Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Apostila
de
Hermenêutica Jurídica
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1. Hermenêutica: Aspecto Histórico.
1.1. Hermenêutica na Antiguidade Clássica.
1.2. Hermenêutica na Idade Média.
1.3. Hermenêutica na Idade Moderna.
1.4. Escolas de Interpretação.
2. Hermenêutica: Aspecto Técnico.
2.1. Funções da Interpretação.
2.2. Critérios da Interpretação.
2.3. Espécies de Interpretação.
2.4. Integração das Leis.
3. Hermenêutica: Aspecto Filosófico.
3.1. A Hermenêutica em Schleiermacher.
3.2. A Hermenêutica em Dilthey.
3.3. A Hermenêutica em Heidegger.
3.4. A Hermenêutica em Gadamer.
3.5. A Hermenêutica Pós-Positivista.
3.6. Hermenêutica Constitucional.
4. Ciência da Hermenêutica 0Jurídica, Teoria Geral da Hermenêutica e Sistema Jurídico.
4.1. Noções de Ordem Propedêutica, de Definibilidade, Terminológica e Objectual.
4.2. O Processo de Produção do Conhecimento Jurídico-Científico e a Hermenêutica
Jurídica.
5. Análise Teórico-Conceptual e Historiográfico-Descritiva da Hermenêutica Jurídica.
5.1. O Direito Romano.
5.2. Os Glosadores e Pós-Glosadores.
5.3. A Escola da Exegese.
5.4. A Escola Histórica.
5.5. A Escola da Livre Investigação Científica.
5.6. A Escola do Direito Livre.
5.7. Jurisprudência dos Conceitos Versus Jurisprudência dos Interesses Versus
Jurisprudência dos Valores.
6. Metodologia da Ciência da Hermenêutica Jurídica.
6.1. A Problemática da Indiscernibilidade Conceitual: Hermenêutica/ Interpretação/
Integração/ Aplicação do Fenômeno Jurídico.
6.2. Principiologia da Hermenêutica Jurídica.
6.3. Metodologia Dogmática da Hermenêutica Jurídica.
6.4. Metodologia Zetética da Hermenêutica Jurídica.
7. A Ciência da Hermenêutica Jurídica e o seu Estatuto Teórico Contemporâneo.
7.1. As Teorias da Retórica.
7.2. As Teorias da Tópica.
7.3. As Teorias da Lógica.
7.4. As Teorias da Argumentação.
7.5. As Perspectivas da Racionalidade Jurídica Contemporânea: O Exemplo da
Hermenêutica Constitucional.
8. A Hermenêutica e a Interpretação do Direito.
9. Modos de Integração do Direito.
9.1. Analogia.
9.2. Costumes.
9.3. Princípios Gerais de Direito.
Direito 4
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
9.4. Equidade.
10. Antinomias Jurídicas.
11. Hermenêutica e Aplicação do Direito.
12. Interpretação e Aplicabilidade das Normas Constitucionais e dos Tratados
Internacionais.
Direito 5
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Hermenêutica Jurídica
Introdução
Conceito:
A Hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar.
Assim, Hermenêutica Jurídica é a teoria científica da arte de interpretar as normas
jurídicas.
Por exemplo: no Brasil, não há uma lei específica que regulamente a adoção de criança por
um “casal” homossexual.
o Poder Judiciário (a Justiça) decidiu que a sociedade mudou desde que a CF/1988 e essas leis
foram criadas e que, mesmo não havendo uma lei específica sobre esses casos, é possível
aplicar a adoção aos casos que em os pais formam um casal homossexual.
Nesses casos, adotou-se uma interpretação das leis para adaptá-las a essa nova realidade que a
sociedade está vivendo.
Se o objetivo das leis, ao regular a adoção, é buscar a proteção da criança e a garantia de que a
nova família proporcione boas condições para o seu desenvolvimento (físico,
emocional/afetivo e cultural), esse deve ser o sentido que deve orientar o operador do Direito
(juiz/advogado/Ministério Público) na interpretação da lei.
Dessa forma, esse deve ser o fundamento da decisão judicial para aceitar ou negar o pedido de
adoção.
A interpretação jurídica deve levar em conta os objetivos preconizados pela lei, levando em
conta, também, a evolução da sociedade, o desenvolvimento cultural e as exigências e atuais
necessidades sociais.
Esses são os temas que estudaremos na nossa disciplina. Ou seja, o objetivo é aprender a
interpretar a lei para aplicá-la a casos concretos.
As leis quando são criadas não tem condição de prever a evolução do mundo e da sociedade.
Ou seja, a lei visa os casos gerais que são conhecidos quando da sua criação. Mas o mundo
evolui e é necessário conhecer a hermenêutica (ciência da interpretação) para que seja
possível aplicar as leis aos novos casos que vão surgindo com o tempo. Caso contrário, em
pouco tempo seria preciso alterar quase todas as leis.
Direito 6
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Tendo em vista que a sociedade muda com o tempo, o Direito tem que acompanhar essa
evolução. Então, o estudo da hermenêutica é fundamental para a aplicação do Direito.
Nosso curso vai abordar a teoria e as técnicas da interpretação voltadas para o Direito.
Unidade 1
1. Hermenêutica: Aspecto Histórico.
1.1. Hermenêutica na Antiguidade Clássica.
1.2. Hermenêutica na Idade Média.
1.3. Hermenêutica na Idade Moderna.
1.4. Escolas de Interpretação.
- De acordo com a mitologia grega, o deus Hermes, além de mensageiro, era o intérprete das
mensagens dos deuses dirigida aos homens.
- Observa-se, então, que a tarefa de interpretar as mensagens dos deuses era considerada uma
função muito importante. Tanto que cabia, segundo a mitologia, a uma divindade (ao deus
Hermes).
- Na Grécia antiga, havia os oráculos dos deuses, que eram locais onde os deuses transmitiam
mensagens às pessoas, por intermédio de sacerdotes/sacerdotisas.
No Direito Romano, na tarefa de interpretar leis e normas, surgiram grandes personalidades
do Direito. Em Roma, esses estudiosos do Direito eram conhecidos como Prudentes. Eram
juristas, profundos conhecedores do Direito, que interpretavam, analisavam e explicavam
cada parágrafo dos textos jurídicos, buscando o seu significado e os efeitos práticos nas vidas
das pessoas. Esse trabalho dos Prudentes1 era chamado de juris prudentia originária do
latim jus (direito) + prudentia (sabedoria).
No Direito Romano, o trabalho dos prudentes eram de extrema relevância para o direito e
para a sociedade da época e para a ciência do Direito2.
1
No Direito Romano houve importantes juristas. Os mais famosos são: Ulpiano, Papiniano, Modestino, Paulo
e Gaio. Seus trabalhos integram grande parte do Digesto (formado por 50 volumes). O Digesto é parte da
grande obra codificada do Direito Romano – Corpus Juris Civilis , proAs normas jurídicas são criadas para
o controle e organização das relações sociais.duzida por ordem do Imperador Justiniano e publicada em 533
d. C.
É atribuído a Ulpiano o célebre princípio de Direito: “Juris Praecepta Sunt haec: Honeste Vivere, Alterum
Non Laedere, Suum Cuique Tribuere”. Ou seja, são os preceitos do direito: viver honestamente, não ofender
ninguém, dar a cada um o que lhe pertence.
Segundo o Imperador Justiniano, quando a maioria dos juristas romanos estiverem em desacordo, deveriam
prevalecer os pontos de vista de Papiniano.
Gaio, além dos seus trabalhos jurídicos, criou um Manual didático de direito, chamado Institutas de Gaio.
2
O Direito Romano foi a base do direito de diversas nações, inclusive do Brasil. Nosso direito privado (Direito
Civil) tem por o Direito Romano (ex.: direito de família, sucessão, coisas, obrigações ….).
3
O racionalismo é uma teoria filosófica que dá a prioridade à razão, como faculdade de conhecimento
relativamente aos sentidos. Ou seja, todos os fenômenos existentes podem ser explicados pela razão. O
Direito 8
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
bastante. Destacam-se a contribuição dos seguintes autores: Gadamer (com a obra: Verdade e
Método), Heiddeger, Dilthey e Schleiermacher (criaram ama teoria normativa da
interpretação), Ferrara, Savigny, Ihering, Jhellinek, Kelsen e Carlos Maximiliano.
Carlos Maximiliano afirmava que a hermenêutica jurídica tem por objeto o estudo e a
sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das
expressões do direito.
Uma mesma disposição pode ser clara em sua aplicação aos casos mais imediatos e pode
ser duvidosa quando se aplica a outros casos não previstos.
Por exemplo: o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de uma criança por um
casal homossexual.
Com o tempo e a evolução da sociedade, podem surgir casos que não se enquadrem nas
normas.
Assim a hermenêutica jurídica fornece os métodos e princípios que devem ser adotados
para que o operador do Direito busque a solução que atenda aos interesses da sociedade.
racionalismo é a base da ciência.
Direito 9
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Não há como cultivar o Direito, isolando-o da vida. Principalmente em nossa época, visto
que a sociedade atual se caracteriza pela rápida mobilidade, determinada pelo progresso
científico e tecnológico, pelo crescimento econômico e industrial, pelas novas concepções
sociais e políticas e por modificações culturais.
A interpretação das normas jurídicas deve levar em conta os fins para os quais foram
criadas, os precedentes históricos que levaram a sociedade a exigir a sua criação, bem
como a harmonização com as novas necessidades que as mudanças da sociedade passem a
exigir.
Assim, quando o juiz não consegue descobrir uma norma jurídica para decidir determinado
caso, deve servir-se de outros meios para a solucioná-lo, uma vez que todo caso concreto
posto à apreciação do Judiciário não pode deixar de ser apreciado e resolvido.
Porém, a própria lei põe à disposição do aplicador do direito, os meios dos quais pode se
utilizar para o preenchimento da lacuna existente.
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
4
Originalmente, chamavase Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, mas a partir da Lei nº 12.376/2010,
passou a se chamar Lei de Introdução à normas do Direito Brasileiro.
Direito 10
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- Analogia:
é aplicar a um caso não previsto em lei uma disposição legal prevista para um
caso semelhante, ou ainda
- Costume:
é uma norma social que deriva da longa prática uniforme, geral, constante e
repetida de dado comportamento sob a convicção de que corresponde a uma
necessidade de determinada sociedade.
5
No mesmo sentido, se o cheque pré-datado for depositado pelo comerciante antes do prazo e acabar
devolvido por falta de fundos, isso não caracteriza crime.
Direito 11
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
“ninguém deve ser responsabilizado mais de uma vez pelo mesmo fato”;
“nas relações sociais se deve tutelar a boa-fé e reprimir a má-fé”; etc...
Miguel Reale destaca que toda a experiência jurídica, e a legislação que a integra,
tem por base os princípios gerais de direito. Portanto, os princípios gerais de
direito são considerados como o alicerce do ordenamento jurídico.
- Então, o juiz, quando se depara com uma lacuna legal (ou seja, verifica que
determinado caso concreto não está previsto na legislação), deve decidir com base na
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Concluindo,
- A função do Estado é promover o bem comum de toda a sociedade. A finalidade do Direito é
alcançar a paz social.
- Ao juiz compete aplicar o direito a casos concretos que lhe são apresentados, para realizar e
manter a paz e harmonia social.
- A aplicação do direito não se resume a um método simples. O juiz deve estar em sintonia
não somente com o direito, mas também com a evolução da sociedade. Deve, antes de tudo,
ter o julgador um profundo conhecimento da natureza humana.
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela
se dirige e às exigências do bem comum.
- Ou seja, deverá pesquisar quais são as finalidades sociais da lei e as exigências da sociedade
(o bem comum)6.
6
Por exemplo, o ECA tem a finalidade de proteger a criança e o adolescente, assim toda decisão que envolva
a aplicação do ECA não pode contrariar essa finalidade.
Direito 12
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- Acrescente-se que o juiz não pode se recusar a aplicar o direito sob a alegação de inexistir
norma jurídica cabível para o caso.
- Todos têm o direito de procurar o Poder Judiciário para defender seus interesses e o Estado
tem o dever de prestar a tutela jurisdicional adequada, seja ela favorável ou desfavorável ao
postulante (ou seja, dar uma sentença favorável ou desfavorável).
- Diante disso, ainda que não exista norma jurídica aplicável ao caso concreto, o juiz deve
servir-se de outros meios para manter a paz social, valendo-se, então, dos métodos de
integração da norma jurídica, tais como a analogia, o costume e os princípios gerais do
direito.
ANEXO 1
INTRODUÇÃO
religiosas e que pregava o Direito universal e a busca por uma justiça dentro dos ditames da
Igreja.
Já o jusnaturalismo moderno ou racional é aquele que busca através de uma razão
(justa) atingir ideais de moral e justiça respeitando a natureza racional do homem.[5]
Apresentam as seguintes características: Racionalista no método, subjetivista no
critério, anti-histórica nas exigências e humanitária no conteúdo e a grande virtude da escola
foi a de considerar a natureza humana como a grande fonte do direito.[6]
Esta última fase mais racionalista, vigente entre os séculos XVI e XVIII, teve como
principais pensadores Hugo Grócio, Hobbes, Spinoza, Puffendorf, Wolf, Rousseau e Kant.
Ressalta-se que para esta Escola não é necessário um sistema codificado de leis para
regrar as condutas da sociedade, pois a ideia central é a existência de uma lei natural baseada
em uma ordem pré-existente e de origem divina.
1.3.Escola Histórica
O conceito da Escola Histórica de Direito surge no século XIX e o seu maior
representante foi Friedrich Carl Savigny (1779-1861).
A revolução industrial transformou a sociedade e criou movimentos inovadores na
ciência jurídica para fazer frente à nova realidade e diante deste novo cenário surge a Escola
Histórica.
Segundo Norbert Horn esta Escola se caracteriza por afirmar que o Direito é parte da
cultura de uma sociedade e está submetida a uma evolução devendo corresponder às
necessidades que surjam, vejamos:
A Escola Histórica do Direito pode ser caracterizada com as seguintes palavras-
chave: O Direito é parte da cultura geral de um Estado e de uma sociedade. Como
essa cultura geral, ele se coloca numa continuidade histórica. Somente pode ser
entendido a partir de um desenvolvimento histórico. Ao mesmo tempo está
Direito 14
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
submetido a uma contínua evolução, e como esta também vale para a cultura geral.
A evolução contínua ocorre conforme as concepções válidas numa cultura, que se
desenvolvem continuamente, como condições vitais. O Direito deve corresponder a
necessidades que dalí surjam. Os juristas especialistas (ciência jurídica e tribunais)
têm o papel principal nessa cautelosa evolução contínua.[10]
Diante da lei, o intérprete deve observar não só o que o legislador 'quis', mas também
o que ele 'quereria', se vivesse no meio atual. Deve 'adaptar-se a velha lei aos tempos novos'.
E não abandoná-la. E, assim 'dar vida aos códigos'." [11]
Ainda, Miguel Reale faz uma explicativa comparação: "Há no fundo da concepção
histórica do Direito a ideia fundamental de que o Direito cresce e se desenvolve lentamente
como uma árvore, como atualização de forças internas de crescimento espontâneo".[12]
De forma resumida, podemos afirmar que para Savigny a lei nasce obedecendo
certos ditames e determinadas aspirações sociais mas não pode ficar engessada e restrita às
suas fontes originárias, devem se modificar conforme a sociedade. E o jurista deve descobrir a
mens legislatoris estudando as fontes de que emanam a lei.
1.4.Escola Teleológica
Esta escola teve como precursor Rudolph Von Ihering, que partiu do pressuposto que
o direito se forma sob a determinação de fins precisos e objetivos.
Nas palavras da professora Dra. Maria Helena Diniz:
Em sua obra, há uma crítica à jurisprudência conceitual, rechaçando o
abstracionismo dos conceitos jurídicos e o emprego do método dedutivo silogístico
na aplicação do direito, salientando o caráter finalístico das normas jurídicas. A
concepção do direito é prática, resulta da vida social e da luta contínua que é o meio
de realização do direito; sua finalidade é a paz. Tem uma concepção essencialmente
teleológica do mundo jurídico. Logo, para ele, a ciência jurídica deve interpretar
normas de acordo com os fins por elas visados. A letra da lei é importante, porém
não tem o condão de fundamentar interpretação contrária aos fins visados pela
norma. [13]
Para Ihering deve-se interpretar a norma levando em conta seus fins. A lei só atinge
sua destinação quando está a serviço de objetivos sociais e políticos. Ou seja, esta Escola
possui um caráter político, e o intérprete deve ajustar suas necessidades, desejos e interesses.
Ressalta-se que a norma não é um fim em si mesma, mas sim um meio a serviço de
uma finalidade, que é a existência da sociedade. Sendo que as leis de determinada época ou de
certo local devem ser interpretadas com o conhecimento efetivo das condições sociais de tal
povo e de tal época, afinal o real sentido da norma depende destas circunstâncias sociais
dentro das quais foi elaborada.[14]
Conclusão
A Escola Jusnaturalista encontra seu fundamento na divindade, sendo que o Direito é
um conjunto de ideias eternas, imutáveis e outorgados ao homem pela divindade. Os
pensadores desta Escola entendem que um sistema codificado de leis é desnecessário afinal a
ideia central é a existência de uma lei natural baseada em uma ordem pré-existente e de
origem divina.
Direito 17
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
UNIDADE 2
juristas.
Assim, tendo em vista que a Lei nº 6.024/1974, citada no art. 197, autoriza a
falência de instituições financeiras, enquanto essa lei não for alterada, a lei de
falências, na verdade, pode ser aplicada a instituições financeiras.
inter-relacionados.
Portanto, todo dispositivo legal não deve ser interpretado isoladamente, mas sim
levando em conta o conjunto de normas jurídicas (ou seja, o sistema jurídico).
Na prática, devemos tomar cuidado para não nos apegarmos a determinada disposição
de algum artigo de lei e acharmos que nada pode contrariar o que ali está
estabelecido.
É sempre conveniente ter em mente que, na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a
que ela se dirige e às exigências do bem comum (de acordo com o art. 5º da Lei de introdução
às normas do direito brasileiro – Decreto-Lei nº 4.657/1942).
Por exemplo: quanto à política de proteção ao consumidor a lei determina que “as cláusulas
contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor” (Lei 8.078/90, art.
47).
7
Em muitos aspectos, a interpretação teleológica se aproxima da interpretação lógica (que busca a descobrir a
razão da existência da lei).
Direito 24
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Como já visto,
Assim, quando o juiz não consegue descobrir uma norma jurídica para decidir determinado
caso, deve servir-se de outros meios para a solucioná-lo, uma vez que todo caso concreto
posto à apreciação do Judiciário não pode deixar de ser apreciado e resolvido.
Porém, a própria lei põe à disposição do aplicador do direito, os meios dos quais pode se
utilizar para o preenchimento da lacuna existente.
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
- Analogia:
é aplicar a um caso não previsto em lei uma disposição legal prevista para um
caso semelhante, ou ainda
consiste em aplicar a um caso não previsto de modo direto ou específico, uma
norma jurídica prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não
contemplado.
Direito 25
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- Costume:
é uma norma social que deriva da longa prática uniforme, geral, constante e
repetida de dado comportamento sob a convicção de que corresponde a uma
necessidade de determinada sociedade.
- Então, o juiz, quando se depara com uma lacuna legal (ou seja, verifica que
determinado caso concreto não está previsto na legislação), deve decidir com base na
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Anexo 2 -
Introdução
No campo jurídico, a Hermenêutica é usada para buscar a interpretação fidedigna que permita
adequar a norma aos fatos concretos. Com isso, é possível proporcionar uma responsável
aplicação do Direito. Em suma, a Hermenêutica Jurídica, latu sensu, divide-se em
interpretação, integração e aplicação do Direito.
Wilhelm Christian Ludwig Dilthey (1833, 1911) foi um filósofo hermenêutico, psicólogo,
historiador, sociólogo e pedagogo alemão. Seus principais conceitos procuram fundamentar as
"ciências do espírito" (ciências humanas) como forma de conhecimento, em oposição às
"ciências da natureza".
Dilthey adota como ponto de partida o método de Schleiermacher. Mas tem como objetivo
reconhecimento científico da história (historicismo). Com isso, abre o plano da compreensão
para o contexto sócio temporal (cultura). Ou seja, entende que é necessário conhecer o
contexto histórico e cultural para uma correta interpretação, uma vez que entende que todas as
experiências humanas se dão no meio de uma comunidade.
Assim o mundo dado seria distante do homem e o mundo construído seria próximo a ele
(porque tem contato direto.
O objetivo das ciências do espírito é compreender o desenvolvimento histórico da consciência
humana.
Portanto, em sua concepção de hermenêutica deve-se analisar o contexto histórico em a
linguagem foi produzida e qual a sua finalidade - no caso da hermenêutica jurídica, deveria
ser analisado o contexto histórico em que a norma jurídica foi produzida e qual a finalidade
pretendida pelo legislador. Ou seja, em qual contexto histórico ela surgiu e qual a finalidade
pretendida.
Martin Heidegger (1889, 1976) foi um filósofo alemão reconhecido como um dos mais
originais e importantes do século XX. É mais conhecido por suas contribuições para a
fenomenologia, existencialismo e hermenêutica filosófica.
Discordou de Scheleiermache e Dilthey, uma vez que, para ele, o objetivo da hermenêutica é a
própria compreensão.
Entendia que o ato de compreensão faz parte da essência do ser humano.
Hans-Georg Gadamer (1900, 2002) foi um filósofo alemão considerado como um dos maiores
8
Ontologia é o ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da própria realidade. A palavra
ontologia é formada do grego pontos (ser) e loggia (estudos), e engloba as questões gerais relacionadas ao
significado do ser e da existência. Este termo foi popularizado graças ao filósofo alemão Christian Wolff, que
definiu a ontologia como filosofia prima (filosofia primeira) ou ciência do ser enquanto ser.
No século XIX, a ontologia foi transformada por neoescolásticos na primeira ciência racional que abordava
os gêneros supremos do ser. A corrente filosófica conhecida como idealismo alemão, de Hegel, partiu da
ideia de autoconsciência para recuperar a ontologia como "lógica do ser".
No século XX, a ligação entre ontologia e metafísica geral deu lugar a novos conceitos, como o de Husserl,
que vê a ontologia como ciência formal e material das essências. Para Heidegger, a ontologia fundamental é
o primeiro passo para a metafísica da existência.
Direito 29
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Entende que a atividade própria da compreensão não é apenas teórica, mas teórico-prática.
Para um melhor entendimento acerca da fusão entre interpretação e compreensão, para que se
possa melhor entender o que Gadamer e os demais teóricos da hermenêutica filosófica
queriam demonstrar com o círculo hermenêutico: O processo de compreensão, envolto em um
diálogo constante de ida e volta entre análises e sínteses voltadas a compreender o todo e as
partes. Não se pode evitar o fato de que uma pessoa sempre tem consigo concepções e possui
um entendimento sobre o todo e sobre as partes. No entanto, o ser necessita refletir sobre seus
pré-conceitos enquanto analisa o objeto a ser investigado. Compreender algo novo é uma
dialética contínua que muda de direção constantemente entre o mais local dos detalhes locais
e a mais global da estrutura global de modo a induzir que ambos sejam entendidos
simultaneamente. Graficamente, o círculo hermenêutico, está demonstrado abaixo:
Direito 30
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
5.1) Positivismo Jurídico ou juspositivismo (do latim jus: direito; positus (particípio passado
do verbo ponere): colocar, por, botar; tivus: que designa uma relação ativa ou passiva) é uma
corrente da filosofia do direito que procura reduzir o Direito apenas àquilo que está posto,
colocado, dado, positivado e utilizar um método científico (empírico) para estudá-lo.
Ao definir o direito, o positivismo identifica, portanto, o conceito de direito com o direito
efetivamente posto pelas autoridades que possuem o poder político de impor as normas
jurídicas.
O positivista entende que o juiz ao aplicar o direito deve seguir rigorosamente a lei.
Caso o juiz, ao julgar, adote convicções pessoais, poderia comprometer a segurança jurídica,
uma vez que juízes, com posições diferentes, poderiam decidir de forma distinta casos
similares.
Dessa forma, o jus positivismo entende que ao judiciário não seria atribuída legitimidade
democrática para criar um novo direito, ainda que “melhor” e mais conexo à realidade social.
Direito 31
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
5.2) Pós-positivismo:
Em contrapondo à posição dos juspositivistas, que foi dominante no século XX, surgiu uma
nova maneira de se conceber a ciência jurídica, vale dizer, a pós-positivista.
A teria pós-positivista entende que a atividade jurídica não deva restringir-se à lei e aplicação
de leis, havendo de se almejar uma razão prática, imbuída de incessante busca da decisão
justa.
Entende que há outros instrumentos jurídicos, além da lei, tais como: proporcionalidade,
ponderação de valores e razoabilidade, fazendo-se prevalecer a efetiva operabilidade de um
sistema garanta efetivamente a Justiça.
As teorias pós-positivistas argumentam que a regra não deva ser considerada como
inquestionável e superior aos valores que a inspiram. Essas teorias chamam a atenção do
aplicador do direito para os fundamentos do direito, ou seja, que as regras devam ser
interpretadas à luz do alicerce de todo e qualquer ordenamento, os princípios
sofisticada versão Norm ativista de Hans Kelsen e Herbert Hart, rejeitava esta
racionalidade, desprezando a possibilidade de argumentação sobre os valores e a justiça.
Dessa forma, o aplicador do direito deve analisar o caso concreto à luz dos princípios e da
abertura axiológica que este lhe concede. Sua atividade não deve restringir-se a simples
subsunção do fato a norma, mas sim, corroborada de todas as nuanças que o fato envolve,
refletindo-o humanística, técnica e socialmente, com vistas à prolação judicial justa. Não há
uma ciência jurídica autônoma, tendo em vista que o direito, além do método tradicional, deve
empregar métodos atinentes às ciências sociais.
O aplicador do direito deve adequar as normas aos fatos sociais, de maneira a compatibilizar o
processo penal com o Estado Democrático de Direito exterminando de uma vez por todas a
excessiva formalidade.
O juiz desempenha em nosso tempo, um papel de extrema relevância no que tange a análise
de justos critérios de aplicação do direito. À luz da Constituição e dos princípios
fundamentais, tem ele uma maior liberdade para desvendar os mistérios do processo a partir
de uma efetiva interferência de demais ciências sociais. Este paradigma visa o resgate
da esquecida natureza humana do juiz, reconhecendo-se sua imperfeição. A função do
juiz no processo é humana, desenvolvida na reconstrução do fato, na produção da prova, na
argumentação e na interpretação do direito.
Dessa forma, o juiz do mundo atual deva incidir sua atividade na permanente afirmação dos
direitos fundamentais abarcados na Constituição da República Federativa de 1988. O
magistrado encarna um importante papel, assumindo uma postura de procura da verdade,
mediante um procedimento equânime, de igualdade de armas, onde deva prevalecer a ampla
defesa e o contraditório, para que, ao final do mesmo, tenhamos uma sentença justa.
O juiz deve sempre, efetivar sua atividade jurisdicional com imparcialidade, no sentido de dar
às partes as mesmas oportunidades no desentranhar do procedimento, em respeito ao
devido processo legal, ampla defesa e contraditório, para a aplicação da dos direitos
fundamentais guarnecidos pela Constituição da República de 1988, pois é ela quem
fundamenta todo o ordenamento jurídico.
De acordo com Carlos Maximiliano:
A hermenêutica descobre e fixa os princípios que regem a interpretação, podendo
ser designada como “[...] a teoria científica da arte de interpretar” .
Então, o objeto da Hermenêutica seria interpretar (fala, escritos, leis – ou ainda
toda comunicação transmitida por qualquer meio).
Podemos concluir, consequentemente, que a Hermenêutica Jurídica é o ramo da Teoria da
Geral do Direito, destinado ao estudo e ao desenvolvimento dos métodos e princípios da
atividade de interpretação.
A finalidade da Hermenêutica Jurídica é:
proporcionar bases racionais e seguras para a interpretação dos enunciados
normativos.
Com isso, a partir da Hermenêutica Jurídica, criase a possibilidade de que o Direito,
seja um Sistema Lógico Jurídico InterpretativoArgumentativo.
9
Propedêutica: conjunto de ensinamentos introdutórios ou básicos de uma disciplina; ciência preliminar,
introdução.
Definibilidade: qualidade do que é definível.
Definibilidade terminológica: definição dos termos empregados na disciplina.
Definibilidade objectual: definição do objeto da disciplina.
Direito 35
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Portanto, possibilita que a Ciência do Direito tenha um sentido lógico ao qual podem
ser atribuídos valores. Ou seja, a Hermenêutica Jurídica proporciona a atribuição de
um significado aos textos jurídicos.
Por exemplo, a quais valores o texto legal procura dar proteção: à vida, à liberdade, à
família, à criança e ao adolescente, ao meio ambiente, às minorias, ao trabalho, ao
consumidor, aos credores do falido, ao devido processo legal, etc...?
Tendo em vista que o Direito é um sistema lógico jurídico interpretativoargumentativo, é
importante conhecer, além da interpretação, o que é argumentação e o que é lógica.
Argumentação é o conjunto de ideias e fatos que constituem os argumentos que levam ao
convencimento ou conclusão de (algo ou alguém).
Argumento é aquilo que constitui um assunto.
Argumento também pode ser:
o recurso para convencer alguém, para alterarlhe a opinião
ou o comportamento; ou
a prova que serve para afirmar ou negar um fato.
Além disso, argumento também é um dos elementos de uma oração em um
texto.
O Sujeito, o Objeto Direto e o Objeto indireto são argumentos de uma
oração – cada um tem a sua função sintática.
Os outros elementos da oração são: o predicado (verbais, nominais, verbo
nominal) e os adjuntos adverbiais.
Ou seja, para saber interpretar (o discurso ou a escrita) é necessário conhecer o que é
argumentação e argumento.
Da mesma forma, para defender uma posição, seja verbalmente em um debate, em forma de
texto escrito em um processo ou em uma tese (acadêmica, técnica ou jurídica), é fundamental
conhecer o que é argumentação e argumento.
Direito 36
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
A Lógica é parte da Filosofia que trata das formas do pensamento em geral.
A Lógica examina as forma que a argumentação pode tomar e procura identificar o que é
válido e o que não é válido na argumentação.
Ou seja, pela lógica é possível analisar o que é verdadeiro na argumentação e o que é falso.
Isso é fundamental, seja para interpretar (fala ou escrita) ou para defender uma posição em
um debate/tribunal/tese.
O primeiro trabalho relevante sobre a lógica foi sistematizado por Aristóteles. Aristóteles fez
o primeiro estudo formal do raciocínio.
A lógica utiliza métodos para analisar o pensamento e argumentação (tais como dedução10,
10
O termo dedução se refere à demonstração lógica de uma determinada afirmação a partir de suposições já
estabelecidas. O procedimento dedutivo parte de uma afirmação geral para chegar a uma afirmação
particular. É de grande importância no desenvolvimento da ciência, uma vez que constitui um dos
fundamentos do método científico.
O filósofo grego Aristóteles foi o primeiro em abordar a dedução como método.
Direito 37
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
indução11, hipótese12, inferência13, falácia14, sofisma15 etc.).
A Lógica Jurídica é ligada à ideia que fazemos do Direito, e se adapta a ela.
Por essa razão, uma reflexão sobre a evolução do Direito depende do exame das
técnicas de raciocínio (Lógica Jurídica).
O Direito depende tanto da interpretação quanto da argumentação. Ou seja, o operador do
Direito precisa saber interpretar (fala e escrita) e argumentar para poder justificar a posição
que defende.
11
Indução ou raciocínio indutivo é a demonstração lógica de determinada afirmação a partir da observação e
casos particulares que podem ser generalizados até a criação de uma regra geral. Assim, na indução, a partir
de casos particulares se observa certa regularidade e essa lógica permite extrair uma conclusão geral. Em
outras palavras, observamse fatos concretos de maneira detalhada e, posteriormente, propõese uma lei que
explica a regularidade desses acontecimentos. O método indutivo é um método científico, desenvolvido a
parit das contribuição do filósofo Francis Bacon (século XVII).
12
A hipótese significa uma suposição no que se diz respeito ao comportamento de algum evento, fato ou
objeto.
O método científico consiste justamente na elaboração de uma hipótese que deve ser comprovada por uma
pesquisa (através de uma experimentação). Uma hipótese aceita dentro do campo científico é aquela que foi
formulada, testada pela experimentação e estas condições podem ser reproduzidas por outras pessoas.
13
Inferência é a operação intelectual por meio da qual a verdade de uma proposição pode ser afirmada em
decorrência de sua ligação com outras já reconhecidas como verdadeiras. Inferência também é operação que
consiste em efetuar generalizações tomando por base amostras estatísticas.
14
Falácia (do verbo latino fallere, que significa enganar) é um raciocínio errado com aparência de verdadeiro.
De acordo com a lógica e a retórica, uma falácia é um argumento logicamente incoerente, sem fundamento,
inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega.
Muitas vezes, argumentos falsos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande
parte do público, porque contém falácias.
Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional,
íntima, psicológica, mas não validade lógica. É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas
lógicas e para analisar a argumentação de terceiros.
Há diversas categorias de falácias, por exemplo: ambiguidade, preconceito, inversão de causa e efeito,
omissão de determinada causa (ou fato) ou supervalorizar determinada causa omitindo outras mais
importantes (omissão de causas complexas), distorção de fatos (omissão de dados), etc...
15
Sofisma é argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da verdade, que,
embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta, na realidade, uma estrutura interna
inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa.
Ou seja, é qualquer argumentação capciosa, concebida com a intenção de induzir em erro, o que supõe
máfé por parte daquele que a apresenta
Direito 38
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
A Hermenêutica tem por finalidade o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis
para determinar o sentido e o alcance das expressões do direito.
Ou seja, hermenêutica é a ciência que forma as regras e métodos para interpretação das
normas, permitindo que se conheça o seu sentido e alcance.
A sociedade está em constante evolução e, em razão disso, a cada dia, há necessidade de
regular novas relações jurídicas.
Dessa forma, a evolução da ciência do direito é necessária, pois o Direito não pode ficar
estático enquanto a sociedade evolui.
Nesse sentido, a Hermenêutica Jurídica é utilizada para permitir aos profissionais do Direito
alcançar, em qualquer tempo, o real sentido da norma jurídica.
Da mesma forma que a sociedade muda com o tempo, a interpretação da lei também
se altera com o tempo. Por exemplo: O Código Civil de 1916 (Lei nº 3.071/1916)
previa que o casamento poderia ser anulado, a requerimento do marido se esse
ignorasse que a sua noiva não fosse virgem (art. 220).
No final do século passado, mesmo antes da sua revogação pela Lei nº 10.406/2002 (o
atual Código Civil), o Poder Judiciário passou a considerar o artigo inaplicável nesses
casos, em razão da evolução da sociedade e que o motivo não justificaria a anulação
do matrimônio.
Direito 39
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
A constante busca pelo conhecimento e no intuito de aclarálo no âmbito da ciência jurídica,
de acordo com Miguel Reale, torna “insustentável o propósito de uma teoria da interpretação
cega para o mundo dos valores e dos fins e, mais ainda, alheia ou indiferente à problemática
filosófica”.
O Direito deve acompanhar as transformações sociais e perceber os anseios da sociedade
atual.
Além disso, nosso próprio ordenamento jurídico reconhece a necessidade da observância dos
clamores sociais, como estabelece o artigo 5º da Lei de Introdução à Normas do Direito
Brasileiro "Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.
Para a produção do processo de conhecimento jurídicocientífico é necessário conhecer e
utilizar:
Os métodos científicos; e
Os métodos Hermenêuticos.
Ou seja, a produção do conhecimento jurídicocientífico pressupõe a necessária conjugação
da Metodologia Científica com a Hermenêutica Jurídica.
ANEXO
Ciência e Metodologia
Sabemos que há diversos tipos de conhecimento: empírico, científico, o filosófico. Quais são
suas diferenças fundamentais?
Exemplo: Um pecuarista sem estudos sabe como lidar com o gado, porque
aprendeu observando seus pais. Aprendeu com os resultados anteriores.
O conhecimento filosófico nasce a partir das reflexões que o ser humano faz sobre
questões subjetivas.
Em razão disso,
- O espírito científico é caracterizado pela postura do pesquisador que deve ser livre de tudo
que seja subjetividade, de preconceitos, de posição preconcebida.
Não há fato ou posição social que não esteja sujeita a exame ou investigação
científica.
o Por isso, o trabalho científico tem que ser documentado (os dados devem ser
guardados, arquivados ou, se pertencerem a terceiros, corretamente
referenciados – por exemplo, pelas normas da ABNT.
Mas o conhecimento científico, com o tempo, pode ser superado por novas teorias ou
descobertas (fica ultrapassado).
o Portanto, toda ciência evolui com a sociedade (da mesma forma, a Ciência
Jurídica).
1) PROBLEMATIZAÇÃO
2) FORMULAÇÃO DE HIPÓTESE(s)
3) EXPERIMENTAÇÃO
Os resultados da pesquisa (ou seja, suas conclusões) vão gerar conhecimento, leis, teorias
- Métodos Científicos
Ex: partindo do conhecimento das leis da física passa-se a estudar determinado fenômeno
particular;
B·Método Indutivo:
Neste caso, o raciocínio vai de um caso particular para a generalização (para o todo, o
conjunto, geral).
É aquele cuja aproximação dos fenômenos caminha geralmente para planos cada vez mais
abrangentes (conexão ascendente).
C. Método Hipotético-Dedutivo:
Assim, por exemplo, se é verdade que a água muda de estado conforme a temperatura que se
encontra, deve-se deduzir que outros materiais podem sofrer o mesmo processo. Basicamente,
o método hipotético dedutivo consiste em dar uma explicação global de como ocorrem os
fenômenos e a deduzir seus efeitos.
Ou seja, partindo-se da percepção de que existe uma lacuna nos conhecimentos formula-se
uma hipótese. Então, pelo processo de dedução é feito um teste que verifica essa hipótese,
para então confirmá-la.
Ex.: A pesquisa sobre uma doença desconhecida, na qual se parte de uma hipótese que vai ser
testada à luz do conhecimento científico existente.
D· Método Dialético:
É o método que estuda os fenômenos através da sua ação recíproca. Ou seja, estuda fatos que
alteram a natureza (e a sociedade) que reage à mudança provocando outras mudanças.
Envolvem processos dinâmicos (como a política e a economia, por exemplo).
Ex: a economia é dinâmica, ela afeta a sociedade que reage e altera a situação anterior
gerando uma nova, que por sua vez provoca nova reação da sociedade, gerando fatos novos
que modificam aquela situação original - é próprio dos processos dinâmicos como os
econômicos e sociais.
Direito 44
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Exemplo concreto: aumento de salário que provoca aumento de preços e que vai provocar
novo aumento de salário... (processo inflacionário).
- Pesquisa Científica:
- Tipos de Pesquisa:
C· Experimental: são as que utilizam de experimentos para verificação de hipóteses, como por
exemplo as empíricas, com trabalho de campo ou de laboratório.
A) MONOGRAFIA
B - INFORME
C - ARTIGO CIENTÍFICO
F - ENSAIO
Trata-se de uma exposição metódica dos estudos realizados e das conclusões originais após
exame detalhado do assunto.
Direito 46
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Nos treze séculos da história romana, do século VIII a.C. ao século VI d.C., assistimos,
naturalmente, a uma mudança contínua no caráter do direito, de acordo com a evolução da
civilização romana16, com as alterações políticas, econômicas e sociais, que a caracterizavam.
No início havia reis. Do século Séc. VIII a.C. até 510 a.C., houve sete reis (período da
realeza).
De 510 a. C. até 27 a.C, Roma se transformou em uma república (período da
república). Havia o Senado e a direção política era conduzida por dois Cônsules que
tinham atribuições administrativas, judiciárias e militares.
Os dois cônsules eleitos tinham poderes iguais, obedecendo a um revezamento (um
deles assumia em tempo de paz e o outro em tempo de guerra), tomando sempre as
decisões em conjunto e cada um tinha poder de veto sobre o outro.
De 27 a. C. até o século VI d. C, Roma foi um império. Nesse período houve diversos
imperadores.
O primeiro imperador foi Otávio César Augusto, que era sobrinho-neto de Júlio
César17.
16
A sociedade romana era dividida entre:
• Patrícios eram constituídos por uma aristocracia latifundiária, formada pelos descendentes diretos
dos fundadores de Roma.
• Plebeus eram os que não pertenciam às famílias patrícias.
Os plebeus foram chegando a Roma após a sua fundação. Eram pobres e quase não tinham
direitos.
• Escravos eram compostos por:
povos vencidos nas batalhas; e
pessoas que acabavam nessa condição porque não conseguiam pagar suas dívidas.
Os escravos tinham qualquer direito, eram tratados como objetos (como coisa, res),
podiam ser comprados e vendidos. Sofriam toda a sorte de abusos.
17
Júlio Cesar era um Cônsul Romano que foi transformado em Ditador pelo Senado romano. Em Roma, o
cargo de Ditador era temporário. Só havia ditadores em situações especiais. O ditador era geralmente
nomeado em circunstâncias de perigo extraordinário, seja por inimigos estrangeiros ou revoltas internas.
Júlio César foi nomeado ditador romano em 46 a.C., em razão de uma guerra civil contra Pompeu. Em 44
Direito 47
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Foi no período do imperador Diocleciano (284 a 305 d. C) que o império romano foi
dividido em dois: Império Romano do Ocidente (com sede em Roma) e Império
Romano do Oriente (com sede em Bizâncio, que foi depois chamada de
Constantinopla e hoje é a cidade de Istambul – na Turquia)18.
Em 476 d.C. ocorreu a queda do Império Romano do Ocidente, após a invasão de
Roma pelos povos germânicos (bárbaros).
O último imperador desse período foi Justiniano (de 527 a 565 d.C.). É de sua autoria,
a obra legislativa conhecida como Corpus Juris Civilis (Corpo do Direito Civil), a
mais importante obra de codificação do Direito Romano.
Contudo, o Império Romano do Oriente ou Império Bizantino, perdurou até 1453,
quando foi tomado pelos turcos. O nome da cidade mudou de Constantinopla para
Istambul.
- Inicialmente, em Roma, a interpretação das regras do direito antigo era tarefa importante
para a prática cotidiana da cidade e da vida das pessoas (pois as leis eram muito rígidas e até
mesmo crueis – por exemplo, quem não pagava suas dívidas poderia se tornar escravo do seu
credor). Originariamente, somente os sacerdotes conheciam as normas jurídicas. A eles
incumbia o poder de interpretá-las.
a.C., Júlio César foi nomeado ditador perpétuo (dictator perpetuus). Júlio César foi assassinado em março do
mesmo ano. Portanto, Júlio César nunca foi imperador.
Após a sua morte, seu herdeiro Otávio César Augusto foi alçado ao poder e transformou-se no primeiro
imperador de Roma.
18
A partir de 284 d. C, o Império Romano foi dividido, como forma de melhor administrar o poder em
Império Romano do Ocidente, tendo como capital Roma, e Império Romano do Oriente, com Bizâncio
(posteriormente, Constantinopla) como capital.
19
. Justiniano publicou efetivamente um grande número de novas leis (Novellae Constitutiones). Essa coleção
de novas leis editadas por Justiniano ficou conhecida como Novelas (Novellae).
Direito 48
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- A partir do fim do século IV a.C., esse tarefa deixou de ser monopólio dos sacerdotes,
podendo também ser feita por pessoas de notório saber jurídico (juristas ou
jurisconsultos).
Essas pessoas pertenciam a uma aristocracia intelectual, distinção essa devida aos seus dotes
de inteligência e aos seus conhecimentos técnicos e jurídicos.
- Foi o imperador Augusto que, procurando utilizar o talento desses juristas, instituiu um
privilégio a determinadas pessoas de dar pareceres em seu nome.
Ou seja, essas pessoas poderiam dar um parecer em nome do príncipe.
Esse privilégio ficou conhecido como direito de resposta (ou jus respondendi ex auctoritate
principis = direito de resposta proveniente da autoridade do Príncipe).
- Esse destacado trabalho dos jurisconsultos romanos (juristas) constitui importante tarefa
hermenêutica, visto que consistia na adaptação das regras jurídicas aos casos práticos da vida
dos cidadãos romanos que, cada vez mais, devido às novas exigências, em razão do
crescimento e sofisticação do império, comportava, também, a criação de novas normas.
- Esse trabalho dos juristas foi compilado pelo imperador Justiniano e constitui o Digesto
(com 50 livros) e é parte importante do Corpus Juris Civiles.
Direito 49
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Introdução
- Foi a partir da Universidade de Bolonha que se iniciou o estudo teórico da ciência jurídica.
No contexto do movimento cultural chamado renascimento (valorização da cultura clássica
grega e romana), renasceu o interesse pelo estudo do Direito Romano.
- Dessa forma, a partir do estudo do Corpus Juris Civiles, a influência do Direito Romano
chegou a maioria dos países europeus.
- Assim, a ciência do direito baseada no estudo dos textos romanos, mais especialmente os da
compilação realizada pelo Imperador Justiniano (Corpus Juris Civil és), surgiu como
importante instrumento de uniformização de conceitos e instituições de direito.
- Esse direito erudito apresentava diversas vantagens em comparação aos direitos locais
adotados na sociedade medieval20:
a) era escrito;
- O grau de romanização (influência do Direito Romano) variou de país para país. Foi maior
na Itália, Península Ibérica (Portugal e Espanha) e Alemanha. Foi menor na França, pequeno
nos países escandinavos (Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia) e bálticos (região
nordeste da Europa, onde estão localizados atualmente a Estônia, Letônia e Lituânia). Foi
quase nulo na Inglaterra, onde se desenvolveu a Common law21.
b) reconhecimento da lei abstrata e geral como norteadora das decisões em cada caso
concreto;
d) raciocínio jurídico dedutivo em que a lei (fonte preponderante do direito) e a doutrina (que
permite desenvolver o próprio raciocínio) são os instrumentos para a resolução dos litígios.
- Com a adoção do direito romano na era Moderna22, surgiu também uma classe de
profissionais do direito, fruto do processo de racionalização das técnicas jurídicas que libertou
21
Common law (do inglês "direito comum") é o direito que se desenvolveu em certos países por meio das
decisões dos tribunais, e não mediante atos legislativos ou executivos. Constitui portanto um sistema de
direito, diferente do romano-germânico, que enfatiza os atos legislativos (leis).
Nos sistemas de common law, o direito é criado ou aperfeiçoado pelos juízes: uma decisão a ser tomada num
caso depende das decisões adotadas para casos anteriores (precedente) e afeta o direito a ser aplicado a casos
futuros. Nesse sistema, quando não existe um precedente, os juízes possuem a autoridade para criar o direito,
estabelecendo um precedente.
O conjunto de precedentes é chamado de common law e vincula todas as decisões futuras. Os sistemas
de common law foram adotados por diversos países do mundo, especialmente aqueles que herdaram da
Inglaterra o seu sistema jurídico, como o Reino Unido, a maior parte dos Estados Unidos e do Canadá e as
ex-colônias do Império Britânico.
22
São marcos do início da Idade Moderna a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453 e com início
das grandes navegações que levaram ao descobrimento da América e a colonização do novo continente.
Direito 51
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
o direito da religião.
Essa escola representa uma corrente de pensamento jurídico que se propunha a interpretar e
comentar o Corpus Juris Civilis, oferecendo, assim, esclarecimentos do seu sentido, com
vistas a atingir sua compreensão e posterior aplicação.
O nome de glosadores provém do método de ensino utilizado. O professor, após a leitura dos
textos de Direito Romano, interpretava-os por meio de uma frase que era chamada glosa.
Muitas vezes, o professor fazia também um resumo, chamado summa.
- O método dos glosadores era a explicação breve de uma passagem obscura ou problemática
do Corpus Iuris Civilis.
- Esse método era conhecido como GLOSA. Daí provém o termo Escola dos Glosadores.
O texto era analisado literalmente, pelo sentido das palavras, uma após a outra. Logo após, o
professor escrevia seus comentários entre as linhas do texto original do Direito Romano
(glosa interlinear) ou nas suas margens (glosa marginal).
B – O Pós- Glosadores
- Os comentadores conciliam direitos locais entre si, com base no direito romano erudito e
Direito 52
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
acadêmico.
- Eles tornaram possível a transição do direito baseado na tradição feudal (da idade média)
para as novas tendências da vida europeia (idade moderna): o comércio, a monetarização da
vida (com o uso do dinheiro) e o direito das obrigações (por meio de contratos).
5.3. A Escola da Exegese.
5.4. A Escola Histórica.
5.5. A Escola da Livre Investigação Científica.
5.6. A Escola do Direito Livre.
A Escola da Exegese
Surgiu no século XIX, tendo como principais defensores: Proudhon, Melville,
Blondeau, Bugnet, Delvincourt, Huc, Aubry e Rau, Laurent, Marcadé, Demolombe,
Troplong, Pothier, entre outros.
Para a Escola da Exegese o papel do jurista era aterse ao texto da lei e revelar seu
sentido.
Pode-se dizer que esta Escola admite o julgamento contra a lei se o magistrado
entender que vislumbrando o caso concreto o legislador também agiria de outra forma.
Além disso, defende que o Direito é lacunoso desde sua criação e para suprir este
problema o juiz deve decidir com liberdade.
Jurisprudência de conceitos
É decorrente do positivismo jurídico.
É considerada uma subcorrente do positivismo.
Defende que a norma escrita deve refletir conceitos, quando de sua interpretação.
Características principais:
o formalismo, com a busca do direito na lei escrita;
a sistematização; e
a busca de justificação da norma específica com base na mais geral (ou
seja, o direito deveria ter base no processo legislativo, mas deveria ser
justificado por uma ideia mais abrangente ligada a um sentido social).
de descumprimento é estabelecida uma sanção.
o Ex: art. 121 do Código Penal Matar alguém. Pena reclusão, de seis a vinte
anos.
Ou seja, é uma regra que estabelece o direito que as pessoas têm de não serem
mortas (direito de permanecer vivo) e o dever de não matar. Em caso de
descumprimento, há a sanção que é a pena de reclusão de 6 a 20 anos.
o todos são iguais perante a lei (caput do art. 5º princípio da igualdade);
o ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei (art. 5º, II, princípio da legalidade);
o é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer (art. 5º, XIII, princípio do livre
exercício profissional);
o é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,
quando necessário ao exercício profissional (art. 5º, XIV, princípio da
liberdade de informação);
o ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente
(art. 5º III, princípio do juiz natural);
o ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal (art. 5º, LIV, princípio do devido processo legal);
o aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes (art. 5º, LV, princípio da ampla defesa e do contraditório).
Assim, havendo conflito entre normas jurídicas é importante destacar:
o quando existe um conflito entre regras, aplicase a mais adequada (estes casos
envolvem hierarquia de normas que é um tema a ser estudado em Controle de
Constitucionalidade).
o No tocante aos princípios, quando há um conflito entre os mesmos, a solução é
ponderálos.
Por exemplo: qual princípio é mais importante, o direito à vida
ou à liberdade?
Ou seja, a família pode impedir um tratamento de um filho
menor alegando liberdade religiosa? E se a falta do tratamento
vier a causar a morte da criança?
Direito 55
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
O juiz pode decidir mandar fazer o tratamento, uma vez que o
direito à vida é mais importante que o direito à liberdade
religiosa (a vida é mais importante que a liberdade).
Vale frisar que, neste caso, um princípio não deixa de existir, ou
seja, ele não some do ordenamento jurídico. Há apenas uma
ponderação entre os princípios em conflitos.
- Hermenêutica e interpretação
interpretação.
não descrevem condutas específicas para atingir esse ideal (não detalha o caminho a
forma);
o Por exemplo:
Existe uma norma (regra) que estabelece pena para o crime de roubo
(Do Código Penal - CP [decreto-lei 2848, de 1940]:
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer
meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. [...]).
- Doutrina:
- Significado de Doutrina:
O termo doutrina provém do latim doctrina (doctrinae), que
deriva do verbo docére (ensinar).
- Doutrina jurídica:
23
As normas que estabelecem regras estipulam uma punição (pena) para quem as descumpre.
Direito 58
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- Dogmática jurídica: é parte da ciência jurídica que critica e classifica os princípios que
constituíram a fonte do direito positivo de determinado país.
24
Em cada ramo do Direito (Constitucional, Civil, Penal, do Trabalho, Processual, Administrativo,
Tributário, Ambiental, etc...) há autores que são reconhecidos como grandes juristas. Em razão disso, suas
obras são referências para o estudo das diversas disciplinas.
Dessa forma, as ideias/opiniões/conceitos por eles defendidos são considerados pelos operadores do direito
como base para o entendimento dessas disciplinas. Por isso, todo programa de curso contém uma indicação
bibliográfica com os principais autores.
Direito 59
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
defendendo.
- A palavra zetética possui sua origem no grego zetein que significa perquirir (indagar, efetuar
investigação cuidadosa; inquirir de maneira minuciosa).
- A Teoria Zetética do Direito pode ser entendida como oposição à Teoria Dogmática do
Direito (na qual determinados conceitos e fatos são simplesmente aceitos como dogmas).
- A teoria zetética extrapola as fontes usualmente reconhecidas do direito, tais como as leis, e
a jurisprudência, utilizando fontes secundárias como a Sociologia, a História, a Geopolítica,
etc.
Em razão disso, muitos consideram esta visão como mais ampla e completa do que as
teorias tradicionais.
fundamentação sólida, criar novas interpretações e soluções para os crescentes problemas que
a sociedade enfrenta.
Direito 61
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- Retórica (do latim rhetorica, é uma palavra de origem grega rhêtorikê) que significa a
arte/técnica de bem falar (provem do substantivo rhêtôr – que significa orador). Ou seja, é a
arte de usar uma linguagem para comunicar de forma eficaz e persuasiva.
- Na Grécia antiga, o poder da persuasão, por meio da linguagem, foi muito valorizado.
A Retórica foi popularizada, na Grécia antiga, a partir do século V a. C., por mestres
peripatéticos (professores itinerantes25). Esses mestres ficaram conhecidos como
"sofistas"26. Os mais conhecidos destes foram Protágoras (481-420 A.C.), Górgias
(483-376 A.C.), e Isócrates (436-338 A.C.).
Tísias27 (sofista grego), por exemplo, é tido como autor de diversas defesas jurídicas
defendidas por outras personalidades gregas.
25
O mestres peripatéticos ensinavam de cidade em cidade. Eram chamados de sofistas.
26
Os sofistas eram muito criticados pelos filósofos gregos:
Primeiro, porque os sofistas cobravam para ensinar (os filósofos não cobravam para ensinar aos seus
discípulos e consideravam inconcebível a comercialização do saber).
Segundo, porque os filósofos entendiam que os sofistas não buscavam a verdade (ao contrário dos
filósofos), porque, segundo seu entendimento, os sofistas buscavam apenas convencer (sair
vencedores em uma discussão, disputa judicial, etc...).
Assim, comiseravam que os sofistas pertenciam a uma categoria bastante inferior aos filósofos (que amavam
o saber – philo: amor, sofia: saber).
Em razão disso, surgiu o termo sofisma que quer dizer: argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de
produzir a ilusão da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta, na realidade,
uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa. Ou ainda, argumentação que
aparenta verossimilhança ou veridicidade, mas que comete incorreções lógicas.
27
Tísias foi considerado, juntamente com Córax, o primeiro a ensinar, de modo profissional, a arte de
falar em público. Eles não eram considerados filósofos, mas sofistas.
Direito 62
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- O grande filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) desenvolveu um tratado a retórica, que ainda é
alvo de estudo cuidadoso.
Aristóteles afirma que "a retórica é a contraparte da dialética28".
Assim, enquanto os métodos dialéticos são necessários para encontrar a verdade em
questões teóricas, métodos retóricos são necessários em assuntos práticos, tais como a
defesa da culpa ou inocência de alguém, quando acusado perante a lei ou para decidir
um curso de ação prudente a ser tomado por uma assembleia deliberativa. Meios de
persuasão.
Segundo Aristóteles a persuasão "é uma espécie de demonstração, pois certamente
ficamos completamente persuadidos quando consideramos que algo nos foi
demonstrado".
Aristóteles identificou três classes de meios de persuasão (apelos à audiência):
o ethos,
o pathos e
o logos.
28
Dialética é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que levam a
outras ideias e que tem sido um tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos. A
tradução literal de dialética significa "caminho entre as ideias".
É a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir
claramente os conceitos envolvidos na discussão. Também conhecida como a arte da palavra.
Aristóteles considerava Zenão de Eleia (490430 a.C.) o fundador da dialética. Outros consideraram Sócrates
(469399 a.C).
Dialética é a oposição, o conflito originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos
empíricos.
29
Os argumentos logicamente inconsistentes ou enganadores são chamados de falácias.
Direito 63
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- Em Roma destaca-se a obra de Quintiliano30 (35 - 95) que compilou os aspectos técnicos da
arte na obra Institutos de Oratória.
A partir do Império Romano, passou a haver uma distinção entre retórica e oratória. A
retórica era composta de técnicas de contestação (persuasão) e a oratória visava à
eloquência.
- No Brasil, oratória ainda se refere a busca da beleza na fala (estilo), enquanto retórica é
definida como a arte da persuasão.
- A tópica é uma parte da retórica conceituada por Theodor Viehweg 31 como uma “técnica de
pensar problemas32”.
A teoria tópica tem como foco de atenção o problema jurídico e não nas normas
aplicáveis33.
30
Marco Fábio Quintiliano foi um orador e professor de retórica de Roma.
31
Theodor Viehweg (19071988) nasceu na Alemanha e estudou direito e filosofia. É considerado um dos
principais nomes da Filosofia do Direito no século XX.
A tópica jurídica surge através da obra de Theodor Viehweg, sobretudo com a publicação de Topik und
Jurisprudenz, em 1953.
Resgatando ensino que remonta a Aristóteles, Viehweg defendeu que o pensamento jurídico é tópico, o que
revolucionou a discussão acerca da metodologia do direito à época.
Tratase de uma contraposição ao formalismo jurídico, cujo exemplo mais conhecido é o positivismo
legalista esboçado pela Escola da Exegese, na França.
Entretanto, embora se oponha ao positivismo formalista, não debanda para o jusnaturalismo, nem rechaça
radicalmente a sistemática, a metódica e a normatividade do direito.
Conforme salienta Paulo Bonavides, “a tópica tem que ser compreendida portanto no quadro das
consequências advindas da reação ao positivismo jurídico clássico e no clima de inteira descrença quanto a
uma reestruturação jusnaturalista, como a que se intentou na Alemanha no fim da década de 40, após as
feridas abertas na consciência do Ocidente pela tragédia da Segunda Grande Guerra Mundial”
(BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 497).
32
O problema, para Vienhweg, é "toda questão que aparentemente permita mais de uma resposta e que
requer necessariamente um entendimento preliminar, de acordo com o qual toma o aspecto de questão que se
deve levar a sério e para a qual há que buscar uma resposta como solução”.
33
Os que defendem a teoria tópica destacam que o nazismo e o fascismo se desenvolveram respeitando as
leis locais (da Alemanha e Itália).
Dessa forma, entendem que o simples cumprimento das normas, por si só, não mais proporciona segurança;
não desempenha o papel de garantir resultados jurídicos aceitáveis por uma determinada comunidade.
Por exemplo, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso defende que:
“Sem embargo da resistência filosófica de outros movimentos influentes nas primeiras décadas do século
Direito 64
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Os que defendem destacam que a teoria é benéfica quando há pontos duvidosos ou não
abordados nas leis e essa teoria contribui para a solução adequada. Por exemplo o
casamento e adoção por casal do mesmo sexo.
Os que combatem afirmam que a excessiva liberdade de escolha de
argumentos/normas e a utilização generalizada dessa teoria pode desestruturar a ordem
jurídica, por desrespeitar a hierarquia das normas e colocar em risco o Estado
Democrático de Direito.
XX, a decadência do positivismo é emblematicamente associada à derrota do fascismo na Itália e do nazismo
na Alemanha. Esses movimentos políticos e militares ascenderam ao poder dentro do quadro de legalidade
vigente e promoveram a barbárie em nome da lei. Os principais acusados de Nuremberg invocaram o
cumprimento da lei e a obediência a ordens emanadas da autoridade competente. Ao fim da Segunda Guerra
Mundial, a ideia de um ordenamento jurídico indiferente a valores éticos e da lei como uma estrutura
meramente formal, uma embalagem para qualquer produto, já não tinha mais aceitação no pensamento
esclarecido.” (BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
2009, p. 351).
34
Os topoi podem ser compreendidos como "esquemas de pensamento", "formas de raciocínio", "formas de
argumentação", "pontos de vista" ou "lugarescomuns".
Os topoi são extraídos de princípios gerais, decisões judiciais, crenças e opiniões comuns de juristas, tendo
como função intervir, em caráter auxiliar, na discussão em torno de um problema concreto a ser resolvido.
Na utilização de múltiplos topoi, temse a intenção de produzir uma decisão adequada ao caso concreto,
através de um processo aberto de argumentação.
A intenção da teoria é buscar a solução para o problema tendo como ponto de partida a compreensão prévia
dos fatos e da norma.
Direito 65
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
A Lógica examina as formas que a argumentação pode tomar e procura identificar o que é
válido e o que não é válido na argumentação.
Ou seja, pela lógica é possível analisar o que é verdadeiro na argumentação e o que é falso.
Isso é fundamental, seja para interpretar (fala ou escrita) ou para defender uma posição em
um debate/tribunal/tese.
O primeiro trabalho relevante sobre a lógica foi sistematizado por Aristóteles. Aristóteles fez
o primeiro estudo formal do raciocínio.
A lógica utiliza métodos para analisar o pensamento e argumentação (tais como dedução36,
35
Discricionariedade é a opção, a livre escolha entre duas ou mais alternativas válidas perante o direito.
Ou seja é a liberdade de atuação com base na lei/Constituição, mas de a com a conveniência e oportunidade.
36
O termo dedução se refere à demonstração lógica de uma determinada afirmação a partir de suposições já
estabelecidas. O procedimento dedutivo parte de uma afirmação geral para chegar a uma afirmação
particular. É de grande importância no desenvolvimento da ciência, uma vez que constitui um dos
fundamentos do método científico.
O filósofo grego Aristóteles foi o primeiro em abordar a dedução como método.
Direito 66
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
indução37, hipótese38, inferência39, falácia40, sofisma41 etc.).
A Lógica Jurídica é ligada à ideia que fazemos do Direito, e se adapta a ela.
O Direito depende tanto da interpretação quanto da argumentação. Ou seja, o operador do
37
Indução ou raciocínio indutivo é a demonstração lógica de determinada afirmação a partir da observação e
casos particulares que podem ser generalizados até a criação de uma regra geral. Assim, na indução, a partir
de casos particulares se observa certa regularidade e essa lógica permite extrair uma conclusão geral. Em
outras palavras, observamse fatos concretos de maneira detalhada e, posteriormente, propõese uma lei que
explica a regularidade desses acontecimentos. O método indutivo é um método científico, desenvolvido a
parit das contribuição do filósofo Francis Bacon (século XVII).
38
A hipótese significa uma suposição no que se diz respeito ao comportamento de algum evento, fato ou
objeto.
O método científico consiste justamente na elaboração de uma hipótese que deve ser comprovada por uma
pesquisa (através de uma experimentação). Uma hipótese aceita dentro do campo científico é aquela que foi
formulada, testada pela experimentação e estas condições podem ser reproduzidas por outras pessoas.
39
Inferência é a operação intelectual por meio da qual a verdade de uma proposição pode ser afirmada em
decorrência de sua ligação com outras já reconhecidas como verdadeiras. Inferência também é operação que
consiste em efetuar generalizações tomando por base amostras estatísticas.
40
Falácia (do verbo latino fallere, que significa enganar) é um raciocínio errado com aparência de verdadeiro.
De acordo com a lógica e a retórica, uma falácia é um argumento logicamente incoerente, sem fundamento,
inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega.
Muitas vezes, argumentos falsos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte
do público, porque contém falácias.
Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima,
psicológica, mas não validade lógica. É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas
e para analisar a argumentação de terceiros.
Há diversas categorias de falácias, por exemplo: ambiguidade, preconceito, inversão de causa e efeito,
omissão de determinada causa (ou fato) ou supervalorizar determinada causa omitindo outras mais
importantes (omissão de causas complexas), distorção de fatos (omissão de dados), etc...
41
Sofisma é argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da verdade, que,
embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta, na realidade, uma estrutura interna
inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa.
Ou seja, é qualquer argumentação capciosa, concebida com a intenção de induzir em erro, o que supõe
máfé por parte daquele que a apresenta
Direito 67
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Direito precisa saber interpretar (fala e escrita) e argumentar para poder justificar a posição
que defende.
- A teoria da argumentação surge no mundo jurídico, muito ligada à teoria do discurso, com o
objetivo de questionar e expor, que a fundamentação racional do discurso é válida e possível.
- Evoluiu no século XX, sendo que deve ser destaca a participação dos seguintes autores:
Alexy, Wittgenstein, Frege, Austin, Hare, Perelman, Apel e Habermas.
- A argumentação faz parte do mundo jurídico, que é feito de linguagem, com o uso da
racionalidade buscando o convencimento (do juiz, dos jurados, do tribunal, etc...).
Anexo
que, como a Constituição foi erigida, principalmente, como instrumento orientador e limitador
da atuação do Estado (tanto que o poder pertence ao povo – artigo 1º, parágrafo único da Lei
Maior) e de promoção dos indivíduos (v.g. artigos 1º a 4º da Constituição, que enunciam os
fundamentos e objetivos da República, e que em sua quase integralidade estabelecem normas
que favorecem as pessoas naturais), inegável que interpretação constitucional deve sempre
priorizar os cidadãos (e o contribuinte). Afinal, interpretações constitucionais que
desconsideram direitos e garantias individuais sob a justificativa do "interesse público" nada
mais fazem que lesar o próprio interesse público, já que este, em sua essência, nada mais é do
que o conjunto dos interesses que os indivíduos têm quando considerados na qualidade de
membros da sociedade.
Afinal, o Judiciário ainda é tido como a última esperança de milhares de cidadãos que
vêem seus direitos constitucionais serem lesados diariamente, não raro pelo próprio
legislativo que deveria agir, ao menos em teoria, em nome destes mesmos cidadãos. Mas seria
alguém capaz de negar que, na atualidade, especialmente quando são discutidos assuntos
técnicos e complexos (como boa parte dos assuntos tributários), a "maioria parlamentar" que
aprova as leis é, na verdade, uma minoria intelectual com forte influência e poder políticos,
capaz de persuadir os demais parlamentares leigos? Esse fenômeno foi percebido por Donald
P. Kommers [02], quando afirmou que "a democracia não é mais representativa, pois a maioria
parlamentar pode legislar de forma tão arbitrária quanto a minoria. Ela se tornou uma
democracia constitucional, na qual a atuação das cortes constitucionais é de suma relevância
para garantir as minorias" (KOMMERS apud BALEEIRO, 2005, p. 37). Na mesma linha,
Ronald Dworkin [03] leciona:
A teoria constitucional na qual nosso governo se apoia não é uma simples teoria
majoritária. A Constituição e, particularmente, os direitos fundamentais são feitos para
proteger cidadãos individuais e grupos contra certas decisões que a maioria dos cidadãos pode
querer tomar, mesmo quando essa maioria age em nome daquilo que é considerado o geral ou
o interesse comum (DWORKIN apud BALEEIRO, 2005, p. 37).
métodos tradicionais de hermenêutica, que acreditam ser possível ao intérprete buscar uma
suposta "vontade da lei" (mens legis) ou ainda, o que é pior, a "vontade do próprio legislador"
(mens legislatoris).
Aliás, a doutrina hermenêutica há muito já afirma que a lei não tem espírito, sendo
este exclusividade dos homens (o que parece lógico). Por isso, e considerando que são os
homens e as relações jurídicas das quais participam diariamente que servem de inspiração
para a criação e modificação das leis (e da própria Constituição), nada mais correto que se
permitir que essas relações jurídicas possam também ser valoradas no momento de aplicação
das mesmas leis e da Constituição.
A figura de um legislador (no caso, constituinte) onividente não mais se sustenta frente
às mudanças frenéticas ocorridas no âmbito das relações sociais. Em sendo assim, dois
caminhos se fazem possíveis ao intérprete do Direito: pelo primeiro, ele se mantém firme nos
tradicionais métodos de interpretação das leis e da Constituição, buscando um sentido
predeterminado na norma e fechando os olhos para a realidade social que não se encontra
estritamente regrada; e, se for necessário, aguarda a criação de novas leis e (r)emendas
constitucionais, estas normalmente elaboradas ao sabor da ocasião política (e em prejuízo da
segurança jurídica e de outros valores tão caros a um, assim chamado, Estado Democrático de
Direito); pelo segundo, ele busca novas formas de interpretar o direito posto, utilizando-se de
novos métodos e cânones hermenêuticos, a fim de, como sugerem várias das propostas da
Moderna Hermenêutica Constitucional, "concretizar" o Direito, reconstruindo-o diante do
problema concreto e com base no padrão constitucional, permitindo, ainda, que a "sociedade
aberta dos intérpretes" tenha voz ativa nesse processo de concretização, legitimando, cada vez
mais, a própria Constituição, que foi erigida como documento fundamental "pelo" povo e
"para" o povo, titular absoluto do poder (artigo 1º, parágrafo único da Carta Magna).
É nesse contexto que se encaixa a afirmação de Inocêncio Mártires Coelho (2010),
quando discorre sobre as diretrizes para uma interpretação estrutural dos modelos jurídicos.
Diz o autor:
Pois bem, em razão dessa nova compreensão da experiência
normativa, operaram-se radicais mudanças nos domínios da
hermenêutica jurídica, abandonando-se os antigos métodos e critérios
de interpretação – que aprisionavam o aplicador do direito à estrita
literalidade da lei, para se adotarem pautas axiológicas mais amplas e
flexíveis, não raro indeterminadas, que permitissem aos operadores do
direito ajustar os modelos jurídicos às necessidades de um mundo
cada vez mais complexo e, por isso, cada vez menos propício a toda
forma de arrumação.
Não se está aqui advogando tese de que os intérpretes teriam liberdade para dizer qual
o conteúdo da norma, promovendo verdadeiras mutações constitucionais pela via da
interpretação criativa, em detrimento da segurança jurídica e da separação dos poderes. Isso
seria negar o próprio princípio da exatidão funcional, tão caro aos cultores da Moderna
Hermenêutica. A interpretação constitucional deve estar sujeita a limites, pois a interpretação
que promove mudança radical no sentido da norma por certo equivale à inadmissível criação
de uma nova norma pelo intérprete, pela "lei do menor esforço".
O que se defende é a possibilidade de uma atuação mais integrada entre o intérprete e
a sociedade; uma aproximação maior entre a interpretação oficial e a vida quotidiana, dos
fatos que circundam a Constituição, exercendo influência sobre suas normas.
Mas, como garantir que o processo decisório desenvolvido nesses termos seria racional (ou
não)? Como seria medida essa racionalidade? A resposta nos é dada por Rodolfo Viana
Pereira (2007, p. 170), que afirma que um processo decisório será racional sempre que
Direito 78
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
5. Referências Bibliográficas
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. 7. ed. rev. e compl. à luz da
Constituição de 1988 até a Emenda Constitucional nº 10/1996. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da Constituição –
contribuição para a interpretação pluralista e ‘procedimental’ da Constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes.
Porto Alegre: Fabris, 1997.
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do Direito. 19.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 26.ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
MENDES, Gilmar; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito
Constitucional. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24.ed. São Paulo: Atlas, 2009.
PEREIRA, Rodolfo Viana. Hermenêutica Filosófica e Constitucional. 2.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 5.ed. São Paulo: RT, 1989.
______. Comentário Contextual à Constituição. 4.ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
Notas
1. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina,
1998, p. 1050-1051.
2. KOMMERS, Donald P. Der Geichheitssatz: Neuere Entwicklungen in Verfassungsrecht der USA und
der Bundsrepublik Deutschland. In: Der Gleichheitssatz im modernen Verfassungsstaat. Symposium
zum 80 Geburtstag von Gerhard Leibholz. Baden-Baden, Nomos Verlagsgesellschaft, 1981.
3. DWORKIN, Ronald. Taking Rights Seriously. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press,
1977.
Direito 79
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
4. Mais detalhes sobre os conceitos de programa-normativo, âmbito normativo, norma jurídica e norma-
decisão, conforme a doutrina de Friedrich Müller, podem ser encontrados em PEREIRA, Rodolfo
Viana. Hermenêutica Filosófica e Constitucional. 2.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 165-166.
5. MÜLLER, Friedrich. Discours de La méthode juridique. Trad. Oliver Jouanjan. Paris: Presses
Universitaires de France, 1996.
6. REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 1982, p. 594.
7. SANCHÍS, Luis Prieto. Ideologia e interpretación jurídica. Madrid: Tecnos, 1993, p. 126.
- Introdução
Direito 80
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Por exemplo: o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de uma criança
por um casal homossexual.
Ou seja, com o tempo e a evolução da sociedade, podem surgir casos que não se
enquadrem nas normas.
- Dessa forma, a hermenêutica jurídica fornece os métodos e princípios que devem ser
adotados para que o operador do Direito busque a solução que atenda aos interesses da
sociedade.
A interpretação das normas jurídicas deve levar em conta os fins para os quais foram
criadas, os precedentes históricos que levaram a sociedade a exigir a sua criação,
bem como a harmonização com as novas necessidades que as mudanças da sociedade
passem a exigir.
Assim, quando o juiz não consegue descobrir uma norma jurídica para decidir determinado
caso, deve servir-se de outros meios para a solucioná-lo, uma vez que todo caso concreto
posto à apreciação do Judiciário não pode deixar de ser apreciado e resolvido.
Porém, a própria lei põe à disposição do aplicador do direito, os meios dos quais pode se
utilizar para o preenchimento da lacuna existente.
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
9.1 Analogia:
é aplicar a um caso não previsto em lei uma disposição legal prevista para um
caso semelhante, ou ainda
9.2 Costume:
é uma norma social que deriva da longa prática uniforme, geral, constante e
repetida de dado comportamento sob a convicção de que corresponde a uma
necessidade de determinada sociedade.
43
Originalmente, chamavase Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, mas a partir da Lei nº 12.376/2010,
passou a se chamar Lei de Introdução à normas do Direito Brasileiro.
44
No mesmo sentido, se o cheque pré-datado for depositado pelo comerciante antes do prazo e acabar
devolvido por falta de fundos, isso não caracteriza crime.
Direito 82
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- Princípios Gerais de Direito São normas (escritas ou não) de cunho genérico, que
condicionam e norteiam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação,
quer para a elaboração de novas normas.
Miguel Reale destaca que toda a experiência jurídica, e a legislação que a integra,
tem por base os princípios gerais de direito. Portanto, os princípios gerais de
direito são considerados como o alicerce do ordenamento jurídico.
- Então, o juiz, quando se depara com uma lacuna legal (ou seja, verifica que
determinado caso concreto não está previsto na legislação), deve decidir com base na
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
9.4 – Equidade
- Equidade significa apreciação, julgamento justo, respeito à igualdade de direito de cada um,
Direito 83
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
que independe da lei positiva, mas de um sentimento do que se considera justo, tendo em vista
as causas e as intenções, virtude de quem ou do que (atitude, comportamento, fato etc.)
manifesta senso de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos, correção, lisura na
maneira de proceder, julgar, opinar etc.; retidão, equanimidade, igualdade, imparcialidade.
Anexo
45
Disponível em: http://genjuridico.com.br/2017/07/21/oprincipiodaequidadeporumanovaexegese/.
A autora é Doutora em Direito, Mestre em Direito Penal e graduada em Direito. Promotora de Justiça titular
do Ministério Publico RJ. Professora. Membro honorário do Instituto dos Advogados Brasileiro, membro
associada à Academia Brasileira de Direito Civil e professor da Fundação Escola Superior da Defensoria
Pública do Estado do Rio de Janeiro. Autora da obra Indenização Integral na Responsabilidade Civil pela
editora Atlas.
Direito 85
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
em que pode se revestir, visto ser possível assumir a forma integrativa[11] e, também, a
forma valorativa[12].
Silvio Venosa sintetiza a noção de equidade valor nesta precisa lição:
Tratamos aqui da equidade na aplicação do Direito e em sua interpretação, se bem
que o legislador não pode olvidar seus princípios, em que a equidade
necessariamente deve ser utilizada para que a lei surja no sentido da justiça. A
equidade não é só o abrandamento da norma em um caso concreto, como também
sentimento que brota no âmago do julgador. Como seu conceito é filosófico, dá
margem a várias concepções.(…). Entendamos, porém, que a equidade é antes de
mais nada uma posição filosófica; que cada aplicador do direito dará uma valoração
própria, mas com a mesma finalidade de abrandamento da norma. Indubitavelmente,
há muito de subjetivismo do intérprete em sua utilização. [13] (grifos nossos)
A forma valorativa é ampla e se apresenta sob diversos aspectos, a exemplo dos
conceitos vagos e indeterminados, tal como na aplicação da lei segundo os fins sociais a que
se destina. Portanto, a valoração judicial estará imbuída e valorada por equidade, sem se dizer,
no nosso sistema, que o julgamento foi realizado aplicando-se a equidade. Aqui a equidade é
equidade valor, ou utilizada sob a forma valorativa.
Importante o registro de Fux ao tratar, em verdade, da equidade valor:
Substancialmente, o juiz ao decidir o mérito, deve adotar a “solução que reputar
mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem
comum.” Nesse particular, a lei, utilizando-se de conceitos juridicamente
indeterminados, autoriza o juiz a inverter o velho silogismo e adotar a solução justa
para depois vesti-la com a regra legal aplicável à luz da equidade e das exigências
do bem comum, Assim, o juiz deve levar em consideração não apenas a letra da lei,
senão ambiente em que ela vai ser aplicada, amoldando-a às novas realidades, sem
contudo estar autorizado a decidir contra legem, Essa regra in procedendo funciona
com plenitude quando há lacunas na lei.[14] (grifos nossos)
Com a revogação do artigo 114 do CPC/39 pelo artigo 127 do CPC/74 46, conclui-se
que, no direito processual civil brasileiro, a equidade substitutiva deixou de existir. O artigo
127 do CPC/74 se traduz na idéia de equidade integrativa. Entretanto, o festejado doutrinador
acredita, que embora rara, ainda vigorante a equidade substitutiva- verbis: “A aceitação da
equidade substitutiva é muito rara, pois representa uma quebra no sistema, gerando
insegurança jurídica. Na maioria das hipóteses previstas no CC/2002, o legislador faz uso da
equidade na sua função integrativa(…).”[29]
Apesar das distintas nomenclaturas utilizadas, concebe-se a identidade dos conceitos.
Assim, equidade corretiva, equidade integrativa e equidade legal possuem a mesma definição,
qual seja, são nomenclaturas que redundam no mesmo significado: permissivo legal ao
aplicador do direito à utilização da equidade para complementar o conteúdo normativo da Lei
o que, in abstracto, por opção, ou real impossibilidade, o legislador não previu. Não
comunga-se, assim, da posição segundo a qual equidade integrativa e integridade corretiva
integrariam gêneros distintos, posto que ao integrar é possível corrigir; integrar é gênero do
qual correção é espécie e, no sistema jurídico-brasileiro só poderá ocorrer se houver prévia e
expressa previsão legal.
Frise-se: a equidade valor, ou equidade judicial, não pode ser confundida com a
equidade integrativa porque enquanto uma informa outros princípios de hermenêutica, esta
apresenta outro conteúdo normativo à norma; corrige. Assim, se supre lacuna, integrando, ou
se supre, corrigindo, não se trata de equidade valor, ou judicial porque vai muito mais além. O
aplicador do direito se investe de função legislativa, para aquele caso em concreto, e, por tal
razão, sua aplicação deve ser extraordinária, antecedente e expressa.
Em síntese: o sistema jurídico brasileiro admite a equidade valor porque não é sistema
normativo absolutamente fechado às valorações e interpretações necessárias à melhor
adequação da justiça ao caso concreto. Contudo, a equidade integrativa, que complementa a
norma abstrata, só pode ser aplicada se, e quando, o legislador prever, in abstracto (artigo 127
do CPC). Apenas nessa hipótese.[30] Do contrário, haverá inversão da ordem legal e, em
última análise, arbítrio, o que deverá ser, sempre, rechaçado pelos operadores do direito.[31]
Com maestria , alerta Caio Mário da Silva Pereira:
É, porém, arma de dois gumes. Se, por um lado, permite ao juiz a aplicação da lei de
forma a realizar o seu verdadeiro conteúdo espiritual, por outro lado pode servir de
instrumento às tendências legiferantes do julgador, que, pondo de lado o seu dever
de aplicar o direito positivo, com ela acoberta sua desconformidade com a lei. O juiz
não pode reformar o direito sob pretexto de julgar por equidade, nem lhe é dado
negar-lhe vigência sob fundamento de que contraria o ideal de justiça. A observância
da equidade, em si, não é um mal, porém a sua utilização abusiva é de todo
inconveniente. Seu emprego há de ser moderado, como temperamento do rigor
excessivo ou amenização da crueza da lei. [32]
legitimar a ampla e irrestrita aplicação da equidade a várias situações concretas, ora seu
comando é confundido com o teor de um princípio geral do direito para legitimar sua
aplicação com base no artigo 4º do mesmo diploma normativo. Em ambas situações afere-se
erro do exegeta.
Já ensinava Washington de Barros Monteiro:
Contudo, não é sempre que o magistrado pode se socorrer da equidade, que,
modernamente, está no próprio direito e não fora dele. Ele só pode fazê-lo quando
expressamente autorizado pelo legislador. “O juiz só decidirá por equidade nos casos
previstos em lei” (Cód.Proc.Civil, art.127). Sem autorização legal explícita, porém,
não pode o julgador, motu próprio, servir-se da inspiração social da equidade; se ele
se ativesse às suas concessões pessoais, teria consagrado a equidade cerebrina,
merecedora de tantas censuras, por ser indumentária vistosa com que o arbítrio se
disfarça nos pretórios. (grifos nossos)[34]
Em outra passagem, o festejado doutrinador registra o que restava consolidado nos
Tribunais:
A jurisprudência tem assentado a seguinte orientação: a) diante de texto expresso,
descabe a invocação à equidade; b) a equidade, como ideal ético de justiça, deve entrar na
formação mesma da lei. Não pode, porém, o juiz modificar a lei sob cor de humanizar e
inspirar-lhe os influxos da equidade. Só está autorizado a decidir por equidade na ausência da
lei; c) a equidade recomenda-se quando o texto legal não propicia clara exegese; mas ela não
pode ser invocada para inutilizar e revogar preceito claro de lei, ou condições e normas
livremente aceitas pelas partes;d)a equidade não pode ser invocada para enfrentar exigências,
quer ditadas por necessidade da vida coletiva, quer estabelecidas pelos interesses superiores
do Estado, expressamente consignadas pelo mandamento legal.[35](grifos nossos)
O Direito Português, em vanguarda, optou por estabelecer limites à equidade:
Valor da Equidade. Os tribunais só podem resolver segundo a equidade: a) Quando
haja disposição legal que o permita; b)Quando haja acordo das partes e a relação
jurídica não seja indisponível;c) Quando as partes tenham previamente
convencionado o recurso à equidade, nos termos aplicáveis à cláusula
compromissória”.[36]
Anseia-se que a equidade seja corretamente aplicada, isto é, que seja aplicada de forma
excepcional, tão-somente quando a lei expressamente autorizar a sua aplicação. É como se
fosse o Estado-legislador, convencido de que não haveria, abstratamente, condições de prever
todas as situações, delegando essa tarefa ao aplicador, mas sempre de forma expressa, e em
caráter excepcional.
Visto isso, reafirma-se que o sistema civil brasileiro não admite a aplicação do
Princípio da Equidade Integrativa (corretiva/legal) irrestritamente devendo ser prevista,
expressamente, pelo legislador.
Referências Bibliográficas:
ALVIM, Agostinho. Da equidade, in Revista dos Tribunais, vol. 797, mar. 2002.
CARVALHO FILHO, Milton Paulo de. Indenização por Equidade no Código Civil. 2ªed. São Paulo. 2ªed. ed.
Atlas. 2003.
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. 3ªed.São Paulo:ed.Atlas. 2011.
DIREITO, Carlos Alberto Menezes e CAVALIERI FILHO, Sérgio. Comentários ao Novo Código Civil. vol.
XIII.Rio de Janeiro:ed.Forense.2004.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Lingua Portuguesa.
FIUZA, Ricardo e SILVA, Regina Beatriz (coords) Tavares da. Código Civil Comentado. 8ªed. São Paulo:
ed.Saraiva. 2012.
FRANÇA, R.Limongi. Hermenêutica Jurídica.2ª ed. São Paulo: ed.Saraiva. 1988.
FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: ed.Forense. 2001.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – parte geral. São Paulo:ed.Saraiva. 2012.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 14ª ed. São Paulo: ed.Saraiva.2012. RSTJ 83/168.
Direito 91
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19ªed. Rio de Janeiro: ed.Forense. 2003.
OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni in SAMPAIO, José Adércio Leite (coord). Jurisdição Constitucional e
Direitos Fundamentais. Belo Horizonte:ed.Del Rey. 2003.
PEREIRA,Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil-v.I..5ª ed. Rio de Janeiro: editora Forense.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Responsabilidade Civil. v.4. 20ª edição. São Paulo: Saraiva. 2008.
SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Princípio da Reparação Integral. São Paulo: ed.Saraiva:São Paulo.
SILVA,Wilson Melo da. Responsabilidade sem culpa.São Paulo:ed.Saraiva.1974.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. parte geral. São Paulo:ed.Atlas. 2001.
Notas:
[1].FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Lingua Portuguesa.
[2] Citando Hélio Tornaghi, averba Milton Paulo: “Historicamente, a equidade, segundo Tornaghi, sugiu na
Grécia com Platão que havia se preocupado com a necessidade de corrigir, por meio da epieKeia, as injustiças
decorrentes da rigidez apresentada pela norma geral, especialmente o direito escrito.” CARVALHO FILHO,
Milton Paulo de. Indenização por Equidade no Código Civil. 2ªed. São Paulo:ed.Atlas.2003.p.19.
[3] Aristóteles legou ao mundo a grande obra sobre equidade denominada “Ética a Nicômaco.”
[4] ARISTÓTELES apud CARVALHO FILHO, Milton Paulo de. Indenização por Equidade no Código Civil.
2ªed.São Paulo:ed.Atlas.2003.p.27.
[5] FRANÇA, R.Limongi. Hermenêutica Jurídica.2ª ed. São Paulo: ed.Saraiva. 1988.p.71.
[6] Na parte relacionada à equidade colhe-se da importante obra: “Como dissemos, quando tratamos das leis, os
atos humanos que as leis devem regular, são particulares e contingentes e podem variar ao infinito. Por isso não é
possível instituir nenhuma lei que abranja todos os casos; mas os legisladores legislam tendo em vista o que
sucede mais frequentemente. Contudo, é contra a igualdade da justiça e contra o bem comum, que a lei visa
observá-la em certos casos determinados. Assim, a lei determina que os depósitos sejam restituídos, porque tal é
justo na maioria dos casos; mas pode acontecer que seja nocivo, num dado caso. Por exemplo, se um louco, que
deu em depósito uma espada, a exija no acesso da loucura, se alguém exija o depósito para lutar contra a pátria.
Nesses casos, e em outros semelhantes, é mau observar a lei estabelecida: ao contrário, é bom, seguir o que
pedem a idéia da justiça e utilidade comum. E a isso se ordena a epieiqueia, a que nós chamamos equidade.”
(grifos nosso) CARVALHO FILHO, Milton Paulo de. Indenização por Equidade no Código Civil.2ªed.São
Paulo:ed.Atlas.2003.p.23.
[7] LOCKE, John apud OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni in SAMPAIO, José Adércio Leite(coord).
Jurisdição Constitucional e Direitos Fundamentais. Belo Horizonte:ed.Del Rey. 2003. p. 222.
[8] MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19ªed. Rio de Janeiro: ed.Forense. 2003.
Pp.142/143.
[9] Artigo 4º- Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.
Artigo 5º- Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
[10] Lei n. 12.376, de 30/12/10
[11] Com clareza e profundidade que lhe são peculiares, acerca da função integrativa no Princípio da Equidade,
ensina Sérgio Cavalieri- verbis: “Segundo Aristóteles, a equidade tem uma função integradora e outra corretiva.
A primeira tem lugar quando há vazio ou lacuna na lei, caso em que o juiz pode usar a equidade para resolver o
caso, sem chegar ao ponto de criar uma norma, como se fosse o legislador. Essa equidade integradora ou
supridora de lacuna permite ao juiz, partindo das circunstâncias do caso específico que está enfrentando, chegar
a uma conclusão, independentemente da necessidade de criar uma norma. Deve o juiz procurar expressar, na
solução do caso, aquilo que corresponda a uma idéia de justiça da consciência média, que está presente na
comunidade. Será, em suma, a justiça do caso concreto, um julgamento justo, temperado, fundado no sentimento
comum de justiça. Aquilo que o próprio legislador diria se tivesse presente; o que teria incluído na lei se tivesse
conhecimento do caso. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. 3ªed.São
Paulo:ed.Atlas. 2011.pp.51-52.
[12] Referindo-se, à equidade valor, embora não a apresentando expressamente sob essa nomenclatura, apresenta
a boa doutrina o conceito e circunstâncias desta espécie de equidade: “(…)Mas até que vença a lei injusta, a lei
que já não mais traduza o direito porque já deixou de atender às necessidades sociais do meio, a equidade atua
em caráter supletivo, amoldando a norma à realidade, buscando fazer com que, não obstante a letra da lei, seu
espírito não seja relegado ao oblívio, como diria Orozimbo Nonato na sua linguagem de clássico.É a equidade
atuando sobre o juiz, na sua exegese da norma.O direito não se estratifica nem se fossiliza nas suas disposições
formais, diz-se. Ele deve evoluir com a vida.E quando mudam as condições do meio por influência de fatores
vários: políticos, econômicos, históricos, etc., a lei terá de evoluir também, embora guardando, no mais das
vezes, a antiga roupagem, literal, das suas disposições.Não se poder parar no tempo, O trabalho do hermeneuta é,
sobretudo, nas épocas de transição, um trabalho de equidade.É verdade inconteste, como afirmou São Paulo em
Direito 92
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
sua epístola aos coríntios, que “littera occidit spiritus autem vivicat”.Summus jus, summa injuria.E para Paulo, o
jurisconsulto romano, “nos ex regula jus sumatur, sed ex jure quod est regula Fiat”. Ou como lembra Condorelli,
o direito, certamente, é uma realidade ideal, mais alta e mais profunda que a da simples regra, à qual, muita vez,
se pretende circunscrevê-lo, seccionando o de sua verdadeira fonte, de fonte autêntica que lhe confere dignidade
e autoridade.” SILVA,Wilson Melo da. Responsabilidade sem culpa.São Paulo:ed.Saraiva.1974.pp.160-161.
[13] VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil-parte geral. São Paulo: ed.Atlas. 2001. p.47.
[14] FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: ed.Forense. 2001. pp.479-480
[15] Ruy Rosado apud DIREITO, Carlos Alberto Menezes e CAVALIERI FILHO, Sérgio. Comentários ao Novo
Código Civil. vol. XIII.Rio de Janeiro:ed.Forense.2004.pp.334/335.
[16] VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. parte geral. São Paulo:ed.Atlas. 2001. p.47.
[17] CÓDIGO CIVIL 2002 e Código de Processo Civil- artigo 127
Artigo 944- A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único- se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização.
[18] No Código de Processo Civil de 1939, o mesmo princípio era previsto no artigo 114-verbis: “Quando
autorizado a decidir por equidade, o juiz aplicará a norma que estabeleceria se fosse legislador.”
[19] Lei n.12.376, de 30/12/10- Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro derrogando à antiga expressão
oriunda do Decreto-Lei n.4657, de 04 de setembro de 1942: “Lei de Introdução ao Código Civil”
[20] Crê-se que a posição de Carlos Roberto Gonçalves é no sentido de apontar o artigo 5º da LRNB como
equidade valor, a qual aqui também se adota. Verbis: “A equidade está ínsita no artigo 5º da Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro, quando este recomenda ao juiz que atenda, ao aplicar a lei, aos fins sociais a que
ela se destina, adequando-a às exigências oriundas das mutações sociais, e às exigências do bem comum.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro -parte geral. São Paulo:ed.Saraiva. 2012. p.77.
[21] DE PAGE apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. v.I. Rio de Janeiro: Gen-
editora Forense. 2010.p.63.
[22] RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Responsabilidade Civil. v.4. 20ª edição. São Paulo: Saraiva. 2008.p
p.188
[23] Nesse sentido, cuja discordância já foi manifesta, posiciona-se Maria Helena Diniz: “Do que foi exposto
infere-se a inegável função da equidade de suplementar a lei, ante as possíveis lacunas. No nosso entender, a
equidade é elemento de integração, pois consiste, uma vez esgotados os mecanismos previstos no art.4º da Lei de
Introdução ao Código Civil, em restituir à norma, a que acaso falte, por imprecisão de seu texto ou por
imprevisão de certa circunstância fática, a exata avaliação da situação a que esta corresponde, a flexibilidade
necessária à sua aplicação, afastando por imposição do fim social da própria norma o risco de convertê-la num
instrumento iníquo.” (grifos nosso) DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil brasileira
Interpretada.12ªed.São Paulo:ed.Saraiva. 2007.p.141.
[24] FIUZA, Ricardo e SILVA, Regina Beatriz (coors) Tavares da. Código Civil Comentado. 8ªed. São Paulo:
ed.Saraiva. 2012.pp.48-49.
[25] Artigo 2º da Constituição da República em vigor: São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
[26] Artigo 4º da Lei n.12.376/10- LRNB- Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. (grifo nosso)
[27] ALVIM, Agostinho. Da equidade, in Revista dos Tribunais, vol. 797, mar. 2002, pp. 767-770.
[28] SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Princípio da Reparação Integral. São Paulo: ed.Saraiva:São
Paulo. p.91.
[29] ______. Princípio da Reparação Integral. São Paulo: ed.Saraiva:São Paulo. p.92.
[30] Muito apropriada a síntese de Carlos Roberto Gonçalves: “ Fora dos casos expressamente previstos, o juiz
não pode julgar por equidade. Se a lei não dispõe, expressamente, que a culpa ou o dolo podem influir na
estimativa das perdas e danos, o juiz estará adstrito à regra que manda apurar todo o prejuízo sofrido pela vítima,
em toda a sua extensão, independentemente do grau de culpa do agente. E, ainda que o resultado se mostre
injusto, não estará autorizado a decidir por equidade. GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil.
14ª ed. São Paulo: ed.Saraiva.2012.p.569.
[31] A jurisprudência do STJ bem sintetizou a questão: “(…) a proibição de que o juiz decida por equidade, salvo
quando autorizado por lei, significa que não haverá de substituir a aplicação do direito objetivo por seus critérios
pessoais de justiça. Não há de ser entendida, entretanto, como vedando se busque alcançar a justiça no caso
concreto, com atenção ao disposto no art.5º da Lei de Introdução.” RSTJ 83/168.
[32] PEREIRA,Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil-v.I..5ª ed. Rio de Janeiro: editora Forense.
1992. p. 57.
[33] Artigo 4º da Lei n.12.376/10- LRNB- Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
Direito 93
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
[34] MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. parte geral. São Paulo: ed.Saraiva. 1996.p.44
[35] ______. Curso de Direito Civil. parte geral. São Paulo:Ed.Saraiva. 1996.p.45
[36] Código Civil Português- Decreto-Lei n. 47344, de 25 de novembro de 1966, artigo 4º
Direito 94
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
- Antinomia jurídica é uma contradição real ou aparente entre normas dentro de um sistema
jurídico, dificultando-se, assim, sua interpretação e reduzindo a segurança jurídica no
território e tempo de vigência daquele sistema.
Quando há conflito entre normas jurídicas é importante destacar:
o quando existe um conflito entre regras, aplicase a mais adequada (estes casos
envolvem hierarquia de normas que é um tema a ser estudado em Controle de
Constitucionalidade).
Ou seja, devem ser adotados os seguintes critérios práticos:
a) Critério Cronológico: Existindo duas normas incompatíveis, prevalece a norma
posterior. Este critério é anunciado pelo brocardo jurídico: lex posterior
derogat legi priori (lei posterior derroga – é o mesmo que abolir ou alterar a
lei posterior). Ou seja, a eficácia da lei no tempo é limitada ao prazo de sua
vigência, que começa com a sua publicação e perdura até a sua revogação.
Assim, a lei só começa a produzir seus efeitos após entrar em vigência e deixa
de produzilos depois de revogada.
Como ensina Norberto BOBBIO, “Do princípio de que a lei só tem eficácia
durante a vigência, resulta que nenhuma lei pode aplicarse a fatos anteriores
(nenhuma lei tem efeito retroativo). O único caso de retroatividade permissível
é da lei penal favorável ao réu.”
Contrariamente, uma norma inferior revogar uma superior é inadmissível.
c) Critério da Especialidade: Conhecido também por Lex specialis, é originário
do princípio de direito romano de que lex specialis derogat legi generali (lei
especial derroga – é o mesmo que abolir ou alterar a lei geral, ou seja uma
determinada lei específica sobre determinado tema prevalece sobre uma lei de
caráter mais genérico).
Dessa forma, se as normas incompatíveis forem uma geral e a outra especial,
prevalece a especial.
o No tocante aos princípios, quando há um conflito entre os mesmos, a solução é
ponderálos.
Por exemplo: qual princípio é mais importante, o direito à vida
ou à liberdade?
Ou seja, a família pode impedir um tratamento de um filho
menor alegando liberdade religiosa? E se a falta do tratamento
vier a causar a morte da criança?
O juiz pode decidir mandar fazer o tratamento, uma vez que o
direito à vida é mais importante que o direito à liberdade
religiosa (a vida é mais importante que a liberdade).
Vale frisar que, neste caso, um princípio não deixa de existir, ou
seja, ele não some do ordenamento jurídico. Há apenas uma
ponderação entre os princípios em conflitos.
- A aplicação do direito não se resume a um método simples. O juiz deve estar em sintonia
não somente com o direito, mas também com a evolução da sociedade. Deve, antes de tudo,
ter o julgador um profundo conhecimento da natureza humana.
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela
se dirige e às exigências do bem comum.
- Ou seja, deverá pesquisar quais são as finalidades sociais da lei e as exigências da sociedade
Direito 96
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
(o bem comum)47.
- Acrescente-se que o juiz não pode se recusar a aplicar o direito sob a alegação de inexistir
norma jurídica cabível para o caso.
- Todos têm o direito de procurar o Poder Judiciário para defender seus interesses e o Estado
tem o dever de prestar a tutela jurisdicional adequada, seja ela favorável ou desfavorável ao
postulante (ou seja, dar uma sentença favorável ou desfavorável).
- Diante disso, ainda que não exista norma jurídica aplicável ao caso concreto, o juiz deve
servir-se de outros meios para manter a paz social, valendo-se, então, dos métodos de
integração da norma jurídica, tais como a analogia, o costume e os princípios gerais do
direito.
- INTRODUÇÃO
Para interpretarmos a constituição não basta ficarmos restritos ao texto. Ou seja, interpretar a
constituição significa:
47
Por exemplo, o ECA tem a finalidade de proteger a criança e o adolescente, assim toda decisão que envolva
a aplicação do ECA não pode contrariar essa finalidade.
Direito 97
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
a) literal,
b) lógica
c) sistemática,
d) histórica e
e) teleológica (finalística).
Método tópico-problemático-
Tendo em vista que diversos artigos da constituição são genéricos e amplos (por exemplo,
os direitos sociais: a educação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a providência
social ...), acaba por ampliar as possibilidades de interpretação.
Assim, por este método, a interpretação deve procurar resolver problemas concretos.
a) deve-se verificar quais são os valores que estão representado no texto constitucional (por
ex.:defesa da vida, defesa da liberdade individual, proteção ao meio ambiente, proteção ao
consumidor, à criança, ao adolescente, ao idoso, etc...);
b) procurar analisar o problema de acordo com os valores envolvidos na questão. Ou seja,
em face de um problema, deve-se perguntar quais valores são mais importantes a
Direito 98
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
preservar: por ex.: entre a vida e a liberdade, deve prevalecer a defesa à vida – se a família
alega que não permite que o filho menor enfermo seja submetido a transfusão de sangue,
alegando liberdade religiosa, o Estado pode obrigar o tratamento médico para salvar a vida
- assim sacrifica-se a liberdade religiosa da família, em prol da vida, que é o valor mais
importante.
O texto constitucional, em geral, revela apenas uma parte do que realmente significa.
Ou seja, o alcance dos dispositivos constitucionais ultrapassa o simples texto.
Para descobrir o verdadeiro alcance do texto constitucional é necessário uma busca ampla
sobre a sua repercussão nas diversas estruturas do Poder Estatal (Executivo, legislativo,
judiciário).
Por exemplo: a Constituição garante a liberdade de todos (art. 5º). Mas a interpretação
deste dispositivo requer, perante um caso concreto, a verificação do direito à liberdade
perante as estruturas do Estado:
▪ o Poder Legislativo: pode restringir esse direito, por exemplo: se a pessoa estiver de
automóvel, deve respeitar as leis de trânsito que limita esse direito (ou seja, não se
pode fazer o quiser no trânsito);
▪ o Poder Judiciário: pode restringir a liberdade daquele que comete um crime (prisão
– restrição máxima).
O método hermenêutico-concretizador foi criado por Conrad Hesse que, a partir disso,
Direito 99
Hermenêutica Jurídica
Profª Dra. Eliane Iunes Vieira.
Exemplo:
Pelo art. 5.º, XXXV, da CF/88: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito” – ou seja,
o Poder Judiciário não pode se recusar a apreciar qualquer assunto.
Mas, pelo art. 217, § 1.º, da CF/88: “O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias de ordem
desportiva, regulada em lei”.
Assim, qualquer ação, com exceção das ações relativas à disciplina e competições
desportivas, poderá ser apreciada pelo Poder Judiciário.
As exceções expressas na CF/88 não representam contradição ou antinomias, porque a
constituição é única e não há contradição interna entre seus dispositivos – dessa forma,
sempre valem as exceções que estão expressas.
Ou seja, a CF/88 traça regras, mas prevê também exceções (não há incoerência nisso).
Princípio da harmonização:
Quando houver valores jurídicos em conflito ou em concorrência, deve-se evitar o sacrifício
(total) de uns em relação aos outros.
É a ponderação (equilíbrio) entre princípios que devem ser compatibilizados para que a
harmonia social impere.
Exemplo: liberdade de comércio x exigência de farmacêutico responsável (direito à saúde).
Deve haver liberdade de comércio, mas também deve haver responsável legal quando os
produtos comercializados forem medicamentos, para segurança da população. Ou seja,
devem ser harmonizados esses dois princípios (deve haver equilíbrio).
Ou seja, qualquer um pode ter um estabelecimento comercial que venda remédios, mas terá
obrigatoriamente que contratar um farmacêutico responsável.
Devem ser defendidos pontos de vista que contribuam para preservar a força e eficácia da
Constituição.
Assim, devem-se valorizar as soluções que possibilitem a eficácia e a aplicabilidade
permanente da Constituição (mesmo quando isso parecer desagradável).
É fundamental respeitar a Constituição mesmo naquelas situações em que a sua
observância revela-se desagradável – e até mesmo injusta.
Por exemplo: Mesmo um corrupto (ou qualquer tipo de criminoso), pelo artigo 5º, LXVIII
da CF/88, tem direito a habeas corpus quando estiver sendo ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder em razão de
processo. Ou seja, deve-se defender sempre a Constituição, mesmo quando isso parecer
incoerente (por ex. Manter alguém em liberdade, quando todos gostariam de vê-lo preso).
A força da Constituição é a sua efetividade.
Exemplo:
Exemplo: A Emenda Constitucional nº 20/1998 previa que o valor dos benefícios48 da
previdência social deveria ficar limitado ao teto da Previdência (em fev/2009 – o valor do
máximo pago pelo INSS era R$ 3.218,90).
Mas em relação à licença maternidade?
Por exemplo: uma mulher que ganhasse R$15.000,00/mês e entrasse em licença
maternidade deveria receber do INSS apenas R$3.218,90. E o restante deveria ser pago
pela empresa empregadora?
Entendeu-se que isso poderia provocar a restrição de vagas a mulheres em idade fértil,
porque as empresas evitariam o risco de ter que arcar com a diferença salarial. Nesse caso,
seria preferível contratar um homem para a função e ficar livre do problema.
Então, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que devia ser afastada a aplicação da
norma constitucional, prevista na Emenda Constitucional nº 20/1998 (que determinava que
todos os benefícios previdenciários ficariam limitados ao teto da previdência), no tocante à
licença-gestante. (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1946, de 03 de abril de 2003).
Portanto, o STF entendeu que o INSS deveria pagar o benefício equivalente ao salário
integral à mulher submetida a licença gestante (por 4 meses).
48
São exemplos de benefícios da Previdência social: aposentadoria, auxílio doença, pensão por morte,
salário-maternidade, salário- família, etc..