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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DE RONDÔNIA -

EMERON
PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PARA A CARREIRA DA
MAGISTRATURA

Célia Regina Rocha Leite

O QUE VOCÊ APRENDEU EM HERMENÊUTICA?

No dia 18/03/2023, na primeira aula de hermenêutica, foi abordado


sobre a Introdução a Hermenêutica sendo uma ciência que estabelece regras
de interpretação, a importância do interprete, sua interpretação e construção,
bem como a interpretação autêntica e doutrinária e sua compreensão.
Também, aprendi sobre os métodos clássicos de interpretação, tendo
como objetivo a melhor escolha do método para aplicá-lo.
No decorrer do curso, o senhor falou sobre as Escolas de Hermenêutica
e discorreu sobre cada método interpretativo, citando “In Claris Cessat
Interpretatio” ou seja, cessa a interpretação na clareza da lei.

Método Gramatical
onsiste em uma análise inicial do texto que se busca
captar o conteúdo e observar a sua linguagem. Como leciona R.
Limongi França, “é aquela que, hoje em dia, tem como ponto
de partida o exame do significado e alcance de cada uma das
palavras do preceito legal” (FRANÇA, 1997, P. 8). Assim,
percebe-se que é um método que toma por base o significado
das palavras da Lei e sua função gramatical. “Apoiando-se na
gramática contribui muitas vezes, para o aperfeiçoamento da
redação das Leis” (MONTORO, 2011, P. 425).
Segundo Canfão (2015) o método gramatical nada mais é
do que uma atividade preliminar da interpretação que busca
descobrir ou fixar qual deve ou pode ser o sentido de uma
frase, dispositivo ou norma jurídica, dotado de obscuridade,
mediante a indagação do significado literal das palavras,
tomadas não só isoladas, mas em sua recíproca conexão. Ele
serve apenas como meio de se tomar um primeiro contato com
o texto interpretado, não se presta a se extrair o sentido
completo que a norma pode oferecer.

Conforme adverte André Franco Montoro, “é, sem dúvida,


o primeiro passo a dar na interpretação de um texto. Mas, por
si só é insuficiente, porque não considera a unidade que
constitui o ordenamento jurídico e sua adequação à realidade
social” (MONTORO, 2011, P. 425).

Método Sistemático
Segundo Carlos Maximiliano, o processo sistemático
“consiste em comparar o dispositivo sujeito à exegese, com
outros do mesmo repositório ou de Leis diversas, mas
referentes ao mesmo objeto” (MAXIMILIANO, 2002, P. 104 –
105). Para Maximiliano (2002), confronta-se a prescrição
positiva com outra de que proveio ou que da mesma
dimanaram; verifica-se o nexo entre a regra e a exceção, entre
o geral e o particular, e deste modo se obtém esclarecimentos
preciosos.

O preceito, assim submetido ao exame, longe de perder a


própria individualidade, adquire realce maior, talvez
inesperado. Com esse trabalho de síntese é melhor
compreendido”.

A interpretação sistemática leva em consideração o


sistema em que se insere o texto e procura estabelecer a
vinculação entre este e os demais elementos da própria Lei, do
respectivo campo do direito ou do ordenamento jurídico geral,
o que possibilita ao intérprete da norma jurídica a verificação
do Direito como um todo, averiguando todas as disposições
pertinentes ao mesmo objeto e entendendo o sistema jurídico
de forma harmoniosa e interdependente. Esse método,
portanto tem por finalidade analisar a norma jurídica em seu
contexto com outras normas e repudia a análise isolada da
mesma.

Método Histórico
Conforme Canfão (2015) o método sistemático como visto,
consiste em analisar o Direito interpretando por um prisma
holístico, isto é, obrigando o intérprete a verificar o Direito
como um todo, averiguando todas as disposições pertinentes
ao mesmo objeto, entendendo o sistema jurídico de forma
harmoniosa e interdependente.

O método histórico, por sua vez, baseia-se na investigação


dos antecedentes da lei, seja referente ao histórico do processo
legislativo, seja às conjunturas socioculturais, políticas e
econômicas relacionadas à elaboração da lei.

Conforme André Franco Montoro:

Interpretação histórica baseia-se da investigação dos


antecedentes da norma. Pode referir-se ao histórico do
processo legislativo, desde o projeto de lei, sua justificativa ou
exposição de motivos, discussão, emendas, aprovação e
promulgação. Ou, aos antecedentes históricos, e condições
que a precederam. Como a grande maioria das normas
jurídicas constitui a continuidade ou modificação de
disposições precedentes, é de grande utilidade para o
intérprete estudar a origem e o desenvolvimento histórico dos
institutos jurídicos, para captar o significado exato das leis
vigentes. No elemento histórico entra também o estudo da
legislação comparada para determinar se as legislações
estrangeiras tiveram influência direta ou indireta sobre a
legislação que se deve interpretar (MONTORO, 2011, P. 426).

Dupla é, portanto, a utilidade desse método:


“as disposições antigas, restabelecidas, consolidadas ou
simplesmente aproveitadas em novo texto, conservam a
exegese do original. Pouco importa que se não reproduzam às
palavras: basta que fique a essência, o conteúdo,
substancialmente se haja mantido o pensamento primitivo.
Por outro, pelo espírito das alterações e reformas sofridas por
um preceito em sua trajetória histórica, chega-se ao
conhecimento do papel que ele é chamado a exercer na
atualidade” (MAXIMILIANO, 2002, p.114).

Método Teleológico
Consiste na busca da finalidade das normas jurídicas
tentando fazer a adequação destas aos critérios atuais, pois o
Direito por ser uma ciência normativa ou finalística a sua
interpretação há de ser essencialmente teleológica. Dessa
forma, o interprete ou aplicador sempre terá em vista a
finalidade do dispositivo legal, ou seja, se a intenção do
legislador foi atingida. Como dispõe Tércio Sampaio Ferraz Jr:
A interpretação teleológica-axiológica ativa a participação
do intérprete na configuração do sentido. Seu movimento
interpretativo, inversamente da interpretação sistemática
que também postula uma cabal e coerente unidade do
sistema, parte das consequências avaliadas das normas e
retorna para o interior do sistema. É como se o interprete
tentasse fazer com que o legislador fosse capaz de mover suas
próprias previsões, pois, as decisões dos conflitos parecem
basear-se nas previsões de suas próprias consequências.
Assim, entende-se que, não importa a norma, ela há de ter,
para o hermeneuta, sempre um objetivo que tem para
controlar até as consequências da previsão legal (a lei sempre
visa os fins sociais do direito às exigências do bem comum,
ainda que, de fato, possa parecer que elas não estejam sendo
atendidos) (FERRAZ Jr. 2008, P. 266 – 267).

Maximiliano (2002) aponta algumas regras norteadoras


do emprego do processo teleológico:
1) as normas conforme ao seu fim devem ter idêntica
execução, não podendo ser entendidas de modo que
produzam decisões diferentes sobre o mesmo objeto;
2) se o fim advém de várias normas, cada uma delas deve ser
compreendida de maneira que corresponda ao objetivo
resultante do conjunto;
3) deve-se conferir ao texto normativo um sentido que resulte
da lei em favor e não em prejuízo de quem ela visa proteger;
4) os títulos, as epígrafes, o preâmbulo e as exposições de
motivo das normas auxiliam a reconhecer o seu fim.

Conforme Canfão (2015), nessa ordem de ideia, o fim da


norma jurídica é sempre um valor cuja preservação ou
atualização o legislador teve em vista garantir, armando-os de
sanções, assim também como pode ser fim da lei impedir que
ocorra um desvalor, pois os valores não se explicam segundo
nexos de causalidade, mas só podem ser objeto de um processo
compreensivo que se realiza através do confronto das partes
com o todo e vice-versa, eliminando-se e esclarecendo-se
reciprocamente, como é próprio do estudo de qualquer
estrutura sócia.

Interpretação lógica

Essa interpretação é considerada como textual-interna, tendo


em vista que busca explicar a norma através do sentido
intrínseco do texto.

Segundo Carlos Maximiliano3 o processo lógico “consiste em


procurar descobrir o sentido e o alcance de expressões do
Direito sem o auxílio de nenhum elemento exterior, com
aplicar ao dispositivo em apreço um conjunto de regras
tradicionais e precisas, tomadas de empréstimo à Lógica legal.
Pretende do simples estudo das normas em si, ou em conjunto,
por meio do raciocínio dedutivo, obter a interpretação correta”.

Nas palavras de Mario Pimentel Albuquerque4:


O método lógico constitui a expressão mais pura e acabada do
raciocínio analítico que, como vimos, infere de premissas
necessárias uma conclusão igualmente necessária. Postula, da
mesma maneira, a plenitude jurídica da lei e crê que o núcleo
verbal desta é suficientemente elástico para comportar todas as
situações de fato ocorrentes na prática, com a só utilização,
rígida e fria, do silogismo judicial. Erige em premissa maior
deste a lei, geral e abstrata; como premissa menor, descreve o
fato, despido de suas peculiaridades concretas, após o que
sobrevém a decisão, expressão fria do Direito more geométrico,
de corte racionalista, cuja idéia de justiça se exaure na
satisfação de um único requisito: a igualdade absoluta dos
destinatários da norma legal.

Conclusão
Após o exposto, pode-se concluir que interpretar conteúdo
jurídico é fazer uma profunda análise seja do texto legal ou
decisões, de modo que possa compreender o seu significado ou
o seu preciso sentido. É com o olhar da hermenêutica que
deve-se utilizar para interpretar tais escritos, de modo a obter
o pensamento e o sentido que o legislador quis dar. Nela estão
encerradas todas as regras e os princípios que devem ser
juridicamente utilizados para a interpretação dos textos legais.
É, portanto uma teoria da interpretação.
Os métodos de interpretação jurídica são: gramatical,
sistemático, histórico, teleológico-axiológico e sociológico. As
técnicas de interpretação jurídica são: Analogia, Costume,
Princípios Gerais do Direito e a Equidade. Portanto, quando
não for possível decidir sobre uma controvérsia com uma
disposição precisa de Lei poderá o intérprete ou aplicador da
norma jurídica recorrer às disposições que regulam casos
semelhantes ou matérias análogas. Se o caso permanecer ainda
em dúvida, em seguida recorre-se ao costume. Se ainda
permanecer a dúvida, poderá decidir de acordo com os
princípios gerais do direito. Não podendo contar com essas
alternativas, pode ainda ainda socorrer-se da equidade.

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