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1.º semestre
CASOS PRÁTICOS
DE
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Caso n.º 25
conformidade com a lei deste país contando que esta se considere competente. O
professor acrescenta que o artigo em questão se trata de uma manifestação do princípio
do favor negotii.
Ao remeter para a lei da residência habitual onde tenham sido celebrados os
negócios, tutela-se a confiança do contratante que advém da possibilidade de se ter
formado, no espírito da pessoa, a convicção de que o negócio seria válido visto que ela
terá observado as prescrições do país onde reside habitualmente.
Este artigo apresenta 3 requisitos para a sua aplicação que cabe analisar:
1- Negócio Jurídico celebrado em país da Residência Habitual do declarante: O
local de residência de A e B encontrava-se no Estado do Texas tendo sido nesse
local que celebraram o testamento de mão comum, encontrando-se este requisito
preenchido.
2- Negócio seja válido perante a lei da Residência Habitual: Perante a lei do Estado
do Texas o testamento de mão comum é um negócio válido, encontrando-se este
requisito também preenchido.
3- Que a lei da residência habitual se considere competente: Havendo neste ponto
que consultar as normas de conflito do país da residência habitual e ver se este
se considera competente. Considerando que os Estados Unidos da América se
apresentam como um ordenamento jurídico complexo, isto é, uma ordem
jurídica em que coexistem diferentes sistemas de Direito Privado, neste caso de
base territorial visto que comporta diferentes sistemas aplicáveis a diversas
circunscrições territoriais, encontramo-nos no âmbito de aplicação do art. 20º do
CC. Há agora que determinar, de entre os sistemas que vigoram no Ordenamento
Jurídico Complexo, o aplicável. Esta determinação é orientada por dois
princípios:
1- O de que pertence ao OJ complexo resolver os conflitos de leis
internos e, por isso, determinar qual o sistema interno aplicável
2- O de que se o ordenamento complexo não resolver o problema, deve
aplicar-se de entre os sistemas que vigoram no âmbito do
ordenamento complexo, o que tem uma conexão mais estreita com a
situação a regular
Não havendo direito interlocal nem DIPrivado Unificados a remissão operada pela
norma de conflitos aponta para um determinado lugar no espaço ou diretamente para
determinado sistema local, há que entender a remissão operada pela norma de conflitos como
uma remissão para o sistema local – in casu para a Lei do Estado do Texas que por sua vez se
considera competente. Assim, damos por preenchido o último requisito.
Preenchidos os requisitos do nº2 do art. 31º CC, o testamento de mão comum seria
válido.
Sub-hipótese 1
E se o testamento, celebrado no Texas, fosse inválido à luz da lei do Texas mas
válido à luz da lei do Chile, para a qual aquela remetia, sendo que a lei do Chile se
considerava competente?
“”
Neste caso o problema situar-se-ia, num primeiro plano, a respeito do
preenchimento do segundo requisito do art. 31º, nº2, isto é, a exigência de que o negócio
fosse válido perante a lei da residência habitual, sendo que nesta sub-hipótese de acordo
com a lei do Estado do Texas o testamento em mão comum não seria válido. Quanto ao
segundo requisito, o professor Dário Moura Vicente propõe uma interpretação extensiva
2020/2021
1.º semestre
referindo que aquilo que importará não será tanto a lei com a qual o negócio foi
celebrado, mas sim que o negócio seja eficaz no país de residência habitual.
Num segundo plano, encontraremos problemas também no preenchimento do
terceiro requisito do art. 31º, nº2, isto é, que a lei da residência habitual se considere
competente, sendo que, de acordo com a sub-hipótese em análise, seria a lei do Chile
competente por remissão da Lei texana.
A doutrina pronuncia-se relativamente a esta questão.
De acordo com o professor Ferrer Correia, deve admitir-se a aplicação do art. 31º,
nº2 aos casos não contemplados na letra do preceito salientando que deve ser
reconhecida a situação que se constitui segundo a lei de um terceiro país, caso o DIP do
Estado de Residência Habitual também aplique essa lei, isto é, defende que no caso de
reconhecimento de uma situação em conformidade com a lei de um país que não se
considere competente, mas eu é aplicada pelo direito de conflitos da residência habitual,
se deve aceitar a transmissão de competência.
Também o professor Lima Pinheiro admite a aplicação analógica do art. 31º, nº2, no
caso em que a situação se constitui no país de residência habitual segundo outro direito,
que se considera competente e que é o aplicável segundo o Direito de Conflitos da
residência habitual.
Sub-hipótese 2
E se o testamento, celebrado no Chile, fosse inválido à luz da lei do Texas mas
válido à luz da lei do Chile, para a qual aquela remetia, sendo que a lei do Chile se
considerava competente?
Caso n.º 26
Sub-hipótese 1
E se a empresa tivesse sede estatutária em Portugal e sede principal e efetiva da
administração na África do Sul?
Neste caso sabe atentar ao art.3º, nº1, 2ª parte que dita eu a sociedade que tenha
sede estatuária em Portugal não poderá opor a terceiros a sua sujeição a lei diferente da
lei portuguesa, por forma a tutelar a confiança daqueles que contratam com a sociedade.
Sendo a sede estatutária em Portugal e a principal e efectiva num outro cabe saber
se a norma em questão é bilateralizável, isto é, se se aplica nos casos em que a sede
estatuária se localiza num país e a efectiva num outro.
Quanto a este ponto a doutrina diverge:
De acordo com MOURA RAMOS e MARQUES DOS SANTOS, a norma em
apreço não é bilateralizável, sendo que o seu intuito não será o de alargar o âmbito de
aplicação no espaço do Direito Português.
Já de acordo com FERRER CORREIA, a norma em apreço é bilateralizável com
fundamento na tutela da confiança de terceiros. Também DÁRIO MOURA VICENTE e
LIMA PINHEIRO subscrevem a esta orientação, referindo que a teleologia da norma
não justifica um unilateralismo que apenas salve a lei portuguesa. Assim, apenas será de
aplicar a lei da sede da Administração se, tendo sido demonstrado que a sede de
administração se encontra fora do Estado da sede estatuária, os terceiros em causa
devem contar com a competência do Direito da sede de administração.
Sub-hipótese 2
E se a empresa tivesse sede estatutária no Brasil e sede principal e efetiva da
administração na África do Sul?