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Resolução de casos práticos sobre competência

Um tribunal, para se considerar competente têm de se verificar determinados


requisitos
o em razão da matéria;
o em razão do território;

Quando temos um conflito, um problema entre as pessoas, e os factos aconteceram


em mais do que 1 país, há outro problema de competência: qual o pais/estado que
deve analisar aquela questão?
Isto é importante por vários motivos:
- porque os próprios países têm regras para se dizer quando se consideram
competentes;
- problemas de reconhecimento do efeito da sentença.
Ex. Portugal considera-se competente para conhecer desse questão, e o de Marrocos
também. Isto quando for contrato entre português e marroquino. Ambos acham. Qual
o problema: se imaginarmos que a ação é proposta em Marrocos, depois a sentença
pode ter o problema de nós não a reconhecermos.
Importa saber se a decisão que obtive num pais depois é reconhecida noutro país.
Ex. se formos para a ação executiva- podemos ter de executar bens que estão fora. EX.
tribunal de Marrocos manda o réu pagar e o réu tem um imóvel em Portugal. As
empresas hoje em dia já raramente trabalham à escala nacional. Surgem problemas
entre países.
3 problemas
- qual o direito que se aplica às relações entre as pessoas quando estão em países
diferentes? Ex. um contrato entre português e espanhol. Qual se aplica?
- determinar qual o tribunal competente;
- problema de reconhecimento de sentenças estrangeira.
INTERNACIONAL- quando vemos qual o país competente.
Territorial- dentro de um país, qual o tribunal materialmente competente, em termos
de objeto do processo.
Tem que ver com um pressuposto processual. Se chegarmos à conclusão que a ação foi
proposta num tribunal português e este não for competente, o tribunal não pode
conhecer do mérito da causa.
O que vamos falar é:
Quando temos conflitos plurilocalizados, isto é, conflito com conexões relevantes com
mais de 1 ordem jurídica, com mais do que um estado (ex. contrato com pessoa
residente em Portugal e pessoa residente na Alemanha, pessoas que casaram na
Dinamarca, mas um é português e outro italiano, responsabilidade civil- olhar para a
situação e percebermos que aquele conflito tem, ou pela nacionalidade das partes, ou
pela residência, ou pelo sitio onde ocorreram os factos).
Será que os tribunais portugueses são sequer competentes para conhecer disso?
Só vemos competência internacional se verificarmos que o conflito é plurilocalizado.
Ex. A português residente em Portugal B residente em Portugal, andam à pancada e é
pedida uma indemnização- não se vê competência internacional. Só se vê isso quando
o conflito é plurilocalizado (NO TESTE SÃO SEMPRE).
Nos casos metemos:
A, residente em X, …
Passos para a resolução de um caso prático sobre competência

 1º passo: que o conflito é plurilocalizado por isso há que verificar a


competência internacional (há que determinar o tribunal internacionalmente
competente)

 2º passo: quais as regras de competência que vou aplicar?


Imaginemos o mundo mais ideal de sempre que os países são amigos e começavam a
aperceber-se que era uma chatice andar a determinar o tribunal competente,
juntavam-se e faziam um tratado com todos os países do mundo e nesse tratado
faziam uma regra sobre em que país cada tipo de ação devia ser proposta. Assim
nunca havia dúvidas, nunca havia 2 países a querer julgar a mesma coisa. Todos
sabiam que o país competente era onde a ação é proposta- o da nacionalidade do
autor. Assim todos os países estavam de acordo pois todos assinaram o mesmo
tratado. MAS ISTO NÃO OCORRE.
Imaginemos que estamos num mundo em que os países não se dão de todo, não há
cooperação nem tratados. Cada país por si. Se fosse assim, a única alternativa que
tínhamos víamos cada país diz em que casos é que ele próprio aceita a competência.
Ex. portugueses diziam que aceitam competência em casos que ou autor ou réu forem
portugueses e cada país fazia o mesmo. PROBLEMA:
- ex. Portugal fazia uma regra em que dizia que os tribunais portugueses só julgam
ações em que o A é português. Itália fazia uma regra em que em Itália só se julgam
ações em que o R é italiano.
Temos uma ação em que o A italiano e o R português. Zangam-se- o italiano vai aos
tribunais italianos e como é autor não pode. Os tribunais julgar-se-iam incompetentes.
Isto resultaria numa negação de justiça- chama-se a isto um conflito negativo de
jurisdição- sempre que, por as regras não serem coerentes e uniformes, uma pessoa se
encontra na situação de que nenhum tribunal aceita julgar aquela ação.
Situação contrária: situação em que o autor olha para as regras de um país e aquele
país aceita a sua ação e o outro também- conflito positivo de competências- quando
há mais de que 1 tribunal a aceitar julgar uma ação- aqui o autor pode escolher.
Mas não vivemos nem num mundo ideal nem horrível. Vivemos num mundo
intermédio.
Ao mesmo tempo temos regras que cada país definiu para si próprios (art. 62º, 63º e
94º CPC no caso português), temos convenções internacionais e regulamentos
comunitários (1215/2012; 4/2009; 2201/2003 o dos divórcios)
Isto significa que sempre que temos um problema de competência internacional para
resolver, temos vários diplomas com regras de competência internacional
contraditórias entre si
2º passo do caso prático: olhar para os regulamentos, para a convenção Lugano e para
o CPC- neste caso os países envolvidos, matéria envolvida e situação, quais as regras
de competência que vou aplicar? Porque tenho vários diplomas. VER O QUE VOU
APLICAR. CPC, convenção Lugano ou estes regulamentos.
Dentro do passo 2, temos várias leis, vários diplomas. Qual se aplica ao caso?
Estabelecer uma hierarquia.
Se se aplicar o regulamento da UE, já não se aplica o CPC- por causa do primado da UE,
a propósito do art. 8º CRP.

 1º regulamentos da UE;
 Convenção de Lugano ;
 CPC (arts. 62º, 63º e 94º).
Relativamente aos regulamentos:
Distinguimos os 3 em razão da matéria
O que tem o âmbito de aplicação mais amplo- regulamento 1215/2012- começar
sempre por este a menos que o caso prático seja sobre divorcio ou obrigação de
alimentos a crianças. Verifica-se se se aplica o 1215/2012 pelo primado da UE, depois
fazemos só uma ressalva para ver se não são os outros 2.
RESSALVA MAIS IMPORTANTE: se eu concluo que se aplica o regulamento 1215/2012,
aplicar as regras, se os tribunais não são competentes, NÃO SE VAI AO CPC PORQUE JÁ
VI NO PASSO 2 QUE SE APLICA O REGULAMENTO E QUE ESTE PREVALECE SOBRE O
CPC. JÁ NÃO TOCO NO CPC PORQUE REGULAM A MESMA COISA QUE O
REGULAMENTO E ENTRE OS 2 PREVALECE O REGULAMENTO. Um deles tem de
prevalecer.
Quando se aplica o regulamento 1215/2012 e o CPC? CPC aplica-se quando não se
aplica nenhum dos outros. Aplicação do CPC (art. 62º, 63º e 94º) define-se, assim, pela
negativa). Só posso saber se o CPC se aplica depois de afastar todos os outros.
Regulamento 1215/2012:
Para se aplicar têm de se verificar 3 requisitos:
 Âmbito material- pela positiva e pela negativa: art. 1º matéria civil ou comercial
e não vem previsto no nº2 (PODEMOS MESMO DIZER QUE É CIVIL OU
COMERCIAL E NÃO DIZER ESPECIFICAMENTE);
 Âmbito temporal: art. 66º/1, 76º, 81º- ações intentadas (entrar na secretaria)
depois do dia 10 de janeiro de 2015. 2 ressalvas: Antes de 10 de janeiro de
2015 estava em vigor outro regulamento super parecido; não interessa quando
aconteceram os factos, o que interessa é quando a ação entra;
 Âmbito espacial ou âmbito subjetivo : art. 6º/1- uma dor de cabeça este artigo
pois está escrito ao contrário pois em vez de dizer quando o regulamento se
aplica, diz quando este não se aplica. E mesmo assim não diz expressamente
nestes casos o regulamento não se aplica- diz que se aplicam as regras internas
de cada estado. O que resulta deste artigo a contrario é: se o réu tiver domicílio
no EM o regulamento aplica-se; se não tiver não se aplica o regulamento, a
menos que seja uma das matérias enunciadas no art. 6º1, através da remissão
aí operada.
Para ver se regulamento pode ser utilizado vou ver se a matéria é civil ou comercial,
que a ação foi proposta depois de 10 de janeiro de 1015 e que réu tem domicílio num
EM, então o regulamento aplica-se.
Para ver se os nossos tribunais são competentes- até ao art. 26º
Mas o art. 6º/1 fala de 4 artigos e estes últimos têm um problema- são artigos que
respondem à parte 3 do caso pratico- dizem-nos qual o tribunal competente. O art. 1º
diz apenas que o regulamento se aplica. O 6º/1 a mesma coisa: diz que a competência
dos tribunais é regida pela lei- mas não diz onde propor a ação. Mas os referidos no
6º/1 dizem onde a ação deve ser proposta, ou seja, só deviam interessar na parte 3 do
caso prático, MAS o legislador comunitário quando introduziu estes 4 artigos no art.
6º, faz com que estes passam a ter 2 funções:
- se utilizado diretamente- qual o tribunal competente (parte 3 do caso prático);
- se utilizado indiretamente, por remissão do art. 6º/1- (a norma em conjunto com o
6º) dizem qual a lei aplicável (parte 2 do caso prático).
Para o âmbito espacial se preencher há 4 hipóteses: ou o reu tem domicilio em algum
EM, ou nas 3 situações dos arts remissivos do art. 6º.
Exemplo de caso prático: A e B celebram um contrato de CV de um carro. A tem
domicílio no japão, e B em Portugal. A propõe ação contra o B e propõe essa ação em
Portugal. tribunais portugueses são competentes? A pretende que o réu lhe entregue
o carro, portanto o cumprimento do contrato
Os tribunais portugueses são competentes?
- este conflito é plurilocalizado? Se não, pode-se logo dizer que os tribunais
portugueses são competentes; se houver sinais de internacionalidade, elementos
estraneidade temos de ir ver competência internacional.
1º frase do teste- o conflito é plurilozalizado, pelo que tem de se verificar a
competência dos tribunais portugueses, em função da nacionalidade. Para isso, há
vários diplomas potencialmente aplicáveis e temos de ver qual se aplica. Regulamento
215/2012 para ver se se aplica porque, de acordo com o primado da UE, prevalece.
- neste caso, a matéria é civil (contrato);
- depois de 10 de janeiro de 2015
- se o R tiver domicílio num EM- tem, em Portugal logo aplica-se;
Conclui que o regulamento se aplica. Agora vou ao regulamento ver onde a ação deve
ser proposta. Tantas regras, pois, tem regras diferentes consoante o objeto do
processo, consoante o pedido.
Ex. o mesmo caso mas R com domicílio no México. Japonês quer propor ação em
Portugal. pode? Conflito plurilocalizado, temos de ver a competência dos tribunais
portugueses.
Matéria civil, no âmbito temporal a ação é intentada posteriormente a 10 de janeiro
de 2015, e onde foi intentada ação- R tem domicílio no méxico. Ainda não concluo que
não se aplica este art. pois temos de ir ver o 18º/1 (contratos de consumo), 21º/2
(dentro dos contratos de trabalho), 24º (nº1 para ações sobre direitos reais sobre
imóveis, propriedade intelectual, registo, dissolução de sociedades) e 25º (pactos de
jurisdição). Se o R não tem domicílio num EM e não é nenhum caso do art. 6º/1, não se
aplica regulamento e já posso ir ao CPC- art. 62º, 63º e 94º do CPC.

 3º passo: depois de já ter escolhido o diploma certo, ler o diploma e ver qual o
tribunal competente?
Necessidade do 2º passo- 1º confronto com questões plurilocalizadas
Ex. para perceber este “processo”, uma analogia com o direito civil- sofri um dano.
primeiro identifico que sofri um dano, depois qual o regime aplicável (normas da
responsabilidade contratual, extra contratual…), antes de saber a solução temos de ver
em qual dos blocos legais este problema se encaixa- VÁRIAS REGRAS
POTENCIALMENTE APLICÁVEIS. Neste caso temos uma competência internacional para
resolver.

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