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O Humanismo na Arte de Álvaro Cunhal

Histórico dirigente do partido comunista português e uma das maiores personalidades


políticas e intelectuais do século XX, Álvaro Barreirinhas Cunhal, nasceu a 10 de
novembro de 1913 e faleceu a 13 de junho de 2005.
Estudou na Faculdade de Direito de Lisboa onde terminou o curso de direito no ano
de 1940. A par da sua luta política, Cunhal foi também um intelectual comprometido
com a sua época, este acreditava no poder transformador da arte. Um artista plástico
de onde se destacam “os desenhos da prisão”, feitos entre 1951/1959 na cadeia de
Lisboa e o Forte de Peniche onde passou uns longos sete anos preso e em isolamento.
Encontrou na folha de papel e no lápis uma porta aberta para a reflexão sobre a arte
que estava bem expressa nos seus desenhos dramáticos e sombrios que retratavam o
seu Portugal sob a ditadura de Salazar como forma de evocar a sua luta.
Assumiu um papal de destaque no movimento Neorrealista em Portugal que teve o seu
início do ano de 1935, sobre este movimento Cunhal afirma: “Trata-se de uma legítima
escolha de ordem artística.” Como escritor destacou-se nas áreas do ensaio e política,
colaborou em jornais e revistas como Seara Nova ou o jornal Avante entre muitas
outras obras. A Arte o Artista e a Sociedade (1996), sintetiza as grandes linhas da força
do pensamento sobre a criação artística. Teve uma atitude pioneira na conceção de
uma nova “Arte Social e Humanista”.
No ano de 1939, Álvaro Cunhal já falava do Neorrealismo nas páginas do jornal o
Diabo onde via nesta corrente uma tendência histórica e progressista chegando a
afirmar que a arte deveria “exprimir a realidade viva e humana de uma época “e que
“formas novas podem conter um significado velho e formas velhas ainda que
excecionalmente, podem conter um significado moderno e progressista”. Neste
brilhante ensaio Álvaro Cunhal com um cunho critico e satírico utiliza a arte como um
instrumento de intervenção na sociedade, este esteta um pintor do povo, tem um
enorme sentido de fraternidade de justiça e compaixão. Ele ama o povo, na sua
grandeza, nas suas misérias, nas agruras da vida, a obra tem de estar voltada para o
povo. “Não há obra de arte que não esteja carregada de significado social”. O ser
humano vive em sociedade e todos os artistas como seres humanos que são estão
permanentemente influenciados por fatores externos nomeadamente a nível social.
Cunhal vê na arte popular a fonte de onde brota muitas das criações artísticas de toda
a história mundial, este artista interpreta a pintura como símbolo da vida onde para
além do carácter social e humanista do artista estejam também refletidas as classes
trabalhadoras, nomeadamente o operariado, os camponeses ou os pescadores. Ao
longo de todo este ensaio podemos contemplar reproduções de obras de arte,
principalmente de esculturas e pinturas que estão presentes em museus espalhadas
um pouco por todo o mundo. Cunhal fala delas com verdadeiro amor, inteligência,
paixão e sabedoria pelo facto de as conhecer muito bem. Cunhal apela a arte que
intervém na vida social, mas não descura a liberdade que deve estar bem patente em
todas as criações. Segundo ele, nenhuma criação artística pode ou deve estar
condicionada sendo suscetível de impedir o impulso do criador, seja no campo das
artes plásticas, literatura, cinema, teatro, poesia. O seu espírito estava recetivo ao
diferente e não excluía o que de belo lhe fosse apresentado como era o caso do
surrealismo, cubismo ou a abstração em todas estas correntes ele via algo de positivo e
inovador, embora não escondesse a sua profunda simpatia pela arte realista, Cunhal
um realista de raiz, voltado para os outros via com repugnância o solipsismo.
Na sua perspetiva em todas as áreas tem de existir abertura porque a intolerância e o
ceticismo em relação ao diferente impedem e limitam a apreciação do valor estético de
qualquer tipo de obra. O sentido de Belo para este autor era motivo de reflexão sobre
o sentimento estético perante a vida, a história, a natureza, ou o homem. “O artista é
um criador e o belo é em si mesmo um valor estético”.
Arte deriva do latim “ars” e do grego “tekne” que quer dizer técnica/habilidade e é a
criação intencional do artista.
Na minha visão, o belo está sempre dependente da interpretação estética de cada
individuo, desde sempre que a filosofia tem procurado uma definição para o conceito
de belo, questões como, o que é belo? Ou porque é que o indivíduo considera umas
coisas belas e outras não? Continuam sem uma resposta concreta. Para o filósofo grego
Aristóteles, a arte imita a natureza (Minesis), mas também, por vezes a completa. Já o
filósofo Immanuel Kant define arte estética como aquela cuja finalidade imediata é o
sentimento do prazer, não apenas o prazer ligado às sensações, mas também ao prazer
da reflexão. Numa obra de arte onde esteja presente ou não uma intenção de retratar
a realidade social, o valor estético está também naquilo que a obra de arte transmite,
na mensagem que suscita reações, nos vários sentimentos que provocam ao homem,
as intensas emoções, a forma subjetiva a própria natureza do ser humano ao
comtemplar uma criação artística. A arte tem também esta capacidade sublime de
podermos imaginar uma emoção e no talento que o artista tem ao criar
intencionalmente a obra com o objetivo de provocar sensações no seu recetor, assim
como uma forma de comunicação entre os homens e de esta se perpetuar no tempo.
“A influência social manifesta-se mesmo quando o artista julga que a sua obra é apenas
afirmação própria”.

Bibliografia:

 Cunhal Álvaro (1986) A arte, o artista, e a sociedade: Editorial Caminho;

 www.avante.pt

Trabalho realizado para a UC Temas do Pensamento Português. Docente Dr. Pedro


Martins.
Trabalho realizado pela discente Carla Carvalho, 102242.
2 de janeiro de 2024

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