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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, NÚMERO SUPLEMENTAR: 43-54 AGO.

2008

ATORES SOCIAIS EM ESPAÇOS DE AMPLIAÇÃO


DA DEMOCRACIA:
AS REDES SOCIAIS EM PERSPECTIVA

Joana Tereza Vaz de Moura Marcelo Kunrath Silva

RESUMO

O Brasil assistiu, ao longo das décadas de 1980 e 1990, à proliferação de fóruns, conselhos, comitês e
parcerias que instituíram, nos diversos níveis de governo e nas mais variadas áreas de atuação do Estado,
canais institucionais abertos para a expressão política de atores e segmentos da sociedade civil. Entretan-
to, a literatura que analisa esse processo tem, em grande medida, adotado uma visão dicotômica e normativa
da sociedade civil. Observa-se a necessidade de ruptura com uma apreensão estática e substancialista da
sociedade civil, a partir da adoção de um enfoque processual e relacional que permita analisar o processo
de construção dos atores sociais na sua relação com outros atores e instituições (em especial, com o campo
político-institucional). Assim, este é um trabalho de proposição teórico-metodológica e não de apresenta-
ção de resultados de pesquisa, tendo como objetivo problematizar a literatura que trabalha com uma
abordagem normativa e estilizada da sociedade civil e propor a incorporação da abordagem das redes de
políticas à discussão e análise dos processos de formação e atuação dos atores da sociedade civil e, mais
especificamente, de como esses processos relacionam-se com os espaços institucionais de participação.
Como instrumento de operacionalização metodológica da abordagem das redes de políticas, propõe-se o
emprego da análise de redes sociais, para apreender o processo de construção e atuação dos atores sociais
a partir de seu pertencimento a um espaço relacional e dinâmico, no qual se inserem atores com distintas
vinculações institucionais (sociedade civil, Estado, mercado).
PALAVRAS-CHAVE: participação; análise de redes sociais; enfoque processual e relacional; sociedade
civil.

I. INTRODUÇÃO governo e nas mais variadas áreas de atuação do


Estado, canais institucionais abertos para a ex-
A redemocratização brasileira, a partir da se-
pressão política de atores e de segmentos da so-
gunda metade da década de 1970, teve como um
ciedade civil (SILVA, 2003).
de seus fatores propulsores e, ao mesmo tempo,
como um de seus resultados mais significativos Essa proliferação de espaços institucionais de
um intenso e complexo processo de transforma- participação foi acompanhada de diversas refle-
ção do tecido associativo do país, que se expres- xões teóricas nas Ciências Sociais, especialmente
sou na “entrada em cena de novos personagens”, no que se refere ao papel desempenhado pela so-
conforme o título do já clássico trabalho de Eder ciedade civil na consolidação e no aprofundamento
Sader (1988). Esse processo, que confere da democracia (AVRITZER, 1994; 2003; COS-
especificidades à redemocratização brasileira no TA, 1997; GOHN, 1997; SANTOS, 2002).
âmbito das transições nos países do Cone Sul
Essa literatura, no entanto, tem sido
(STEPAN, 1985), foi um dos fatores centrais na
crescentemente problematizada (LAVALLE, 2003;
conformação do contexto político-institucional
SILVA, 2006) por apresentar uma abordagem
posterior ao fim da ditadura militar, marcado por
normativa e estilizada da sociedade civil, que limi-
iniciativas de descentralização e pela criação de
ta sua capacidade de apreensão e análise da com-
espaços institucionais abertos à participação e à
plexidade da “sociedade civil realmente existente”
representação política da sociedade civil. Assim,
e das suas relações com os atores e as instituições
assistiu-se, ao longo das décadas de 1980 e 1990,
do campo político-institucional (entre elas, os es-
à proliferação de fóruns, conselhos, comitês e
paços institucionais de participação).
parcerias, que instituíram, nos diversos níveis de

Recebido em 19 de novembro de 2007. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 16, número suplementar, p. 43-54, ago. 2008
Aprovado em 9 de janeiro de 2008.
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ATORES SOCIAIS EM ESPAÇOS DE AMPLIAÇÃO DA DEMOCRACIA

Um aspecto, em especial, parece demandar introdutória sobre a literatura nacional focada nos
instrumentos teórico-metodológicos mais qualifi- temas da participação e da sociedade civil, identi-
cados, capazes de fornecer marcos interpretativos ficando problemas e limites na forma como essa
e gerar informações que permitam um tratamento literatura trabalha a relação entre organizações da
analítico mais adequado à complexidade que ca- sociedade civil e Estado. Em seguida, far-se-á uma
racteriza os objetos empíricos em foco: observa- breve apresentação do conceito de redes de polí-
se a necessidade de ruptura com uma apreensão ticas e suas contribuições analíticas ao estudo da
estática e substancialista da sociedade civil, a par- sociedade civil e das experiências participativas,
tir da adoção de um enfoque processual e relacional focalizando a ARS e buscando demonstrar suas
que permita analisar o processo de constituição potencialidades para apreender a complexidade, a
dos atores sociais na sua relação com outros ato- diversidade e a dinamicidade das relações
res e instituições, em especial, com o campo po- estabelecidas entre os atores inseridos nos espa-
lítico-institucional. ços institucionais de participação. Finalmente, al-
gumas reflexões serão feitas para a elaboração de
Como uma alternativa teórica para responder
uma possível agenda de pesquisa sobre os novos
a essa demanda, este artigo propõe a incorpora-
espaços de participação e representação a partir
ção do conceito de “redes de políticas” à discus-
da incorporação do enfoque das redes de políti-
são e à análise dos processos de constituição e de
cas.
atuação dos atores da sociedade civil e, mais es-
pecificamente, de como esses processos relacio- II. OS NOVOS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO
nam-se com os espaços institucionais de partici- E OS LIMITES DOS MODELOS TEÓRICOS
pação que, ao longo da última década, foram im-
A multiplicação de espaços de participação so-
plantados em quase todos os setores de políticas
cial nos últimos anos no Brasil tem sido acompa-
públicas do Estado brasileiro.
nhada de diversas reflexões teóricas nas Ciências
Por sua vez, como instrumento de Sociais, especialmente no que se refere ao papel
operacionalização metodológica do enfoque das desempenhado pela sociedade civil como peça-
redes de políticas, propõe-se o emprego da análi- chave na construção e no aprofundamento da de-
se de redes sociais (ARS), que nos últimos anos mocracia1.
passou a fazer parte da pauta metodológica dos
Entretanto, a literatura que trata da relação en-
estudos sobre organizações, movimentos sociais,
tre as organizações da sociedade civil e os atores
participação e gestão pública, bem como das ino-
e instituições político-administrativas em grande
vações institucionais a eles associadas (MAR-
medida ainda se tem mostrado insuficiente para
QUES, 1999; DIANI & MCADAM, 2003;
entender o processo relacional existente entre eles,
LAVALLE, CASTELLO & BICHIR, 2006; SIL-
por apresentar uma visão marcadamente
VA, 2006). Argumenta-se que a análise da socie-
normativa, estática, substancialista e dicotômica.
dade civil e dos processos de participação por meio
da ARS fornece ferramentas metodológicas para No debate internacional, especialmente nos
romper com a visão substancialista da sociedade anos 1990, diversos autores apostaram no forta-
civil, ao apreender o processo de constituição e lecimento da sociedade civil e na sua capacidade
atuação dos atores sociais a partir de seu emancipatória2. Apesar de haver diferentes atri-
pertencimento a um espaço relacional e dinâmico,
no qual se inserem atores com distintas 1 No livro Civil Society and Political Theory, Cohen e
vinculações institucionais (sociedade civil, Esta-
Arato (1994) sistematizam a construção teórica do concei-
do, mercado). Além disso, a possibilidade que a to de sociedade civil, de modo a lhe atribuir o papel central
ARS oferece – apreender os padrões de relações de transformação social. Por outro lado, diversos autores
entre os atores sociais e os atores e instituições enfatizam a necessidade de aprofundar a democracia au-
do campo político-institucional, bem como suas mentando a presença da sociedade civil em formas alterna-
mudanças ao longo do tempo –, constitui um im- tivas de representação, principalmente por meio da criação
de espaços em que ela possa se manifestar (AVRITZER,
portante instrumento para a operacionalização
1994; 2003; COSTA, 1997; GOHN, 1997; SANTOS,
metodológica do conceito de redes de políticas. 2002).
Para desenvolver essa perspectiva, a próxima 2 Os movimentos sociais, antes privilegiados como refe-
seção deste artigo apresentará uma reflexão rência para as transformações sociais, praticamente desa-

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buições às potencialidades e às funções da socie- nasceu de processos de constituição e mobilização


dade civil, observa-se um relativo consenso so- independente” (idem, p. 422; grifos no original).
bre o conteúdo do conceito (PINTO, 2005), em
No âmbito das Ciências Sociais brasileiras, a
grande medida, a partir da influência de autores
análise das relações entre Estado e sociedade civil
como Jean Cohen e Andrew Arato. De acordo com
apresenta uma trajetória distinta daquela observa-
esses autores, a sociedade civil pode ser vista
da em outros países. Em vez do predomínio de
como um conjunto de organizações voluntárias
abordagens que reduziam o Estado e suas políti-
que reúnem pessoas fora dos marcos do Estado e
cas a uma “emanação” de demandas e interesses
do mercado (COHEN & ARATO, 1994). Os au-
de atores sociais e/ou do mercado, como identifi-
tores encontram alicerce no pensamento de Jürgen
cado e criticado por Evans, Rueschemeyer e
Habermas e adotam uma concepção tripartite da
Sckocpol (1985), no Brasil predominaram pers-
sociedade, na qual são diferenciados os âmbitos
pectivas que conferiam uma primazia ao Estado
sistêmicos (mercado e político-administrativo) e
enquanto ator protagonista na estruturação da vida
o “mundo da vida”. Articulando essa concepção
social e/ou do seu desenvolvimento (STEPAN,
com o longo debate em torno do conceito de so-
1985). Ou seja, seguindo a crítica de Sader e Paoli
ciedade civil, os autores chegam à formulação se-
(1986), pode-se identificar o predomínio de uma
gundo a qual “[...] civil society represents a sphere
concepção “estatista”, a qual tendia a reservar ao
other than an even opposed to the state. All include,
Estado a capacidade de iniciativa e de condução
almost always unsystematically associations, and
da dinâmica sócio-política e/ou da modernização
forms of independent public expression”3 (idem,
do país, cabendo aos atores não-estatais, particu-
p. 74).
larmente aqueles constituídos entre os segmentos
Em um artigo escrito em 2003, Jean Cohen mais pauperizados e oprimidos da sociedade, um
atenta para o fato de o conceito de sociedade civil papel de coadjuvantes destituídos de agência.
englobar um campo de organizações altamente
Em oposição a essa concepção, observa-se, a
diversificado, incluindo desde empreendimentos
partir do final dos anos 1970, aquilo que Nun
cívicos, associações voluntárias e organizações
(1989) apreendeu como a “rebelião do coro”. Ou
sem fins lucrativos até redes mundiais, organiza-
seja, atores sociais tradicionalmente marginaliza-
ções não-governamentais, grupos de defesa dos
dos da cena política passam não apenas a ocupar
direitos humanos e movimentos sociais
o “palco”, mas, principalmente, são objeto de uma
transnacionais. Nesse sentido, a autora
ressignificação a partir de modelos interpretativos
problematiza a suposta virtuosidade dada à cate-
que os valorizam e, no limite, põe-nos como pro-
goria “sociedade civil” e ao discurso que a define
tagonistas da mudança de um país caracterizado
como “fonte principal da solidariedade e da
por profundas desigualdades e dominações.
integração social” (COHEN, 2003, p. 419). En-
tretanto, a separação dicotômica entre sociedade Essa ressignificação, característica da expres-
e Estado permanece presente. Nas palavras da siva literatura sobre movimentos sociais produzi-
autora, “Entendo a sociedade civil como uma es- da no período, foi marcada por uma radicalização
fera de interação social diferenciada da economia da distância entre Estado e atores da sociedade –
e do Estado, composta de três parâmetros analiti- que, no limite, passou a ser tratada como uma
camente distintos: pluralidade, publicidade e pri- relação de contradição –, a qual levou a um trata-
vacidade. A moderna sociedade civil ‘autônoma’ mento dicotômico e substancialista desses dois
pólos: dicotômico na medida em que a visão de
uma sociedade forjada por um Estado “todo-po-
parecem do debate teórico das Ciências Sociais brasileiras deroso” foi substituída pela visão de uma socie-
nos anos 90, para dar lugar à sociedade civil, que passa a dade que, “de costas para o Estado” (EVERS,
ocupar o centro das reflexões e análises dos autores volta-
1983), auto-organizava-se de maneira espontânea
dos ao estudo das relações entre democratização e atuação
dos atores sociais (LAVALLE, CASTELLO & BICHIR, e autônoma; substancialista pelo fato de que o
2004). Estado e a sociedade civil (em que surgiu do pro-
3 “[...] A sociedade civil representa uma outra esfera que cesso de auto-organização social) não só se cons-
uma oposta ao Estado. Tudo incluído, quase sempre asso- tituem e operam de maneira não-relacional como
ciações assistemáticas e formas de expressão pública inde- ainda são dotados de um conjunto de qualidades
pendente” (nota do revisor). que passam a ser tomadas como inerente às suas

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ATORES SOCIAIS EM ESPAÇOS DE AMPLIAÇÃO DA DEMOCRACIA

“naturezas”. Nessa perspectiva, Estado e socie- nea, dentre outras características, a sociedade ci-
dade civil são apreendidos como blocos homogê- vil passou a ser o foco das propostas e das análi-
neos, marcados por características contrastantes ses de arranjos institucionais participativos que
e contrapostas de maneira maniqueísta: enquanto marcaram a redemocratização brasileira.
o Estado é corrupto, violento, autoritário, conser-
Na medida em que a existência de uma efetiva
vador, a sociedade civil é ética, democrática, pro-
democracia depende da articulação entre a esfera
gressista, universalista.
político-institucional e a esfera societária, por meio
Por um lado, é certo, essa guinada da mediação da esfera pública, na qual demandas,
interpretativa, profundamente vinculada ao con- interesses e problemas sociais conseguem expres-
texto ditatorial, propiciou uma perspectiva de aná- sar-se e, de alguma forma, orientar a atuação dos
lise que ampliou significativamente a compreen- agentes e instituições político-administrativas, tor-
são dos processos políticos. Como destaca Telles na-se imprescindível a existência de atores soci-
(1988, p. 281), foi por meio da imagem de ais capazes de organização e atuação autônomas.
externalidade e positividade da sociedade frente Como destaca Costa (1994, p. 44), “a sociedade
ao Estado, “que pudemos pensar a política como civil, com seu conjunto de associações voluntári-
algo que não se reduz a um único espaço, prefixa- as, independentes do sistema econômico e políti-
do e determinado como lugar do Estado e das re- co-administrativo, absorve, condensa e conduz de
lações institucionalizadas de poder”. Ou seja, ao maneira amplificada para a esfera pública os pro-
situar no pólo estatal uma negatividade absoluta, blemas emergentes nas esferas privadas, no mun-
o pensamento dicotômico e maniqueísta possibi- do da vida”.
litou identificar e reavaliar um amplo campo de
Ou seja, são as formas de associativismo ci-
atores e ações políticas não institucionais disper-
vil, na medida em que tiverem capacidade e auto-
sas no tecido social.
nomia, que garantirão que o fluxo de influências
Por outro lado, no entanto, tal visão encobriu oriente-se da sociedade para as instituições políti-
tanto a apreensão e a análise da complexidade e co-administrativas, garantindo o controle e a aber-
heterogeneidade do Estado e da sociedade civil tura destas para os interesses societários, e não o
quanto os profundos vínculos e interdependências contrário, com a subordinação da sociedade e seus
existentes entre a configuração do campo políti- atores aos interesses e à racionalidade da esfera
co-institucional e a conformação do tecido político-administrativa. Desse ponto de vista, acre-
associativo4. dita-se na lógica democratizante própria das or-
ganizações da sociedade civil que contrasta com
Tais limitações tenderam a reproduzir-se no
as lógicas burocrática do Estado e excludente do
modelo de interpretação predominante nas refle-
mercado.
xões sobre a sociedade civil, nos anos 1990, uma
vez que esse modelo partia do pressuposto e da Baseados nesses pressupostos, diversos pes-
defesa normativos da necessidade de uma sepa- quisadores voltados para o tema da participação
ração entre a sociedade civil que surgia dos pro- social e das relações entre sociedade civil e Esta-
cessos autônomos de organização no âmbito do do no Brasil têm centrado suas análises na socie-
“mundo da vida” e os atores e instituições do sis- dade civil e na hipótese de que, quanto maior a
tema político-administrativo e do mercado. As- sua participação nos processos decisórios, maio-
sim, apreendida como solidária, orientada para o res a possibilidade e a capacidade de as políticas
interesse geral, originada da associação espontâ- públicas incorporarem as reivindicações e as pro-
postas dos segmentos subalternos e, assim, dimi-
4 Uma exceção, no contexto dos anos 1980, foi o trabalho nuírem a desigualdade social e a pobreza dos pa-
de Boschi (1987), cuja crítica a uma apreensão “anti- íses em desenvolvimento5 (AVRITZER, 1994;
institucionalista” dos processos de organização social se 2003; COSTA, 1997; SANTOS, 2002).
expressa na seguinte afirmação: “As instituições organi-
zam a experiência diária dos indivíduos, dando forma aos
ressentimentos e definindo as demandas e metas de ação. 5 Recentemente, alguns autores fazem críticas aos teóricos
Também são um determinante implícito das formas even- da democracia participativa, por estes ignorarem o papel
tualmente assumidas pelo protesto, no sentido de que é a da representação nos arranjos institucionais participativos;
vida institucional que agrega e dispersa as pessoas” (idem, ver, dentre eles, Warren (2005), Lavalle, Houtzager e Castello
p. 19). (2006a).

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Assim, o centro dessa perspectiva da socieda- mais diferentes tipos envolvidos nos processos
de civil é uma leitura dual e normativa das rela- de formulação e/ou implantação de políticas pú-
ções entre Estado (autoritário) e sociedade (de- blicas, prevalecendo, no entanto, a análise das re-
mocrática) (HOUTZAGER, LAVALLE & lações entre Estado e atores do mercado. Segun-
ACHARYA, 2004). Na verdade, trata-se de uma do Kenis e Schneider, “A policy network is
análise estilizada e homogênea da sociedade civil, described by its actors, their linkages and its
em que os atores sociais são tidos como pilares boundary. It includes a relatively stable set of
da democratização, enquanto o Estado, igualmen- mainly public and private corporate actors. The
te homogêneo, ameaça a sociedade civil por meio linkages between the actors serve as channels for
das suas estratégias de “colonização”. communication and for the exchange of
information, expertise, trust and other policy
Esse dualismo que marca grande parte da lite-
resources. The boundary of a given policy
ratura que procura estudar os processos
network is not in the first place determined by
participativos – sociedade civil versus Estado –
formal institutions but results from a process of
não consegue dar conta de uma relação que é
mutual recognition dependent of functional
constitutiva de ambos os “pólos” e, em muitos
relevance and structural embeddedness”6 (KENIS
aspectos, dos limites fluidos e imprecisos que se-
& SCHNEIDER, 1989, p. 14; grifo no original).
param sociedade civil e Estado. Em outras pala-
vras, essa literatura encontra-se fragilizada para Conforme a definição acima, observa-se que
identificar e analisar a permeabilidade (MAR- o conceito de redes de políticas apresenta-se como
QUES, 2004) intrínseca à sociedade civil e ao um conceito “aberto”. Ou seja, apesar de desta-
Estado, como também as relações entre atores car e focalizar as relações estabelecidas entre Es-
sociais e atores e instituições político-administra- tado e atores não-estatais, não há uma definição
tivas. prévia da configuração de tal relação. Nesse sen-
tido, o conceito de redes de políticas apresenta-se
III. ROMPENDO A DICOTOMIA: OS ATORES
como um conceito que busca apreender diferen-
SOCIAIS E AS REDES DE POLÍTICAS
tes padrões de relação entre Estado e atores não-
Nos últimos anos, buscando superar essas li- estatais, além de analisar como tais padrões influ-
mitações analíticas da perspectiva dominante na enciam a conformação e/ou os resultados de de-
literatura brasileira voltada ao estudo das experi- terminada política (JORDAN & SCHUBERT, 1992,
ências de participação e de representação p. 10-11).
institucional da sociedade civil, pesquisadores
Como resultado dessa identificação de diferen-
(DAGNINO, 2002; LAVALLE, 2003; DAGNINO,
tes padrões de relação entre os atores inseridos e
OLVERA & PANFICHI, 2006; SILVA, 2006) vêm
atuantes nas redes de políticas, a literatura inter-
buscando modelos teórico-metodológicos mais
nacional sobre o tema tem-se caracterizado pela
adequados à complexidade da sociedade civil e de
formulação e pelo emprego de diversas tipologias,
suas relações com o campo político-institucional.
que buscam dar conta das inúmeras possibilida-
Um conceito particularmente fértil para tratar des-
des empíricas de conformação das redes:
se tema mas, curiosamente, pouco incorporado e
estatismo, clientelismo, pluralismo, triângulos de
utilizado pelos cientistas sociais brasileiros que
ferro, issue networks7, corporativismo estatal,
pesquisam a sociedade civil e/ou as experiências
de participação, é o de rede de políticas. Um dos
poucos empregos da abordagem da rede de polí- 6 “Uma rede de políticas é descritível por seus atores, por
ticas no Brasil encontra-se nos trabalhos de Mar- seus vínculos e por seus limites. Ela inclui um conjunto
ques (1999); outros dois exemplos recentes de relativamente estável de atores corporativos principalmente
utilização dessa abordagem no estudo sobre polí- públicos e privados. Os vínculos entre os atores servem
como canais para a comunicação e para a troca de informa-
ticas públicas no Brasil encontram-se em Carpim
ções, perícias, confiança e outros recursos da política pú-
(2005) e Müller (2006). blica. O limite de uma dada rede de política não é o primeiro
O conceito de redes de políticas começou a lugar determinado pelas instituições formais, mas resulta
de um processo de reconhecimento mútuo dependente da
ser elaborado durante a década de 1970 relevância funcional e da inclusão [embeddedness] funcio-
(SKOGSTAD, 2005) e, mais recentemente, pas- nal” (N. R.).
sou a ser amplamente utilizado nos estudos sobre 7 “Redes temáticas”, em inglês, no original (N. R.).
a relação entre Estado e atores não-estatais dos

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ATORES SOCIAIS EM ESPAÇOS DE AMPLIAÇÃO DA DEMOCRACIA

corporativismo setorial, entre outros (WAARDEN, muito mais complexos de relações, que vão além
1992). das tradicionais fórmulas dicotômicas (sociedade
versus Estado; mercado versus Estado) ou mes-
Tal proliferação de denominações, por um lado,
mo tripartites (sociedade civil versus mercado
tem permitido um significativo enriquecimento na
versus Estado; Estado versus mercado versus ter-
identificação e na análise dos distintos padrões de
ceiro setor). A partir do conceito de redes de po-
relação entre atores estatais e não-estatais. Por
líticas observa-se que os padrões de alianças e
outro lado, no entanto, tem apresentado o risco
conflitos podem – ou, mais corretamente, tendem
de uma confusão terminológica, devido à ausên-
– a atravessar as fronteiras institucionais, reunin-
cia de critérios comuns de classificação. Assim,
do atores com distintas inserções institucionais,
autores utilizam denominações distintas para tra-
mas que atuam conjuntamente em determinado
tar dos mesmos fenômenos empíricos ou, ao con-
setor de política pública. Essa ampliação do foco
trário, usam denominações similares para classi-
de análise é destacada por Hanf (apud JORDAN
ficar fenômenos empíricos distintos (idem, p. 49).
& SCHUBERT, 1992, p. 11), para quem “the term
Na medida em que o conceito de redes de po- ‘network’ merely denotes, in a suggestive manner,
líticas apresenta um caráter intrinsecamente the fact that policy making includes a large number
relacional (EMIRBAYER, 1997), destacando tan- of public and private actors from different levels
to a influência dos atores e instituições estatais and functional areas of government and society”9.
sobre a conformação e expressão dos interesses
Além dessa “complexificação” dos atores e de
societais e/ou do mercado, quanto a participação
suas relações, a abordagem das redes de políticas
dos atores sociais e/ou mercantis na definição das
também possibilita uma apreensão da diversidade
ações do Estado, ele apresenta-se como um ins-
de configurações de relações entre atores estatais
trumento analítico fértil para romper com o pen-
e não-estatais em distintos setores de políticas.
samento dicotômico e substancialista identificado
Ou seja, em função da complexificação da socie-
anteriormente na literatura brasileira que analisa a
dade e do Estado, haveria uma tendência de
relação entre sociedade civil e Estado. Nesse sen-
“setorialização” das políticas públicas e, assim,
tido, uma das potencialidades da abordagem das
uma diferenciação na conformação das redes de
redes de políticas é que, ao focalizar as relações
políticas em cada setor.
entre os atores, ela possibilita uma perspectiva de
análise que rompe as fronteiras institucionais e Isso significa que, em um mesmo contexto, é
apreende como atores posicionados em diferen- possível observar padrões diversos de relações
tes contextos institucionais relacionam-se e, a partir entre atores estatais e não-estatais, rompendo com
da configuração desses relacionamentos, são pro- uma apreensão do Estado, da sociedade civil e/ou
duzidos determinados resultados em termos de do mercado como blocos unificados que estabe-
políticas públicas. Segundo Nyland, “Policy leceriam relações homogêneas. Um desdobramen-
networks or communities are concepts that to dessa ruptura é a abertura para identificar e
indicate the connections and interactions between analisar as diferenciações em termos dos atores
state and players outside of the states with regard politicamente relevantes em cada setor de política
to policymaking. They challenge the primacy of e as relações estabelecidas pelos mesmos. Depen-
the state by identifying the inclusion of external dendo da configuração da rede do setor, é possí-
parties (those outside of the state) in the formal vel observar variações significativas não apenas
policy process”8 (NYLAND, 1995, p. 197). em termos da composição da rede, mas também
na estruturação das relações entre os atores que a
Essa perspectiva relacional – e não meramen-
compõem.
te institucional – possibilita apreender padrões
Por fim, a abordagem das redes de políticas
possibilita focalizar as complexas e dinâmicas re-
8 “Redes ou comunidades de políticas são conceitos que
indicam as conexões e as interações entre estados e atores
externos aos estados a respeito da formulação das políticas 9 “O termo ‘rede’ meramente denota, de uma forma suges-
públicas. Elas desafiam o primado do Estado ao identifica- tiva, o fato de que a formulação de políticas públicas inclui
rem a inclusão de partes externas (aquelas que estão fora do um grande número de atores públicos e privados, proveni-
Estado) no processo formal de elaboração de políticas” (N. entes de diferentes níveis e de áreas funcionais do Estado e
R.). da sociedade” (N. R.).

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lações estabelecidas pelos atores em um determi- ganizações, empresas, Estados etc.) e suas rela-
nado setor de política, identificando tanto as ali- ções, vem construindo ao longo do tempo um
anças constituídas entre os atores que comparti- conjunto de indicadores e medidas que permitem
lham determinados interesses, posições e/ou pro- apreender e analisar de maneira bastante qualifi-
postas, quanto os conflitos entre grupos orienta- cada os padrões de estruturação daquelas relações
dos por diferentes intencionalidades e concepções e, assim, das redes formadas pelos atores. Como
da política. A respeito dessas divisões internas, destaca Steiner (2006, p. 77), “A análise estrutural
um conceito desenvolvido no âmbito das discus- [denominação da ARS na Sociologia anglo-
sões sobre redes de políticas é o de “comunidade saxônica] modela os sistemas de vínculos que exis-
de política”. Apesar das diferenças no emprego tem entre os atores e delineia as características da
desse conceito (SKOGSTAD, 2005), destaca-se rede por meio de um conjunto de medidas”.
sua utilização para diferenciar os subgrupos den-
De acordo com os pressupostos subjacentes
tro de uma determinada rede de política que apre-
à ARS, a configuração das relações entre os ato-
sentam concepções e interesses distintos sobre
res constitui uma estrutura que delimita um cam-
essa rede. Cada subgrupo constituiria, assim, uma
po de possibilidades para a e de constrangimentos
comunidade da política; as relações e o equilíbrio
à constituição e atuação dos atores, rompendo com
de poder que estabelecem definiriam a configura-
perspectivas atomistas que abordam os atores de
ção e a dinâmica da rede da política. No caso de
maneira descontextualizada e, ao mesmo tempo,
redes hegemonizadas por uma determinada con-
com perspectivas estruturalistas que colocam os
cepção, a comunidade tenderia a apresentar a con-
atores como executores de determinações de es-
formação da própria rede.
truturas que lhes existiriam prévia e externamen-
A abordagem da rede de políticas tem sido uti- te. Segundo Marques (2006, p. 19), “O sentido
lizada a partir de diferentes objetivos de análise, de estrutura para a análise de redes, portanto, não
constituindo um campo de estudos dinâmico e é o mesmo das análises estruturalistas anteriores,
diversificado. Conforme Tatcher (1998), a abor- pois no caso das redes o formato e o conteúdo
dagem das redes de políticas tanto pode ser em- são levantados dedutivamente pelo trabalho
pregada como instrumento de caracterização e di- empírico, no que Tilly [...] denominou [de] estru-
ferenciação de padrões de relação entre Estado e turalismo a posteriori”.
atores não-estatais, em um sentido mais descriti-
A partir dos instrumentos metodológicos for-
vo e classificatório, quanto pode ser utilizada na
necidos pelas ARS, a abordagem das redes de
tentativa de construir explicações sobre determi-
políticas tem conseguido ir além da utilização da
nados processos empíricos. Neste último caso, a
noção de rede como mera metáfora, produzindo
configuração das redes tanto pode ser o fator
análises que apreendem rigorosa e detalhadamente
explicativo de determinado(s) aspecto(s) que
a forma e o conteúdo das relações estabelecidas
esteja(m) sendo investigado(s) quanto pode ser o
entre os atores e suas implicações do ponto de
objeto a ser explicado a partir dos efeitos de
vista das políticas públicas.
outro(s) fator(es).
IV. ANÁLISE DE REDES E EXPERIÊNCIAS DE
Um importante recurso que tem sido utilizado
PARTICIPAÇÃO INSTITUCIONAL DOS
pelos estudos das redes de políticas é a metodologia
ATORES DA SOCIEDADE CIVIL
de análise de redes sociais (WASSERMAN &
FAUST, 1994)10. Essa metodologia, ao enfocar Conforme destacado anteriormente, a aborda-
os atores (que podem ser indivíduos, grupos, or- gem das redes de políticas e a metodologia de ARS
apresentam-se como recursos valiosos para a rup-
tura com as abordagens dicotômicas e
10 É necessário fazer uma diferenciação entre a abordagem substancialistas da relação entre sociedade civil e
das redes de políticas e a metodologia da ARS. Esta última Estado. Nos estudos sobre processos de partici-
propõe-se a uma identificação das características estrutu- pação dos atores da sociedade civil em espaços
rais das redes sociais a partir de um conjunto de indicado-
institucionais, em especial, esses recursos teóri-
res voltados à apreensão e formalização dos padrões de
relações entre os atores. A abordagem da rede de políticas, co-metodológicos parecem oferecer alternativas
por sua vez, pode recorrer aos recursos metodológicos ofe- de análise que permitem superar algumas lacunas
recidos pela ARS, como também pode ser operacionalizada e limites da literatura indicados anteriormente neste
por meio de outros procedimentos metodológicos. artigo.

49
ATORES SOCIAIS EM ESPAÇOS DE AMPLIAÇÃO DA DEMOCRACIA

O pressuposto da existência de uma relação sobre a distribuição dos recursos públicos na ci-
de interdependência entre os processos dade. Essa nova estrutura de relações modificou
associativos no âmbito societário e a configura- o contexto de atuação dos atores sociais, abrindo
ção do campo político-institucional, ao lado do novas oportunidades (e, também, novos constran-
desenvolvimento de instrumentos metodológicos gimentos).
para apreender a forma e o conteúdo desta rela-
Em segundo lugar, essa abordagem possibilita
ção por meio da ARS, possibilitam o desenvolvi-
observar os efeitos de configurações associativas
mento de uma abordagem não dicotômica, que
prévias sobre a dinâmica dos espaços institucionais
seja capaz de apreender e analisar a fundamenta-
de participação e a estrutura de relações entre os
ção relacional tanto do associativismo quanto dos
atores que deles participam. Ou seja, na medida
espaços institucionais de participação11.
em que se rompe com uma perspectiva
Em primeiro lugar, a partir dessa abordagem é substancialista da sociedade civil, abre-se espaço
possível analisar os efeitos de diferentes padrões para a identificação e análise do que Baiocchi
de relações entre atores sociais e político- (2005, p. 20) conceitua como distintas configu-
institucionais ou, ainda, de suas mudanças ao lon- rações cívicas e, ainda, das oportunidades e cons-
go do tempo, sobre a conformação das práticas trangimentos que tais configurações estabelecem
associativas. Mais especificamente, essa aborda- para a implantação e atuação de espaços
gem permite analisar os efeitos da introdução de institucionais de participação voltados, entre ou-
inovações institucionais participativas (tais como tras coisas, à incorporação de atores sociais aos
conselhos de políticas públicas e orçamentos processos de discussão sobre e/ou decisão de
participativos) sobre as relações entre atores so- políticas públicas.
ciais e político-institucionais e, assim, sobre a
Nesse sentido, pesquisas recentes vêm mos-
estruturação do tecido associativo.
trando variações significativas entre as experiên-
A fertilidade analítica dessa abordagem cias de participação analisadas em função, entre
relacional pode ser observada no trabalho de Abers outros fatores, de diferenças na conformação do
(2000), que enfoca os efeitos da mudança dos tecido associativo envolvido. Assim, diferenças na
padrões de relações entre atores sociais e atores configuração cívica dentro de um mesmo muni-
do governo municipal de Porto Alegre sobre as cípio (BAIOCCHI, 2005), entre municípios (SIL-
práticas associativas, a partir da introdução do or- VA, 2001; 2003; BORBA & LÜCHMANN, 2007),
çamento participativo nessa cidade, em 1989. Se- entre níveis de governo (CORTÊS, 2004) ou, ain-
gundo a autora, o padrão predominante até o final da, entre distintos setores de política (idem), im-
dos anos 1980, denominado de clientelista, abria primem, em maior ou menor grau, suas marcas
poucas oportunidades à organização autônoma da na estruturação e no funcionamento dos espaços
sociedade civil. Com a introdução de um espaço institucionais de participação.
de participação institucional como o orçamento
No entanto, apesar da crescente presença de
participativo, ao lado da atuação de atores gover-
pesquisas que adotam uma perspectiva relacional,
namentais no sentido de estimular processos de
como expresso nos exemplos citados acima, pra-
organização e mobilização sociais, alterou-se sig-
ticamente inexistem estudos no Brasil que explo-
nificativamente o padrão de relação entre estes
rem sistematicamente a abordagem das redes de
atores e os atores sociais, na medida em que estes
políticas e da metodologia de ARS para analisar as
últimos passaram a ser incluídos como atores po-
configurações associativas e suas relações com o
liticamente relevantes nos processos de decisão
campo político-institucional (e, mais especifica-
mente, com a introdução de inovações
11 Apesar dessas potencialidades, praticamente inexistem institucionais voltadas à participação e à represen-
pesquisas que utilizam a abordagem das redes de políticas tação da sociedade civil)12. Assim, deixam de ser
e a ARS como ferramentas analíticas para o estudo das utilizados recursos teórico-metodológicos que,
experiências participativas e das relações entre sociedade
civil e Estado. Neste sentido, nesta seção são abordados
alguns trabalhos que, mesmo sem a aplicação direta destas 12 Uma importante exceção é o trabalho de Lavalle, Castello
ferramentas, empregam perspectivas relacionais de análise e Bichir (2006). Esse estudo, apesar de sua inovação
que se aproximam daquela proposta pelos autores do arti- metodológica e do riquíssimo trabalho empírico, tende, no
go, exemplificando os ganhos analíticos desta proposta. entanto, a limitar-se a uma caracterização (necessária, ob-

50
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, NÚMERO SUPLEMENTAR: 43-54 AGO. 2008

segundo Emirbayer (1997), constituem o meio fundamental e necessário para que esse campo de
mais adequado para operacionalizar uma perspec- estudos avance além da justaposição de estudos
tiva relacional nas Ciências Sociais. de casos, viabilizando análises comparativas e, es-
pecialmente, a compreensão das significativas
V. REFLEXÕES FINAIS SOBRE UMA AGENDA
variações observadas entre os mesmos.
DE PESQUISA
A partir dessas tipologias torna-se possível, en-
Não existe dúvida sobre a importância dos es-
tão, passar a um outro nível de análise salientado
tudos sobre os espaços institucionais de partici-
por Tatcher (1998), que é a elaboração de mode-
pação realizados ao longo das últimas duas déca-
los explicativos para as variações empiricamente
das, os quais levaram à estruturação de um cam-
identificadas entre os casos investigados. Ou seja,
po produtivo e qualificado no interior das Ciênci-
além de permitir identificar os diferentes padrões
as Sociais brasileiras. Entretanto, como foi identi-
de relações entre os atores, a abordagem das re-
ficado no decorrer do artigo, ainda existem im-
des oferece instrumentos analíticos para a elabo-
portantes lacunas na análise dessas experiências
ração de hipóteses explicativas tanto sobre os fa-
participativas e, particularmente, de como estas
tores causais das diferenças identificadas quanto
têm gerado transformações tanto no âmbito da
sobre as implicações dessas diferenças em rela-
sociedade civil quanto do campo político-
ção a determinado objeto em estudo. Nesse senti-
institucional. Estas lacunas, para serem enfrenta-
do, por exemplo, padrões de relações previamen-
das, exigem a construção coletiva de uma vasta
te existentes (na sociedade civil, no Estado ou
agenda de pesquisa, na qual abordagens relacionais
entre esses campos) podem constituir-se em fa-
e, mais especificamente, a abordagem da rede de
tores causais na explicação de determinados re-
políticas e a análise de redes sociais constituem
sultados observados na implantação e no funcio-
opções teórico-metodológicas promissoras.
namento de canais institucionais com participa-
Retomando as indicações de Tatcher (1998) ção e representação social ou, ao contrário, esses
apresentadas anteriormente, uma primeira grande padrões podem sofrer influências mais ou menos
potencialidade da abordagem das redes é oferecer significativas devido à instituição desses canais.
uma alternativa analítica que rompe com as apre-
Nessa busca de elaboração de modelos
ensões essencialistas e normativamente orienta-
explicativos, uma vertente que parece ser bastan-
das, seja da sociedade civil, seja do Estado. Ao
te promissora é o cruzamento entre padrões
propiciar instrumentos teórico-metodológicos para
relacionais e outros fatores causais – tais como
a apreensão da diversidade das formas empíricas
atributos dos atores, configurações institucionais,
apresentadas por esses campos, a abordagem das
estruturas de posições etc. –, de modo a identifi-
redes possibilita a identificação e a diferenciação
car a fecundidade analítica de diferentes perspec-
de padrões específicos de configuração dos mes-
tivas teóricas e, ao mesmo tempo, produzir ma-
mos e das relações estabelecidas entre eles.
trizes interpretativas dotadas da complexidade ne-
Dessa forma, torna-se possível superar a bus- cessária para a análise dos objetos em foco.
ca de uma suposta natureza da sociedade civil, do
Assim, observa-se que o campo de estudos
Estado ou, ainda, de suas relações, avançando para
sobre sociedade civil e, mais especificamente,
a identificação de distintos “tipos” de configura-
sobre as relações entre os atores sociais e o cam-
ções associativas, campos político-institucionais
po político-institucional ainda apresenta uma am-
e regimes Estado-sociedade civil (BAIOCCHI,
pla agenda de investigação empírica e elaboração
2005). A construção de tipologias empiricamente
teórico-metodológica a ser desenvolvida. É como
fundamentadas constitui, por sua vez, um passo
contribuição para esse desenvolvimento, que pos-
sibilite um avanço dos futuros estudos a partir do
significativo acúmulo de conhecimento já produ-
zido até o momento, que a abordagem das redes,
viamente) da rede associativa da cidade de São Paulo. A
partir deste “mapeamento”, os autores apontam uma série seja por meio do conceito de redes de políticas,
de elementos para a construção de uma agenda de pesquisa, seja por meio da metodologia de análise de redes
os quais vêm ao encontro de grande parte das proposições sociais, parece apresentar-se como instrumento
apresentadas ao longo deste artigo. útil e fértil para os pesquisadores brasileiros.

51
ATORES SOCIAIS EM ESPAÇOS DE AMPLIAÇÃO DA DEMOCRACIA

Joana Tereza Vaz de Moura (joanatereza@gmail.com) é Mestre em Ciências: Desenvolvimento, Agricul-


tura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e doutoranda em Ciência
Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Marcelo Kunrath Silva (mksilva@ufrgs.br) é Mestre e Doutor em Sociologia pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-
Graduação em Sociologia da mesma instituição.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, NÚMERO SUPLEMENTAR: 183-187 AGO. 2008
ABSTRACTS
SOCIAL ACTORS AND ATTEMPTS TO BROADEN DEMOCRACY: SOCIAL NETWORKS
IN PERSPECTIVE
Joana Tereza Vaz de Moura and Marcelo Kunrath Silva
ABSTRACT: Over the course of the 1980s and 1990s, Brazil has witnessed the proliferation of
forums, councils, committees and partnerships that have instituted institutional channels open for
the political expression of actors and segments of civil society at the different levels of government
and over a wide range of areas of State action. Nonetheless, the literature that analyzes this process
has, to a large extent, adopted a dichotomous and normative view of civil society. We put forth a
need to break with static and substantialist views of civil society, through adoption of a process-
based and relational approach allowing us to analyze the process that constructs social actors in
their relation to other actors and institutions (particularly, with the political and institutional field).
Thus, the present paper represents more of a theoretical and methodological proposal than a
presentation of research results. Our goal is to look critically at the literature that employs a normative
and stylized approach to civil society and propose the incorporation of a political networks approach
for the discussion and analysis of processes of formation and engagement of actors from civil
society and –more specifically – of how these processes are related to institutional spaces of
participation.. As an instrument for methodological operationalization of the ´political networks
approach, we propose social network analysis. This method of analysis permits the apprehension of
the processes of formation and engagement of actors from civil society through their belonging to a
relational and dynamic space where actors with distinct institutional connections (civil society, the
State, the market) can be found.
KEYWORDS: participation; social network analysis; process-based and relational approaches;
civil society.
* * *
INSTITUTIONS AND ECONOMIC DEVELOPMENT: THE IMPORTANCE OF SOCIAL
ACTEURS
CAPITAL SOCIAUX DANS DES ESPACES D’ÉLARGISSEMENT DE LA DÉMOCRATIE :
LES RÉSEAUX SOCIAUX EN PERSPECTIVE
Egidio Luiz Furlanetto
Joana Tereza Vaz de Moura et Marcelo Kunrath Silva
ABSTRACT: This central theme of this theoretical essay revolves around institutions and their
Au cours desfor
importance années 1980 et 1990,
the economic le Brésil aofassisté
development placesàand
la multiplication de forums,
nations. Initially, startingconseils, comités
from a review of
et
a theoretical perspective that relates organizations and institutions – institutionalist theorydivers
partenariats qui instauraient, dans les divers niveaux du gouvernement et dans les plus – we
domaines
analyze bothd’intervention de l’État,
its contributions des canaux
and some institutionnels
of the main ouverts
criticisms that haveàbeen
l’expression
made of it, politique des
particularly
acteurs
with regard to economic orientation. With the objective of providing possible responses to someen
et des segments de la société civile. Pourtant, la littérature qui analyse ce processus a, of
général,
its majoradopté
and mostuneemphatic
vision dichotomique
critics (coming et normative
mostly fromde lathesociété
socialcivile, à partir
sciences), thisdeisl’adoption
followed by d’un
the
regard processuel
indication et relationnel
of an alternative route permettant d’analyser
to the construction le processus
of efficient de construction
institutions, situated withindes acteurs
studies
sociaux dans leur rapport avec les autres acteurs et institutions (particulièrement,
of social capital and its influence on the relations amongst the diverse agents involved in a particular avec la partie
politico-institutionnelle). Ainsi, voici un travail de proposition théorico-méthodologique
transaction. In our conclusions, our article reinforces the importance that institutions have for regi- et non pas un
travail de présentation de résultats de recherche, qui a pour objectif de mettre en question
onal development and emphasizes the possibility of using social capital for the building of efficient la littérature
qui travaille une
institutions. We approche
carry out normative
a comparative et caricaturale
analysis ofdebothla société civile etand
perspectives de conclude
proposer l’intégration
that the most
de l’approche des réseaux de politiques au débat et à l’analyse des processus
intelligent option is to take advantage of the best that each can offer, thus recommending their de formation et
d’action des acteurs de la société civile et, plus particulièrement, de vérifier comment
complementary use whenever possible. Hence, our conclusions reinforce the thesis of the importance ces processus
ont des rapportsand
of institutions avec
of les espaces
all the socialinstitutionnels
relations that de areparticipation.
involved in theirComme outiland
creation d’opérationalisation
consolidation.
méthodologique de l’approche des réseaux de politiques, nous proposons l’emploi de l’analyse de
KEYWORDS:
réseaux sociaux,institutions;
pour saisir organizations;
le processus detransaction
construction costs; social capital;
et d’action institutionalist
des acteurs sociaux à theory.
partir de
leur liaison avec un espace relationnel et dynamique, * * dans * lequel s’insèrent des acteurs à multiples
liens intitutionnels (société civile, État, marché).
POLITICS AND BUREAUCRACY IN INDIAN AND BRAZILIAN STATES
MOTS-CLÉS: participation ; analyse de réseaux sociaux ; regard processuel et relationnel ; société
Felix G. Lopez
civile.
ABSTRACT: This text provides a brief presentation of the Indian political system, analyzing the
genesis and development of the civil servant transfer system within Indian public administration183 and
how this interacts with the social system, the political sphere and with parliament members’ political
and electoral interests. This is followed by several comparisons that are established between the
characteristics of the relationship between the political and administrative spheres in India and those
of the system for naming people for high level positions in Brazil, taking Rio de Janeiro as our
example. We argue that both the logic of the transfer system in India and the system through which
people are named for high level positions in Brazil maintain legitimacy insofar as they allow ideas
linked to administrative efficiency and combating corruption to be used in justifying decisions that are
often motivated by political, economic and electoral interests. We also argue that analyses of the

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