Você está na página 1de 2

Anotações de Estado de Exceção, de Giorgio Agamben

 A partir da observação se que o decreto de Hitler que revogou as liberdades


individuais nunca foi revogado e, portanto, instaurou um estado de exceção de
12 anos de duração, Agamben conceitua o Estado totalitário moderno como a
instauração, via estado de exceção permanente, de uma guerra civil legal que
permite a eliminação física de adversários e categorias inteiras de cidadãos não
integráveis

 "Estado de exceção desejado" (nazistas), fancied emergency, état de siège


effectif/fictif (Theodor Reinach, e depois Schmitt)

 O Patriot Act cria uma figura que não é nem acusada, nem prisioneira de guerra.
O detainee está na indefinição, no inominado, e é mantido cativo exclusivamente
pelo uso da força (dominação de fato). Sua situação não é acessível ao Judiciário
ou a instrumentos tradicionais de controle

 O estado de exceção busca ser mais que um estado pleromático (de plenos
poderes, pré-separação de poderes), visa a ser kenomático (sem normas)

 O início da tendência de uso sistemático do estado de exceção (paradigma de


governo) está na Primeira Guerra

 Schmitt: ditaduras comissárias e ditaduras soberanas (constitucionais e


inconstitucional). A ditadura constitucional tende a se deteriorar para
inconstitucional, já que nada além do povo é capaz de impedir a concentração de
poderes. Agamben vê o Estado constitucional contemporâneo (e o estado de
exceção) como sob esse risco constante.

 Após a Primeira Guerra, a continuidade do estado de exceção se justificou pela


emergência econômica. Após, essa tendência se consolidou até sua expressão
mais perfeitamente nos últimos anos

 O estado de exceção é o estado da força de lei sei lei (ou seja, de atos ou
decretos que valem como lei e que suspendem a eficácia de leis [que continuam
vigentes])

 Iustituim: um antecessor romano do estado de exceção em que as leis são


suspensas e os magistrados são libertos de sua vinculação ao direito.

 Teses (pp. 78-80):


 O estado de exceção não é uma ditadura, mas um espaço vazio de direito em que
todas as normas estão desativadas; não se trata nem de um estado que tem a
necessidade como fonte jurídica, nem de um sistema que opere a partir da cisão
entre normas de direito e normas de realização do direito (esta última de
Schmitt)
 A ordem jurídica, apesar de tudo, depende da anomia do estado de exceção
como condição de existência
 Os atos praticados durante o estado de exceção não são jurídicos (não são
executivos, legislativos os trangressores), mas estão em um não lugar absoluto
 A força de (não) lei no estado de exceção libera os agentes de forma quase
mística para que busquem, situação e oposição, tentar se apropriar do poder.

 A ordem jurídica se divide em duas estruturas interdependentes: potestas


(normativo e jurídico em sentido estrito) e auctoritas (elemento anômico e
metajurídico). O estado de exceção faz a mediação entre ambos e institui um
limiar de indecidibilidade entre a anomia e o nomos. Esse processo funciona
enquanto a anomia e o nomos não coincidirem no mesmo sujeito (senado vs.
povo, poder secular vs. temporal); a partir do momento em que coincidem, o
Estado vira uma máquina letal. O aspecto normativo do direito pode ser
eliminado e contestado pela violência governamental que, em estado permanente
de exceção, afirma aplicar o direito

Você também pode gostar