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Hermenêutica e Interpretação
Introdução
Hermenêutica Jurídica é o sistema de diretrizes voltadas a orientar a atividade interpretativa,
especialmente no momento de aplicar-se o direito (abstrato) ao caso concreto (“Hermenêutica
Jurídica seria a teoria científica da arte de interpretar, aplicar e integrar o direito" - Antonio Betioli).
As normas são formuladas em termos gerais e abstratos, para que possam ser extensivas a
múltiplos casos de mesma espécie. Nesse contexto, é tarefa do aplicador ou operador do
Direito, integrar a norma jurídica ao fato real (incidir o texto abstrato no caso concreto),
fixando o sentido, alcance e extensão da norma, através da utilização e aplicação da
hermenêutica, interpretação ou exegese.
São elementos integrantes e fundamentais para a interpretação: (a) Norma Jurídica: Toda
norma jurídica pode ser objeto de interpretação [“Leis”, Jurisprudência (decisões judiciais),
Costumes, Princípios ou Negócios Jurídicos (Contratos)]. (b) Sentido da Norma (conteúdo):
conhecer o significado das palavras e descobrir sua finalidade (compreender os fins a serem
regulados pela norma). (c) Alcance da Norma: delimitar seu campo de incidência (conhecer os
fatos sociais e as circunstâncias nas quais a norma tem aplicação).
Sejam obscuras ou claras as palavras da norma, é consenso que a “interpretação” é sempre
necessária. O conceito de clareza é muito relativo e subjetivo: uma palavra pode ser clara
(linguagem comum), mas ter um significado diverso, próprio e técnico, diferente do “sentido
vulgar” (ex: competência).
Além disso, uma vez que a aplicação de qualquer norma deverá orientar-se por seus "fins
sociais” e pelas “exigências do bem comum", é necessária sua interpretação para a descoberta
destes. A interpretação classifica-se quanto: espécie (origem ou fonte), métodos (formas) e
efeitos (resultados).
"A interpretação das normas jurídicas exige a referência a princípios axiológicos e
critérios valorativos, os quais muitas vezes estão apenas implícitos no texto da lei. Uma
ordem jurídica positiva não pode funcionar apenas atendo-se ao que está nela formulado
verbalmente” - Recaséns Siches.
Espécies de interpretação
LEGAL (autêntica) - a que se opera através de outra lei (cria-se uma lei, para interpretar outra
já existente - "Lei Interpretativa").
JUDICIAL - aquela feita através de decisões judiciais (Sentenças, Acórdãos, Súmulas etc).
ADMINISTRATIVA - dada pelos órgãos da Administração Pública (em decisões, pareceres,
despachos, portarias etc).
DOUTRINÁRIA - realizada por doutrinadores e juristas, em obras e pareceres (ex. códigos
comentados).
Métodos de Interpretação
LITERAL (Gramatical) - toma por base, apenas, o significado e alcance restritos e expresso
das palavras contidas na norma.
LÓGICO-SISTEMÁTICO - busca descobrir o sentido e o alcance da norma, a partir da
análise do conjunto do sistema jurídico. Procura preservar a harmonia e coerência do sistema
legal (compreender a norma como parte integrante de um todo, conectada com as demais
normas jurídicas, que se articulam logicamente).
HISTÓRICO - parte do questionamento das condições existentes no momento da criação da
norma, e das causas que a originaram.
TELEOLÓGICO (Finalístico ou Sociológico) - busca o fim (finalidade) que a norma
pretende disciplinar - baseia-se na adaptação do sentido da lei, às realidades e necessidades
sociais atuais (fim social).
Efeitos da Interpretação
EXTENSIVA - quando o intérprete conclui que o alcance da norma é mais amplo do que seus
termos. Nessa hipótese, alega-se que o legislador escreveu menos do que queria dizer e, assim,
o intérprete poderá aplicá-la a situações não previstas expressamente em sua letra (mas que
nela se encontram incluídas de forma tácita ou implícita) – ex. como o direito de propriedade
deve cumprir função social, podem ocorrer alíquotas diferentes e progressivas de IPTU.
RESTRITIVA - quando a interpretação restringe o sentido da norma, ou limita sua incidência.
O intérprete conclui que o legislador escreveu mais do que realmente pretendia dizer,
eliminando a amplitude das palavras – ex. a lei diz "descendentes", quando queria dizer apenas
"filhos" (elimina sua incidência aos demais).
DECLARATIVA (especificadora ou estrita) - quando as palavras expressam, na medida
exata, o espírito da lei (não amplia, nem restringe): cabe ao intérprete, apenas, constatar esta
coincidência. Aplica-se, por exemplo, quando se trata de lei que impõe penalidades, multas etc.
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