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Direito Constitucional I

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Leonor Lopes

Regente: Jorge Novais


Sentidos de Constituição

Constituição -> é a separação de poderes e direitos fundamentais. 

Sentidos da Constituição:

Material: é o conjunto de normas que regulam os aspetos essenciais da estruturação do poder


do Estado e da garantia dos direitos dos cidadãos. Surgiu com as Revoluções liberais e foi
continuada nos Estados de Direito.

Formal (elementos identificadores): a intencionalidade na sua formação (ou na sua alteração),


normalmente através da reunião de uma Assembleia constituinte que aprova ou revê a
Constituição ou de um ato de um Monarca que aceita limitar o seu poder e dá uma
Constituição ao Povo (neste último caso, normalmente designada de Carta Constitucional); a
sistematização própria e o lugar especial que as normas constitucionais assim aprovadas
adquirem na ordem jurídica; e a supremacia hierárquica das normas
constitucionais relativamente às normas ordinárias e aos atos
infraconstitucionais da responsabilidade dos poderes públicos.
 
A importância do sentido formal de Constituição nas ordens jurídicas de Estado de  Direito
Dada a supremacia das normas constitucionais, desenvolve-se a ideia e o conceito de
inconstitucionalidade, de violação da Constituição, enquanto desconformidade entre
uma norma ou um ato infraconstitucional aprovado pelos poderes públicos e as normas
e princípios constitucionais.
 
Constituição Normativa e Semântica
Foi feita com o intuito de limitar o exercício do poder e que, na realidade constitucional,
alcança normalmente esse objetivo. A classificação de Constituições de Karl Loewenstein e a
sua proposta de distinção entre Constituição normativa, Constituição nominal (feita com a
intenção de limitar o poder, mas que não logra alcançar esse objetivo na realidade
constitucional) e Constituição semântica (própria dos Estados autocráticos e cuja intenção,
logo na sua origem, já não era a de limitar o poder, mas de constituir um simples instrumento
da sua legitimação, um meio de reforço do poder estatal).
Aula 2 – A Diferenciação e a Complexidade das Normas
Constitucionais

Artigo 24º - Direito à vida


A norma 2 não levanta dúvidas ("em caso algum haverá pena de morte"). Condenar com pena
de morte seria inconstitucional. Não se pode decretar uma lei ordinária que violasse o direito à
vida -> é inconstitucional
 Há várias interpretações sobre a eutanásia. Para uns, viola a vida humana, para outros não,
pois é pela vontade do próprio.
No entanto, se a norma 1 fosse assim tão clara, não existiria a norma 2, isto é, dizer que a vida
humana é inviolável não resolve problema nenhum.
 
 
Artigo 41º - Liberdade de consciência, de religião e de culto
(1) é inviolável
Exemplo das transfusões de sangue -> há pessoas em risco de vida que recusam transfusões de
sangue de forma a não desrespeitarem as suas religiões e fé.
Aqui, temos uma colisão entre o direito à vida e à liberdade de consciência, de religião e de
culto.
A Constituição diz que ambos são invioláveis. Assim, a letra da Constituição mesmo quando
aparenta ser clara, carece de ser interpretada.
 

Relação entre Código Civil e a Constituição


 
Tem supremacia

Lei Ordinária. Se o Código Civil contrariar a Constituição, a que prevalece é a segunda

O Código Civil serve para esclarecer a Constituição.


Assim, normas constitucionais prevalecem sobre qualquer norma jurídica do nosso sistema.

Sumário do professor:

1. A supremacia das normas constitucionais relativamente às normas ordinárias e


a figura da inconstitucionalidade (continuação).
2. A diversidade das normas constitucionais e a necessidade de operações complexas de
interpretação jurídica para determinar o respetivo conteúdo e sentido normativo.
3. As normas constitucionais de interpretação simples, quando o legislador
constituinte fez todas as ponderações que havia a fazer e optou por normas com um
sentido inequívoco, simples de apurar. São normalmente as normas que se encontram
na parte da Constituição referente à organização do poder político (por exemplo, art.
128º: “o mandato do Presidente da República tem a duração de cinco anos”), mas que
também se encontram, embora excecionalmente, na parte referente aos direitos
fundamentais (por exemplo, art. 24º, nº 2: “em caso algum haverá pena de morte”).
Modernamente, estas normas são designadas de normas-regra.
4. As normas constitucionais de interpretação complexa, quando o legislador constituinte
não fez todas as ponderações que havia a fazer e remeteu implicitamente essa tarefa
para os poderes públicos ou quando recorreu a conceitos indeterminados
cujo preenchimento cabe em grande medida ao legislador ordinário ou ao esforço
interpretativo dos diferentes operadores jurídicos (por exemplo, art. 24º, nº 1: “a vida
humana é inviolável” ou art. 2º: “a República Portuguesa é um Estado de direito
democrático”). Modernamente, estas normas são designadas de normas-princípio.
5. A necessidade de decifração conceptual da caracterização constitucional do
Estado português como Estado de Direito, democracia, república, Estado unitário
com regiões autónomas ou, embora aí já não no texto constitucional, como
semipresidencialismo.
6. A necessidade de aprofundamento do conhecimento dessas diferentes
formas políticas que serão posteriormente aplicadas no estudo do constitucionalismo
português, designadamente da Constituição de 1976.
Aula 3 – As Formas Políticas

Constituição normativa - criada com o intuito de organizar o funcionamento do poder e


limitar o exercício deste.
Constituições Nominais - apenas uma constituição de nome.
Constituição Semântica - Serve para legitimar o poder, não tem intenções de limitar o poder
(da Ditadura)
 
O Estado não pode tratar as pessoas de forma diferente pela sua ideologia. Os poderes
políticos ficam limitados pela Constituição.

Nos artigos:
 Norma-princípio: ponto nº1
 Norma-regra: ponto nº2
Exemplo utilizado: artigo 24º - Direito à vida

Páginas 21 a 26 da Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de Governo


 
Formas Políticas:
 
 Tipo histórico de Estado: é a diferente manifestação que a forma de poder político
que se designa como Estado vem assumindo ao longo da história moderna. Exemplos:
Estado absoluto (patrimonial e o de polícia), o Estado de Direito (o liberal e o
democrático social) e o Estado autocrático dos século XX e XXI ( o de matriz
conservadora, o de matriz revolucionária anticapitalista ou, no tempo atual, o de
matriz teocrática, como é o Estado fundamentalista islâmico)
 
 Regime político: são as diferentes modalidades de exercício do poder político no
Estado contemporâneo, tendo em conta o relacionamento institucional entre
governantes e governados, a titularidade e quem dispõe do exercício efetivo do poder
constituinte, a existência e o peso das instituições representativas e a natureza, graus
e formas de participação dos governados no exercício do poder. Exemplos:
democracias representativas, regimes ditatoriais e regimes de transição.
 
 Sistema de governo: concentra-se numa dimensão puramente interna ao exercício do
poder político estatal, respeitando apenas às diferentes modalidades de
relacionamento institucional entre os vários órgãos de exercício do poder político.
Exemplos: sistema presidencial, sistema parlamentar e sistema semipresidencialista.
 
 Formas de Estado: assinala a diferenciação da estrutura vertical interna do
ordenamento jurídico-constitucional e do poder político vigentes em determinada
coletividade, consoante a origem do poder constituinte e a divisão vertical de poderes
instituída em função da inserção territorial. Exemplos: Estado unitário, Estado federal
e Estado regional (Estado unitário com regiões autónomas).
 
 Forma de governo: restringe-se à consideração do tempo e modo de sucessão no
órgão visto como suprema magistratura do Estado da unidade de um dado sistema
político. Distinguem-se as formas de governo em função do caráter vitalício ou
temporário do exercício do cargo e em função da via, hereditária ou não hereditária,
de sucessão. Exemplos: monarquia e república.
 
 Sistema político: abrange as restantes formas políticas relevantes na vida política de
uma comunidade. Exemplos: sistemas partidários (bipartidarismo, multipartidarismo,
partidos de quadros, partidos de massas), os sistemas eleitorais (sufrágio universal,
sufrágio restrito, sistema de representação proporcional, sistema de representação
maioritária) ou grupos de interesses (os lobbies, as corporações).

Direito - conceito polissémico


Direito como uma posição jurídica
Direito como ordenamento jurídico (conjunto de normas)
 
 
Conflito entre o dever ser (direito) e aquilo que as pessoas fazem
 
Uma norma revoga outra
 
Poder Constituinte - primórdios dos ordenamentos jurídicos (criação da constituição).
Faculdade de um povo, no exercício da sua autoridade suprema, dar a si próprio uma
Constituição.
Poder Constituinte Material - define o conteúdo da Constituição, que se traduz em diversas
estruturas.
Poder Constituinte Formal - adota normas com força jurídica superior à das leis ordinárias.
Poder Constituinte Originário - cria-se uma constituição “ex-novo”, a partir do nada – produz
normas escritas, costumes e interpretações.
Poder Constituinte Derivado - a própria constituição permite que lhe sejam feitas alterações,
sob determinadas situações, ou seja, revê-se uma constituição – preferimos falar em Poder de
Revisão.

 
 Diferença entre constituição normativa, nominal e semântica
 
Constituição normativa - criada com o intuito de organizar o funcionamento do poder e limitar
o exercício deste. Próprias de regimes democráticos.
Constituições Nominais - apenas uma constituição de nome. Esta não consegue regular o
processo político, ficando sem realidade existencial, por falta de correspondência prática
política. Há um desfasamento entre a realidade constitucional e o texto -> regimes autoritários
ou de transição.
Constituição Semântica - Serve para legitimar o poder, não tem intenções de limitar o poder.
Regimes não democráticos em que se distorce a Constituição que não pretende ter vigência
efetiva.
 
 
 Diferença entre constituição rígida e flexível
 
Rígidas: são aquelas que não podem ser modificadas pelo mesmo processo adotado para a
elaboração das leis ordinárias, isto é, estão sujeitas a limites formais, temporais e materiais.
Flexíveis: são aquelas que podem ser alteradas pelo processo estabelecido para as leis
ordinárias.
 
 
 O que é uma norma jurídica?
Normas são enunciados linguísticos que refletem princípios de vida ou condutas de
regulação social, formulações que estabelecem uma prescrição. São criações do
intérprete-aplicador, porquanto são sentidos de dever ser que se extraem do enunciado
contido em determinada fonte. As normas são unidades normativas que exprimem e
concretizam a respetiva ordem jurídica em que se incluem e, ao mesmo tempo,
funcionam como mediadores na aplicação do Direito às situações concretas.
 
 
 Que tipos de normas existem? (regras, princípios, etc.) - Aula 2 Teóricas
 
Regras: as regras são normas que têm que ser cumpridas, o único questionamento que pode
ser feito é se aquela determinada norma se aplica ou não ao caso concreto. As regras devem
ser cumpridas na forma prescrita. As regras estão ligadas ao sistema de tudo ou nada, são mais
específicas. Ou as regras são aplicadas ou não são. Elas trazem consigo pressupostos e
consequências já determinadas.
Princípios: nada mais são do que aqueles conceitos que devem ser levados em consideração
para a decisão de algo. Os princípios são mais genéricos, são parâmetros para as ações do
legislador e do intérprete. É necessário que eles tomem como base os princípios. 
 
 
 Em quantas partes está a constituição organizada?
 
4:
Princípios Fundamentais
Parte I - Direitos e Deveres Fundamentais (rosa)
Parte II - Organização Económica (lilás)
Parte III - Organização do Poder Político (amarelo)
Parte IV - Garantia e Revisão da Constituição (roxo)
 
 
 Quem fica encarregue de dizer que é inconstitucional? O que é inconstitucional?
 
Artigo 204º (Apreciação da Inconstitucionalidade) -> Nos feitos submetidos a julgamento não
podem os tribunais aplicar normas que infrinjam o disposto na Constituição ou os princípios
nela consignados.
Artigo 223º (competência), norma 1 -> Compete ao Tribunal Constitucional apreciar a
ilegalidade e a inconstitucionalidade.
Artigo 223º (competência), norma 2, alínea f -> Verificar previamente a constitucionalidade e a
legalidade dos referendos nacionais, regionais e locais, incluindo a apreciação dos requisitos
relativos ao respetivo universo eleitoral.

Sumário do professor:
1. Introdução às formas políticas: síntese das diferentes formas políticas objeto
de estudo nas próximas aulas; os fatores de distinção da tipologia proposta.
2. Tipo histórico de Estado. O surgimento do Estado moderno de tipo ocidental e
as suas características distintivas: a tendencial correspondência entre Nação e
Estado; o Estado como poder soberano (poder supremo no plano interno e poder
independente no plano internacional) e a sua progressiva laicidade.
3. A reação burguesa (desenvolvimento económico) contra o Estado absoluto e a
luta pela Constituição e pela limitação jurídica do poder estatal.
Aula 4 – Estado de Direito liberal

Princípio da Legalidade da Administração -> legisladores e funcionários não


estão no mesmo plano. O Parlamento está num plano superior. Estes não
devem ultrapassar as margens da lei. Se estas foram ultrapassadas estamos
perante uma ilegalidade. -> Eixo Fundamental do Novo Estado de Direito.

Tipo Histórico de Estado -> é a diferente manifestação que a forma de poder


político que se designa como Estado vem assumindo ao longo da história.

Estado de Direito -> Estado limitado e organizado juridicamente com vista à


garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Estado de Direito Liberal -> surge a partir da luta política do movimento liberal
contra o poder absoluto do despotismo iluminado do Estado de Polícia do
século XVIII. Este propõe a racionalização do poder e a organização do Estado e
a reconstrução radical do tipo de relacionamento que este mantinha com a
sociedade e com os indivíduos.

Contexto Histórico do Estado de Direito Liberal -> época caracterizada social,


económica e politicamente pela afirmação da burguesia como classe dominante
e marcada, no plano ideológico, pela hegemonia doutrinária do liberalismo.
 

  Separação entre Estado e economia


 

Racionalização do Estado -> assegurar que a intervenção estatal não ultrapasse


níveis mínimos e previsíveis.

Submissão do Estado ao Direito -> exige uma construção complexa em que


sobressaem
Elementos essenciais do Estado de Direito -> Direitos Fundamentais e divisão
de poderes. Só há Constituição onde há direitos do homem e separação de
poderes.

Estado Social e Democrático de Direito -> assume a integralidade do ideal de


limitação jurídica do Poder e da preservação das garantias individuais instituído
pelo Estado de Direito Liberal, mas inscreve esse legado num quadro de
profunda reavaliação dos fins do Estado e de recomposição das relações entre o
Estado e a Sociedade. Assim, a vida social e económica deixa de ser concebida
como realidade autossuficiente, para passar a ser encarada como objeto que o
Estado deveria estruturar e regular.
 
 
Estado Social -> o Estado empenha-se no processo produtivo, na redistribuição
do produto social e na direção e planificação dos processos económicos. A
justiça social e a prossecução da igualdade material - e não já apenas da
igualdade perante a lei - são elevadas a fins essenciais do Estado. Este conceito
apresenta uma dinâmica bidirecional.

O Estado social e democrático de Direito do século XX acolhe e dá continuidade


ao legado fundamental do Estado de Direito liberal.

Sumário do professor:
 
1. O Estado de Direito liberal. Surgimento e pressupostos ideológicos e
políticos subjacentes.
2. A divisão de poderes própria do Estado de Direito liberal. O lugar central
da assembleia representativa eleita pelo corpo restrito de cidadãos e a
importância da lei por ela aprovada. O princípio da legalidade da
administração.
3. A necessidade de distinção entre Estado sujeito à lei (ao Direito) que ele
próprio aprova e Estado de Direito: o papel decisivo dos direitos
fundamentais.

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