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Métodos e

Princípios de
Hermenêutica
Constitucional
Profa. Dra. Fernanda
Busanello Ferreira

UFG/FD
Alice no país das maravilhas
????? Como escolher o melhor
caminho?????
Métodos e Princípios de
Hermenêutica Constitucional
 1. Método jurídico ou hermenêutico-
clássico – regras tradicionais
 2. Método tópico-problemático
 3. Método hermenêutico-concretizador
 4. Método científico-espiritual
 5. Método normativo-estruturante
 6. Método da comparação
constitucional
Método jurídico ou hermenêutico-clássico

 Segundo esse método, a atividade do aplicador do


Direito seria encontrar o verdadeiro significado das
normas e utilizá-lo na fase de aplicação.(há apenas um
sentido correto)

 Prioriza-se o caráter legal da Constituição, entendendo


considerações valorativas como possíveis ameaças ao
texto constitucional.

 O juiz é visto como “boca da lei”, tendo postura pouco


autônoma.
Método jurídico ou hermenêutico-clássico

 “A Constituição é essencialmente é uma lei e, por


isso, há de ser interpretada segundo as regras
tradicionais da hermenêutica, articulando-se e
complementando-se, para revelar o seu sentido,
os mesmos elementos - genético, filológico,
lógico, histórico e teleológico - que são levados
em conta na interpretação das leis, em geral”.

 Finalidade estabilizadora da Constituição

 Verdade como conformidade – toda norma


possui um sentido em si (voluntas legis ou voluntas
legislatoris)
Método tópico-problemático
 Influenciado pela tópica, de Theodor Viehweg além
da teoria da “sociedade dos intérpretes” de Peter
Häberle.

 Para esse método, as normas constitucionais têm


estrutura aberta, fragmentária e indeterminada.

 O protagonismo cabe, então, aos aplicadores do


Direito que, atentos à dinâmica social, desenvolvem
um processo aberto de argumentação (diálogo e
conflito entre as ideologias defendidas) para aplicar
as normas constitucionais.
Método tópico-problemático
 “a Constituição é um sistema aberto de regras e
princípios, o que significa dizer que ela admite/exige
distintas e cambiantes interpretações 15; que um
problema é toda questão que, aparentemente,
permite mais de uma resposta”.

 Abertura textual e material e pluralismo axiológico –


caráter problemático maior que o sistemático –
exige dialogicidade interpretativa.

 Risco – dissolver a normatividade na política e


possível processo contínuo de mutação
constitucional.
Método hermenêutico- concretizador

 Tem como base ideológica a Hermenêutica Filosófica,


que tem Heiddeger e Gadamer como autores mais
relevantes.

 O ponto de partida desse método é a subjetividade do


intérprete, composta por suas tradições, cultura, língua e
pré- compreensões.

 É criticada pela grande subjetividade que, caso não


seja equilibrada com dimensões objetivas da
Hermenêutica, pode implicar em uma interpretação de
poucos resultados consistentes, tornando-se imprecisa.
Método hermenêutico- concretizador
 “constatação de que a leitura de qualquer texto
normativo, inclusive do texto constitucional,
começa pela pré-compreensão do intérprete, a
quem compete concretizar a norma a partir de
uma dada situação histórica, que outra coisa não
é senão o ambiente em que o problema é posto
a exame, para que o resolva à luz da constituição
e não segundo critérios pessoais de justiça”.

 “os adeptos do método hermenêutico-


concretizador procuram ancorar a interpretação
no próprio texto constitucional - como limite da
concretização - mas sem perder de vista a
realidade que ele intenta regular e que, afinal, lhe
esclarece o sentido”.
Método científico- espiritual
 Para esse método, a Constituição é um
instrumento de integração, na visão política e
sociológica, visando a regulação de conflitos.

 O Estado seria um fenômeno espiritual em


permanente conformação política em que, por
meio da dinâmica social e de poder, delimita as
funções estatais.

 O Direito Constitucional seria uma positivação do


mundo do Espírito, dando a essa realidade
mutável um caráter normativo e vinculante.
Método científico- espiritual

 “(Não) podemos reduzir o Estado a uma


totalidade imóvel, cuja única expressão externa
consista em promulgar leis, celebrar tratados,
prolatar sentenças ou praticar atos
administrativos. Muito pelo contrário, há de ser
visto, igualmente, como um fenômeno espiritual”.

 “não deve o intérprete encarar a constituição


como um momento estático e permanente da
vida do Estado, e sim como algo dinâmico, que
se renova continuamente, a compasso das
transformações. igualmente constantes”.
Método científico- espiritual

 “é da natureza das constituições abarcarem o


seu objeto de um modo simplesmente
esquemático, deixando livre o caminho para que
a própria experiência vá operando a integração
dos variados impulsos e motivações sociais”.

 fórmulas constitucionais elásticas, permitem auto-


transformação, regeneração e preenchimento
de lacunas
 “tanto o Direito, quanto o Estado e a Constituição,
são vistos como fenômenos culturais ou fatos
referidos a valores, a cuja realização eles servem
de instrumento”.
Método normativo- estruturante
 Esse método parte da premissa da vinculação entre
programa normativo e âmbito normativo.

 O programa normativo seria formado pelos


preceitos jurídicos e a redação final do texto que
compõe a norma.

 Já o âmbito normativo, essencial para a dinâmica


jurídica, seria a regulamentação para o caso
concreto, trascendendo o texto-base. É o resultado
de uma interpretação socio-política e jurídica da
norma, em que norma e texto da norma não
coincidem.
Método normativo- estruturante
 “não é o teor literal de uma norma
(constitucional) que regulamenta um caso
concreto, mas sim o órgão legislativo, o órgão
governamental, o funcionário da administração
pública, o tribunal, que elaboram, publicam e
fundamentam a decisão regulamentadora do
caso, providenciando, quando necessário, a sua
implementação fática, sempre de conformidade
com o fio condutor da formulação lingüística
dessa norma (constitucional) e com outros meios
metódicos auxiliares da concretização”.
Método normativo- estruturante
 “mesmo no âmbito do direito vigente a
normatividade que se manifesta em decisões
práticas não está orientada, lingüisticamente,
apenas pelo texto da norma jurídica concretizada;
pelo contrário, todas as decisões são elaboradas
com a ajuda de materiais legais, de manuais
didáticos, de comentários e estudos monográficos,
de precedentes e de material do direito
comparado, quer dizer, com ajuda de numerosos
textos que não são idênticos ao teor literal da norma
e, até mesmo, o transcendem”.

 “Em síntese, o teor literal de qualquer prescrição de


direito positivo é apenas a "ponta do iceberg"; todo
o resto, é constituído pela situação normada”.
Método de comparação constitucional

 Defendido por Häberle como um possível quinto método


de interpretação, além do gramatical, lógico, histórico e
sistemático.

 Busca uma comparação valorativa entre constituições de


modo a encontrar pontos comuns ou divergentes de
forma a contribuir com a interpretação constitucional.

 É criticado pela possível degradação da normatividade


constitucional pela evasão da aplicação dos objetivos
constitucionais, já que a base da interpretação seria a
comparação e não o texto constitucional propriamente
dito.
Métodos e Princípios de
Hermenêutica Constitucional

 Princípio da Unidade da Constituição


 Princípio da Concordância Prática ou da
Harmonização
 Princípio da Eficácia Integradora
(integração social e unidade política)
 Princípio da Correção Funcional
Métodos e Princípios de
Hermenêutica Constitucional
 Princípio da Máxima Efetividade
 Princípio da Interpretação conforme a
Constituição
 Princípio da Força Normativa da
Constituição
 Princípio da Presunção de
Constitucionalidade das Leis
 Princípio da Razoabilidade e
Proporcionalidade
Princípio da unidade da Constituição + Princípio
da concordância prática ou harmonização
 Entende-se a Constituição como um sistema unitário de
regras e princípios em que a harmonia e a concordância
entre as normas deve prevalecer.

 A colisão entre princípios nos casos concretos, por


exemplo, é apenas aparente, já que sendo parte do
sistema constitucional, não faz sentido que sejam
contraditórios. No caso concreto, deve haver otimização
de todos e negação de nenhuma norma constitucional.

 A unidade constitucional contribui também para o


controle de constitucionalidade, em que normas de
sentido incompatível com a Constituição podem ser
declaradas inconstitucionais.
Princípio da correção funcional

 O princípio está ligado à manutenção de funções


entre as diversas áreas que compõem o Estado, suas
competências e finalidades específicas.

 Prioriza, com base na lealdade constitucional, a


defesa contra resultados interpretativos que
atrapalhem o esquema organizatório- funcional do
Estado de Direito.

 Por exemplo, a correção funcional é usada em


decisões de controle de constitucionalidade em que
passam por ações de inconstitucionalidade leis que
interferem na divisão de poderes( estrutura funcional
do Estado).
Princípio da eficácia integradora
 Esse princípio tem como base a busca por priorizar
critérios ou pontos de vista que favoreçam a
integração social e a unidade política.

 A Constituição, como sistema unitário de norma,


deve ser aplicada em concordância com a
dinâmica social de forma a ser eficaz.

 A integração do Estado e a sociedade de forma a


não ser reducionista deveria se fundar em premissas
fundamentais presentes mesmo antes da
Constituição como dignidade humana e pluralismo.
Princípio da força normativa da Constituição
+ Princípio da máxima efetividade
 A força normativa da Constituição se potencializou
com o Neoconstitucionalismo latinoamericano, em
que se prioriza o Estado democrático de direito além
da hierarquia entre as normas constitucionais e outras
normas.
 A máxima efetividade, vinculada à força normativa,
orienta os aplicadores da lei constitucional a conferir
máxima eficácia ao texto constitucional sem alterar
o sentido.
 A máxima efetividade é utilizada como princípio
para a aplicação imediata de garantias e direitos
fundamentais, conforme consta no art.5° da CF.
Princípio da interpretação conforme à
Constituição
 O princípio da interpretação conforme está
relacionado com o princípio da unidade da
Constituição e o da correção funcional.

 Tem como base a defesa de uma interpretação


que priorize o sentido que harmonize com o todo
constitucional, a conformidade recíproca entre as
normas.
Princípio da presunção de
constitucionalidade
 A presunção de constitucionalidade se relaciona
com a interpretação conforme porque entende-se
previamente as normas constitucionais como um
todo harmônico e coerente entre si.

 Toda lei é compatível com a constituição, devendo


ser assim considerada até sentença com trânsito
em julgado que prove o contrário.

 O sentido escolhido para as normas deve ser aquele


que as torne constitucionais em uma proporção
possível. Entretanto, não se deve salvar a lei à custa
da Constituição.
Princípio da razoabilidade e ponderabilidade
 A proporcionalidade e razoabilidade podem ser
consideradas como princípio utilizado para hard
cases ( casos difíceis). Trazem natureza valorativa
relacionada com justiça, equidade, bom senso,
moderação.
 Têm íntima ligação com a aplicação imediata
dos direitos fundamentais, sendo utilizado como
fundamento para as decisões.
 O atendimento a esse princípio segue 3 testes:
adequação, necessidade e proporcionalidade
em sentido estrito.
Proporcionalidade
 A adequação diz respeito a medidas legítimas e
aptas a fomentar fins igualmente legítimos.
 A necessidade refere- se a um meio menos
invasivo possível para a proteção de certo direito.
 Já a proporcionalidade em sentido estrito é o
balanceamento entre prós e contras do meio
utilizado para restrição de um princípio e
satisfação de outro. Caso os benefícios superem
os malefícios, a decisão, em tese, está acertada.
Mutação Constitucional

A mutação constitucional não é uma


alteração física no texto normativo, mas
sim uma alteração no significado e no
sentido interpretativo de um texto
constitucional. O texto permanece
inalterado, sendo certo que a mudança
ocorre na interpretação daquela regra
enunciada.

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