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O estado de exceção como forma legal daquilo que não pode ter forma legal.

Se a exceção é o
dispositivo original graças ao qual o direito se refere à vida e a inclui em sai por meio de sua
própria suspensão, uma teoria do estado de exceção, é condição preliminar para se definir a
relação que liga e, ao mesmo tempo, abandona o vivente ao direito. (p.12).

A questão que norteia a pesquisa de Agamben: O que significa agir politicamente?

Os problemas de se identificar definições para um estado de exceção ou uma teoria do estado


se concentram na estreita relação estabelecida entre guerra civil, insurreição e resistência. A
guerra civil, no limite, se localiza numa zona nebulosa de indecibilidade quanto ao estado de
exceção, que por sua vez, é estímulo resposta do poder estatal aos conflitos micropolíticos e
locais. Ou seja, legalização das guerras civis ou possibilidade de espaços de guerra justificada.

“O totalitarismo moderno pode ser definido, nesse sentido, como a instauração, por meio do
estado de exceção, de uma guerra civil legal que permite a eliminação física não só de
adversários políticos, mas também de categorias inteiras de cidadãos que, por qualquer razão,
pareçam não integráveis aos sistema político” (p.13) Não integráveis de que modo? Vidas
nuas?

“A criação voluntária de um estado de emergência permanente tornou-se uma das práticas


essenciais dos Estados contemporâneos, inclusive dos chamados democráticos” (p.13)

Deflagrada a guerra civil mundial o estado de exceção constitui-se enquanto um paradigma de


governo, ou em outras palavras, enquanto um tipo de racionalidade política. Há aqui,
conforme aponta Agamben e eu devo concordar, um deslocamento de uma medida provisória
e excepcional para uma técnica de governo que ameaça transformar a estrutura e o sentido da
distinção tradicional entre os diversos tipos de constituição. É o espaço de indeterminação
entre democracia e soberania (na concepção de Mbembe) que não cessa de fabricar
possibilidades de mundos de morte (necropolíticos).

O significado biopolítico imediato do estado de exceção como estrutura original em que o


direito inclui em si o vivente por meio de sua própria suspensão aparece na “military order”
da guerra contra o terror promulgada em 13 de novembro de 2001 pelo presidente George
Bush autorizando a criação de tribunais militares para a detenção, tratamento e julgamento de
certos não cidadãos na guerra contra o terrorismo. 

USA Patriot act. (26/10/2001)- manter preso o estrangeiro suspeito de atividades que ponham
em perigo “a segurança nacional dos EUA”. A novidade dos atos de Bush está em anular
radicalmente todo estatuto jurídico do indivíduo, produzindo, desse modo, um ser jurídico
inominável e inclassificável.

A figura do refugiado expressa muito bem essa indeterminação. O Refugiado é o nômade


inominável, que a um só tempo alvo do controle jurídico porque totalmente fora da lei. É onde
a vida nua atinge sua máxima indeterminação. (p.14-15) Lembrar do exemplo de Angela
Davis e Judith Butler acerca dos detainne de Guantánamo.

A incerteza do conceito corresponde exatamente a incerteza terminológica. O presente estudo


se servirá do sintagma “estado de exceção” como termo técnico para o conjunto coerente dos
fenômenos jurídicos que se propõe a definir.

Doutrina Alemã- Estado de necessidade- Ausnahmezustand- estado de exceção- Nostand-


estado de necessidade-

Doutrina italiana e francesa- Estranha ao estado de exceção- Prefere falar de decretos de


urgência e de estado de sítio. (político ou fictício)

Doutrina Anglo-Saxônia- Martial law e emergency power.

A escolha da terminologia ‘estado de exceção’ implica uma tomada de posição quanto à


natureza do fenômeno que se propõe a estudar à lógica mais adequada à sua compreensão. O
estado de exceção não é um direito especial (como direito da guerra), mas, enquanto
suspensão da própria ordem jurídica, define seu patamar ou seu conceito-limite. (p.15)

O estado de exceção moderno é uma criação da tradição democrático-revolucionária e não da


tradição absolutista. (p.16)
A ideia de uma suspensão da constituição é introduzida pela primeira vez na Constituição de
22 frimário [terceiro mês do calendário da primeira república francesa, de 21 de novembro a
20 de dezembro] do ano VIII. (p.16)

A ideia de plenitude dos poderes concentrados na figura do soberano, que caracteriza o estado
de exceção,

O pressuposto aqui é que o estado de exceção implica um retorno a um estado original


‘pleromatico’1 em que ainda não se deu a distinção entre os diversos poderes (legislativo,
executivo, etc) Constitui-se muito mais como um estado ‘kenomatico 2’, um vazio de direito, e
a ideia de uma indistinção e de uma plenitude originária do poder do estado de natureza. (...) a
expressão ‘plenos poderes’ define uma das possíveis modalidades de ação do poder executivo
durante o estado de exceção, mas não coincide com ele. (p.17).

A transformação dos regimes democráticos em consequência da progressiva expansão dos


poderes do executivo durante as duas guerras mundiais, mais geral, do estado de exceção que
as havia acompanhado. Agamben aponta que essa foi a clivagem fulcral para que os estados
de exceção tornassem regra. Ele não só se apresenta muito mais como uma técnica de
governo do que como uma medida excepcional, mas também deixa aparecer sua natureza de
paradigma constitutivo da ordem jurídica. (p.18)

A ideia de plenos poderes é compreendida como aqueles por meio dos quais se atribui ao
executivo um poder de regulamentação excepcionalmente amplo, em particular o poder de
modificar e de anular, por decretos, as leis em vigor. (Tingsten, 1934, p.13)

Um uso provisório e controlado dos plenos poderes seja teoricamente compatível com as
constituições democráticas, “um exercício sistemático e regular do instituto leva
necessariamente à liquidação da democracia”

1
Que significa plenitude, inteireza. Pretende a compreensão da amplitude ou totalidade da obra. Direito
canônico.
2
Que é preenchido pela decisão com força de lei, no tempo messiânico a lei é “cumprida”, esgotada, chega-se à
sua consumação a partir da justiça que a realiza – um pleroma, ao invés do espaço vazio da exceção
PAULA, Guilherme Tadeu de. Terrorismo: um conceito político.Curitiba: Editora CRV,
2015.

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