Você está na página 1de 64

AULA 1

TEORIA GERAL DO DIREITO II

Profª Míriam Bassi


REVISÃO 2º BIMESTRE
1. Quanto aos meios interpretativos, explique aos termos jurídicos Mens
Legis e Mens legislatoris.

R. - Mens legis - a mente da lei - refere ao "espírito da lei“. Entende a


norma como um texto autônomo, que se tornou independente da vontade
do seu criador e o significado deve ser construído no presente (ex nunc).

Mens Legislatoris – a mente do legislador - vontade do legislador.


Considera que o sentido verdadeiro está no passado, na vontade do
criador da norma (ex tunc).
2. Explique a Hermenêutica Jurídica Tradicional ou Clássica:

R. – A hermenêutica tradicional traz destaque na análise conceitual. Os


juízes eram meros aplicadores do Direito. É direcionada à formulação de
regras para uma atividade interpretativa que se esgotava na plenitude do
ordenamento jurídico, pela simples subsunção dos fatos às normas.
3. Explique a Hermenêutica Jurídica Contemporânea.
R. –O sentido da norma não é mais descoberto, mas construído pela
interpretação. Interpretação com criatividade. Há uma nova perspectiva
de se interpretar as normas. Incorpora a experiência presente\pré-
compreensão ao horizonte passado\momento de criação do texto
normativo. O resultado é uma conclusão autêntica, original, e,
especialmente, mutável, a cada caso\diferente momento gera a resultado
próprio. Interpretação é um ato único, que se renova a cada instante, e
que adiciona significado àquilo que se interpreta. A hermenêutica deixa de
ser um conjunto de métodos, artifícios, técnicas de explicação de texto
para se dirigir a uma dimensão e compreensão em sentido mais
existencial.
4. Explique os métodos clássicos de interpretação, pensado por
Savigny.

R. – Com o objetivo de afastar o arbítrio do interprete na


interpretação do Direito, surge o desenvolvimento de critérios
orientados à vontade do legislador e ao sentido da norma, conforme
desenvolvido por Savigny com seus elementos gramatical, lógico,
histórico, sistemático. Importante lembrar que a hermenêutica
não se esgota o debate sobre os métodos interpretativos
a) Interpretação Gramatical - procura o sentido expresso da lei,
sentido textual.

Ex.: Art. 7º, XXXIII, CF/88


Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo
na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.
b) Interpretação Lógica - Procura a harmonia lógica das normas.
Procura explicar a norma através do sentido intrínseco do texto.
Principio da Identidade – Não contradição. Impossível afirmar e negar a
mesma coisa em relação a algo, ao mesmo tempo e em uma mesma
relação. A interpretação lógica não se caracteriza por pressupor que a ordem das
palavras e o modo como elas estão conectadas são essenciais para se alcançar a
significação da norma.

Ex.: a extensão aos homens da proibição de revistas íntimas das


mulheres prevista no art. 373-A, VI, da CLT .
c) Interpretação Histórica – traz seu fundamento na
investigação dos antecedentes da lei, como ao histórico do processo
legislativo, às circunstâncias socioculturais, políticas e econômicas
relacionadas à elaboração da lei.
d) Interpretação Sistemática - analisa normas jurídicas entre si.

O ordenamento é um todo unitário. Não é um aglomerado de preceitos


sem fundamento, ao acaso. A interpretação sistemática se caracteriza por
pressupor que qualquer preceito normativo deverá ser interpretado em
harmonia com as diretrizes gerais do sistema, preservando-se a coerência
do ordenamento. Aqui temos a interpretação, o significado da norma
que seja coerente com o conjunto. Principalmente devem ser evitadas as
contradições com normas superiores e com os princípios gerais do direito.
A interpretação sistemática se caracteriza por pressupor que
qualquer preceito normativo deverá ser interpretado em harmonia
com as diretrizes gerais do sistema, preservando-se a coerência do
ordenamento. Exemplo: Art. 121, CP – “matar alguém: Pena - reclusão
de seis a vinte anos” . Se não o analisarmos em conjunto,
sistematicamente, com outros artigos, teríamos resultados absurdos,
como não admitir a legítima defesa.
5. Explique a Interpretação Teleológica.

R. – “Teleo”, significa fim. Sucedendo Savigny, Ihering partiu do


pressuposto de que o direito se forma sob a determinação de fins precisos
e objetivos. Referido método sustenta para a interpretação segundo a
finalidade da norma. O intérprete deve levar em consideração valores
como a exigência do bem comum, o ideal de justiça, a ética, a liberdade, a
igualdade, etc. Ex.: Artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro: “ o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.
6. Explique a Interpretação Sociológica.

R. – Referido método procura a vontade da lei focando o presente.


Verifica o sentido das palavras imprecisas analisando-se os costumes e
os valores atuais da sociedade. Após determinar-se um significado válido
para a norma e encontrarem-se os fatos a que se refere, procura
demostrar que sua aplicação concretizará seus fins sociais e levará ao
bem comum, conforme artigo 5°, LINDB.
7. Com a Hermenêutica Contemporânea surgem os seguintes
métodos interpretativos:

Método Tópico-problemático ou Método da Tópica, Método


Hermenêutico-Concretizador, Método Científico-espiritual, Método
Normativo-Estruturante ou Concretista-Estruturante.
Explique cada um.
a) Método Tópico-problemático ou Método da Tópica.

Elaborado por Theodor Viehweg (1907 – 1988),

Tópos – do grego significa argumento com validade universal.

É um método aberto, baseado na primazia do estudo do caso concreto


sobre a norma, assim, a interpretação possui uma conotação
notadamente prática.
b) Método Hermenêutico-Concretizador – Konrad Hesse .

O método é de cunho subjetivista e a pré-compreensão do intérprete é


bastante valorizada, logo, a interpretação da norma se dá num movimento
de ir e vir entre o intérprete e o texto ser interpretado. É um método
hermenêutico que valoriza e reconhece a importância do aspecto
subjetivo da interpretação, ou seja, da pré-compreensão que o intérprete
possui sobre os dados envolvidos no texto a ser por ele interpretado.
Dessa forma, a interpretação da Constituição deve ser realizada a
partir de um permanente diálogo entre as pré-compreensões do
intérprete e o texto constitucional, em um “movimento de ir e vir”
chamado de círculo hermenêutico-concretizador.
CÍRCULO HERMENÊUTICO/ CÍRCULO INTERPRETATICO

Texto da norma caso concreto Pré-compreensão do

intérprete retorna para o texto da norma Pré-


compreensões Caso Concreto....etc.
“(…) arranca da ideia de que a leitura de um texto normativo se inicia pela pré-
compreensão do seu sentido através do intérprete. A interpretação da constituição
também não foge a esse processo: é uma compreensão de sentido, um
preenchimento de sentido juridicamente criador, em que o intérprete efetua uma
atividade prático normativa, concretizando a norma a partir de uma situação
histórica concreta. No fundo esse método vem realçar e iluminar vários
pressupostos da atividade interpretativa: (1) os pressupostos subjetivos, dado que
o intérprete desempenha um papel criador (pré-compreensão) na tarefa de
obtenção de sentido do texto constitucional: (2) os pressupostos objetivos, isto é,
o contexto, atuando o intérprete como operador de mediações entre o texto e a
situação a que se aplica: (3) relação entre o texto e o contexto com a mediação
criadora do intérprete, transformando a interpretação em ‘movimento de ir e vir’
(círculo hermenêutico). (…) se orienta não por um pensamento axiomático mas
para um pensamento problematicamente orientado.”

(J.J. Gomes Canotilho)


Diferentemente do método tópico-problemático, Gilmar Ferreira Mendes e
Paulo Gustavo Gonet Branco enfatizam que a hermenêutica
concretizadora de Hesse confere primazia não ao problema, mas ao texto
constitucional. A interpretação para Hesse parte da concretização da
norma constitucional para a solução do problema concreto. A atividade
hermenêutica é provocada a partir de um problema concreto, mas, para
solucioná-lo, o intérprete deve observar as possibilidades que o texto
constitucional comportar. Dessa forma, o método de Hesse não autoriza a
interpretação livre, baseada exclusivamente nos conceitos prévios do
intérprete. (MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito
constitucional. 9. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2015).
c) Método Científico-espiritual ou Método Integrativo.

Criado por Carl Friedrich Rudolf Smend, jurista alemão (1882 – 1975). A
analise da norma constitucional não se atém na literalidade, mas na
realidade social e seus valores. Constituição é um fenômeno cultural,
pois, agrega os valores da sociedade, é vinculada aos valores da
sociedade. Por isso a Constituição é instrumento de integração política e
social da sociedade, da continuidade da sociedade. Sendo a Constituição
um produto da cultura, os significados de suas normas são
constantemente renovados na medida em que são alterados os valores da
sociedade. A interpretação constitucional deve abranger a teleologia\
finalidade, espírito – da norma, conforme a evolução dos valores da
sociedade.
d) Método Normativo-Estruturante ou Concretista-Estruturante-
criado por Friedrich Müller, jurista pós-positivista alemão – 1938.

O texto é apenas a ponta do iceberg. O conteúdo literal de uma prescrição


do Direito Positivo é apenas a ponta do iceberg. De acordo com esse
método, é impraticável ter coexistência autônoma entre direito e
realidade, logo, não há menor possibilidade de interpretar a lei apenas a
partir de seu texto. A norma constitucional abarca um pedaço da
realidade social, pois não restringe somente ao texto, assim, se expande
nas atividades legislativa, jurisdicional e administrativa e, por isso, deve
ser analisada em todos os níveis.
8. O que significa Interpretação Autêntica ou Legal:

R. - Aquela que o próprio órgão que expediu a lei, declara o


sentido e alcance de um texto. Exemplo: artigo 150, parágrafo 4º e
parágrafo 5º, Código Penal. O próprio legislador estabelece a
compreensão da palavra “casa”.

Art. 150, CP - § 4º - A expressão "casa" compreende:

I - qualquer compartimento habitado;


II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão
ou atividade.
9. O que é a Interpretação Privada Doutrinária?

R. - É a interpretação realizada através da doutrina, os estudos,


teses, etc.
10. O que é a Interpretação Pública Judicial:

r. - A que que surge baseada no resultado dos acórdãos, entendimentos


dos tribunais. Aquela realizada pelos órgãos do Poder Judiciário - Pelos
juízes ou Tribunais - Jurisprudências, Súmulas, etc.
11. O que é interpretação declarativa/especificadora?

R. - O texto legal disse de forma suficiente. Quando foi verificado


que o legislador utilizou de forma adequada e correta todas as
palavras contidas na lei, ocorrendo exata equivalência entre os
sentidos e a vontade presente na lei, cabendo ao interprete
apenas constatar a coincidência. Não se expande nem se
restringe o alcance dos termos. O sentido da norma encaixa na
letra de seu enunciado, interpretação literal.
12. O que é a Interpretação Restritiva?

R. – É aquela que o interprete restringe uma lei que foi dito mais
do que o necessário, ou seja, o texto possui palavras que ampliam
a vontade da lei. O texto normativo declara mais do que é preciso,
por isso, necessário restringir seu sentido. O interprete faz uma
interpretação teleológica para restringir o alcance daquela norma
jurídica, assim, concede uma interpretação menos ampla àquela
norma jurídica.
Exemplo Interpretação Restritiva:

Artigo 29, Constituição Federal –


O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos,
com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços
dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos
os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do
respectivo Estado e os seguintes preceitos:

X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;


Exemplo Interpretação Restritiva:

Art. 843, Código Civil:

A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem,


apenas se declaram ou reconhecem direitos.
O dispositivo estabelece que a interpretação da transação se faça
restritivamente, pois, é resultado de concessões recíprocas.
13. O que é a Interpretação extensiva?

R. - Aquela que irá ampliar o alcance da palavra da lei para


corresponder à intenção do legislador, ou seja, a interpretação
aumenta o sentido da norma e geralmente o interprete utiliza-se
do método teleológico. O texto normativo expressando menos do
que o necessário, logo, é necessário aumentar seu sentido. O
significado literal é ampliado para que se obtenha o efeito prático.
Exemplos de Interpretação Extensiva:

Inciso XI do Artigo 5º, Constituição Federal:

“A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo


penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial.”
Exemplos de Interpretação Extensiva:

Direito de personalidade, .
Direitos Fundamentais.

Art. 235 CP - incrimina a bigamia - conclui-se que também a


poligamia é objeto de incriminação.
Artigo 176, Código Penal:

“ Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se


de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o
pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.”
STJ – SÚMULA 364

O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também


o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

Interpretação extensiva da proteção da moradia.


Na bilheteria do cinema há um cartas em que está escrito: Estudantes
pagam metade.

Utilizando a interpretação declarativa/especificadora - temos que


aqueles que estão matriculados em instituições de ensino poderão pagar
metade.

Utilizando a interpretação restritiva - poderíamos pensar que


apenas pagariam metade aqueles que estivessem matriculados em
instituições de ensino reconhecidas pelo MEC, o que já reduz a amplitude
do termo “instituições de ensino”.

Utilizando a interpretação extensiva - pagarão metade todos aqueles


que se dedicam a qualquer forma de aprendizado (ex.: estudantes de
idiomas, alunos de escolas circenses, dança, etc.).
14. Explique a Interpretação Ab-Rogante.

R. - Ao interpretar a norma, verifica-se que aquela norma não se


aplica mais, não faz mais sentido a letra da lei ou quando há
contradição com outras normas. O resultado da interpretação é
afastado, modificado ou corrigido pelo intérprete com fundamento
em injustiça, inoportunidade ou inconveniência.
Exemplo Interpretação Ab-Rogante:

Artigo 233 do Código Civil de 1916 - indicava o marido como único


chefe da sociedade conjugal. A Constituição Federal de 1988,
trouxe mudança na concepção de família e codificou valores já
expressados na evolução da sociedade e seus valores. Em 10 de
janeiro de 2002, foi sancionada a Lei 10.406 que instituiu o novo
Código Civil, que entrou em vigor em 10 de janeiro de 2003.
Novo Código trouxe novas abordagens do poder familiar (CC, arts.
1.630 a 1.638).
15. O que é Interpretação Analógica?

R. - Ao lado da interpretação extensiva e mantendo com esta certa


semelhança, está a interpretação analógica. Não se confunde
Interpretação Analógica com Analogia. A Interpretação Analógica
ocorre quando a própria lei determina algo que será possível a
interpretação Analógica.
Exemplo, quando o artigo 61,II “c” do Código Penal determina
que:

“ à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro


recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido”.

Pergunta-se: que outro recurso poderá ser este? Deve ser um


“recurso” semelhante, análogo à “emboscada”, à “traição”, à
“dissimulação”, etc.
Art. 121, CP. Matar alguém:

Homicídio qualificado

§ 2º Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo


torpe;
16. O que é a Interpretação Progressiva?

R. – Conhecida também como adaptativa ou evolutiva, é aquela que


procura sua adaptação às transformações sociais, científicas, etc. Seu
objetivo é a adaptação da lei às necessidades e concepções do presente.

Ex: A expressão “doença mental” deve ser interpretada conforme os


progressos da Psiquiatria.
17. O que é Interpretação Axiológica?

R. – É aquela que busca demonstrar quais são os valores a serem


alcançados por determinada norma jurídica, ao ser aplicada nos
casos concretos. A Constituição Federal traz valores definidos que
devem estar ligados à base do ordenamento jurídico como o reconhecer
a dignidade da pessoa humana e o princípio da proporcionalidade.
18. Explique a ideia da discricionariedade Judicial em Herbert Lionel
Adolphus Hart (1907 - 1992):

R. – Hart admitia o uso da discricionariedade por parte do julgador diante


da definição de Direito incompleto e casos difíceis. A discricionariedade é
fundamental diante da impossibilidade da norma jurídica prever todas as
situações possíveis, quando a norma jurídica não existir no caso
concreto.
19. Explique a ideia da discricionariedade Judicial em Ronald Myles Dworki
(1931- 2013).

R. – Dworkin dizia que não há viabilidade de discricionariedade, pois


entende que o Direito não é incompleto ou indeterminado. Para ele, a ideia
de incompletude do Direito só existe na definição entendida pelo
positivismo. Quando preciso proferir decisões em casos difíceis, o julgador
poderá utilizar princípios legais, morais, políticos, princípios relativos à
justiça, à equidade, etc.
20. Explique a Teoria do Direito como Integridade elaborada por
Dworkin.

R. É uma proposta hermenêutica. Tem a intenção de moldar a atitude


do intérprete de maneira a excluir a discricionariedade. Deve buscar a
integridade, todo o conjunto de leis, Princípios, e o repertório de
decisões judiciais relacionados. Buscar validar/legitimar uma decisão
judicial que considere todos os aspectos fáticos, normativos e morais
relevantes para a solução do caso. Dessa forma, há condições para evitar
a discricionariedade do intérprete.
21. Explique a metáfora do romance em cadeias desenvolvida por
Dworkin.

R. - Há um projeto de um grupo de romancistas para escrever um


romance em série. Cada romancista da cadeia interpreta os capítulos que
recebeu para escrever um novo capítulo e assim por diante. Cada autor
deve escrever seu capítulo de modo a criar da melhor maneira possível o
romance em elaboração como se fosse o único autor da obra. Espera-se
que o romance seja escrito como um texto único, integrado, e não
simplesmente uma série de contos dispersos e independentes. Não é
possível perder de vista a ideia central texto. A complexidade dessa tarefa
reproduz a complexidade de decidir um caso difícil de direito como
integridade. Para Dworkin o Direito segue a mesma lógica. O exercício da
interpretação do Direito deve ser guiado pelo princípio da integridade e da
equidade.
22. Explique a Teoria do Juiz Hércules desenvolvida por Dworkin.

R. – Essa figura imaginária denominada de “Juiz Hércules” é baseada


em Hércules da mitologia Grega, que traduz a ideia de força sobre-
humana, indicando à compreesão dos aspectos que darão amparo ao
magistrado, como a integridade na sua decisão.
Dworkin em sua obra “Império do Direito”, expõe a teoria do Juiz Hércules,
apontando que o trabalho hercúleo exige do intérprete um capacidade
elevada para sair de uma condição de interpretação considerada
normal\habitual, com o propósito de aproximar-se o máximo possível da
classificar do justo. É um modelo a ser seguido pelos juízes (sistema
common law) na tarefa de decidir questões difíceis. A decisão judicial é
imbuída de poder, tanto que define os rumos individuais e coletivos da
nação, confere a responsabilidade de dizer o Direito, fundamentado, pelos
princípios da integridade e da moral, afim de proferir decisões mais justas
possíveis.
Em seu livro Levando os Direitos a Sério, Ronald Dworkin cita o caso
“Riggs contra Palmer” em que um jovem matou o próprio avô para ficar
com a herança- O Tribunal de Nova Iorque (em 1889), ao julgar o caso,
deparou-se com o fato de que a legislação local de então não previa o
homicídio como causa de exclusão da sucessão. Para solucionar o caso, o
Tribunal aplicou o princípio do direito, não legislado, que diz que ninguém
pode se beneficiar de sua própria iniquidade ou ilicitude. o assassino não
recebeu sua herança.

Esse resultado expressa um dos anseios mais significativos da


jusfilosofia de Ronald Dworkin - Regras e princípios são normas
com características distintas, mas igualmente vinculantes e, em
certos casos, os princípios poderão justificar, de forma mais
razoável, a decisão judicial.
23- Qual é a crítica que Hart faz com relação a interpretação sustentada
por Dworkin.

R. – Hart contesta de que a discricionariedade seria criar Direitos com


liberdade sem freios, pois, o juiz poderia utilizar a discricionariedade
somente nos casos de omissão da lei e sendo vetada reformas de grande
escala ou novos códigos. Hart dizia ser contraditório Dworkin alegar que
o uso de princípios em decisões jurídicas não gera discricionariedade. Hart
sustentava que os princípios são conhecimentos gerais e passíveis de
diversas interpretações, sendo seu uso sujeito à discricionariedade.
24. O que é Mutação Constitucional?

R. – Significa uma nova interpretação dada à Constituição,


atribuindo novos sentidos ao seu texto. É uma reanálise, nova
interpretação do texto constitucional, alteração de significado,
todavia, o texto permanece o mesmo, sem alteração. Não modifica o
texto constitucional.

STF reinterpretou o artigo 226, § 3º da Constituição federal e


d e c i d i u e decidiu que a união estável pode ser configurada pela união
homoafetiva.
25. O que é a Derrotabilidade – defeasibility:

R. – A Teoria da Derrotabilidade da norma jurídica significa a


possibilidade, no caso concreto, de uma norma ser afastada ou ter sua
aplicação negada, diante de uma exceção significativa. A derrotabilidade
surge quando a interpretação criar exceções que a lei não prevê
expressamente.
Exemplo: O art. 100, da CF/88, determina que os pagamentos feitos
pelas Fazenda Públicas federal, estadual, distrital e municipal, em virtude
de sentença judicial, será feito na ordem cronológica de sua
apresentação. No entanto, o STF, no julgamento da Rcl. 3982/ES, decidiu
que essa ordem cronológica para pagamento dos precatórios pode ser
excepcionada, considerando o quadro de saúde do interessado.

Exemplo: O reconhecimento pelo STF da possibilidade de interrupção


da gravidez em razão da anencefalia.
26. Explique quanto à interpretação do Preâmbulo da Constituição
Federal.

R. – O Supremo tribunal Federal entendeu a Tese da Irrelevância


Jurídica (Teoria Política). Concluiu que o preâmbulo constitucional não se
situa no âmbito do direito, mas somente no âmbito da política,
transparecendo a ideologia do constituinte. Desta forma, o STF adotou,
expressamente, a tese da irrelevância jurídica, logo, não tem força
normativa. Assim, por exemplo, a expressão “proteção de
Deus” não é norma de produção obrigatória. Uma Constituição Estadual
poderia deixar de evocar sobre a proteção de Deus.
27- Explique a hermenêutica e os Atos das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT).

R. - Os Atos das Disposições Constitucionais Transitória (ADCT),


estabelecem a transição entre a antiga e nova Constituição. Sua Natureza
Jurídica é de norma constitucional, logo possui base para se declarar a
inconstitucionalidade de leis e pode ser objeto de Emenda. Alguma
disposição que não foi exaurida, tem força normativa diferente do
preâmbulo da Constituição.
28. Qual foi a contribuição de Martin Heidegger (1889 – 1876) e Hans-
Georg Gadamer (1900 – 2002), para a hermenêutica jurídica?

R. - Heidegger e Gadamer, são considerados um dos maiores expoentes


da reflexão hermenêutica. Os dois pensadores estabelecem um paralelo
entre a hermenêutica clássica, fundada em metodologias e técnicas de
interpretação, e uma nova hermenêutica filosófica.
29. Aponte algumas abordagens sobre hermenêutica realizadas por
Heidegger.

R. – Heidegger reflete qual é o lugar da Hermenêutica e conclui que a


hermenêutica deixa de ser uma teoria\metodologia interpretativa, que
compreende a interpretação do texto e as práticas, para ser uma
Ontologia.
30. Na obra, “Verdade e Método”, Gadamer se consolida como
expressivo nome da hermenêutica e possibilita uma reestruturação no
processo interpretativo. Explique.

R. A Hermenêutica de Gadamer trouxe uma significativa contribuição


para o Direito, pois, a Hermenêutica Jurídica seguia uma tradição
dogmática, engessada em padrões e métodos para interpretar a norma
com a intenção de se extrair seu exato significado. O Direito apresentava
como ainda temos lacunas interpretativas. Em muitas situações o Direito
padece com a falta de maleabilidade das interpretações. Após a
publicação da obra Verdade e método, Gadamer inovou sua
reflexão sobre a Hermenêutica refletindo no Direito.
31. Aponte algumas abordagens sobre hermenêutica realizadas por
Gadamer.

R. – Gadamer foi um filósofo que desempenhou um importante papel no


estudo da hermenêutica no século XX. Para o autor, a hermenêutica
não está ligada numa metodologia de interpretação. A própria
filosofia é uma hermenêutica. Toda vez que se realiza
hermenêutica está fazendo filosofia. Toda vez que se faz filosofia
se faz hermenêutica.
32. Gadamer sustentava que nenhum ato hermenêutico pode
desconsiderar as estruturas prévias que estão dentro do ser humano.
Essas estruturas prévias humanas foram classificadas pelo autor como
preconceitos. Explique.

R. – Preconceito é tudo que é construído em nossa formação e nossa


tradição. Entendendo como pré-conceitos, nossa pré-compreensão, ideias
de determinadas compreensões prévias da pessoa. Para Gadamer temos
preconceitos, estruturas que temos e devem ser consideradas, devem ser
levadas em consideração no momento da interpretação.
33. Gadamer chama a atenção para a separação daquilo que vem dos
preconceitos\estruturas do sujeito com aquilo que chega pelo texto.
Explique.

R. - Concordar ou não com um texto é uma forma de juízo. Para o autor,


na hermenêutica isso é natural, pois, a hermenêutica começa quando eu
inicio o reconhecimento que tenho pré-compreensões que irão se chocar
com o texto. Com esse início de entendimento começa a hermenêutica e
o exercício hermenêutico.
34. Gadamer entendia que os preconceitos devem ser lidos tal como um
argumento de autoridade. Explique.

R. – Significa que não é qualquer preconceito que deve ser entendido


como legítimo. Exemplo é que o preconceito de autoridade é um
preconceito legítimo. O sujeito possui uma pré-compreensão legítima\com
autoridade, é um preconceito legítimo. Ou teorias para compreensões
teóricas, exemplo um argumento da lógica de Aristóteles, Não é achismo.
35. O que é argumento de autoridade?

R. - É um reconhecimento de um juízo que já foi feito antes de nós, juízo


com validade. O argumento de autoridade deve guiar preconceitos
legítimos. Exemplo de preconceito de defesa da vida: o sujeito defende à
vida. Preconceito legítimo, porque possui uma autoridade, pois, muitos
autores fizeram a defesa da vida. O valor da defesa da vida, baseado em
preconceitos legítimos, grandes juízos do passado, grandes autores, que
permitem fazer a defesa da vida de forma substancial e não de achismos.
36. O que Tradição?

R. - É conservação. Tipo de autoridade específica. A tradição é momento


da liberdade e da própria história. A tradição não é uma imposição porque
são as próprias pessoas que vão reconhecendo e cultivando essa tradição.
A tradição está atuante nas mudanças históricas. Segundo Gadamer, a
Tradição é um ato da razão, pois, a tradição conservadora como
autoridade conserva (uma tradição) o que já foi testada, provada, e
permaneceu, resistiu ao tempo.
37. Explique a ideia do Argumento de Validade na concepção do
Iluminismo.

R. – O Iluminismo entendia que o argumento de autoridade


caracterizaria perda de razão. Gadamer afirma que o Iluminismo não
entendeu a essência do argumento de autoridade.
No período de extrema valorização da racionalidade, só se admitia ser
verdadeiro o que passasse pelo crivo da razão, ou seja, a tendência geral
do Aufklãrung (Iluminismo) é não deixar valer autoridade alguma e
decidir tudo diante do tribunal da razão. Desconsidera-se a historicidade
dos sujeitos, uma vez que os preconceitos dela oriundos representam um
entrave para a razão na medida em que levariam para enganos e para
contingências. Aufklärung (movimento filosófico de caráter racionalista\
cientificista, também denominado de Iluminismo), desenvolveu um
descrédito dos preconceitos.

Você também pode gostar