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Ética e Administração

Pública
Prof.ª Isabella Maria Nunes Ferreirinha

2012
Copyright © UNIASSELVI 2012

Elaboração:
Prof.ª Isabella Maria Nunes Ferreirinha

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

350
F383e Ferreirinha, Isabella Maria Nunes
Ética e administração pública / Isabella Maria Nunes Ferreirinha.
Indaial : Uniasselvi, 2012.
198 p. : il

ISBN 978-85-7830- 552-9

1. Administração pública.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
Apresentação
A vida vem nos apresentando situações em que as condutas morais
vêm se transformando constantemente. Mas em meio às transformações das
condutas morais, dos costumes, que a sociedade vem sofrendo, os valores
vão se transformando em outros e em outros mais.

A ética e a moral são os condutores para a sustentabilidade de uma


sociedade mais humana, mais justa, mais igualitária. É o bem comum que
subsidia as condições para as condutas morais, para a manutenção de valores
que coadunam com o interesse coletivo.

Não basta fazer, é preciso saber fazer! Esse é o princípio da UNIASSELVI,


em que o processo de aprendizagem torna-se uma constante, num eterno
movimento de aprender a aprender. A ética nos proporciona isso, um eterno
exercício de reflexão frente ao comportamento humano e suas ações.

Saber fazer requer, portanto, que as reflexões sejam fomentadas,


para que as nossas ações estejam pautadas num alicerce coeso de princípios,
conhecimento e criticidade. Criticidade voltada para anunciar, porque anunciar
denota movimento, um novo olhar, uma nova ação, um novo saber fazer.

Então, querido(a) acadêmico(a), espero que você aproveite esse Caderno


de Estudos, e que se torne um disseminador de condutas éticas e morais, para
que os setores de nossa sociedade se enriqueçam de profissionais capazes,
eficientes, conscientes, proativos e transformadores na geração do bem comum.

Bons estudos!

Prof.a Isabella Maria Nunes Ferreirinha

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À ÉTICA............................................................................................. 1

TÓPICO 1 - ÉTICA................................................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 CONCEITO DE ÉTICA......................................................................................................................... 4
3 O CAMPO DA ÉTICA.......................................................................................................................... 7
4 POLÍTICA E ÉTICA.............................................................................................................................. 8
5 CÓDIGO DE ÉTICA............................................................................................................................. 9
6 O VALOR DA ÉTICA............................................................................................................................ 14
7 ÉTICA E FILOSOFIA............................................................................................................................ 16
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 18

TÓPICO 2 - PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICAS............................................................................. 21


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 21
2 IDADE ANTIGA.................................................................................................................................... 21
3 IDADE MÉDIA...................................................................................................................................... 24
4 IDADE MODERNA.............................................................................................................................. 25
5 IDADE CONTEMPORÂNEA.............................................................................................................. 27
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 29
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 30

TÓPICO 3 - MORAL................................................................................................................................ 31
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 31
2 CONCEITO DE MORAL...................................................................................................................... 31
3 O CAMPO DA MORAL....................................................................................................................... 34
3.1 A PRÁTICA MORAL....................................................................................................................... 35
3.2 A MORAL E O COMPORTAMENTO HUMANO...................................................................... 36
3.3 A PRÁTICA MORAL EM NOSSA SOCIEDADE......................................................................... 38
4 MORAL, AMORAL E IMORAL......................................................................................................... 41
5 PROBLEMAS MORAIS E PROBLEMAS ÉTICOS......................................................................... 41
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 45
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 46

TÓPICO 4 - RELAÇÕES HUMANAS................................................................................................... 49


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 49
2 RELAÇÕES SOCIAIS........................................................................................................................... 49
2.1 URBANIDADE E CIVILIDADE..................................................................................................... 53
2.2 SOLIDARIEDADE............................................................................................................................ 54
3 RESPONSABILIDADE SOCIAL........................................................................................................ 56
3.1 GESTÃO PÚBLICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL......................................................... 59
4 DIREITOS............................................................................................................................................... 59
5 CIDADANIA.......................................................................................................................................... 61
5.1 CONCEITO DE CIDADANIA........................................................................................................ 61

VII
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 66
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 70
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 71

UNIDADE 2 - ÉTICA PROFISSIONAL............................................................................................... 73

TÓPICO 1 - PROFISSÃO E SUAS CONDUTAS................................................................................ 75


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 75
2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROFISSÃO................................................................................................. 75
2.1 VALOR SOCIAL DA PROFISSÃO................................................................................................. 75
2.2 RESPONSABILIDADE DA PROFISSÃO...................................................................................... 77
3 TOMADA DE DECISÃO E ÉTICA.................................................................................................... 78
3.1 RACIONALIDADE ÉTICA............................................................................................................. 80
3.2 ÉTICA DA CONVICÇÃO E ÉTICA DA RESPONSABILIDADE.............................................. 84
4 DEVERES PROFISSIONAIS............................................................................................................... 86
4.1 OS DILEMAS ÉTICOS..................................................................................................................... 86
4.2 ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E DA LEI..................................................................... 86
4.3 DISCRICIONARIEDADE E ÉTICA............................................................................................... 88
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 89
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 90

TÓPICO 2 - O ATO ADMINISTRATIVO ........................................................................................... 93


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 93
2 A LEI Nº 8.112/90.................................................................................................................................... 93
3 CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO..................................................................................... 99
3.1 COMPETÊNCIA DO ATO ADMINISTRATIVO........................................................................ 100
3.2 FINALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO............................................................................. 101
3.3 FORMA DO ATO ADMINISTRATIVO....................................................................................... 101
3.4 MOTIVO DO ATO ADMINISTRATIVO..................................................................................... 102
3.5 OBJETO DO ATO ADMINISTRATIVO....................................................................................... 102
4 DEVERES DO SERVIDOR PÚBLICO............................................................................................. 103
RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................................................................... 104
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 106

TÓPICO 3 - AS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS................................................................................ 107


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 107
2 OS DIFERENTES TIPOS DE ORGANIZAÇÕES......................................................................... 107
3 ÉTICA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO............................................................................. 108
3.1 GESTÃO E LIDERANÇA.............................................................................................................. 108
4 DIFERENTES TIPOS DE INTERESSES.......................................................................................... 110
4.1 O BEM COMUM............................................................................................................................. 110
4.2 O INTERESSE INDIVIDUAL........................................................................................................ 111
4.3 O INTERESSE COLETIVO............................................................................................................ 111
4.4 O INTERESSE PÚBLICO............................................................................................................... 112
4.5 O INTERESSE PROFISSIONAL.................................................................................................... 112
5 TENSÕES ÉTICAS NA ORGANIZAÇÃO..................................................................................... 113
5.1 VALORES NAS ORGANIZAÇÕES............................................................................................. 113
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 115
RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................................................................... 119
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 120

VIII
UNIDADE 3 - GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA.................................................................................... 121

TÓPICO 1 - PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..................................................... 123


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 123
2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988......................................................................................... 124
3 OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PREVISTOS NA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988............................................................................................. 124
3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.................................................................................................... 125
3.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE.......................................................................................... 126
3.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE.................................................................................................. 126
3.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE................................................................................................... 127
3.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA....................................................................................................... 127
4 OUTROS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA...................................................... 128
RESUMO DO TÓPICO 1 ..................................................................................................................... 130
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 131

TÓPICO 2 - ÉTICA E QUALIDADE EM GESTÃO PÚBLICA...................................................... 135


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 135
2 CONCEITO DE QUALIDADE.......................................................................................................... 135
3 PROGRAMAS DE QUALIDADE E PARTICIPAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA – CADERNO MARE......................................................................................................... 137
3.1 A QUALIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA................................................................ 138
3.2 QUALIDADE E PARTICIPAÇÃO................................................................................................ 140
4 COMISSÃO DE ÉTICA PÚBLICA................................................................................................... 142
4.1 MISSÃO............................................................................................................................................ 144
4.2 GESTÃO DE ÉTICA - ENTIDADE - COMPETÊNCIAS/ATRIBUIÇÕES............................... 144
RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................................................................... 148
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 149

TÓPICO 3 - O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO.................................................. 151


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 151
2 DEVER DO SERVIDOR PÚBLICO.................................................................................................. 151
3 QUALIDADES DO SERVIDOR PÚBLICO.................................................................................... 153
3.1 INICIATIVA..................................................................................................................................... 153
3.2 HONESTIDADE.............................................................................................................................. 154
3.3 RESPONSABILIDADE................................................................................................................... 155
3.4 SIGILO.............................................................................................................................................. 156
3.5 COMPETÊNCIA............................................................................................................................. 157
4 FRAGILIDADES DO SERVIDOR PÚBLICO................................................................................ 158
4.1 OPORTUNISMO............................................................................................................................. 158
4.2 ORGULHO...................................................................................................................................... 159
5 ASSÉDIO MORAL.............................................................................................................................. 159
5.1 OBJETIVOS E ESTRATÉGIA DO AGRESSOR NO ASSÉDIO MORAL.................................. 163
5.2 EXEMPLOS DE ASSÉDIO MORAL............................................................................................. 163
5.3 PROCEDIMENTOS AO ASSÉDIO MORAL............................................................................... 164
6 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES........................................ 165
7 MODELOS DE HOMEM................................................................................................................... 166
7.1 HOMEM OPERACIONAL............................................................................................................ 167
7.2 HOMEM REATIVO........................................................................................................................ 167
7.3 HOMEM PARENTÉTICO.............................................................................................................. 168
7.4 HIERARQUIA DE NECESSIDADES........................................................................................... 168

IX
8 ÉTICA E JUSTIÇA............................................................................................................................... 170
9 ÉTICA E A MELHORIA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS................................................................ 172
10 CÓDIGO DE ÉTICA DA ADMINISTRAÇÃO............................................................................ 175
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 178
RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................................................................... 188
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 189

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 193

X
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO À ÉTICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• compreender o conceito de ética e o conceito de moral;

• identificar a aplicabilidade dos conceitos de ética e moral na administração


pública;

• verificar as transformações das condutas morais ao longo dos anos;

• identificar as relações humanas e suas interações;

• perceber o papel do Estado diante das relações humanas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e, no final de cada um deles,
você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado.

TÓPICO 1 – ÉTICA

TÓPICO 2 – PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICAS

TÓPICO 3 – MORAL

TÓPICO 4 – RELAÇÕES HUMANAS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ÉTICA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico iniciaremos nosso aprendizado compreendendo os conceitos
de ética e moral e a sua verdadeira contribuição na prática da administração
pública. Você verá o quanto o campo da ética e da moral é vasto e a sua importância
para as ações administrativas.

Para iniciarmos a disciplina de Ética e Administração Pública, é importante


destacarmos os liminares da disciplina. Quando se fala em ética, existe uma
tendência natural de associarmos ao campo da filosofia, e é claro que não poderia
ser diferente, pois o alicerce e o desenvolvimento da ética têm seus primórdios
nos campos filosóficos.

Ao longo da história da humanidade, várias têm sido as áreas que


fomentam reflexões acerca da ética, até porque a humanidade necessita de
acordos para que a sua interação e convivência se tornem sustentáveis.

Quando falamos em administração pública, a ética torna-se parte implícita


aos atos administrativos. Mesmo que não tenhamos um aprofundamento
filosófico, ainda assim, as diretrizes éticas são as premissas que permeiam o
campo da administração pública.

3
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

FIGURA 1 – ÉTICA

FONTE: Disponível em: <http://www.coladaweb.com/filosofia/moral-e-etica-dois-conceitos-de-


uma-mesma-realidade>. Acesso em: 20 jan. 2012.

2 CONCEITO DE ÉTICA
Ao falarmos em ética, a princípio, pode nos parecer um assunto meramente
conceitual, em que as práticas encontram-se distanciadas do nosso dia a dia, mas,
na verdade, ao estudarmos a ética poderemos observar que a mesma se encontra
em todo momento implícita nas ações humanas.

É nas ações cotidianas, sejam no nosso trabalho, na nossa família, no


nosso lazer, enfim, em todo e qualquer lugar em que haja interações humanas,
que podemos observar atitudes éticas ou não.

Uma boa percepção de ética vem de Solomon (2006, p. 12), segundo o


qual “estudar ética não é escolher entre o bem e o mal, mas é se sentir confortável
diante da complexidade moral”. E ainda acrescentaria: diante da complexidade
moral e humana. Nesse sentido, estudar, refletir e entender ética, a sua mais-
valia, se faz ao pensarmos no contexto da nossa sociedade, nas atitudes humanas.

4
TÓPICO 1 | ÉTICA

Como se já não bastasse entender o que é ética, ainda temos que saber
a diferença entre ética e moral, porque a interface entre uma e outra está
permanentemente articulada. Você sabe a diferença entre ética e moral?

Diversas questões éticas e morais são facilmente confundidas, como coloca


Valls (1994, p. 7): “A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas
que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta”.

Vejamos então algumas definições sobre ética dentre as referências


bibliográficas pesquisadas para nos auxiliar na formação do conceito de ética:

Tradicionalmente, ela é entendida como um estudo ou uma reflexão,


científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes
ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria
vida, quando conforme aos costumes, e pode ser a própria realização
de um tipo de comportamento. (VALLS, 1994, p. 7).

“A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em


sociedade, ou seja, é a ciência de uma forma específica de comportamento humano.”
(VÁZQUEZ, 2003, p. 23).

Ética é a ciência da conduta humana, segundo o bem e o mal, com


vistas à felicidade. É a ciência que estuda a vida do ser humano, sob o
ponto de vista da qualidade da sua conduta. Disto precisamente trata
a Ética, da boa e da má conduta e da correlação entre boa conduta e
felicidade, na interioridade do ser humano. A Ética não é uma ciência
teórica ou especulativa, mas uma ciência prática, no sentido de que
se preocupa com a ação, com o ato humano. (ALONSO, LÓPEZ e
CASTRUCCI, 2010, p. 3).

A Ética é um saber científico que se enquadra no campo das Ciências


Sociais. É uma disciplina teórica, um sistema conceitual, um corpo de
conhecimentos que se torna inteligível aos fatos morais. Mas o que
são fatos morais? São os fatos sociais que dizem respeito ao bem e ao
mal, juízos sobre as condutas dos agentes, convenções históricas sobre
o que é certo e errado, justo e injusto, o que é certo ou errado? Toda
coletividade formula e adota os padrões morais que mais lhe convém.
(SROUR, 2003, p. 7 e 8).

Ética é derivada do grego ethos, que significa costume, hábitos e valores


de determinada coletividade. A palavra moral deriva do latim mos – ou mores no
plural – que também significa costume ou as normas adquiridas como hábito.
Segundo o Dicionário (1989, p. 323), ética é:“1) Estudo dos juízos de apreciação
que se referem à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal; 2) Conjunto
de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano”.

Portanto, do ponto de vista etimológico, ética e moral significam a mesma


coisa, contudo há o limiar tênue entre uma e outra. E isso você poderá observar à
medida que vamos nos aprofundando no assunto.

5
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

“A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana


ou forma de comportamento dos homens, ou da moral, considerado, porém, na sua
totalidade, diversidade e variedade”. (VÁZQUEZ, 2003, p. 21). A moral é o estudo
dos costumes de uma determinada sociedade numa determinada época e lugar.

E
IMPORTANT

Como destaca Srour (2003, p. 7), “A ética é perene, a moral pertence ao tempo”.

O que Srour (2003) quer observar é que a ética será sempre o estudo dos
valores morais, e esses se relativizam conforme a história da humanidade, haja visto
alguns exemplos que hoje consideramos chocantes, mas que em algum momento
da história e em algum lugar eram (e muitos ainda são) práticas morais aceitáveis:

a) infanticídio: no Império Romano e na China contemporânea como exigência


oficial do filho único;

b) poligamia: difundida entre os povos antigos e ainda praticada em alguns países


mulçumanos;

c) excisão feminina ou circuncisão feminina: ainda é uma prática de países da


África e Ásia.

Vários outros exemplos de práticas da coletividade mundial poderiam se


perfilar aqui. E chegaríamos à conclusão de que as condutas morais, independente
de serem aceitáveis ou não do nosso ponto de vista, são práticas de uma sociedade.

NOTA

Infanticídio significa assassínio de recém-nascido ou de criança; o ato de matar o


próprio filho, sob a influência do estado puerperal, durante o parto ou logo depois. O infanticídio
feminino é prática que ainda acontece na China, em função da política do único filho.
FONTE: Ferreira (2001, p. 417)

6
TÓPICO 1 | ÉTICA

NOTA

Excisão feminina ou circuncisão feminina é a mutilação genital feminina, prática


realizada em meninas adolescentes para que não tenham prazer no ato sexual.

3 O CAMPO DA ÉTICA
Embora a ética seja um assunto basicamente filosófico, seu campo de atuação
e reflexão pode ser estendido por todas as áreas. A ética também se divide em
vários campos do saber: teologia, filosofia, psicologia, direito, economia e outros.

A ética como disciplina teórica busca explicar e indicar o melhor


comportamento do ponto de vista moral, mas como toda teoria que não se distancia
da prática, porque é a prática do comportamento humano que a sustenta e tem
como função fundamental “explicar, esclarecer ou investigar uma determinada
realidade, elaborando os conceitos correspondentes”. (VÁZQUEZ, 2003. p. 20).

Os problemas teóricos da ética podem ser divididos em dois campos:

1) os problemas gerais e fundamentais - liberdade, consciência, bem, valor, lei


e outros;

2) os problemas específicos - aplicação concreta, ou seja, ética profissional, ética


política, entre outros.

FONTE: Adaptado de: Valls (1994, p. 8)

Srour (2011) aborda sobre as acepções e confusões que a ética provoca.


Ele considera que existam três tipos de acepções que podem causar confusões,
porque ampliam demais as concepções da ética:

1- A ética é descritiva – que corresponde a juízo de valor, ou seja, quem tem boa
conduta pode ser considerado como uma pessoa ética, ou seja, uma pessoa
virtuosa e íntegra. Enquanto quem não condiz com as expectativas sociais pode
ser considerado ‘sem ética’. Nesse sentido, Srour (2011) considera que a ética
assume uma ideia simplista reduzida a um valor social, ou apenas um adjetivo.

7
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

2- A ética é prescritiva – a ética como “sistema de normas morais ou a um código


de deveres” (SOUR, 2011, p. 19), ou seja, os padrões morais que deveriam
conduzir categorias sociais ou organizações passam a se chamar de código
de ética; nesse sentido de prescrição a ética e moral tornam-se sinônimo
indistinguível.

3- A ética é reflexiva – que corresponde à teoria de um estudo sistemático


como objeto de investigação que, ao transitar por diferentes áreas, pode ser
considerada como:

• Ética filosófica – que reflete sobre a melhor maneira de viver (ideais morais).

• Ética científica – que estuda, observa, descreve e explica os fatos morais (a


moralidade como fenômeno).

ATENCAO

A Ética filosófica quer refletir sobre a maneira de viver.

A Ética científica quer observar e descrever a maneira de viver.

Visto tudo isso, você pode estar pensando: então estudar ética é muito
complicado? Claro que não, a ética dá a oportunidade para refletir a maneira de
viver e entender os costumes do nosso tempo.

A ética pode ajudar na prática da administração pública. A administração


pública, imbuída de servir aos seus cidadãos e de produzir práticas morais
exemplares, deve fazer uso do corpo teórico e do conhecimento da ética dentro
dos padrões morais ou normas convencionadas.

4 POLÍTICA E ÉTICA
De acordo com Aristóteles (1989, p. 30), “a política é um desdobramento
natural da ética”. A ética preocupa-se com a felicidade do homem, que é a
doutrina moral individual. Enquanto que a política preocupa-se com a felicidade
da cidade, que é a doutrina moral social.

8
TÓPICO 1 | ÉTICA

ATENCAO

ÉTICA – preocupa-se com a felicidade individual do homem, e a doutrina moral


individual.

POLÍTICA – preocupa-se com a felicidade coletiva da cidade (polis), e doutrina moral social.

Portanto, é a soma dessa felicidade individual e coletiva que nos interessa e


que podemos chamar de bem comum, assim como aponta Aristóteles (1989, p. 12):

Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda


comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações
de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um
bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a
mais importante de todas elas, e que inclui todas as outras, tem mais
que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela
se chama cidade e é a comunidade política.

Hoje, quando se fala em política, logo vem à mente a ideia do Estado,


dos políticos, das questões eleitorais, partidos políticos etc. De acordo com o
Dicionário da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2001, p. 579), verificam-se cinco
explicações para a palavra política:

1 Conjunto de fenômenos e das práticas relativos ao Estado ou a uma


sociedade.
2 Arte e ciência de bem governar, de cuidar dos negócios públicos.
3 Qualquer modalidade de exercício de política.
4 Habilidade no trato das relações humanas.
5 Modo acertado de conduzir uma negociação, estratégia.

Então, do ponto de vista dos sinônimos apresentados, a política abrange


uma gama enorme de competências, mas se preferirmos o modo simplório de
Aristóteles, que é cuidar de todos, cuidar do bem comum, parece resumir a
verdadeira preocupação das reflexões éticas.

5 CÓDIGO DE ÉTICA
Código de ética é um instrumento muito utilizado nas organizações, a fim
de estabelecer os limites de atuação de seus funcionários, seja numa organização
pública ou privada. É esse instrumento, a ética prescritiva caracterizada por Srour
(2011), que pode contribuir na confusão entre ética e moral. Segundo a maioria dos
autores, o termo correto para o código que estabelece a conduta dos profissionais
deveria se chamar Código de Moral e não Código de Ética, como é costume usar.

9
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

E
IMPORTANT

Códigos de ética deveriam se chamar códigos morais.

A maioria das empresas privadas, conselhos federais, entre outras


organizações, faz uso de um código de ética, como instrumento que visa colocar
para toda a organização e também seu público quais são os princípios, valores e
missão da empresa ou organização. Os códigos de ética, na verdade, deveriam
buscar a inspiração em Rousseau (2006), que escreveu sobre o contrato social,
que estabelece um acordo para que os indivíduos possam criar uma sociedade e
viver em harmonia, mas no sentido da associação e não da submissão; ou ainda
melhor, de acordo com Camargo (apud SÁ, 2009, p. 34):

Quando a consciência profissional se estrutura em um trígono, formado


pelos amores à profissão, à classe e à sociedade, nada existe a temer
quanto ao sucesso da conduta humana; o dever passa então a ser uma
simples decorrência das convicções plantadas nas áreas recônditas do
ser, ali depositadas pelas formações educacionais básicas.

Deontologia vem do grego deon, que significa dever, obrigação; logia vem
de logos, que significa ciência, então seria a ciência do dever ou obrigação.

Consiste no conjunto de regras e princípios que regem a conduta de um


profissional, uma ciência que estuda os deveres de uma determinada profissão.

FONTE: Disponível em: <http://www.garraconcursos.com.br/videoblog/wp-content/uploads/201


1/04/%C3%89tica.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2012.

Conforme explica Ávila (1967, p. 145), deontologia “é a ciência que


estabelece normas diretoras da atividade profissional sob o signo da retidão moral
ou da honestidade; busca o bem a fazer e o mal a evitar no exercício da profissão”.

10
TÓPICO 1 | ÉTICA

NOTA

Deontologia é um termo criado por Jeremy Bentham (1748-1832) para designar


uma ciência do “conveniente”, ou seja, uma moral fundada na tendência a perseguir o prazer
e fugir da dor que, portanto, não lance mão de apelo à consciência, ao dever, etc. “A tarefa
do deontólogo”, segundo Bentham, é ensinar ao homem como dirigir suas emoções de tal
modo que as subordine, na medida do possível, a seu próprio bem-estar.
FONTE: Abbagnano (2007, p. 280)

Embora a deontologia esteja estabelecida em vários dos códigos de ética


profissionais, é uma diretriz que não só diz respeito ao comportamento técnico
profissional, mas, principalmente, à conduta pessoal. Nesse sentido, o diagrama
representa o cumprimento de regras deontológicas, no que diz respeito à
administração pública, quanto às duas esferas humanas: pessoal e profissional.

FIGURA 2 – VISÃO PRÁTICA DA DEONTOLOGIA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
E A SOCIEDADE

O SER HUMANO
O SER HUMANO CÓDIGO DE ÉTICA
ESFERA
ESFERA PESSOAL PROFISSIONAL
PROFISSIONAL

FONTE: Adaptado de: Guariglia; Vidiella (2011, p. 97)

O Governo Federal, em junho de 1994, aprovou seu Código de Ética


Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, denominado
Decreto no 1.171 (BRASIL, 1994). Em seu capítulo I, Seção I, a lei estabelece as regras
deontológicas, distribuídas em 13 itens, que vamos analisar resumidamente:

11
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

TUROS
ESTUDOS FU

O Decreto no 1.171, de 1994, será abordado também na Unidade 2, Tópico 2.

ATENCAO

O texto da lei que segue está resumido. Para compreender a lei é importante
estudá-la em seu texto original. Para tanto, acesse o site: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/d1171.htm>. Nele, você encontra o Decreto na íntegra.

I - A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios


morais são os norteadores dos servidores públicos.

II - O servidor não terá que decidir entre o legal e o ilegal, o justo ou injusto,
mas entre o honesto e o desonesto, como elemento ético de sua conduta.

III - A moralidade da administração pública é ter o fim no bem comum.

IV - A remuneração do servidor público é paga pelos tributos pagos direta


ou indiretamente por todos, e até por ele próprio, por isso que se exige
a contrapartida.

V - O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade


deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar.

VI - A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, se


integra na vida particular de cada servidor público.

VII - A publicidade de qualquer ato administrativo constitui requisito de


eficácia e moralidade, salvo em casos de segurança nacional, investigação
policial ou de interesse superior do Estado e da administração pública.

VIII - Toda pessoa tem direito à verdade.

IX - A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço


público caracterizam esforço pela disciplina, não tratar bem a uma pessoa
que paga seus tributos direta ou indiretamente e causar-lhe dano moral.
Da mesma forma, deve-se preservar o patrimônio público.

12
TÓPICO 1 | ÉTICA

X - É ato de grave dano moral deixar qualquer pessoa à espera de solução na


prestação de serviços por parte do serviço público.

XI - O servidor deve prestar atenção às ordens superiores e estar atento ao seu


cumprimento, a fim de não configurar negligência.

XII - A ausência do servidor do local de trabalho é fator de desmoralização do


serviço público e isso implica desordem nas relações humanas.

XIII - O trabalho em harmonia do servidor público com suas funções e com


a estrutura organizacional, em respeito aos seus colegas e concidadãos,
contribui para o crescimento e engrandecimento da nação.

FONTE: Adaptado de: Brasil (1994)

Na Seção III, o Decreto no 1.171/94 dá as providências quanto às Vedações


ao Servidor Público, em 15 itens, aqui apresentados em síntese:

a) obter favorecimento no uso do cargo e função para si ou outrem;

b) prejudicar a reputação de outrem;

c) ser solidário a qualquer infração ao Código de Ética de sua profissão;

d) dificultar o direito de qualquer pessoa;

e) deixar de utilizar avanços técnicos e científicos;

f) permitir que interesses de ordem pessoal (simpatia, antipatias, paixões, etc.)


interfiram no trato com público e/ou colegas;

g) receber qualquer ajuda financeira, doação ou vantagem no cumprimento de


sua missão;

h) alterar ou deturpar o teor de documentos que deva encaminhar para


providências;

i) iludir ou tentar iludir qualquer pessoa que necessite de atendimento em


serviços públicos;

j) desviar qualquer servidor para atendimento de interesse particular;

k) retirar qualquer documento da repartição pública sem estar legalmente


autorizado;

13
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

l) fazer uso de informações privilegiadas;

m)apresentar-se embriagado no serviço ou fora dele habitualmente;

n) dar afluência a qualquer instituição que atente contra a moral, honestidade


ou a dignidade da pessoa humana;

o) exercer atividade profissional sem ética ou ligar seu nome a empreendimentos


de cunho duvidoso.

FONTE: Adaptado de: Brasil (1994)

E o Capítulo II, último do Decreto no 1.171/94, vem dispor dos


procedimentos para se compor as comissões de ética nas “entidades da
administração pública federal direta, indireta, autárquica e fundacional, ou
em qualquer órgão ou entidade que exerça atribuições delegadas pelo poder
público”. (BRASIL, 1994).

ATENCAO

Para quem pretende ingressar na carreira pública através de processo seletivo, o


Decreto no 1.171/94 é tema de prova na maioria dos concursos públicos federais.

6 O VALOR DA ÉTICA
Qual seria mesmo o valor da ética para a administração pública? A ética é
o discernimento de que embora existam práticas que poderiam ser consideradas
‘morais’, por se tratarem de recorrentes na sociedade, ainda assim são práticas
que não se suportam do ponto de vista ético. A corrupção, por exemplo, tem sido
ato recorrente no cenário político nacional e nem por isso tornou-se moralmente
e eticamente aceitável.

Então podemos dizer que tudo que é legal é moral? Ou se é moral é legal?
Falamos anteriormente sobre as práticas que com o passar do tempo tornavam-se
costumes e hábitos. Mas não quer dizer que práticas como a corrupção passarão a
ser aceitas, pela sua recorrência ou porque a sociedade já se acostumou.

Práticas que prejudicam a maioria, que não preservam o bem comum, que não
beneficiam a sociedade, que não preservam a felicidade apontam ao valor da ética,
porque é através da ética que é possível fundamentar a moralidade e a legalidade.

14
TÓPICO 1 | ÉTICA

Então é por isso que a ética tem enorme valor para a administração
pública, porque seu papel é fazer reflexões acerca do comportamento humano e
a preservação do bem comum e da felicidade da ‘cidade’.

ATENCAO

Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal.

As questões de legalidade, ilegalidade, moralidade e imoralidade,


apresentadas por Srour (2003), são muito importantes para que se possa observar
na prática o que há de legal e moral nas ações do nosso cotidiano.

Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal. Vejamos
algumas situações apresentadas por Srour (2003, p. 59), de acordo com o
quadro que segue:

QUADRO 1 – LEGALIDADE E MORALIDADE

Quanto à legalidade? Quanto à moral? Exemplo:


Treinamento de funcionários patrocinado por
LEGAL MORAL
uma empresa.
Falta de correção da tabela do Imposto de Renda
LEGAL IMORAL por longos anos, sob a alegação de que fazê-lo seria
introduzir o instituto de correção monetária.
Desrespeito aos sinais vermelhos de madrugada
ILEGAL MORAL
nas grandes cidades pelo receio de assaltos.
ILEGAL IMORAL As fraudes em licitações públicas.

FONTE: Adaptado de: Srour (2003, p. 59)

Estudar ética, falar de ética, refletir sobre a ética é, portanto, entender toda
a dimensão da sociedade, da humanidade. A ética, por si só, não vai elaborar um
manual de condutas, nem tampouco elencar um rol de atitudes certas e erradas.

15
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

7 ÉTICA E FILOSOFIA
A ética tornou-se um campo vasto nas diversas áreas científicas. Na área
médica, por exemplo, existe uma grande preocupação quanto ao que é ético ou
não nas pesquisas de campo, por se tratarem de pesquisas que lidam com o ser
humano. Existe um código de moral, na verdade chamado de código de ética, que
limita e/ou exige que a integridade do ser humano seja respeitada.

Apesar de hoje a ética ser uma disciplina adotada em quase a totalidade de


áreas existentes, seja nas ciências exatas, humanas, biomédicas, sociais, entre outras,
ainda assim, para que se possa entender a complexidade de seu dinamismo e, por
que não, a simplicidade de sua reflexão, não se pode fugir da sua origem filosófica.

A filosofia é o arcabouço para os desdobramentos da ética, por isso


que existem algumas correntes que argumentam contra o caráter científico e
independente da ética. A respeito disso, Vázquez (2003, p. 25) observa:

Mas, já como assinalamos, isso se aplica a um tipo determinado de


ética – a normativa –, que se atribui a função fundamental de fazer
recomendações e formular uma série de normas e prescrições morais;
mas esta objeção não atinge a teoria ética, que pretende explicar a
natureza, fundamentos e condições da moral, relacionando-a com as
necessidades sociais do homem.

Nesse sentido, a apropriação da ética, seja no sentido filosófico ou científico,


busca na fonte filosófica a doutrina para melhor entender a ética, seja em qual
área for. No intuito de perpassar pela raiz filosófica, veremos sinteticamente a
trajetória filosófica da ética, no próximo tópico.

16
RESUMO DO TÓPICO 1
Nesse tópico você pôde observar:

● Os principais conceitos de ética.

● Os campos em que a ética se aplica.

● Os códigos de moral, comumente chamados de código de ética, e sua


aplicabilidade na vida profissional.

● O que são regras deontológicas.

● O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo


Federal.

● Legalidade e moralidade.

● A importância da ética e a filosofia.

17
AUTOATIVIDADE

1 Baseado na leitura sobre ética e nos conceitos apresentados, como você, com
suas palavras, conceituaria ética?

2 Apresente a definição de Código de Ética. Qual o contexto de sua realização?


Qual o seu objetivo?

3 Qual a função do código de ética da administração pública – Decreto no 1.171/94?

4 Apresente o modo (onde e como) como o Código de Ética estabelece cada


um dos valores norteadores da administração pública com princípios
fundamentais da administração.

Caro(a) acadêmico(a)! Vários concursos públicos em que se exigem


conhecimentos de ética e administração pública, ou Direito Administrativo,
têm como conteúdo o Decreto no 1.171/94. Teste o seu conhecimento com
algumas das questões:

5 (Fundação Carlos Chagas (FCC) – Empresa Brasileira de Infraestrutura


Aeroportuária – INFRAERO – 2011 – Analista Superior III – Desenvolvimento
e Manutenção).

João, servidor público civil do Poder Executivo Federal, retirou da repartição


pública, sem estar legalmente autorizado, documento pertencente ao patrimônio
público. Já Maria, também servidora pública civil do Poder Executivo Federal,
deixou de utilizar avanços técnicos e científicos do seu conhecimento para
atendimento do seu mister. Sobre os fatos narrados, é correto afirmar que:

a) ( ) Nenhuma das condutas narradas constitui vedação prevista no Código de


Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal.

b) ( ) Apenas João cometeu conduta vedada pelo Código de Ética Profissional


do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal.

c) ( ) Apenas Maria cometeu conduta vedada pelo Código de Ética


Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal.

d) ( ) Ambos praticaram condutas vedadas pelo Código de Ética Profissional


do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal.

e) ( ) João e Maria não estão sujeitos a Código de Ética; portanto, suas


condutas, ainda que eventualmente irregulares, deverão ser apreciadas
na seara própria.

FONTE: Disponível em: <http://www.questoesdeconcursos.com.br/imprimir?og=1&ss=460&


di=2&md=>. Acesso em: 26 mar. 2012.

18
6 (Fundação Carlos Chagas (FCC) – Tribunal Regional Eleitoral - TRE/TO –
2011 – Analista Judiciário).

Em face do Código de Ética do Servidor Público Federal, considere as seguintes


afirmações:

I - A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto,


se integra na vida de cada servidor público. Entretanto, os fatos e atos
verificados na conduta do dia a dia em sua vida privada não poderão
acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional.
II - A ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho não é fator de
desmoralização do serviço público.
III - Ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum temor de representar contra
qualquer comprometimento indevido da estrutura em que se funda o
Poder Estatal, é dever fundamental do servidor público.
IV - O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua
conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo
e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno,
mas principalmente entre o honesto e o desonesto.
V - Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse
superior do Estado e da administração pública, a serem preservados em
processo previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade
de qualquer ato administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade,
ensejando sua omissão comprometimento ético contra o bem comum,
imputável a quem a negar.

Está correto o que se afirma apenas em:

a) ( ) I, II e IV.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II, III e V.
d) ( ) II e IV.
e) ( ) III, IV e V.

FONTE: Disponível em: <http://www.concursocec.com.br/_files/cursos/arquivos/provas/49c


0f31e67ef548ecab93fec9eaf5404.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2012.

7 (MTE – 2003)
No âmbito das regras deontológicas do Código de Ética do Servidor Público
Civil do Poder Executivo Federal, assinale a afirmativa falsa.

a) Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é fator de


desmoralização do serviço público, o que quase sempre conduz à desordem
nas relações humanas.
b) O servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de seus
superiores, velando atentamente por seu cumprimento e, assim, evitando a
conduta negligente.

19
c) A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço público
caracterizam o esforço pela disciplina.
d) O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor público,
é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo.
e) A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, não se
integra na vida particular de cada servidor público.

FONTE: Disponível em: <http://www.garraconcursos.com.br/videoblog/wp-content/uploads/


2011/04/%C3%89tica.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2012.

8 (Centro de Seleção e Promoção de Eventos (CESPE) - 2011 – Fundação


Universidade de Brasília (FUB) - Analista de Tecnologia da Informação).
Em cada um dos itens a seguir é apresentada uma situação hipotética
seguida de uma assertiva a ser julgada com relação à conduta dos agentes
em conformidade com o que dispõe o Código de Ética do Servidor Público.

a) Um servidor público vem sendo pressionado por seu chefe a, deliberadamente,


procrastinar a entrega de um relatório a fim de favorecer os interesses de
terceiro. Nessa situação, o servidor agiria de acordo com o que prevê o referido
código de ética se resistisse às pressões e denunciasse o chefe.

( ) certo ( ) errado

b) João, servidor público, é muito religioso e não consegue admitir que Paulo,
seu colega de setor, seja ateu. Sempre que Paulo está presente, João perde a
paciência ao realizar seus afazeres, permitindo que sua antipatia pelo colega
interfira no trato com o público. Nesse caso, João deve ser advertido em razão
de sua conduta, vedada aos servidores públicos.

( ) certo ( ) errado

c) Marcos exerce cargo de chefia em determinado órgão público. Ao


recepcionar os servidores recém-empossados, exorta-os a cumprir fielmente
seus compromissos éticos com o serviço público, afirmando que a atividade
pública é a grande oportunidade para o crescimento e o engrandecimento
da nação. Nessa situação, Marcos descumpre o código de ética, de acordo
com o qual o servidor deve evitar comentários exagerados e ufanistas.

( ) certo ( ) errado

FONTE: Disponível em: <http://www.questoesdeconcursos.com.br/imprimir?og=2&ss=1310&


di=25&md=>. Acesso em: 26 mar. 2012.

20
UNIDADE 1
TÓPICO 2

PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICAS

1 INTRODUÇÃO
O conceito de ética foi apresentado no tópico anterior, bem como foi feita
uma introdução sobre ética e filosofia. Dada a grande contribuição e importância
da corrente filosófica ao mundo da ética e da moral, esse tópico pretende
apresentar as principais doutrinas éticas de acordo com o seu tempo.

2 IDADE ANTIGA
A Idade Antiga é representada pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles,
e é nessa época que a ética adquire extremo valor. Esses filósofos se preocupavam
com o ser no mundo físico, voltados aos problemas sociais e morais. Embora não
haja propriamente coesão no pensamento e doutrina dos três, ainda assim suas
ideias tornam-se próximas no sentido da reflexão acerca do homem e da cidade.

O estudo da Ética pode-se dizer que teve início com os filósofos Sócrates,
Platão e Aristóteles. O livro Ética a Nicômaco é uma obra de referência, em que a
ética vai determinar que a finalidade suprema é a felicidade (eudaimonia).

NOTA

Eudaimonia – quer dizer felicidade para a filosofia. “Em geral, estado de satisfação
de alguém com sua situação no mundo”.
FONTE: Abbagnano (2007, p. 455-505)

Nessa época, a questão da ética era o bem supremo da vida humana e, de


acordo com Passos (2004, p. 32), “não devia consistir em ter a sorte ou ser rico, por
exemplo, e sim em proceder e ter uma alma boa”.

Para Socrátes, a questão ética era o que bastava o homem saber, ter bondade
para ser bom. O conhecimento, para Sócrates, era uma virtude, porque pensava
que com o conhecimento o homem conseguia ser bom e ter a felicidade. Por esse
motivo é que há um entrelaçamento entre bondade, conhecimento e felicidade.
21
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

Para Platão, o conceito de cidade (polis) perfeita estava baseado em valores


éticos e morais. Platão aborda que os conceitos da mente humana não são reais,
mas sim imagens reflexas. Diferente de Socrátes, Platão considerava que a moral é a
arte de preparar o indivíduo para a felicidade que não se encontra na vida terrena.

Em Aristóteles a felicidade, finalidade suprema da ética, só pode


ser alcançada se o homem fosse capaz de moderar suas paixões. Aristóteles
preocupou-se com a forma como as pessoas viviam na sociedade e contribuiu
muito para o entendimento da ética e a busca da felicidade individual e coletiva.
De acordo com Passos (2004, p. 34), Aristóteles propunha:

Sua ética era finalista, no sentido de visar um fim, no caso, que o ser
humano pudesse alcançar a felicidade. Entendia a moral como um
conjunto de qualidades que definia a forma de viver e de conviver das
pessoas, uma espécie de segunda natureza que guiaria o homem para
a felicidade, considerada a aspiração da vida humana.

Sócrates foi considerado um marco da filosofia, de modo que todos os


filósofos que antecederam a época dos filósofos citados são conhecidos por pré-
socráticos. Os pré-socráticos também eram conhecidos como naturalistas, ou
filósofos da natureza. Esses filósofos preocupavam-se mais em entender as coisas,
em dar explicação para a natureza e para o mundo.

NOTA

Sócrates (469-399 a. C.) – é responsável pelo método da indagação, o que se


restringe ao homem, sem interesse na natureza. “Identificação entre ciência e virtude, no
sentido de que só é possível ensinar e aprender a virtude, e não é possível praticar o bem sem
conhecê-lo”. (ABBAGNANO, 2007, p. 1085).

Platão (427 – 347 a. C.) – responsável pela doutrina das ideias, sabedoria e dialética.
(ABBAGNANO, 2007, p. 892).

Aristóteles (394 – 322 a. C.) – responsável pelo conceito da metafísica, da lógica, inspirou
várias outras tendências do mundo medieval e moderno.
FONTE: Abbagnano (2007, p. 90)

A ideia da polis (cidade) para a administração pública é muito importante,


porque é referência na organização social da sociedade em prol do bem comum.
É que os homens se reuniam e decidiam o melhor para todos, assim como aborda
Passos (2004, p.32):

22
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICAS

O surgimento da polis fez com que o centro da cidade passasse a ser a


praça pública, o ágora. Nela aconteciam as discussões e era permitida
a participação de todos os cidadãos, quais sejam: os homens adultos,
excetuando-se os escravos e os estrangeiros. Nessa nova forma de
organização social e política, a democracia, o logos, ou seja, a razão, a
palavra e o discurso tornaram-se mais importantes do que a condição
social e econômica do indivíduo. Isso porque entendia-se que os
assuntos públicos dependiam do poder de argumentação.

Passos (2004), em seu livro “Ética nas organizações”, discorre e elucida


resumidamente sobre as principais doutrinas éticas, apresentando como
principais filósofos:

● Sócrates (469-399 a. C.):

dedicou-se à busca da verdade, que deveria ser uma forma de juízo


universal, capaz de dirigir a vida das pessoas, no plano pessoal e
político”. Para Sócrates, “as questões morais não são puramente
convenções influenciadas pelas circunstâncias, mas problemas que
devem ser resolvidos à luz da razão. (PASSOS, 2004, p. 32 e 33).

● Platão (427-347 a. C.): sua teoria ética relaciona-se com a política e a razão
(prudência), sua maior contribuição foi vislumbrar a cidade perfeita guiada
pelos princípios morais.

● Aristóteles (384-322 a. C): “O bem moral consistia em agir de forma equilibrada


e sob a orientação da razão. O ‘meio-termo’, o ponto justo, levaria à felicidade,
a uma vida ‘boa e bela’, não como privilégio individual e sim coletivo”.
(PASSOS, 2004, p. 35).

● Epicuro (341-270 a. C): teve sua filosofia dividida em três partes: canônica, física
e ética; “uma vida feliz é impossível sem a sabedoria, a honestidade e a justiça,
e estas, por sua vez, são inseparáveis de uma vida feliz”. (CARBISIER apud
PASSOS, 2004, p. 35).

● Zenão (324-263 a. C.): doutrina do estoicismo, que é uma ética, uma forma de
viver em que a natureza consistia na orientação central, que significava viver
conforme a virtude.

Vistos os principais nomes da filosofia da Idade Antiga, é interessante o


seu estudo e sua contribuição à ética, na medida em que o pensamento filosófico,
também como os costumes, se embebe de novas fontes, contudo sem perder o fio
condutor em relação à sua reflexão quanto aos aspectos morais e às virtudes.

23
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

3 IDADE MÉDIA
A Idade Média, conhecida pelo Renascimento, que foi considerado um
movimento literário, artístico e filosófico que teve duração entre o fim do século
XIV ao fim do século XVI. Suas características principais foram o humanismo, a
renovação religiosa, a renovação das concepções políticas e o naturalismo (novo
interesse pela investigação da natureza).

Nessa época, a situação política e social era mais complexa, por esse
motivo não se podia pretender a mesma harmonia da polis. De acordo com Passos
(2004, p. 37), “também por questões ideológicas houve o predomínio da teoria
sobre a prática”, e o cristianismo tornou-se a religião oficial, o que influenciou as
condutas morais.

As concepções filosóficas destacadas por Passos (2004), ou seja, os


principais filósofos, foram:

● Santo Agostinho (354-430): ‘compreender para crer, crer para compreender’.


Para Agostinho, o dom divino era o único capaz de resgatar o homem de seus
pecados. Nesse sentido, a ética estava ligada aos valores da moral cristã.

● Tomás de Aquino (1225-1274): a ética consiste em agir de acordo com a ordem


natural, o homem tem livre-arbítrio e, orientado pela consciência, tem uma
capacidade de captar, pela intuição, a ordem moral – ‘faz o bem e evita o mal’.

DICAS

Na Idade Média, a ética tem sua base na moral cristã.

De acordo com Passos (2004, p. 39), a Idade Média inaugura uma novidade
na questão da moral:
ao deslocar o eixo fim último da vida humana, de um valor bom em
si mesmo para um bem que está em Deus. Se, para as concepções
anteriores, a felicidade era atingida no próprio ser, agora ele se
encontra no plano transcendental, e atingi-la requer apreender o fim
último que se encontra em Deus.

A ética na Idade Média, portanto, foi considerada a fase da era cristã, em que
os desígnios morais do cristianismo tornavam-se os ditames do comportamento
moral. Na Idade Média, portanto, o conceito de felicidade não pode ser atingido
nem pela razão, nem pela filosofia, mas pela fé cristã.

24
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICAS

4 IDADE MODERNA
Como estudamos, a ética, na Idade Antiga, era explicada pela perspectiva
da natureza ou pela perspectiva cristã, em que tudo vinha da natureza ou de Deus.
Na Idade Moderna essa perspectiva muda e traz o homem como responsável
pelas suas ações.

A Idade Moderna, que ocorreu entre os séculos XVI e XIX, difere das
anteriores, porque passa a existir uma complexidade ainda maior referente aos
aspectos econômico, político, social e espiritual, principalmente em virtude do
capitalismo, desenvolvimento científico e estados centralizados.

Na Idade Moderna, a ética passa a ter uma perspectiva diferente, rompe


com essa ideia suprema de felicidade e traz para a ação humana a responsabilidade
de suas ações, e não como explicação divina e abstrata, assim como aprofunda
Passos (2004, p. 40):

A ética que surge e vigora nesse período é de tendência antropocêntrica,


em que o ser humano é o seu fim e fundamento, apesar de ainda
consistir na ideia de um ser universal e possuidor de uma natureza
instável. Assim mesmo, ele aparece como o centro de tudo: da ciência,
da politica, da arte e da moral.

Na verdade, o período da Idade Moderna é rico em teorias sobre a ética,


mas segundo Passos (2004), destaca-se Kant.

DICAS

O homem é o responsável por suas ações.

Immanuel Kant foi um dos primeiros pensadores responsáveis por esse


rompimento. De acordo com Guariglia e Vidiella (2011, p. 97), “Kant estabelece
de maneira categórica a concepção do dever como o centro neurológico da
moralidade e imprimindo assim a ética, ou seja, a ética torna-se o fim do ser
humano, que é a felicidade (ideal de perfeição)”.

25
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

NOTA

Immanuel Kant (1724-1804) – nasceu e morreu na Alemanha. Foi o grande


responsável pela escola do criticismo e dentre a filosofia moderna e contemporânea.

Kant nos apresentou dois imperativos em que a ética pode ser


compreendida: hipotético e categórico. No imperativo hipotético as condições
são subordinadas, dessa forma a ética não se explica, porque as ações humanas
são consequências de um interesse.

Já no imperativo categórico, em Kant, é o axioma básico para o


comportamento moral, em que se pode explicar ética. Para Kant, a moralidade,
o comportamento moral, vem da razão, vem do rigor do raciocínio, é uma lei
inflexível, ou seja, as suas ações não são subordinadas a condições, são desprovidas
de interesse, e, portanto, são de interesses gerais, podem tornar-se leis universais.

NOTA

“Imperativo categórico, em analogia ao termo mandamento, indica a norma da


razão”. (ABBAGNANO, 2007, p. 628).

Na Idade Moderna, então, se pode perceber que a razão ao cumprimento


das leis, da moral, torna-se por efeito o dever do cidadão. Assim como destaca
Passos (2004, p. 41):

Enquanto as doutrinas éticas anteriores tinham por objetivo atingir


uma felicidade ou um bem, esta é uma moral da pura razão e do puro
dever. A prática moral devia basear-se apenas nas orientações da razão,
deixando totalmente de lado o mundo empírico. Assim, ele construiu
uma moral desinteressada, desprovida de qualquer finalidade e de
qualquer motivação, que não fosse o ‘cumprimento do dever pelo
dever’, pois, para ele (Kant), a única coisa verdadeiramente boa seria,
como dissemos, ‘uma boa vontade’, a disposição em seguir a lei
moral em detrimento de vantagens que ela pudesse proporcionar ao
indivíduo. Assim, a lei moral seria incondicional e absoluta.

Então, para Kant, a felicidade só seria possível se o dever se submetesse


à moralidade. Dessa forma, a ética e a moral nesse tempo estão relacionadas ao
cumprimento do dever.

26
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS DOUTRINAS ÉTICAS

5 IDADE CONTEMPORÂNEA
A Idade Contemporânea é marcada pelo progresso científico e pela
valorização do ser humano concreto. Essa época não busca a humanidade perfeita,
ou seja, a ideia de cidade (polis) perfeita ou da suprema felicidade, nem tampouco
a moral cristã dá conta de responder aos novos anseios.

É a época da igualdade e liberdade, marcada pelos direitos fundamentais,


“não pela imposição ou obrigação, com códigos a serem estabelecidos”. (PASSOS,
2004, p. 42). Destacam-se três grandes concepções: marxismo, pragmatismo e
existencialismo, que brevemente podemos entender:

O marxismo se refere às ideias filosóficas, políticas e sociais elaboradas


por Karl Marx e Friedrich Engels. O marxismo entende o homem como ser social e
histórico e também aborda a questão da sociedade produtiva e as lutas de classes.

O pragmatismo é uma doutrina filosófica que adota a utilidade prática. O


pragmatismo está ligado ao senso prático, em que a verdade está relacionada à
utilidade.

O existencialismo tem como ponto de partida o ser humano. O indivíduo,


pelas suas ações, sentimentos, então essa doutrina preocupa-se com o ser humano
em relação ao mundo.

Os principais pensadores destacados por Passos (2004) são:

● Karl Marx (1818-1883):

Entendia que o ser humano era ao mesmo tempo social e histórico,


objetivo e subjetivo, capaz de criar e de interferir na realidade e
transformá-la à sua medida. Nesse processo, ele não só contribuía a
seu mundo concreto, como também à sua fundamentação valorativa.
(PASSOS, 2004, p. 42).

● Friedrich Nietzsche (1844-1900): procurou estudar a origem dos valores e


entender o porquê da valorização de uns atos e não de outros, ou seja, a
dicotomia entre o bem e o mal.

● Charles Sanders Peirce (1854-1914): apresentou o pragmatismo como um


método e não como teoria. A moral é algo quando o fim é bom; nesse sentido,
quanto aos valores, são absolutos. “O que é bom ou mau é relativo, variando
de situação para situação. Depende de sua utilidade para a atividade prática”.
(PASSOS, 2004, p. 45).

● Habermas (1929): as argumentações morais servem para que os conflitos sejam


desfeitos pelo consenso. O processo reflexivo, intersubjetivo, argumentativo,
leva os participantes ao comum acordo.

27
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

DICAS

O ser humano é concreto, real e histórico.

A Idade Contemporânea marca então uma nova forma de comunicação


entre a sociedade, com base na premissa de que o homem é um ser concreto, real
e histórico. E é pelo diálogo, num processo de argumentação mútuo, que pode
haver o consenso entre os homens e, assim, as definições morais de conduta.

28
RESUMO DO TÓPICO 2
O Tópico 2 foi apresentado de forma breve, para que o panorama das
influências teóricas e filosóficas pudesse constituir o pensamento ético e a
sua contribuição aos tempos de hoje e, mais tarde, ajudar na prática da gestão
pública. Assim foi possível observar que:

● A Idade Antiga foi a época do surgimento da ética.

● A Idade Média determina a ética pelos princípios da moral cristã.

● A Idade Moderna, através de Kant, traz ao homem a responsabilidade de seus atos.

● A Idade Contemporânea reflete sobre as novas formas de interação humana


dentre a sua complexidade e novas relações, para assim descobrir novas formas
consensuais e conceituais.

29
AUTOATIVIDADE

1 As principais doutrinas éticas apresentaram as ideias de filósofos que em


seu tempo contribuíram para a ética e a moral. Resumidamente, como você
escreveria sobre ética e moral em cada tempo?

2 O que representa a polis para a administração pública?

3 Quais foram os principais filósofos comentados no livro “Ética nas


organizações”, de Passos (2004), e que foram apresentados nesse Caderno
de Estudos como referência sobre doutrinas éticas?

30
UNIDADE 1
TÓPICO 3

MORAL

1 INTRODUÇÃO
Nesse tópico 3 da Unidade 1 abordaremos a visão conceitual da moral.
Embora o Tópico 1 sobre a ética já tenha adiantado alguns aspectos da moral, como
dito anteriormente, existe uma interface entre moral e ética que é indissociável.
O importante desse tópico, portanto, é dar destaque ao conceito de moral e você
compreender o comportamento humano em relação ao que é moral.

2 CONCEITO DE MORAL
De acordo com Srour (2003), a ética é perene e a moral é mutável. A ideia
de ética é que ela não muda, a ética faz reflexões acerca dos costumes, que é o
campo da moral. Para melhor compreendermos, no Brasil, temos a história da
mulher como um bom exemplo de mudança de costumes e, por conseguinte,
mudança de valores morais.

Até a década de 30 a mulher não podia votar e nem ser votada, portanto o
sufrágio feminino foi uma conquista de equiparar a mulher ao homem e torná-la
um membro da sociedade como qualquer um, ou seja, uma pessoa participativa
aos desígnios políticos do país.

No cenário político nacional, a primeira mulher a se tornar deputada


federal foi em 1933, e somente em 1979 foi eleita a primeira senadora. Em 2011
o país elege pela primeira vez uma mulher como Presidente da República. Se
você observar os anos - 1933, 1979 e 2011 -, verá o quanto demora para que os
valores se transformam e, ao mesmo tempo, depois de estabelecida a mudança,
esses valores tornam-se tão familiares que nem mais pensamos nessa trajetória de
conquista e transformação.

31
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

FIGURA 3 – A CONQUISTA DA MULHER

FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_downz5jC7EU/SdjYjhkp8AI/


AAAAAAAAAMQ/1fH40DR7WIU/s400/Image180.gif>. Acesso em: 15 jan. 2012.

No mundo do trabalho a mulher conquistou espaço tardiamente, e por


esse motivo, várias são ainda as desigualdades entre a mulher e o homem no
mundo do trabalho. Existem diversas pesquisas que apontam mulheres e homens
com mesmo nível de escolaridade e mesma função e que têm salários diferentes.

Não se pretende aqui fazer nenhum tipo de apologia à mulher, muito pelo
contrário, a mulher é só um bom exemplo para que possamos perceber o quanto
ela se transformou perante a sociedade. Antes ela não votava e nem era votada,
antes ela não trabalhava fora de casa, antes a sua vida limitava-se a cuidar de
filhos e marido. E hoje?

E
IMPORTANT

A moral é temporal e é reflexo dos costumes da sociedade.

32
TÓPICO 3 | MORAL

Portanto, a moral são os costumes, são as práticas do comportamento


humano e as práticas aceitáveis de uma sociedade. Então, como esses costumes,
práticas e culturas mudam? Mudam quando a própria sociedade clama por
mudanças ou quando, a partir de um movimento de um grupo, procura-se
conscientizar o resto da sociedade da importância de pensar e agir diferente. Foi
dado o exemplo da mulher, mas muitos são outros exemplos que se enquadrariam
nesse momento para ilustrar essa transformação de valor e costume, a exemplo
do homossexualismo, doenças que carregavam preconceitos e hoje não mais,
entre outros grandes exemplos.

Então se pode dizer que a moral é mutável, como diziam os romanos – “o


tempora, o mores” – ou seja, os costumes mudam com o tempo. Srour (2003, p. 56)
elenca alguns itens para a compreensão do que vem a ser moral:

● É um sistema de normas culturais que pauta as condutas dos agentes sociais


de uma determinada coletividade e lhes diz o que é certo ou não fazer.

● Depende da adesão de seus praticantes aos pressupostos e valores que lhe


servem de fundamentos.

● Representa um posicionamento diante das questões polêmicas ou sensíveis


e constitui um discurso que justifica interesses coletivos.

● Organiza expectativas coletivas ao selecionar e definir melhores práticas a


serem observadas.

● Tem natureza simbólica, essência histórica e caráter plural, e seus cânones


variam à medida que espelham as coletividades históricas que o cultivam.

Srour (2003, p. 57) ainda resume a moral comparativamente à ética:

Por isso mesmo, as morais são as nervuras sensíveis das culturas e dos
imaginários sociais, as peças de resistência que armam as identidades
organizacionais, códigos genéticos das condutas sociais requeridas
pelas coletividades. Assim sendo, enquanto as morais correspondem
às representações mentais que dizem aos agentes sociais o que se
espera deles, quais comportamentos são recomendados e quais não
o são, a ética diz respeito à disciplina teórica e ao estudo sistemático
dessas morais e de suas práticas efetivas.

Portanto, o quadro que segue auxilia na formulação de um comparativo


entre ética e moral, para que essas palavras-chave possam ajudar na diferenciação
de uma e outra.

33
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

QUADRO 2 – COMPARATIVO ENTRE ÉTICA E MORAL

ÉTICA MORAL
Perene Temporal
Universal Cultural
Regra Conduta da regra
Teoria Prática

FONTE: A autora

A ética é perene porque as suas reflexões são num curso contínuo e eterno,
sempre haverá reflexões sobre a ética. Já a moral é temporal, porque de acordo
com o tempo, os costumes e valores de uma sociedade se modificam.

A ética é universal porque as suas reflexões independem da cultura,


sociedade ou tempo histórico, as suas reflexões cabem em qualquer lugar e em
qualquer tempo, porque se referem ao comportamento humano. A moral é cultural
porque em cada sociedade, em cada lugar, os costumes e valores serão diferentes.

A ética é regra, porque não existe mutabilidade em suas reflexões, as


suas reflexões é que podem ser realizadas perante as mudanças. A moral é
conduta de regra, porque é preciso relacionar os valores para que a moral possa
instituir a sua conduta.

A ética é teoria porque está situada no campo das reflexões, enquanto


a moral se refere às práticas do comportamento humano, seus costumes, seus
hábitos e seus valores.

Essas as principais diferenças entre ética e moral, que ajudam para auxiliar
na compreensão quanto às suas ramificações e desdobramentos.

3 O CAMPO DA MORAL
O campo da moral, pela sua mutabilidade, se torna um campo vasto, em
que se possibilita uma multiplicidade de ações. Até porque a moral é oriunda das
ações e interações humanas. A moral, portanto, está em toda parte, nas escolas,
nas igrejas, nos hospitais, nas organizações privadas e públicas.

É através da moral que os códigos de convivência são estipulados, para


que as pessoas se comportem adequadamente e também para que haja harmonia
na interação humana e da instituição.

Do ponto de vista dessas ações humanas existem dois universos que se


constroem perante o fim de suas ações: universal e particular.

34
TÓPICO 3 | MORAL

Na administração pública, os atos administrativos devem estar voltados


ao universal, porque as suas ações sempre devem preservar o interesse coletivo,
portanto no meio da administração pública não cabem atos administrativos
voltados ao interesse particular.

O campo da moral é vasto, a moral é o alicerce para que a sociedade


possa estipular as suas regras de convivência. Portanto, condutas morais não são
exclusividade da administração pública, as condutas morais estão presentes a
todo tempo e em qualquer lugar.

3.1 A PRÁTICA MORAL


Se você for um servidor público, legislador, ou quem sabe um responsável na
elaboração de políticas públicas, ou simplesmente um cidadão, deve se perguntar:
Quem são as pessoas que irão se beneficiar com a minha ação? Quais são as atitudes
mais apropriadas para que um maior número de pessoas possam se beneficiar com
as minhas atitudes? A minha ação é de interesse próprio ou de interesse coletivo?

Essas perguntas e tantas outras ajudam a sinalizar em qual campo da


moral se encaminham as nossas ações.

Segundo Srour (2011), existem dois universos que se podem tomar como o
início para melhor compreensão da prática moral: particularismo e universalismo.

FIGURA 4 – UNIVERSALISMO E PARTICULARISMO

UNIVERSALISMO PARTICULARISMO

• É consensual porque interessa


a todos: o bem de uns e o bem • É abusivo porque o bem de
de outros não rivalizam. uns causa mal aos outros.

• Os interesses pessoais, grupais • Os interesses pessoais ou


ou gerais se realizam sem grupais se realizam à custa dos
prejudicar ninguém. interesses alheios.

FONTE: Srour (2011, p. 9)

O universalismo dita as condutas morais positivas, em que existe o


consenso para que o bem comum seja preservado. Nesse sentido, mesmo quando
existem ações voltadas ao interesse de uma minoria ou de um grupo específico,
ainda assim esses interesses não vão se confrontar com o interesse dos demais.
Não há uma rivalidade de interesses, pelo contrário, a satisfação dos interesses se
dá de forma consensual.

35
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

No particularismo, os interesses pessoais ou de um grupo se prevalecem


em detrimento do interesse de outros, por isso são práticas negativas. Não
há um consenso de quem precisa mais, para que as práticas nesse universo
sejam realizadas de forma consensual e em preservação do bem comum. Pelo
contrário, existe uma rivalidade de interesses para que a vontade de uns se realize
independente da necessidade de um ou de outro ser maior.

A administração pública, com certeza, está na esfera do universalismo,


e é por isso que ela existe e é dessa forma que ela deve servir aos cidadãos. Mas
o servidor público, que é o condutor da prática do serviço público, poderá se
encontrar na polaridade da escolha entre universalismo e o particularismo, em
pequenas atitudes do seu cotidiano.

3.2 A MORAL E O COMPORTAMENTO HUMANO


De acordo com Alonso, López e Castrucci (2010, p. 29), “a ética é a arte de
administrar a própria liberdade, de administrar os chamados atos humanos”. Por
essa concepção pode-se dizer que exista uma discricionariedade ou livre-arbítrio
no uso da liberdade. Parece que não. A liberdade é restrita se a analisarmos ao pé
da letra, a liberdade de administrar cabe aqui como deferência à felicidade coletiva.

Na verdade, o que os autores querem dizer é que por trás de toda


liberdade existe uma condição moral e um fim no bem comum, como afirmam:
“Uma primeira afirmação da ética consiste em que a liberdade não está para fazer
qualquer coisa, ou a serviço do agir sem rumo ou irresponsável, mas deve estar a
serviço do bem”. (ALONSO; LÓPEZ; CASTRUCCI, 2010, p. 29).

De acordo com Chiavenato (2004, p. 82), que trata da natureza humana


diante das teorias das organizações, “o homem diante do seu contexto histórico
sofre mudanças que explicam e justificam o seu comportamento humano”. O
autor perpassa pelas diversas concepções ao longo da história da administração
que sustentam o comportamento e/ou demanda comportamental que em cada
época se exige ou se configura.

O quadro a seguir exemplifica e sintetiza as diversas concepções de


homem relacionadas por Chiavenato (2004, p. 83):

36
TÓPICO 3 | MORAL

QUADRO 3 – DIVERSAS CONCEPÇÕES DO HOMEM SEGUNDO AS TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES

Concepção de Teoria Motivação básica


Homem econômico Administração Científica Recompensas salariais e financeiras
Homem social Relações humanas Recompensas sociais e simbólicas
Homem organizacional Estruturalista Recompensas salariais e sociais
Processo de decisões e busca de soluções
Homem administrativo Comportamental
satisfatórias
Homem complexo Contingência Microssistemas individual e complexo

FONTE: Chiavenato (2004, p. 83)

Na teoria da Administração Científica, que tem seu marco em Taylor, o


homem trabalhava exclusivamente para ganhar dinheiro. Nesse sentido, a única
maneira de motivá-lo era com recompensas financeiras, salariais, econômicas ou
materiais.

NOTA

Frederick Winslow Taylor (1856-1915) foi o fundador da Administração Científica,


nasceu na Filadélfia, nos Estados Unidos. Taylor foi o responsável por estudar os problemas
de produção, a fim de buscar soluções que atendessem às necessidades tanto dos patrões
como dos empregados.
FONTE: Chiavenato (2003, p. 54)

A concepção de homem social, fruto da teoria administrativa de


Relações Humanas e, principalmente, influenciada pela área da psicologia, teve
a influência pioneira de Hugo Munsterberg, embora outros autores também
tenham se destacado e contribuído com essa concepção, tais como: Ordaw Tead,
Elton Mayo. Na verdade nessa corrente não houve uma consolidação teórica, a
concepção da teoria administrativa de Relações Humanas surgiu pela necessidade
de humanizar mais as relações nas organizações, como revisão e reflexão crítica à
teoria da Administração Científica.

37
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

NOTA

Hugo Munsterberg (1863-1916) nasceu em Danzig (Polônia e mais tarde tomada


pela Alemanha), foi o introdutor da psicologia aplicada nas organizações, com o uso de testes
de seleção de pessoal. Ordawy Tead (1869-1933) foi o pioneiro a tratar a liderança democrática
na administração. Georges Elton Mayo (1880-1949), cientista social australiano, conhecido
pela sua atuação à frente de uma organização em Chicago no bairro de Hawthorne, depois
conhecida como a Experiência Hawthorne.
FONTE: Chiavenato (2003, p. 98)

Diante da incompatibilidade entre a teoria Clássica (formal) e a teoria das


Relações Humanas (informal), surgiu a necessidade de uma nova composição
que integrasse e harmonizasse as duas teorias. A teoria Estruturalista surge com
seus princípios inspirados em Max Weber e Karl Max. “O estruturalismo está
voltado para o todo e para o relacionamento das partes na constituição do todo”.
(CHIAVENATO, 2003, p. 289).

O homem administrativo surge da Teoria Comportamental, no início da


década de 50, em que se preocupa com o homem diante das diversas organizações
das quais ele faz parte. Nessa teoria o homem deve tomar decisões e ter as suas
necessidades satisfeitas, não só perante a organização laboral da qual ele faz
parte, mas também em suas outras relações como pessoa.

A Teoria da Contingência, década de 70, dá a ideia do homem complexo,


porque leva em consideração as percepções, valores, cognições e motivações
do homem em seus microssistemas, ou seja, da complexidade do homem e
suas diversidades.

Nesse sentido abordado pela natureza humana diante das teorias da


administração foi possível perceber que o seu comportamento é reflexo da
corrente histórica, portanto é temporal aos valores.

3.3 A PRÁTICA MORAL EM NOSSA SOCIEDADE


A variedade de relações do ser humano diante da sociedade é imensa, ou
seja, o ser humano se relaciona com a família, no trabalho, na igreja, no clube,
com seus amigos, e para cada relação existem as práticas morais estabelecidas em
cada um desses grupos sociais. Assim como destaca Vázquez (2003, p. 88):

38
TÓPICO 3 | MORAL

Todas estas diversas formas de comportamento – tanto com o mundo


exterior quanto entre os próprios homens – supõem um mesmo
sujeito: o homem real, que diversifica assim o seu comportamento de
acordo com o objeto com o qual entra em contato (a natureza, as obras
de arte, Deus, os outros homens etc.) e de acordo também com o tipo
de necessidade humana que procura satisfazer (produzir, conhecer,
expressar-se e comunicar-se, transformar ou manter uma ordem social
determinada etc.).

Vejamos dois exemplos de práticas brasileiras em relação à conduta moral,


apresentadas no livro de Srour (2011, p. 107):

Em junho de 2005, a direção da Schincariol, segunda maior cervejaria


brasileira, foi presa e autuada por sonegação fiscal, evasão de divisas,
lavagem de dinheiro, corrupção de funcionários públicos e formação
de quadrilha. Foram expedidos 77 mandados de prisão.
Os principais indícios encontrados pela Polícia Federal foram:
empresas de fachada que emitiam notas fiscais frias; pagamentos de
propinas para fiscais da Receita Federal; emissão de notas fiscais com
ICMS menor do que o real; uso da mesma nota fiscal mais de uma
vez; vendas subfaturadas ou sem emissão da respectiva nota fiscal;
exportações fictícias e importações com declarações falsas de conteúdo.

O que podemos observar nesse caso? Que tudo o que a empresa fez está
completamente errado e que as suas ações estão no universo do particularismo.
Contudo, Srour (2011, p. 106-107) aprofunda um pouco mais no que ele chama de
“moral da parcialidade”, ou seja, “existem pessoas e organizações que pensam
que existem erros na sociedade, tais como impostos muito caros e que se acham
no direito de transgredir a lei por não concordarem com as normas”.

Sobre a moral da parcialidade, Srour (2011, p. 107) discorre sobre algumas


“práticas justificadas” de atitudes antiéticas e imorais, dentre várias se destacam:

● adota normas mistas de condutas ao exigir estrita lealdade dos que


fazem parte da empresa (“os de dentro”), ao mesmo tempo em que
advoga a malícia nas relações com os demais (“os de fora”);
● parte do pressuposto de que um pouco de desonestidade faz as
coisas acontecerem;
● confere à venalidade o estatuto de “lubrificante do mundo dos
negócios”, à semelhança da famosa fórmula populista “rouba, mas
faz” que, implicitamente, absolve o político salafrário enquanto
generaliza a falta de caráter das autoridades.

O segundo exemplo apresentado por Srour (2011, p. 116), também de uma


empresa privada brasileira, já adota um sistema de parceria com a sociedade, a
fim de ver seu negócio crescer dentro dos parâmetros éticos e morais.

39
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

Em 2000, a Natura, fabricante de cosméticos, tinha 60 atendentes em


sua central de atendimento ao cliente e gastava R$ 8 milhões por ano
com o serviço. Recebia uma média mensal de 100 mil ligações.
Em agosto desse mesmo ano, um cliente ligou dizendo que o
desodorante que usara havia manchado a sua camisa. O que fez o
atendente? Perguntou na hora o preço da roupa – uns 70 reais – e se
prontificou a enviar um cheque ao cliente com o valor correspondente.
A camisa manchada foi recolhida e encaminhada imediatamente ao
departamento de pesquisa da Natura. Em uma semana, descobriu-
se o componente do desodorante responsável pela mancha. Em
consequência, a fórmula do produto foi alterada!

Srour (2011, p. 116) aponta como moral da história: “O serviço de


atendimento não se restringiu a agradar o consumidor: foi capaz de acionar
mudanças nos produtos e nos processos da empresa, dando corpo a uma relação
de parceria”.

Isso que o autor chama de parceria é o que se espera da sociedade, é a


moral da boa convivência e de práticas éticas. Com certeza, algumas pessoas,
ao saberem dessa história, podem pensar: também vou ligar e dizer que minha
camisa estragou e ganhar dinheiro! Isso é má-fé, são atitudes imorais, isso é um
universo particularista. Além de faltar com a verdade, não contribui em nada
para o crescimento da sociedade.

É assim que se dão as práticas morais, conforme as necessidades humanas.


E essas novas necessidades humanas vão transformando o ser humano, as suas
relações e, também, as práticas morais. Alguns dizem que a ética e a moral são a
encruzilhada entre o bem e o mal. Se você optar pelo bem, trilhará o caminho da
ética e da moral, caso contrário, não existe meia ética e ‘moral da parcialidade’.

E
IMPORTANT

Fatos sociais – são ações neutras.

Fatos morais – são ações positivas ou negativas.

Srour (2011) propõe um exercício que se encontra ao final desse tópico


como autoatividade para a distinção do que vem a ser um fato social de fatos
morais.

O que o autor chama de fato social é qualquer ação neutra, por exemplo,
cumprir com as minhas obrigações no trabalho. Fato moral já implica uma atitude
positiva ou negativa, ser conivente ou agente de práticas ilícitas no trabalho
(negativa), denunciar práticas negativas no trabalho (positiva). Então:

40
TÓPICO 3 | MORAL

● Fatos sociais - são aqueles que não afetam os outros, nem para o bem e nem
para o mal, portanto são eticamente neutros.

● Fatos morais - podem ter efeito positivo, numa visão universalista (causam
benefícios aos outros) ou particularista (não causam benefícios aos outros).

Nesse sentido, muitas vezes, principalmente na administração pública,


não se pode efetuar somente fatos sociais, muito pelo contrário, é preciso que os
fatos morais universalistas e positivos se tornem recorrentes para que se evitem
práticas irregulares ou ilícitas.

4 MORAL, AMORAL E IMORAL


No item anterior foi possível diferenciar fatos morais de fatos sociais, e
dissemos ainda que um fato moral pudesse afetar positivamente ou negativamente
outrem. Então fato moral se divide em moral, quando positivo, e imoral quando
negativo. E fato social seria o que alguns autores chamam amoral.

Então, o que é agir conforme a moral? O que é o agir imoralmente? Ou


o que é uma atitude amoral? Como podemos diferenciá-los? De forma bem
resumida pode-se dizer que:

● Moral – é agir conforme os valores da sua organização ou sociedade sem


prejudicar os outros.

● Imoral – é uma atitude que vai contra as normas e valores de uma organização
ou sociedade e que prejudica os outros.

● Amoral – quando uma atitude não influi nem positivamente e nem


negativamente, ou seja, uma ação neutra.

Pode-se concluir que uma atitude moral é uma ação positiva, uma atitude
imoral é uma ação negativa e uma atitude amoral é uma ação neutra. Dessa forma,
o âmbito da moral é decidir como agir, é uma questão da prática, enquanto que o
âmbito da ética é refletir sobre essas ações e suas implicações na felicidade humana.

5 PROBLEMAS MORAIS E PROBLEMAS ÉTICOS


Vázquez (2003, p. 15), no princípio de seu livro “Ética”, propõe diversas
questões práticas para a decisão do ser humano, tais como: “Devemos sempre
dizer a verdade ou há ocasiões em que devo mentir? Com respeito aos crimes
cometidos na Segunda Guerra Mundial, os soldados que os executaram,
cumprindo ordens militares, podem ser moralmente condenados?”

41
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

O que o autor quer alertar é que todos esses problemas são práticos e reais
e se apresentam nas relações afetivas dos seres humanos. As decisões práticas
humanas podem afetar um pequeno grupo ou um grande grupo.

Em várias das situações que se apresentam ao ser humano o que está em


jogo são os problemas morais que ele deve decidir. Os valores e as normas que
são reconhecidos numa sociedade como os mais corretos, são os juízos que se
formulam diante das ações humanas. Os problemas éticos se diferenciam, como
elucida Vázquez (2003, p. 17):

À diferença dos problemas prático-morais, os éticos são caracterizados


pela sua generalidade. Se na vida real um indivíduo concreto enfrenta
uma determinada situação, deverá resolver por si mesmo, com a ajuda
de uma norma que reconhece e aceita internamente, o problema de
como agir de maneira que a sua ação possa ser boa, isto é, moralmente
valiosa. Será inútil recorrer à ética com a esperança de encontrar nela
uma norma de ação para cada situação concreta.

Daí surgem então os problemas morais e éticos, a respeito da legalidade


também, porque o ideal é que nossas ações sejam éticas, morais e legais. Mas
é possível agirmos de forma moral, mas ilegal? Por exemplo, se estamos num
grande centro, às 4 horas da manhã, dirigindo um carro, o sinal fica vermelho,
você respeita e para, ou, de forma consciente, verificando se é possível avançar,
você avança o sinal. Você se vê no dilema interessante: ou respeita a lei e para, ou
se previne de um suposto assalto e avança o sinal.

Mesmo que você considere a atitude avançar o sinal moral, porque é


melhor pagar uma multa do que ser assaltado, ainda assim ela não é legal. O ideal
é que seja legal e moral, principalmente quando se fala em administração pública.

O exemplo dado é de referência a uma decisão pessoal e que pode gerar


consequências, uma multa de trânsito, portanto essa ação é bem particular e de
consequência particular.

Na administração pública os dilemas morais normalmente são de âmbito


universal e de consequência universal, portanto, a atenção à legalidade e à
moralidade deve ser de bem mais rigor, para que as consequências não se voltem
ao próprio agente e, pior, para que as consequências não causem dano maior à
comunidade ou à sociedade.

Robbins (2000), em seu livro “Administração: mudanças e perspectivas”,


traz um novo modelo de administração. Na verdade, o autor percorre o seu livro
sob a perspectiva da analogia entre a velha e a nova administração.

Robbins (2000, p. 133) apresenta um esquema que auxilia as organizações


a se manterem na linha ética, a partir de três perguntas:

42
TÓPICO 3 | MORAL

1 A ação política é motivada por interesses oportunistas à exclusão das


metas da organização?

2 A ação política respeita os direitos dos indivíduos envolvidos?

3 A atividade política é razoável e justa?

Uma vez respondidas essas perguntas e vistas no diagrama a seguir, pode-


se observar que a conduta da organização será realizada dentro da moralidade e
eticidade.

FIGURA 5 – PROCESSO ÉTICO

1ª pergunta
A ação política é motivada
por interesses oportunistas
à exclusão das metas da
organização?

SIM NÃO

ANTIÉTICA 2ª pergunta
A ação política respeita os direitos
dos indivíduos envolvidos?

SIM NÃO

3ª pergunta ANTIÉTICA
A atividade política é razoável e
justa?

SIM NÃO

ÉTICA ANTIÉTICA

FONTE: Robbins (2000); Adaptado de: Cavanagh; Moberg; Valasquez (1981, p. 368)

Nesse diagrama não podemos tomar decisões oportunistas de interesse


próprio ou que fujam aos objetivos da organização ou da missão da organização. É
muito importante que os direitos individuais sejam respeitados, não só pela força da
lei, mas principalmente porque as organizações se tornam mais eficientes quando o
seu recurso humano está comprometido, envolvido e com elevado grau de satisfação.

A atividade política é razoável e justa? Toda tomada de decisão, principalmente


no que se refere à administração pública, deve ter como pano de fundo se a ação é
razoável e justa, caso contrário, com certeza estará infringindo princípios.

43
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

Decidir como agir é um problema moral, mas investigar o modo pelo


qual a responsabilidade moral se relaciona com a liberdade dos atos é um
problema teórico. (VÁZQUEZ, 2003). Então os problemas éticos perpassam
pelo “tipo de razões e argumentos para demonstrar a validade do juízo moral,
e particularmente, das normas morais”. (VÁZQUEZ, 2003, p. 19). Os problemas
morais são do campo da prática, das ações humanas, enquanto os problemas
éticos são do campo da teoria.

44
RESUMO DO TÓPICO 3
Nesse Tópico 3 sobre moral, as principais considerações são:

● O conceito de moral.

● As principais distinções entre ética e moral.

● As esferas da aplicabilidade da moral: universalismo e particularismo.

● A natureza humana no decorrer das teorias da administração.

● A diferença entre fatos morais de fatos sociais.

● Os aspectos de moral, imoral e amoral.

● Os problemas éticos e morais dentre os fatos que acontecem na sociedade.

45
AUTOATIVIDADE

1 Nesse exercício proposto por Srour (2011) em seu livro “Casos de ética
empresarial: chaves para entender e decidir”, o autor propõe situações
cotidianas para distinguir fato social de fato moral. Na coluna intitulada
“Fato” coloque a letra S para fato social e a letra M para fato moral. Em
seguida, justifique a sua escolha, tendo em vista as questões universalistas
e particularistas.

Objeto de estudo Fato Justifique


Uma moça saudável estaciona o carro em vaga
1
reservada aos portadores de deficiência física.
2 Um sujeito circula nas ruas e observa as vitrines.
Uma mulher grávida e uma mãe com criança no
3
colo fumam em ambiente fechado.
Uma mulher estaciona o seu carro em vaga
4
autorizada.
Na concessão de um empréstimo a um cliente, um
5 gerente de banco pratica a venda casada, ou seja,
força a aquisição de outro produto financeiro.
Um funcionário, que cuida das fichas de clientes,
rechaça a investida de um colega que deseja
6
obter informações confidenciais para montar um
negócio.
Um funcionário, que cuida das fichas dos clientes,
7 repassa informações confidenciais a um colega que
quer montar um negócio.
Um funcionário, que lida com informações
8 confidenciais constantes das fichas de clientes,
preserva o sigilo.
Uma mulher estaciona seu veículo em vaga
9 autorizada e verifica se mantém equidistância em
relação às duas faixas amarelas pintadas no chão.
Uma empresa não só proíbe, mas vigia com rigor o
10
fumo em ambiente fechado de uso coletivo.
Um fiscal de obras resiste às pressões de
11 empreiteiro e se recusa a medir serviço que não
atende às especificações do projeto executivo.
Um fiscal de obras mede rotineiramente os serviços
12 realizados por empreiteiro, seguindo as regras que
o contrato estipula.

46
Um fiscal de obras cede às pressões de empreiteiro
13
e mede serviços inexistentes mediante propina.
Um gerente de banco concede um empréstimo a
14 um cliente que preencheu requisitos exigidos pela
área de crédito.
Um vendedor de loja de eletrônicos orienta
detalhadamente o cliente a respeito das vantagens
15 e desvantagens de um produto, fornecendo-lhe
especificações técnicas e um quadro comparativo
dos preços dos concorrentes.
Um vendedor de loja de eletrônicos consegue
efetivar uma venda sem revelar que o produto
16
tem um defeito de fabricação que só aparece após
alguns meses de uso.
Um camelô garante a um cliente que o produto
”made in China”, embora muitíssimo mais barato,
17
é absolutamente idêntico àquele que se vende nas
lojas.
Um comprador exige a emissão de Nota Fiscal
18 Paulista dando o número de seu CPF, embora a
caixa da loja nada tenha perguntado a respeito.
Um comprador fornece o número de seu
19 CPF depois que a caixa da loja lhe perguntou
rotineiramente se queria a Nota Fiscal Paulista.
Um cliente faz questão, no restaurante, de que não
se emita a nota fiscal ou cupom fiscal e prefere
20
pagar em dinheiro vivo e não com cartão de crédito
ou cheque.

FONTE: Srour (2011, p. 26-27)

2 Quais são as principais diferenças que você pode apontar entre ética e moral?

3 Do ponto de vista ético e moral, o que você acha da afirmação: sempre houve
e sempre haverá corrupção no Brasil quando se fala de política.

4 Do ponto de vista ético e moral, diante de uma distribuição desigual de carga


tributária, de mau uso dos governantes e da fragilidade de mecanismo de
controle, a sonegação fiscal se justifica? Seja você pessoa física ou jurídica?

47
48
UNIDADE 1
TÓPICO 4

RELAÇÕES HUMANAS

1 INTRODUÇÃO
Esse quarto e último tópico da Unidade 1 vem apresentar as relações
humanas, no sentido de dar conta da visão multidimensional do ser humano em
relação às suas possibilidades de se relacionar.

2 RELAÇÕES SOCIAIS
Ninguém vive sozinho, o sentido de interdependência já se adquire
desde o nascimento. Somos afetados todo tempo por relações humanas, seja no
nosso condomínio, na universidade, igreja, ou em quaisquer dos lugares que
frequentamos ou que intercedemos. Então, relações humanas é toda e qualquer
interação humana.

FIGURA 6 – GENTILEZA

FONTE: Disponível em: <http://oimpressionista.files.wordpress.com/2006/04/gentileza.


JPG?w=395&h=294>. Acesso em: 15 jan. 2012.

49
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

NOTA

O Profeta Gentileza foi uma pessoa que viveu nas ruas da cidade do Rio de
Janeiro, em que escrevia mensagens de paz, amor e gentileza. Ele passou a viver na rua após
ter perdido toda a família no incêndio em Niterói-RJ.

Gentileza é um modo de agir, um jeito de ser, uma maneira de


enxergar o mundo. Ser gentil, portanto, é um atributo muito mais
sofisticado e profundo que ser educado ou meramente cumprir regras
de etiqueta, porque, embora possamos (e devamos) ser educados, a
gentileza é uma característica diretamente relacionada com caráter,
valores e ética; sobretudo, tem a ver com o desejo de contribuir para
um mundo mais humano e eficiente para todos. Ou seja, para se tornar
uma pessoa mais gentil, é preciso que cada um reflita sobre o modo
como tem se relacionado consigo mesmo, com as pessoas e com o
mundo. (BRAGA, 2011).

Rosana Braga (2011) dá dicas práticas para que a gentileza seja exercitada
no dia a dia das pessoas. É uma relação de atitudes básicas para que as pessoas
possam se harmonizar. Vejamos as dez ações de gentileza:

1 Tente se colocar no lugar do outro - isso o ajuda a entender melhor as pessoas,


seu modo de pensar e agir.

2 Aprenda a escutar - ouvir é muito importante para solucionar qualquer


desavença ou problema.

3 Pratique a arte da paciência - evite julgamentos e ações precipitadas.

4 Peça desculpas - isso pode prevenir a violência e salvar relacionamentos.

5 Pense positivo - procure valorizar o que a situação e o outro têm de bom e


perceba que este hábito pode promover verdadeiros milagres.

6 Respeite as pessoas - quando elas pensarem e agirem de modo diferente de


você. As diferenças são uma verdadeira riqueza para todos.

7 Seja solidário e companheiro - demonstre interesse pelo outro, por seus


sentimentos e por sua realidade de vida.

8 Analise a situação. Alcançar soluções pacíficas depende de se descobrir a


raiz do problema.

50
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

9 Faça justiça. Esforce-se para compreender as diferenças e não para ganhar,


como se as eventuais desavenças fossem jogos ou guerras.

10 Mude a sua maneira de ver os conflitos. A gentileza nos mostra que o conflito
pode ter resultados positivos e ainda tornar a convivência mais íntima e confiável.

Toda sociedade é composta por pessoas, toda organização é movida e depende


de pessoas, que se chamam recursos humanos. Por esse motivo é muito importante
que as organizações estejam atentas e se preparem para gerir seus recursos humanos.
O campo de estudo de recursos humanos é muito vasto, desde o recrutamento e
seleção até os mecanismos motivacionais e de permanência na organização.

As pessoas por si só carregam em si uma diversidade e pluralidade que


podem ajudar a organização, e ao mesmo tempo a unidade da organização exige
que o comportamento humano seja voltado aos princípios dessa organização.
A pessoa, portanto, passa a desenvolver dois papéis fundamentais quando
inserida na organização: o papel de pessoa e o papel de recurso, como se observa
na figura a seguir:

FIGURA 7 – PESSOAS COMO PESSOAS E COMO RECURSOS

PESSOAS

Como pessoas Como recursos

Personalidade e individualidade, Habilidades, capacidades,


aspirações, valores, atitudes, experiências, destrezas e
motivações e objetivos pessoais. conhecimentos necessários.

FONTE: Chiavenato (2004, p. 59)

O ser cidadão é compreendido como um fenômeno multidimensional,


porque se relaciona com a família, em grupos religiosos, no trabalho, na escola
ou universidade, em clubes etc. As relações sociais nada mais são que todas essas
relações isoladas e ao mesmo tempo em intersecção.

51
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

Cada pessoa possui uma personalidade própria e diferenciada e influi


no comportamento e nas atitudes das outras com quem mantém
contatos e é, por outro lado, igualmente influenciada pelas outras.
As pessoas procuram ajustar-se às demais pessoas e grupos: querem
ser compreendidas, aceitas e participar, no intuito de atender a seus
interesses e aspirações pessoais. (CHIAVENATO, 2003, p. 107).

A pessoa, portanto, diante dessas múltiplas relações humanas e sociais, se


apresenta a uma organização como pessoa com suas demandas pessoais e como
recurso também, com suas habilidades e competências:

O comportamento humano é influenciado pelas atitudes normais


e informais existentes nos grupos dos quais participa. É dentro da
organização que surgem novas oportunidades de relações humanas,
devido ao grande número de grupos e interações resultantes.
(CHIAVENATO, 2003, p. 107).

O diagrama que segue permite visualizar e compreender melhor essa dupla


via da pessoa inserida numa organização diante das variáveis intervenientes,
com seus anseios enquanto pessoas (objetivos pessoais) e como servidora de uma
organização (objetivos coletivos).

FIGURA 8 – VARIÁVEIS INTERVENIENTES

Fatores internos Fatores externos


▪ Personalidade ▪ Ambiente organizacional
▪ Aprendizagem ▪ Regras e regulamentos Comportamento
A pessoa na ▪ Motivação ▪ Cultura da pessoa
organização ▪ Percepção ▪ Políticas dentro da
▪ Valores ▪ Métodos e processos organização
▪ Recompensa e punições
▪ Grau de confiança

FONTE: Chiavenato (2004, p. 61)

As relações sociais são importantes, porque favorecem a diversidade de


vidas que, aliadas, podem favorecer em recursos criativos e dinâmicos para a
organização; em contrapartida, podem apresentar conflitos de valores e pessoais.

Mas, dentro de uma organização as relações sociais devem ser entendidas


no limite da política da organização, respeitando o seu código de moral. É por
esse motivo que o campo de estudo dos Recursos Humanos é enorme, porque
além de ter que dar conta da complexidade do ser humano, ainda se encarrega de
motivar e se adequar às transformações da sociedade, no que diz respeito às leis,
à moralidade, aos valores e aos costumes.

52
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

Na administração pública também existe uma política para seus recursos


humanos, e se você observar as principais leis, planos de carreiras, estatutos de
servidores, você observará que todos procuram limitar a ação do servidor público
para que ele não aja contra a moral e a ética. Como também observará que os seus
direitos de cidadão procuram ser preservados.

De acordo com Chiavenato (2004, p. 123-124), os recursos humanos


devem seguir uma política que irá beneficiá-los, mas em contrapartida os exigirá
na otimização de seus deveres e trabalho para que a organização se desempenhe
melhor, como o autor coloca:

Em função da racionalidade organizacional, da filosofia e da cultura


organizacional, surgem políticas. Políticas são regras estabelecidas
para governar funções e assegurar que elas sejam desempenhadas
de acordo com os objetivos desejados. Constituem uma orientação
administrativa para impedir que as pessoas desempenhem funções
indesejáveis ou ponham em risco o sucesso de suas funções específicas.
Assim, políticas são guias para a ação. Servem para prover respostas
às questões ou aos problemas que podem ocorrer com frequência [...].

Como na gestão pública deve-se administrar essa diversidade? O grau de


discricionariedade das pessoas e da gestão pública é mínimo, o servidor público
e as organizações públicas seguem uma linearidade dentre as múltiplas leis que o
regem e também dentre a convenção de ser um servidor público.

2.1 URBANIDADE E CIVILIDADE


O que a palavra urbanidade significa para você? Com certeza logo
associamos a urbano, ou seja, à cidade; e esquecemos ou desconhecemos o outro
significado, que é cortesia. Em algumas das leis que discorrem pelos deveres dos
servidores, é comum encontrarmos: “tratar com urbanidade”.

De acordo com o Dicionário Aurélio (2001, p. 736), urbanidade é qualidade


de urbano; cortesia; civilidade, e ainda aponta urbanidade: antônimo de grosseria.

ATENCAO

Urbanidade é cortesia.

Um dos sinônimos, portanto, de urbanidade, dado pelo dicionário, é


civilidade. Então, urbanidade e civilidade são a mesma coisa? Vejamos novamente
o que o dicionário diz sobre civilidade: “Conjunto de formalidades observadas
pelos cidadãos entre si, em sinal de respeito mútuo”. (FERREIRA, 2001, p. 166).
53
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

FIGURA 9 – CIVILIDADE

FALTA CIVILIDADE
AOS MOTORISTAS! REPETE SE
FOR HOMEM!

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-FcrAfQWH0ZM/T081HpjhVlI/AAAAAAAALLU/


ngy-ALo51do/s640/Civilidade-transito.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2012.

DICAS

Civilidade é respeito às normas de convívio.

Civilidade é o respeito das normas de convívio da sociedade. É a civilidade


que permite que as pessoas convivam dentro das organizações e façam interações,
mas tendo os valores morais como norteadores.

2.2 SOLIDARIEDADE
A solidariedade é um aspecto destacado, porque é através dela que o ser
humano pode dispor de seu objetivo pessoal em prol do objetivo coletivo.

54
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

FIGURA 10 – SOLIDARIEDADE

AS PESSOAS ESPERAM APOSTO QUE O ANO QUE


QUE O ANO QUE ESTÁ ESTÁ COMEÇANDO ESPERA
COMEÇANDO SEJA MELHOR QUE AS PESSOAS É
QUE O ANTERIOR QUE SEJAM MELHORES

FONTE: Disponível em: <http://www.perguntascretinas.com.br/wp-content/uploads/2008/01/


mafalda.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2012.

De acordo com Srour (2011, p. 45), existem dois tipos de interesses


pessoais: egoísta, “quando beneficia exclusivamente o indivíduo à custa dos
outros e, portanto, assume feições abusivas e particularistas; e autointeresse,
“quando beneficia o indivíduo sem prejudicar outrem, e, portanto, assume feições
consensuais e universalistas, pois salvaguarda a individualidade e interessa a
todos”. Tal como pode ser observado no esquema que segue:

FIGURA 11 – O AUTOINTERESSE E O EGOÍSMO

A satisfação de
interesses pessoais
gera bem restrito
PRÁTICA CONSENSUAL

Indivíduo age de forma Indivíduo age de forma


PRÁTICA ABUSIVA

benigna e não prejudica nociva e prejudica


outros outros

Autointeresse Egoísmo
(individualidade) (exclusividade)

FONTE: Srour (2011, p. 45)

55
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

Nesse pensamento Srour (2011) aborda a questão do altruísmo, que de acordo


com o senso comum o tem colocado no sentido de abnegação, filantropia, amor ao
próximo, entre outros. De acordo com o dicionário, altruísmo é um sentimento de
quem põe o interesse alheio acima do seu próprio. É exatamente sobre esse aspecto
que o autor quer considerar, longe do senso comum, de que altruísmo é sacrificar-
se, mas sim valorizar o outro, valorizar os interesses dos outros.

Srour (2011) classifica estágios de altruísmo, o interesse é continuar a tese


de que a solidariedade está ao lado do altruísmo e, portanto, é prática da esfera
do universalismo, enquanto que pensar somente em seus interesses é uma prática
do universo do particularismo.

O interessante nas questões sobre altruísmo é que não é uma atitude


apenas de instituições de caridade ou similares, pode ser uma ação prática do dia
a dia. É um sentimento como dita o dicionário, um sentimento a ser interiorizado
e praticado, como observa:

Agir de forma altruísta, por conseguinte, não exige necessariamente


uma atitude de franco desprendimento, pois basta adotar uma postura
cooperativa e solidária, ou basta exercitar o senso de interdependência.
Equivale a levar em conta os interesses dos outros para não prejudicá-
los; procurar beneficiá-los; procurar beneficiá-los na medida do
possível; cuidar de si e dos demais para induzi-los à reciprocidade.
(SROUR, 2011, p. 29).

A solidariedade, o altruísmo, é a máxima do cristianismo, é fazer ao próximo


o que gostaria que fizesse com você. E todas essas virtudes da solidariedade estão
imbuídas no serviço público, em que o bem comum é o fim em si mesmo.

3 RESPONSABILIDADE SOCIAL
A responsabilidade social sempre foi o tema principal da gestão pública
e se expandiu às empresas privadas. E no meio empresarial têm se tornado
crescentes os instrumentos e mecanismo de adesão, implantação e controle.

A responsabilidade social se desenvolve a partir da sustentabilidade,


ou seja, que os recursos sejam usados e não comprometam as futuras gerações.
A princípio pensa-se em recursos naturais, por isso o crescimento enorme de
controlar a interação do ser humano com o meio ambiente.

Contudo, a responsabilidade social vai além do meio ambiente, ela se


constrói no tripé do ambiental, social e econômico.

56
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

DICAS

Sustentabilidade – é a capacidade do ser humano de interagir com o meio


ambiente sem comprometer os recursos naturais das gerações futuras.

Observemos o que Chiavenato (2003, p. 472) escreve sobre a


responsabilidade social:

EXISTE UMA NOVA ORDEM MUNDIAL. A globalização dos negócios


está derrubando fronteiras, queimando bandeiras e ultrapassando diferentes
línguas e costumes e criando um mundo inteiramente novo e diferente: o
mundo globalizado. Além disso, vivemos em um mundo mutável e turbulento,
onde a mudança é a única certeza e o elemento constante. A tecnologia – e
principalmente a tecnologia da informação – está alterando profundamente
o trabalho nas organizações e proporcionando facilidade nas comunicações e
interações, além de impactar profundamente a vida das pessoas. Muito mais
do que em qualquer momento da história da civilização, as organizações
fazem parte integrante e inclusiva da sociedade moderna. Mais do que isso, as
organizações constituem a mais inventiva e sofisticada das invenções humanas.
E elas estão transpondo suas tradicionais fronteiras e envolvendo a sociedade
a seu redor. Estão se tornando cada vez mais visíveis e transparentes. Elas
precisam dar conta do seu trabalho à sociedade e prestar benefícios à sociedade.
De outra maneira, seriam perfeitamente descartáveis. A responsabilidade social
está se tornando um imperativo para o sucesso organizacional.

A forma como se utilizam recursos, a preocupação provinda dos limites


de recursos naturais, o atendimento às necessidades dos recursos humanos, o seu
bem-estar como um todo dentro e fora da organização, a comunidade na qual
a organização está inserida e a sociedade como um todo são temas e objetos da
responsabilidade social.

Sob o ponto de vista da responsabilidade empresarial, Alonso, López e


Castrucci (2010, p. 184) definem: “é uma tomada de consciência da empresa que
a leva a assumir livremente atividades e encargos em prol da sociedade em que
está inserida”.

57
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

ATENCAO

A responsabilidade social ajuda todos a viverem melhor.

FIGURA 12 – A RESPONSABILIDADE É DE TODOS

FONTE: Disponível em: <http://jmcconsult.com.br/wp-content/uploads/2011/04/


responsabilidade-social.jpg>. Acesso em: 15 mar. 2012.

Os autores ainda observam a distinção entre responsabilidade social de


ações sociais e emergenciais. A responsabilidade social é proativa, se antecipa
diante das necessidades de sua comunidade ou sociedade. Diferentemente
de uma ação emergencial, por exemplo, numa calamidade ou num estado de
enchente, as ações que o governo, empresas privadas possam tomar para ajudar
se configuram em ações emergenciais. As ações sociais já se configuram dentre as
medidas contratuais de cunho social, por exemplo, o pagamento de salários, as
contribuições à Previdência Social, o pagamento de impostos e taxas etc.

58
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

3.1 GESTÃO PÚBLICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL


Como visto anteriormente, não basta à gestão pública cumprir suas
ações sociais e emergenciais, ela deve sempre estar atenta às necessidades de
sua sociedade. Para tanto, para que haja civilidade, algumas medidas da boa
convivência precisam ser tomadas, bem como as políticas públicas de inclusão e
de equidade.

A responsabilidade social da gestão pública tem como premissa o artigo


3º da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), que assim determina:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento social;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

A implantação e implementação de políticas públicas vêm ao encontro


dos chamados novos direitos, como subterfúgios da sociedade e do Estado em
prover ações voltadas aos direitos humanos. E é nesse sentido que novos arranjos
entre Estado-sociedade, empresa-sociedade, organizações civis-sociedade vêm se
organizando e compondo novas formas de gerir e avaliar o serviço público, as
políticas públicas e a produção do bem comum.

4 DIREITOS
Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, no calor do
fim da Segunda Guerra Mundial, os direitos do ser humano tomaram consciência
e força. E com o passar dos anos tornou-se cada vez mais interveniente, uma vez
que a história humana foi marcada por muitas barbáries.

59
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

FIGURA 13 – DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-wtiW0aElgKU/TlI61Z0pS6I/AAAAAAAAAfE/


uJ6NNL6ijiM/s640/declaracao_direitos_humanos_1.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2012.

No Brasil contamos com diversas leis que têm como princípio observar
e garantir os direitos humanos, tal como a própria Constituição Federal de 1988
(BRASIL, 1988), artigos 5 e 6 do Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais,
a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, conhecida como o Estatuto do Idoso,
a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, com alterações dadas pela Lei nº 8.242, de
12 de outubro de 1991, conhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente,
e a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil, ou seja, as
principais normas de civilidade e direitos sociais.

60
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

5 CIDADANIA
A cidadania vem da ideia de polis, que quer dizer cidade, em que na Grécia
antiga as pessoas se reuniam e participavam nas decisões do bem comum. Com o
passar do tempo, o conceito de cidadania foi ampliado aos deveres e direitos dos
seres humanos e ao conjunto de valores da sociedade, mas no senso comum está
sempre mais ligado à preservação dos direitos e identidade dos seres humanos e
capacidade de participação.

FIGURA 14 – CIDADANIA

FONTE: Disponível em: <http://www.canalkids.com.br/cidadania/genteboa/


index.htm>. Acesso em: 15 jan. 2012.

5.1 CONCEITO DE CIDADANIA


A origem da palavra cidadania vem do latim civitas, que quer dizer
cidade, assim como a polis do grego, dando o sentido da participação de todos
nos processos decisórios, frente aos deveres e direitos. Como define Dallari
(1998, p. 14), “a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a
possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo”.
Nesse sentido dado à cidadania, as pessoas eximidas de seus direitos tornam-se
excluídas do processo de cidadania.

Para efeito da cidadania, parece que o ser humano, pessoa, indivíduo ou


cidadão tenha singularidades, pelo contrário, nos parece mesmo que, qualquer
que seja a etimologia ou simbologia, os seres humanos – pessoas – indivíduos -
cidadãos são iguais em plenos direitos e deveres.

Corrêa (2002) classifica o ser, a fim de mostrar que a cidadania abrange mais
os seres sob o ponto de vista dos direitos e deveres e também do ponto de vista das
atitudes e comportamentos, como podemos observar no quadro a seguir:

61
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

QUADRO 4 – A EVOLUÇÃO DO SER

O SER HUMANO O SER INDIVÍDUO O SER PESSOA O SER CIDADÃO


Pertence ao mundo Pertencente a um Es-
Diz respeito à espé- Um representante en-
civilizado, ou a soma tado livre, com direi-
cie, à classificação, tre a espécie. Pode-se
de valores morais, éti- tos civis e políticos, e
àqueles que possuem considerar também os
cos, jurídicos próprios também desempenha
razão. animais.
da civilização. os deveres.

FONTE: Disponível em: <www.portaldosfilosofos.com.br>. Acesso em: 4 abr. 2012.

As questões filosóficas sempre trouxeram a questão do ser e do devir, e


essa ontologia do ser transformou-se ao longo do seu contexto histórico, da sua
prática, por que não dizer, até de seu espaço geográfico.

Dessa forma, poderíamos observar o Ser cada vez mais abrangente, no


sentido de participação, comprometimento, autonomia e criticidade. A figura a
seguir demonstra essa evolução:

FIGURA 15 – AS DIMENSÕES DO SER

* Ser Cidadão

* Ser Pessoa

* Ser Indivíduo

* Ser Humano

FONTE: Adaptado de: Corrêa (2002)

Contudo, não se pretende aqui reafirmar a importância da classificação


apresentada por Corrêa (2002), mas sim apresentar que a equação dos seres
sofre evolução naturalmente, da mesma forma que a sociedade transforma suas
atitudes, seus pensamentos e seus comportamentos.

62
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

A vida a todo tempo nos dá oportunidade de fazer escolhas, e são essas


escolhas que nos possibilitam sermos. Embora em cada ambiente ou organização
em que estejamos inseridos possamos desempenhar distintos papéis, ainda
assim a essência do ser humano não se distingue porque exercermos uma ou
outra função. Em outras palavras, quando falamos de ética, devemos ser éticos
em qualquer que seja a nossa função em determinada organização, e mais,
continuarmos sendo em nossas atitudes cotidianas, assim como prevê o Decreto
no 1.171 de 1994, item VI do Capítulo I (BRASIL, 1994):

A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto,


se integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos
e atos verificados na conduta do dia a dia em sua vida privada poderão
acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional.

Vejamos algumas das questões colocadas por Vázquez (2003, p. 15) a esse
respeito:

Devo dizer sempre a verdade ou há ocasiões em que devo mentir?


Quem, numa guerra de invasão, sabe que o seu amigo Z está
colaborando com o inimigo, deve calar, por causa da amizade, ou deve
denunciá-lo como traidor? Podemos considerar bom o homem que se
mostra caridoso com o mendigo que bate à sua porta e, durante o dia –
como patrão – explora impiedosamente os operários e os empregados
da sua empresa?

Diante dessas questões, e com um pouco de observação, podemos tirar no


dia a dia muitas atitudes humanas que ora permitem a coerência do ser humano
com seus princípios éticos e morais, mas ora divergem conforme os interesses
pessoais e momentâneos.

A relação entre meios e fins pressupõe que a pessoa moral não existe
como um fato dado [...], mas é instaurada pela vida intersubjetiva e social,
precisando ser educada para os valores morais e para as virtudes.

FONTE: Disponível em: <http://www.seuconcurso.com.br/interpretsss/inter09.htm>. Acesso em:


28 mar. 2012.

A cidadania é, portanto, reflexo das ações do Estado, e o ensino público


torna-se também reflexo de como essa cidadania pode ser absorvida. Demo
(1995) destaca um comparativo entre cidadania e formas de Estado, que pode ser
observado no quadro que segue:

63
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

QUADRO 5 – O ESTADO PELO PONTO DE VISTA DA CIDADANIA


ESTADO VISTO PELOS TIPOS DE CIDADANIA
CIDADANIA DEFINIÇÃO FUNÇÃO CONSTITUIÇÃO TAMANHO
Equalização de
Democrático Legítimo e
EMANCIPADA Serviço público oportunidades;
(direito) necessário
redistributivo
Reserva de
Apropriada Força, exceção,
TUTELADA privilégios e Mínimo
privadamente privilégio
vantagens
ASSISTIDA Proteção Distributivo Assistencial Máximo
FONTE: Demo (1995, p. 16)

Na verdade, o título do quadro acima sugere o Estado consequente à


cidadania, quando na verdade a cidadania é eminente ao Estado. De qualquer
forma, o quadro é ilustrativo para que possamos observar, dentro do ensino
público, o tipo de cidadania que está sendo fomentada.

Como se poderá observar posteriormente, no Brasil, o Estado é Democrático


e de Direito, posto pela Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), mas será que
a nossa cidadania é emancipada? O que se tem nas escolas são políticas públicas
voltadas à cidadania assistida, tais como: bolsa escola, alimentação escolar,
uniforme e materiais gratuitos, livros, leite e pão como reforço para os fins de
semana. Essa dicotomia entre emancipação e assistência é contribuição que o
Estado impõe à educação, sobrecarregando-a de ações sociais que distorcem a
sua contribuição à efetividade da cidadania emancipada.

Demo (1995, p. 16) conceitua cidadania como a “competência humana de


fazer-se sujeito, para fazer história própria e coletivamente organizada”. Covre
(1991), em seu livro dedicado ao tema, além de considerar as questões históricas,
filosóficas e sociológicas que permeiam o conceito, de forma simples, resume
cidadania ao direito pleno à vida.

Numa perspectiva diferente sobre cidadania, sob aspectos na mão dupla


entre Estado e cidadão, Demo (1995) desdobra a cidadania em três tipos: cidadania
tutelada, cidadania assistida e cidadania emancipada. Essa ideia coaduna com
os autores Alonso, López e Castrucci (2010) quando das obrigações sociais e
emergenciais do governo.

● Cidadania tutelada: é a cidadania que a elite econômica e política pratica,


excludente e de privilégios (Paternalismo).

● Cidadania assistida: a sociedade começa a ter noção de seus direitos e estes


devem ser garantidos pelo Estado (Assistencialismo).

● Cidadania Emancipada: é o governo proativo, que faz uso da democracia e tem


o entendimento de que o Estado deve servir e buscar medidas que conduzam
ao bem comum.
64
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

QUADRO 6 – ESTADO VISTO PELOS TIPOS DE CIDADANIA


CIDADANIA DEFINIÇÃO FUNÇÃO CONSTITUIÇÃO
Emancipada Serviço público Equidade Democrático
Apropriada Força, exceção,
Tutelada Reserva de privilégio
privadamente privilégio
Assistida Proteção Distributivo Assistencial
FONTE: Demo (1995, p. 17)

O quadro a seguir demonstra que a administração pública vestida de


Estado deve superar os estágios de assistencialismo e tutelar, a fim de propor
a emancipação de servir aos seus cidadãos as diretrizes dos valores morais do
âmbito do universalismo.

QUADRO 7 – DESENVOLVIMENTO DO HOMEM EM RELAÇÃO AOS FINS

Desenvolvimento humano sustentado


Com respeito aos FINS
Equidade
Democracia
Direitos Humanos
Bem comum
Superar a pobreza política (ignorância)
Promover formação do sujeito histórico coletivamente competente
Educação de qualidade para todos
Associativismo

FONTE: Demo (1995, p. 18)

O conceito de cidadania emancipada transforma o desenvolvimento


humano sustentado no que diz respeito aos fins, ou seja, as premissas de uma
sociedade democrática e que visa ao bem comum.

UNI

A leitura complementar é muito importante, porque além de dar maiores referências


sobre os temas discutidos, permite um aprofundamento do tema principal e suas ramificações.
Nesse sentido, a proposta da leitura complementar a seguir é indicar um estudo que proporcionará
o enriquecimento do conteúdo e também o descobrimento de novos conhecimentos.
Esse texto é resultado de uma entrevista realizada pela professora Maria Lúcia Toralles-
Pereira (Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista/UNESP), com
colaboração de Adriana Ribeiro (assistente editorial da Revista Interface, Fundação Uni) ao
Doutor Roberto Romano.

65
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

NOTA

Roberto Romano é filósofo, com doutorado na École des Hautes Études en


Sciences Sociales, Paris, professor adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Estadual
de Campinas - Unicamp, onde exerce o cargo de vice-diretor. Com inúmeras publicações na
área de Ciências Sociais, é figura incontestável no cenário intelectual brasileiro, por expressar
posicionamentos críticos sobre temas extremamente complexos e de grande relevância atual.
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-328320
02000100012>. Acesso em: 28 mar. 2012.

LEITURA COMPLEMENTAR

SOBRE ÉTICA E MORAL

Roberto Romano

Procuro sempre, no interior da vida intelectual brasileira, discutir criticamente


o conceito imperante de ética, porque vejo nele um grande perigo. No Brasil de hoje,
quando se fala no assunto, o termo recebe quase imediatamente a conotação de algo
positivo, desejável e bom. A ética definiria as regras de ação recomendáveis para o
coletivo e os indivíduos. Semelhante identificação do ético com o bom é problemática.
O conceito de ética é mais abrangente do que as noções de bem e de mal, pois significa
o conjunto de hábitos introduzidos e reiterados num determinado tempo e sociedade,
tornando-se quase automáticos nas consciências humanas, como se fossem uma
segunda natureza. Qualquer ato nosso, reflexivo ou ativo, pode ter conotação boa ou
má. Muitos hábitos coletivos, introduzidos no transcurso da história, sobretudo no
Ocidente, na Europa e Américas, são nocivos à vida espiritual. Há o campo enorme
de representações coletivas que a Filosofia do século XVII ou XVIII definia como
"preconceitos". Que um valor seja aceito por sociedades nacionais ou transnacionais
como inquestionável é um ponto. Que ele seja inquestionável é algo muito diferente.

Por exemplo, temos o antissemitismo. Trata-se de uma forma de


comportamento presa ao conjunto de valores surgidos na Idade Média, a partir
de equívocos doutrinários, históricos e religiosos. Ao longo da Idade Média e no
início do Estado Moderno, ele foi ampliado por problemas de ordem econômica
e política, sendo reiterado por juízos equivocados, emitidos por grandes
homens e líderes religiosos, como é o caso de Lutero. Na História Moderna ele
foi repetido pelos seguidores de Lutero e também do catolicismo. No século
XIX o antissemitismo uniu-se às doutrinas supostamente científicas, de cunho
racista. Tais doutrinas foram espalhadas por meio da imprensa, das cátedras
universitárias, dos livros, e tornaram-se uma forma "espontânea" de pensar entre
largas camadas da população. Na Alemanha, quando surgiu o nazismo, ele já
encontrou um solo fértil de atitudes diante do judeu, do árabe etc. O nazismo

66
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

vem coroar um costume plenamente ético, mas hediondo e imoral, já que sapa a
consciência moral que exige a unidade do ser humano: judeus, árabes ou negros,
todos integram o ser humano. O ético, assim entendido, tem um atrativo muito
grande, porque nele se descreve o “concreto”, a vida do povo.

O moral é mais abstrato, porque apela para a consciência invisível. Mas o


moral é importante para verificarmos a veracidade, a bondade do ético. Este último
é necessariamente coletivo: não existe ética individual. Já o moral apresenta-se
coletivamente, mas tem sua vigência na individualidade. O juízo moral exige
que se suspenda temporariamente o juízo ético, pois ele é mais exigente que o
ético. Quem defende uma linha puramente ética da cultura, critica o chamado
“moralismo” - o moralismo abstrato - porque ele seria uma afirmação de valores
que não se corporifica imediatamente, enquanto o contrário ocorre com o ético.

O ético, pois, é muito mais atraente. A “opinião pública” quase sempre é


ética (o que não quer dizer que é exata!). Há casos horrendos de costumes éticos,
como, por exemplo, no caso brasileiro, a falta de respeito pelas leis de trânsito. Esta
atitude coletiva entre nós pode ser vista, pelos estudiosos do fato ético, como um
costume sancionado. Mas trata-se de algo plenamente imoral, porque nele tem-se
em mente a prioridade do material sobre o espiritual. Se alguém possui condições
econômicas para adquirir um veículo importado da marca Audi, consegue o
direito de matar. Na consciência dos atores sociais existe esse direito, o que é
profundamente imoral e antiético, no sentido correto da palavra. Não há dono de
carro Audi (a não ser que ele seja um sujeito moral extremamente elevado), que
não acredite: sua posse de um Audi goza do privilégio de andar a 170 quilômetros
por hora numa estrada pública. A própria propaganda da Audi incentiva isso:
“quando você enxergar esse logotipo, passe para a direita”. Atribui-se aos donos
de veículos o estatuto de semideuses, acima do bem e do mal.

Por tudo isso eu me preocupo muito com a veiculação sem prudência


da “ética” como se ela fosse um corretivo para a sociedade brasileira. Acho
que a nossa vida social, inclusive a universidade e a pesquisa brasileiras, estão
profundamente marcadas por traços éticos indesejáveis.
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832002
000100012>. Acesso em: 28 mar. 2012.

67
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À ÉTICA

UNI

Existem algumas referências técnicas que poderão ajudá-lo(a) no aprofundamento


do conceito de ética e moral, como também existem obras literárias e filmes que ajudarão
você a ampliar o seu conhecimento, principalmente no que se refere às condutas morais.
Vejamos:

• Ética: BOFF, Leonardo. Ética e Moral: a busca dos fundamentos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

• Ética profissional: SÁ, Antônio L. de. Ética profissional. São Paulo. Atlas, 1996.

• Política: ARISTÓTELES. Política. Tradução Mário da Gama Kury, Brasília: UnB, 1989.

• Infanticídio: XINRAN, Sue. Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida. Tradução


Caroline Chang. São Paulo. Companhia das Letras, 2011.

Xinran é jornalista e nesse livro conta as histórias verídicas de mulheres


chinesas em relação à cultura machista do único filho homem. São dez
histórias que contam a interrupção da relação mãe e filha.

• Poligamia: CHIZIANE, Paulina. NIKETCHE: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia
das Letras, 2004.

Esse livro é um romance que aborda a questão da poligamia. Rami, a


personagem do livro, é casada com Tony por 20 anos, até que ela descobre
que o marido possui várias outras mulheres e filhos. Esse livro retrata a
cultura de Moçambique em relação à prática e costume da poligamia.

68
TÓPICO 4 | RELAÇÕES HUMANAS

• Excisão feminina ou circuncisão feminina: WARIS, Dirie; MILLER, Cathleen. Flor no deserto.
São Paulo: Editora Hedra, 2001.

Esse livro é um relato de Waris Dirie, modelo internacional e


embaixadora das Organizações das Nações Unidas – ONU, em que luta
pela erradicação da mutilação genital feminina. Nascida no deserto da
Somália, Waris Dirie foi mutilada igualmente a muitas outras meninas.
Ela foge de seu país e chega a Londres, onde desenvolveu trabalhos
domésticos até se projetar mundialmente como modelo e porta-voz da
luta contra a circuncisão feminina.

• História da mulher no Brasil: DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. São
Paulo: Contexto, 1997.

Essa obra conta a trajetória das mulheres, desde o Brasil colonial. O


livro conta a história da mulher, os principais aspectos de seu tempo e
interseções como: família, trabalho, mídia, literatura, violência, entre outros.

• VIDEOTECA

Flor do Deserto (2009)


Filme baseado no livro de autobiografia da modelo somali Waris Dirie,
circuncidada aos cinco anos e vendida para um casamento arranjado.
A garota fugiu, atravessando o deserto por dias e passou o resto da
adolescência sem ser alfabetizada. Foi para os Estados Unidos, descoberta
por um fotógrafo e se tornou uma modelo mundialmente conhecida, além
de ser embaixadora da ONU no combate à mutilação genital feminina.

69
RESUMO DO TÓPICO 4
No Tópico 4 apresentaram-se as relações humanas dentre as suas
principais interações entre indivíduos e Estado. Foi possível, portanto:

● Compreender as relações humanas e sociais.

● Introdução à responsabilidade social pelas organizações públicas e privadas.

● O entendimento quanto aos direitos humanos.

● O conceito de cidadania.

● Os desdobramentos da cidadania do ponto de vista do cidadão e do Estado.

70
AUTOATIVIDADE

1 Depois de efetuar a leitura do Tópico 4, como você conceitua relações sociais?

2 O que você entendeu como urbanidade e civilidade?

3 Como você poderia explicar o conceito de responsabilidade social?

4 O que é cidadania? Para responder a essa pergunta, sugiro que você, caro(a)
acadêmico(a), faça uma pesquisa aos dicionários de filosofia e ciência
política. Você verá como é prazeroso conhecer as palavras pela sua gênese
para contextos diferentes.

5 De acordo com Pedro Demo (1995), classifique os tipos de cidadania e


explique-os.

6 De acordo com Srour (2011, p. 132):

No renomado Hospital das Clínicas de São Paulo há uma fila dupla


ou “dupla entrada”: os pacientes particulares e de convênio enfrentam
filas bem menores do que os pacientes do Sistema Único de Saúde
(SUS), público e gratuito. Na radiologia, por exemplo, um paciente
do SUS pode esperar quatro meses para fazer um exame de raios X,
enquanto um paciente de convênio leva poucos dias para conseguir
o mesmo exame. A situação se repete para conseguir fazer uma
ressonância magnética, exames laboratoriais, consultas e cirurgias.

Do ponto de vista da cidadania, como você caracteriza essa situação?

71
72
UNIDADE 2

ÉTICA PROFISSIONAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender o conceito de ética profissional;

• verificar a importância dos ofícios e em especial da administração pública;

• identificar o ato administrativo;

• compreender as organizações públicas em relação às suas funções sociais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos e, no final de cada um deles,
você encontrará atividades que o(a) ajudarão a assimilar cada vez mais o
conteúdo proposto.

TÓPICO 1 – PROFISSÃO E SUAS CONDUTAS

TÓPICO 2 – O ATO ADMINISTRATIVO

TÓPICO 3 – AS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS

73
74
UNIDADE 2
TÓPICO 1

PROFISSÃO E SUAS CONDUTAS

1 INTRODUÇÃO
Esse Tópico 1 procura colocar as questões éticas e morais em reflexão
às práticas profissionais, para que essas práticas possam ser entendidas e
interiorizadas não só pela força da lei, mas, principalmente, pelos valores
humanos e pela função principal da administração pública, que é servir e primar
pelo bem comum.

2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROFISSÃO


Toda profissão tem sua função social, seja em qual nível for. A sociedade
precisa dos garis, dos advogados, dos pintores, dos artistas, dos médicos,
entre tantas outras profissões. É o conjunto dos ofícios que faz a sociedade se
desenvolver e se harmonizar.

Visto dessa forma, não há hierarquia de importância, todas são


importantes. O que acontece é que uma ou outra, pela sua remuneração e
exigência de maior empenho de conhecimento, eleva a uma escala social mais
prestigiada e privilegiada.

As empresas privadas visam lucros e as suas prestações de serviços compõem


a sociedade em suas demandas, mas não deixam de ter a sua função social. Já a
administração pública, desprendida do lucro financeiro, tem como função social
redobrada servir aos cidadãos e contribuir para uma sociedade cada vez melhor.

2.1 VALOR SOCIAL DA PROFISSÃO


Qual seria então o valor social da profissão de gestor público? Essa
pergunta é importante, porque fará com que você, acadêmico(a) do curso de
Gestão Pública, possa vislumbrar as suas responsabilidade e contribuição perante
a sociedade. Então vamos discuti-las.

Em primeiro lugar é preciso que, para que haja qualidade de vida e


desenvolvimento das organizações públicas, o valor social do gestor público deve
estar baseado em valores e virtudes, como observa Camargo (2009) em relação
aos valores primários:

75
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

FIGURA 16 – VALORES PRIMÁRIOS DO GESTOR PÚBLICO

PRUDÊNCIA

JUSTIÇA

FORTALEZA

TEMPERANÇA

FONTE: Adaptado de: Camargo (2009, p. 35)

Os valores primários significam:

● Prudência: “Qualidade de quem age com comedimento, buscando evitar tudo que
julga fonte de erro ou de dano; cautela, precaução”. (FERREIRA, 2009, p. 602).

● Justiça: “A virtude de dar a cada um aquilo que é seu; a faculdade de julgar


segundo o direito e melhor consciência”. (FERREIRA, 2009, p. 441).

● Fortaleza: “Qualidade ou virtude dos fortes; solidez, segurança; força, energia


moral; forte”. (FERREIRA, 2009, p. 357).

● Temperança: “Qualidade ou virtude de quem modera apetite e paixões.


(FERREIRA, 2009, p. 704).

Ao percorrer os principais livros do tema em ética e administração


pública, dificilmente se deixam de observar tais valores como primários à função
do gestor público.

“A prudência é a reta noção daquilo que se deve fazer ou evitar, exigindo


o conhecimento dos princípios gerais da moralidade e das contingências
particulares da ação”. (CAMARGO, 1999, p.35). Em outras palavras, a prudência
para o gestor público é ter ações administrativas em acordo com os princípios da
administração pública.

A justiça, de acordo com Camargo (1999, p. 35-36), é a vontade de respeitar


todos os direitos e deveres, “é a disposição de dar a cada um o que é seu de
acordo com a natureza, a igualdade ou a necessidade”, é a justiça a base da vida
em sociedade em comum.

A fortaleza é a determinação de caráter diante das inúmeras possibilidades


de se corromper em vícios. Como discorre Camargo (1999, p. 36), “a fortaleza é
uma firmeza interior contra tudo o que molesta a pessoa neste mundo, fazendo-a
vencer as dificuldades e os perigos que excedem a medida comum e sofrer as
penas mais pesadas”.

76
TÓPICO 1 | PROFISSÃO E SUAS CONDUTAS

A temperança é a regra, é a moderação, a sobriedade, “é o meio justo entre


o excesso e a falta”; “exige sensatez baseada num pensamento flexível e firme”.
(CAMARGO, 1999, p. 36).

2.2 RESPONSABILIDADE DA PROFISSÃO


Os valores vistos anteriormente que determinam o valor social e moral da
profissão de gestor público intensificam a responsabilidade da profissão. A profissão
do gestor público é permeada de diversas questões, pois ele, mais do que nunca, está
inserido num contexto social e político. Ao mesmo tempo, ele é referência, é exemplo
das questões morais para os demais cidadãos.

Por esses e tantos outros motivos é que o funcionário, servidor, gestor


público é investido dos anseios e necessidades da sociedade. O serviço público,
além de garantir o bom andamento da sociedade, é constituído de representantes
dessa mesma sociedade.

FIGURA 17 – AÇÕES DO ADMINISTRADOR

CONSCIÊNCIA

RACIONALIDADE SUBSTANCIAL

AÇÕES DO ADMINISTRADOR

RACIONALIDADE FUNCIONAL

RESPONSABILIDADES

FONTE: Adaptado da preleção de Brito (2005)

A figura anterior representa a ação do administrador público que é


provinda da sua consciência e responsabilidade. A consciência são as convicções
do administrador como ser humano, ou seja, os valores morais baseados na
prudência, justiça, fortaleza e temperança.

A responsabilidade está baseada nos princípios da administração pública,


nas regras da organização, nos códigos morais vigentes e, principalmente, na
finalidade do administrador quando em exercício de sua função e profissão.

77
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

A consciência permite que o administrador possa fazer escolhas do ponto


de vista humano, que se denomina racionalidade substancial, enquanto que a
responsabilidade o permite fazer escolhas úteis, baseadas em critérios racionais
que vêm a ser melhor e mais adequadas, sob o ponto de vista da vantagem.

3 TOMADA DE DECISÃO E ÉTICA


De acordo com Chiavenato (2003, p. 605-606), a ética somada à
responsabilidade social beneficia as organizações em três aspectos:

1. Aumento da produtividade – quando a organização enfatiza a


ética como determinante para as ações, isso afeta os funcionários
positivamente. E também incentiva que o bem-estar de todos é
importante e deve ser preservado e assegurado.
2. Melhoria da saúde organizacional – práticas éticas melhoram a saúde
dos funcionários e dão visibilidade positiva aos que não fazem parte da
organização.
3. Minimização de regulamentação governamental – quando as
organizações são confiáveis quanto à ação ética, a sociedade deixa
de pressionar por uma legislação que regule mais intensamente os
negócios.

FIGURA 18 – SER OU NÃO SER

FONTE: Disponível em: <http://englishmaze.files.wordpress.com/2011/07/


hamlet_shakespeare1.jpg>. Acesso em: 20 jan. 2012.

78
TÓPICO 1 | PROFISSÃO E SUAS CONDUTAS

Em toda profissão a tomada de decisão é sempre presente, os profissionais


têm que fazer escolha. As escolhas na gestão pública são engessadas em
princípios e leis, ainda assim cabe ao gestor ou ao servidor público fazer escolhas,
principalmente no que se refere à sua consciência e responsabilidade.

A próxima figura se refere a uma atividade que é desenvolvida para


ajudar na escolha profissional, mas aqui proposta com uma finalidade maior,
que é tomar a decisão da escolha, fazer a justificativa baseada na racionalidade
substancial e funcional e, por fim, agir como um gestor público em prol do bem
comum. A escolha é bem difícil!

FIGURA 19 – NAVE DE NOÉ

O planeta Terra será destruído e uma


nave especial será enviada a outro
planeta para iniciar uma nova vida. Só
cabem sete pessoas nesta nave. Indique
quais, dentre as pessoas da lista abaixo,
você acha que deveriam ser escolhidas.
Médico Administrador
Cozinheiro Lixeiro
Professor Jornalista
Músico Engenheiro
Artista Plástico Dentista
Advogado Psicólogo
Prostituta Filósofo
Orientador religioso

FONTE: A autora

No caso aqui proposto, essa atividade poderá ser respondida no exercício,


mas é importante a sua apresentação para que o(a) acadêmico(a) possa iniciar
seu pensamento a respeito tanto da tomada de decisão, quanto do tipo de
racionalidade que deve ser investido na solução desse caso. Vamos entender
melhor o que é a racionalidade substancial e funcional do ponto de vista da ética!

79
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

3.1 RACIONALIDADE ÉTICA


Na ação administrativa em diversas situações, desde as tomadas de
decisões mais rotineiras até as ações maiores de escolhas de políticas públicas,
o gestor público tem que decidir baseado na discricionariedade que lhe cabe e, é
claro, sempre visando ao bem comum, ao melhor para todos, enfim, ao interesse
da coletividade.

NOTA

“Poder discricionário é o que o Direito concede à administração, de modo


explícito ou implícito, para a prática de atos administrativos com liberdade de escolha de sua
conveniência, oportunidade e conteúdo”. (MEIRELLES, 2006, p. 118).

A razão vem do latim ratio, que por sua vez origina-se do verbo reor,
que quer dizer: contar, reunir, medir, calcular. De acordo com o Dicionário de
Filosofia, existem quatro principais significados fundamentais (ABBAGNANO,
2007, p. 969-970):

1. É a faculdade própria do homem que o distingue dos animais,


dando-lhe capacidade de indagação e investigação.
2. Fundamento e a razão de ser do homem.
3. Argumento ou prova, é estar com a verdade.
4. Relação no sentido matemático, ou seja, a razão nesse sentido deve
ter condições de ser explicada e demonstrada.

Nesse sentido, baseado em Max Weber, pode-se dizer que existam duas
racionalidades que regem a ação administrativa: racionalidade substancial e a
racionalidade funcional. Weber define ação social associando-a aos alicerces do
conceito sociológico de racionalidade. Weber distingue a ação social: a racional
no tocante aos fins, a racional no tocante aos valores.

NOTA

Maximilian Carl Emil Weber (1864-1920) foi um intelectual alemão, jurista,


economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. Suas principais obras são
Economia e sociedade e A ética protestante e o espiríto do capitalismo.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber>. Acesso em: 29 mar. 2012.

80
TÓPICO 1 | PROFISSÃO E SUAS CONDUTAS

Na racionalidade funcional não se aprecia propriamente a qualidade


intrínseca das ações, mas o seu maior ou menor concurso, numa série de
outras, para atingir uns fins preestabelecidos, independente do conteúdo que
possam ter tais ações.

A racionalidade substancial é todo ato intrinsecamente inteligente, que


se baseia num conhecimento lúcido e autônomo das relações entre os fatos. A
razão preside o ato.

FONTE: Disponível em: <ftp://bbs.quasarbbs.net/universi/tesi2/Tesi04/040131MF.pdf>. Acesso em:


29 mar. 2012.

A racionalidade substancial está relacionada à preservação da liberdade, e


é pertinente à ética das convicções, “envolve não apenas a consideração da ação,
como a sua finalidade e consequências”. (FISCHER, 1984, p. 280). A racionalidade
funcional centra-se em fins e objetivos, a partir dos seguintes critérios: focaliza
um objetivo definido e pressupõe ações que atingirão um rendimento máximo.

Por fim, a contribuição dos textos percorrida nessa dissertação infere no


entendimento da evolução histórica da administração pública e dos serviços
públicos e nas transmutações dos paradigmas.

Embora uma ou outra racionalidade esteja baseada nos significados


fundamentais apresentados por Abbagnano (2007), e também nos princípios
morais de prudência, justiça, fortaleza e temperança, ainda assim existe uma
tenuidade que as distingue.

No quadro a seguir, observa-se que a ação administrativa é provinda da


consciência e da responsabilidade e essas faculdades humanas possibilitam o uso
de uma ou outra racionalidade. Então a ação administrativa pode ser realizada
por duas racionalidades:

QUADRO 8 – ANÁLISE DA RACIONALIDADE SUBSTANTIVA E INSTRUMENTAL

Tipos de racionalidades
Racionalidade
X Racionalidade Substantiva
Instrumental
Processos organizacionais
Fins
Entendimento
Hierarquia e normas Desempenho
Julgamento ético
Estratégia interpessoal
Autorrealização Utilidade
Valores e objetivos Valores emancipatórios Fins
Julgamento ético Rentabilidade
Cálculo
Entendimento Utilidade
Tomada de decisão
Julgamento ético Maximização de
recursos

81
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

Maximização de
recursos
Controle Entendimento
Desempenho
Estratégia interpessoal
Maximização de
Autorrealização
recursos
Divisão do trabalho Entendimento
Desempenho
Autonomia
Cálculo
Autenticidade Desempenho
Comunicação e relações
Valores emancipatórios Êxito/resultados
interpessoais
Autonomia Estratégia interpessoal
Ação social e
Valores emancipatórios Fins
relações ambientais
Êxito/resultados

Desempenho
Julgamento ético
Reflexão sobre a organização Fins
Valores emancipatórios
Rentabilidade
Julgamento ético Cálculo
Conflitos Autenticidade Fins
Autonomia Estratégia interpessoal
Autorrealização
Desempenho
Satisfação individual Autonomia
Utilidade

Autorrealização Utilidade
Dimensão simbólica Valores emancipatórios Êxito/resultados
Desempenho

FONTE: Serva (1997, p. 22)

ATENCAO

Racionalidade substantiva se manifesta pelos valores intrínsecos.

Serva (1997) baseia seu artigo em Guerreiro Ramos e Habermas para a


identificação das duas racionalidades e a predominância de uma delas, como
demonstrado no quadro anterior.

A racionalidade substantiva é composta de duas dimensões: individual e


coletiva. Na dimensão individual, que se refere à autorrealização; na dimensão
coletiva, que se refere ao entendimento da responsabilidade e satisfação sociais.
Nesse sentido, existem algumas ações a serem entendidas:

82
TÓPICO 1 | PROFISSÃO E SUAS CONDUTAS

a) autorrealização: é a satisfação do ser humano na concretização de suas ações;

b) entendimento: são os acordos e consensos, mediados pela comunicação livre;

c) julgamento ético: deliberação baseada em juízos de valor (bom, mau,


verdadeiro, falso, certo, errado etc.);

d) autenticidade: integridade, honestidade e franqueza dos indivíduos nas


interações;

e) valores emancipatórios: valores de mudança e aperfeiçoamento do social nas


direções do bem comum, da solidariedade, do respeito à individualidade,
da liberdade e do comprometimento, presentes nos indivíduos e no contexto
normativo do grupo;

f) autonomia: condição plena dos indivíduos para poderem agir e expressarem-


se livremente nas interações.

FONTE: Adaptado de: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-76122011000500005&script


=sci_arttext>. Acesso em: 29 mar. 2012.

DICAS

Racionalidade instrumental se manifesta pelo valor do custo-benefício.

A racionalidade instrumental e seus elementos têm sua ação baseada


no cálculo, orientada para o alcance de metas técnicas ou de finalidades
ligadas a interesses econômicos ou de poder social, através da maximização
dos recursos disponíveis:

a) cálculo: projeção utilitária das consequências dos atos humanos;

b) fins: são as metas de natureza técnica, econômica ou política;

c) maximização dos recursos: busca da eficiência e da eficácia máximas,


no tratamento de recursos disponíveis, quer sejam humanos, materiais,
financeiros, técnicos;

d) êxito/resultados: alcançar padrões, níveis, que são considerados como


vitoriosos em face de processos competitivos numa sociedade capitalista;

83
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

e) desempenho: performance individual elevada na realização de atividades,


centrada na utilidade;

f) utilidade: dimensão econômica considerada na base das interações como


um valor generalizado;

g) rentabilidade: medida de retorno econômico dos êxitos e dos resultados


esperados;

h) estratégia interpessoal: influência sobre outrem.

FONTE: Adaptado de: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-76122011000500005&script=s


ci_arttext>. Acesso em: 29 mar. 2012.

A racionalidade substancial, que é determinada pela consciência do


ser humano, são ações administrativas comprometidas com a humanidade, a
exemplo dos valores morais. A racionalidade funcional está comprometida com
os aspectos da finalidade administrativa, a exemplo dos códigos de ética, leis,
regimentos, regulamentos, entre tantos outros registros de procedimentos e
condutas administrativas.

3.2 ÉTICA DA CONVICÇÃO E ÉTICA DA RESPONSABILIDADE


Nesse sentido, pode-se dizer que existam duas racionalidades que
regem a ação administrativa: racionalidade substancial (ética das convicções) e a
racionalidade funcional (ética da utilidade).

A) Ética da responsabilidade: corresponde à ação racional referida


a fins. Seu critério fundamental é a racionalidade funcional ou
pragmática. Os que a adotam se acham sob o vínculo de um
compromisso: o de, pelo autodomínio dos impulsos, das preferências
e até das crenças e ideologias, autorracionalizarem a sua conduta,
tornando-a parte funcionalmente racional da ação administrativa.
B) Ética do valor absoluto/da convicção: está implícita em toda ação
referida a valores, isto é, por estimações e avaliações, das quais decorre
a sua concepção de mundo, e seu ideal de realização própria e social.
(RAMOS, 1983 p. 42 e 44).

84
TÓPICO 1 | PROFISSÃO E SUAS CONDUTAS

FIGURA 20 – AÇÃO ADMINISTRATIVA: ÉTICA DAS CONVICÇÕES E ÉTICA DA UTILIDADE

RACIONALIDADE SUBSTANCIAL

ÉTICA DAS CONVICÇÕES

AÇÃO
ADMINISTRATIVA

RACIONALIDADE FUNCIONAL

ÉTICA DA UTILIDADE

FONTE: Adaptado de Ramos (1983)

A racionalidade substancial está ligada à ética das convicções ou do valor


absoluto, ou seja, a ação administrativa deve estar pautada nos critérios racionais, ou
seja, para todos ou para nenhum. Na racionalidade funcional, a ação administrativa
está ligada à ética da utilidade, ou seja, uma ação voltada para beneficiar um maior
número de pessoas, ou melhor, para determinado segmento da sociedade.

O que na gestão pública pode-se ter como exemplo quanto aos dois tipos
de racionalidade?

Quanto à racionalidade substancial tem-se como exemplos: farmácia popular


(remédios de pressão), ensino fundamental público; nesses dois exemplos não precisa
comprovar renda, qualquer pessoa pode fazer uso, do mais rico ao mais pobre.

Na racionalidade funcional, a vacina contra a Influenza A, também conhecida


como H1N1, é um exemplo; foi distribuída gratuitamente à sociedade para
determinados segmentos, como: pessoas mais idosas, com idade igual ou superior a
60 anos, mulheres grávidas, pessoas com problemas crônicos de saúde, profissionais
da área da saúde e também crianças com idade entre seis meses e dois anos.

NOTA

A Influenza A é uma doença respiratória aguda (gripe), causada pelo vírus A


(H1N1). Este vírus da influenza é transmitido de pessoa a pessoa, principalmente por meio da
tosse ou espirro, e de contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas.

85
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

4 DEVERES PROFISSIONAIS
Qualquer que seja a profissão, ela está imbuída de deveres próprios de sua
função, de seu ofício. Os deveres não são só para serem cumpridos, como também
são norteadores para que o exercício seja realizado dentre os padrões éticos.

4.1 OS DILEMAS ÉTICOS


Os dilemas éticos podem ser considerados numa situação em que o gestor
público só pode privilegiar uma ação dentre várias. No exemplo dado sobre a
vacina contra a Influenza A, pode-se supor que não haveria condições do governo
conceder a toda a população a vacina gratuitamente. Então, qual segmento escolher?

Não se pretende aprofundar no mérito aqui, mas sim buscar o exemplo


como situação hipotética. Se não havia condições de distribuir a vacina para toda
a população, passa então a existir um dilema ético. Determinar os segmentos que
receberão a dose torna-se, então, uma decisão motivada pelas maiores necessidades,
e o critério final foi distribuir vacina às faixas etárias com maior fragilidade à
doença (crianças e terceira idade), um grupo com acesso direto à iminência da
doença (profissionais da saúde) e também a um grupo com grande risco da doença
provocar complicações de saúde (grávidas e pessoas com doenças crônicas).

4.2 ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E DA LEI


Já foi abordada a consciência como algo do ser humano individualmente.
De acordo com Camargo (1999, p. 86), “a consciência é a resposta da pessoa para
si mesma”, e o autor ainda diferencia consciência da lei, assim completando:
“enquanto a lei é a resposta da sociedade para pessoa”.

Contudo, nem sempre a consciência concorda com a lei. Muitas vezes, as


pessoas gostariam que as leis fossem diferentes, ou por que são licenciadas de alguma
coisa, ou muitas vezes porque discorrem por pura crença, haja vista as manifestações
religiosas em muitas das decisões governamentais, entre outros exemplos.

86
TÓPICO 1 | PROFISSÃO E SUAS CONDUTAS

FIGURA 21 – GREVE

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-zFIgxavfimI/Tx4TkFvByLI/


AAAAAAAADLg/SR6dmKdECxo/s1600/greve-onibus.jpg>. Acesso em: 23 jan. 2012.

Dessa forma, os conflitos entre consciência e lei podem surgir, como


alguns exemplos apresentados na obra de Camargo (1999):

● Greves: existem duas situações: 1) se a greve for da sua categoria, você se


encontrará no dilema de querer ou não participar, muito embora, nem sempre a
situação lhe dará escolha; 2) se a greve não for da sua categoria, você poderá ser
afetado diretamente e assim ser licenciado de um serviço, mesmo que você não
concorde com a motivação do movimento, como na greve dos trabalhadores de
transporte público.

● Segurança nacional: impedem a liberdade de associação e toda população pode


sentir-se privada do seu direito de ir e vir livremente sem sentir-se vigiada.

● Taxas e impostos: arrecadação proposta para melhoria do bem comum, embora


por vezes pode qualquer cidadão colocar em dúvida se essa aplicação é feita
adequadamente.

Esses conflitos apresentados por Camargo (1999) representam situações que


podem levar à desordem da sociedade, uma vez que ela pode perder a credibilidade
no Estado e nas leis.

Entretanto, para cada tomada de decisão, seja em aderir à greve ou


licenciar-se do direito de ir e vir por uma causa maior ou contestar a aplicação
dos recursos financeiros do Estado, toda manifestação e movimentação deve ter a
consciência ética como condutora ou refreadora da ação escolhida.

87
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

4.3 DISCRICIONARIEDADE E ÉTICA


A discricionariedade, como aborda Meirelles (2006, p. 118-119), “é a
liberdade de ação administrativa, dentro dos limites permitidos em lei”. O autor
ainda destaca com veemência para que não se confunda com arbitrariedade, que
é uma ação administrativa contrária à lei.

E
IMPORTANT

O ato discricionário dá liberdade ao administrador público, embora nos limites


permitidos em lei.

Discricionariedade e arbitrariedade são completamente diferentes.


A discricionariedade é a liberdade dentro do limite da lei, enquanto que a
arbitrariedade é uma ação contra a lei. Portanto, qualquer ato arbitrário é ilícito e
inválido; qualquer ato discricionário é lícito e válido.

E
IMPORTANT

O ato arbitrário é qualquer ato contrário à lei.

O ato discricionário, embora pareça dotar de liberdade na ação


administrativa, é sempre relativo e parcial quanto à competência, à forma e à
finalidade do ato. Ou seja, essa liberdade de ação não é total, tem que estar nos
limites da lei.

Um exemplo de ato discricionário é a nomeação de cargos de comissão. O
governante tem a liberdade de escolha, ou seja, ele poderá nomear quem quiser.
Mas se houver limites imputados por lei, tal como: nível de escolaridade, esse
governante terá que fazer a sua escolha conforme os ditames da lei.

88
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste Tópico 1 foi possível desenvolver a reflexão acerca dos principais
elementos da ética profissional e sua principal função social, abordados pelos
principais itens:

● Compreender os limites da ética profissional.

● Identificar o valor social da profissão.

● Diferenciar racionalidade substancial da racionalidade instrumental.

● Conceituar ética das convicções e ética da utilidade.

89
AUTOATIVIDADE

1 O planeta Terra será destruído e uma nave especial, chamada Noé, será
enviada a outro planeta para iniciar uma nova vida. Só cabem sete pessoas
nesta nave. Faça uma análise pela questão da racionalidade substancial
e instrumental e indique quais, dentre as pessoas com suas respectivas
profissões da lista a seguir, você acha que deveriam ser escolhidas.

Médico Administrador
Cozinheiro Lixeiro
Professor Jornalista
Orientador religioso Engenheiro
Artista plástico Dentista
Advogado Psicólogo
Prostituta Filósofo
Músico

2 Analise o caso que segue sob a orientação da racionalidade substancial e


instrumental, bem como a ética das convicções e utilidade. Srour (2008,
p. 133) apresenta o caso das ‘Escolhas de Sofia’ para ser analisado sob a
perspectiva da ética, acompanhem o texto:

O famoso romance A Escolha de Sofia, de William Styron, conta-nos que, na


fila em direção à câmara de gás do campo de concentração de Auschwitz, Sofia recebeu
uma proposta de um guarda alemão: se quisesse salvar a própria vida e a de um filho,
tinha de deixar um dos dois filhos na fila! Dilacerada diante de tão hediondo dilema,
Sofia entregou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan. Se tivesse exercido a
ética da convicção, na sua vertente de princípio, Sofia recusaria a oferta que lhe foi feita
nos seguintes termos: “Ou os três se salvam ou morrem os três.” E por quê? Porque
vidas humanas não são negociáveis. Há como lhes definir um preço? Duas valendo
mais do que uma? A ética da convicção não tolera especulação alguma a este respeito.

Para muitos leitores, a opção de Sofia foi imoral. Outros a veem como amoral,
já que, refém de uma situação extrema, Sofia não tinha condições de fazer uma escolha.
Vamos e convenhamos: Sofia fez, sim, uma escolha – a de salvar a própria vida e a do
filho. Em troca, entregou a filha. A morte provocada nunca deixa de ser uma escolha,
haja vista os prisioneiros dos campos de concentração que preferiam o suicídio à morte
planejada que lhes era reservada. Sofia adotou a ética da responsabilidade em sua
vertente da finalidade: raciocinou que a salvação de duas vidas, em troca de uma só,
justificava a escolha; fez um cálculo; pensou cometer um mal menor para evitar um mal
maior. Ademais, imaginou provável que outros tantos milhares de irmãos de infortúnio
seguiriam seu caminho se a alternativa lhes fosse apresentada.

90
De fato, no mundo ocidental, as “escolhas de Sofia” (situações extremas em
que as opções implicam graves concessões em troca de objetivos maiores) encontram
respaldo coletivo a despeito do horror que suscitam. Num navio que afunda e que não
possui botes salva-vidas em quantidade suficiente, o que se costuma fazer? Sacrificam-
se todos os passageiros e tripulantes, ou salvam-se quantos couberem nos botes?

Consumado o fato, porém, o remorso corroeu a Sofia do romance. Ela carregou


sua angústia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potássio. Ao fim e
ao cabo, no recôndito de sua consciência, venceu a ética da convicção.

3 Analise “as disposições preliminares” do Código de Ética da Administração


Pública (visto na Unidade 1) à luz do conceito de ação administrativa.

91
92
UNIDADE 2 TÓPICO 2

O ATO ADMINISTRATIVO

1 INTRODUÇÃO
O Tópico 2 apresentará ao(à) acadêmico(a) um aprofundamento maior
quanto à prática da gestão pública do ponto de vista da Lei no 8.112, de 1990, que
rege o servidor público federal e também ao conceito e, por conseguinte, à prática
do ato administrativo.

2 A LEI Nº 8.112/90
Vivemos num mundo moderno em que se tem a necessidade de postular
em lei todas as condutas das organizações e pessoas enquanto ser individual e
ser profissional. Por esse motivo, criamos uma infinidade de leis. É lei para as
relações de trânsito, trabalhistas, civis, direitos dos idosos e das crianças, é lei
para tudo. O que você acha das leis? É possível vivermos sem elas?

Passos (2004, p. 155), sobre a ética do serviço público, aborda essa questão
quanto à qualidade do serviço público e seus problemas:

Há quem acredite que esses decorram da falta de regras explícitas


sobre como devem ou não ser as ações do serviço público; há também
quem afirme que o problema não é da falta de normas escritas, que
elas existem em número mais que suficiente, e que o problema consiste
na ausência de ações educativas, de informação e conscientização. Há
ainda quem afirme que tanto uma coisa quanto a outra existem e que
faltam ações governamentais de caráter repressivo.

Então temos a Lei nº 8.112/91 (BRASIL, 1990), que irá dispor aos
servidores públicos esses limites, seus deveres e as repreensões em virtude de
ações indesejáveis.

93
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

DICAS

Para quem pretende ingressar na carreira pública através de processo seletivo,


a Lei nº 8.112/91 (BRASIL, 1990) é tema de prova na maioria dos concursos públicos federais.

A Lei nº 8.112 (BRASIL, 1990), de 11 de dezembro de 1990, “dispõe sobre


o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das Autarquias e das
Fundações Públicas Federais”, assegura aos servidores públicos federais garantias
individuais e também dá base de condutas quanto aos seus deveres.

Todas essas leis que regem a administração pública existem para que cada
vez mais se possa garantir que os atos administrativos estejam de comum acordo
com os princípios éticos e morais.

Já vimos que na Constituição Federal (BRASIL, 1988) existem os princípios


administrativos que norteiam a conduta do servidor público. Vimos também o
Código de Ética, que trata de maneira bem específica o que pode ou não ser feito
pelo servidor público investido de sua função, e em alguns itens até sem estar
investido de sua função. E agora temos a Lei nº 8.112/90, que estabelece quanto
aos deveres, Título IV, capítulo I, artigo 116:

QUADRO 9 – LEI Nº 8112/90 – ARTIGO 116

Art. 116. São deveres do servidor:


I- exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
II- ser leal às instituições a que servir;
III- observar as normas legais e regulamentares;
IV- cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;
V- atender com presteza:
a) ao público em geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas as
protegidas por sigilo;
b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou esclarecimento
de situações de interesse pessoal.

FONTE: Brasil (1990)

“Exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo”. Esse item se


refere à eficiência, também prevista no artigo 37, da Constituição Federal de 1988
(BRASIL, 1988), quanto aos princípios da administração pública.

94
TÓPICO 2 | O ATO ADMINISTRATIVO

O item II, “ser leal às instituições a que servir”, é ter firmeza e consciência
quanto ao compromisso assumido ao se vincular num cargo público. Nesse caso,
é ser leal à sua instituição. É a velha frase: “vestir a camisa” da organização.

Quanto a “observar as normas legais e regulamentares”, é ser conhecedor,


cumpridor e divulgador das normas e leis que dizem respeito ao seu cargo, função
e à sua organização, também prevista no artigo 37 da Constituição Federal de
1988 (BRASIL, 1988), quanto ao princípio da legalidade.

“Cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais”,


dever de obediência e cumprir o poder hierárquico, mas com a ressalva de que é
dever do servidor público se manifestar contra qualquer ato arbitrário.

O atendimento com presteza coaduna com o item I, comentado anteriormente,


que se estabelece pelo princípio da eficiência. Contudo, ainda se apresenta:

a) ao público em geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas as


protegidas por sigilo;

b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou esclarecimento


de situações de interesse pessoal.

FONTE: BRASIL. Lei nº 8.027, de 12 de abril de 1990. Dispõe sobre normas de conduta dos servidores
públicos civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas, e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8027.htm>. Acesso em: 29 mar. 2012.

Quanto a prestar informações, é direito de qualquer cidadão o acesso à


informação, como previsto no artigo 5, item XIV, da Constituição Federal de 1988
(BRASIL, 1988), ressalvadas quando há necessidade de sigilo. Todo cidadão pode
solicitar expedições de certidões para fins pessoais, cabe ao servidor público o
atendimento com prontidão.

A Lei nº 8112/90 ainda estabelece as proibições do servidor público federal,


artigo 117, capítulo II:

95
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

QUADRO 10 – LEI Nº 8.112/90 – ARTIGO 117

Art. 117. Ao servidor é proibido:

I- ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do chefe


imediato;
II- retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer documento
ou objeto da repartição;
III- recusar fé a documentos públicos;
IV- opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo ou
execução de serviço;
V- promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição;
VI- cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos em lei,
o desempenho de atribuição que seja de sua responsabilidade ou de seu
subordinado;
VII- coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a associação
profissional ou sindical, ou a partido político;
VIII- manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge,
companheiro ou parente até o segundo grau civil;
IX- valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento
da dignidade da função pública;
X- participar de gerência ou administração de empresa privada, sociedade
civil, salvo a participação nos conselhos de administração e fiscal de empresas
ou entidades em que a União detenha, direta ou indiretamente, participação
do capital social, sendo-lhe vedado exercer o comércio, exceto na qualidade de
acionista, cotista ou co­manditário;
XI- atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo
quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até
o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro;
XII- receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em
razão de suas atribuições;
XIII- aceitar comissão, emprego ou pensão de Estado estrangeiro;
XIV- praticar usura sob qualquer de suas formas;
XV- proceder de forma desidiosa;
XVI- utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou
atividades particulares;
XVII- cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que ocupa, exceto
em situações de emergência e transitórias;
XVIII- exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício
do cargo ou função e com o horário de trabalho;
XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado.

FONTE: Brasil (1990)

Entendendo de forma simplificada os itens do artigo 117 da Lei nº 8.112/90,


quanto ao que o servidor público federal não pode fazer:

96
TÓPICO 2 | O ATO ADMINISTRATIVO

I- o servidor público não pode sair sem autorização do seu chefe imediato
durante o expediente de trabalho;

II- retirar quaisquer documentos da repartição sem a devida autorização da


autoridade competente;

III- não obrigar qualquer usuário que traga documentos autenticados em


cartório, dar fé é reconhecer a autenticidade de cópias de documentos em
conferência com o original;

IV- a impessoalidade é um dos princípios constitucionais e por esse motivo


o servidor não deve dar andamento de documentos, processos e execução
de serviços;

V- o artigo 5 da Constituição Federal de 1988 confere que “todos são iguais


perante a lei”, e também pelo princípio da isonomia, por esse motivo não cabe
ao servidor apreço ou desapreço;

VI- não pode o servidor empenhar outra pessoa estranha à repartição de suas
atribuições;

VII- de acordo com a Constituição Federal de 1988, artigo 5 XX, prevê a


liberdade associativa genericamente: “ninguém será compelido a associar-se
ou a permanecer associado”; ratificando tal direito de forma mais específica
no caput do artigo 8°: “É livre a associação profissional ou sindical [...]”; e,
para não deixar dúvidas, no mesmo artigo, inciso V: “ninguém será obrigado a
filiar-se ou manter-se filiado a sindicato”. A filiação partidária e sindical é um
direito do servidor e não uma imposição legal;

VIII- a chefia imediata do servidor pode ser cônjuge, companheiro ou parente até o
segundo grau civil (pais, avós, filhos, netos e irmãos) apenas em cargo efetivo, cuja
investidura se dá mediante aprovação em concurso público, não lhe permitindo
ocupar cargo ou função de confiança, de livre nomeação e exoneração;

IX- novamente pode-se citar o princípio da impessoalidade do artigo 37 da


Constituição Federal de 1988: nenhum servidor público pode valer-se do cargo
para lograr proveito pessoal ou de outrem;

X- é proibido ao servidor público participar de gerência ou administração


de empresa privada, sociedade civil, salvo a participação nos conselhos de
administração e fiscal de empresas ou entidades em que a União detenha, é
possível trabalhar em empresa privada desde que não haja incompatibilidade
de carga horária;

XI- ao servidor é proibido defender ou pleitear direta ou indiretamente, direito


alheio perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário;

97
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em


razão de suas atribuições. O servidor não pode receber propina ou qualquer
vantagem;

XIII- “aceitar comissão, emprego ou pensão de Estado estrangeiro”, não pode


o servidor pôr em risco a soberania do Estado;

XIV- usura é sinônimo de agiotagem, nesse sentido não pode o servidor obter
vantagem em nenhuma hipótese;

XV- o servidor não pode ser negligente, indolente e preguiçoso, ou ainda agir
com descaso e apatia, e sim deve ter atenção, cuidado e eficiência no exercício
de sua função;

XVI- o servidor não pode desviar de sua finalidade e de recursos para


atividades particulares;

XVII- não pode o servidor público modificar atribuições próprias do cargo,


que foi criado por lei e com vencimentos próprios, exceto em situações de
emergência;

XVIII- as questões éticas e morais devem nortear a conduta do servidor público,


dentro e fora do exercício da função, devendo evitar quaisquer atitudes contra
o princípio da moralidade administrativa;

XIX- não pode o servidor recusar a atualização de dados cadastrais.

FONTE: Adaptado de: <http://pt.scribd.com/doc/54295493/2/Secao-II-Do-Afastamento-para-


Exercicio-de-Mandato-Eletivo>. Acesso em: 30 mar. 2012.

Ao verificarmos mais essa lei, pode-se perceber que muitas questões se


repetem de uma para outra lei, e ao mesmo tempo se aprofundam no que se
trata das condutas morais e éticas. Pode parecer até enfadonho, em virtude de as
condutas éticas serem universais. Como já aprendido, as questões morais sofrem
mudanças conforme o tempo e lugar. Não só cabe conhecê-las, mas também, no
desenvolvimento que a sociedade impõe, tudo deve estar devidamente registrado,
para que a contrapartida possa ser um ato punível.

98
TÓPICO 2 | O ATO ADMINISTRATIVO

3 CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO


O conceito de ato administrativo é fundamentalmente o mesmo do
ato jurídico, o que os diferencia é a finalidade pública. O ato administrativo
está relacionado diretamente ao seu fim imediato, que é o bem comum. O ato
jurídico também se preocupa com o bem comum, mas a sua finalidade pública
é resguardar, modificar ou extinguir direitos.

FONTE: Adaptado de: <http://jus.com.br/revista/texto/12903/controle-jurisdicional-na-atividade-


das-agencias-reguladoras/2>. Acesso em: 30 mar. 2012.

ATENCAO

O ato jurídico tem como fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar
ou extinguir direitos.

O ato administrativo, de acordo com Meirelles (2006, p. 149):

É toda manifestação unilateral de vontade da administração pública


que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir,
resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou
impor obrigação aos administrados ou a si própria.

Esse é o conceito primário de ato administrativo, mas é possível perceber


que existem desdobramentos mais complexos quando se refere à vontade
unilateral, existem atos administrativos bilaterais também.

O ato administrativo é típico da administração pública, por requerer


argumentos e fundamentos que são de interesse público e coletivo.

NOTA

Ato administrativo é adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir ou declarar


direitos, ou impor obrigação aos seus administrados ou a si própria.
FONTE: Adaptado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ato_administrativo>. Acesso em: 30 mar. 2012.

99
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

NOTA

Fato administrativo é a realização material da administração pública.


FONTE: Disponível em: http://pt.shvoong.com/law-and-politics/1656030-atos-administrativo
s-seus-requisitos/>. Acesso em: 30 mar. 2012.

Não devemos confundir ato com fato administrativo, pois fato


administrativo é toda realização material da administração pública em
cumprimento de decisões administrativas, como construir uma ponte, uma
escola, uma instalação de serviço público etc.

FONTE: Adaptado de: <http://pt.shvoong.com/law-and-politics/1656030-atos-administrativos-


seus-requisitos/>. Acesso em: 30 mar. 2012.

3.1 COMPETÊNCIA DO ATO ADMINISTRATIVO


A competência é a primeira condição para o ato administrativo. O ato
administrativo só pode ser validado se houver um agente com poder legal. A
competência é no ato administrativo, quer dizer que o ato só pode ser efetuado
por quem tem o poder de fazê-lo.

Entende-se por competência administrativa o poder atribuído ao


agente da administração para o desempenho específico de suas
funções. A competência resulta da lei e por ela delimitada. Todo ato
emanado de agente incompetente, ou realizado além do limite de que
dispõe a autoridade incumbida de sua prática, é inválido, por lhe faltar
um elemento básico de sua perfeição, qual seja, o poder jurídico para
manifestar a vontade da administração. (MEIRELLES, 2006, p. 151).

ATENCAO

Não é competente quem quer, mas quem pode.

E essa competência é intransferível e inadiável pela vontade dos


interessados, contudo, se for delegada e avocada, deve ser feita pelas normas
reguladoras da administração.

100
TÓPICO 2 | O ATO ADMINISTRATIVO

3.2 FINALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO


A finalidade do ato administrativo é o objetivo que o interesse público
quer atingir. Como menciona Meirelles (2006, p. 152), “a administração pública
só se justifica como fator de realização do interesse coletivo, seus atos hão de se
dirigir sempre e sempre para um fim público”.

ATENCAO

A finalidade é o objetivo do interesse público.

A finalidade do ato administrativo é aquela que a lei indica explícita


ou implicitamente. Não cabe ao administrador escolher outra, ou
substituir a indicada na norma administrativa, ainda que ambas
colimem fins públicos. (MEIRELLES, 2006, p. 152).

A finalidade é, portanto, o objetivo-fim do ato administrativo. Para quem


serve o ato? Quem se beneficia? É de interesse público e coletivo? Na finalidade
deve estar bem claro que o ato atingirá o interesse público.

3.3 FORMA DO ATO ADMINISTRATIVO


Todo ato administrativo a rigor é formal, por esse motivo deve existir em
forma, e essa forma é material, ou seja, deve ser por escrito, salvo em casos de
urgência. A forma é o documento, enquanto que o procedimento é “o conjunto de
operações exigidas para a sua perfeição”. (MEIRELLES, 2006, p. 153).

ATENCAO

A forma é o revestimento material do ato.

A forma do ato distingue-se do procedimento administrativo, ou


seja, a forma é o revestimento material do ato, enquanto que o procedimento
administrativo é o conjunto de operações para a sua perfeição.

A exemplo de uma concorrência, existe um procedimento que se inicia


com edital e se finda com a execução da obra ou do serviço. Dessa forma, Meirelles
(2006, p. 153) coloca que “o procedimento é dinâmico e a forma é estática”.
101
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

NOTA

Concorrência pública é uma modalidade de licitação para contratos de grande


vulto, que se realiza com ampla publicidade, para assegurar a participação de quaisquer
interessados que preencham os requisitos previstos no edital convocatório.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Concorr%C3%AAncia_p%C3%BAblica>.
Acesso em: 30 mar. 2012.

3.4 MOTIVO DO ATO ADMINISTRATIVO


É a situação de direito ou de fato que autoriza ou determina a realização
do ato administrativo, podendo ser expresso em lei - atos vinculados - ou pelo
critério do administrador - ato discricionário.

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ato_administrativo>. Acesso em: 30 mar. 2012.

Todo ato administrativo deve ter uma motivação (ou causa) para que o
ato administrativo seja considerado válido.

ATENCAO

Todo ato administrativo deve ser motivado pelo interesse público.

3.5 OBJETO DO ATO ADMINISTRATIVO


Todo ato administrativo tem como objeto a criação, modificação ou
comprovação de situações jurídicas, concernentes a pessoas, coisas
ou atividades sujeitas à ação do poder público. Nesse sentido, o
objeto identifica-se com o conteúdo do ato, através do qual a
administração pública manifesta seu poder e sua vontade [...]
(MEIRELLES, 2006, p. 154-155).

102
TÓPICO 2 | O ATO ADMINISTRATIVO

ATENCAO

O objeto é o conteúdo do ato.

O objeto é o efeito jurídico que o ato produz. O objeto decorre da lei, por
esse motivo, ele tem que ser lícito possível de fato e de direito. Em conformidade
com a lei, o objeto também está imbuído de moralidade.

4 DEVERES DO SERVIDOR PÚBLICO


Os deveres do servidor público, embora explorados quando do estudo
das Leis nº 1.171 de 1994 – Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil
do Poder Executivo Federal, Lei nº 8112 de 1990, Regime Jurídico dos Servidores
Públicos Civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais, ainda
assim merecem sempre destaque no que se refere ao estudo da ética e moral.

FIGURA 22 – DEVER

LEVANTA
A MÃO QUEM
FEZ O DEVER
DE CASA !!!

FONTE: Disponível em: <http://evaristoesportes.files.wordpress.com/2010/05/


raposa-faz-o-seu-dever-de-casa.jpg>. Acesso em: 15 fev. 2012.

103
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

O dever, de acordo com a filosofia, é uma ação segundo uma ordem


racional ou uma norma. Nesse sentido, gestor, servidor, funcionário público
devem ter o exato conhecimento das questões morais que regem seus deveres,
bem como ter conhecimento do que está determinado pelas leis e pelas bases
limítrofes da sua função e cargo.

De acordo com Meirelles (2006), existem alguns deveres gerais e


fundamentais do servidor público:

● Dever de eficiência: a eficiência é o princípio norteador da atividade


administrativa, compreende a produtividade, excelência do trabalho e
adequação técnica aos fins visados pela administração pública.

● Dever de probidade: a probidade está associada à conduta do administrador


público como elemento à legitimidade de seus atos, que se associa diretamente
ao dever de prestar contas.

● Dever de prestar contas: é ação natural da administração que se encarrega da


gestão de bens públicos e de interesses alheios.

NOTA

Probidade significa “qualidade de quem é honesto; honradez; integridade de


caráter”. (BUENO, 2000, p. 625).

De acordo com Meirelles (2006), esses deveres cercam de ética e conduta


moral as ações dos servidores públicos: eficiência, boa conduta e transparência.

104
RESUMO DO TÓPICO 2
Esse Tópico 2 adentrou para as questões da prática da administração
pública baseada em seus conceitos teóricos e favorecendo o seu entendimento pelo
prisma das questões morais e éticas, que são a base dos atos administrativos, como:

● Perceber deveres e proibições do administrador público postulados pela Lei nº


8.112/90.

● Conceituar o ato administrativo.

● Compreender a dimensão do dever do agente público.

105
AUTOATIVIDADE

1 É toda manifestação unilateral de vontade da administração pública que,


agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar,
transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos
administrados ou a si própria. Esta é a definição correspondente a de:

a) ( ) Fato administrativo.
b) ( ) Fato da administração.
c) ( ) Ato jurídico.
d) ( ) Ato administrativo.
e) ( ) Ato da administração.
FONTE: Disponível em: <http://atepassar.com/questoes-de-concursos/bancas/conesul/>.
Acesso em: 30 mar. 2012.

2 Quais são os elementos ou requisitos do ato administrativo? Explique-os


resumidamente.

3 O ato administrativo, como emanação do poder público, apresenta


determinados atributos que os distingue do ato jurídico do direito privado.
Estes atributos são:

a) ( ) Competência, finalidade, forma, motivo e objeto.


b) ( ) Presunção de legitimidade, imperatividade e autoexecutoriedade.
c) ( ) Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
d) ( ) Legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade e
probidade administrativa.
e) ( ) Finalidade, legalidade e legitimidade.
FONTE: Disponível em: <http://atepassar.com/questoes-de-concursos/bancas/conesul/>.
Acesso em: 30 mar. 2012.

4 (Técnico Judiciário - TRE-BA - CESPE/UnB - 2010) O servidor público é


proibido de ausentar-se do serviço sem prévia autorização do chefe imediato.
FONTE: Disponível em: <http://atepassar.com/questoes-de-concursos/bancas/conesul/>.
Acesso em: 30 mar. 2012.

Essa afirmação é:

a) ( ) Verdadeira.
b) ( ) Falsa.

106
UNIDADE 2 TÓPICO 3

AS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS

1 INTRODUÇÃO
Inicia-se o Tópico 3 sobre as organizações públicas, mas sempre buscando
no cerne das reflexões as questões éticas e morais. Embora essas questões pareçam
repetitivas, as suas ratificações são permanentes a cada lei, regimento e/ou
simplesmente no que tange ao tema.

2 OS DIFERENTES TIPOS DE ORGANIZAÇÕES


Existem diversos tipos de organizações, associações, cooperativas,
fundações, institutos, entre tantas outras. Nesse caderno a administração pública
direta é o principal objeto de estudo, muito embora as questões de moral e ética
possam ser estendidas a tantos quantos forem os tipos de organizações.

Por esse motivo, a ética e os valores morais têm sido difundidos com
muita seriedade e com bastante destaque em quaisquer das organizações, mesmo
nas privadas. O que as difere são os seus segmentos de atuação e, principalmente,
os seus interesses.

FIGURA 23 – DIVERSIDADE DE ORGANIZAÇÕES

FONTE: Disponível em: <http://www.promenino.org.br/Portals/0/especiais/e7_(1).


jpg>. Acesso em: 15 fev. 2012.

107
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

De acordo com Etzioni (1974, p. 53), as organizações podem ser divididas em:

a) normativas: instituições religiosas, partidos, associações profissionais/políticas,


universidades etc.;

b) utilitárias: empresas industriais, serviços, organizações militares em tempo de


paz etc.;

c) coercitivas: instituições correcionais, campos de concentração, sindicatos etc.

Etzioni (1974) recorre que sentidos de alienação, envolvimento, poder e


compromisso são o que determinam o tipo de organização e, ao mesmo tempo,
geram o sentimento norteador para que o interesse coletivo seja estipulado.

3 ÉTICA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO


No livro de Robert Henry Srour (2011, p. 29), capítulo 3, o autor coloca
uma grande questão como epígrafe para início de conversa: “Por que se importar
com a “ética”?

Como bem abordado pelo autor, muitos podem pensar que ética não tem
nada a ver! Vejamos o que Srour (2011, p. 29) coloca:

Ética! Nada a ver! Ninguém ‘se comporta direito’ com impostos insanos,
bandalheira na máquina pública, lerdeza da Justiça, desperdício de
recursos, obras superfaturadas, infraestrutura em petição de miséria,
descalabro da educação pública, subsídios obscenos ao grande capital,
esperteza em todas as transações, precariedade dos serviços públicos,
incúria das autoridades, sanhas fiscais que achacam... Quer mais?

Parece bastante! Mas diante de tanta negatividade, deve-se desistir de


todos os preceitos morais e éticos? Parece que não, e é a isso que cada vez mais
as organizações têm demonstrado que ética pode ser um instrumento de gestão.

Muitos têm sido os exemplos em empresas privadas em que seus clientes


perdem a fidelidade quando se deparam com ações antiéticas.

3.1 GESTÃO E LIDERANÇA


A liderança é a influência exercida para modificar o comportamento dos
indivíduos. A influência que esses indivíduos recebem vai além da concordância
mecânica de instruções rotineiras, ou melhor, é através de uma boa liderança que
bons valores podem ser propagados e o desenvolvimento de uma sociedade mais
justa e equitativa pode ser garantida.

108
TÓPICO 3 | AS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS

Comunicando visão dos fatos, esclarecendo propósitos, tornando o


comportamento compatível com as crenças e alinhando procedimentos
com princípios, funções e objetivos. As pessoas poderão, então,
alcançar um elevado sentido de compromisso com os objetivos da
organização. (COVEY, 1994, p. 47).

E assim como cita Covey (1994), gestão e liderança podem criar uma nova
fórmula para que as suas ações sejam voltadas ao bem coletivo, e não somente
aos interesses particulares dos indivíduos e/ou de interesse direto e tão somente
da organização.

FIGURA 24 – LIDERANÇA

VIU SÓ, VIREI MAS VOU CONTINUAR AGORA PODE


SUA CHEFE! SENDO A MESMA
LAMBER
AMIGONA DE SEMPRE!
MEUS PÉS!

FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_mt1Wcocj5iY/TBgSsAJq2KI/AAAAAAAAAR8/


soWWYCi1G0M/s1600/ChargeLideranca1.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2012.

Chiavenato (2003, p. 213) apresenta três tipos diferentes de liderança:

QUADRO 11 – MODELOS DE LIDERANÇA

Aspectos Liderança autocrática Liderança liberal Liderança democrática

As diretrizes são
Apenas o líder decide Total liberdade ao
debatidas e decididas
Tomada de e fixa as diretrizes, sem grupo para tomar as
pelo grupo, que
decisões nenhuma participação decisões, com mínima
são estimulados e
do grupo. intervenção do líder.
orientados pelo líder.
O líder aconselha e dá
O líder dá ordens e Participação limitada
orientação para que o
determina providências do líder. Informações e
Programação grupo esboce objetivo
para a execução de orientações são dadas
dos trabalhos e ações. As tarefas
tarefas, sem aplicá-las desde que solicitadas
ganham perspectivas
ao grupo. pelo grupo.
com os debates

109
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

O líder determina a A divisão das tarefas O grupo decide sobre a


Divisão do tarefa a cada um e qual e escolhas dos colegas divisão das tarefas e cada
trabalho o seu companheiro de é do grupo. Nenhuma membro tem liberdade
trabalho. participação do líder. para escolher os colegas.
O líder é objetivo e
O líder assume o papel
O líder é dominador e limitado aos fatos nos
Comportamento de membro do grupo e
pessoal nos elogios e elogios ou críticas.
do líder atua somente quando é
nas críticas ao grupo. Trabalha como
solicitado.
orientador da equipe.

FONTE: Chiavenato (2003, p. 213).

No nosso dia a dia, em várias organizações que frequentamos, podemos


observar os diferentes tipos de liderança.

O quadro apresenta os modelos de liderança em relação ao trabalho, mas


se pararmos para pensar, na escola em que estudamos, numa equipe desportiva,
nas organizações religiosas, podemos observar que já passamos por diferentes
tipos de liderança.

Na liderança autocrática o líder é pessoa dominadora, que determina as


tarefas e não permite o diálogo, é uma pessoa dominadora.

Na liderança liberal, a sua participação é limitada e os trabalhadores têm


grande liberdade de participação nas tomadas de decisões.

Na liderança democrática o grau de participação do grupo em conjunto


é bem maior que nos outros exemplos, o que configura o comprometimento de
todos em relação ao trabalho e às tomadas de decisões.

4 DIFERENTES TIPOS DE INTERESSES


Como já visto, cada organização e cada pessoa tem um interesse diferente.
Esse hibridismo de interesses forma a sociedade em uma imensidão sectária.

4.1 O BEM COMUM


De acordo com Alonso, López e Castrucci (2010, p. 90), o bem comum “é o
conjunto de condições sociais que permite e favorece aos membros da sociedade
o seu desenvolvimento pessoal e integral”.

O bem comum, de forma bem simples, é a felicidade de todos. Pelo ponto


de vista da administração pública, é buscar ações que favoreçam que a sociedade
seja cada vez melhor, visto que os princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (artigo 37 da Constituição Federal de
1988(BRASIL, 1988)) sejam elementos fundamentais.
110
TÓPICO 3 | AS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS

Alonso, López e Castrucci (2010, p. 92) abordam três aspectos essenciais


do bem comum:

1 O bem comum tem composição análoga à do bem da pessoa.


2 É próprio da sociedade.
3 Deve ser compatível com o bem comum das outras sociedades.

Esses aspectos essenciais apontam para que o bem comum só seja possível se
houver o bem-estar das pessoas com elas mesmas (individual e coletivo), e também
em qualquer espaço, seja a sua própria comunidade ou com a sociedade em geral.

4.2 O INTERESSE INDIVIDUAL


De acordo com Abbagnano (2007, p. 665), interesse é a “participação
pessoal numa situação qualquer e a dependência que dela resulta para a pessoa
interessada”. Interesse individual é quando a pessoa deseja algo para si mesma.

O interesse individual, quando a pessoa é investida de servidor público,


deve ficar aquém do interesse público. Mas há algum mal na pessoa desejar fazer
carreira pública? Claro que não! Seja como representante do povo pelos cargos
de voto direto (prefeito, vereador, deputado, senador, entre outros), seja também
pela investidura de algum cargo público pelo processo seletivo legal, qualquer
cidadão pode almejar fazer uma carreira profissional na esfera pública.

O que não pode são as pessoas, ao se investirem em algum cargo público,


visarem única e exclusivamente o seu interesse individual e particular.

4.3 O INTERESSE COLETIVO


O interesse coletivo é o bem de todos e para todos. Na verdade, tanto as
organizações públicas quanto as privadas, entre outras organizações, visam ao
interesse coletivo. O interesse coletivo é, portanto, a reunião da vontade de pessoas.

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90,


interesses coletivos são um tipo de interesse transindividual ou metaindividual,
isto é, pertencem a um grupo, classe ou categoria de pessoas determinadas,
que são reunidas entre si pela mesma relação jurídica básica.

FONTE: Adaptado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Interesses_coletivos>. Acesso em: 30 mar. 2012.

111
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

Os interesses coletivos são de natureza indivisível, são compartilhados


em igual medida por todos os integrantes do grupo, por esse motivo devem
representar a vontade e interesse de um todo.

4.4 O INTERESSE PÚBLICO


O interesse público também é conhecido como princípio da supremacia
do interesse público ou da finalidade pública. Segundo Meirelles (2006, p. 103):

O princípio do interesse público está intimamente ligado ao da


finalidade. A primazia do interesse público sobre o privado é inerente
à atuação estatal e domina-a, na medida em que a existência do Estado
justifica-se pela busca do interesse geral. Em razão dessa inerência,
deve ser observado mesmo quando as atividades ou serviços públicos
forem delegados aos particulares.

Nesse sentido, mesmo que o Estado repasse a terceiros a incumbência


de serviços, ainda assim haverá supremacia do interesse público, ou seja, essa
organização que prestará serviço deverá colocar o interesse público acima do seu
interesse particular.

4.5 O INTERESSE PROFISSIONAL


As pessoas, no geral, ao ocuparem um cargo e função, seja numa
organização pública ou privada, levam consigo seus interesses individuais,
pessoais e profissionais. Essa motivação faz com que as pessoas vislumbrem
uma carreira bem-sucedida. Entretanto, a respeito da ética profissional, Camargo
(1999, p. 31- 32) apresenta:

A ética profissional e a aplicação da ética geram no campo das


atividades profissionais; a pessoa tem que estar imbuída de certos
princípios e valores próprios do ser humano para vivê-los nas suas
atividades de trabalho.

Os valores e desejos que as pessoas carregam devem estar numa escala


menor aos interesses públicos ou coletivos, e quanto mais valor humano a pessoa
levar para a organização, melhor para a organização e ao bem comum.

112
TÓPICO 3 | AS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS

5 TENSÕES ÉTICAS NA ORGANIZAÇÃO


Os interesses, racionalidades, criam tensões éticas nas organizações que
impõem às pessoas tomadas de decisões e conflitos intermitentes. Qual o grau
de tensão entre as duas éticas? A tensão é condicionada pelo estado geral da
sociedade, “um mínimo de consenso social é necessário para que a tensão entre
as duas éticas se mantenha num grau que permita às organizações operarem
segundo as expectativas normais de produtividade e eficiência”. (GUERREIRO
RAMOS, 1983, p. 44).

A tensão é uniforme ou varia segundo os tipos de organização? Etzioni


(1974, p. 54) distingue seis esferas de consenso:

a) aos valores gerais da sociedade;


b) aos objetivos da organização;
c) aos meios, normas e táticas;
d) à participação na organização;
e) às especificações de execução;
f) às perspectivas de conhecimento dos fatos.

Vimos os diferentes tipos de liderança e de interesses e esses, entre


tantos outros, ajudam a construção da cultura e clima organizacional, além de
proporcionar tensões nas organizações.

Portanto, as tensões em relação à ética nas organizações podem ser provindas


de diferentes influências. Para tanto, para minimizar as tensões, procura-se manter
condutas éticas e morais e na disseminação dos valores consensuais.

5.1 VALORES NAS ORGANIZAÇÕES


Abrahamson (2006) aborda sobre a questão da mudança organizacional.
Que a cultura organizacional se dá num movimento constante em que os valores,
normas e papéis devem ser revitalizados a todo o momento.

Valores são simplesmente convicções compartilhadas por pessoas


de uma empresa ou de parte dela – o que se preza, com frequência
inconscientemente. Nós nos conscientizamos desses valores
incutidos somente quando examinamos o seu lado negativo, isto é,
o que uma empresa desvaloriza com base nesses valores culturais.
(ABRAHAMSON, 2006, p. 87).

Embora Abrahamson (2006) tenha seu trabalho voltado às empresas


privadas, vale destacar que apesar de as organizações privadas e públicas
serem extremamente diferentes, ainda assim não devem isolar-se em si. Tanto
as organizações públicas quanto as privadas podem espelhar-se para que uma e
outra apresentem sinalizações positivas de transformações.

113
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

Dessa forma, Abrahamson (2006) apresenta um mapa que auxilia a


desenvolver a cultura organizacional sobre os valores, normas e papéis:

• valores – o que é valorizado e, em contraste, é desvalorizado;

• papéis – papéis informais desejáveis e, em contraste, papéis que fazem falta


quando ausentes;

• normas – o que é considerado um comportamento normal e, em contraste, é


considerado anormal.

Ao colocar na balança o que é valorizado ou não, o que é aceitável ou não,


o que faz falta, você constrói a cultura organizacional, como também oportuniza
na revitalização de valores.

UNI

Na outra unidade falamos da importância do estudo complementar, o quanto é


possível aprofundar no assunto aqui apresentado, como também descobrir outras formas de
conhecimento e reflexão através de livros literários ou filmes.

114
TÓPICO 3 | AS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS

LEITURA COMPLEMENTAR

A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES

Rosilene Marton

A sociedade contemporânea está resgatando comportamentos que


possibilitem o cultivo de relações éticas. São frequentes as queixas sobre a falta
de ética na sociedade, na política, na indústria e até mesmo nos meios esportivos,
culturais e religiosos.

Um dos campos mais carentes no que diz respeito à aplicação da ética é


o do trabalho e exercício profissional. Por esta razão, executivos e teóricos em
administração de empresas voltaram a se debruçar sobre as questões éticas. Nos
Estados Unidos, após o escândalo envolvendo a Enron, a Harvard Business School
está mais cautelosa na seleção de seus alunos. O ex-diretor geral da Enron, Jeffrey
Skilling, formou-se em Harvard em 1979. A famosa escola de negócios passou a
incluir um questionário de ética na prova aplicada aos candidatos a uma vaga
no curso MBA. Além disso, cada um dos estudantes aprovados é entrevistado
individualmente. Os escândalos da Enron e outras companhias dos Estados
Unidos mostraram que esquecer-se da ética pode ser um mau negócio.

Nas universidades e escolas brasileiras nota-se uma modificação gradativa


nos currículos, com a inclusão e ênfase ao estudo da ética. Hoje, fundações também
estão desenvolvendo estudos em ética organizacional.

A Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES),


desde a sua fundação em 1986, atua em quatro grandes vertentes que visam
mobilizar a sociedade civil brasileira na busca do Bem Comum: o Balanço Social, a
Ética na Atividade Empresarial, o Diálogo Social e a Formação de Novas Alianças.

Para a vertente que busca o Bem Comum pautado na Ética na Atividade


Empresarial, é indiscutível que as boas decisões empresariais resultem de
decisões éticas.

Uma empresa é considerada ética se cumprir com todos os compromissos


éticos que tiver, se adotar uma postura ética como estratégia de negócios, ou seja,
agir de forma honesta com todos aqueles que têm algum tipo de relacionamento
com ela. Estão envolvidos nesse grupo os clientes, os fornecedores, os sócios,
os funcionários, o governo e a sociedade como um todo. Seus valores, rumos e
expectativas devem levar em conta todo esse universo de relacionamentos e seu
desempenho também deve ser avaliado quanto ao seu esforço no cumprimento
de suas responsabilidades públicas e em sua atuação como boa cidadã.

115
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

Percebe-se claramente a necessidade da moderna gestão empresarial em


criar relacionamentos mais éticos no mundo dos negócios para poder sobreviver
e, obviamente, obter vantagens competitivas. A sociedade como um todo também
se beneficia deste movimento.

As organizações necessitam investir continuamente no desenvolvimento


de seus funcionários por meio da educação.

A maior parte das organizações, independentemente do porte, pode


desenvolver mecanismos para contribuir para a satisfação dos funcionários.

Ter padrões éticos significa ter bons negócios a longo prazo. Existem
estudos indicando a veracidade dessa afirmativa. Na maioria das vezes, contudo,
as empresas e organizações reagem a situações de curto prazo.

O Center for Ethics da Universidade do Arizona concluiu que as empresas


norte-americanas que renderam dividendos por cem anos ou mais, eram
exatamente aquelas que viam na ética uma de suas maiores prioridades.

A integridade e o desempenho não são extremidades opostas de um


contínuo. Quando as pessoas trabalham para uma organização que acreditam ser
justa, onde todos estão dispostos a dar de si para a realização das tarefas, onde
as tradições de fidelidade e cuidado são marcantes, as pessoas trabalham em um
nível mais elevado. Os valores ao seu redor passam a fazer parte delas e elas veem
o cliente como alguém a quem devem o melhor produto ou serviço possível.

Bons negócios dependem essencialmente do desenvolvimento e


manutenção de relações de longo prazo, e falhas éticas levam as empresas a
perderem clientes e fornecedores importantes, dificultando o estabelecimento de
parcerias, cada vez mais comum hoje em dia.

A reputação das empresas e organizações é um fator primário nas relações


comerciais, formais ou informais, quer estas digam respeito à publicidade, ao
desenvolvimento de produtos ou a questões ligadas aos recursos humanos.

Nas atuais economias nacionais e globais, as práticas empresariais dos


administradores afetam a imagem da empresa para a qual trabalham. Assim, se
a empresa quiser competir com sucesso nos mercados nacional e mundial, será
importante manter uma sólida reputação de comportamento ético.
FONTE: Disponível em: <http://www.eticaempresarial.com.br/arigos_eticaempresarial.htm>. Acesso
em: 15 fev. 2012.

116
TÓPICO 3 | AS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS

DICAS

LIVROS

ASHLEY, Patrícia A. (Org.). Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed.


São Paulo: Saraiva, 2005.

BAUMAN, Zygmunt. A ética é possível num mundo de consumidores? Tradução Alexandre


Werneck. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

DRUCKER, Peter F. Administrando em tempos de grandes mudanças. 3. ed. São Paulo:


Pioneira, 1996.

VIDEOTECA

Filme: A Rede Social (2010)


Direção: David Fincher
Atores: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Rooney Mara.

O roubo de ideias entre colegas de trabalho é um problema que muitos já


enfrentaram. A falta de ética nas relações profissionais é o pano de fundo
do filme. Mas como saber de quem foi a ideia original em um ambiente de
desenvolvimento de projetos em que todos participam?

FONTE: Disponível em: <http://www.qualidadebrasil.com.br/noticia/como_lidar_com_roubo_


de_ideias_na_empresa>. Acesso em: 30 MAR. 2012.

Filme: Obrigado por fumar (2006)


Direção: Jason Reitman
Atores: Aaron Eckhart, Maria Bello, Cameron Bright, Adam Brody.

Nick Naylor é o principal porta-voz das grandes empresas de cigarros,


ganhando a vida defendendo os direitos dos fumantes nos Estados
Unidos. Nick conta com a ajuda de um poderoso agente de Hollywood
para fazer com que o cigarro seja promovido nos filmes. Sua fama faz com
que Nick atraia a atenção dos principais chefes da indústria do tabaco e
também da repórter de um jornal de Washington que deseja investigá-lo.
Nick repetidamente diz que trabalha apenas para pagar as contas, mas a atenção cada vez
maior que seu filho Joey dá ao seu trabalho começa a preocupá-lo.

FONTE: Disponível em: <http://www.cranik.com/critica_obrigadoporfumar.html>. Acesso


em: 30 mar. 2012.

117
UNIDADE 2 | ÉTICA PROFISSIONAL

Filme: O sucesso a qualquer preço (Estados Unidos)


Direção: James Foley
Atores: Al Pacino, Alec Baldwin, Jack Lemmon, Kevin Spacey, Ed Harris e
Jonathan Pryce.

O filme funciona como uma denúncia de como o dinheiro, a competição


e a falta de ética corrompem tudo em seu caminho. O filme aborda a
angústia dos personagens em situações-limite. Filme interessante pela
perspectiva da ética de mercado.

FONTE: Disponível em: < http://livraria.folha.com.br/catalogo/1150422/sucesso-a-qualquer-


preco-o>. Acesso em: 30 mar. 2012.

Filme: Ensaio sobre a cegueira (2008)


Direção: Fernando Meirelles
Atores: Mark Ruffalo, Julianne Moore, Alice Braga e Gael García Bernal.

Esse filme é uma adaptação da obra de José Saramago. A esposa de um


médico é a única pessoa capaz de enxergar numa cidade onde todas
as pessoas são misteriosamente tomadas por uma repentina cegueira. O
fato acaba criando o caos e a desordem entre a população. É interessante
assistir pela perspectiva da ética geral e profissional.

FONTE: Disponível em: <http://www.cinedica.com.br/Filme-Ensaio-Sobre-a-Cegueira-1916.


php>. Acesso em: 30 mar. 2012.

118
RESUMO DO TÓPICO 3
O Tópico 3 apresentou os diferentes interesses e tipos de organização e a
ética como instrumento fundamental de fundo de análise, assim desenvolvidos
em objetivos:

● Compreender o sentido das organizações.

● Entender a gestão, liderança como instrumento de ética.

● Analisar os interesses, individual, coletivo e público.

119
AUTOATIVIDADE

1 Defina o bem comum de uma sociedade.

2 Quais são os três aspectos essenciais do conceito de bem comum?

3 Quais são os consensos que podem minimizar ou exterminar as tensões


éticas das organizações?

120
UNIDADE 3

GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• compreender os princípios da administração pública e a sua interface em


relação à ética e à moral;

• verificar a importância da qualidade na administração pública;

• identificar o perfil do moderno servidor público.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos e no final de cada um deles você
encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado.

TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

TÓPICO 2 – ÉTICA E QUALIDADE EM GESTÃO PÚBLICA

TÓPICO 3 – O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

121
122
UNIDADE 3
TÓPICO 1

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1 INTRODUÇÃO
O conceito de princípio pela filosofia é dividido em duas épocas da
filosofia: antiga e moderna. Na filosofia antiga, princípio seria então “ponto de
partida e fundamento de um processo qualquer” (ABBAGNANO, 2007, p. 928), e
na filosofia contemporânea a noção de princípio perde sua importância e “inclui
a noção de um ponto de partida privilegiado, não de modo relativo (em relação
a certos objetivos), mas absoluto em si”. (ABBAGNANO, 2007, p. 929). Embora
exista uma delonga sobre o que vem a ser princípio dentre a filosofia, em virtude
das contribuições filosóficas no decorrer dos anos e pela própria história.

O que de fato esses conceitos querem nos dizer? Na verdade, tanto na


filosofia antiga como na moderna, o que demonstram é que o princípio deva ter
alguma coisa de norteador para validar-se em si mesmo, ou seja, estar encarregado
de dar o ensinamento de questões a serem observadas, seguidas e cumpridas.

De acordo com o Dicionário de Português (FERREIRA, 2001, p. 594),


princípio pode ser apreciado por três significados:

1 Momento ou local ou trecho em que algo tem origem.


2 Causa primária, origem.
3 Preceito, regra.

Seja no sentido etimológico da palavra ou no sentido filosófico, princípio,


entretanto, se refere a uma conduta moral, às regras de preceitos morais, enfim,
às condições éticas e morais que formam a ideologia de convivência e das ações a
serem seguidas por toda uma sociedade.

123
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


A Constituição Federal (BRASIL, 1988) é a organização jurídica fundamental
de um Estado, em que se encontra a convenção nacional sobre os direitos e deveres
dos cidadãos, sejam eles individuais, coletivos, sociais ou políticos; e também em
que se limita o poder dos governantes.

Martins (2006, p. 18) discute em artigo sobre a ética e a Constituição


Federal, destacando o capítulo da administração pública como aquele que mais
impõe questões éticas:

É, todavia, no capítulo da administração pública, que está a serviço


da sociedade, onde mais clara fica a imposição da “necessidade
ética”, no exercício da honrosa função de servir à sociedade — muitas
vezes distorcida, no país, pelo corporativismo que permeia mais os
direitos e menos os deveres dos servidores públicos, mesmo que
tais “direitos” que se auto-outorgam sacrifiquem excessivamente o
povo —, pois este princípio é colocado entre os cinco mais relevantes
da administração pública, a saber: legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência.

A moralidade, como destaca o autor, é a mais relevante, pois por si só


garante que qualquer ação da administração pública esteja de acordo com a
necessidade do povo, o interesse público e o bem comum.

3 OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Os princípios da administração pública que se apresentam no artigo
37 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) são: legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência. Esses princípios você já deve ter aprendido
em outra disciplina, mas convido-o a entendê-los pelo prisma da ética.

FIGURA 25 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA

L LEGALIDADE

I IMPESSOALIDADE

M MORALIDADE

P PUBLICIDADE

E EFICIÊNCIA

FONTE: Adaptado de: Brasil (1988)

124
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Os princípios se desdobram em outros e são encontrados na literatura da


área do Direito Administrativo, tais como: supremacia do interesse público sobre
o privado, isonomia, presunção da legalidade, autoexecutariedade, razoabilidade,
proporcionalidade, motivação, entre outros.

3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE


A legalidade sob o princípio da Constituição Federal de 1988, artigo 37,
significa dizer: “que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional,
sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode
afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido”. (MEIRELLES, 2006, p. 87).

ATENCAO

Na administração pública só se pode fazer o que está na lei.

No Dicionário de Filosofia (ABBAGNANO, 2007, p. 693) encontra-se, a


princípio, legalidade com simples significado de “conformidade de uma ação com
a lei”. Mas para a filosofia não basta essa simples conformidade que se encontra
em lei, e observa-se em Kant (apud ABBAGNANO, 2007, p. 693) que se tem uma
tênue distinção:
A conformidade ou a desconformidade pura de uma ação em relação à
lei, sem referência móbil da ação, denomina-se legalidade (conformidade
à lei); quando, porém, a ideia do dever, derivada da lei, é ao mesmo
tempo móbil da ação, tem-se a moralidade (doutrina moral).

Na verdade, o que Kant (apud ABBAGNANO, 2007) nos apresenta é que


a conformidade da lei, por si só, é o cumprimento da lei, mas deve-se considerar
principalmente a moralidade do ato, ou seja, o que o autor chama de referência
móbil. Dessa forma é possível distinguir duas das normas que sustentam os atos:
norma jurídica e norma moral.

O que o administrador ou gestor público pode aprender com isso? É que


para qualquer princípio ou cumprimento de lei há uma conduta moral, e essa é
importante, para que as ações administrativas se aproximem do bem comum.

125
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

3.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE


O princípio da impessoalidade, de acordo com Meirelles (2006, p. 91-92), é
também o princípio da finalidade, “o qual impõe ao administrador público que só
pratique o ato para seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de
Direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal”.

DICAS

Impessoalidade é não fazer nada em direito próprio.

Impessoalidade é fazer pelo bem comum.

Meirelles (2006, p. 92) também não deixa de frisar que o princípio da


impessoalidade também deve ser entendido como o princípio responsável de
“excluir a promoção pessoal” sobre as realizações administrativas.

Dessa forma, a doutrina moral que cerca esses princípios é que toda
prática da administração pública deve ser realizada pelo interesse público e pela
conveniência da administração.

3.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE


O princípio da moralidade vem reafirmar ou ratificar conceitos morais que
podem parecer evidentes aos atos administrativos públicos. Embora os preceitos
de moralidade pareçam evidentes a qualquer ato administrativo, ainda assim é
preciso colocá-los à regra, porque esses atos são praticados por agentes públicos
e, dessa forma, podem ser passíveis de desvios.

DICAS

Moralidade é a conduta do agente público para fim do bem comum.

126
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

De acordo com Meirelles (2006, p. 89), a moral administrativa é “imposta


ao agente público para sua conduta interna, segundo as exigências da instituição
a que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum”.

3.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE


“Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início
de seus efeitos externos”. (MEIRELLES, 2006, p. 94). A importância da publicidade,
além de assegurar seus efeitos externos, é também propiciar que os interessados
diretos e o povo de maneira geral possam ter conhecimento dos atos administrativos.

DICAS

Publicidade é a divulgação oficial do ato.

Nesse sentido, o princípio da publicidade é oficializar e divulgar o ato


administrativo, para que qualquer pessoa, em qualquer tempo, possa ter ciência
e, através dos meios constitucionais, possa exercer ampla defesa dos direitos,
solicitar esclarecimentos ou até impetrar.

3.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA


O princípio da eficiência determina que os serviços prestados pela
administração pública sejam realizados com a máxima presteza. Assim como
define Meirelles (2006, p. 96): “o princípio da eficiência exige que a atividade
administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional”.

O princípio da eficiência surgiu depois dos outros quatro princípios


anteriores, através da Emenda Constitucional nº 019/98 (BRASIL, 1998),
especificamente seu artigo 3º deu nova redação ao caput do artigo 37, acrescentando-
lhe, como princípio constitucional da administração, a eficiência.

DICAS

Eficiência é fazer da melhor forma possível.

127
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

A eficiência exige que os atos administrativos não estejam somente


em conformidade da lei (legalidade), exige que os atos apresentem resultados
positivos para os serviços públicos e a satisfação das necessidades da comunidade.

4 OUTROS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Existem outros princípios que compõem a administração pública, a fim de
garantir que os atos administrativos não sejam efetuados em vícios e tampouco se
afastem do seu fim principal: o bem comum. Meirelles (2006) define os princípios:


Princípio da razoabilidade e proporcionalidade: esse princípio deve
observação à “adequação entre os meios e fins” (razoabilidade) (MEIRELLES,
2006, p. 93) e também veda “imposição de obrigações, restrições e sanções em
medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse
público” (proporcionalidade). (MEIRELLES, 2006, p. 93-94).

● Princípio da motivação: “a motivação, portanto, deve apontar a causa e


os elementos determinantes da prática do ato administrativo, bem como o
dispositivo legal em que se funda”. (MEIRELLES, 2006, p. 101).

● Princípio do interesse público ou supremacia do interesse público: também


conhecido como princípio da finalidade pública ou da supremacia do interesse
público sobre o privado. Esse princípio corresponde ao “atendimento a fins de
interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competência,
salvo autorização em lei”. (MEIRELLES, 2006, p. 106).

● Princípio da isonomia: “esse princípio dá tratamento igual aos especificamente


iguais perante a lei”. (MEIRELLES, 2006, p. 482).

● Princípio da autoexecutoriedade: “consiste na possibilidade de que certos atos


administrativos ensejam de imediata e direta execução pela própria administração,
independentemente de ordem judicial”. (MEIRELLES, 2006, p. 161).

● Princípio da presunção e legitimidade:

os atos administrativos, qualquer que seja sua categoria ou espécie,


nascem com a presunção de legitimidade, independentemente de
norma legal que a estabeleça. Já a presunção de veracidade, inerente
à de legitimidade, refere-se aos fatos alegados e afirmados pela
administração para a prática do ato, os quais são tidos e havidos como
verdadeiros até prova em contrário. (MEIRELLES, 2006, p. 158).

128
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DICAS

O princípio da isonomia é dar tratamento igual aos realmente iguais, muito


embora, por exemplo, cargos de igual denominação podem ser funcionalmente desiguais,
como também podem se diferenciar em tempo de serviço, habilitação profissional, entre outros.

QUADRO 12 – OUTROS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

PRINCÍPIOS DEFINIÇÃO
Supremacia do interesse público sobre O interesse público é supremo sobre os interesses
o privado individuais.
Isonomia Tratamento igual aos realmente iguais.
Os atos da administração presumem-se legítimos,
Presunção de legitimidade e veracidade
até prova em contrário.
É a possibilidade de que certos atos administrativos
ensejam de imediata e direta execução pela própria
Autoexecutoriedade
administração, independente de ordem jurídica.
Adequação entre os meios e fins dos atos
Razoabilidade e proporcionalidade
administrativos.
Todo ato administrativo deve ter uma motivação
baseada nos princípios do interesse público e do
Motivação
bem comum.

FONTE: Adaptado de: Meirelles (2006)

O importante de se estudar os princípios da administração pública é


verificar que o conjunto dos princípios leva ao bem comum, preservação da ética
e moral, que as pessoas sejam tratadas com equidade e isonomia e, também, pela
transparência dos atos.

Essa breve passagem pelos princípios da administração pública


analogicamente pode dar a entender que a ética é propriamente o princípio e
moral são as condutas em questão; ora moralidade, ora impessoalidade, ora
legalidade etc.

A questão da ética pública está relacionada aos princípios fundamentais, é


por esses princípios que o comportamento humano dos agentes públicos pode ser
regido, a fim de garantir a preservação do interesse público, do bem comum, maior
eficácia na prestação de serviços à sociedade e no atendimento às suas necessidades.

129
RESUMO DO TÓPICO 1

A importância de rever os princípios constitucionais nesse caderno


de Ética é que os princípios têm preceitos na conduta ética e moral, portanto
passíveis de serem observados e analisados pelo prisma da ética e da moral e
não somente sob a ótica do regime jurídico e administrativo. Nesse Tópico 1
você pôde observar:

● A definição de princípio pela lógica da filosofia e ética.

● Os princípios da Constituição Federal de 1988 previstos no artigo 37.

● A contribuição dos princípios constitucionais na formação moral do agente


público.

130
AUTOATIVIDADE

1 (FUMARC - SEPLAG/MG – 2008 – Gestor Governamental)

Sobre os princípios constitucionais da administração pública, é INCORRETO:

a) ( ) O da impessoalidade e o da legalidade são expressos na Constituição


Federal.
b) ( ) O da publicidade e o da eficiência são expressos no art. 37 da Constituição
Federal.
c) ( ) O da indisponibilidade e o da razoabilidade não estão expressos na
Constituição Federal.
d) ( ) O da legalidade e o da igualdade estão expressos no caput do art. 37 da
Constituição Federal.
FONTE: Disponível em: <www.provasbrasil.com.br/.../gestor-governamental-direito-administrati
vo_-_SEPLAG_MG_2008_-_FUMARC.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2012.

2 (Prova 1 - MPOG - 2005)

Os princípios da administração pública estão presentes em todos os institutos


do Direito Administrativo. Assinale, no rol abaixo, aquele princípio que
melhor se vincula à proteção do administrado no âmbito de um processo
administrativo, quando se refere à interpretação da norma jurídica.

a) ( ) Legalidade.
b) ( ) Proporcionalidade.
c) ( ) Moralidade.
d) ( ) Ampla defesa.
e) ( ) Segurança jurídica.
FONTE: Disponível em: <http://www.concursospublicosonline.com/informacao/view/Provas/
MPOG-2005/Direito-Administrativo-Prova-1-MPOG-2005>. Acesso em: 30 mar. 2012.

3 (MTE – 2003)

Entre os seguintes princípios constitucionais da administração pública, assinale


aquele que é mais diretamente vinculado aos costumes, reconhecidos também
como fonte de Direito:

a) ( ) Moralidade.
b) ( ) Eficiência.
c) ( ) Publicidade.
d) ( ) Legalidade.
e) ( ) Impessoalidade.
FONTE: Disponível em: <http://www.concursospublicosonline.com/informacao/view/Provas/Fiscal-
do-Trabalho-2003/Etica-na-Administracao-Publica-Prova-1-MTE-2003/>. Acesso em: 30 mar. 2012.

131
4 (Auditor Fiscal do Trabalho – ESAF – 2003)

A Emenda Constitucional nº 19, de 1998 (EC 19/98), acrescentou aos


princípios constitucionais da administração pública o princípio da
eficiência, que é composto de algumas características básicas. Entre elas,
não se inclui:

a) ( ) Direcionamento da atividade e dos serviços públicos à efetividade do


bem comum.
b) ( ) Imparcialidade.
c) ( ) Participação e aproximação dos serviços públicos da população.
d) ( ) Desburocratização.
e) ( ) Liberdade de ação para o servidor.

FONTE: Disponível em: <http://www.concursospublicosonline.com/informacao/view/


Provas/Fiscal-do-Trabalho-2003/Direito-Comercial-Prova-2-MTE-2003/>. Acesso em:
30 mar. 2012.

5 (FAPERP/2011 – Auditor Público Interno - Pref. Pontes e Lacerda/MT).

“[...] Concluindo: perante o direito positivo brasileiro, o princípio em questão


continua presente na Constituição tal como previsto na redação original dos
artigos 37, caput, e 5º, II. Em consequência, a discricionariedade continua sendo
um poder jurídico, ou seja, um poder limitado pela lei. A abrangência deste
princípio é estrita quando se trata de impor restrições ao exercício dos direitos
individuais e coletivos e em relação àquelas matérias que constituem reserva
de lei, por força de exigência constitucional. Em outras matérias, pode-se falar
neste princípio em sentido amplo, abrangendo os atos normativos baixados
pelo Poder Executivo e outros entes com função dessa natureza, sempre tendo-
se presente que no direito brasileiro não têm fundamento os regulamentos
autônomos, que inovam na ordem jurídica, criando direito ou impondo
obrigações sem prévia previsão. [...]”

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Discricionariedade administrativa na


Constituição de 1988. 2ª. ed. 4ª. reimp. São Paulo: Atlas, 2007. p. 64-65. (com
adaptação).

Qual é o princípio fundamental da administração pública a que o texto acima


se refere?

a) ( ) Legalidade.
b) ( ) Impessoalidade.
c) ( ) Moralidade.
d) ( ) Publicidade.

132
6 (FAPERP/2011 – Auditor Público Interno - Pref. Pontes e Lacerda/MT).

“Consideremos como hipótese, em exemplificação à teoria, um município


que detém escassa verba para investir, segundo a rubrica orçamentária “em
atendimento e promoção da dignidade da criança e do adolescente”, e em
lugar de construir uma Casa de Abrigo para acolher menores órfãos e em
outras situações de risco, sobretudo porque não existe na cidade qualquer
lugar que atenda a esta finalidade, opta por despender exatamente a
mesma e única quantia para a construção de um parque. A premência da
vida, a concreta periclitação das integridades física e moral dos menores,
são valores jurídicos a sobreporem-se a uma oportunidade de lazer que é
almejada com o parque. É possível, num caso com tais contornos, reconhecer
que a discricionariedade administrativa deixa de existir e passa a haver uma
só opção, um ato de competência vinculada a ser praticado: a construção e
aparelhamento da Casa de Abrigo.”

PIRES, Luis Manuel Fonseca. Controle judicial da discricionariedade


administrativa: dos conceitos jurídicos indeterminados às políticas públicas.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p. 217.

Assinale a opção em que se expressa corretamente o princípio fundamental da


administração pública (art. 37, CF/88) a ser lesado, caso não ocorra a construção
da Casa de Abrigo.

a) ( ) Legalidade.
b) ( ) Impessoalidade.
c) ( ) Moralidade.
d) ( ) Publicidade.

7 (CESPE/MPTO/2006)

Acerca dos princípios do direito administrativo, julgue os itens seguintes:

I- Apesar do princípio da publicidade e do direito de acesso do cidadão, dados


a seu respeito, nem toda informação pode ser transmitida ao interessado,
mesmo que se relacione com sua pessoa.
II- Os princípios do direito administrativo são monovalentes, isto é, aplicam-
se exclusivamente a esse ramo do direito.
III- A despeito do princípio da supremacia do interesse público, nem sempre
o interesse público secundário deverá prevalecer sobre o direito de um
cidadão individualmente considerado.
IV- O princípio da presunção de legitimidade dos atos administrativos abrange
apenas os aspectos jurídicos desses atos, mas não diz respeito aos fatos nos
quais eles supostamente se basearam.

133
Estão certos apenas os itens:

a) ( ) I e III.
b) ( ) I e IV.
c) ( ) II e III.
d) ( ) II e IV.

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAQ_UAH/direito-administra


tivo>. Acesso em: 30 mar. 2012.

8 (FUNDEP – FHEMIG / 2009 – Gestão Pública)

CITE e DESCREVA os princípios constitucionais da administração pública


expressos no art. 37 da Constituição da República (com a redação dada pela
Emenda Constitucional no 19, de 1998).

ATENÇÃO – A resposta a ser elaborada deve conter, no máximo, 20 linhas.

134
UNIDADE 3
TÓPICO 2

ÉTICA E QUALIDADE EM GESTÃO PÚBLICA

1 INTRODUÇÃO
Nesse Tópico 2 vamos estudar sobre a qualidade na gestão pública, nos
serviços públicos. Na década de 80, com maior ênfase se falou constantemente
em qualidade nas diversas organizações, e nessa mesma época difundiram-
se inúmeros programas que visavam mensurar e certificar a qualidade das
organizações, principalmente na iniciativa privada. E com a reforma gerencial da
administração pública também houve a forte preocupação pela qualidade.

2 CONCEITO DE QUALIDADE
Pode-se dizer que a história da qualidade teve seu início com a Revolução
Industrial e a disseminação em série nos modos de produção. A partir da Segunda
Guerra Mundial, os Estados Unidos incentivaram a utilização dos métodos
estatísticos de Shewhart pelos seus fornecedores, divulgando os novos métodos
de controle de qualidade no mundo.

NOTA

Walter Andrew Shewhart (1891-1967) – Estatístico, responsável pelo controle


de qualidade. A aplicação da estatística aos problemas de qualidade começou com ele no
decorrer da Segunda Guerra Mundial. “A partir de suas ideias, dois gurus iriam revolucionar
o conceito de qualidade, inicialmente no Japão: Deming e Juran”. Foi o idealizador do ciclo
PDCA (Plan/Planejamento-Do/Execução-Check/Verificação-Act/Ação), de melhoria contínua.
Esse ciclo também é conhecido pelo nome de Deming, que foi quem efetivamente o aplicou.
FONTE: Chiavenato (2003, p. 452).

135
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

O Dicionário de Português, dentre alguns significados, destaca qualidade


como “superioridade, excelência de alguém ou algo”. (FERREIRA, 2001, p. 608).
A partir da difusão de inúmeros programas de qualidade e do que qualidade
representa nos dias de hoje, podemos considerar esse sinônimo de excelência
como o que melhor define qualidade.

Para muitos autores a qualidade é subjetiva, assim como define Deming


(1990, p. 11): “a qualidade só pode ser definida em termos de quem avalia”.
Portanto, a mensurabilidade da qualidade adota um padrão subjetivo, por tratar-
se de seres humanos que a produzem e a avaliam.

NOTA

William Edwards Deming (1900-1993) foi um estatístico reconhecido pela


melhoria dos processos produtivos nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial,
sendo, porém, mais conhecido pelo seu trabalho no Japão.
FONTE: Chiavenato (2003, p. 452).

Segundo Gentili (1995, p. 140), “a mensurabilidade sempre foi (ontem e


hoje, com a mesma ênfase) o aspecto capaz de materializar qualquer aspiração que
tenha que gerar melhorias nos níveis de qualidade”. É por esse motivo que surgiu
a necessidade de materializar mecanismos, programas, sistemas e tantos quanto
forem necessários para que os serviços e produtos se aproximem da excelência.

Sob outro ponto de vista, Chiavenato (2003, p. 629) conceitua qualidade pela
perspectiva de uma organização (preferencialmente privada): “é o atendimento
das exigências do cliente; ou a adequação à finalidade ou uso; ou a conformidade
com as exigências” (destaca-se cliente, seja ele interno ou externo).

Então, excelência na qualidade sugere uma escala entre o bom e o ruim, entre
o melhor e o pior, para determinar, por fim, que excelência seja o melhor, o ponto
mais alto da escala. Para Demo (1995, p. 11), a expectativa torna-se mais ampla do
que simplesmente adotar uma escala entre o bem e o mal; “qualidade, por sua vez,
aponta para a dimensão da intensidade. Tem a ver com profundidade, perfeição,
principalmente com participação e criação. Está mais para o ser que para o ter”.

É por esses e outros muitos que surgiu a necessidade de qualificar a qualidade


como ‘qualidade total’, ou seja, a subjetividade envolta do termo qualidade designou
um termo superlativo: qualidade total é a excelência da qualidade. Qualidade total
associa-se aos Programas de Qualidade Total, técnicas administrativas adotadas
para o melhoramento da produtividade e serviços de uma empresa.

136
TÓPICO 2 | ÉTICA E QUALIDADE EM GESTÃO PÚBLICA

Conclui-se, portanto, que qualidade não é estática, não se estabelece uma


única vez e fim. Trata-se de uma conquista ou construção ao longo do tempo,
através de um aperfeiçoamento contínuo. Hoje, o que pode ser considerado de
“qualidade”, amanhã poderá ser superado por um “novo” padrão de qualidade.

3 PROGRAMAS DE QUALIDADE E PARTICIPAÇÃO NA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – CADERNO MARE
A administração pública, em virtude de seus serviços ficarem defasados,
principalmente em função do grande avanço tecnológico e pela ‘cultura’ criada em
torno de que todo serviço público é burocrático e moroso, procurou mecanismos
urgentes de reforma.

Então, no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso começaram


ações para transformar o aparelho do Estado burocrático para gerencial. A visão
de empresa foi o grande referencial para esses novos programas. E o grande
marco dessa nova postura organizacional e serviços públicos foi a instituição do
Ministério da Administração e Reforma do Estado, MARE.

O MARE – Ministério da Administração e Reforma do Estado surgiu das


necessidades urgentes de orientar e reformar o aparelho do Estado sob várias
vertentes: recursos humanos e físicos, instalações e equipamentos, tecnologias,
procedimentos, entre outros.

NOTA

Em 1995, no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, surge, por


transformação da Secretaria de Administração Federal, o Ministério da Administração Federal
e Reforma do Estado (MARE). O órgão foi criado por força da Medida Provisória nº 813/95,
reeditada várias vezes, que apenas em 1998 foi convertida na Lei nº 9.649/98. Deu-se início
ao que ficou conhecido como Reforma Gerencial do Estado Brasileiro. O MARE foi extinto em
1999, pela Medida Provisória nº 1.795/99. O Decreto presidencial nº 2.923/99 transfere para
o então Ministério do Orçamento e Gestão, atual Ministério do Planejamento, as atribuições
que pertenciam ao MARE.
FONTE: MARE (2011)

O MARE instituiu diversos cadernos que pudessem abordar a diversidade


de temas em torno do aparelho do Estado e de sua funcionalidade. E sua missão
é definida como: “ajudar o governo a funcionar melhor, ao menor custo possível,
promovendo a administração pública gerencial, transparente e profissional, em
benefício do cidadão”. (MARE, 1998, p. 11).

137
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

Bresser-Pereira foi o ministro do MARE, por esse motivo seu nome é


associado à implementação gerencial na administração pública. Outros três nomes
ocuparam o cargo interinamente nos cinco anos de existência do ministério.

Em 1999, através de decreto presidencial, as funções do MARE se


transferem para o então Ministério do Orçamento e Gestão, cabendo ao atual
Ministério do Planejamento as atribuições que pertenciam ao MARE.

Como dito anteriormente, o Ministério da Administração e Reforma


do Estado preocupou-se em ajustar o modelo gerencial de gestão, sucesso
nas empresas privadas, à organização pública, a fim de minimizar ranços da
administração burocrática e valorizar principalmente o princípio da eficiência do
artigo 37 da Constituição Federal de 1988.

Em 1º de janeiro de 1999, com a modificação feita pela Medida Provisória


nº 1.795, o MPO passa a se chamar Ministério do Orçamento e Gestão - MOG. A
partir de 30 de julho de 1999, com a Medida Provisória nº 1.911-8, o MOG recebeu
o nome atual de Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - MPOG.

FONTE: Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/secretaria.asp?cat=229&sec=24>.


Acesso em: 31 mar. 2012.

3.1 A QUALIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


A preocupação com a qualidade na administração pública surgiu,
principalmente, a partir da iniciativa da reforma do aparelho do Estado, conhecida
pela Reforma Bresser-Pereira, ou ainda como implantação da Administração
Gerencial, introduziu mudanças no comportamento dos agentes públicos para
que os serviços públicos fossem ofertados com maior eficácia e eficiência.

NOTA

Entende-se por aparelho do Estado a administração pública em sentido amplo,


ou seja, a estrutura organizacional do Estado, em seus três poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário) e três níveis (União, estados membros e municípios).
FONTE: Brasil (1995, p. 9)

138
TÓPICO 2 | ÉTICA E QUALIDADE EM GESTÃO PÚBLICA

Com a ideia dessa reforma iniciou-se na administração pública um


programa que teria a finalidade de cumprir com os objetivos de reforma e
reconstrução do Estado no que diz respeito aos seus serviços e processos.
Esse programa foi denominado Programa da Qualidade e Participação na
Administração, que se introduz da seguinte maneira:

É o principal instrumento de aplicação do Plano Diretor da Reforma


do Aparelho do Estado, propondo-se a introduzir no setor público
as mudanças de valores e comportamentos preconizados pela
Administração Pública Gerencial, e, ainda, viabilizar a revisão dos
processos internos da administração pública com vistas à sua maior
eficiência e eficácia. (BRASIL, 1997, p. 9).

O programa buscou, fundamentalmente, transformar a administração


pública de burocrática para gerencial. O que de ética e moral pode-se aprender
nesses programas? Toda mudança esbarra inicialmente e fortemente na resistência
das pessoas. É comum, em organizações públicas, ouvir pronunciamentos: “Isso
não faz parte do meu serviço.”; “Eu não ganho para fazer isso.”; “Por que mudar?
Deixa como está.”; “Se eu ganhasse mais, eu faria melhor”; etc. Foram apresentados
nesse programa quatro objetivos para a valorização do servidor público.

A qualidade dos serviços, pelo ponto de vista ético e moral, é inerente


ao estímulo remuneratório. As mudanças, embora pareçam trabalhosas porque
alteram hábitos, vícios, devem ser compartilhadas, pois só assim seria possível
alçar resultados, como elucida Enguita (1995, p. 95):

A qualidade se converte assim em uma meta compartilhada, no que


todos dizem buscar. Inclusive aqueles que se sentem desconfortáveis
com o termo não podem se livrar dele, vendo-se obrigados a empregá-
lo para coroar suas propostas, sejam lá quais forem.

As metas compartilhadas tornam-se mais eficazes no sucesso dos


objetivos propostos. Então, num ambiente de trabalho, quando se propõem
mudanças, é ético cumprir com as obrigações dessas novas mudanças, como é
moral interiorizar essas mudanças de valores e hábitos. Então, se você trabalha
numa organização e a mesma sofre mudanças em seus processos, o que é correto,
sob a perspectiva da ética e da moral?

Compartilhar e comprometer-se não significam total falta de reflexão


crítica e consciente, a ética é fazer as reflexões e a moral é conscientizar-se das
mudanças e absorver os novos valores e costumes.

139
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

3.2 QUALIDADE E PARTICIPAÇÃO


A palavra qualidade e seu conceito são inerentes aos serviços públicos. Não
há como imaginarmos que organizações públicas possam querer economizar sob
o aspecto da qualidade. Porque tudo o que se viu até o momento foram amarras,
seja na lei do código de ética, seja nos princípios fundamentais da administração
pública, para que a administração pública seja exemplo de conduta moral e de
prestação de serviços com excelência.

Todo serviço público depende da ação humana, então não há como pensar
no serviço público como processo isolado. Para cada processo ou procedimento do
serviço público há uma ação humana, existem recursos humanos que devem estar
envolvidos. Nos estudos e teorias de Administração a isso se chama Metodologia
de Planejamento Participativo.

A participação passa a ser fundamental para que os mecanismos do


serviço público sejam melhorados continuadamente.

E
IMPORTANT

Um fator crítico para o sucesso da aplicação de um programa é a vontade e


o compromisso dos servidores públicos, inclusive daqueles que ocupam cargos no nível
estratégico das organizações.
FONTE: MARE (2011)

De acordo com Gandin (2000), o planejamento participativo nasce da


premissa de ser uma ferramenta capaz de intervir na realidade. Diferentemente
da administração gerencial, é uma corrente que nasceu não para visar lucro, mas
para ser desenvolvida em movimentos e grupos, a fim de realizar mudanças na
realidade social.

A visão do planejamento participativo é a identificação de dois pontos:


ponto real (onde está) e ponto ideal (aonde quer chegar).

140
TÓPICO 2 | ÉTICA E QUALIDADE EM GESTÃO PÚBLICA

FIGURA 26 – PONTO REAL X PONTO IDEAL

PONTO REAL PONTO IDEAL

FONTE: Adaptado de Gandin (2000)

O ponto real é o lugar onde está; ele tanto pode ser útil na diretriz de um
planejamento, pois identifica os pontos positivos e negativos e auxilia apontar
novos caminhos, ou simplesmente pode não servir de nada; pode significar o
ponto da zona de conforto, da estagnação.

A utilização do ponto real como indicador é moral, caso contrário,


identifica uma parte dos serviços públicos em que as mudanças são morosas e
acarretam em serviços lentos e ineficientes.

O ponto ideal deve ser entendido como aquele ponto em que se quer chegar,
repleto de inserções de influências políticas, econômicas, sociais etc. Esse ponto
é o ponto em processo espiral, num processo contínuo de evolução e melhoria.
Nesse corpo espiral, a esfera ética e moral pode ser analisada e discutida.

Gandin (2000, p. 88) apresenta e conceitua a participação em três níveis:

● Nível de colaboração – é o nível mais frequente de participação,


em que as pessoas com maior autoridade participam das decisões
já tomadas para a sua comunidade. A comunidade confirma essas
decisões com apoio ou em silêncio. Exemplo: políticas públicas em que
não houve a participação da sociedade.
● Nível de decisão – muito parecida com o nível de colaboração, em
que autoridades levam as decisões que a comunidade irá decidir,
ou seja, assembleias, reuniões, em que, mediante discursos parciais
e persuasivos, levam o todo a ‘levantar o dedo’ de concessão com a
decisão. Exemplo: assembleias em diversos segmentos da sociedade,
como condomínio, sindicatos, associações diversas.
● Nível de construção em conjunto – este nível envolve a complexidade
da sociedade, as suas relações de poder, os princípios morais, ética,
entre outros. É o nível que parte da ideia da igualdade de força em
relação à participação e decisão. Exemplo: um modelo de organização
em que todos que nela trabalham participam das decisões e ações.
Nessa organização, as autoridades são os mediadores e não despóticos.

141
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

O nível de construção em conjunto é o mais difícil de atingir, por inúmeros


problemas: porque por vezes não é de interesse dos que estão no poder, existem
práticas de abertura de participação e as pessoas não participam, é muito mais
trabalhoso gerir dessa forma, a democracia é mais trabalhosa, porque dá abertura
a discussões e com isso despertam consensos e dissensos.

4 COMISSÃO DE ÉTICA PÚBLICA


A comissão de ética surge pela necessidade de avaliar atos e
comportamentos da administração pública federal. É mais que um simples Código
de Ética, os códigos são diretrizes de condutas morais, qualquer atitude, ato ou
comportamento que fira o código de ética é passível de processo administrativo
ou instância superior. Hoje, nas grandes organizações de variados ramos, existe
uma comissão de ética para acompanhar e avaliar procedimentos.

FIGURA 27 – COMISSÃO DE ÉTICA PÚBLICA

FONTE: Disponível em: <http://etica.planalto.gov.br/>. Acesso em: 20 jan. 2012.

A partir do decreto de 26 de maio de 1999 foi criada a Comissão de Ética:

QUADRO 13 – DECRETO DE 26 DE MAIO DE 1999

Decreto de 26 de maio de 1999

Cria a Comissão de Ética Pública e dá outras providências


O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.
84, Inciso VI, da Constituição,
DECRETA:
Art. 1º Fica criada a Comissão de Ética Pública, vinculada ao Presidente da
República, competindo-lhe a revisão das normas que dispõem sobre conduta
ética na Administração Pública Federal, elaborar e propor a instituição do
Código de Conduta das Autoridades, no âmbito do Poder Executivo Federal.
Art 2º (Revogado pelo Decreto nº 6.029, de 2007)

142
TÓPICO 2 | ÉTICA E QUALIDADE EM GESTÃO PÚBLICA

I - subsidiar o Presidente da República e os Ministros de Estado na


tomada de decisão concernente a atos de autoridade que possam implicar
descumprimento das normas do Código de Conduta;
II - receber denúncias sobre atos de autoridade praticados em contrariedade
às normas do Código de Conduta, e proceder à apuração de sua veracidade,
desde que devidamente instruídas e fundamentadas, inclusive com a
identificação do denunciante;
III - comunicar ao denunciante as providências adotadas, ao final do
procedimento;
IV - submeter ao Presidente da República sugestões de aprimoramento do
Código de Conduta;
V - dirimir dúvidas a respeito da interpretação das normas do Código de
Conduta e deliberar sobre os casos omissos;
VI - dar ampla divulgação do Código de Conduta; e
VII - elaborar o seu regimento interno.
Art. 3º (Revogado pelo Decreto nº 6.029, de 2007)
§ 1º A atuação no âmbito da Comissão de Ética não enseja qualquer
remuneração para seus membros e os trabalhos nela desenvolvidos são
considerados prestação de relevante serviço público.
§ 2º Cabe à Comissão de Ética escolher o seu Presidente.
§ 3º Os membros da Comissão de Ética cumprirão mandato de três anos,
podendo ser reconduzidos.
§ 4º O Presidente terá o voto de qualidade nas deliberações da Comissão
de Ética.
§ 5º Os mandatos dos primeiros membros serão de um, dois e três anos, a
serem estabelecidos no decreto de designação.
§ 6º A Comissão de Ética contará com uma Secretaria-Executiva, vinculada
à Casa Civil da Presidência da República, à qual competirá prestar o apoio
técnico e administrativo aos trabalhos da Comissão. (Incluído pelo Decreto
de 30.8.2000)
§ 7o As comissões de ética setoriais de que trata o Decreto no 1.171, de 22
de junho de 1994, atuarão como elemento de ligação com a Comissão de
Ética Pública, cabendo-lhes, no âmbito dos respectivos órgãos e entidades:
(Incluído pelo Decreto de 18.5.2001)
I - supervisionar a observância do Código de Conduta da Alta Administração
Federal e comunicar à Comissão de Ética Pública situações que possam
configurar descumprimento de suas normas;
II - promover a adoção de normas de conduta ética específicas para seus
servidores e empregados.

143
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

§ 8o Nos órgãos e nas entidades em que não hajam sido criadas comissões
de ética setoriais, caberá ao seu titular designar a pessoa que exercerá as
atribuições previstas no § 7o. (Incluído pelo Decreto de 18.5.2001)
Art. 4º Eventuais despesas com a execução do disposto neste Decreto,
inclusive as decorrentes de deslocamentos dos membros da Comissão de
Ética, correrão à conta da Presidência da República.
Art. 5º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 26 de maio de 1999; 178º da Independência e 111º da República.

FONTE: Disponível em: <http://etica.planalto.gov.br/legislacao/etica1>. Acesso em: 31 mar. 2012.

4.1 MISSÃO
A missão da Comissão de Ética da Administração Pública Federal é “zelar
pelo cumprimento do Código de Conduta da Alta Administração Federal, orientar
as autoridades para que se conduzam de acordo com suas normas e inspirar o
respeito à etica no serviço público”. (BRASIL, 2011).

Além de cumprir com a sua missão de inspiração à ética, a Comissão


preocupa-se em promover cursos e seminários da difusão de condutas morais:

Buscando o cumprimento de sua missão e objetivando contribuir para


a divulgação e promoção da ética nas entidades e órgãos que integram
o Poder Executivo Federal, fazendo com que o respeito à ética ocorra
em todo o funcionalismo público, a Comissão de Ética Pública incluiu
em seu plano de trabalho a realização de cursos e seminários que
possibilitem formar uma rede de profissionais com responsabilidades
pela gestão da ética e conhecimentos necessários à implementação da
gestão da ética em seus respectivos órgãos e entidades. (BRASIL, 2011).

Tal como colocado, a Comissão de Ética tem o dever de difundir os


elementos necessários que favoreçam na disseminação de conhecimento e
na implementação da gestão ética. Nesse sentido, a Comissão torna-se uma
articuladora da ética e não somente uma auditora de condutas desacordadas com
os princípios e normas da administração pública federal.

4.2 GESTÃO DE ÉTICA - ENTIDADE - COMPETÊNCIAS/


ATRIBUIÇÕES
No site da Comissão de Ética (BRASIL, 2011) encontram-se orientações
quanto às competências e atribuições e suas entidades e parceiros para que a gestão
ética possa ser exercida nas diversas entidades que compõem o Governo Federal.

144
TÓPICO 2 | ÉTICA E QUALIDADE EM GESTÃO PÚBLICA

QUADRO 14 – COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DA COMISSÃO DE ÉTICA

ENTIDADE COMPETÊNCIAS/ATRIBUIÇÕES
Tem a incumbência de proceder à revisão das normas
que dispõem sobre conduta ética, tem competência para
1. Comissão de Ética Pública acompanhar e aferir a observância das normas estabelecidas no
Código de Conduta da Alta Administração Federal e aplicar as
penalidades nele previstas.
Têm por finalidade orientar e aconselhar sobre a ética
profissional do servidor, no tratamento com as pessoas e com
o patrimônio público, competindo-lhe conhecer concretamente
de imputação ou de procedimento suscetível de censura (Itens
XVI e XVII do Decreto no 1.171/94). Compete-lhes, também,
no âmbito dos respectivos órgãos e entidades, funcionar como
projeção da Comissão de Ética Pública, supervisionando a
2. Comissões de Ética
observância do Código de Conduta da Alta Administração
Federal e, quando for o caso, comunicar a essa Comissão a
ocorrência de fatos que possam configurar descumprimento
daquele Código, bem como promover a adoção de normas de
conduta ética específicas para os servidores dos órgãos a que
pertençam (§ 7º do art. 3º do Decreto de 26 de maio de 1999,
acrescentado pelo art. 1º do Decreto de 18 de maio de 2001).
Compete-lhe defender o patrimônio público, supervisionar,
coordenar e fiscalizar a atuação dos demais órgãos do Poder
Executivo, no que tange à apuração de desvios de condutas que
importem em prejuízo ao erário; pode instaurar procedimentos
3. Controladoria-Geral da
administrativos para apurar atos lesivos ao erário, realizar
União
inspeções e avocar processos administrativos em curso na
Administração Pública Federal, dentre outras atribuições (arts.
6º, 14-A e 14-B da Lei n° 9.649, de 27 de maio de 1998, com a
redação dada pelo art. 1º da Medida Provisória n° 2.143-35).
4. Corregedorias específicas
Têm, entre outras funções, a de apuração de infrações
de determinados órgãos e
disciplinares dos servidores do respectivo órgão ou entidade.
entidades
Exerce as funções de Órgão Central do Sistema de Pessoal
Civil do Poder Executivo, competindo-lhe supervisionar e
5. Secretaria de Recursos fiscalizar a obrigação da autoridade competente de promover
Humanos do Ministério do a apuração imediata, quando tiver ciência de irregularidade no
Planejamento, Orçamento e serviço público e, em caso de omissão dela, designar a comissão
Gestão disciplinar, ressalvada a competência da Controladoria-Geral
da União, quando se tratar de infração que cause lesão ao
patrimônio público.

Tem, entre outras funções, as de:

a) fiscalizar e julgar as contas dos administradores e demais


responsáveis por dinheiros públicos, analisando-as sob o aspecto
da legalidade, legitimidade e economicidade (art. 70 da CF),
aplicando as penalidades cabíveis, nos casos de irregularidades;
6. Tribunal de Contas da
União b) exercer o controle da legalidade e legitimidade dos bens e
rendas declarados pelas pessoas nominadas no art. 1º da Lei no
8.730/93 (item 7.2.2, supra), podendo, para tal mister, "proceder
ao levantamento da evolução patrimonial do seu titular e ao exame de
sua compatibilidade com os recursos e as disponibilidades declarados"
(art. 4º, § 2º).

145
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

Tem competência para realizar auditoria sobre gestão dos


recursos públicos federais sob responsabilidade de órgãos
e entidades públicos e privados, bem como apurar os atos
7. Secretaria Federal de ou fatos inquinados de ilegais ou irregulares, praticados por
Controle agentes públicos ou privados, na utilização de tais recursos
e, quando for o caso, comunicar à unidade responsável pela
contabilidade para as providências cabíveis (Lei no 10.180, de 6
de fevereiro de 2001, art. 24, VI e VII).
Compete-lhe promover, privativamente, a ação penal pública,
nos casos de crime contra a administração pública, bem
como o inquérito civil e a ação civil pública para proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
8. Ministério Público interesses difusos e coletivos (art. 129, I e III, da CF); compete-
lhe, também, de forma concorrente com a pessoa jurídica de
direito público interessada, a propositura de ação civil por ato
de improbidade administrativa, consoante o disposto no art. 17
da Lei nº 8.429/92.
9. As comissões temáticas Competem-lhes receber petições, reclamações, representações
de cada uma das casas do e queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das
Congresso Nacional autoridades ou entidades públicas (art. 58, IV, da CF).
Podem ser criadas para apurar fato determinado, sendo suas
10. Comissões parlamentares conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público
de inquérito para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos
infratores (art. 58, § 3º, da CF).
Compete-lhe apurar as infrações penais praticadas contra bens,
11. Polícia Federal serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas
e empresas públicas (art. 144, § 1º, da CF).
Em razão de a Constituição Federal atribuir a qualquer cidadão
legitimidade para propor ação popular visando a anular ato lesivo
12. O cidadão
ao patrimônio público e/ou à moralidade administrativa (art. 5º,
LXXIII, da CF), também pode ser incluído no rol destas entidades.
Compete-lhe impor as sanções penais, nos crimes contra a
administração pública, as sanções civis por ato de improbidade
administrativa, bem como autorizar, quando solicitado pelo
Ministério Público ou pela Polícia Federal, o acesso desses
13. Poder Judiciário
órgãos a dados acobertados por sigilo ou protegidos pelo
direito à intimidade ou à privacidade, bem como decretar as
medidas cautelares de busca, apreensão e sequestro de bens,
quando para tanto for provocado.
14. Entidades encarregadas
de capacitação e
treinamento, como a ESAF Essas entidades têm por atribuição específica a realização de
– Escola de Administração cursos de formação e de capacitação de servidores. Logo, têm
Fazendária, a ENAP – Escola responsabilidade com a questão prospectiva da ética, qual seja,
Nacional de Administração desenvolver valores e princípios éticos.
Pública, e a Academia
Nacional de Polícia

FONTE: Brasil (2011)

146
TÓPICO 2 | ÉTICA E QUALIDADE EM GESTÃO PÚBLICA

O importante na análise desse quadro é a percepção de que a preservação


da ética está distribuída pelas diversas entidades da sociedade, não só como órgãos
punitivos, mas também como órgãos responsáveis na capacitação e treinamentos
dos servidores públicos e também na valorização da participação da sociedade.

O quadro 14 demonstra que a sociedade está cercada de entidades e


mecanismos para coibir qualquer ação que não seja favorável ao bem público e ao
bem comum. Mas é impossível não deixar de perguntar: Como ainda é possível
haver corrupção, desvio de verbas públicas, condutas antiéticas?

147
RESUMO DO TÓPICO 2

Nesse Tópico 2 foi apresentado o Programa de Qualidade e Participação


da Administração Pública, porque é uma referência na iniciativa de
profissionalizar e instituir processos gerenciais ao Estado e, é claro, dentro
de uma perspectiva ética e moral. Não nos preocupou nesse momento entrar
no mérito das reflexões acerca desse programa, tais como: a nomenclatura de
cliente-cidadão, gestão de resultados, gestão de processos, entre outras. A ideia
principal desse tópico foi analisar as mudanças de comportamento do servidor
público no que diz respeito à ética e à moral. Resumidamente:

● Entender melhor o conceito de ética e qualidade na gestão pública.

● Perceber o conceito de qualidade e sua indissociabilidade em ética e moral.

● Conhecer o programa que institui no Governo Federal normas de procedimentos


para eficiência.

● Compreender as entidades, sua formação e competências na preservação e


garantia da ética na esfera da administração pública federal.

148
AUTOATIVIDADE

1 Como você conceituaria qualidade e sua interface para o âmbito da


administração pública?

2 De acordo com Gandin (2000), descreva os níveis de participação e dê alguns


exemplos de como ocorre em nossa comunidade.

3 Em uma organização pública, os servidores encontram-se desmotivados. Há


um ambiente entre eles de desconfiança e individualismo. Essa atmosfera
está causando uma série de impactos na organização.

Considerando a situação hipotética acima, julgue os itens a seguir em C


certo ou E errado, relativos ao trabalho em equipe e à qualidade no atendimento
ao público.

a) No contexto apresentado, os impactos são negativos para a organização, no


que diz respeito aos processos internos e no relacionamento com os usuários.
b) A atuação em equipe poderia modificar a situação descrita, por meio de um
trabalho de liderança que adaptasse os aspectos individuais dos servidores
às expectativas da organização e dos usuários.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) C, C
b) ( ) C, E
c) ( ) E, C
d) ( ) E, E

FONTE: Disponível em: <http://www.acheiconcursos.com.br/simulado_novo04.asp?seleciona


=(2623,4581,4580,2622,2618,2624,4582,2627,4579,2621)&disciplina=22&materia=3>. Acesso
em: 31 mar. 2012.

4 Leia atentamente o seguinte texto.

Sem o senso comum, não nos comunicamos. Ele marca a nossa


linguagem, está nos nossos valores básicos, agrega-se aos nossos costumes. No
entanto, se contarmos apenas com ele, pouco ou nada criamos, na vida, na arte,
na política. Há o momento da ousadia, do risco, da invenção, que costumam
contrariar o senso comum. O desejável, portanto, parece estar em alguma
forma de equilíbrio em que não se perca o reconhecimento do senso comum,
que nos une, e da criação do novo e do surpreendente, que nos desenvolve.

O já conhecido é necessário, mas o novo é imprescindível.

149
Com base nas ideias do texto anterior, escreva uma dissertação na qual
deverá ser discutida a afirmação em negrito.

FONTE: Disponível em: <http://www.professormarcelobraga.com.br/%5Btermalias-raw%5D/1a-


redacao-on-line-2012>. Acesso em: 31 mar. 2012.

150
UNIDADE 3
TÓPICO 3

O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

1 INTRODUÇÃO
O Tópico 3 vai tratar do novo perfil do servidor público. Qual seria o
perfil ideal do servidor público? Qual seria o principal verbo para ser adotado ao
servidor? É necessário realmente tratar e estudar esse novo perfil?

2 DEVER DO SERVIDOR PÚBLICO


Como em qualquer profissão, os deveres profissionais existem e devem
ser cumpridos. Por que os deveres dos servidores públicos são tão importantes
de serem discutidos e elencados? Porque são os servidores públicos os principais
responsáveis de ofertarem os serviços primordiais para que a sociedade se
preserve de sua sustentabilidade, cidadania e necessidades básicas supridas.

O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder


Executivo Federal, Decreto no 1.171 (BRASIL, 1994), já foi apresentado na Unidade
1, Tópico 1 – Ética, item 4. Em seu capítulo I, Seção II, estabelece os Principais
Deveres do Servidor Público:

a) desempenhar a tempo as atribuições do cargo;

b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento;

c) ser probo (íntegro, honesto), reto, leal e justo, sempre voltando as suas ações
ao bem comum;

d) jamais retardar qualquer prestação de contas;

e) tratar cuidadosamente os usuários dos serviços, aperfeiçoando o processo


de comunicação e contato com o público;

f) ter consciência de que seu trabalho é regido pelos princípios éticos;

g) ser cortês, ter urbanidade, disponibilidade e atenção, respeitando a


capacidade e limitações dos usuários do serviço público e sem qualquer
espécie de preconceito;

151
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

h) ter respeito à hierarquia;

i) resistir a qualquer pressão, interesses ou vantagens em decorrência de ações


ilegais e ainda deve denunciá-las;

j) no exercício de greve, zelar pela defesa à vida e segurança coletiva;

k) ser assíduo e frequente ao trabalho;

l) comunicar imediatamente aos seus superiores qualquer ato contrário ao


interesse público;

m) manter limpo e em perfeita ordem o local de trabalho;

n) participar dos movimentos e estudos que visam à melhoria do exercício de


suas funções;

o) apresentar-se ao trabalho com vestimentas adequadas ao exercício de sua


função;

p) manter-se atualizado quanto às normas, instruções e legislação do órgão no


qual exerce as suas funções;

q) cumprir as tarefas de seu cargo ou função e as instruções superiores, com


critério, segurança e rapidez, mantendo a boa ordem;

r) facilitar a fiscalização de todos os atos ou serviços por quem de direito;

s) exercer com moderação a função que lhe é atribuída e em legítimo interesse


dos usuários do serviço público e dos jurisdicionados (poder e competência)
administrativos;

t) abster-se de exercer sua função, poder ou autoridade sem que a finalidade


seja de interesse público;

u) divulgar e informar sobre o Código de Ética aos integrantes de sua classe e


estimular o seu cumprimento.

Essas recomendações por si só garantem que qualquer servidor e também


os serviços públicos sejam praticados de forma ética e de acordo com os princípios
fundamentais da administração pública.

Você deve se perguntar: precisa estar escrito que um servidor público


deve ser cortês? Precisa estar escrito que a sua principal função tem a finalidade
do interesse público? Que o servidor público deve ser assíduo ao seu trabalho?

152
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

Parece que não. É certo que o comprometimento e a qualidade de quaisquer


serviços, sejam públicos ou privados, estão implicitamente embaralhados de
questões éticas e, principalmente, no cumprimento de seus deveres, sejam eles
descritos em lei ou não.

Na atualidade observa-se mais o enaltecimento dos direitos que dos


deveres, mas a velha cartilha do ‘faça o bem’, ‘seja educado’, ‘o bem comum é
mais importante’, ou qualquer outra nessa linha, ainda é a cartilha certa a seguir
em qualquer que seja a profissão.

3 QUALIDADES DO SERVIDOR PÚBLICO


As qualidades do servidor, assim como seus deveres, devem ser atenuados
porque se pode considerar o principal patrimônio das organizações públicas.
Pode parecer óbvio que as qualidades são inerentes a quaisquer profissionais, mas
vejamos algumas que se encontram em algumas fontes bibliográficas e que devem
ser bem clarificadas e interiorizadas pelos profissionais dos serviços públicos.

3.1 INICIATIVA
O Dicionário da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2001, p. 420) apresenta
três significados para a palavra iniciativa: “1) Ação de quem é o primeiro a propor
e/ou empreender algo; 2) Ação, empreendimento; 3) Qualidade de saber agir, de
passar do pensamento ou decisão à ação. Ao ‘pé da letra’, pode-se considerar a
iniciativa como uma boa qualidade ao administrador público”.

FIGURA 28 – INICIATIVA COMPARTILHADA

FONTE: Disponível em: <http://mogeiroemfoco.blogspot.com/2011/03/


cultive-iniciativa.html>. Acesso em: 20 fev. 2012.

153
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

Mas como ter iniciativa na administração pública, uma vez que a


liberdade de ações é restringida em leis, princípios, normas etc.? Mesmo com
tanta limitação, ainda assim é possível para o servidor público usar da iniciativa
em favorecimento do seu trabalho.

A iniciativa do servidor público demonstra que o mesmo tem


responsabilidade e comprometimento com seu trabalho. Fazer além de suas
atribuições e de sua função é estar imbuído dos valores morais da profissão.

A iniciativa, tal como o interesse público, está acima do interesse particular,


nesse sentido deve ser compartilhada, para que juntos somem forças que farão do
serviço público um bem comum.

3.2 HONESTIDADE
A honestidade é uma virtude que deve ser desenvolvida tanto no
campo pessoal como profissional. A honestidade não permite relatividade ou
subjetividade, não existe, por exemplo, uma pessoa parcialmente honesta. A
honestidade deve ser exercida na plenitude.

FIGURA 29 – HONESTIDADE

Seu irmão
vive quebrando
as coisas.

Não pai,
fui eu que
quebrei.

FONTE: Disponível em: <http://5anocomoestrelasnaterra.blogspot.com/2011/02/


vamos-falar-sobre-honestidade.html>. Acesso em: 20 fev. 2012.

154
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

Na administração pública, como em qualquer outra organização, haverá


situações em que a honestidade do profissional possa ser colocada em xeque, e
será nesses momentos que os princípios e as virtudes do servidor público deverão
emanar para que haja preservação do interesse público.

3.3 RESPONSABILIDADE
A responsabilidade social tem sido um termo muito difundido nos
últimos anos, é uma cobrança mundial que as organizações façam uso de sua
responsabilidade perante a sua comunidade e ao mundo.

Ser responsável é uma virtude que nem deveria ser pontuada, porque é
implícita a qualquer atividade profissional.

FIGURA 30 – RESPONSABILIDADE

1 2 3

EDUCAÇÃO BÁSICA IGUALDADE ENTRE


ACABAR COM A FOME DE QUALIDADE PARA SEXOS E VALORIZAÇÃO
E A MISÉRIA TODOS DA MULHER

4 5 6

COMBATER A AIDS,
REDUZIR A MELHORAR A SAÚDE A MALÁRIA E OUTRAS
MORTALIDADE INFANTIL DAS GESTANTES DOENÇAS

7 8 OITO METAS
ESTABELECIDAS
PELA (ONU)
QUALIDADE DE VIDA TODO MUNDO
ATÉ 2015
E RESPEITO AO MEIO TRABALHANDO PELO
AMBIENTE DESENVOLVIMENTO

FONTE: Disponível em: <http://www.artsete.com.br/responsabilidade.htm>. Acesso em: 15 fev. 2012.

155
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

A figura anterior apresenta as oito metas estabelecidas pela ONU –


Organização das Nações Unidas. Essas metas transferem para cada nação a
responsabilidade de contribuir para um mundo melhor no que se refere à fome,
miséria, educação, valorização da mulher, mortalidade infantil, saúde, qualidade
de vida, entre tantos outros temas que contribuam para os direitos humanos e
pela sustentabilidade das nações.

NOTA

A ONU é uma organização internacional e tem como objetivo zelar pelos


direitos humanos, paz e segurança mundial. A ONU foi fundada em 1945, após a Segunda
Guerra Mundial.

Cada ínfima parte de contribuição na cadeia da responsabilidade


favorecerá a criação de uma grande rede do bem, podendo metas como essas
serem realmente alcançadas.

3.4 SIGILO
O sigilo torna-se uma virtude importante porque, dependendo da função que
o servidor público ocupe na organização, exigirá dele discrição e sigilo de informações,
caso contrário pode-se dizer que esse funcionário estaria sendo antiético.

FIGURA 31 – SIGILO
AGORA,
DIGITE O SEU
PARTIDO.

FONTE: Disponível em: <http://www.minasdehistoria.blog.br/2008/10/dia-de-fiscal/>.


Acesso em: 20 fev. 2012.

156
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

O sigilo é uma virtude do funcionário que favorece não só na preservação


de assuntos confidenciais da organização, como também pessoais, caso contrário
pode-se até considerar crime de abuso de informação privilegiada.

3.5 COMPETÊNCIA
Competência, a rigor, é capacidade, aptidão. Na literatura encontra-se
competência na capacidade de o servidor público exercer sua função na organização
com conhecimento, atitude e habilidade, tal como pode ser observado na figura:

FIGURA 32 – COMPETÊNCIA

COMPETÊNCIA
CONHECIMENTO

HABILIDADE ATITUDE

FONTE: A autora

O conhecimento é saber técnico (o que fazer e por que) sobre as suas


funções, a habilidade é fazer e saber como fazer com desenvoltura, e atitude é a
vontade de fazer. A inserção dessas três habilidades é a competência.

Chiavenato (2004, p. 267) distingue quatro tipos de competência que,


aliadas, compõem a capacidade do servidor melhor desenvolver a sua função para a
organização e para a sociedade:

● Competência pessoal – a capacidade de aprendizagem da pessoa e


absorção de novos e diferentes conhecimentos e habilidades.
● Competência tecnológica – a capacidade de assimilação do
conhecimento de diferentes técnicas necessárias ao desempenho da
generalidade e multifuncionalidade.
● Competência metodológica – a capacidade de empreendimento e
de iniciativa para resolução de problemas de diversas naturezas. Algo
como espírito empreendedor e solucionador espontâneo de problemas.
● Competência social – a capacidade de se relacionar eficazmente com
diferentes pessoas e grupos, bem como desenvolver trabalhos em equipe.

157
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

De acordo com Chiavenato (2004), a competência se ramifica em mais


habilidades, uma vez que o dinamismo do mundo e das organizações exige não
só a competência pessoal e de formação profissional, mas novas habilidades que
possam acompanhar as transformações e as mudanças.

4 FRAGILIDADES DO SERVIDOR PÚBLICO

4.1 OPORTUNISMO
O oportunismo, de acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa,
significa: “acomodação às circunstâncias para se chegar mais facilmente a um
resultado”. (FERREIRA, 2001, p. 534). Essa definição leva à conclusão de que
oportunismo é um defeito, porque fere o princípio da eficiência.

O oportunismo, muitas vezes, é associado à oportunidade. Nesse sentido, a


oportunidade, quando apresentada, não deve ser desperdiçada, porque por vezes se
apresenta uma única vez.

No sentido da fragilidade do servidor público, existem duas vertentes: o


oportunismo da etimologia da palavra, fazer de um jeito mais fácil para chegar a
um resultado; e também, no sentido da oportunidade, o oportunismo da profissão
para fins pessoais, o que fere o princípio da impessoalidade.

FIGURA 33 – OPORTUNISMO

FONTE: Disponível em: <http://falando-peloscotovelos.blogspot.


com/2010/07/oportunismo-virtude-ou-defeito.html>. Acesso em: 25 fev. 2012.

158
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

A figura anterior representa o percurso de dois profissionais: o equilibrista


seguiu o caminho do oportunismo, enquanto que o outro seguiu o caminho da
competência, por esse motivo a sua ascensão foi mais sólida.

4.2 ORGULHO
O orgulho em relação a si mesmo e a outrem, a princípio, pode parecer
com virtude. A fragilidade do orgulho é ser demasiadamente acerbado e, por esse
motivo, quando em relação a si mesmo, impede de enxergar no outro qualidades
superiores às suas.

Dessa forma, o orgulho fragiliza a pessoa em desenvolver seu trabalho de


acordo com o princípio da impessoalidade e eficiência.

Numa situação de trabalho em equipe, o orgulho pode obstruir o


desenvolvimento do trabalho, principalmente no sentido de novas ideias, gestão
participativa, objetivos compartilhados, entre outras situações que solicitam o
comprometimento de equipe das pessoas.

5 ASSÉDIO MORAL
O assédio moral é um tema relativamente novo, mas que merece destaque.
Hoje existem diversas cartilhas para auxiliar as pessoas no que fazer quando
sentirem que estão sendo assediadas.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (2009, p. 13), assédio


moral é:
São atos cruéis e desumanos que caracterizam uma atitude violenta e sem
ética nas relações de trabalho, praticada por um ou mais chefes contra seus
subordinados. Trata-se da exposição de trabalhadoras e trabalhadores a
situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes durante o exercício
de sua função. É o que chamamos de violência moral. Esses atos visam
humilhar, desqualificar e desestabilizar emocionalmente a relação da
vítima com a organização e o ambiente de trabalho, o que põe em risco a
saúde, a própria vida da vítima e seu emprego.

A importância de tratar o assédio nesse Caderno de Ética é que se trata de ações


que impactam as relações de trabalho e a vida dos seres humanos negativamente.

Passos (2004, p. 127) aborda o assunto e alerta: “O assédio moral é um ato


perverso, pois visa manipular o outro e desapossá-lo de sua liberdade”. Na verdade,
o assédio moral é provindo normalmente de um abuso de poder e da manipulação.

159
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

FIGURA 34 – ASSÉDIO MORAL

POR QUE VOCÊ


NÃO ESTÁ
SORRINDO?!

, VOCÊ
SORRIA
ENDO
ESTÁ S
ADO
ASSEDI

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-SY5LjKN5RN0/TbnyzSy2ItI/


AAAAAAAAAPM/-dUboZCakJk/s1600/cameras755.jpg>. Acesso em: 25 fev. 2012.

Em 1997, o Congresso Nacional sancionou uma lei sobre tortura que


também se enquadra no caso do assédio moral, a Lei nº 9.455, de 7 de abril:

O Presidente da República. Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Constitui crime de tortura:

I- constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-


lhe sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de


terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II- submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

160
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita à medida


de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato
não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de


evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão


de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

I- se o crime é cometido por agente público;

II- se o crime é cometido contra criança, gestante, deficiente e adolescente;

III- se o crime é cometido mediante sequestro.

§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a


interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará
o cumprimento da pena em regime fechado.

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido
cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o
agente em local sob jurisdição brasileira.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da


Criança e do Adolescente.

Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e 109º da República.


Fernando Henrique Cardoso
Nélson A. Jobim

(Publicado no DOU de 08 de abril de 1997).

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9455.htm>. Acesso em: 31


mar. 2012.

161
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

O Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2009, p. 8-9) dispõe em seu


site uma cartilha sobre assédio moral e sexual, observe a sua apresentação:

CARTILHA SOBRE ASSÉDIO MORAL E SEXUAL NO TRABALHO

Esta cartilha aborda, por meio de conceitos e exemplos, um dos


relevantes temas de interesse e discussão atual no cenário das relações
entre as categorias profissionais e econômicas: o assédio moral e sexual no
trabalho. Muito embora o assédio moral seja ainda figura em construção no
meio doutrinário – diferentemente do que ocorre com o assédio sexual –, o
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) promove ampla divulgação dessas
duas modalidades a empregados e empregadores, com o objetivo de contribuir
para eliminar tais práticas abusivas no ambiente de trabalho.

O MTE é o órgão responsável pela fiscalização do cumprimento


de todo ordenamento jurídico que trata das relações de trabalho, dentro do
compromisso assumido pelo governo brasileiro de atender efetivamente às
disposições da Convenção nº 111 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT). A Convenção nº 111 define discriminação como toda distinção,
exclusão ou preferência, que tenha por efeito anular ou alterar a igualdade
de oportunidades ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão.
Abrangendo, nessas situações, os casos de assédios, seja moral ou sexual, no
ambiente de trabalho.

[...]

A Comissão de Ética Setorial do Ministério do Trabalho e Emprego tem a


atribuição regimental de orientar e aconselhar sobre a conduta ética do servidor
e dar ampla divulgação ao regulamento ético, motivo pelo qual a diretriz desta
Cartilha se soma ao esforço pedagógico e preventivo interno, enquanto a definição
de assédio moral no serviço público seja elaborada e publicada pela instituição
competente. A iniciativa procura subsidiar os atores sociais na consolidação de
relações de trabalho mais dignas para a classe trabalhadora brasileira. Ao gestor
público também é endereçado esse esforço de conscientização da conduta ética,
com o que se espera evitar práticas que se aproximem dos condenáveis assédios
moral e sexual.

NOTA

Embora a cartilha descreva sobre assédio moral e sexual, nesse caderno optamos
pela análise somente do assédio moral.

162
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

O assédio moral e quaisquer formas de violência no trabalho, com certeza,


devem ser denunciados, porque o dano que essas práticas causam ao trabalhador,
na maioria das vezes, é irreversível, e são casos de danos à integridade moral e
também à saúde do trabalhador.

Contudo, é preciso muito cuidado e não confundir assédio moral com


sobrecarga de trabalho ou estresse, a não ser que esses tenham sido provocados
intencionalmente.

5.1 OBJETIVOS E ESTRATÉGIA DO AGRESSOR NO ASSÉDIO


MORAL
De acordo ainda com a cartilha do Ministério do Trabalho e Emprego, os
objetivos do agressor são (BRASIL, 2009, p. 19):

“● Desestabilizar emocional e profissionalmente.


● Livrar-se da vítima: forçá-lo(a) a pedir demissão ou demiti-lo(a), em geral, por
insubordinação”.

E como estratégia o agressor costuma (BRASIL, 2009, p. 19):

● Escolher a vítima e o(a) isolar do grupo.


● Impedir que a vítima se expresse e não explicar o porquê.
● Fragilizar, ridicularizar, inferiorizar, menosprezar em seu local de
trabalho.
● Culpar/responsabilizar publicamente, levando os comentários sobre
a incapacidade da vítima, muitas vezes, até o espaço familiar.
● Destruir emocionalmente a vítima por meio da vigilância acentuada
e constante. Ele(a) se isola da família e dos amigos, passa a usar
drogas, principalmente o álcool, com frequência, desencadeando ou
agravando doenças preexistentes.
● IMPOR À EQUIPE SUA AUTORIDADE PARA AUMENTAR A
PRODUTIVIDADE.

5.2 EXEMPLOS DE ASSÉDIO MORAL


A cartilha também apresenta exemplos, confira alguns (BRASIL, 2009, p. 21):

● Ameaçar constantemente, amedrontando quanto à perda do emprego.


● Subir na mesa e chamar a todos de incompetentes.
● Repetir a mesma ordem para realizar tarefas simples, centenas de vezes, até
desestabilizar emocionalmente o(a) subordinado(a).
● Sobrecarregar de tarefas ou impedir a continuidade do trabalho, negando
informações.
● Desmoralizar publicamente.

163
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

● Rir, à distância e em pequeno grupo, direcionando os risos ao trabalhador.


● Querer saber o que se está conversando.
● Ignorar a presença do(a) trabalhador(a).
● Desviar da função ou retirar material necessário à execução da tarefa,
impedindo sua execução.
● Troca de turno de trabalho sem prévio aviso.
● Mandar executar tarefas acima ou abaixo do conhecimento do trabalhador.
● Dispensar o trabalhador por telefone, telegrama ou correio eletrônico,
estando ele em gozo de férias.
● Espalhar entre os(as) colegas que o(a) trabalhador(a) está com problemas
nervosos.
● Sugerir que o trabalhador peça demissão devido a problemas de saúde.
● Divulgar boatos sobre a moral do trabalhador.

Esses são alguns dos exemplos apresentados na cartilha. Será que


conseguiríamos enumerar mais algum? Como alerta Passos (2004), é preciso
muito cuidado, para que não confundamos o estresse do trabalho com assédio.

Pense eticamente e moralmente uma situação de assédio moral. Se


realmente não for assédio, você, ao denunciar um suposto agressor, estará
cometendo um outro crime, de denunciar quem realmente não é um agressor.

5.3 PROCEDIMENTOS AO ASSÉDIO MORAL


De acordo com a cartilha, o Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2009,
p. 24) orienta a pessoa que está sofrendo assédio moral às seguintes providências:

● Resistir. Anotar, com detalhes, todas as humilhações sofridas: dia,


mês, ano, hora, local ou setor, nome do(a) agressor(a), colegas que
testemunharam os fatos, conteúdo da conversa e o que mais achar
necessário.
● Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente
daqueles que testemunharam o fato ou que sofrem humilhações do(a)
agressor(a).
● Evitar conversa, sem testemunhas, com o(a) agressor(a).
● Procurar seu sindicato e relatar o acontecido.
● Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas.

Vistos os procedimentos apresentados pela cartilha, para configurar um


assédio moral é necessário juntar diversas provas e até testemunhas. Ou seja, é
processo bastante árduo, pela angústia e sofrimento do oprimido, bem como na
reunião de provas que configurem a ação.

164
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

6 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES


A responsabilidade social é um termo inerente à administração pública,
quaisquer serviços prestados pelas organizações sociais estão imbuídos dos preceitos
da responsabilidade social.

A responsabilidade social, portanto, está associada às empresas privadas,


porque a sociedade atual globalizada exige que medidas de sustentabilidade e
contribuição social (tais como as da ONU) sejam de corresponsabilidade de todas
as esferas, seja pública ou privada.

Vamos entender melhor o que significa responsabilidade social:

Atuação responsável socialmente dos seus membros, as atividades de


beneficência e os compromissos da organização com a sociedade em
geral e de forma mais intensa com aqueles grupos ou parte da sociedade
com a qual está mais em contato. (CHIAVENATO, 2004, p. 472).

O Instituto Ethos (2011) define a responsabilidade social empresarial


como:

É forma de gestão que se define pela relação ética e transparente


da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona
e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade
e a redução das desigualdades sociais.

NOTA

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social foi criado em 1998, é


uma organização sem fins lucrativos, caracterizada como OSCIP (organização da sociedade
civil de interesse público). Sua missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir
seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de
uma sociedade justa e sustentável.
FONTE: Instituto Ethos (2011)

A responsabilidade social, embora seja uma exigência no mundo


competitivo das empresas privadas (e muito tem se avançado nesse campo), ainda
assim é preciso aproximar as esferas públicas e privadas a fim de garantirem bons
resultados sociais. Rico (2004, p.73) assim destaca:

As empresas, adotando um comportamento socialmente responsável,


são poderosos agentes de mudança ao assumirem parcerias
com o Estado e a sociedade civil, na construção de um mundo
economicamente mais próspero e socialmente mais justo.

165
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

O desenvolvimento social e econômico sustentável só pode ser alcançado


verdadeiramente sobre a plataforma da ética e de condutas morais.

7 MODELOS DE HOMEM
Ramos (1984) foi um sociólogo que muito contribuiu para a gestão pública,
principalmente ao relacionar modelos de homem e as teorias administrativas.

Ramos (1984) identificou a existência de três modelos de homem,


influenciado pela realidade histórica administrativa ao longo do século XX.
Os modelos são: homem operacional, homem reativo e homem parentético.
Inicialmente o autor descreveu somente os dois primeiros modelos, mas as
circunstâncias sociais o fizeram acrescentar o último modelo: parentético, que é
considerado hoje o modelo ideal.

FIGURA 35 – IDENTIDADE

QUAL É A SUA IDENTIDADE?

FONTE: Disponível em: <http://cotidianonaperiferia.files.wordpress.com/2011/08/banner-post-lid.


jpg>. Acesso em: 25 fev. 2012.

As primeiras teorias administrativas, a exemplo da abordagem científica


da administração, percebiam o homem pelo conceito de Homo economicus, homem
econômico, ou seja, “toda pessoa é concebida como influenciada exclusivamente
por recompensas salariais, econômicas e materiais”. (CHIAVENATO, 2003, p. 61).
Esse modelo de homem é de um ser passivo, programado para o trabalho e com
o único objetivo da recompensa econômica e material.

O modelo de homem reativo surge na teoria da administração de relações


humanas. A abordagem humanística para a administração foi uma revolução
conceitual de organização, porque transferiu a ênfase de tarefa para a ênfase
nas pessoas. O desenvolvimento das ciências sociais, aliado às abordagens da
psicologia, corroborou para que a administração despendesse maior atenção às
pessoas que trabalhavam na organização. O homem reativo, então, é constituído de
valores e sentimentos e suas atitudes influenciam nos processos e na organização.

166
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

O que difere o homem operacional do homem reativo é a valorização do


homem reativo como ser dotado de sentimentos e valores, embora tanto um quanto
o outro sejam instrumentos para a organização atingir seus objetivos e metas.

O homem parentético surge mediante a complexidade das relações


humanas e pelas novas circunstâncias sociais. Nesse modelo de homem é dada
a liberdade para que ele possa intervir com seu pensamento reflexivo e crítico;
“apto a graduar o fluxo da vida diária para examiná-lo e avaliá-lo como um
espectador”. (RAMOS, 1984, p. 8).

7.1 HOMEM OPERACIONAL


O homem operacional é o homem calculista, que trabalha para receber
sua recompensa econômica. Está inserido numa constituição física na lógica de
mercado e da burocracia.

De acordo com Bondarik e Pilatti (2007, p. 6), o homem operacional


“era apto apenas a conduzir a máquina e por ela ser conduzido, em operações
previamente ordenadas”. Na verdade, o homem operacional lembra o trabalhador
de fábrica em que a execução de tarefa não precisa de reflexão, é somente na
execução automática de tarefas.

O homem operacional não tem preocupações éticas, pois para a organização


é só mais um recurso que levará a resultados de produção. Ele, por si mesmo,
corresponde como um operador aos processos determinados pela organização,
por esse motivo não faz reflexões éticas sobre suas práticas e nem da organização.

7.2 HOMEM REATIVO


O homem reativo é um ser inserido em circunstâncias sociais, por isso seus
sentimentos, a motivação, as suas necessidades são importantes e valorizadas, para
que seu rendimento frente à organização seja reflexo dessa constituição do sujeito.

O homem reativo preocupa-se com o ambiente social externo ou


contextual da organização, sendo esta encarada como um sistema
aberto e passível de mudanças. Não desconsidera a importância dos
valores, dos sentimentos e das suas atitudes sobre a efetivação do
processo produtivo. (BONDARIK; PILATTI, 2007, p. 6).

O homem reativo, diferentemente do operacional, possui uma visão mais


ampla do significado do trabalho, em que somente a recompensa material não
é suficiente. O homem reativo tem como motivação ao trabalho a qualidade de
vida e a recompensa material.

167
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

7.3 HOMEM PARENTÉTICO


O homem parentético é um modelo de homem em que as suas capacidades
de crítica, reflexão e autoconhecimento são importantes no desenvolvimento
do seu trabalho na organização. O homem parentético deixa de ser o robô e
exclusivamente operador do homem operacional, e também a sua motivação
humana do homem reativo faz parte de um contexto mais dinâmico social.
O homem parentético é aquele que busca a sua realização pessoal, mas numa
dimensão social em que o bem-estar deve ser compartilhado por toda sociedade
(o bem comum).

O quadro a seguir resume esses modelos de homem e dinamiza as


transformações de atitude e de alocação no tempo e espaço.

QUADRO 15 – MODELOS DE HOMEM BASEADO EM RAMOS


MODELO
SER ESPAÇOS DE MOTIVOS NA
DIMENSÃO CONSTITUIÇÃO DE
HUMANO EXISTÊNCIA ORGANIZAÇÃO
HOMEM
RAZÃO REALIZAÇÃO
ESPAÇO Ética da convicção PESSOAL
POLÍTICA REFLEXIVO
MULTIDIMENSIONAL

PESSOAL Ética da (Consciência


responsabilidade crítica, autoestima)
ÚNICO E

RECONHECI-
COMUNIDADE/ CONVIVIALIDADE
SOCIAL REATIVO MENTO DO
SOCIEDADE
GRUPO
DINHEIRO
ECONOMIA
OPERACIO- (Trabalho por
BIOLÓGICA (MERCADO E FÍSICA
NAL recompensa
BUROCRACIA)
material)

FONTE: Salm; Menegasso (2005, p. 48)

Esse quadro apresenta uma dimensão interessante do modelo de homem


em relação à dimensão predominante da sociedade. As questões éticas surgem
somente na medida em que a participação do homem na organização torna-se
maior enquanto ser atuante e reflexivo.

7.4 HIERARQUIA DE NECESSIDADES


Maslow (1968) foi um psicólogo americano, conhecido por apresentar
a hierarquia das necessidades do ser humano, no formato de pirâmide, como
podemos observar:

168
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

FIGURA 36 – HIERARQUIA DE NECESSIDADES EM MASLOW

Desafios mais complexos,


trabalho criativo, autonomia,
AUTOR- participação nas decisões.
REALIZAÇÃO

Ser gostado, reconhecimento, promoções,


AUTOESTIMA
responsabilidades por resultados.

Bom clima, respeito, aceitação,


AFETIVO-SOCIAL interação com colegas,
superiores e clientes, etc.

Amparo legal, orientação precisa,


SEGURANÇA segurança no trabalho,
estabilidade, remuneração.

Alimentação, moradia,
FISIOLÓGICAS conforto físico,
descanso, lazer, etc.

FONTE: Disponível em: <http://www.conexaorh.com.br/images/piramide.gif>. Acesso em: 25


fev. 2012.

Essa pirâmide foi interessante quando apresentada na época, porque


revolucionou as organizações no trato com seus funcionários. Era preciso que as
organizações oportunizassem um plano motivacional para que seus trabalhadores
pudessem chegar ao topo da pirâmide.

Não bastava mais o trabalho para assegurar as necessidades básicas.

Em analogia aos modelos de homem apresentado anteriormente, podemos


relacionar aproximadamente a pirâmide da seguinte forma:

● Homem operacional – nível da hierarquia fisiológica.

● Homem reativo – nível das necessidades fisiológicas, segurança e talvez


também do afetivo-social, uma vez que esse modelo de homem já busca a
qualidade de vida.

● Homem parentético – nível fisiológico, de segurança, afetivo-social, autoestima


e realização pessoal.

O que podemos perceber é que a pirâmide é um referencial para que as


organizações construam seus mecanismos motivadores, bem como contribuam na
formação de homens trabalhadores para o seu fim último que é a realização pessoal.

169
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

8 ÉTICA E JUSTIÇA
O trabalho em sociedade implica tomar decisões. A todo tempo se decide
sobre questões gerais e específicas, internas e externas de uma organização.

De acordo com Alonso, Lopes e Castrucci (2010, p. 110), existem três tipos
de características na tomada de decisões:

1) decisão pessoal – é o ato humano, livre e de inteira responsabilidade


de quem toma a decisão;
2) decisão ética – é o ato do homem, em que a moralidade norteia;
3) decisão que afeta outrem – é a decisão que considera princípios
éticos e toma conhecimento dos direitos e limita-se a tais aspectos.

O que os autores querem esclarecer é que as decisões envolvem essas três


características, o aspecto pessoal da decisão, a moralidade e a ética do quanto a
decisão pode interferir no outro.

A ética influencia o processo de tomada de decisão para determinar quais


são os principais valores. A tomada de decisão envolve momentos de escolha
entre o bem e o mal e entre o bem e o bem. É nesse momento que a alteridade e a
justiça tomam parte.

A tomada de decisão envolve a alteridade, que é o senso de justiça, porque


diz respeito aos outros. Dessa forma, existem tipos de justiça a conhecer que não
se esgotam por si só, mas organizam a sociedade e dão as prioridades.

● Justiça social – a justiça social apresenta duas vertentes: a) justiça legal – que
são as obrigações dos cidadãos para com o Estado; b) justiça distributiva – que
são as obrigações do Estado para com seus cidadãos.

● Justiça legal – “compreende as obrigações dos cidadãos para a sociedade


politicamente organizada, tais como pagamento de impostos, prestação de
serviços públicos (serviço militar, serviços emergenciais) etc.” (ALONSO;
LOPES; CASTRUCCI; 2010, p. 111).

● Justiça distributiva – leva em consideração o mérito, ou seja, procura


respostas às desigualdades e regula as relações entre a comunidade, tais
como o imposto de renda: quem ganha mais paga mais e quem ganha menos
paga menos ou não paga.

● Justiça comutativa – vem do direito positivo, também conhecida como corretiva,


é a justiça que intercede entre as pessoas físicas ou jurídicas, em virtude de
contratos em que são fixadas as obrigações das partes.

● Justiça equitativa – é aquela que parte do pressuposto de que todos são iguais.

170
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

Essa caracterização dos tipos de justiça contribui para que a administração


pública possa perceber seu âmbito de atuação e melhor conduza as suas ações.
Para melhorar a compreensão, propõe o diagrama que segue e suas respectivas
atuações no seio da sociedade.

Toda ação responde às perguntas:

1) O quê? - qual é a ação devida.

2) Como? - qual é a melhor forma para manter justiça.

3) Por quê? – os direitos do ser humano devem ser preservados.

A justiça, junto à moral e à ética, conduz a administração pública a práticas


mais eficientes. Nesse caso, não estamos falando da justiça como entidade jurídica,
mas da justiça de realizar ações que sejam de consciência ética e moral e, é claro, legal.

FIGURA 37 – PANORAMA DAS AÇÕES ADMINISTRATIVAS

O QUÊ?

AÇÃO ADMINISTRATIVA
ÉTICA DAS TOMADAS DE DECISÃO
ÉTICA DA CONVICÇÃO
ÉTICA DA RESPONSABILIDADE

O QUÊ?

DISTRIBUIÇÃO DAS LIBERDADES


JUSTIÇA (Aplicação do princípios da igualdade)
Justiça Geral BEM COMUM
Justiça Distributiva
Justiça Comutativa
Justiça Equitativa

POR QUÊ?

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


Proteção de efetivação dos direitos declarados

FONTE: Adaptado de: Brito (2005)

171
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

A figura anterior apresenta a grande dimensão das ações administrativas numa


sociedade. Entende-se ação administrativa toda e qualquer ação das organizações,
sejam elas públicas ou privadas. As ações nesse diagrama correspondem a todo o
universo da sociedade instituído de ações da administração pública direta ou indireta,
que juntas são corresponsáveis pelo único objetivo do bem público.

Na ação administrativa deve ser respondida a pergunta: o que fazer? E


nesse momento os critérios racionais e morais devem ser considerados para a
tomada de decisão, ora pela ética da convicção, ora pela ética da responsabilidade.

No momento da distribuição das liberdades, a avaliação de justiça pelo


princípio da igualdade, ou seja, deve-se propor um modelo de organização
de sociedade de maneira justa. O Estado tem a função e responsabilidade de
distribuir igualdades.

E, por último, o momento da ação administrativa, em que a preservação


dos direitos humanos deve ser observada. O porquê das ações é a distribuição da
liberdade individual, garantia de seus direitos e o bem comum.

9 ÉTICA E A MELHORIA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS


Como já foi possível observar, a qualidade dos serviços públicos caminha
com as questões éticas e morais.

Ao observarmos os deveres previstos no Código de Condutas, Decreto no


1.171/94 (BRASIL, 1994), e se cumpridos esses deveres, com certeza a qualidade
de atendimento aos cidadãos estará garantida.

A ética passa a ser um elemento catalisador para que a qualidade e a


melhoria dos serviços públicos estejam em constante melhoria.

Essa complexidade das relações humanas, as regras de competição do


capitalismo e os valores ‘o que ganho com isso’, ‘ no que eu levo vantagem’,
trazem uma lógica louca em relação aos valores morais e éticos que existem na
sociedade, que é chamada de competitividade.

A competitividade e os valores que ela traz são contrários aos valores do


bem comum e interesse público. A competitividade, por si só, remete a ‘quem vai
chegar primeiro’, ‘quem é o melhor’, ‘comando de segmentos’, e outras ideias nesse
sentido. Mas mesmo na lógica de mercado podem-se vislumbrar aspectos éticos, e
a responsabilidade social contribui muito para isso.

A responsabilidade social tem sido determinante para que o cidadão,


enquanto consumidor, mude o seu comportamento e valorize aspectos éticos
das empresas. Mendes (2009, p. 4) aponta que o consumidor apresenta um
comportamento ético que se manifesta em dois níveis:

172
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

• Das práticas cotidianas de consumo, isto é, as escolhas pessoais de


rotina que refletem valores, formados a partir dos sentimentos morais
relativamente a si mesmo e aos próximos (familiares, vizinhos etc.).
• Do consumo ético, isto é, a adesão a um campo emergente de práticas
comerciais e de políticas públicas que explicitamente desenvolvem as
disposições éticas implícitas nas práticas cotidianas de consumo – o
que podemos genericamente designar por consumo sustentável.

O consumidor responsável situa-se num plano em que a sua motivação


para o comportamento ético no consumo é dicotômica. Muitas vezes, o ‘produto’
mais ético pode ser o mais caro, e aí se instala o dilema: ser ético ou favorecer a
minha situação econômica? Exemplo disso são os produtos piratas.

Mendes (2009, p. 5) apresenta um diagrama sobre a motivação dos


cidadãos em relação ao consumo:

QUADRO 16 – MOTIVAÇÃO ÉTICA FRENTE AO CONSUMO

JUÍZO ÉTICO JUÍZO ÉTICO


MOTIVAÇÃO
DETERMINADO INDETERMINADO
Alta Consumo sustentável Dilema ético
Baixa Conformismo Laxismo

FONTE: Mendes (2009, p. 5)

NOTA

Laxismo é uma doutrina em que predomina o princípio da moral relaxada.


Restringe a obrigação moral. Conjunto de comportamentos pouco rigorosos, pouco
cuidadosos ou demasiado permissivos.
FONTE: Abbagnamo (2007, p. 1016).

Quanto maior a motivação, mais os conceitos éticos podem ser discutidos


e reflexionados para favorecer os movimentos das organizações (públicas e
privadas) da sociedade.

Peck (2009), do Departamento dos Assuntos Econômicos e Sociais


das Nações Unidas, Divisão de Desenvolvimento Sustentável, apresenta um
diagrama do Ministério Sueco do Ambiente, de junho de 2007, apresentado aqui
parcialmente e com acréscimo a partir da analogia aos serviços públicos.

173
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

FIGURA 38 – A COMPLEXIDADE DA VIDA DIANTE DO CONSUMO E DO BEM COMUM

ECONOMIA
TECNOLÓGICO
Crescimento e competição
Inovação
Aumento de produtividade
Infraestrutura
Redução de preços
Tecnologias
Marketing e publicidade
Desenvolvimento do produto
Maximização do bem

SOCIAL
PSICOLÓGICO
Instituições e valores
Emoções e desejos
Família e amigos
Sentimento de controle BEM COMUM
Educação
Tomada de decisões CONSUMO
Classe social
Construção de identidade
Simbolismo
Necessidade
Moda e sabores

POLÍTICO
Modelo de crescimento CULTURAL E HISTÓRICO
Proteção do consumidor Diferenças culturais
Informação História social
Qualidade de vida Histórias de vida
Segurança Religião
Questões ambientais

FONTE: Adaptado de Peck (2009)

O diagrama demonstra a complexidade das dimensões que levam o


cidadão ao bem comum (e ao consumo). A cada tomada de decisão, seja o mais
simples ato administrativo, ou pelas políticas públicas, formulação de leis, justiça
etc., todas essas decisões estão carregadas de inúmeros aspectos que, levados em
consideração, enriquecem o campo da ética.

E essas dimensões são a todo tempo sofríveis de mudanças, ou seja, a


mutabilidade de valores, de comportamentos, dá conta da complexidade da vida.

Não é pela quantidade de inserções (econômica, tecnológica, psicológica,


social, política, cultural e histórica), mas é pela qualidade dessas questões. É a
valorização das questões éticas que fará com que a administração pública e a
sociedade corporativa buscarão o bem comum e um consumo mais consciente,
ético e sustentável.

Você deve se perguntar: qual é a relação da responsabilidade social


com a administração pública? Num primeiro momento, pode-se pensar:
nenhuma. Entretanto, se houver aprofundamento, pode significar muito para
os serviços públicos.

Ao fazer uma análise mais profunda é possível observar que o consumidor,


nessa lógica corporativa, está mais exigente, e também mais consciente das práticas
éticas das organizações, e isso não se restringe somente à lógica do mercado. Com
certeza, essa mesma lógica e conscientização da ética são transportadas para os
serviços públicos.

174
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

10 CÓDIGO DE ÉTICA DA ADMINISTRAÇÃO


A Resolução Normativa nº 393, de 6 de dezembro de 2010, estabelece o
Código de Ética do Administrador. A resolução é composta por 57 artigos, mas
destacam-se aqui os principais, para apreciação de como a ética é assunto a ser
preservado nas profissões e relações de trabalho.

CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ADMINISTRAÇÃO


(Aprovado pela Resolução Normativa CFA nº 393, de 6 de dezembro de
2010)

PREÂMBULO

I- De forma ampla, a Ética é definida como a explicitação teórica do fundamento


último do agir humano na busca do bem comum e da realização individual.

II- O exercício da atividade dos profissionais de Administração implica


compromisso moral com o indivíduo, cliente, empregador, organização e com
a sociedade, impondo deveres e responsabilidades indelegáveis.

III- O Código de Ética dos Profissionais de Administração (CEPA) é o guia


orientador e estimulador de novos comportamentos e está fundamentado
em um conceito de ética direcionado para o desenvolvimento, servindo
simultaneamente de estímulo e parâmetro para que o administrador amplie
sua capacidade de pensar, visualize seu papel e torne sua ação mais eficaz
diante da sociedade.

CAPÍTULO I
DOS DEVERES

Art. 1º São deveres do profissional de Administração:

I- exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade, defendendo os


direitos, bens e interesse de clientes, instituições e sociedades sem abdicar
de sua dignidade, prerrogativas e independência profissional, atuando como
empregado, funcionário público ou profissional liberal;

II- manter sigilo sobre tudo o que souber em função de sua atividade profissional;

III- conservar independência na orientação técnica de serviços e em órgãos que


lhe forem confiados;

IV- comunicar ao cliente, sempre com antecedência e por escrito, sobre as


circunstâncias de interesse para seus negócios, sugerindo, tanto quanto
possível, as melhores soluções e apontando alternativas;

175
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

V- informar e orientar o cliente a respeito da situação real da empresa a que serve;

VI- renunciar, demitir-se ou ser dispensado do posto, cargo ou emprego, se, por
qualquer forma, tomar conhecimento de que o cliente manifestou desconfiança
para com o seu trabalho, hipótese em que deverá solicitar substituto;

VII- evitar declarações públicas sobre os motivos de seu desligamento, desde


que do silêncio não lhe resultem prejuízo, desprestígio ou interpretação
errônea quanto à sua reputação;

VIII- esclarecer o cliente sobre a função social da organização e a necessidade


de preservação do meio ambiente;

IX- manifestar, em tempo hábil e por escrito, a existência de seu impedimento


ou incompatibilidade para o exercício da profissão, formulando, em caso de
dúvida, consulta ao CRA no qual esteja registrado;

X- aos profissionais envolvidos no processo de formação dos profissionais de


Administração cumpre informar, orientar e esclarecer sobre os princípios e
normas contidas neste Código;

XI- cumprir fiel e integralmente as obrigações e compromissos assumidos,


relativos ao exercício profissional;

XII- manter elevados o prestígio e a dignidade da profissão.

CAPÍTULO III
DOS DIREITOS

Art. 3º São direitos do profissional de Administração:

I- exercer a profissão independentemente de questões religiosas, raça,


sexo, nacionalidade, cor, idade, condição social ou de qualquer natureza
discriminatória;

II- apontar falhas nos regulamentos e normas das instituições, quando as julgar
indignas do exercício profissional ou prejudiciais ao cliente, devendo, nesse caso,
dirigir-se aos órgãos competentes, em particular ao Tribunal Regional de Ética
dos Profissionais de Administração e ao Conselho Regional de Administração;

III- exigir justa remuneração por seu trabalho, a qual corresponderá às


responsabilidades assumidas a seu tempo de serviço dedicado, sendo-lhe livre
firmar acordos sobre salários, velando, no entanto, pelo seu justo valor;

IV- recusar-se a exercer a profissão em instituição pública ou privada onde as


condições de trabalho sejam degradantes à sua pessoa, à profissão e à classe;

176
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

V- participar de eventos promovidos pelas entidades de classe, sob suas


expensas ou quando subvencionados os custos referentes ao acontecimento;

VI- a competição honesta no mercado de trabalho, a proteção da propriedade


intelectual sobre sua criação, o exercício de atividades condizentes com sua
capacidade, experiência e especialização.

FONTE: Disponível em: <http://www.crars.org.br/arquivos/codigo_etica.pdf >. Acesso em: 31 mar. 2012.

Nessa última unidade apresentam-se como estudo complementar


referências bibliográficas, técnicas da área da administração, filmes que ajudarão
você a refletir melhor sobre as regras de convivência. E também o Decreto no
1.171/94, para que você possa ler na íntegra. Aproveite as dicas e bons estudos!

177
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

LEITURA COMPLEMENTAR

DECRETO Nº 1.171, DE 22 DE JUNHO DE 1994.

Aprova o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder


Executivo Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art.


84, incisos IV e VI, e ainda tendo em vista o disposto no art. 37 da Constituição,
bem como nos artigos. 116 e 117 da Lei n° 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e nos
arts. 10, 11 e 12 da Lei n° 8.429, de 2 de junho de 1992,

DECRETA:
Art. 1° Fica aprovado o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do
Poder Executivo Federal, que com este baixa.

Art. 2° Os órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta e indireta


implementarão, em sessenta dias, as providências necessárias à plena vigência
do Código de Ética, inclusive mediante a constituição da respectiva Comissão de
Ética, integrada por três servidores ou empregados titulares de cargo efetivo ou
emprego permanente.
Parágrafo único. A constituição da Comissão de Ética será comunicada à Secretaria
da Administração Federal da Presidência da República, com a indicação dos
respectivos membros titulares e suplentes.

Art. 3° Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 22 de junho de 1994, 173° da Independência e 106° da República.

ITAMAR FRANCO
Romildo Canhim

Código de Ética Profissional do


Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal

CAPÍTULO I

Seção I
Das Regras Deontológicas

I- A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios morais


são primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no exercício do
cargo ou função, ou fora dele, já que refletirá o exercício da vocação do próprio
poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes serão direcionados para a
preservação da honra e da tradição dos serviços públicos.

178
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

II- O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua
conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo
e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas
principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art.
37, caput, e § 4°, da Constituição Federal.

III- A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem


e o mal, devendo ser acrescida da ideia de que o fim é sempre o bem comum. O
equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor público, é que
poderá consolidar a moralidade do ato administrativo.

IV- A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos direta


ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige, como
contrapartida, que a moralidade administrativa se integre no Direito, como
elemento indissociável de sua aplicação e de sua finalidade, erigindo-se, como
consequência, em fator de legalidade.

V- O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade deve


ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como cidadão,
integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser considerado como seu
maior patrimônio.

VI- A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto,
se integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos e atos
verificados na conduta do dia a dia em sua vida privada poderão acrescer ou
diminuir o seu bom conceito na vida funcional.

VII- Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse


superior do Estado e da Administração Pública, a serem preservados em processo
previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade de qualquer ato
administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade, ensejando sua omissão
comprometimento ético contra o bem comum, imputável a quem a negar.

VIII- Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou
falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou
da Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre
o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que sempre
aniquilam até mesmo a dignidade humana, quanto mais a de uma Nação.

IX- A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço público


caracterizam o esforço pela disciplina. Tratar mal uma pessoa que paga seus
tributos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral. Da mesma forma,
causar dano a qualquer bem pertencente ao patrimônio público, deteriorando-o,
por descuido ou má vontade, não constitui apenas uma ofensa ao equipamento e
às instalações ou ao Estado, mas a todos os homens de boa vontade que dedicaram
sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e seus esforços para construí-los.

179
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

X- Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de solução que compete


ao setor em que exerça suas funções, permitindo a formação de longas filas, ou
qualquer outra espécie de atraso na prestação do serviço, não caracteriza apenas
atitude contra a ética ou ato de desumanidade, mas principalmente grave dano
moral aos usuários dos serviços públicos.

XI- 0 servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de seus superiores,
velando atentamente por seu cumprimento, e, assim, evitando a conduta
negligente Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo de desvios tornam-se, às
vezes, difíceis de corrigir e caracterizam até mesmo imprudência no desempenho
da função pública.

XII- Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é fator de


desmoralização do serviço público, o que quase sempre conduz à desordem nas
relações humanas.

XIII- O servidor que trabalha em harmonia com a estrutura organizacional,


respeitando seus colegas e cada concidadão, colabora e de todos pode receber
colaboração, pois sua atividade pública é a grande oportunidade para o
crescimento e o engrandecimento da Nação.

Seção II
Dos Principais Deveres do Servidor Público

XIV- São deveres fundamentais do servidor público:

a) desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo, função ou emprego público de


que seja titular;

b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, pondo fim ou


procurando prioritariamente resolver situações procrastinatórias, principalmente
diante de filas ou de qualquer outra espécie de atraso na prestação dos serviços pelo
setor em que exerça suas atribuições, com o fim de evitar dano moral ao usuário;

c) ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade do seu caráter,
escolhendo sempre, quando estiver diante de duas opções, a melhor e a mais
vantajosa para o bem comum;

d) jamais retardar qualquer prestação de contas, condição essencial da gestão dos


bens, direitos e serviços da coletividade a seu cargo;

e) tratar cuidadosamente os usuários dos serviços, aperfeiçoando o processo de


comunicação e contato com o público;

f) ter consciência de que seu trabalho é regido por princípios éticos que se
materializam na adequada prestação dos serviços públicos;

180
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

g) ser cortês, ter urbanidade, disponibilidade e atenção, respeitando a capacidade


e as limitações individuais de todos os usuários do serviço público, sem qualquer
espécie de preconceito ou distinção de raça, sexo, nacionalidade, cor, idade,
religião, cunho político e posição social, abstendo-se, dessa forma, de causar-lhes
dano moral;

h) ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum temor de representar contra


qualquer comprometimento indevido da estrutura em que se funda o Poder Estatal;

i) resistir a todas as pressões de superiores hierárquicos, de contratantes,


interessados e outros que visem obter quaisquer favores, benesses ou vantagens
indevidas em decorrência de ações morais, ilegais ou aéticas e denunciá-las;

j) zelar, no exercício do direito de greve, pelas exigências específicas da defesa da


vida e da segurança coletiva;

k) ser assíduo e frequente ao serviço, na certeza de que sua ausência provoca


danos ao trabalho ordenado, refletindo negativamente em todo o sistema;

l) comunicar imediatamente a seus superiores todo e qualquer ato ou fato


contrário ao interesse público, exigindo as providências cabíveis;

m) manter limpo e em perfeita ordem o local de trabalho, seguindo os métodos


mais adequados à sua organização e distribuição;

n) participar dos movimentos e estudos que se relacionem com a melhoria do


exercício de suas funções, tendo por escopo a realização do bem comum;

o) apresentar-se ao trabalho com vestimentas adequadas ao exercício da função;

p) manter-se atualizado com as instruções, as normas de serviço e a legislação


pertinente ao órgão onde exerce suas funções;

q) cumprir, de acordo com as normas do serviço e as instruções superiores, as


tarefas de seu cargo ou função, tanto quanto possível, com critério, segurança e
rapidez, mantendo tudo sempre em boa ordem;

r) facilitar a fiscalização de todos os atos ou serviços por quem de direito;

s) exercer, com estrita moderação, as prerrogativas funcionais que lhe sejam


atribuídas, abstendo-se de fazê-lo contrariamente aos legítimos interesses dos
usuários do serviço público e dos jurisdicionados administrativos;

t) abster-se, de forma absoluta, de exercer sua função, poder ou autoridade com


finalidade estranha ao interesse público, mesmo que observando as formalidades
legais e não cometendo qualquer violação expressa à lei;

181
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

u) divulgar e informar a todos os integrantes da sua classe sobre a existência deste


Código de Ética, estimulando o seu integral cumprimento.

Seção III
Das Vedações ao Servidor Público

XV- É vedado ao servidor público:

a) o uso do cargo ou função, facilidades, amizades, tempo, posição e influências,


para obter qualquer favorecimento, para si ou para outrem;

b) prejudicar deliberadamente a reputação de outros servidores ou de cidadãos


que deles dependam;

c) ser, em função de seu espírito de solidariedade, conivente com erro ou infração


a este Código de Ética ou ao Código de Ética de sua profissão;

d) usar de artifícios para procrastinar ou dificultar o exercício regular de direito


por qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material;

e) deixar de utilizar os avanços técnicos e científicos ao seu alcance ou do seu


conhecimento para atendimento do seu mister;

f) permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos, paixões ou interesses


de ordem pessoal interfiram no trato com o público, com os jurisdicionados
administrativos ou com colegas hierarquicamente superiores ou inferiores;

g) pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda financeira,


gratificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem de qualquer espécie, para
si, familiares ou qualquer pessoa, para o cumprimento da sua missão ou para
influenciar outro servidor para o mesmo fim;

h) alterar ou deturpar o teor de documentos que deva encaminhar para providências;

i) iludir ou tentar iludir qualquer pessoa que necessite do atendimento em


serviços públicos;

j) desviar servidor público para atendimento a interesse particular;

k) retirar da repartição pública, sem estar legalmente autorizado, qualquer


documento, livro ou bem pertencente ao patrimônio público;

l) fazer uso de informações privilegiadas obtidas no âmbito interno de seu serviço,


em benefício próprio, de parentes, de amigos ou de terceiros;

m) apresentar-se embriagado no serviço ou fora dele habitualmente;

182
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

n) dar o seu concurso a qualquer instituição que atente contra a moral, a


honestidade ou a dignidade da pessoa humana;

o) exercer atividade profissional aética ou ligar o seu nome a empreendimentos


de cunho duvidoso.

CAPÍTULO II
Das Comissões de Ética

XVI- Em todos os órgãos e entidades da Administração Pública Federal


direta, indireta autárquica e fundacional, ou em qualquer órgão ou entidade
que exerça atribuições delegadas pelo poder público, deverá ser criada
uma Comissão de Ética, encarregada de orientar e aconselhar sobre a ética
profissional do servidor, no tratamento com as pessoas e com o patrimônio
público, competindo-lhe conhecer concretamente de imputação ou de
procedimento susceptível de censura.

XVII- Cada Comissão de Ética, integrada por três servidores públicos e respectivos
suplentes, poderá instaurar, de ofício, processo sobre ato, fato ou conduta que
considerar passível de infringência a princípio ou norma ético-profissional,
podendo ainda conhecer de consultas, denúncias ou representações formuladas
contra o servidor público, a repartição ou o setor em que haja ocorrido a falta,
cuja análise e deliberação forem recomendáveis para atender ou resguardar o
exercício do cargo ou função pública, desde que formuladas por autoridade,
servidor, jurisdicionados administrativos, qualquer cidadão que se identifique
ou quaisquer entidades associativas regularmente constituídas.

XVII - À Comissão de Ética incumbe fornecer, aos organismos encarregados da


execução do quadro de carreira dos servidores, os registros sobre sua conduta
ética, para o efeito de instruir e fundamentar promoções e para todos os demais
procedimentos próprios da carreira do servidor público.
XIX- Os procedimentos a serem adotados pela Comissão de Ética, para a apuração
de fato ou ato que, em princípio, se apresente contrário à ética, em conformidade
com este Código, terão o rito sumário, ouvidos apenas o queixoso e o servidor, ou
apenas este, se a apuração decorrer de conhecimento de ofício, cabendo sempre
recurso ao respectivo Ministro de Estado.

XX- Dada a eventual gravidade da conduta do servidor ou sua reincidência,


poderá a Comissão de Ética encaminhar a sua decisão e respectivo expediente
para a Comissão Permanente de Processo Disciplinar do respectivo órgão,
se houver, e, cumulativamente, se for o caso, à entidade em que, por exercício
profissional, o servidor público esteja inscrito, para as providências disciplinares
cabíveis. O retardamento dos procedimentos aqui prescritos implicará
comprometimento ético da própria Comissão, cabendo à Comissão de Ética do
órgão hierarquicamente superior o seu conhecimento e providências.

183
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

XXI- As decisões da Comissão de Ética, na análise de qualquer fato ou ato


submetido à sua apreciação ou por ela levantado, serão resumidas em ementa e,
com a omissão dos nomes dos interessados, divulgadas no próprio órgão, bem
como remetidas às demais Comissões de Ética, criadas com o fito de formação
da consciência ética na prestação de serviços públicos. Uma cópia completa de
todo o expediente deverá ser remetida à Secretaria da Administração Federal da
Presidência da República.

XXII- A pena aplicável ao servidor público pela Comissão de Ética é a de censura


e sua fundamentação constará do respectivo parecer, assinado por todos os seus
integrantes, com ciência do faltoso.

XXIII- A Comissão de Ética não poderá se eximir de fundamentar o julgamento


da falta de ética do servidor público ou do prestador de serviços contratado,
alegando a falta de previsão neste Código, cabendo-lhe recorrer à analogia, aos
costumes e aos princípios éticos e morais conhecidos em outras profissões.

XXIV- Para fins de apuração do comprometimento ético, entende-se por servidor


público todo aquele que, por força de lei, contrato ou de qualquer ato jurídico,
preste serviços de natureza permanente, temporária ou excepcional, ainda que
sem retribuição financeira, desde que ligado direta ou indiretamente a qualquer
órgão do poder estatal, como as autarquias, as fundações públicas, as entidades
paraestatais, as empresas públicas e as sociedades de economia mista, ou em
qualquer setor onde prevaleça o interesse do Estado.

XXV- Em cada órgão do Poder Executivo Federal em que qualquer cidadão


houver de tomar posse ou ser investido em função pública, deverá ser prestado,
perante a respectiva Comissão de Ética, um compromisso solene de acatamento
e observância das regras estabelecidas por este Código de Ética e de todos os
princípios éticos e morais estabelecidos pela tradição e pelos bons costumes.

184
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

DICAS

LIVROS

DAVIS, K., NEWSTROM, J. W. Comportamento humano no trabalho: uma


abordagem psicológica. São Paulo: Pioneira, 1992.

Esse livro faz reflexões sobre pessoas no trabalho em todos os tipos de


organizações e sugere procedimentos para que elas se motivem a trabalhar
em conjunto de forma mais produtiva. A obra resume conhecimentos no
campo de comportamento organizacional.

DEMING, W. E. Qualidade: A revolução da administração. Rio de Janeiro:


Marques-Saraiva, 1990.

Um marco da década de 90. Revolucionou o conceito de qualidade e


qualidade total nas organizações. Seus 14 pontos foram para a administração
um referencial para a construção de gerência coesa e efetiva.

VIDEOTECA

Filme: Código de Honra (Estados Unidos, 2003)


Direção: Adam Kassen
Atores: Chris O’Donnell, Ben Affleck, Matt Damon e Brendan Fraser

David Greene é um jovem de classe operária que consegue uma bolsa


de estudos numa tradicional escola de uma pequena cidade norte-
americana. Ao descobrirem que ele é judeu, tudo muda e questões morais
e éticas serão colocadas à prova.

Filme: Questão de Honra (Estados Unidos, 2001)


Direção: Rob Reiner
Atores: Tom Cruise, Demi Moore, Jack Nicholson, Kavin Bacon, Kevin
Pollack e Kiefer Sutherland.
Esse filme discute questões da ordem de relações de poder, e o impasse entre
seguir a sua própria consciência ou as ordens da organização e de superiores.

185
UNIDADE 3 | GESTÃO PÚBLICA E ÉTICA

Filme: A Vila (Estados Unidos, 2005)


Direção: M. Night Shyamalan
Elenco: William Hurt, Sigourney Weaver, Adrien Brody e Bryce Dallas
Howard

Esse filme é interessante para repensar os códigos de convivência. Uma


cidade vive sob constante ameaça e um homem determinado decide
enfrentar o desconhecido e mudar para sempre o futuro da comunidade.

NA INTERNET

O poder de uma atitude


Esse vídeo apresenta a iniciativa de um
menino em fazer algo completamente
impossível sozinho, mas com a ajuda
e participação de todos ao redor a sua
iniciativa tornou-se possível. Muito
emocionante!

FONTE: Disponível em: <http://www.youtube.


com/user/CarlosOdon#p/f/26/JsiNL9LwZBw>.
Acesso em: 31 mar. 2011.

Honestidade
Esse vídeo curto é daqueles que pretende
passar a mensagem de bons valores. O
interessante nesse filme é fazer analogia
às oportunidades que aparecem no dia a
dia e que por vezes colocam em xeque a
firmeza do caráter das pessoas.

FONTE: Disponível em: <http://www.youtube.


com/watch?v=jIzhP1ynESM&feature=related>.
Acesso em: 31 mar. 2012.

186
TÓPICO 3 | O PERFIL MODERNO DO SERVIDOR PÚBLICO

O funcionário público
Essa é uma produção da Rede Globo de
Televisão, em que exibia um programa de
humor chamado TV Pirata. Esse vídeo é
sátira à burocracia e morosidade dos serviços
públicos. Vale a pena assistir pela comédia, mas
principalmente para que se faça uma reflexão
sobre como deve ser o serviço público e como
ele é visto por outrem. Apesar da produção
ter sido entre o final da década de 80 e início
da década de 90, ainda é atual em diversos
setores e organizações de serviços públicos. FONTE: Disponível em: <http://www.youtub
Esse episódio contou com a atuação de Regina e.com/watch?v=AGR_3R5pvBs>. Acesso em:
Casé, Diogo Vilela e Guilherme Karam. 31 mar. 2012.

Tempos Modernos
Esse filme de Charles Chaplin, de 1936, é uma
produção que satiriza o homem operacional
diante do mundo moderno. É um filme que
faz forte crítica ao capitalismo e da relação
árdua do trabalho operacional da era da
Revolução Industrial.

FONTE: Disponível em: <http://www.youtub


e.com/watch?v=XFXg7nEa7vQ>. Acesso em:
31 mar. 2012.

187
RESUMO DO TÓPICO 3

Nesse último tópico foi possível observar que a administração pública


bebe da fonte da ética a todo o momento. As suas ações estão calcificadas
nos preceitos morais e só por eles pode-se vislumbrar uma sociedade com
liberdade, igualdade e de bem. O novo perfil do servidor público perpassa por
essas questões e se antecipa às ações que fomentarão sustentabilidade no que
se refere às relações sociais e humanas, à paz, ao meio ambiente. Os principais
elementos discutidos foram:

● Identificar os motivos que têm levado as organizações públicas a se preocuparem


com a qualidade de seus serviços e no atendimento.

● Conhecer os princípios que contribuem na tomada de decisões.

● Identificar o melhor perfil do profissional de serviços públicos.

188
AUTOATIVIDADE

1 Descreva cinco deveres do Decreto no 1.171/94 que você considera os mais


importantes para o desenvolvimento dos serviços públicos e que estão
diretamente relacionados com questões de ética e moral.

2 Quais foram as qualidades apresentadas do servidor público? Descreva-as.

3 Chiavenato (2004) apresenta quatro tipos de competências. Como você as


descreveria?

4 Quais foram as fragilidades apresentadas do servidor público? Descreva-as.

5 Ramos (1984) apresentou modelos de homem que contribuíram para o


entendimento das pessoas dentro de suas organizações, bem como para
refletir diante das teorias da administração. Quais foram esses modelos de
homem? Descreva-os.

6 A ética apresenta uma interface com justiça. Explique os tipos de justiça


apresentados nesse caderno.

7 (Centro de Seleção e Promoção de Eventos (CESPE) - 2011 – Fundação


Universidade de Brasília (FUB) - Analista de Tecnologia da Informação).
Em cada um dos itens a seguir é apresentada uma situação hipotética,
seguida de uma assertiva a ser julgada com relação à conduta dos agentes
em conformidade com o que dispõe o Código de Ética do Servidor Público.

A) Jair sempre procurou manter-se atualizado com as instruções, as normas de


serviço e a legislação pertinentes ao órgão público onde exerce suas funções.
Nesse caso, o servidor age de acordo com o que dispõe o mencionado
código de ética.

( ) CERTO ( ) ERRADO

B) A servidora pública Jane, irritada com o fato de uma colega ter sido designada
para fiscalizar o seu trabalho, não fez nada para prejudicar ou facilitar o
trabalho de fiscalização. Nessa situação, a atitude de Jane é aceitável, visto que
não há qualquer obrigação da sua parte em facilitar o trabalho de fiscalização.

( ) CERTO ( ) ERRADO

FONTE: Disponível em: <http://www.cespe.unb.br/concursos/fub2010/arquivos/FUB11_CB_00


1_01.PDF>. Acesso em: 31 mar. 2012.

8 Essa atividade foi retirada do livro “Casos de Ética Empresarial”, de Robert


Henry Srour (2011, p. 150-151).
189
SITUAÇÃO RESPOSTA
Você cometeu um erro cujos reflexos serão negativos, embora sejam O QUE VOCÊ
1
de difícil detecção. FAZ?
Você se abstém de pensar no caso, pois errar é humano e, somente se
A
o fato for detectado, relatará o que aconteceu.
B Você comunica imediatamente o fato a seu superior hierárquico.
Você procura encobrir o equívoco para não comprometer sua
C reputação profissional: dilui efeitos negativos ao longo do tempo e
manobra de modo a afastar quaisquer checagens.
Você procura entender objetivamente o que aconteceu, sem deixar
D de assumir o erro diante de seu superior hierárquico, e formula um
procedimento preventivo que põe à disposição da organização.

SITUAÇÃO RESPOSTA
Você recebe de seu superior orientação contrária aos valores da
O QUE VOCÊ
2 organização e questiona na hora seu fundamento. A tentativa de
FAZ?
esclarecimento, entretanto, revela-se inútil.
Você deduz que, sendo assim, não há razões para esquentar a cabeça
A
com valores enunciados, mas não praticados.
Você comunica imediatamente o fato a seu diretor e lhe diz que
B precisa de uma urgente transferência de área para não ter de
desobedecer às ordens recebidas.
Você se conforma porque vai ver que não entendeu direito a relação
C
entre a orientação dada e os valores da organização.
Você verifica com os colegas se a interpretação que fez é correta.
D Caso assim seja, procura formalmente seu diretor e lhe diz que irá
desobedecer ao superior.

SITUAÇÃO RESPOSTA
Você está sendo cogitado para uma promoção e dirige uma equipe
O QUE VOCÊ
3 que costuma ter boas ideias. Foi convidado para um encontro de
FAZ?
trabalho com superiores.
A Você apresenta algumas ideias inovadoras sem indicar a origem.
Você aproveita a oportunidade para lançar as melhores ideias e dá a
B
quem as formulou o respectivo crédito.
Você relata que, em seus limites orçamentários, planeja colocar em
prática uma ou outra inovação que sua equipe desenvolveu e lança
C
ideia que ultrapassa sua seara, dizendo que seu pessoal está ansioso
para pôr mãos à obra.
Você se abstém de dar ideias, ainda que a organização incentive as
D iniciativas e as inovações, porque acha que alguém irá se apropriar
delas.

190
9 (ESAF - TRF 2003)

Não se inclui entre os deveres do servidor, elencados no Estatuto dos Servidores


Públicos Civis da União:

a) ( ) Levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de


que tiver ciência.
b) ( ) Tratar com urbanidade as pessoas.
c) ( ) Guardar sigilo sobre assunto da repartição.
d) ( ) Manter conduta compatível com a moralidade administrativa.
e) ( ) Cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais.
FONTE: Disponível em: <http://atepassar.com/questoes-de-concursos/disciplinas/etica-na-admi
nistracao-publica/?page=14>. 31 mar. 2012.

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