse de pesquisa. A autora ainda cita episódios
de desclassificações de indicações de pesquisadores mulheres para fazer parte do IHGB
com justificativas de seus tipos de escrita simularem uma literatura poética e obviamente
do sentido encoberto da temática de suas pesquisas irem diretamente em contramão da
história magistra vita pensada pelos intelectuais do IHGB.

Ainda no Brasil, as historiadoras pouco tiveram voz, até meados dos anos 80-90,
onde graças a influência da ebulição dos movimentos feministas em todo o mundo,
principalmente nos EUA, as mulheres ganharam mais espaço de fala e nas pesquisas,
porém, ainda mostrando números muito pequenos principalmente se tratando de objetos
da pesquisa científica. As literatas tiveram mais espaço, e o estudo literário tornou
conhecidas mulheres escritoras, poetisas e jornalistas brasileiras do século XIX que pouco
tiveram espaço nos estudos historiográficos.

Desenvolvendo a problemática no artigo Oliveira aponta que a antítese para os


argumentos contrários da ausência do uso da categoria de gênero nos estudos de história
intelectual, deve-se centrar em um questionamento:

Caberia avançar, de forma mais específica, na avaliação da efetividade da


noção de gênero como aparato conceitual crítico dos fundamentos epistêmicos
da disciplina e da própria escrita da história, a começar pela “irrelevância” dos
marcadores de sexo, de raça e de classe social do narrador, ou seja, do sujeito
da operação historiográfica, em nome de critérios supostamente neutros,
objetivos e universais de racionalidade. (OLIVEIRA, 2018, p.117)

Para Oliveira, a razão central da história das mulheres e dos os estudos de gênero
estarem distanciados dos centros focais de pesquisa se encontra na posição do “Outro”,
parafraseando Simone de Beauvoir, onde esses temas, para os interesses da elite
capitalista patriarcal dominante, são aversivos simplesmente por carregarem a marca da
diferença que tanto assusta os padrões definidos como “normais”, e ferem a identidade
construída dessa classe dominante.

A autora então conclui sua ideia, após passar por todos esses argumentos,
indicando a necessidade da mudança de figura, de forma e de gênero na escrita histórica,
e além, principalmente uma mudança no objetivo de pesquisa e no pesquisador que há de
dar lugar à pesquisadora. Dessa forma os silêncios que tanto dizem como argumenta
Oliveira, possam ser rompidos e a voz dos indivíduos periféricos possa ser ouvida. A
crítica tão fundamentalmente estruturada e potente presente na categoria de gênero deve
ser usada para colocar em cheque a própria teoria epistêmica da grande disciplina de
História.

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