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Universidade do Estado de Mato Grosso

Curso Bacharelado em Direito


Direito Constitucional

Fabiana da C. Damasceno dos Santos Silva

FICHAMENTO

CAPÍTULO III – A INTEEPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL


LIVRO: CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL CONTEMPORÂNEO

Autor: Luís Roberto Barroso

ALTA FLORESTA-MT
2023
Fabiana da C. Damasceno dos Santos Silva

FICHAMENTO

CAPÍTULO III – A INTEEPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL


LIVRO: CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL CONTEMPORÂNEO

Docente: Marcus César Mesquita


Direito Constitucional I -2º Semestre
Turma 2/2022

Alta Floresta -MT


2023
CAPÍTULO III – A INTEEPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
DO LIVRO: CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL CONTEMPORÂNEO

I- GENERALIDADES
1. INTRODUÇÃO
Garota de Ipanema, na voz ou nos instrumentos de seus múltiplos intérpretes,
conserva sua essência, seus elementos de identidade, mas nunca é a mesma. A
razão é que, entre a obra e o público, há uma intermediação necessária feita
por quem vai executá-la. A interpretação, por certo, é desenvolvida com base
na obra preexistente e nas convenções musicais. Mas estará sempre sujeita à
percepção e à sensibilidade do intérprete. Por isso mesmo, uma versão nunca
Citação é exatamente igual à outra. Ainda assim, havendo fidelidade à melodia e à
letra originais, não será possível dizer que uma seja certa e a outra, errada.
São diferentes formas de ver a mesma criação.
Comentário Barroso usa a composição Garota de Ipanema para explicar de forma didática
que as normas do Direito assim como, uma composição musical pode possuir
várias interpretações e também ter um ou mais destinatários. É assim no
Direito, a base do interprete sempre vai ser a norma já existente, no entanto há
inúmeras formas de interpretá-las, além de se levar em conta os fatores
externos, o público e as possibilidades de quem vai executar.

2. TERMINOLOGIA: HERMENÊUTICA, INTERPRETAÇÃO,


APLICAÇÃO E CONSTRUÇÃO
A hermenêutica tem sua origem no estudo dos princípios gerais de
interpretação bíblica. Para judeus e cristãos, seu objeto era descobrir as
verdades e os valores contidos na Bíblia. Para a tradição judaico-cristã, como
é corrente, a Bíblia tem um caráter sagrado, pela crença de que expressa a
revelação divina. Desde os primórdios surgiram divergências acerca da
Citação maneira adequada de interpretá-la: se de modo literal, moral, alegórico ou
místico. Da religião o termo passou para a filosofia, daí para a ciência e
depois para o Direito. A hermenêutica jurídica é um domínio teórico,
especulativo, voltado para a identificação, desenvolvimento e sistematização
dos princípios de interpretação do Direito.
Podemos definir hermenêutica como sinônimo de interpretação. Cabe a essa
ciência/doutrina o exercício de interpretar e ajudar a compreender o conceito
das palavras que formam um texto. Inicialmente era usada n interpretação de
Comentário textos bíblicos, depois entrou no campo da filosofia e ciência, chegando por
fim ao campo do Direito. É uma importante ferramenta jurídica que é usada
nas interpretações dos textos normativos.
A interpretação jurídica consiste na atividade de revelar ou atribuir sentido a
textos ou outros elementos normativos (como princípios implícitos, costumes,
Citação precedentes), notadamente para o fim de solucionar problemas. Trata-se de
uma atividade intelectual informada por métodos, técnicas e parâmetros que
procuram dar-lhe legitimidade, racionalidade e controlabilidade.
A interpretação jurídica tem por objeto conferir sentido aos conteúdos que
Comentário formam as normas do direito. Nesse ponto é importante observar os elementos
externos, como costumes e valores, que podem influenciar de maneira muito
significante nesse processo de elaboração do conteúdo legal da norma.
A aplicação de uma norma jurídica é o momento final do processo
interpretativo, sua incidência sobre os fatos relevantes. Na aplicação se dá a
Citação conversão da disposição abstrata em uma regra concreta, com a pretensão de
conformar a realidade ao Direito, o ser ao dever ser. É nesse momento que a
norma jurídica se transforma em norma de decisão.
O ato da aplicação é considerado como o fim do procedimento interpretativo,
Comentário e quando a norma passa a ser considerado regra a ser obedecida e observada, a
partir desse momento se torna um dispositivo legal a ser utilizado para
resolução de questões de ordem legal.
Outro conceito relevante, especialmente no âmbito da interpretação
constitucional, é o de construção. Por sua natureza, uma Constituição se
utiliza de termos vagos e de cláusulas gerais, como igualdade, justiça
segurança, interesse público, devido processo legal, moralidade ou dignidade
humana. Isso se deve ao fato de que ela se destina a alcançar situações que
Citação não foram expressamente contempladas ou detalhadas no texto. A
interpretação consiste na atribuição de sentido a textos ou a outros signos
existentes, ao passo que a construção significa tirar conclusões que estão fora
e além das expressões contidas no texto e dos fatores nele considerados. São
conclusões que se colhem no espírito, embora não na letra da norma. A
interpretação é limitada à exploração do texto, ao passo que a construção vai
além e pode recorrer a considerações extrínsecas.
O texto constitucional faz uso de termos que as vezes podem até ser
considerados abstratos, pois tem como função abarcar toda e qualquer
condição que não recebeu a devida atenção no texto legal. Enquanto a
interpretação tem que se relacionar essencialmente com letra da norma, a
construção vai além, trabalhando o texto constitucional de acordo com as
Comentário condições sociais e políticas. Sabemos que a norma maior do Estado
brasileiro pode sofrer modificações, assim sendo, sua interpretação deve estar
em consonância com as transformações sociais. Seguindo essa vertente
podemos descrever a construção como uma técnica criativa de interpretação
do texto constitucional, já que faz uso também de fatos exteriores como
realidade social e política, para lhe conferir um significado.
3. ESPECIFICIDADE DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
Por ser a Constituição uma norma jurídica, sua interpretação se socorre dos
Citação variados elementos, regras e princípios que orientam a interpretação jurídica
em geral, cujo estudo remonta ao direito romano e, na cultura jurídica romano
germânica, passa por autores importantes como Savigny, Gény e Kelsen.

Compreender o texto constitucional é de suma importância, já que é a norma


suprema do Estado é a responsável por gerir e reger as estruturas que o
compõe. Assim como na Europa continental, no nosso país ela ganhou força e
Comentário tornou-se tradicional no pós segunda guerra mundial, os componentes dessa
norma perpassam por regras e princípios, que tem como base o direito romano
e a cultura jurídica germânica, que também foi escola de importantes autores,
como Kélsen, Savigny e Gény.
Assinale-se, logo de início, que o direito constitucional envolve um
empreendimento complexo: o de levar o Direito às relações políticas,
Citação disciplinando a partilha e o exercício do poder, bem como impondo o respeito
aos direitos da cidadania. Não é banal a missão de levar legalidade, justiça e
segurança jurídica para um ambiente marcado pelo uso potencial da força,
pelo exercício de competências discricionárias e por vínculos diretos com a
soberania popular.
A Carta Magna é o guardião da vontade popular, ela é a ferramenta de
transmissão das vontades dos cidadãos, bem como também de seus deveres. A
Comentário norma constitucional também é responsável por gerenciar a estrutura política
do Estado, delimitando seus poderes, fazendo com que os atos normativos
estejam dentro da legalidade, sejam justos e mantenham a segurança jurídica.
De fato, fruto do poder constituinte originário, a Constituição é a expressão da
vontade superior do povo, manifestada em um momento cívico especial.
Citação Promulgada a Constituição, a soberania popular se converte em supremacia
constitucional.
O poder constituinte é o responsável por criar ou modificar o texto
Comentário constitucional. Entretanto é válido destacar que ele deve obedecer aos limites
jurídicos e políticos, respeitando os princípios fundamentais.
Essas características do direito constitucional e da Constituição, por suposto,
Citação projetam-se nas normas constitucionais, dando a elas peculiaridades que
podem ser assim assinaladas (v. supra):
As normas constitucionais possuem características próprias e que a difere das
outras. Começamos por sua hierarquia jurídica, ela é norma suprema, define
seu modo de criação e também seus limites. Possui uma linguagem abstrata e
sem nenhuma especificação, mas ainda assim, preza pelo respeito aos valores
Comentário e direitos fundamentais e a obediência aos seus princípios. Ela tem como
objeto a estruturação do poder político, definição a garantir os direitos
fundamentais e o alcance dos resultados esperados quando aplicada nos
objetivos sociais por ela definido. E por fim temos o seu caráter político, que
corresponde a harmonia que deve haver entre os poderes.
II. OS DIFERENTES PLANOS DE ANÁLISE DA INTERPRETAÇÃO
CONSTITUCIONAL
A interpretação constitucional, que é uma particularização da interpretação
jurídica geral, é um fenômeno complexo, que pode ser analisado a partir de
diferentes prismas, que estabelecem conexões entre si, mas apresentam
Citação relativa autonomia. Para os fins aqui visados, é possível destacar três deles: o
plano essencialmente jurídico ou dogmático; o plano teórico ou
metodológico; e o plano da justificação política ou da legitimação
democrática. A identificação desses três planos distintos preenche, sobretudo,
uma finalidade didática, por auxiliar a compreensão dos variados processos
mentais envolvidos.
Considerado um fenômeno, a interpretação constitucional que pode ser
estudada a partir de vários pontos de vistas, que estão conectados sem perder
sua autonomia.
Plano Jurídico Dogmático está relacionado as formas de operação do
Direito, busca a harmonia as normas existentes, como se relacionam, tendo
com intenção prever possíveis discordâncias e ambiguidades e impedindo
assim que elas aconteçam.
Comentário Plano Teórico ou Metodológico avalia as todas as possibilidades e técnicas
que podem ser usadas na interpretação do texto constitucional, não trabalha
com a análise interna do processo produtivo, mas usa-se de diferentes
métodos para alcançar para o objetivo final.
Plano da Justificação Política ou da Legitimação Democrática esse plano
visa a garantia dos direitos e liberdades fundamentais do povo, prezando
sempre para que as políticas públicas sejam norteadas por princípios legais e
que elas sejam feitas com clareza e de maneira democrática.

2.1. AS ESCOLAS DE PENSAMENTO JURÍDICO


Ao longo dos últimos dois séculos, uma multiplicidade de teorias jurídicas foi
concebida e propagada. Todas elas foram desenvolvidas, substancialmente,
em torno do direito civil, que era o centro de irradiação do pensamento
jurídico e o direito comum nos países de tradição romano germânica. Essa
situação durou até o segundo pós-guerra. Não é o caso de investigar em
Citação profundidade as diferentes escolas e movimentos que marcaram cada época.
No entanto, por necessidade de encadeamento do raciocínio e por imperativo
didático, percorre-se brevemente o tema, agrupando-se as diferentes teorias
ou metodologias em quatro grandes categorias: (i) o formalismo, (ii) a reação
antiformalista, (iii) o positivismo e (iv) a volta aos valores.
O formalismo, a reação antiformalista, o positivismo e a volta dos valores são
resultados de várias teorias jurídicas que nasceram e foram difundidas em um
período de duzentos anos. O cerne inicialmente era o direito civil que era a
alma dos pensadores jurídicos romanos germânicos, situação essa que
perdurou até depois do fim da segunda guerra mundial.
O formalismo jurídico (séculos XIX/XX) segue a letra da lei, não reconhece
a atuação de fatos externos a norma e não lhe permite uma interpretação
criativa, nem mesmo esta não é capaz de resolver uma situação específica, a
Escola da Exegese na França, e a Jurisprudência dos Conceitos na Alemanha
são exemplos de aplicação do formalismo.
Na reação antiformalista o direito deve ser usado como ferramenta de
resolução de problemas e também fomentar o bem comum. Esteve presente
nos mais importantes movimentos que lutavam por uma reforma no
pensamento jurídico como a livre investigação cientifica, o movimento de
Comentário direito livre e o realismo jurídico. Essas escolas de pensamento jurídico
compartilhavam diversas ideias em comum, dentre ela a de que o direito é
uma ferramenta social. O principal percursor desse pensamento foi o jurista
alemão Rudolph von Ihering.
Para o positivismo jurídico o direito só pode ser analisado e empregado de
maneira objetiva, não considerando fatores morais ou éticos. Os positivistas
são extremamente técnicos, suas decisões tem como fundamento a letra da lei
e a desconsideração dos princípios éticos, políticos e morais.
Já a volta dos valores ou o neoconstitucionalismo luta pela proteção dos
direitos fundamentais e o reconhecimento da democracia nas sociedades, esse
movimento é uma resposta ao positivismo. O marco do desenvolvimento
desse pensamento foi a aprovação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, e serviu também para reaproximar o direito e a filosofia.
2.2. AS TEORIAS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
Na teoria constitucional, os diferentes métodos de interpretação constitucional
desenvolveram características e terminologia próprias. Sem embargo, também
Citação aqui o que está em questão é a demonstração e justificação do raciocínio
desenvolvido e a explicitação das relações entre o sistema jurídico, o
problema a ser resolvido e o papel do intérprete.
Muitos métodos para a interpretação do texto constitucional foram
desenvolvidos, cada um tendo sua própria característica, no entanto todos
Comentário compartilham que seu principal objetivo deve ser obter uma solução legal e
razoável para a discussão constitucional em questão.
2.2.1. ALGUNS MÉTODOS DA TEORIA CONSTITUCIONAL ALEMÃ
Na doutrina e na jurisprudência alemãs reproduzem-se, de certa forma,
algumas das discussões que permearam o desenvolvimento das diferentes
Escolas jurídicas. Há propostas que concebem o raciocínio jurídico em termos
lógico-formais, de modo que também as questões constitucionais se
resolveriam pela aplicação de normas gerais aos casos concretos, mediante
subsunção. Trata-se do método clássico de interpretação constitucional. Em
Citação outra linha está a concepção que valoriza o problema concreto levado à
apreciação judicial. O fundamental seria produzir a solução mais razoável
para o caso concreto, mesmo que tal desfecho não resultasse diretamente do
texto constitucional. Este é o método tópico-problemático. Uma terceira
construção teórica procura conciliar elementos das duas formulações
anteriores: pelo método hermenêutico-concretizador procura-se legitimar a
construção da solução mais razoável para o problema, desde que circunscrita
às possibilidades oferecidas pelo texto constitucional. A seguir, uma breve
anotação sobre cada um.
A doutrina e a jurisprudência alemã estão presentes alguns questionamentos
que influenciaram na formação das várias escolas jurídicas. Entre esses
assuntos está os métodos de interpretação constitucional o qual podemos
destacar três como os mais relevantes, são eles: método clássico, método
tópico-problemático e método hermenêutico-concretizador. O primeiro sofre
influência do formalismo, na qual o intérprete fundamenta-se na norma
constitucional para a solução de questões de ordem constitucional. O segundo
Comentário
não tem como foco a norma ou o sistema jurídico, mas sim o problema a ser
resolvido. Seu ponto de partida para encontrar uma solução que esteja de
acordo com os valores e princípios constitucionais e o próprio caso concreto.
E por temos a hermenêutica-concretizadora que busca correlacionar os dois
métodos anteriores. Esse sistema tenta unir as normas contidas no texto
constitucionais bem com os princípios e valores que também fazer parte de
sua formação.
Citação Nessa vertente da interpretação como concretização situa-se, também, a
denominada “metódica estruturante”, de Friedrich Müller, cuja proposta
consiste, igualmente, em conciliar a perspectiva normativa com a sociológica.

Müller procura harmonizar perspectiva normativa e a sociológica fazendo


uma diferenciação entre o texto e a norma. Para ele a norma jurídica resulta
Comentário das várias possibilidades de sentido que o texto pode ter de acordo com o
método empregado, acrescenta também a condição social no qual o problema
a ser solucionado está. O que permite que a interpretação constitucional
considere não só a norma, mas também sua realidade social e política.
2.2.2. O DEBATE NA TEORIA CONSTITUCIONAL AMERICANA
Nos Estados Unidos, é possível agrupar as principais teorias de interpretação
constitucional sob dois grandes rótulos: interpretativismo e não
interpretativismo. Interpretativismo é a corrente que nega legitimidade ao
Citação desempenho de qualquer atividade criativa por parte do juiz, que não estaria
autorizado a impor seus próprios valores à coletividade. Não interpretativismo
significa, ao contrário, que os intérpretes judiciais podem recorrer a elementos
externos ao texto constitucional na atribuição de sentido à Constituição, como
as mudanças na realidade ou os valores morais da coletividade.
Nos EUA existem duas principais correntes definidoras da interpretação
constitucional, o interpretativismo e não interpretativismo. O
interpretativismo diz que o texto constitucional deve ser aplicado tal como
está escrito e os juristas não devem considerar suas opiniões pessoais e
políticas para interpretá-lo. Já não interpretativismo defende que essa
interpretação deve ser feita considerando os fatores externos, e que norma
Comentário suprema deve estar aberta as evoluções e consequentemente deve aderir a
mudanças para atingir o objetivo do mundo moderno.
O não interpretativismo contém três modalidades importantes: a interpretação
evolutiva que define que a norma constitucional possui vida e cheio de
dinamicidade; a leitura moral da Constituição prega que a Constituição deve
ser interpretada conforme seus princípios fundamentais e morais; o
pragmatismo jurídico observa que deve se considerar o meio em que norma
está sendo aplicada e quais resultados essa aplicação poderá produzir.
3. O PLANO DA JUSTIFICAÇÃO POLÍTICA OU DA LEGITIMAÇÃO
DEMOCRÁTICA
O plano da justificação política lida, substancialmente, com a questão da
separação de Poderes e da legitimação democrática das decisões judiciais. É
Citação no seu âmbito que se procuram resolver as tensões que muitas vezes se
desenvolvem entre o processo político majoritário – feito de eleições, debate
público, Congresso, Chefes do Executivo – e a interpretação constitucional.
Esse plano discute a divisão dos poderes legislativo, executivo e judiciário,
trabalhando também aplicação da democracia nas decisões. Mesmo que essas
decisões respeitem os elementos democráticos, deve-se cuidar para ainda sim,
Comentário não fira os direitos fundamentais de uma minoria. Dessa forma plano da
justificação política tenta solucionar as divergências entre o processo politico
predominante e a interpretação constitucional
A ideia de ativismo judicial está associada a uma participação mais ampla e
Citação intensa do Judiciário na concretização dos valores e fins constitucionais, com
maior interferência no espaço de atuação dos outros dois Poderes.

Assunto nos dias de hoje que vem gerando várias discussões, diz respeito a
uma maior participação do judiciário na formação dos valores constitucionais
e quis serão seus fins no momento da aplicação. O aumento dessa
Comentário participação no ambiente dos outros dois poderes para alguns é motivo de
preocupação, já que alguns consideram que em momentos o judiciário
extrapola o alcance do seu poder.
O oposto do ativismo é a autocontenção judicial, conduta pela qual o
Judiciário procura reduzir ao mínimo sua interferência nas ações dos outros
Poderes. Por essa linha, juízes e tribunais (i) evitam aplicar diretamente a
Constituição a situações que não estejam no seu âmbito de incidência
Citação expressa, aguardando o pronunciamento do legislador ordinário; (ii) utilizam
critérios rígidos e conservadores para a declaração de inconstitucionalidade de
leis e atos normativos; e (iii) abstêm-se de interferir na definição das políticas
públicas. Até o advento da Constituição de 1988, essa era a inequívoca linha
de atuação de juízes e tribunais no Brasil.
Ao contrário do tópico anterior a autocontenção defende a menor interferência
possível por parte do judiciário. Sendo usada de maneira a equilibrar os
Comentário
poderes. Mas ainda assim, após ser promulgada a Constituição, o judiciário
passou a ser mais notório na definição das políticas sociais.
4. A INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL COMO
CONCRETIZAÇÃO CONSTRUTIVA
Os métodos de atuação e de argumentação dos órgãos judiciais são
essencialmente jurídicos, mas a natureza de sua função, notadamente quando
envolva a jurisdição constitucional, é inegavelmente política. Isso se deve ao
Citação fato de que o intérprete desempenha uma atuação criativa – pela atribuição de
sentido a cláusulas abertas e pela realização de escolhas entre soluções
alternativas possíveis –, mas também em razão das consequências práticas de
suas decisões, que afetam o equilíbrio entre os Poderes e os deveres que lhes
são impostos. Melhor do que negar o aspecto político da jurisdição
constitucional é explicitá-lo, para dar-lhe transparência e controlabilidade.
A argumentação na interpretação constitucional até podem ser puramente
jurídicas, porém, sua essência, principalmente quanto as questões
constitucionais detêm características políticas que são difíceis de se negar.
Comentário Portando, não é puramente técnico, e por sofrer influencia de fatos políticos
estes não podem ser desconsiderados. Com o reconhecimento, o judiciário
pode garantir a justiça e a transparência na tomada de decisões.
III A INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL SOB PERSPECTIVA
TRADICIONAL
1. ALGUMAS REGRAS DE HERMENÊUTICA
Faz parte do conhecimento convencional a percepção de que o
estabelecimento de regras e princípios de hermenêutica é atribuição da
doutrina, e não do legislador149. Nada obstante isso, assim no Brasil como
em outros países, não é incomum a positivação em lei de algumas normas a
Citação
respeito. Entre nós, a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro
(LINDB), promulgada pelo Decreto-Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942,
traz em si quatro grandes conteúdos: (i) regras de direito intertemporal150;
(ii) regras de hermenêutica; (iii) regras de direito internacional privado151; e
(iv) regras de cooperação jurídica internacional152.
Quem cria e dita as regras na hermenêutica é a doutrina, não que as aplica,
mas em certos países, assim como no Brasil isso acontece corriqueiramente.
A LINDB que foi promulgada pelo Decreto-Lei 4.657/1942, detém os quatro
Comentário importantes temas relacionadas ao direito que são: regras de hermenêutica,
regras de direito internacional privado e regras de cooperação jurídica
internacional.
Além dessas proposições gerais, há regras específicas de interpretação nos
diferentes ramos do Direito154, merecendo referência expressa o destaque
dado pelo Código Civil de 2002 ao princípio da boa-fé objetiva155. Nele se
contém o dever do comportamento ético, que a doutrina civilista tem
procurado fundamentar na cláusula constitucional da dignidade da pessoa
humana156. O princípio da boa-fé objetiva, na letra expressa do Código, deve
pautar a interpretação dos negócios jurídicos em geral, sendo dever específico
dos contratantes na execução dos contratos157. Uma das expressões concretas
Citação do princípio é a tutela da confiança legítima nas relações privadas158, que
veda o comportamento contraditório, referido em doutrina como venire contra
factum proprium. Também originárias do direito civil são as regras de
hermenêutica expressas sob a forma de brocardos, extraídos da doutrina e da
jurisprudência. Embora já não desfrutem de grande prestígio, podem ser úteis
em certas circunstâncias.
Além das regras trazidas pela hermenêutica, temos as contidas no Código
Civil de 2022, como o princípio da boa-fé objetiva, refere-se ao
comportamento, sua fundamentação encontra-se na norma que rege a
Comentário dignidade da pessoa humana. Desta feita, importante ressaltar que além da
hermenêutica, existem outros códigos específicos de interpretação que devem
ser observados.
2. ELEMENTOS TRADICIONAIS DE INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
2.1. INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL, LITERAL OU SEMÂNTICA
Nos países da tradição romano-germânica, a principal fonte do Direito são as
normas jurídicas escritas, os enunciados normativos. Interpretar é, sobretudo,
atribuir sentido a textos normativos, conectando-os com fatos específicos e
com a realidade subjacente. A interpretação gramatical funda se nos conceitos
contidos na norma e nas possibilidades semânticas das palavras que integram
Citação o seu relato. Em muitas situações, a atividade interpretativa não envolverá
complexidades que desbordem da aplicação textual dos enunciados
normativos. É o que ocorre, por exemplo, com a norma que dispõe acerca do
número de ministros do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 101), ou a que
atribui competência à União para instituir imposto de importação (CF, art.
153, I), ou ainda a que prevê a idade mínima de 35 anos para alguém se
candidatar a Presidente da República.
Em Estados romano-germânicos o direito tem com fonte principal as normas
Comentário escritas e seus enunciados, deixando-se de lado os métodos interpretativos.
Contudo dependendo da situação a aplicação de outras formas de
interpretação, o qual será necessário considerar os fatores externos.
2.2. INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA
No elenco de elementos de interpretação, os de caráter objetivo, como o
sistemático e o teleológico, têm preferência sobre os de índole subjetiva,
como o histórico. A análise histórica desempenha um papel secundário,
suplementar na revelação de sentido da norma. Apesar de desfrutar de certa
reputação nos países do common law, o fato é que na tradição romano
Citação germânica os trabalhos legislativos e a intenção do legislador – conteúdos
primários da interpretação histórica –, sem serem irrelevantes, não são,
todavia, decisivos na fixação de sentido das normas jurídicas. À medida que a
Constituição e as leis se distanciam no tempo da conjuntura histórica em que
foram promulgadas, a vontade subjetiva do legislador (mens legislatoris) vai
sendo substituída por um sentido autônomo e objetivo da norma (mens legis),
que dá lugar, inclusive, à construção jurídica e à interpretação evolutiva (v.
supra).
Apesar de não podermos descartar os elementos históricos ao interpretarmos o
texto constitucional, é válido observarmos que estes não são mais relevantes
Comentário que os elementos objetivos. é claro também que esse contexto pode variar
dependendo do contexto social e histórico. A formação do sistema jurídico em
cada lugar acontece de formas diferentes, justamente por causa dos
acontecimentos históricos.
Ainda em relação ao tema, um precedente de 2009 do Supremo Tribunal
Federal merece especial destaque por ter se utilizado de maneira inusitada da
interpretação histórica, ainda que de forma não ostensiva. Ao declarar a não
recepção da Lei de Imprensa (Lei n. 5.260/1967), a maioria entendeu que o
diploma não poderia ser dissociado do contexto histórico em que fora editado.
Com base nisso, decidiu-se que toda a lei deveria ser declarada não
recepcionada, embora houvesse relativo consenso quanto à compatibilidade
material de alguns de seus dispositivos específicos em relação à Carta de
Citação
1988. A maioria entendeu que a hipótese era de incompatibilidade em bloco,
sendo impossível destacar previsões isoladas do conjunto orgânico em que
estavam inseridas. Sob essa perspectiva, a Lei de Imprensa traria a marca de
uma determinada visão política acerca da liberdade de expressão nos meios
jornalísticos, associada ao regime militar e suas práticas de censura. Isso
tornaria impertinente a sobrevivência de passagens isoladas.
A passagem acima é um exemplo da influência histórica em uma decisão do
judiciário. O STF declarou a não recepção da lei da imprensa devido a todo ao
Comentário momento em que ela foi escrita. Mesmo estando em consonância com as
regras constitucionais, para os juristas esta lei trazia consigo aspectos
ultrapassados que faziam reverência a censura a expressão de liberdade.
2.3. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA
A ordem jurídica é um sistema e, como tal, deve ser dotada de unidade e
harmonia. A Constituição é responsável pela unidade do sistema, ao passo
Citação que a harmonia é proporcionada pela prevenção ou pela solução de conflitos
normativos. Os diferentes ramos do Direito constituem subsistemas fundados
em uma lógica interna e na compatibilidade externa com os demais
subsistemas. A Constituição, além de ser um subsistema normativo em si, é
também fator de unidade do sistema como um todo, ditando os valores e fins
que devem ser observados e promovidos pelo conjunto do ordenamento178.
Como se explorará em detalhe mais adiante, interpretam-se todas as normas
conforme a Constituição.
Todo ordenamento jurídico é sistema, que deve ser munido de unidade e
harmonia. É o texto constitucional quem é responsável pelo estabelecimento
Comentário de valores e os objetivos a serem alcançados com as ações do sistema
jurídico. Dessa forma faz se necessário evitar e quando precisar resolver os
conflitos.
2.4. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA
Como assinalado acima, não se devem sacrificar os fins às formas. Há
autores, inclusive, que proclamam merecer o elemento teleológico
preponderância na interpretação constitucional. É bem de ver, no entanto, que
a interpretação teleológica não pode servir para chancelar o utilitarismo, o
pragmatismo e o consequencialíssimo quando isso importe em afronta aos
direitos fundamentais protegidos constitucionalmente. Em uma ordem jurídica
Citação lastreada na ética, os fins devem reverenciar os valores. A interpretação
teleológica é frequentemente invocada pelo Supremo Tribunal Federal e pelos
Tribunais Superiores. A esse propósito, em um conjunto de decisões acerca
do tema das inelegibilidades – CF, art. 14, §§ 6o, 7o e 9o – a jurisprudência,
captando o fim último visado pela disciplina da matéria, assentou que: (i)
quem não pode candidatar-se a titular do cargo, também não pode concorrer
como vice; (ii) havendo separação de fato reconhecida por sentença, deixa de
existir o parentesco que gerava a inelegibilidade184; (iii) as partes de uma
relação estável homossexual sujeitam-se à mesma inelegibilidade que se
aplica à união estável entre homem e mulher e ao casamento.
Na interpretação teológica a meta é identificar o objetivo ou o fim a ser
alcançado pela norma em questão. Mesmo tendo sido frequentemente usada
pelo STF e os Tribunais Superiores, ainda sim, não pode ser justificativa para
Comentário violar os direitos fundamentais estabelecidos pela norma constitucional.
Como exemplo para esta interpretação temos a jurisprudência acerca das
inelegibilidades e o que se refere a uniões homoafetivas.
3. A METODOLOGIA DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
TRADICIONAL
Um típico operador jurídico formado na tradição romano-germânica, como é
o caso brasileiro, diante de um problema que lhe caiba resolver, adotará uma
linha de raciocínio semelhante à que se descreve a seguir. Após examinar a
situação de fato que lhe foi trazida, irá identificar no ordenamento positivo a
Citação norma que deverá reger aquela hipótese. Em seguida, procederá a um tipo de
raciocínio lógico, de natureza silogística, no qual a norma será a premissa
maior, os fatos serão a premissa menor e a conclusão será a consequência do
enquadramento dos fatos à norma. Esse método tradicional de aplicação do
Direito, pelo qual se realiza o enquadramento dos fatos na previsão da norma
e pronuncia-se uma conclusão, denomina-se método subsuntivo.
O sistema jurídico brasileiro utiliza o mesmo método da tradição romano-
germânica, que faz a aplicação da norma jurídica ao caso concreto, dividindo-
a para que se possa analisar a situação. Buscando assim, garantir a segurança
Comentário jurídica e um previa das decisões, já que as normas são pré estabelecidas.
Vale destacar que não é somente o método subsuntivo que é usado no
ordenamento jurídico brasileiro, ele também se utiliza de técnicas que
analisam o contexto político, social e econômico ao qual a norma está
inserida.
4. PRINCÍPIOS INSTRUMENTAIS DE INTERPRETAÇÃO
CONSTITUCIONAL
As normas constitucionais são espécies de normas jurídicas. Aliás, a
conquista desse status fez parte do processo histórico de ascensão científica e
institucional da Constituição, libertando-a de uma dimensão estritamente
Citação política e da subordinação ao legislador infraconstitucional. A Constituição é
dotada de força normativa e suas normas contêm o atributo típico das normas
jurídicas em geral: a imperatividade. Como consequência, aplicam se direta e
imediatamente às situações nelas contempladas e sua inobservância deverá
deflagrar os mecanismos próprios de sanção e de cumprimento coercitivo.
As normas constitucionais são normas jurídicas possuem força normativa,
Comentário elas são vinculantes e obrigatórias, sendo obrigatórias ao Estado e aos
cidadãos. A constituição está no topo da hierarquia jurídica, portando as
demais devem estar de acordo com seus preceitos.
Impõe-se, nesse passo, uma qualificação prévia. O emprego do termo
princípio, nesse contexto, prende-se à proeminência e à precedência desses
mandamentos dirigidos ao intérprete, e não propriamente ao seu conteúdo, à
sua estrutura ou à sua aplicação mediante ponderação. Os princípios
Citação instrumentais de interpretação constitucional constituem premissas
conceituais, metodológicas ou finalísticas que devem anteceder, no processo
intelectual do intérprete, a solução concreta da questão posta. Nenhum deles
encontra-se expresso no texto da Constituição, mas são reconhecidos
pacificamente pela doutrina e pela jurisprudência.
Os princípios não estão expressamente descritos no texto constitucional, mas
Comentário a doutrina os reconhece e de acordo com a jurisprudência são indispensáveis
para entendimento e aplicabilidade da norma constitucional.
4.1. PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
O poder constituinte cria ou refunda o Estado, por meio de uma Constituição.
Com a promulgação da Constituição, a soberania popular se converte em
supremacia constitucional. Do ponto de vista jurídico, este é o principal traço
Citação distintivo da Constituição: sua posição hierárquica superior às demais normas
do sistema. A Constituição é dotada de supremacia e prevalece sobre o
processo político majoritário – isto é, sobre a vontade do poder constituído e
sobre as leis em geral – porque fruto de uma manifestação especial da vontade
popular, em uma conjuntura própria, em um momento constitucional (v.
supra).
A Constituição é a norma suprema que molda e define o ordenamento jurídico
Comentário brasileiro. A Carta Magna nasceu baseadas nas vontades popular, é nela em
que o Estado de Direito está fundamentada, normatizando assim, a estrutura e
organização dos poderes existentes, bem como, assegurando as pessoas seus
direitos fundamentais e também lhes impondo seus deveres.
4.2. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE
DAS LEIS E ATOS NORMATIVOS
A presunção de constitucionalidade, portanto, é uma decorrência do princípio
da separação de Poderes e funciona como fator de autolimitação da atuação
judicial. Em razão disso, não devem juízes e tribunais, como regra, declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo quando:
Citação a) a inconstitucionalidade não for patente e inequívoca, existindo tese
jurídica razoável para preservação da norma;
b) seja possível decidir a questão por outro fundamento, evitando-se a
invalidação de ato de outro Poder;
c) existir interpretação alternativa possível, que permita afirmar a
compatibilidade da norma com a Constituição.
Esta última possibilidade, que envolve aspectos da interpretação conforme a
Constituição, será examinada no próximo item.
De acordo com esse principio todo ato normativo é constitucional até que se
prove ao contrário. Por isso leis ou atos normativos não podem ser declarados
inconstitucionais quando a inconstitucionalidade não for patente e inequívoca,
Comentário seja possível decidir a questão por outro fundamento, evitando-se a
invalidação de ato de outro Poder, existir interpretação alternativa possível,
que permita afirmar a compatibilidade da norma com a Constituição.

4.3 PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A


CONSTITUIÇÃO
Como técnica de interpretação, o princípio impõe a juízes e tribunais que
interpretem a legislação ordinária de modo a realizar, da maneira mais
adequada, os valores e fins constitucionais. Vale dizer: entre interpretações
Citação possíveis, deve-se escolher a que tem mais afinidade com a Constituição. Um
exemplo: depois de alguma hesitação, a jurisprudência vem reconhecendo
direitos previdenciários a parceiros que vivem em união estável homoafetiva
(i.e., entre pessoas do mesmo sexo). Mesmo na ausência de norma expressa
nesse sentido, essa é a inteligência que melhor realiza a vontade
constitucional, por impedir a desequiparação de pessoas em razão de sua
orientação sexual.
No Princípio da Interpretação conforme a Constituição é aquela em a
Comentário interpretação adotada é que é mais favorável ao texto constitucional,
observando seus princípios e jurisprudência sem afastar-se do fim a ser
alcançado pela lei.
4.4 PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO
Já se consignou que a Constituição é o documento que dá unidade ao sistema
jurídico, pela irradiação de seus princípios aos diferentes domínios
infraconstitucionais. O princípio da unidade é uma especificação da
Citação
interpretação sistemática, impondo ao intérprete o dever de harmonizar as
tensões e contradições entre normas jurídicas. A superior hierarquia das
normas constitucionais impõe-se na determinação de sentido de todas as
normas do sistema.
Esse principio dispõe que os dispositivos constitucionais devem ser
Comentário analisados em conjunto, por fazerem parte de um sistema de regras e
princípios.

4.5. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE OU DA


PROPORCIONALIDADE
O princípio da razoabilidade-proporcionalidade, termos aqui empregados de
modo fungível, não está expresso na Constituição, mas tem seu fundamento
nas ideias de devido processo legal substantivo e na de justiça. Trata-se de um
Citação valioso instrumento de proteção dos direitos fundamentais e do interesse
público, por permitir o controle da discricionariedade dos atos do Poder
Público e por funcionar como a medida com que uma norma deve ser
interpretada no caso concreto para a melhor realização do fim constitucional
nela embutido ou decorrente do sistema.
O princípio da proporcionalidade e da razoabilidade está positivado no
Comentário ordenamento jurídico brasileiro, mesmo não constando explicitamente. Eles
fazem parte da natureza e essência do Estado.
4.6. PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE
Citação
Efetividade significa a realização do Direito, a atuação prática da norma,
fazendo prevalecer no mundo dos fatos os valores e interesses por ela
tutelados. Simboliza, portanto, a aproximação, tão íntima quanto possível,
entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social. O intérprete
constitucional deve ter compromisso com a efetividade da Constituição: entre
interpretações alternativas e plausíveis, deverá prestigiar aquela que permita a
atuação da vontade constitucional, evitando, no limite do possível, soluções
que se refugiem no argumento da não autoaplicabilidade da norma ou na
ocorrência de omissão do legislador.
Este principio faz referência a eficácia obtida na aplicação do direito. Os atos
Comentário praticados pelo Estado devem garantir que as necessidades e direitos do povo
serão cumpridas.

CONCLUSÃO
No capítulo terceiro dessa obra, o autor apresenta e faz uma minuciosa
análise acerca da interpretação constitucional e os diversos métodos existentes, traz o
conceito de hermenêutica, e também nos dá um panorama de como esses métodos são
empregados no nosso ordenamento jurídico.
Para Barroso a hermenêutica é sinônimo de interpretação, cabe ela o
exercício de interpretar e ajudar a compreender o conceito das palavras que formam um
texto. Inicialmente era usada na interpretação de textos bíblicos, depois entrou no
campo da filosofia e ciência, chegando pôr fim ao campo do Direito. É uma importante
ferramenta jurídica que é usada nas interpretações dos textos normativos.
A interpretação jurídica tem por objeto conferir sentido aos conteúdos
que formam as normas do direito. Nesse ponto é importante observar os elementos
externos, como costumes e valores, que podem influenciar de maneira muito
significante nesse processo de elaboração do conteúdo legal da norma.
Compreender o texto constitucional é de suma importância, já que é a
norma suprema do Estado é a responsável por gerir e reger as estruturas que o compõe,
os componentes dessa norma perpassam por regras e princípios, que tem como base o
direito romano e a cultura jurídica germânica.
De fato, fruto do poder constituinte originário, a Constituição é a
expressão da vontade superior do povo, manifestada em um momento cívico especial.
Promulgada a Constituição, a soberania popular se converte em supremacia
constitucional.
Considerado um fenômeno, a interpretação constitucional que pode
ser estudada a partir de vários pontos de vistas, que estão conectados sem perder sua
autonomia.
Na teoria constitucional, os diferentes métodos de interpretação
constitucional desenvolveram características e terminologia próprias. Sem embargo,
também aqui o que está em questão é a demonstração e justificação do raciocínio
desenvolvido e a explicitação das relações entre o sistema jurídico, o problema a ser
resolvido e o papel do intérprete.
Muitos métodos para a interpretação do texto constitucional foram
desenvolvidos, cada um tendo sua própria característica, no entanto todos compartilham
que seu principal objetivo deve ser obter uma solução legal e razoável para a discussão
constitucional em questão, e claro, sempre preservando os direitos fundamentais do
povo.

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