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Atividade 3 - Fichamento

Movimentos sociais na teoria e na prática: como estudar o ativismo através da fronteira entre
Estado e sociedade?

Com as transformações oriundas de uma fase “pós-paradigmática”, a definição de


movimentos sociais tem sido discutida com o objetivo de alcanças sínteses que possibilitem
maior ligação entre a literatura de movimentos sociais e discussões sobre ação coletiva. Assim,
problemáticas foram levantadas tendo em vista que delimitando o estudo a um tipo específico de
ação coletiva, é possível tornar invisível formas importantes de organização ou ação social.
Assim, no estudo é abordado dois movimentos analíticos que ocorrem na literatura: um voltado
mais para a multiplicidade das organizações da sociedade civil baseada na solidariedade e o
outro mais voltado para processos pautados no conflito político.
O primeiro movimento analítico teve origem na literatura dos “novos movimentos
sociais”, na qual analisa transformações nas estruturas sociais e o papel social de novos sujeitos
sociais. Nessa proposta, há teias interligadas de grupos e associações engajadas em práticas
comunicativas caracterizadas pelo respeito mútuo e pela solidariedade. Dessa forma, os
movimentos sociais específicos não são mais o foco para os autores, pelo contrário abordam uma
multiplicidade de atores e organizações caracterizados pelos desafios comum de formar um
ambiente propício para comunicação de forma mais liberta. Cohen e Arato (1992) apresentam
um conceito de sociedade civil “autolimitada” na qual se refere a construção de uma sociedade
civil isolada do mercado e do Estado para que possa haver liberdade na comunicação e respeito
mútuo entre as partes.
Nesse sentido, de acordo com Habermas, a sociedade civil “autolimitada” possibilita
associações de grupos possam se caracterizar como esfera pública tornando assim um espaço
social “que alimenta a liberdade comunicativa que uns concedem aos outros” (Habermas, 2003,
p. 93). A partir disso, indivíduos com maior liberdade comunicativa podem discutir problemas
sociais e pautas importantes com maior autonomia e sem interferência de desigualdades
econômicos e de status social. O estudo aponta que a maior preocupação dos autores está na
dominação desta sociedade pelo poder administrativo e da visão capitalista em busca de lucros o
que pode impedir o desenvolvimento dessa sociedade de formação de um espaço propício
voltado para liberdade de forma a se obter opiniões acerca de problemas sociais. Dessa forma, a
maior crítica ao conceito de sociedade civil está na existência de uma esfera isolada distante do
mercado e do Estado, pois de acordo com o artigo iria possibilitar comportamentos de
reciprocidade e respeito mútuo.
Já os autores do segundo movimento analítico, se associam à chamada “abordagem do
processo político”, na qual criticam a visão empírica limitada dos estudos a cerca das
manifestações sociais mais antigas. Nela, os autores se posicionam contra a
compartimentalização dos estudos sobre greves, guerras, revoluções pois argumentam que se
poderia estudar mais sobre esses fenômenos sociais de forma conjunta ao invés de estuda-los
separadamente. De acordo com MCAdam, a relação entre os movimentos sociais e o Estado deve
ser vista a partir da ótica do conflito. Assim da mesma forma que se traz o Estado para o centro
da discussão, os autores também excluem análises que tenham como abjetivo compreender como
ativistas e aliados interagem dentro do Estado. Em resumo, independente da forma como é a
visão sobre o Estado, quase todas as abordagens sobre os movimentos sociais (tanto do processo
político quanto da política do conflito e da literatura sobre a sociedade civil), presumem que os
movimentos podem ser definidos como sendo inerentemente distintos do Estado. Dessa forma,
há um desafio no que tange a ter maior contato com relações complexas que existem entre
pessoas no aparato estatal e aquelas que agem a partir de organizações de movimentos sociais.
Dessa forma, para obter um melhor conhecimento sobre os movimentos sociais, é
necessário considerar uma multiplicidade dos tipos de grupos e associações com suas diversas
internações e formas de conflitos de forma a aprofundar o estudo que tradicionalmente é tido
para entendimento dos movimentos sociais. Ao considerar o ponto de vista normativo, há críticas
à cerca da forma como encaram a relevância dos grupos que estão entre o mercado e o Estado e
também críticas por esse grupo ignorar a importância de incentivar a mudança do Estado. Por
outro lado, os autores da política do conflito são criticados por não considerar o ativismo ausente
no Estado como alvo ou como participante e também por limitar as relações de movimentos
transformadores com o Estado. a partir de organizações de movimentos sociais.
A partir desses pontos destacados acima, o artigo estudado concorda com as críticas aos
movimentos, porém destaca que essas abordagens não são úteis para a construção do melhor
entendimento sobre os movimentos sociais e sua relação com o Estado. Isso porque não basta
apenas abordar os vínculos de colaboração com o Estado mas também é imprescindível para essa
construção, a ideia de que os movimentos sociais buscam alcançar seus objetivos trabalhando a
partir de dentro do aparato estatal. Assim o maior desafio é rastrear as redes de interação os
agentes do movimento social associado aos atores estatais, de forma que seja possível analisar se
esse agente está apto ou se cabe incluí-lo no movimento. A partir disso será possível entender em
quais condições os vínculos e os compromissos coletivos sobrevivem diante das mudanças de
posições dos atores que ingressam na esfera estatal.

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