No momento mesmo em que nós discutimos o processo de (re) democratização ou retomada
de um “Estado de Direito”, historicamente localizado, no Brasil, em meados dos anos de
1980, é bastante fortuito também, localizar o papel dos movimentos sociais, que logo posiciono enquanto uma das estratégias mais interessantes de resistência ao estado de exceção. Ampliando a reflexão, podemos colocar os movimentos de mulheres organizadas, compreendidos não enquanto movimentos feministxs, e também propriamente os movimentos feministxs que emergem nessa conjuntura frente ao duplo enfrentamento de constituir um campo de debates e de domínio das demandas desse sujeitos histórico-políticos e de se constituir enquanto potência de enfrentamento ao regime. Nesse sentido, observamos que os movimentos feministxs são capazes de revolucionar o campo das instituições e mais, apresentar uma nova realidade social/cultural/política. Por vezes, é fundamental compreender que os sujeitos desses feminismos, que são agora compreendidos como múltiplos, constituem, conforme aponta bem Sônia Alvarez, um “campo (s) discursivo (s) de ação, que não mais tange apenas a ação política, mas se infiltra nas instituições para garantir, minimamente, uma disputa justa no exercício de poder. Contudo, é possível também localizar, a partir da autora, o modo como diferentes categorias emergiam em diferentes contextos e expostas a diferentes regimes de saber/poder, constituiriam também um deslocamento prático/teórico do tipo de atuação desses sujeitos. Ao apontar os deslocamentos dos feminismos (singular/centramento- plural/descentramento- sidestream) nos apresenta a própria tensão dentro do movimento, que consegue concentrar em seus debates múltiplos um universo de questões que por si só se traduzem nas práticas e ações articuladoras destes frente à ambientes institucionalizados, ao tentar se firmar enquanto uma epistemologia, campo teórico e prático. Nesse sentido, percorrer as reflexões das autoras propostas na temática da aula sugere pensarmos em que medida a institucionalização de saberes e práticas se inscreve de maneira legítima para efetivar demandas solicitadas pelos movimentos sociais, sobretudo os movimentos feministas. Conforme aponta Céli Pinto, as ONG’s foram importantes veículos de articulação de políticas públicas que tentaram garantir a efetividade e legitimidade das demandas pleiteadas por grupos e sujeitos marginais. Por isso, representam também um espaço de limites de expansão das potências das ações desses grupos, na medida em que essas organizações se localizam a nível institucional, uma vez que estabelecem também dependência direta com o Estado que impõe uma série de normas e enquadramentos à amplitude de sua atuação. Refletir acerca desses novxs atorxs que roubam a cena das práticas sociais e políticas e a institucionalização dos saberes, sobretudo os estudos feministas, é compreender a importância de manifestação de margens de manobra frente às demandas que se desdobram desses movimentos de conquistas e existências dessas vidas que antes não entravam de modo legítimo “ no jogo político’ e nos cálculos do poder. Por isso, questiono-me se apesar de viabilizarem uma disputa política minimamente justa, estas instituições e organizações não fazem mais do que uma investida oportuna para minar a potência dessas vidas que são realocadas com diferente status nas redes de poder e mais, como pensar linhas de fuga frente à esse impasse tão urgente? No momento em que se conquista também se abdica de muita coisa.