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Glossário - interpretação

Quando se interpreta a Constituição, concretizam-se meros signos linguísticos


(palavras) em normas constitucionais prontas. Embora a hermenêutica se ocupe
majoritariamente de interpretação de textos, é um equívoco supor que somente os textos
podem ser interpretados. Hoje, prevalece a ideia de que tudo aquilo que pode ser
conhecido também pode ser objeto de estudo da hermenêutica. Ressalta-se que a
hermenêutica jurídica é o ramo da hermenêutica que estuda e sistematiza os métodos de
interpretação do direito e a interpretação seria a atividade prática de revelar (dar
concretude à norma).

2. Método clássico de interpretação: o método clássico de interpretação é fruto do


autor Savigny, que diferenciou os elementos gramatical, sistemático e histórico e
acrescentou o elemento teleológico às formas de interpretar.

2.1 Elemento gramatical: configura-se como um elemento textual, literal, semântico. É


o ponto de partida das interpretações. É através deste método que o intérprete/aplicador
do Direito busca elucidar quais são os sentidos das palavras. Busca-se, neste caso, o
sentido denotativo das palavras. O elemento gramatical fixa os limites para a atividade
interpretativa.

2.2 Elemento histórico: é aquele elemento em que o intérprete/aplicador busca o


sentido da norma na vontade do legislador. Isto significa que se analisam os precedentes
legislativos, trabalhos preparatórios, debates parlamentares, exposições de motivos, com
o objetivo de descobrir qual a intenção do legislador.

2.3 Elemento sistemático: conforme tal elemento, os enunciados normativos devem ser
interpretados em conjunto com as normas de um ordenamento. Parte-se da ideia de que
o Direito não é um conjunto aleatório de atos normativos, mas um sistema ordenado e
harmônico de normas. É a partir dessa visão que se compreende que há a necessidade de
se analisar o todo (e não apenas as partes).

2.4 Elemento teleológico: busca-se interpretar a norma a partir da sua finalidade/do seu
espírito. Nesse sentido, a busca é pela ratio legis (finalidade). Conforme o autor Luis
Roberto Barroso, a ratio legis seria uma força vivente móvel, sobretudo considerando-
se que, pode evoluir sem a modificação do texto.

6. Princípios de interpretação específicos

6.1 Princípio da unidade da Constituição

É um desdobramento do elemento sistemático presente no método clássico de


interpretação. Conforme este princípio, a constituição é um sistema único de regras e
princípios, razão pela qual os seus enunciados normativos devem ser interpretados
considerando o “todo”.
Significa que a Constituição deve ser interpretada de modo a que se evitem
contradições entre normas, o que leva o intérprete a considerá-la em sua globalidade, de
modo a harmonizar a tensão entre suas normas.

A partir da ideia de unidade, as normas constitucionais não podem ser conside-


radas isoladamente, mas integradas em um sistema unitário de normas e princípios.

6.2 Princípio da concordância pratica

Impõe ao intérprete, em situações em que houver a colisão entre duas ou mais


normas constitucionais, o dever de coordenar e combinar os bens jurídicos de modo a
preservá-los ao máximo e evitar o sacrifício total de uns em relação a outros.

6.3 Princípio do efeito integrador

Na solução de problemas jurídico-constitucionais, deve-se dar prioridade aos


critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social. Deve-se criar
um efeito conservador da unidade política.

Quando se fala em princípio de efeito integrador, significa isso que a


interpretação constitucional deve dar primazia aos critérios que reforcem a unidade
política e favoreçam a integração política e social, para se conseguir uma solução
pluralisticamente integradora.

6.4 Princípio da força normativa da Constituição e princípio da máxima


efetividade

É dever dos intérpretes e aplicadores do Direito garantir que as constituições não


sejam meras folhas de papel. Nesse sentido, é importante que o ordenamento jurídico
seja aplicado à realidade. Conforme o princípio da força normativa da constituição, na
solução de problemas jurídico-constitucionais, deve-se dar prevalência às soluções e
pontos de vistas que contribuam para que as normas constitucionais tenham uma
eficácia ótima. Por conseguinte, o princípio da máxima efetividade impõe ao intérprete
atribuir aos enunciados normativos constante na Constituição o sentido que mais lhe dê
eficácia.

6.5 Princípio da justeza

O intérprete não pode chegar a um resultado que subverta o esquema


organizatório-funcional estabelecido pela constituição. Em outras palavras, deve o
intérprete respeitar a repartição de funções delineada pelo constituinte.

7. Métodos de interpretação constitucional específicos

7.1 Método tópico-problemático (Autor: Theodor Viehweg.)

Este método parte da premissa de que as constituições são compostas de normas


abertas e fragmentárias, cujo conteúdo não pode ser determinado aprioristicamente.
Nesse sentido, o intérprete deve solucionar casos concretos. Para atingir o melhor
resultado prático, o intérprete deve se valer de vários pontos de vista e “lugares
comuns” para, em um processo aberto de argumentação, adaptar a norma constitucional
ao problema em concreto.

7.2 Método hermenêutico-concretizador (Autor: Konrad Hesse)

Para este método, a interpretação tem significado decisivo para a consolidação e


preservação da forma normativa da constituição. A interpretação adequada é aquela que
consegue concretizar, de forma excelente, o sentido da proposição normativa dentro das
condições reais dominantes numa determinada situação. Deste modo, a premissa básica
seria a ideia de que a pré-compreensão que o intérprete tem do problema jurídico a ser
solucionado é o ponto de partida do processo interpretativo.

7.3 Método científico-espiritual (Rudolf Smend)

Para este método, a constituição seria um instrumento de integração e não


apenas um fundamento de validade de todo o ordenamento jurídico. Nesse sentido, esse
método permite que a interpretação constitucional seja extensiva e flexível, diferente do
que ocorre na intepretação jurídica aplicada aos outros ramos do Direito.

7.4 Método normativo-estruturante (F Muller)

A atividade interpretativa tem seu ponto de partida no texto constitucional. A


partir desse texto, o intérprete obtém o programa normativo que nada mais é do que o
conjunto de domínios linguísticos resultantes da abertura semântica proporcionada pelo
texto. Além do programa normativo, a norma é composta por um domínio normativo,
ou seja, um conjunto de domínios fáticos. O intérprete deve, portanto, concretizar a
norma com elementos provenientes não só do programa normativo, mas também do
domínio normativo.

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