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2. O n.º 2 do artigo 1699.º CC proíbe, nos casamentos celebrados por quem tenha
filhos, a estipulação da comunhão geral ou da comunicabilidade dos bens referidos
no n.º 1 do artigo 1722.º CC. A norma visa assegurar a proteção dos filhos do
cônjuge, garantindo-lhes que o seu progenitor manterá no seu património os bens
levados para o casal ou adquiridos a título gratuito. B e C, que viviam em união de
facto, foram recentemente pais de um menino, D, e decidiram finalmente casar-se.
Partindo de uma interpretação metodologicamente correta, diga se poderão
escolher o regime da comunhão geral de bens.
Ainda que o caso se encontre abrangido pela letra da lei, nã o parece ser abrangido pelo
seu espírito. Qual é a razã o de ser do art.1699º/2 do CC? É proteger os filhos anteriores de
apenas um dos cô njuges, que a nã o existir esta proibiçã o viriam as sua legitimas
expectativas sucessó rias afetadas. Ao proibir nos casamentos celebrados por quem tenha
filhos a comunhã o geral dos bens, esta norma visa salvaguardar os interesses sucessó rios
dos filhos anteriores de apenas um dos cô njuges. E de que modo o faz? Garantindo-lhes
que o seu progenitor manterá no patrimó nio pró prio os bens levados para o casal, ou
adquiridos a títulos gratuitos ou ainda aqueles que estã o sub-rogados no seu lugar. Bens
esses que nã o se confundirã o no patrimó nio comum do casal, que está sujeito a divisã o por
metade com o cô njuge, que em caso de partilha levantaria a sua metade e ainda seria
herdeiro em concorrência com o filho.
Quando o filho é comum ao casal, a sua proteçã o em termos de patrimó nio encontra-se
plenamente acautelada, isto porque, enquanto folho comum do casal ele sempre receberá
na qualidade de herdeiro, as qualidades que lhe cabe, seja qual for o regime de bens.
Portanto, concluímos que a proibiçã o perde neste caso a sua razã o de ser, e lá onde
termina a razã o de ser da lei cessa/termina o seu alcance.
Parece que o legislador adotou um texto que atraiçoou o seu pensamento legislativo, na
media em que diz mais do que aquilo que deveria dizer. O interprete nã o se deve deixar
levar pelo alcance aparente do texto. Neste caso o interprete deve restringir o alcance do
texto de modo a corresponder com a raccio legis.
Assim, B e C podem optar por casar no regime de comunhã o geral de bens, porque na
medida em que se trata de um filho comum e nã o se fazendo sentir por isso a necessidade
de proteçã o que motivou o art. em estudo, parece que se pode optar por este regime.