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4º ano, Direito – 2021/2022 | Universidade Lusíada - Porto

Direito Internacional Privado – 1º Semestre


(Práticas 2)

04.11.2021
Mohamed e Saïd são cidadãos iraquianos, viveram no Iraque até que fugiram do seu país sendo,
atualmente, refugiados em Portugal. Celebraram matrimónio no Irão – país onde viviam os pais de
ambos – em 1991, por procuração outorgada a cada um dos seus progenitores masculinos nos
termos da lei iraniana, que prevê que o casamento é formalmente válido quando "[...] cada um ou
ambos os nubentes se fazem representar por terceiro na celebração do casamento mediante
procuração [...]". A mesma solução
jurídica é apresentada pelo ordenamento jurídico iraquiano sendo que, não obstante, qualifica esta
matéria como uma questão de validade substancial do casamento.
Em Portugal pretendem, agora, proceder ao registo civil deste matrimónio tendo-se colocado a
questão da respectiva validade atendendo a que ambos os nubentes se casaram por procuração.
Admita que a lei iraniana considera competente para aferir da validade deste casamento, em
qualquer caso, a lei do lugar da celebração do matrimónio e faz referência material, enquanto o
ordenamento iraquiano, também em qualquer caso, considera competente a lei da nacionalidade
dos nubentes e pratica devolução simples.
Diga qual a solução material a aplicar ao caso em apreço.

Este caso tem duas questões que não saem no teste – processo de qualificação em DIP e quanto ao facto
de eles serem refugiados temos a convenção de Nova Iorque, em que se considera a lei da RH e não a lei
da nacionalidade.

Esta é uma matéria de estatuto pessoal, concretamente o matrimónio.


Sujeitos:
 Mohamed – nacionalidade: OJ iraquiano; RH: OJ iraquiano; RH atual: OJ português;
 Said – nacionalidade: OJ iraquiano; RH: OJ iraquiano; RH atual: OJ português.

Facto:
 Matrimónio: OJ iraniano – 1º negócio jurídico;
 Mandato: OJ iraniano – 2º negócio jurídico.

A questão que se coloca é a da validade do primeiro negócio jurídico, o matrimónio.

Portugal é a lei do foro.


Qual é a lei do foro?
A questão que aqui está em causa é a validade formal ou substancial do casamento?
A validade substancial tem a ver com os elementos intrínsecos ao negócio jurídico (capacidade, etc.),
enquanto que a formal tem a ver com os elementos extrínsecos.
Aqui está em causa a validade formal.
Art. 50º - lei do estado em que o ato é celebrado – ou seja, OJ iraniano.

L1 - L2
Lex fori OJ iraniano
Portugal

O OJ iraniano para aferir a validade do casamento considera competente a lei do lugar do casamento, ou
seja, ele próprio.

Então, L2 considera-se competente a si próprio, não há reenvio, e aplicamos L2.

L1 - L2 – L2

Não há esquema de reenvio, a lei a aplicar seria a lei do OJ iraniano!

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11.11.2021
Sillah e Abdul são marroquinos e residem em Istambul. Casaram em Marrocos em 1975 e Sillah é a
2ª mulher de Abdul que era já casado com Vil aquando das segundas núpcias.
Abdul morreu em Portugal, onde se encontrava a fazer um tratamento numa instituição de saúde.
Foi aberta a sucessão de Abdul e discute-se nos tribunais portugueses a sucessão do de cuius, uma
vez que Vil alega – nos termos do ordenamento jurídico marroquino – que, ainda que ela e Sillah
tenham direito à herança do marido, num valor correspondente a 25%, mas os seus filhos – todos
homens – têm direito a metade da herança do pai, e a filha de Sillah só tem direito a 10% por ser
uma mulher.
Quid iuris?

Temos aqui uma situação de matéria de estatuto pessoal, concretamente sucessões.

Sujeitos:
Primeiro o de cuius, autor da sucessão:
 Abdul – Nacionalidade: OJ marroquino; RH: OJ turco;

Agora os herdeiros (não temos grandes informações a este respeito):


 Sillah – nacionalidade: OJ marroquino; RH: OJ turco;
 Vil – nacionalidade: - ; RH: OJ turco.

Facto: morte – OJ português.

Portugal é a lex fori.


Qual é a norma de conflitos aqui aplicável?
Estamos em matéria sucessória, e temos dois tipos e sucessão: legal e por NJ (testamentária).
No caso concreto não temos qualquer expressão de vontade relativamente ao de cuius, pelo que se trata da
sucessão legal.
Quanto à norma de conflitos: art. 62º CC – lei pessoal, arts 25º e 31º - nacionalidade do de cuius, ou seja,
OJ marroquino.

L1 - L2
Lex fori OJ marroquino
Portugal

À falta de indicação, admitimos que L2 se considera competente, pelo que aplicamos a lei do OJ
marroquino.

Introduzindo uma nova questão:


Até agora, quando fazemos isto, aquilo que fazemos, exclusivamente (...).

Parêntese:
Quando demos a estrutura da norma de conflitos, vimos que tem 3 elementos:
 Elemento de conexão – a lei que o legislador, de acordo com uma série de princípios, considera a
mais apta para resolver a questão;
 Conceito quadro – a previsão normativa (a sucessão legal, autonomia da vontade, casamento,
etc, aquilo que nos permite identificar qual a norma de conflitos que vamos aplicar à nossa
matéria de acordo com a identificação da mesma);
 Estatuição – legitimação da aplicabilidade da solução material estrangeira ao caso em concreto.

Como é que nós sabemos isso? Através do processo de qualificação em DIP, ou seja, quando dizemos que
L2 é competente, a única coisa que dizemos é que o legislador considera esta lei é a mais apta. Legitimar

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a aplicabilidade dessa lei no ordenamento jurídico português já é outra coisa, para nós considerarmos que
esta lei e a sua solução material se vai subsumir à nossa norma de conflitos.

Mas como é que se subsume? Não é um processo particularmente fácil. O legislador dá só uma indicação
de como isso se faz no art. 15º.
O exercício de subsunção é difícil no seguinte sentido: normalmente como é que fazemos a subsunção?
Temos factos da vida real e o que fazemos é pegar nos factos, olhar para a previsão da norma, e se
conseguirmos encaixar os factos que precisamos na previsão normativa desencadeamos uma estatuição,
singelamente – quem matar outra pessoa é punido com uma pena de prisão de 8 a 16 anos – aqui
precisamos de uma pessoa que mata outra. Vamos à realidade, procuramos estes factos, subsumimos na
previsão normativa, e legitimamos a consequência, que é a consequência.

Nós aqui temos um problema, tal e qual como vimos no início do semestre: é que nós não queremos
saber, por regra, qual é a solução material, nós queremos é desencadear uma lei que depois lhe vai aplicar
uma determinada solução material, em princípio não queremos saber.

Este processo de qualificação aquilo que faz é um exercício de subsunção. Só que nós não resolvemos
factos, resolvermos escolha de leis. O nosso exercício de subsunção na previsão da norma, que é o
conceito quadro, é a subsunção de uma norma noutra norma. E como se subsume? Temos de interpretar a
solução material desta com o conceito quadro da norma de conflitos, e se o resultado da interpretação for
coincidente dizemos que há subsunção.
Se o resultado não for coincidente, não há subsunção e não legitimamos a aplicabilidade de L2. E depois
o que é que fazemos? Ou vamos à procura de outra norma de conflitos, ou não encontrando outra norma
de conflitos, vamos ver, face à solução concreta, qual é a norma ad hoc que devemos construir, dentro do
espírito do sistema, para legitimar a aplicabilidade da solução material da lei que consideramos mais apta.
Mas isto pode significar que, seja num esquema de reenvio, seja noutro, antes de concluirmos pela
aplicabilidade de L2, passamos para o momento seguinte, que é legitimar a aplicabilidade de L2. Se se
legitimar, aplicamos-lhe a solução material, caso contrário, esquecemos tudo e começamos do zero. E
como é que começamos do zero? Ou à procura de outra norma de conflitos, que depois veremos como,
ou, não encontrando de todo, temos de fazer uma norma ad hoc. E só a partir daí é que esta solução, esta
ou da lei que legitimamos, se pode aplicar efetivamente no OJ português.

Esse é o processo de qualificação que iremos começar a ver na próxima aula (teórica).

Até aqui, o que sabemos é que consideramos a lei mais apta a do OJ marroquino.
A seguir passaríamos para o processo de qualificação, e só depois é que diríamos que aplicamos a solução
material marroquina.
Singelamente, este caso passaria no processo de qualificação. Porquê? Nesta situação em concreto
estamos a tratar de matéria de estatuto pessoal, sucessório, legal.
No caso concreto a solução marroquina trata desta questão como? Como uma forma de repartição da
herança entre a primeira classe de sucessíveis, cônjuge e descendentes.

Isto é uma questão sucessória, então, as duas coisas tratam desta questão como uma forma de sucessão de
direitos e deveres mortis causa e, portanto, os princípios que estão subjacentes à nossa norma de conflitos
e àquela solução material são idênticos, o que permite dizer que eles tratam da mesma coisa e nós
legitimamos a sua aplicação.

Aqui seria muito evidente, mas não sendo, temos de fazer uma interpretação desenvolvida pelo prof.
Ferrer Correia, que é a interpretação teleológica funcional, desenvolvida pelo sistema dos princípios
informadores (?).

Neste momento, nós apontamos para uma lei e não legitimamos a sua aplicabilidade. A legitimação tem
de seguir o tal processo.

Não analisando ainda a questão, admitamos que aplicaríamos a solução material marroquina.
Mas aqui eventualmente temos um problema.
Primeiro, e já sem colocar a questão de ele ter duas mulheres, a sucessão é repartida pelos respetivos
sucessíveis, e nós em princípio não temos nada a ver com isso. Mas esta solução é particularmente
delicada relativamente a quem? A filha, Sillah, por ser mulher, só tem direito a 10% da herança, enquanto
que os filhos homens têm direito a metade da herança.

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Temos um problema de igualdade! Tecnicamente, qual é o problema?


Aquilo que estamos eventualmente a fazer agora é dizer que temos um problema com esta solução, que
em princípio não é um problema para o DIP. Quando é que há, para o DIP, uma problema material na
solução ditada pela lei estrangeira?
Repare-se, se é uma solução diferente da nossa, não é um problema de DIP!
Quais são as situações em que é possível, legitimamente, o julgador impor um limite à aplicabilidade da
solução material estrangeira?
Quando vai contra a ordem pública internacional do estado do foro (DF).
A ordem pública internacional do estado do foro representa o conjunto dos princípios informadores –
conceito aberto, que só se consegue concretizar num caso em concreto – é difícil dizer que há uma
determinada solução que põe em causa ou não a nossa ordem pública, ela tem de ser materializada
necessariamente no nosso caso concreto.

Qual é o elemento que nos permite saber se há ou não eventualmente uma questão de ordem pública
internacional do estado do foro?
Quando há violação de princípios informadores do estado que, por serem informadores, descaracterizam
aquilo que é a perceção da nossa própria ordem jurídica.

Fator ianc (??) – nós não achamos estranho soluções que não sejam aquelas que nós temos. Pode haver
coisas que são diferentes e que estranhamos a forma como elas estão, mas para estarmos na ordem
pública temos que olhar para aquilo e aquilo tem que nos causar repulsa. Isto porque a ordem pública
internacional tem princípios informadores do estado, e muitos deles refletidos na CRP, mas podem ser
infraconstitucionais, que representam aquilo que é uma projeção literal da sociedade num determinado
momento. Quando vemos aplicada determinada solução material dentro do nosso OJ ela tem de nos
causar uma certa repulsa, porque ela põe em causa aquilo que são os nossos vetores principais enquanto
sociedade, que são literalmente vetores morais, mas que são de tal forma relevantes que a própria ordem
jurídica adotou.

Neste caso concreto, claramente temos uma questão de ordem pública internacional. Onde é que ela está
prevista no CC? Art. 22º.
A questão que agora se coloca é: a ordem pública internacional tem princípios informadores e estruturais
daquilo que é o nosso estado de direito. Temos
O princípio que aqui está em causa é o da igualdade.
Mas a igualdade é ou não um princípio informador? Sim, previsto na CRP.
Mas a nossa igualdade é entendida em sentido material, ou seja, não tratamos tudo de forma igual –
tratamos de forma igual o que é igual, e de forma diferente o que é diferente. Sendo que, conforme diz a
própria CRP, a igualdade não pode ser posta em causa, nomeadamente no que respeita a género, raça,
ideologias políticas, religião, língua, etc – art. 13º CRP.

Neste caso temos uma discriminação negativa exclusivamente associada ao género, o que significa que
ela põe em causa um dos princípios fundamentais que é o da igualdade de tratamento independentemente
do género das pessoas.
E note-se, como é evidente, muitas vezes justifica-se, por exemplo no caso do subsídio de amamentação.
Como é evidente, há um fundamento normativo e ético que permite um tratamento discriminatório, mas é
uma discriminação positiva.
Mas neste caso, estamos a repartir direito sucessório pelos descendentes, estamos categorizar
descendentes em razão do género. Ora, isso é uma violação do art. 13º CRP.

A questão que se coloca é: este é ou não um princípio informador do estado? É, como é evidente! A ideia
da igualdade pressupõe que todas as pessoas são tratadas da mesma forma, porque todas elas têm uma
qualidade insuscetível de hierarquização, que é a dignidade. A partir do momento que estabelecemos, em
razão do género, uma determinada hierarquia, nem que seja na distribuição de direitos sucessórios, aquilo
que estamos a fazer é estratificar as pessoas, e isso significa que há umas que são menos dignas do que
outras. E esse princípio que aqui está inerente que é o da dignidade humana é essencial ao estado
português, aliás, ele vem desde a DUDH.
É a qualidade da pessoa que aqui está que não permite qualquer hierarquização ou estratificação.

Esta solução neste caso viola a nossa ordem jurídica internacional e o estado de direito português, um dos
nossos princípios informadores.

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O que é que fazemos a partir daqui?


Temos aqui o princípio do mínimo dano, art. 22º – em primeiro lugar temos de tentar ver, junto da OJ
estrangeira, se conseguimos uma interpretação que permita uma aplicação expurgando o elemento
discriminação. Não sendo de todo possível, aplicamos a lei do foro – L1, a lei portuguesa.
Neste caso não aplicaríamos a lei da OJ marroquina.

A não ser que se verifique o efeito acumulado da exceção de ordem pública internacional do estado do
foro.
Requisitos:
 RJ constituída no estrangeiro – é o caso. Apesar da sucessão ter sido aberta em Portugal, é
meramente ocasional aqui no nosso OJ;
 Não há produção de efeitos jurídicos no OJ português – ou seja, nomeadamente na repartição
desses bens, não há nota que haja algum em Portugal –verifica-se;
 Na ponderação dos efeitos e das consequências de aplicabilidade ou não da OJ estrangeira, há
necessidade de salvaguardar eventuais interesses de terceiros que possam ser postos em causa –
é o caso ou não?

Há alguma parte especialmente vulnerável cujos interesses se imponha salvaguardar, em vez de


aplicarmos na sua máxima extensão a ordem jurídica internacional do estado do foro? Claro que
não! Repare-se, já não se colocaria relativamente à validade do segundo casamento, em que aí o
que fazíamos era, não considerando válido o casamento, retirar à mulher todos os seus direitos
sucessórios. Aí abdicaríamos da nossa solução e aplicaríamos a lei marroquina para aceitar a
validade daquele casamento.
Mas neste caso não – aquilo que estamos a fazer é repartir de forma igual, aplicar o princípio da
igualdade, para que todos os descendentes da pessoa tenham acesso à mesma proporção da quota
relativamente ao pai.

Se eles residissem cá a questão seria diferente, porque a ligação ao nosso OJ não seria meramente
ocasional, e já não se verificava o segundo requisito.
Se fosse apenas a filha a residir cá a mesma coisa. A questão é sempre a ligação à lei do foro.

Então, neste caso concreto, não vamos atenuar o efeito da exceção da ordem pública e vamos aplicar a lei
portuguesa a esta solução no caso concreto!

17.11.2021
Em 13 de julho de 2020 Marie, Francesa, com residência habitual em Madrid, desloca-se a Portugal
para passar uns dias de térias. Ainda no aeroporto Charles de Gaule, e enquanto aguardava pelas
malas, Marie ficou muito incomodada quando outra passageira, Tessa, cidadã Holandesa e com
residência habitual em Barcelona, se tentava aproximar para acomodar a sua mala. Marie,
achando que não estava a ser cumprido o distanciamento social, dirigiu-se a Tessa pedindo-lhe que
não se aproximasse.
Assim que Tessa se aproximou, Marie descontrolou-se e começou a gritar apontando para Tessa e
vociferando entre outras impropérios, “és sempre a mesma cabr@ ladra”, “essa mala não é tua,
estás a roubá-la”, “chamem a polícia que esta tipa está a roubar uma mala”. Gerou-se uma enorme
confusão no aeroporto tendo sido a policia chamada ao local – tal era a forma como Marie
afirmava os factos – para verificar se, de facto, a mala era de Tessa.
Imagine que, perante o sucedido, Tessa quer ser indemnizada por Marie, uma vez que considera
que esta atirou factos, que sabia serem falsos, com intenção de prejudicar o seu bom nome e
reputação, difamando-a publicamente.
Considere que os tribunais portugueses são competente para decidir da pretensão de Tessa, diga
qual a lei aplicável ao caso concreto, admitindo que,
 O direito internacional privado Espanhol considera competente, a lei do lugar onde o facto
ilícito se verificou, praticando o sistema da referência material;
 O direito internacional privado Francês, bem como o Holandês, consideram competente, a
lei da residência habitual da lesada, praticando devolução simples;
 Todos os ordenamentos jurídicos têm, quanto à questão em análise, solução material
idêntica à absolutos deve integrar-se na responsabilidade contratual à portuguesa, com
exceção do ordenamento jurídico francês que considera que a violação de direitos

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Quis iuris?

Sujeitos:
 Tessa – nacionalidade: OJ holandês; RH: OJ espanhol;
 Marie – nacionalidade: OJ francês; RH: OJ espanhol.

Facto: OJ francês

Art. 45º
A conexão é responsabilidade civil extracontratual fundada em ato ilícito.
Nº3 – quando falamos que as conexões têm um conexão meramente esporádico ou eventual relativamente
às partes, vejamos o nº3.

Se, porém, o agente e o lesado tiverem a mesma nacionalidade, ou na falta dela, a mesma residência
habitual, e se se encontrarem ocasionalmente em países estrangeiro – que é o caso – a lei aplicável será a
da nacionalidade ou da residência habitual comum sem prejuízo das disposições do estado local que
devam ser aplicadas a todas as pessoas.
Neste caso concreto vamos aplicar a lei do OJ espanhol.

L1 - L2
Lex fori OJ espanhol

Esta conexão tem a ver com o principio da maior efetividade. Não obstante, apesar de tudo, a maior
ligação individual é que o principio que esta em conflito, e portanto, quando isso acontece sendo
ocasional o principio da maior efetividade então vai prevalecer o principio da maior ligação individual.

O OJ espanhol considera competente o OJ francês

L1 - L2 - L3
Lex fori. OJ espanhol. OJ francês

O OJ francês considera competente. Alei da residência habitual da lesada, ou seja, OJ francês.

L2 faz uma RM a L3 por isso aplica L3.


L3 faz uma devolução simples a L2, faz uma referencia global para L2 e uma referencia material para a
conexão de L2, por isso aplica L3.

Portanto, temos reenvio, temos harmonia jurídica internacional e o reenvio é meio necessário.
Temos um reenvio por transmissão de competências, significa que temos então a exceção do art. 17º.
No termos do art. 17º significa que se o DIP de L2 competir com uma terceira lei e esta se considerar
competente é esta que se aplica – não temos exatamente isto mas já sabemos que temos de fazer uma
interpretação extensiva porque podemos admitir que L3 se considere direta ou indiretamente competente
desde que haja harmonia jurídica internacional.
Art. 17º/1 aplicamos o direito material de L3 a não ser que esteja excecionada nos termos do nº2.
Neste caso concreto, apesar de estarmos no nº3 do art. 45º, e o nº3 nos levar para uma conexão pessoal
em deferimento da maior efetividade, ou seja em deferimento do estatuto do nº1, a verdade é que L2 não
é a lei da nacionalidade, portanto, desde logo não está verificado o que significa que vamos aplicar L3.
Admitimos o reenvio e aplicamos L3.

Processo da qualificação:
Quando dizemos que aplicamos L3 é porque exclusivamente achamos que aquela lei é a mais apta para
resolver aquele problema. Outra coisa é legitimar a solução material que resultou das normas de direito
interno de L3 para resolver aquela questão. Para isso L3, o OJ francês, precisa de passar pelo processo de
qualificação, cuja base estou no art. 15ºCC.
Significa que do OJ de L3 só vamos trazer as normas de direito material possam dizer se aquela senhora
tem direito, ou não, a uma indemnização e como é que se calcula.

Como é que fazemos isso?

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1º - sempre que fizermos estes exercícios de interpretação vamos fazê-los de forma autónoma. Significa
que, sendo verdade que temos de partir dos quadros materiais da lex fori, porque estamos a interpretar um
conceito quadro, uma norma de conflitos que é do OJ português, portanto, temos de manter a coerência
lógica, é preciso garantia que há o mínimo de ligação aquilo que são esses quadros materiais. Não
podemos é fazer com que esses quadros materiais nos reduzam no âmbito de procura das normas de
direito material estrangeiras que vamos trazer para resolver aquela questão.

Conceito quadro do art. 45º - responsabilidade extra contratual. Qualquer âmbito da teoria civil da
responsabilidade está no art. 45º.
Agora vamos fazer esta interpretação de forma autónoma, desprendidos daquilo que são os nossos
próprios institutos jurídicos. E vamos fazê-lo como? Através de uma interpretação teleológica, do prof.
Ferrer Correia, ou seja, temos de encontrar o âmbito da normas de conflitos através do seu conceito
quadro que o legislador teve em mente quando com este conceito quadro determinou que uma certa lei era
competente.
Se levarmos este conceito quadro e chegarmos ao OJ francês não trazemos nada de volta, porque do OJ
francês esta questão é resolvida no âmbito da responsabilidade contratual.
Portanto, se formos à procura do 483º e ss. No código francês saímos da la sem nada porque esta situação
concreta não está la.
Portanto, temos de fazer a interpretação de forma mais ampla.

Como é que interpretamos teologicamente a responsabilidade contratual? Ou seja, o que é que o


legislador tem em mente quando estabelece um instituto jurídico ema eu incute a responsabilidade civil
extra contratual a alguém?
O legislador, com a responsabilidade civil quer reconstruir a situação que existia para o lesado antes da
violação de um direito cujo dever não emerge de uma relação jurídica prévia.
Temos de manter a coerência lógica do nosso sistema, temos que abrir o máximos que conseguirmos o
nosso conceito quadro.
Podemos abri-lo e no elemento teológico temos de manter a garantia da coerência. Podemos ir muito
longe nesta interpretação agora o foco da questão é ressarcir danos, seja por reconstituição natural seja
por compensação, porque a responsabilidade civil, ao contrario da penal, implica necessariamente um ...,
e por outro lado o fundamento desta responsabilidade é a inexistência de uma relação jurídica prévia, por
isso é que temos tendencialmente direitos absolutos no âmbito da responsabilidade civil extracontratual
porque são estes que se impõem erga omnes fazendo recair na esfera jurídica das outras pessoas deveres,
nomeadamente o dever geral de abstenção para não violar esses direitos.

Independentemente do nome que lhe dão o importante é que o que venha de lá consiga responde a este
princípio que o legislador tem em mente nos termos do art. 45º - reconstituir uma determinada situação
jurídica que resulta de um comportamento que violou o comportou de alguém do qual o dever de não
emergir de um facto jurídico prévio, ou uma relação jurídica prévia.
Temos ali um aspeto mais amplo para procurarmos essas soluções no OJ estrangeiro.

Chegamos a esta interpretação do prof. Ferrer Correia e o que é que trazemos? O quid. O OJ francês diz-
nos “tomem la o nosso instituto da responsabilidade contratual que é assim que resolvemos essa questão”.

Agora temos de fazer o que?


2º momento da interpretação – interpretação do quid, que é este instituto jurídico que trazemos do OJ
francês. Esta interpretação feita nos termos do art. 23º.
Não nos dando outra indicação fazemos admitindo que essa interpretação é feita como se fossemos um
jurista em Portugal.
Quando tratamos da responsabilidade contratual o que é que nós queremos? Queremos ressarcir o credor
da violação de direitos cujos deveres emergiram de uma relação jurídica.

Portanto interpretamos o conceito quadro e interpretamos o quid.


Agora, art. 15º. Como é que legitimamos a estatuição da norma que é a aplicação dessa solução material,
como é que ela é legitimada? Se a interpretação que fizermos do quid se subsumir na interpretação que
fizemos do conceito quadro. Se elas se coincidirem podemos concluir que do tudo e da função do quid ele
integra o âmbito da previsão normativa do conceito quadro.
Se concluirmos que não, não conseguimos legitimar a aplicabilidade do direito material estrangeiro.

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A questão que agora se coloca é: os legisladores de DIP português e os legisladores da norma material
francesa tiveram em vista a mesma coisa, os mesmos fins? Eles querem ressarcir danos, mas para um a
questão é necessariamente assumir uma relação jurídica, seja la como é que eles fazem isso no âmbito do
direito, mas a verdade é que eles assumem a existência de uma relação juridicamente. Enquanto o
legislador do OJ português não pensa isso dessa forma, não há uma coerência lógica entre os fins dos
12:24
Significa isto que este OJ francês pelo seu conteúdo e função não integra o conceito quadro da nossa
norma.
O que é que isto significa? Significa que esquecemos isto tudo e voltamos à estaca zero e começamos
tudo de novo.

Começamos por onde? Vamos procura um nova norma de conflito.


A responsabilidade civil extra contratual é a responsabilidade civil extra contratual, é inalterável. Isto para
nós, não significa que esta seja a verdade para o mundo.

Quando falamos da prof. Isabel Magalhães Collaço que nos dizia que o importante no DIP era aplicar a
norma que está mais próxima para cumprir as expectativas das partes.
E a verdade é que quando partimos para isto partimos através de quê? Quando olhamos para isto dizemos
que é um problema de responsabilidade civil extra contratual, mas não vamos dizer que fomos à procura
da resposta de responsabilidade civil extra contratual porque somos juristas portugueses. Se fosse um
jurista francês não ia à procura da responsabilidade civil extra contratual.

Significa que quando nos falha o nosso quadro, as nossas referências e assumindo que a interpretação é
feita de forma autónoma, quando dizemos que isto é um problema de responsabilidade civil extra
contratual fomos ao art. 45º. Mas como os que sabemos que isto é um problema do art. 45º, como é que
sabemos que se subsume no art. 45º? Olhamos para o art. 45º, lemos o conceito quadro que nos diz
responsabilidade civil extra contratual. Mas então o conceito quadro não se interpreta de forma
autónoma?
Ou seja, há aqui um processo de ida e volta relativamente ao conceito quadro. É que de facto nós não
olhamos para o conceito quadro num primeira vez no art. 45º.
A primeira vez que olhamos para o conceito quadro é quando olhamos para a relação material
controvertida e enquadramos no conceito quadro.
Quando olhamos para ali dizemos “ok, violação de direitos absolutos, responsabilidade civil extra
contratual, definir o estatuto” – é a primeira vez que olhamos para o conceito quadro. Depois olhamos lá
para o reenvio e depois precisamos de passar o processo de qualificação, art. 15º, e nos termos deste
artigo temos que ir ao conceito quadro e interpreta-lo de forma autónoma para ir à procura de soluções no
OJ estrangeiro.
Mas, ou há um problema de bipolaridade ou então aquela ideia de interpretação do conceito quadro de
forma autónoma é feita também aqui (aponto par alguma coisa no quadro).
O que é que isto significa? Significa que é verdade que olhamos e dizemos que estamos perante
responsabilidade civil extra contratual e encontramos um conceito quadro, mas não estamos a fazer uma
interpretação de forma autónoma.
Porque olhamos para ali e dizemos que de acordo com o nosso OJ isto é um problema de
responsabilidade civil, mas de acordo com a lex fori de fora, desapegados desta estrutura do OJ
português, vemos outros estatutos jurídicos, nomeadamente o contratual.
Olhando para o contratual a dizer que há outros OJ em contacto com a relação jurídica evidentemente que
tem uma interpretação diferente para encontrar novas normas de conflito. Admitirmos isso para nós
próprios fazermos essa interpretação logo de início de forma autónoma vai-nos permitir chamar a
concurso várias normas de conflito, ou seja, se é verdade que isto é um problema de responsabilidade
civil extra contratual, também é verdade que é um problema de responsabilidade civil contratual.

E encarar isto, é dizer que nós sabemos que de uma interpretação autónoma, ou seja, olhando para ali e
não lhe dando imediatamente uma estrutura de acordo com os nossos próprios institutos jurídicos é, aí
sim, abrir imediatamente os conceitos quadro, não por forma abrir o conceito quadro do art. 45º mas por
forma a conseguirmos encontrar novas normas de conflito.
E se for assim, temos aqui uma nova norma de conflitos.
Se olharmos para ali e dizermos “se eu estivesse em França o meu primeiro momento de interpretação
desta realidade, não como responsabilidade extra contratual mas como responsabilidade contratual, ou
seja, se fosse um jurista francês, este caso era analisado nos termos do art. 41º e não nos termos do art.

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45º”. Significa isto que conseguimos encontrar novas normas de conflito admitindo interpretações da
realidade por forma não só a interpretar o conceito quadro mas para procurar novos conceitos quadro em
novas normas de conflito.

Fazendo esta abertura temos mais normas de conflito a concurso para alem daquelas que escolheríamos
de acordo com as nossas próprias estruturas.
Neste momento ainda não temos uma verdadeira lacuna quanto a normas de conflito e teríamos que
resolver isto no tal âmbito de interpretação autónoma dos conceitos quadro através do art. 41º.

18.11.2021
Mohamed e Said são cidadãos iraquianos, e vivem atualmente em Portugal.
Celebraram matrimónio no Irão – país onde viviam os pais de ambos – em 1991 – por procuração
outorgada a cada um dos seus progenitores masculinos nos termos da lei iraquiana, prevê que "(...]
cada nubente se pode fazer representar por terceiro na celebração do casamento (...]", sendo que,
não obstante, este ordenamento qualifica esta matéria como uma questão de validade substancial
do casamento. A mesma solução jurídica é apresentada pelo ordenamento jurídico iraniano.
Em Portugal pretendem, agora, proceder ao registo civil deste matrimónio, tendo-se colocado a
questão da respectiva validade atendendo a que ambos os nubentes se casaram por procuração.
Admita que a lei iraniana considera competente para aferir da validade deste casamento, em
qualquer caso, a lei da nacionalidade comum e faz referência material, enquanto o ordenamento
iraquiano, para aferir da validade deste casamento, em qualquer caso, considera competente a lei
do lugar da celebração do matrimónio e faz referência material, o ordenamento iraniano
competente a lei da nacionalidade dos nubentes e é anti-devolucionista
Diga qual a solução material a aplicar ao caso em apreço.

Temos um casamento de iraquianos que foi celebrado no Irão por procuração, tanto o nubente como a
nubente foram representados pelos respetivos pais e agora querem validar/transcrever o casamento no
registo civil português e colocou-se a questão da respetiva validade formal. Mais uma vez, esta primeira
parte já resolvemos num esquema de reenvio, então vamos aqui abreviar um bocadinho e tratar dela na
questão da qualificação.

Temos uma matéria relativa ao estatuto pessoal, mais propriamente matrimonial, uma questão relativa à
validade. Temos também aqui uma matéria de estatuto negocial por causa das procurações e, portanto,
temos um contrato de mandato.

Portanto, quanto aos sujeitos, temos relativamente à relação matrimonial Mohamed e Said, temos
nacionalidade comum para ambos (iraquianos) e têm residência habitual em Portugal.
O facto, casamento, foi no OJ iraniano.
Relativamente ao estatuto negocial, ao contrato de mandato, temos os procuradores, os sujeitos relativos à
procuração que são os pais e para informação deles a única coisa que temos é a RH que é o OJ iraniano.

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Somos a lex fori, qual a norma de conflitos que vamos usar aqui? É relativo ao estatuto matrimonial,
portanto, temos o art. 50º, que diz que é competente a lei do estado em que o ato foi celebrado salvo o
disposto no art. 51º, que não se aplica neste caso em concreto. O elemento de conexão é então a lei do
estado onde o casamento foi celebrado e portanto o ordenamento jurídico iraniano.

L1 - L2
Lex fori OJ iraniano
Portugal
O OJ iraniano considera competente a lei da nacionalidade comum, ou seja, o ordenamento jurídico do
Iraque

L1 - L2 - L3
OJ iraquiano

E por sua vez este considera competente a lei do lugar da celebração do matrimonio, ou seja, devolve a
competência para o Irão.

L1 - L2 - L3
O Iraque é anti devolucionista (RM) e o OJ iraniano também.

RM RM
L1 - L2 - L3

L2 considera competente L3 e L3 considera competente o Irão, ou seja, devolve a competência para o


Irão.
São os 2 anti devolucionistas portanto L2 considera competente L3 e L3 considera competente L2. Temos
reenvio, mas não temos HJI, então cessa e aplicamos a regra do art. 16º, ou seja, consideramos
competente o ordenamento jurídico iraniano, por referência material (L2).

Até aqui não temos novidades, mas isto é exclusivamente apontar para o oj que em princípio é o mais
apto para resolver a questão. Agora vamos passar para o processo da qualificação (art. 15º CC).

Temos três momentos que temos que fazer em primeiro lugar: a interpretação do conceito-quadro, temos
que interpretar depois o QUID, e o terceiro momento que é o da qualificação em sentido estrito que é o
momento da integração.

Primeiro, interpretar o conceito-quadro – temos que tentar uma expressão teleológica que dê alguma
elasticidade a este conceito quadro. Então, na forma do casamento, o que é que o legislador teve em
mente para tratar da matéria relativa à forma deste negócio jurídico? Como damos uma interpretação mais
ampla? Quanto estamos a tratar da matéria relativa à forma dos negócios estamos a tratar de quê?

A forma de um negócio jurídico corresponde a todos os requisitos necessários para a produção dos
respetivos efeitos jurídicos, mas assim fica um elemento teleológico muito grande, quando se fala em
requisitos que permitem que um NJ produza efeitos jurídicos, tanto pode ser a validade formal como a
validade substancial. Não nos podemos esquecer que tem que manter uma certa coerência com a lex fori.
Portanto, o legislador no art. 50º só quer tratar de alguns destes requisitos, significa que agora temos que
tratar da questão do formal, portanto, a validade de alguma coisa implica que se verifiquem requisitos
para produzir efeitos jurídicos, e sabemos que a validade pode ser de 2 tipos, formal, ou material, neste
caso é só formal que nos queremos, o legislador aqui só pensou na extensão formal. Quando estamos a
pensar em requisitos que para nós são formais o legislador tem em vista que tipo de requisitos para o NJ?
São todos os requisitos que não estão relacionados com os sujeitos. Os requisitos materiais, esses sim,
tem haver com os sujeitos da relação jurídica, ou com o objeto, mas tudo o que seja para além disso nós
temos exigências de forma.

Portanto, quando nós vamos à procura do que é que o legislador tem em mente, então todos os requisitos
que ele quer ver preenchidos que não digam respeito aos sujeitos da relação jurídica. São elementos
extrínsecos, não intrínsecos ao negócio.

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Então, sendo assim, a interpretação esta feita, e agora vamos buscar nos termos de orientação do art. 15º
as normas de direito material do OJ iraniano que permitem resolver esta questão.

Esta norma diz que o casamento pode ser celebrado por procuração relativamente a 2 pessoas, portanto,
que cada um dos nubentes se pode fazer representar por procuração. É esta norma que vamos trazer para o
nosso OJ, que vamos interpretar nos termos do art. 23º, como se fossemos juristas iranianos. À falta de
indicação o que ali corresponde a cada um dos conceitos jurídicos, é igual áquilo que corresponde em
Portugal.
Pensemos no seguinte, interpretando nos termos do art. 23º, o que é que o legislador iraniano tem em
mente quando estabelece que os dois nubentes se podem fazer representar por procuração?
Para eles é um problema de validade substancial, nesta também se tem em conta os requisitos necessários
para que o NJ produza efeitos jurídicos, só que são requisitos relativos aos sujeitos da relação jurídica, ou
seja, a validade é intrínseca, o que significa que se para nós temos um problema de validade extrínseca, o
OJ iraniano trata desta questão como um problema de validade intrínseca (material). Então agora temos
que fazer um exercício de subsunção. Será que esta interpretação do QUID se subsume ao conceito-
quadro? Não, porque um trata de uma determinada matéria e outro trata de outro, apesar de serem
requisitos de validade eles têm naturezas distintas, o que significa que o seu conteúdo e função não se
integram.

Não conseguindo legitimar a aplicabilidade do OJ iraniano a partir do art. 15º.


Então agora temos que começar tudo de novo, vemos L1 outra vez, que somos nós.

Então, o que temos é que se aquilo que queremos no DIP é afastar-nos o mais possível das nossas
referências internas, então, o que vamos fazer antes de concluirmos que temos uma lacuna? Que não
temos uma norma para lidar com o assunto?
É vermos os restantes ordenamentos jurídicos que estão em contacto com a RJ se pode haver uma forma
distinta de interpretar esta realidade de forma a encontrarmos um novo conceito-quadro. Repare-se, nos
dizemos que isto é um problema de validade formal do casamento, porque para nós, isto é, mas e se
fossemos juristas iranianos?
Nesse caso como interpretaríamos isto? Para nós se fossemos iranianos seria um problema de validade
substancial do casamento.

O que significa que naquela interpretação autónoma, se nos deixarmos afastar da nossa OJ e fizermos
uma leitura geral das várias OJ em conflito, nós conseguimos encontrar uma nova norma de conflitos – a
do art. 49º, que trata das questões de validade substancial, não é para nós, porque isto não é para nós um
problema de validade substancial. Não é para nosso direito material, agora, para legitimar outras normas
de conflito, nós podemos admitir que temos uma interpretação autónoma, encontrar novas normas de
conflito a partir de uma leitura que se faça dos outros ordenamentos jurídicos.
E nos temos o art. 49º que a lei competente é a lei pessoal, que no caso é comum, ou seja, o ordenamento
jurídico iraquiano

L1 - L2
Lex fori OJ iraquiano
Portugal

Que por sua vez considera competente a lei do facto,


L1 - L2 - L3
OJ iraniano

E o Irão por sua vez considera competente a nacionalidade dos nubentes


L1 - L2 - L3

E ambos fazem referências materiais.


RM RM
L1 - L2 - L3

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Eles têm a mesma conexão, se repararmos no caso prático temos que ter atenção com aquilo que diz, para
aferir a validade do casamento. Em qualquer caso, validade formal ou substancial, eles têm as mesmas
posições quer quanto à lei quer quanto às conexões.
Se eles tivessem conexões distintas avaliaríamos conforme estivéssemos a tratar da validade substancial
ou da validade formal.

Significa o quê? Que L2 considera competente L3 e L3 considera competente L2 e neste caso


consideramos competente o ordenamento jurídico iraquiano nos termos do art. 16º porque não há HJI,
então agora voltamos a começar.

Art. 15º: vamos primeiro fazer a interpretação do conceito quadro do art. 49º - qual é o conceito quadro?
Capacidade para contrair casamento ou celebrar convenções antenupciais.

Como é que isto se interpreta? Este próprio conceito quadro já é muito redutor até para nós, neste caso
nós temos a validade substancial em geral, mas então tem o que?
Todos os requisitos para a produção de efeitos jurídicos relativos com os sujeitos, portanto, a validade
intrínseca relativa à relação.
Agora vamos ao ordenamento jurídico iraquiano procurar a lei que é idêntica à iraniana, portanto, cada
nubente pode-se fazer representar por terceiro e eles tratam isto como um problema de validade
substancial. Interpretamos o quid como iraquianos, ou seja, nos termos do art. 23º, que diz que a validade
substancial diz respeito aos requisitos necessários para a produção de efeitos jurídicos relativos aos
sujeitos da RJ, portanto, uma validade intrínseca, artigo 15º - processo de subsunção.

E agora? Esta interpretação do quid subsume-se ou não neste conceito quadro?


Sim, o que significa que neste caso aplicamos o ordenamento jurídico iraquiano e não temos nenhuma
situação de lacuna da lei, apesar de para nós isto não ser um problema de validade substancial, mas com
isto conseguimos a tal leitura formal de acordo com DIP, conseguimos enquadrar as normas de conflito e
dar uma grande abertura às nossas próprias normas de conflito, para não só serem aplicadas normas de
direito material estrangeiro, independentemente dos nossos quadros, como na própria escolha das próprias
normas de conflito.
Neste caso concreto vamos resolver o problema pelo art. 49º, vamos aplicar o ordenamento jurídico
iraquiano, com base neste conceito quadro que passa neste processo de qualificação.

Qual é problema? O problema é, se isto é assim e no nosso caso resolvemos porque pelo art. 50º não
conseguimos passar no processo de qualificação, o único outro artigo que conseguimos despoletar é o art.
49º que passou no processo de qualificação, tem um único OJ e a questão está resolvida.
O problema é nos não vamos só a outros ordenamentos jurídicos procurar novas normas de conflitos
quando a nossa escolha da norma de conflito falhou, isto significa que nós até agora temos identificado
cada um dos estatutos, cada uma das normas de conflito, mas estamos completamente agarrados áquilo
que é uma interpretação dos conceitos quadros de acordo com a lex materialis fori, ou seja, nós olhamos
para lá e dizemos que é um problema de validade formal, e ponto acabou-se e andamos por ali fora.

Mas já sabemos que essa interpretação, mesmo da matéria de facto não pode ser só feita de acordo com os
nossos quadros, tem que ser como agora fizemos. Isto significa que a nossa interpretação daquela situação
como validade formal, é uma das possíveis, mas não é a única nem que se sobrepõe às demais por sermos
a lei do foro, ou seja, mesmo que concluíssemos que o art. 50º passava no processo de qualificação, a
partir do momento que tem outra lei que enquadra aquela matéria numa questão de validade material e
nós conseguimos despoletar outra norma de conflito, temos que testar também essa.

E depois pode acontecer o seguinte, se só sobra uma, o assunto está arrumado, mas se tivermos 20
interpretações diferentes e 20 normas de conflitos temos que fazer uma para cada uma, e depois das 2
uma, ou só sobra uma, ou não sobra nenhuma depois de tanto trabalho, ou sobram várias e sobrando
várias o problema é exatamente o oposto, temos que conseguir escolher uma das interpretações de acordo
com os princípios de DIP.
Mas agora o momento a reter é que a partir de este momento interpretamos a matéria de facto de acordo
com aquilo que são as nossas estruturas (art. 50º) e temos que olhar para o CP para ver se dali não vem
outra norma de conflito, e temos que fazer para cada uma das normas de conflito todo o processo, mesmo

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que num primeiro momento achemos que aquela norma passa no processo de qualificação, não interessa,
temos que ver se as outras também passam.
Pode surgir um conflito positivo, um negativo ou então ficar só uma. É particularmente importante isto
porquê? Porque a interpretação de forma autónoma não dá à lei do foro nenhuma primazia na sua própria
interpretação da realidade de facto.
O que é que isto significa? Significa isto que o facto de ser uma interpretação autónoma e de qualquer
uma ser elegível para escolher as normas de conflito, a nossa é uma entre as demais, o que significa que
temos que fazer para todas.

24.11.2021
Antónia, portuguesa, residente no Brasil, outorgou um testamento neste país, em que ficou
exarado: (...) respeitando o disposto no art. 1846º do Código Civil Brasileiro, ou seja, a parte
legitima de suas filhas, e, podendo, portanto, dispor da metade de seu património, a chamada parte
disponível, pelo presente testamento, a Outorgante Testadora, quer e determina que após o seu
falecimento a parte disponível do seu património no Brasil (...) fiquem para sua filha (...)
Antónia tem três filhas, com dupla nacionalidade – brasileira e portuguesa – que sempre vivem no
Brasil, tendo visitado Portugal algumas vezes e sempre em férias.
Após o falecimento de Antónia, as duas filhas preteridas no testamento invocam, nos tribunas
portugueses, a invalidade formal e substancial do testamento, uma vez que, por um lado, o
testamento foi celebrado pelo punho da testadora, sem qualquer intervenção de entidade pública ou
dotada de fé pública (sendo documento particular).
Considere que,
a. Em qualquer caso, o OJ brasileiro considera competente, para qualquer questão sucessória
por via de testamento, a lei do lugar da celebração do testamento;
b. No OJ brasileiro o testamento é formal e materialmente válido (tendo os regimes princípios
idênticos aos do OJ português).

Matéria de estatuto pessoal, concretamente sucessório, neste caso através do testamento.


Temos aqui que conexões quanto ao de cuius?
 Nacionalidade: OJ português; RH: OJ brasileiro.

Temos depois as herdeiras (3 filhas):


 Nacionalidade: OJ português e brasileiro; RH: OJ brasileiro O facto: OJ brasileiro.

Esta é uma relação jurídica relativamente internacional, sendo L1, o OJ português, a lex fori, porque é
onde se coloca a questão da validade.
Temos duas questões para resolver: a questão da validade formal e a questão da validade material deste
testamento.

Vamos começar pela validade formal do testamento.


Quanto a isto, qual é a conexão? Art. 65º CC, sendo a conexão a lei do lugar onde foi celebrado ou a lei
pessoal do autor da herança.
Temos aqui o princípio da maior proximidade e o princípio da maior ligação individual, respetivamente.
O que fazemos em relação a isto?
Claramente temos aqui conexões alternativas! O legislador aquilo que diz é, e normalmente é o que
acontece que as questões relativas à validade formal que não estiverem sujeitas ao principio da liberdade
de forma, portanto sujeitas a uma determinada forma legalmente prevista, que geralmente quando não
verificada é culminada com uma nulidade, significa que há um conjunto de interesses públicos, quer seja
a proteção de terceiros, quer seja quantos aos efeitos do registo por exemplo, que a lei do lugar da
celebração daquele ato jurídico quer salvaguardar e na ponderação dos dois, nesse caso o legislador vai
proteger a lei jurídica ou a lei do lugar onde o ato foi celebrado.

Curiosamente, no art. 65º, ele assumindo que na questão de validade formal o princípio que lhe está
subjacente, independentemente do tipo de conexão, é a maior proximidade relativamente ao facto, a
verdade é que aqui está num conflito alternativo com a maior ligação individual
Porquê? Não é estranho?
Se disséssemos que escolhíamos a primeira, até porque a segunda é a maior ligação individual, então
Portugal considerar-se-ia competente e assim teríamos uma invalidade relativamente a este negócio
jurídico, porque na panóplia de formas legalmente exigidas esta não é uma delas. Portanto, temos o
testamento público, que é outorgado num notário, ou então, na pior das hipóteses teremos um testamento

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cerrado que pode ser lavrado pelo próprio autor da sucessão, mas não obstante é preciso cumprir uma
série de requisitos formais. Agora fica-se na dúvida como se chega à conclusão que a escolha entre as
duas conexões, que depois se inclua aqui o princípio do favor negotti para desempatar as duas.

Imaginando que são as duas formalmente válidas, que se ambas tornarem o negócio valido, como se
escolheria? A Isa disse que nesse caso se iria pela hierarquia de princípios, pelo princípio da maior
ligação individual, sendo que a Marisita questionou porque é que então tínhamos falado do favore negotti,
dizendo que não discorda, que se fosse noutro âmbito que não a questão sucessória tenderia a concordar,
porque tendo duas conexões e tornando uma o negocio valido e a outra o negocio invalido, e se elas são
alternativas, dentro daquilo que é a ordem jurídica e os princípios subjacentes à ordem jurídica
portuguesa, que necessariamente contaminariam o próprio direito internacional, que é o aproveitamento
máximo dos NJ, mas a verdade é que o legislador o faz aqui e não tem essa preocupação nos outros.

É verdade que nos outros até pode ter o art. 19º ou o art. 31º/2, mas agora fica a curiosidade quanto à
introdução desta questão aqui no art. 65º, ele não tem essa preocupação noutros. Por exemplo, no artigo
50º, diz lei do lugar onde o ato foi celebrado e depois não tem nenhuma conexão alternativa, mas no art.
65º sim.

O que temos aqui no art. 65º, que no art. 50º o legislador já não teve essa preocupação? Na pior das
hipóteses tem o art. 19º, o art. 31/2 ou qualquer outra coisa, mas no artigo 65º para este ato jurídico em
concreto, começou logo, alegadamente, a tratar da questão do favor negotti, porquê? Em direito das
sucessões, as partes podem dispor da sua quota disponível, se dispuserem mais há redução por
inoficiosidade.

E depois o que acontece ao negócio se ele não for substancialmente válido? Ou seja, se as partes
dispuserem mais do que podem, reduz-se, e se o negócio padecer de um vicio formal a consequência é a
validade. Mas depois havia um mecanismo no direito das sucessões, que era desde que a vontade do autor
da sucessão tivesse o mínimo de correspondência, desde que se conseguisse extrair a real vontade do
autor, tinha que manter o principio de forma, não pode ser oral por exemplo, mas aproveitava-se ao
máximo o negócio jurídico, desde que tivesse o mínimo de correspondência com a vontade conjetural do
autor, porque este negócio é irrepetível.
Ao contrário de todos os outros, em que possível refazer o negócio se a parte quiser, no testamento já não
é possível isto, portanto, o esforço acrescido do legislador a tornar válido este negócio é porque quando
normalmente se descobre da respetiva invalidade o respetivo declaratário já não pode voltar a repetir a
declaração, e por isso é que no art. 65º (e aqui se denota mais uma vez a coerência logica do sistema) o
legislador introduziu aqui especificamente o principio do favor negotti, no afloramento que tem no CC
relativamente à questão dos testamentos. E por isso, nessa escolha evidentemente também, ao contrário
do que acontece nos outros NJ, neste caso tem várias conexões alternativas e pode escolher a que quiser,
desde que aquela que escolha de entre as varias permita a validade do negócio jurídico.

Portanto, neste caso concreto escolhemos o local onde o ato foi celebrado – OJ brasileiro.
L1 - L2
Lex fori OJ brasileiro
Portugal

Que neste caso, considera competente a si próprio, portanto neste caso concreto como não há reenvio,
aplicaríamos L2 nos termos do art. 16º.

L1 - L2

Só que temos um problema agora, que é o nº2 do art. 65º - é tipicamente uma norma de direito material,
que diz que se, porém, a lei do autor no momento de a declaração exigir sobre pena de nulidade ou
ineficácia, a observância de determinada forma, ainda que o ato seja praticado no estrangeiro, será a
exigência respeitada.

E então qual é a lei pessoal do autor da herança? Nacionalidade – Portugal, e Portugal diz relativamente a
estes testamentos hológrafos que são nulos. E agora? É então válido ou inválido? Se temos L2 não
conseguimos andar a aproveitar negócios jurídicos, o art. 19º seria para fazer cessar o reenvio se fosse
invalido.

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Agora a questão é: o que se faz com a lei portuguesa no caso concreto, o testamento é válido ou inválido?
Aplica-se a lei brasileira, mas tem que se incluir os requisitos de forma que a lei portuguesa impõe para
este testamento que são culminados com a nulidade – temos alguma solução ou não?
Alguém perguntou se não era o 31º/2? E a prof. Marisa disse: “é que lei pessoal por lei pessoal nós temos
a nacionalidade que é a regra e ponto final, mas temos de facto uma alteração da conexão nacionalidade
para RH quando estão subjacentes questões de invalidade ou de invalidade dos NJ”.
A questão que agora aqui se coloca é, se nós conseguimos, (literalmente será particularmente difícil de
fazer), mas se conseguimos ou não fazer aqui uma interpretação ao art. 31º/2 em que a nossa conexão
pessoal passa a ser nacionalidade ou RH.

É que se passarmos para a RH repare-se que temos o seguinte:


A nacionalidade considera o negócio inválido, e a RH considera válido. É basicamente este o pressuposto
que encontramos no art. 31º/2. A questão que se coloca é se podemos ou não.
Temos desde logo aqui um requisito: o negócio foi celebrado no brasil, país da RH que considera o
negócio válido.
E depois temos que este país, como RH, se considera competente, requisito que também se verifica. E
então temos ou não? Repare-se que temos aqui uma questão que é, estamos a determinar, desde logo o
que temos que fazer primeiro é, o art. 31º/1 é norma complementar do art. 25º, portanto, a primeira coisa
que temos que concluir, então, é que estamos numa matéria de estatuto pessoal.

Mas repare-se, ao contrário das típicas situações de matéria de estatuto pessoal, porque o art. 25º diz:
relativamente ao estado dos indivíduos, capacidade de pessoas, relações de família e as sucessões por
morte, é regulada pela lei pessoal, portanto, nós temos que se aplicássemos aqui o art. 25º, teríamos uma
situação de que? Portugal ???

Mas aqui para L2 não temos a lei da nacionalidade. É verdade que o art. 25º regula toda a matéria de
estatuto pessoal e diz que ela é competente nos termos do art. 31º/1 a lei da nacionalidade, mas repare-se
que temos uma lei especial quanto a esta matéria que atribui uma conexão, que até é diferente daquela que
resulta do art. 25º.

Agora a questão que temos que coloca é, se L2 tem que ser a lei da nacionalidade e nós subtraímos esta
pela lei da RH, ou podemos ter mais alguma coisa?

É porque se partirmos deste pressuposto que aqui está, então nunca vamos conseguir aplicá-la porque é
verdade que L2 é a lei da RH, coincidentemente, mas ela neste caso concreto foi chamada por ser a lei da
celebração do NJ.
Ou seja, o artigo que diz qual é a lei pessoal é o art. 31º/1, porque apesar de virmos do art. 65º porque
temos matéria de estatuto pessoal, estamos no âmbito do conceito quadro geral do art. 25º, que nos diz
que a lei pessoal é a lei da nacionalidade.
Agora, apesar de estarmos em matéria de estatuto pessoal, o legislador, não obstante, nesta situação em
concreto escolheu uma conexão diferente da nacionalidade, escolheu a lei do lugar da celebração do NJ.
Agora, a pergunta é, é verdade que os requisitos estão todos verificados, o negócio é perante a
nacionalidade inválido, perante a lei da RH válido e o negócio foi celebrado no âmbito da OJ brasileira e
estamos a tratar de matéria de estatuto pessoal – agora, não temos é este típico esquema, ou seja, L1 não
remeteu para a lei da nacionalidade, que considera o negócio inválido e nós vamos trocar a conexão
nacionalidade por RH, para aplicar a OJ brasileira.
L1 considera competente L2 como lei do lugar da celebração do NJ, e nem esta, nem aquela estão no
esquema de reenvio enquanto tal. L1 é verdade que é a lei da nacionalidade, mas neste momento é aqui
como L1, exclusivamente a lex fori, e L2 apesar de ser a lei da RH é a lei do lugar da celebração do
negócio, portanto, a questão que se coloca é nós podemos levar a alteração da conexão pessoal nos termos
do art. 65º, e trocar quando nos diz no nº2 se a lei pessoal exigir mais requisitos de forma, eu posso dizer
que a lei pessoal é a lei da RH? E, portanto, aplico-lhe esta interpretação do art. 31º/2, ou de todo não se
pode fazer isso? Porque L2 não é a lei da nacionalidade.

Repare-se que literalmente não está lá, literalmente temos L1 a chamar L2 que é a lei da nacionalidade,
depois comparamos os regimes e trocamos conexão nacionalidade, por conexão RH. Esta questão é
particularmente curiosa nomeadamente no art. 65º porque tem conexões diferentes, mas repare-se, vamos
fazer o seguinte, imaginar que neste caso concreto escolhemos nos termos do art. 65º/1 a conexão lei
pessoal.

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Qual é a lei pessoal? Nacionalidade, e aí como é evidente o art. 65º 2 já está absorvido pelo art. 65º/1
porque tem particulares exigências e nós considerávamos o NJ inválido, e agora já conseguimos aplicar o
art. 31º/2? Aqui já, aí faríamos o que? Se levássemos isto então trocávamos a nacionalidade pela
residência habitual e faríamos assim.

L2 – Brasil e L2 considera-se competente e o negócio seria válido, agora a questão é se voltarmos a


alterar a conexão do art. 65º/1, não se aplica agora o art. 65º/2 outra vez? É que, denote-se, aqui
consideramo-nos competentes, o NJ é inválido, vamos a correr para o art. 31º/2 e trocamos a conexão lei
pessoal pela lei da RH, só que se fizermos isto, depois o que acontece é que se voltarmos ao art. 65º, que
foi de onde viemos, nós há bocado não tínhamos aplicado o nº2 porque a conexão do nº1 era igual às
exigências que estavam no nº2, só que a partir do momento em que alteramos a conexão do nº1,
necessariamente, voltamos a chamar o nº2 do art. 65º, ou seja, voltamos a exigir os requisitos e voltamos
a aplicar o art. 65º/2 e o negócio é válido porque aqui a lei pessoal é a lei da RH.
De facto, se tivermos aquilo, mudamos a conexão nacionalidade para a RH e dizemos assim: bom se é
assim, como mudamos para OJ brasileira significa o quê? Que há bocado não aplicávamos o art. 65º/2
porque este trata da lei pessoal e nós agora alteramos a conexão do nº1 de nacionalidade para lei da RH, o
que é que isto significa? Que se é assim voltamos a ter outra vez o art. 65º, exceto o nº2, que há bocado
não aplicávamos porque não era necessário porque tínhamos nacionalidade no nº1 e nacionalidade no nº2
e como é evidente os requisitos do nº2 teriam que se aplicar o nº2, e nós dizemos assim: bom, mas agora
alteramos a nacionalidade para a lei da RH, e sendo assim fazemos o que?
Vamos olhar para o art. 65º e como já não temos a nacionalidade porque estamos a usar a conexão do art.
31º/2, voltamos a chamar o artigo que? art. 65º/2, que nos diz que serão atendíveis às exigências relativas
à lei pessoal.
Só que agora lei pessoal para todos os efeitos deste caso pratico deixa de ser a nacionalidade e passa a ser
a lei da RH e, portanto, o negócio é válido.
Isto só é possível com as tais interpretações extensivas, mas que de facto, dentro daquilo que é a
coerência do sistema, faz sentido e ela faz parte da ratio legis associada ao art. 31º/2, que é aproveitar o
conflito entre 2 conexões, independentemente de qual é a lei aí e das exigências particulares que cada
uma delas tem, é aproveitar ao máximo.

Isto está de acordo e é coerente com o quê? Com o próprio art. 65º, claramente o nº2 do art. 65º, e
pensemos um bocadinho: se o legislador no art. 25º estabelece como lei pessoal principal a nacionalidade,
mas nos termos do art. 31º/2 admite, em matéria de estatuto pessoal, que no conflito entre a nacionalidade
e a RH se dê prevalência à RH se o NJ for válido.
Reparemos, lembrando-nos do início do CP, no art. 65º/1, estão conexões alternativas porquê? Porque o
legislador quer perseguir ao máximo a validade do NJ. Faria pouco sentido agora vir dizer: bom, mas no
caso de conflito com a lei da nacionalidade, o NJ é inválido, e aí diríamos: mas então para que é que está
lá o nº2 a fazer?
Claramente que o nº2 tem que estar fora do âmbito daquilo que é a regra ou a ratio legis do art. 31º/2, que
é todas as situações em que um português faz um negócio jurídico no estrangeiro que não seja o da sua
RH, ou seja, há uma fuga do de cuiús português ao estrangeiro para fazer um NJ que o seu OJ não lhe
permita.

É verdade que é por uma interpretação extensiva, agora, é uma conclusão logica de implementação
daquele sistema. Porque é que a lei pessoal se exige especiais requisitos de forma se imporia quando é a
própria lei da RH que coincide com o lugar da celebração do NJ que considera o negócio válido? Nos
termos do art. 31º/2 nós estaríamos a fazer uma interpretação completamente contraditória aquilo que o
legislador quer, que é o que?
Entre 2 conexões pessoais, o conflito entre elas as duas quanto à validade ou invalidade, o que desempata
é o que favorece o NJ. Ora se no art. 65º o legislador até tem especiais preocupações porque estamos a
tratar de um NJ mortis causa, irrepetível, faria pouco sentido que nesse caso em que é mais agravado até
que a regra do art. 31º/2, nesse caso, em caso de conflito entre a lei da nacionalidade e a lei da RH o
legislador estivesse sempre a ponderar na lei da nacionalidade, quando no nº1 ate da varias opções para
prosseguirmos a validade do NJ, portanto, nesta situação nós vamos aplicar o OJ brasileiro, mas a partir
daí, é preciso ter atenção porque a resolução desta questão de validade formal, a lei pessoal é sempre a lei
da RH portanto, não é verdade que se altere depois a conexão, porque ela passou a ser para todos os
efeitos a RH. Portanto, interpretação do art. 31º/2, este testamento é valido.
No art. 31º/2 quando diz RH pode então ser direta ou indiretamente competente para a questão da
validade formal. Agora como vamos tratar por exemplo da questão da validade material, voltamos à
nacionalidade.

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Agora faríamos o que?


Art. 15º
Processo de qualificação:
Primeiro interpretaríamos o conceito quadro do art. 65º, que se refere a todos os requisitos de validade
extrínsecos a esta relação jurídica, que determinam a produção dos respetivos efeitos jurídicos.
Vamos procurar o quid no OJ brasileiro, que interpretamos nos termos do art. 23º.
No caso concreto, ele é exatamente igual, tem uma posição idêntica, e os princípios são iguais aos do OJ
português, portanto, eles têm lá requisitos de forma relativos ao testamento. Interpretamos que se o
princípio é o mesmo, o que o legislador brasileiro quis foi estabelecer os requisitos de validade extrínseca
ao NJ que neste caso é o testamento.
Passamos para o processo de subsunção, se o quid, com o seu conteúdo e função, ou seja, se os princípios
orientadores são os mesmos se subsume no conceito-quadro, e, portanto, neste caso concluiríamos que
sim, portanto legitimamos a aplicabilidade da solução material brasileira.
Portanto, formalmente válido ele é, agora, materialmente válido?

Elas agora dizem ok, ela podia fazer lá aquilo, mas não podia deixar tudo para uma das filhas.
Somos outra vez lei do foro e neste caso concreto a norma de conflitos é o art. 63º que á capacidade para
modificar, no art. 62º caberia toda a sucessão que não esteja especialmente regulada nos artigos seguinte,
e portanto, temos a sucessão legal e a negocial. É verdade que temos os arts. 63º e 64º e este claramente
com um âmbito muito curto neste conceito-quadro. Agora repare-se, consegue-se facilmente distinguir
entre o art. 63º e o 64º.

No art. 64º, vamos fazer interpretações quanto a dúvidas relativas à expressão de vontade do testador que
não é o caso.
O art. 63º fala na capacidade para testar, mas na capacidade para testar inclui-se o quê, na interpretação
do conceito-quadro? Os requisitos de validade intrínseca ao próprio negócio jurídico que inclui
nomeadamente o efeito do âmbito do testamento. Portanto, vamos aplicar aqui o art. 63º. Nos termos
deste artigo, é a lei pessoal, ou seja, a nacionalidade, a lei portuguesa. Portanto, não há reenvio,
consideramo-nos competentes, a questão fica resolvida.
E agora? O testamento vai ser reduzido por inoficiosidade ou não? Temos claramente, outra vez, a
situação do art. 31º/2, se consideramos ou não a lei pessoal a da nacionalidade ou da RH. Neste caso é
mais simples, no âmbito do art. 25º, a nacionalidade considera o negócio jurídico inválido, a da RH
considera o negócio válido e considera-se competente.
Repare-se, abreviando, passa também pelo processo de qualificação sem grandes interpretações
relativamente a isto.

Assim, consideramos o negócio válido? O art. 31º/2 está verificado, ordem jurídica a brasileira, ela pode
deixar metade da sua herança a uma filha, a QD dela é nesta proporção. Nós deixamos, assim? A colocar-
se aqui alguma questão, seria uma questão de quê, eventualmente? Portugal, nesse caso, também aceita,
se eu deixar 1/3 da minha herança, não há problema nenhum, eu deixo a quem quiser.
Então, é um problema de quê? Para não aplicarmos a ordem jurídica brasileira em concreto, tinha que
haver um limite à aplicabilidade do direito estrangeiro, tinha de haver o quê? A ordem pública
internacional, nos termos do art. 22º CC.~

Porque repare-se, esta é uma questão de família que não estando posta em causa, resta saber se a
distribuição que o legislador faz daquilo que é a QD que o autor da sucessão tem e aquilo que impõe
deixar aos seus descendentes filhos, ou não, se consubstancia um princípio informador do Estado
português. Se considerar, então metade é demais.
A verdade é que se coloca esta dúvida, não nestas proporções, quanto a isto, a regra é que interpretamos
que as pessoas, após a morte, possam dispor do seu património da forma que entenderem. De facto, e isso
é um princípio para o Estado Português, o legislador, dentro daquilo que é a capacidade das pessoas
disporem dos seus bens, livremente, fazendo o que quiserem, tem especiais cautelas quanto a essa
possibilidade, mesmo contra a vontade do seu titular, quando em causa está a proteção do património
hereditário da família, sendo que a família é uma instituição fundamental da República portuguesa.

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A proporção, mormente, não costuma suscitar grandes dúvidas relativamente à ordem pública
internacional do Estado do foro. Já se duvida desta questão, quando no OJ estrangeiro, não há herdeiros
obrigatórios. Ou seja, o autor da sucessão tenha filhos, mulher, pode deixar a quem quiser o seu
património, independentemente da quantidade de filhos que tem. De facto, a questão coloca-se nas
situações em que é possível deserdar, em absoluto, os herdeiros.
A tendência tem sido, não obstante, não interferir nessa situação, sobretudo porquê? Apesar de na
doutrina se discutir isso, há uns anos, Portugal foi herdeiro de um senhor, bem como foi constituída em
Portugal uma fundação muito importante e todo o dinheiro foi deixado a essa fundação, em detrimento de
todos os filhos, que foi o senhor que deixou ao Estado Português, poços de petróleo, foi o senhor Calouste
Gulbenkian.

Na altura colocou-se junto do Estado português esta questão, porque o senhor tinha dupla nacionalidade e
os filhos não herdaram nada e foi a fundação que ficou com todo o património. A partir daí, tem sido
tendencialmente aceite, apesar de o património hereditário ser um elemento estrutural da própria família,
não se considerar, de facto, um princípio informador do Estado português. Não obstante, podemos
discutir da forma que o entendermos, na situação, mais uma vez, de haver a total possibilidade de,
voluntariamente, deserdar herdeiros legitimários. Nas situações de proporção, essa questão não se coloca
e é mantido o património hereditário, a proporção é que é discutida. Neste caso em concreto, aplicaríamos
a OJ brasileira sem qualquer problema e depois não iríamos obstar à aplicabilidade em toda a sua
extensão com exceção da ordem jurídica internacional do Estado do foro.

25.11.2021
Não deu aula.

02.12.2021
António, espanhol, residente habitualmente no Perú, perfilhou Concha, sua filha, na Argentina –
local onde se encontrava temporariamente quando soube do seu nascimento –, em 2016, quando
tinha 14 anos de idade. Concha, tem dupla nacionalidade – é chilena como a mãe Guadalupe e
portuguesa como a avó Carmen – e residia (e reside) com a mãe em Santiago (Chile).
Carmen, residente em Estarreja, propôs, em 2017, nos tribunais portugueses uma ação – ainda
pendente – com vista a declarar a invalidade da perfilhação por falta de capacidade de António.
Tal ato é inválido, por falta de capacidade, de acordo com as disposições de direito material dos
ordenamento jurídicos espanhol e peruano, mas válido perante o direito material argentino e
chileno.
Suponha que,
a. Os direitos peruano e argentino consideram competente a lei do lugar onde a ação foi
proposta;
b. O ordenamento jurídico chileno considera competente a lei do lugar onde o ato foi
celebrado;

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c. O ordenamento jurídico espanhol considera competente a nacionalidade comum dos


progenitores e, caso não haja coincidência, a lei da residência habitual do filho;
d. O ordenamento jurídico chileno pratica devolução simples; os ordenamentos jurídicos
argentino e espanhol praticam devolução dupla.

Admita que
*Independentemente da solução material concreta quanto à capacidade, considere que as disposições legais de cada um dos ordenamentos jurídicos em
contacto com a relação jurídica descrita, se inserem no código civil de cada país de forma similar à que se verifica no OJ português.

Validade da constituição de reconhecimento de filiação.

António – nacionalidade: OJ espanhol; RH: OJ peruano


Filha – nacionalidade: OJ chileno e português; RH: OJ chileno
Mãe – nacionalidade: OJ chileno; RH: OJ chileno.

Facto: ato de perfilhação: OJ argentino

A questão está em Portugal, portanto, nos tribunais portugueses coloca-se a questão da validade deste ato
de reconhecimento de um ascendente biológico para estabelecer a filiação em linha lateral ou em linha
reta, por isso somos a lex fori, ainda que a relação jurídica seja relativamente internacional porque a filha
tem dupla nacionalidade e uma delas é portuguesa.

Norma de conflitos é a validade do ato jurídico que permite estabelecer e ver reconhecida a relação de
parentesco, que é o ato de perfilhar – art. 56º questão da capacidade de perfilhar se subsume num
conceito quadro do art. 56º
Se não fosse o art. 56º qual é que seria a norma de conflitos?
Temos que ver se ele tem capacidade para perfilhar ou não, sozinho em Portugal? Não, ele tem 14 anos.

Se não fosse o art. 56º, se não fosse pelo art. 56º que nós vamos determinar qual é a lei para saber se
alguém tem ou não capacidade para perfilhar, haveria mais alguma norma de conflitos no CC que nos
permitisse? A regra geral, no que tange as relações com o âmbito pessoal é o art. 25º.
Portanto, se não fosse o art. 56º seria o art. 25º.

A questão que se coloca é: O art. 25º trata da conexão relativamente a todas as relações jurídicas de
âmbito pessoal, tem a questão relativa à personalidade jurídica e ainda tem a questão dos direitos de
personalidade da tutela do art. 27º, temos um conceito quadro muito amplo.

O art. 56º é uma regra especial que inclui a capacidade? Se sim aplicamos. Se não só temos o art. 25ºe
utilizamos a conexão do art. 25º.
Esta situação está no art. 56º ou não? O art.56º trata da questão da constituição da filiação, portanto todos
os requisitos, todas as condições que permitem e estabelecem que alguém, neste caso o pai, reconhece a
paternidade voluntariamente relativamente a um filho.
Estará aqui a questão da capacidade ou não?
Pensemos no seguinte: imaginemos que se trata de filho de mulher casada, estaríamos no nº2.
Imaginemos que os pais não têm nem nacionalidade nem RH comum, qual é que seria a conexão
supletiva? Seria a lei pessoal do filho.

O art. 56º de facto não estabelece grandes diferenças – é a lei da nacionalidade do interessado, ou a lei da
nacionalidade que tem em comum com a mãe ou a RH que ele tem em comum com a mãe.
Mas no limite, e não havendo nada disto, o art. 56º manda aplicar a lei pessoal do filhos.

Por exemplo, neste caso, imaginamos que era um filho de uma mulher casada, eles não têm nem
nacionalidade comum nem RH comum, e íamos aplicar que lei? A lei pessoal do filho. Como tem dupla
nacionalidade aplicaríamos o art. 27º da lei da nacionalidade.
Em caso de conflito de dupla nacionalidade, sendo uma delas portuguesa seria a lei portuguesa.
Nessa situação hipotética iríamos aplicar a lei da nacionalidade do filho, ou seja, a lei portuguesa.
Ora, se estamos em matéria de estatuto pessoal em que o visado nesta questão é o pai temos então que
garantir a maior ligação individual relativamente ao pai. Nesse caso iríamos aplicar a lei portuguesa
relativamente a um negócio jurídico celebrado pelo pai que nem é a lei espanhola, nem a lei peruana. É

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uma lei completamente estranha a esta pessoa. Significa isto que não estamos a cumprir com o principio
da maior ligação individual.

Isto permite-nos concluir que o legislador, de facto, no art. 56º quer estabelecer o regime da perfilhação,
portanto, os requisitos, o âmbito, o procedimento, etc, mas que diga respeito ao estabelecimento da
perfilhação em que se continue a manter a maior ligação individual.
Apesar de termos em foco o perfilhaste, no caso de ser mais do que um o progenitor a preocupação do
legislador é garantir que ambos os progenitores têm a maior ligação individual estabelecida, ou não tendo
eles a maior ligação individual estabelecida porque não há nada em comum entre os pais, então ela é
estabelecida através do filho.
Se assim é, e se olharmos agora para a nossa questão, ela necessariamente não pode incluir a questão da
capacidade do progenitor ou dos progenitores para poder perfilhar ou não perfilhar porque todo o
caminho que aqui está pode não garantir o principio da maior ligação individual, como seria no art. 56º/2.
Aquilo que diz respeito, exclusivamente, a um dos perfilhastes, personalidade e capacidade, estará fora
deste conceito quadro. O que é que isto significa? Que neste caso a conexão está no art.25º.

Nos termos do art. 31º/1 a conexão pessoal é a nacionalidade, ou seja, OJ espanhol.

L1 - L2
Lex fori. OJ espanhol
Por sua vez o OJ espanhol considera competente a nacionalidade comum dos progenitores, ou não
havendo, a RH da filha não há nacionalidade comum dos progenitores por isso é o OJ chileno.

L1 - L2 - L3
OJ chileno

O OJ chileno considera competente o lugar onde o ato foi celebrado, ou seja, o lugar onde foi feita a
perfilhação – Argentina.

L1 - L2 - L3 - L4
OJ argentino

O OJ argentino considera competente a lei do lugar onde a ação foi proposta, ou seja, devolve a
competência à lex fori.

L1 - L2 - L3 - L4

Espanha faz devolução dupla.


O Chile faz devolução simples.
A argentina faz devolução dupla.

L1 - L2 - L3 - L4
Lex fori DD DS DD

L2 faz devolução dupla para L3 e por isso aplica a lei que a L3 aplicar.
L3 faz uma devolução simples para L4, faz, por isso, uma referencia global para L4 e uma referencia
material para a leia que L4 aplicar, que é L1.
L4 faz uma devolução dupla para L1, não sabemos que lei é que L1 aplica. Fica em stand-by para ver o
que é que Portugal faz, se aceita o reenvio ou não.

Temos reenvio, temos harmonia jurídica internacional (pelo menos daqueles que já sabemos), e o reenvio
é um meio necessário.

Temos um reenvio por retorno à lei portuguesa por isso temos de ver os requisitos do art. 18º.
Que nos diz é que se L2 nos devolver a competência nós aceitamos. Temos de fazer uma interpretação
extensiva. Já sabemos que não tem de ser propriamente L2, pode ser qualquer outra desde que todas
estejam de acordo em nos aplicar.

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Aceitamos ou noa? Quem nos devolve a competência tem de nos fazer uma referência material. Ora, L4
não nos faz uma referência material o que significa que não vamos aceitar o reenvio.

Não aceitamos o reenvio e nos termos do art. 16º L1 considera competente o OJ espanhol fazendo-lhe
uma mera referencia material.

O OJ espanhol é o eleito e será aplicada a sua solução material desde que passe agora no processo de
qualificação.

No processo de qualificação partimos do art. 15º usando a interpretação teológico funcional do prof.
Ferrer Correia e fazendo uma interpretação autónoma de acordo com conceitos formais, o mais longe
possível dos nossos conceitos jurídicos materiais.

1º vamos fazer uma interpretação do conceito quadro relativo ao art. 25º.


No art. 25º, e aqui sabemos que engloba também os art. 26º, 27º, etc, ou eu é que nós temos? Todos os
atos jurídicos relativos à esfera pessoal dos sujeitos.
Nota: independentemente do tipo de efeitos, a natureza jurídica, claramente pessoal, mas os efeitos não
têm de ser. Reparamos nas sucessões que há efeitos pessoais que têm uma natureza jurídica pessoal, mas
os grandes efeitos são efeitos patrimoniais. A natureza jurídica tem de ser pessoal, mas os efeitos não têm
de ser, necessariamente pessoais.
Está, então, interpretado este conceito quadro.

2º Vamos ao OJ espanhol para buscar as soluções de direito material que serão solução à relação
controvertida, se este ato de perfilhação é válido ou não, ou seja, vamos buscar o quid espanhol.
Interpretamos nos termos do art. 23º, ou seja, dentro do espirito do sistema deste OJ estrangeiro. Como
sabemos nós noa teremos que saber nada e portanto essa informação será dada. Se não disser nada
admitimos que é igual à portuguesa.

O que sabemos é que, independentemente da consequência, ou seja, da estatuição, todos estes


legisladores, nomeadamente o espanhol trata desta questão de forma homologa ao legislador português,
ou seja, significa que o legislador trata desta questão, da possibilidade de perfilhar com 14 anos como
uma questão de capacidade, sozinho e sem assistência de representação de pode praticar este ato de
natureza pessoal.

Voltamos ao art. 15º e vamos subsumir o quid no conceito quadro da nossa norma de conflitos. Se
chegarmos à conclusão que o seu conteúdo e função eles coincidem então legitimamos essa aplicabilidade
dessa solução material.
Coincidem ou não? Coincidem.
Portanto, temos o processo de qualificação verificado.
Aplicamos o direito material espanhol – o ato de perfilhação é invalido.

Não terminamos aqui.

A partir do momento em que temos isto a solução termina porque não queremos saber de mais nada, a
não ser outro principio que se vai imediatamente impor aqui de direito internacional privado que nos faz
(não ouvi que a Vera tossiu) porque temos um ato jurídico que é inválido, ora, o DIP tem como principio,
e um principio muito importante que prevalece sobre a HJI que é o favor negotti, que tem 3 frentes de
ataque.
A primeira, que não se aplica necessariamente a este caso, que é a do art. 19º. Aquela tal questão se o
principio do favor negotti estiver em conflito com a HJI depois de validar o negocio esquecemos o
reenvio e aplicamos L2. Não é o caso porque aqui não há reenvio e já estamos a utilizar o art. 16º.

A segunda frente de ataque é o art. 31º/2 – tratando-se de matéria de estatuto pessoal é possível que nós
alteremos nos termos do art. 31º/2 a conexão pessoal. Já sabemos que lei pessoal, por regra, é a lei da
nacionalidade, a não ser que alterando para a outra conexão mais próxima consigamos validar o negocio.
Agora vamos simular:

Para aplicarmos o art. 31º/2 a nossa L2 será a RH. O senhor vive no Perú.

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O OJ peruano considera o negocio válido? Não.


Para alem disso o negocio tinha de ser celebrado no lugar da RH, o que também não foi, foi celebrado na
Argentina.
É necessária ainda a lei da RH se considere competente. Considera? A argentina considera competente a
lei do foro, devolve a competência ao OJ português.

Significa o que? Nem com interpretações extensivas conseguimos a alterar a solução deste direito
material. O negocio continuaria invalido.
Com o art. 31º/2 também não vamos lá e por isso afastamos a possibilidade de altera a conexão pessoal.

Por fim, ainda há outra possibilidade, a terceira frente.


O art. 28º para proteger o comercio livre local.
Qual é o problema? O negócio não foi praticado em Portugal, foi praticado na Argentina.
Nós protegemos negocio local da argentina? Podemos proteger se a Argentina em prol do princípio da
reciprocidade fizesses mesma coisa relativamente a nós (art. 28º/3).
Mas para ponderarmos esta situação temos que ver se de facto o negocio seria válido pelo regime do art.
28º. Portanto, nós agora vamos para o art. 28º/1 para ver se estão verificados os requisitos.
Não nos podemos esquecer que vimos do nº3.
O negócio jurídico celebrado, no nosso caso, na Argentina. 1º requisito verificado.
Por pessoa incapaz segundo a sua lei pessoal – 2º requisito verificado, ele é incapaz segundo a lei
espanhola.
Mas é considerado incapaz nos termos da lei interna argentina, neste caso. De acordo com a lei interna
argentina ele é capaz? É valido perante o direto material argentino e chileno, é por isso, válido.

Verificados estes três requisitos podemos encontrar, ainda que apliquemos a lei espanhola, a invalidade
da lei espanhola não poder ser arguida para invalidar o negócio. A não ser que caia em algumas exceções
do nº2.
Ainda que esteja tudo verificado, como está, não se aplica o regime do nº1 quando esteja em causa,
nomeadamente exceções relações de negócios relativos a direito da família.
O que é que isto significa? Significa que não vamos aplicar o regime do nº1porque estamos a tratar de
relações de família, o que significa que este ato de perfilhação é inválido.

O que não obstante nunca seria porque ele em 2016 tinha 14 anos de idade mas se isto estivesse a ser
apreciado no dia de hoje ele já teria mais 5 anos, tinha 19. Significa isto que nesta altura lhe bastava
confirmar o negócio jurídico do regime de atos praticados na menoridade em que o seu legal
representante pode confirmar o negócio , ou então o próprio pode depois de atingir a maioridade.
Se confirmasse o negócio sanava a invalidade e o negócio tornar-se-ia válido. Mas aí já seria
exclusivamente a possibilidade de comunicar alguma solução do OJ espanhol.

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