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William J. Larkin Jr., Atos, vol. 5, The IVP New Testament Commentary Series (Westmont, IL: IVP Academic, 1995), At
16.35–40.
religiosos, incitar violência física ou moral contra qualquer outra pessoa por ser
homossexual. Ora, não concordariamos com isso? Porventura nós discipulos de Jesus
Cristo bateriamos palmas para qualquer pessoa, inclusive colega pastor, que incitasse
a violência contra outras pessoas? Por acaso, a lei deve proteger até mesmo religiosos
que incitam a violência contra outras pessoas? Todos concordariamos que não.
O cristão exerce sua cidadania com discernimento quando conhece os seus direitos.
Você tem lido a Constituição? Você tem lido o Código Penal e o Código Civil do seu país?
Você tem falado mal de leis e decisões de juízes de forma atabalhoada e ignorante sem
nunca ter lido um artigo das leis do seu país? O cristão exerce sua cidadania com
discernimento quando conhece os seus direitos.
Mas em terceiro e último lugar, além de cumprir seus deveres e conhecer seus
direitos, o cristão exerce sua cidadania com discernimento quando reivindica ou exige
respeito aos seus direitos.
O cristão exerce sua cidadania com discernimento quando reivindica seus direitos
Paulo e Silas eram cidadãos romanos e, como tais, não podiam ser açoitados com varas
sem processo formal. Esse castigo, além de ilegal, era também injusto. Os magistrados
romanos tinham a seu serviço os lictores, ou portadores de varas, soldados da polícia.
Esses oficiais carregavam os símbolos da lei e da ordem – os fasces, um feixe de varas
com um machado. Eram com estas varas que eles ministravam o castigo corporal e, por
vezes, a punição de morte. 2
De acordo com as ordens dos magistrados, os oficiais rasgaram as roupas de
Paulo e Silas e os espancaram com os fasces sem um processo formal e os jogaram na
prisão. No dia seguinte as autoridades mandaram Paulo e Silas serem soltos, mas,
curiosamente, Paulo decidiu não sair. Como assim? O que estava acontecendo? Por que
Paulo não queria se ver livre da prisão? Para muitos estudiosos, a partida de Paulo e
Silas dessa maneira poderia ter aberto um precedente perigoso para o futuro tratamento
dos missionários e também poderia ter deixado os cristãos em Filipos expostos a
tratamento arbitrário dos magistrados. Como nos ensina Howard Marshall, “Os
magistrados erraram. Eles não apenas espancaram e prenderam os missionários sem
verificar adequadamente as acusações contra eles, mas também não consideraram se
eles poderiam ser cidadãos romanos”.
Cidadãos romanos estavam expressamente isentos da pena de espancamento.
Por exemplo, em um famoso caso anterior ao de Paulo, um cidadão romano havia sido
espancado por ordem de Verres, governador da Sicília, mesmo enquanto gritava 'Civis
Romanus sum' (sou cidadão romano). Tal injustiça não poderia ser negligenciada. Paulo
exigiu um pedido público de desculpas: deixe que os magistrados que ordenaram a
prisão pessoalmente a ponham fim3. O que isso significava? Uma admissão pública de
que os magistrados estavam errados e que os cristãos não representavam nenhuma
2
Uma prisão romana tinha três partes distintas. Na comuniora, os prisioneiros tinham luz e ar fresco. Na interiora,
que era uma prisão subterrânea, úmida, fria, não havia luz nem ar fresco. Nessa prisão fechada por fortes portões e
trancas de ferro, cada cela possuía cinco buracos – dois no chão para os pés e três buracos para os braços e para a
cabeça –, o prisioneiro era torturado a cada movimento que fazia. Por fim, havia o tullianum, ou cela subterrânea, o
lugar de execução ou o lugar de um prisioneiro condenado à morte. Hernandes Dias Lopes, Atos: A Ação do Espírito
Santo na Vida da Igreja, ed. Juan Carlos Martinez, 1a̱ edição., Comentários Expositivos Hagnos (São Paulo: Hagnos,
2012), 311.
3
I. Howard Marshall, Atos: uma introdução e comentário, vol. 5, Tyndale New Testament Commentaries (Downers
Grove, IL: InterVarsity Press, 1980), 291.
ameaça à lei romana.
CONCLUSÃO
O cristão exerce sua cidadania com discernimento quando exige respeito aos seus
direitos. Não é pecado você buscar ter seus direitos preservados se a sua própria
autoridade te concedeu. Também existe aqui o aspecto didático. Se nós líderes
começarmos a deixar ser violados os nossos direitos constitucionais de forma abusiva,
nossas ovelhas vão achar que elas também assim devem fazer e vamos cercear o que
lhes pertecem por direito.
O cristão exerce sua cidadania com discernimento quando cumpre seus deveres,
conhece e reinvindica seus direitos.
Que o Senhor Deus nos nos dê coragem, sabedoria e amor! Amém.
4
John B. Polhill, Acts, vol. 26, The New American Commentary (Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1992), 357–
358.