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Resumo
O neoconstitucionalismo possibilitou a superação de amarras e de armadilhas do
positivismo no campo da hermenêutica jurídica, abrindo espaço para a atuação ativa dos
magistrados, permitindo ao intérprete a concretização da pretensa justiça social, ora
fundamentada em valores coletivos, e ora fundamentada em valores não coletivos. A
norma deixou de ser o texto estático da Lei para se tornar uma norma dinâmica da
sociedade ao ser interpretada diante aos fatos sociais. Num passo seguinte com liberdade
interpretativa, a norma passou a ser relativa aos valores morais subjetivos do intérprete,
colocando em risco a segurança jurídica.
Nos métodos interpretativos do neoconstitucionalismo, a linguística do texto
normativo transcende o próprio texto, a historicidade do texto e a finalidade original do
texto. Atualmente, independente do método, a interpretação sistêmica do conjunto
normativo sofre de uma carga subjetiva e valorativa que visa concretizar os valores
insculpidos no ordenamento jurídico. Por outro lado, esta liberdade interpretativa e a
carga valorativa subjetiva podem desvirtuar o método para um casuísmo na interpretação.
O subjetivismo moral na interpretação, quando não é naturalmente recebido e aceito pelos
jurisdicionados, carece de legitimidade social. Ele é uma conduta percebida como
ativismo judicial do intérprete que prejudica a segurança jurídica e provoca distúrbio na
paz social.
Palavras-chave
Neoconstitucionalismo. Hermenêutica. Métodos interpretativos. Ativismo
Judicial.
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1 - Introdução
O neocosntitucionalismo, como consequência natural de um pós-positivismo, é
um movimento jus filosófico que possibilitou o realinhamento hermenêutico
constitucional no questionamento da efetividade da justiça social e da aproximação do
direito posto aos valores sociais humanos, previstos no direito natural. Muitas teses
jurídicas se formaram neste sentido. Algumas delas respaldaram relevantes movimentos
reivindicatórios de justiça social como o direito achado na rua. Outras teses focaram a
concretização dos princípios constitucionais sociais e humanos através de métodos
hermenêuticos extravagantes. Estas fundamentaram uma jurisdição ativa, interpretativa,
conhecida como “ativismo judicial”. As técnicas interpretativas, oriundas da
hermenêutica extravagante, superam o silogismo da linguagem por trás do texto da norma
ao aplicar princípios constitucionais indeterminados em busca de concretizar a justiça
social.
Há uma característica comum nos métodos interpretativos extravagantes ou
expansivos do neoconstitucionalismo, que é a liberdade hermenêutica do intérprete na
busca sistêmica dos valores morais no ordenamento. Este é o motivo desta reflexão
teórica. Por uma deficiência de consenso entre a norma política e a norma jurídica, a
liberdade hermenêutica brasileira ora promove a efetividade na justiça social e ora
promove um sentimento de insegurança jurídica. A insegurança jurídica ocorre, quando
a liberdade hermenêutica fundamenta decisões ativas casuisticamente, sem a devido
reconhecimento de legitimidade política para valorar fatos com fundamentos em
princípios indeterminados de direito.
2 – O neoconstitucionalismo
O movimento que se entende por neoconstitucionalismo é o constitucionalismo
contemporâneo estabelecido pós-guerra. Após a 2ª guerra mundial, o paradigma da carta
meramente política no Direito Constitucional e o paradigma do positivismo formal foram
amplamente debatidos pela doutrina jurídica. Ao longo da segunda metade do século XX,
a necessidade de uma força normativa da constituição ganhou força. O espaço jurídico da
Constituição e a sua influência nas instituições públicas foram repensados na ótica do
novo paradigma neoconstitucional. (BARROSO, 2005)
No Brasil, após a Constituição de 1988, a ideia de democracia constitucional foi
fortalecida nas instituições democráticas, tomando significância nova no mundo jurídico.
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ativismo socialmente benéfico passa ser aceito como ato legítimo. Um bom exemplo foi
a interpretação conforme da entidade familiar dada pelo STF. Ela possui expressiva
aceitação na doutrina jurídica brasileira e na sociedade. Porém, o ativismo judicial
fundamentado em valores morais de cunho pessoal ou apoiado em falácias jurídicas
produz insegurança jurídica social. Além disso, ele produz um sentimento de
constrangimento e impotência na sociedade, em face a imposição autoritária de um Poder
constitucional.
3 - Métodos hermenêuticos
Hermenêutica é a ciência de interpretar, ou dar sentido a um texto normativo. O
seu objeto de estudo é a linguagem do texto normativo, ou a materialização da mensagem
de comunicação entre o emissor e o receptor da norma. A sua essência é extrair sentido
de um texto. “Interpretar é explicar, esclarecer; dar o significado de vocábulo, atitude ou
gesto; reproduzir por outras palavras um pensamento exteriorizado; ... extrair de frase,
sentença ou norma, tudo o que na mesma se contém” (MAXIMILIANO, 2002, p. 7).
Na época medieval, a interpretação dos textos canônicos era restrita aos
eclesiásticos que possuíam permissão para estudar as escrituras sagradas. Neste período,
a aceitação da norma canônica era uma questão de dogma de fé. Não havia possibilidade
de questionamentos. Na época moderna, com advento do iluminismo, as técnicas
interpretativas da linguagem normativa foram sistematizadas por Savigny. Com base no
racionalismo jurídico científico, Savigny distinguiu os quatro métodos interpretativos
tidos como clássicos: gramatical, sistemático, histórico e teleológico.
O método gramatical é a interpretação com base no texto explícito e a conotação
literal da norma em questão. O método sistemático é a interpretação que considera a
coerência de todo o conjunto de dispositivos normativos em torno da norma interpretada.
O método histórico é a interpretação com base nas razões históricas que levaram o
legislador a cientificidade do Direito. “Savigny propõe, em lugar da codificação, a
elaboração científica do direito de base histórica” (CAMARGO, 2003, p.54). O método
teleológico é a interpretação com base na finalidade da norma que expressaria a vontade
do povo.
No período pós moderno, as técnicas clássicas de Savigny já não eram suficientes
para a compreensão das realidades sociais em função da subsunção da norma. As técnicas
clássicas restringiam força normativa da constituição, limitando a compreensão da
complexidade social e de suas normas valorativas. Em relação a interpretação
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4 - Considerações finais
É notório o avanço na concretização de justiça social que os novos métodos
hermenêuticos oriundos no neoconstitucionalismo consolidaram. Porém, a liberdade
interpretativa dos novos métodos hermenêuticos é ao mesmo tempo uma oportunidade
para efetividade da justiça e um risco para a segurança jurídica, provocado por um
excesso no ativismo judicial.
No caso brasileiro, encontram-se estes dois efeitos na utilização dos novos
métodos interpretativos: a efetividade de justiça e o ativismo judicial. Como todo
processo científico social, há uma dialética esperada entre os métodos hermenêuticos do
neoconstitucionalismo. Espera-se que com o amadurecimento dos novos métodos haja
uma convergência na efetividade de justiça e a segurança jurídica.
5 – Referências
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito: o
triunfo tardio do direito constitucional no Brasil. Bol. Fac. Direito U. Coimbra, v. 81, p.
233, 2005.
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