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2023

MARI CARDOSO
Nome da obra: Um Magnata de Família

Revisão e Preparação de Texto: Dani Smith Books


Diagramação: Mavlis

Capa: Mavlis

Nome do autor: Mari Cardoso

www.maricardoso.com.br

Copyright © 2023 por Mariana Cardoso

INFORMAÇÕES

Esta é uma obra de ficção que não deve ser


reproduzida sem autorização. Nenhuma parte desta
publicação pode ser transmitida ou fotocopiada, gravada ou
repassada por qualquer meio eletrônico e mecânicos sem
autorização por escrito da autora. Salvo em casos de
citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais
permitidos na lei de direitos autorais.

Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes,


personagens, alguns lugares, casos envolvidos, eventos e
incidentes são frutos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais
é apenas espelho da realidade ou mera coincidência.
SUMÁRIO

Sumário
SINOPSE
PRÓLOGO
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
CAPÍTULO TRINTA E SETE
CAPÍTULO TRINTA E OITO
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
CAPÍTULO QUARENTA
CAPÍTULO QUARENTA E UM
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS
Epílogo
Epílogo
SOBRE A AUTORA:
AGRADECIMENTOS
SINOPSE

Niklas Von Sterling é um magnata de Nova Iorque


conhecido pela mente brilhante nos negócios e
personalidade inacessível. Divorciado e pai de Kurt, um
menino de sete anos com um tumor cerebral inoperável,
Niklas se vê consumido por preocupações familiares e uma
hostilidade que afasta as pessoas.

Emilia Cesarini é uma jovem encantadora e doce que


trabalha na copa da empresa de Niklas. Com uma vida
ocupada entre trabalhos, uma gata temperamental e sua
paixão por escrever, Emilia encontra Niklas em um
momento vulnerável e, de alguma forma, consegue alcançá-
lo.

Pressionado por seu conselheiro a melhorar sua


imagem pública, Niklas descobre a jornalista em Emilia e
propõe um relacionamento por contrato. Ela se tornará sua
acompanhante em eventos sociais, e ele a ajudará a
avançar em sua carreira jornalística.

À medida que navegam por este acordo inusitado, os


dois enfrentam desafios inesperados: Niklas lida com
inimigos profissionais do passado que ameaçam seu
império, protege seu filho gravemente doente, e ambos
lidam com uma gravidez inesperada que complica ainda
mais a situação.
Em meio a traições, segredos e a crescente atração
entre eles, Niklas e Emilia descobrem que há mais nesse
relacionamento do que o contrato que assinaram. A história
segue sua jornada emocional enquanto aprendem a confiar,
amar e encontrar esperança nas circunstâncias mais
inesperadas.

Livro recomendado para maiores de dezoito anos.


Dedico este livro a todas que desejam um amor como
de Niklas e Emilia, assim como uma história cheia de fé e
milagres.
"Fiquei olhando para a tela do celular e pensando na
jornada que eu estava trilhando com Emilia. Ela estava
mudando a minha vida. Eu estava me apaixonando pela
minha namorada falsa.

Era para ser apenas um contrato de relacionamento."


PRÓLOGO
Emilia

A brisa noturna de verão em Nova Iorque me envolvia


enquanto eu corria pelas ruas iluminadas. A cidade vivia
com o zumbido familiar e o incessante tráfego, conversas e
música. A lanchonete onde eu trabalhava aos fins de
semana ficava a apenas alguns quarteirões de distância, e
eu estava atrasada. De novo. Nenhuma novidade.

Minha gata, a temperamental Cleo, tinha derramado


café em meu manuscrito, meu último artigo freelance para
um jornal online. Eu tinha passado horas nele, imprimi,
deixei em cima da mesa e corri para me arrumar. Em
minutos, tudo ficou perdido. Típico. Tive que enfrentar uma
batalha com a minha impressora, que tinha vontade própria,
antes de sair, correr até a recepção da editora e seguir para
meu compromisso final.

Meu telefone apitou e era uma foto no grupo da família,


dos meus pais com minha irmã, em um jantar de sábado à
noite que não podia ir por precisar trabalhar. Tinha
objetivos, afinal. Me sentia perdida às vezes, presa em uma
vida que não parecia ir a lugar nenhum, por mais que me
esforçasse. Enquanto minha irmã brilhava, a estrela da
família, eu me sentia como uma luz fraca, ofuscada por seu
brilho.
Mas eu não tinha tempo para me perder em
pensamentos ruins, não naquele momento. A vida não
parava. Nem eu.

Eu era escritora, sonhadora e uma trabalhadora


incansável. Tinha só vinte e seis anos, muito a viver, e Nova
Iorque sempre foi a minha casa, quase um campo de
batalha. A cidade me dava esperança, me inspirava e ao
mesmo tempo, me desafiava. Era ali que eu encontraria
meu caminho porque o meu propósito, eu já sabia. Só
precisava continuar tentando e acreditando.

Minha vida era feita de pequenos momentos, doces


vitórias e minúsculos sonhos, por enquanto. Era imperfeita,
caótica, mas era minha. E eu não desistiria, não importava o
quão difícil fosse, e o que os outros pensassem.

Entrei na lanchonete, me desculpando com um sorriso e


prendendo o cabelo em um rabo de cavalo apressado. A
noite estava apenas começando. Logo fui tomada por
pedidos, o cheiro de comida, o calor dos sorrisos, bloquinho
cheio, gorjetas, mãos sempre cheias e pés já começando a
formigar.
PRÓLOGO
Niklas

Manhattan, Nova Iorque

Alguns anos antes.

As palavras do médico ainda ressoavam em minha


mente, repetindo-se em um looping cruel e implacável.
Inoperável. Incurável. Temporizador. Cada sílaba era uma
sentença, um peso que eu não podia, não conseguia
carregar. Olhei para Kurt, meu filho, minha vida, brincando
inocentemente na sala de espera, alheio à conversa que
acabara de alterar o curso de nossas vidas. Como eu lhe
diria? Como eu explicaria que o tempo estava acabando?

Cynthia, sua mãe e minha recente ex-mulher, pegou a


minha mão e apertou. Nós trocamos um olhar, apavorados,
sem saber o que dizer um ao outro. Kurt era tudo em nossas
vidas. O amor das nossas existências.

A raiva borbulhava dentro de mim, ameaçando explodir.


Me sentia impotente, uma sensação que me era estranha e
intolerável. Todo o meu sucesso, minha fortuna, minha
determinação, e estava perdido, incapaz de salvar o que
mais importava.
Era um dia cinza em Nova Iorque, a chuva batendo
contra a janela, como se a própria cidade chorasse comigo.
A rua abaixo era um borrão de sombras e movimento, a
vida continuando indiferente à minha agonia. Apertei o
punho, sentindo a frieza do meu anel de família contra a
pele, um lembrete constante do legado que eu havia
construído, do homem que eu era. Mas o que isso
significava naquele momento?

Kurt riu, seu rosto iluminado em alegria infantil, e algo


dentro de mim quebrou. Eu precisava ser forte. Por ele. Por
nós. Mas a dúvida, a incerteza, a terrível sombra da perda,
pendiam sobre mim como uma nuvem escura.

Eu era Niklas Von Sterling, empresário bem-sucedido,


um líder e pai. Mas naquele momento, naquele infeliz
instante fugaz e eterno, era apenas um homem quebrado, à
beira de um abismo, olhando para o desconhecido. O que
iria fazer para salvar a vida do meu filho?
CAPÍTULO UM
Niklas

A chuva batia contra a janela do carro, em um ritmo


constante que acompanhava o trânsito interminável de
Nova Iorque. Eu já estava mais do que acostumado, porque
nasci e cresci naquela cidade caótica, mas estava
particularmente irritante naquele dia e não fazia ideia do
motivo. Gostaria de poder abrir o caminho com uma sirene
da polícia. O olhar do meu motorista, Memphis, encontrou o
meu pelo retrovisor e suas sobrancelhas se ergueram em
uma pergunta silenciosa. Balancei a cabeça. Não havia nada
que pudesse ser feito sobre o trânsito.

Ao meu lado, Jim Westwick "folheava" seu tablet com o


rosto franzido em uma expressão séria. Ele era meu
advogado, conselheiro e amigo de longa data. Jim tinha uma
habilidade única para falar comigo de igual para igual,
porque era alguém que estava na minha vida desde os
meus primeiros passos, como melhor amigo do meu pai,
sendo meu mentor e padrinho de batismo.

— Niklas, meu filho. Precisamos falar sobre o evento no


fim de semana. — Ele não olhou para cima, sua voz era
calma, porém, firme. — Você foi... bem, direto demais com
alguns dos convidados. E isso nem sempre ajuda nos
negócios.

Eu ri.

— Direto demais? Fui honesto. Aqueles abutres não


merecem menos.

Jim finalmente levantou o olhar, encontrando o meu.

— Honestidade é uma coisa, mas você não pode


simplesmente sair atacando todos que cruzam o seu
caminho. Você é o rosto da Sterling Corp. Seu
comportamento reflete na empresa.

Olhei pela janela, observando a cidade deslizar


lentamente. Eu sabia que ele tinha razão, mas não
conseguia evitar. O estresse, a pressão, a incerteza sobre
Kurt, tudo pesava sobre mim. Merda. Talvez devesse sentir
culpa, mas não era o suficiente.

— Memphis, quanto tempo até o escritório? —


perguntei, mudando de assunto.

Meu motorista checou o GPS na tela ao lado.

— Mais quinze minutos, senhor Sterling.

— Ótimo — murmurei, inclinando-me contra o banco.

Jim não deixou passar.


— Niklas, estou falando sério. Você precisa de alguém
que possa suavizar as coisas, alguém que seja a face
amigável que você não consegue ser nesses eventos.

Eu o encarei, com minha paciência se esgotando. O que


iria fazer se as pessoas, de modo geral, me irritavam muito?
Elas queriam me adular ao invés de fazer os seus
trabalhos.

— E o que você sugere, Jim? Que contrate alguém para


sorrir e acenar enquanto eu faço o trabalho real?

— Sim — disse simplesmente, olhando de volta para o


tablet. — Exatamente isso. É muito comum e estou
começando a achar necessário, seu traquejo social foi para
o ralo há alguns anos.

Fiquei em silêncio, a proposta ecoando em minha


mente. Era ridículo e uma solução que precisava considerar.
A chuva continuou a cair, o som suave preenchendo o carro
enquanto ponderava a ideia, a cidade passando devagar
diante dos meus olhos. O carro parou suavemente em frente
ao imponente edifício da Sterling Corp. Despedi-me de Jim
com um aceno e junto a Memphis, entrei no saguão. A
familiaridade do ambiente me acolheu, a tensão do trânsito
desaparecendo e passei direto para o elevador que o
segurança parou, segurando as portas abertas para mim. Fiz
a viagem sozinho e saí no andar da presidência.

A senhora Kelly Crawford, minha assistente de


confiança por tantos anos, estava à minha espera com uma
pilha de documentos e um sorriso caloroso. Seu cabelo
grisalho puxado em um coque elegante e olhos azuis
brilhavam com eficiência.

— Bom dia, Sr. Sterling — ela saudou, entregando-me


uma agenda. — O Sr. Smith está aguardando você na sala
de reuniões para discutir os próximos passos para o último
semestre do ano. A equipe finalizou os projetos pendentes.

Assenti, folheando a agenda. Eu ainda era um homem


do papel em alguns casos e Kelly sempre tinha tudo sob
controle.

— Obrigado, Kelly — eu disse, caminhando em direção


à sala de reuniões, pedindo meu café da manhã para comer
em seguida, porque não havia dado tempo antes de sair de
casa.

Chace Smith, meu secretário executivo, estava de pé


junto à janela, seu rosto jovem refletindo determinação e
ambição. Ele se virou ao me ouvir entrar, e o sorriso
mostrando confiança me fazia lembrar quando tinha a idade
dele, muitos sonhos ousados, uma vontade de conquistar o
mundo com dinheiro de sobra nos bolsos. Era exatamente
como eu, a diferença, que não vinha de uma linhagem rica e
por isso, puxava o meu saco como ninguém. A sorte era sua
eficiência e que fazia um excelente trabalho.

— Preparei uma apresentação sobre nossos objetivos e


estratégias para o próximo semestre. Acredito que toda
equipe está alinhada e no caminho certo.
Dei-lhe um aceno e um sinal para começar. Nós
mergulhamos no trabalho, discutindo números, metas,
riscos e oportunidades. Chace era inteligente, focado, um
ativo valioso para a empresa. Era um tanto egoísta, porque
sabia que nem todas as ideias que assumia eram dele e
sim, de sua parceira, mas eu deixava que os dois lutassem
entre si.

Meu telefone vibrou e eu olhei para baixo, vendo o


nome de minha ex-esposa, Cynthia, na tela. Ela nunca
mandava mensagem porque sabia que nem sempre
conseguia ler imediatamente.

— Desculpe, Chace, preciso atender isso — disse, me


levantando e saindo da sala.

— Claro, aguardo — Chace respondeu, ainda imerso nos


documentos.

Atendi a chamada.

— Cynthia?

— Nicki, oi! Só queria confirmar se você vai buscar Kurt


para o jogo de futebol hoje na escola?

Eu senti um sorriso involuntário cruzar meu rosto ao


pensar em meu filho jogando.

— Claro, não perderia por nada. Vejo você lá?


— Sim, nos vemos lá. Kurt está ansioso. Poderá buscá-
lo, certo? Vou sair do trabalho muito em cima da hora e
Elias também.

— Eu o buscarei.

— Obrigada, Nicki! Até mais tarde!

Desliguei, um calor reconfortante preenchendo meu


peito. Meu filho, minha luz.

Voltei à sala, a mente focada nos negócios, mas meu


coração ainda com Kurt e o jogo. Minha vida andava em um
equilíbrio delicado e eu fazia o meu melhor para manter
tudo sob controle. Kelly me entregou outro conjunto de
documentos ao sair da reunião. O dia estava apenas
começando e ainda havia muito a ser feito.

Minha reunião com Chace durou mais tempo do que o


esperado e depois, fiquei em minha sala, revisando os
números do último trimestre, quando Kelly entrou em meu
escritório, uma expressão preocupada em seu rosto.

— Desculpe incomodá-lo, senhor Sterling, mas tenho


uma notícia que talvez não seja do seu agrado.

Eu olhei para cima, minha sobrancelha arqueada.


Sempre novos problemas.

— O que aconteceu?

Kelly hesitou, claramente desconfortável.


— A copeira que costuma trabalhar conosco, a Srta.
Thompson, sofreu uma queda e machucou o pé. Ela estará
de licença, e uma substituta começará na próxima semana.

Uma onda de irritação me atingiu mais forte do que


deveria. Mudanças. Odiava mudanças, especialmente em
meu andar com acesso tão restrito. Lidar com pessoas
novas era simplesmente um saco.

— Outra pessoa? Neste andar? Por que não podemos


simplesmente redistribuir o trabalho entre os outros
funcionários?

Kelly não pareceu nem um pouco surpresa com minha


reação. Ela me conhecia.

— Acredito que seja importante ter uma pessoa


específica para essa função, senhor Sterling. Posso garantir
que a nova copeira será altamente competente.

Esfreguei a têmpora, sentindo uma dor de cabeça


começar.

— Eu sei, Kelly, eu sei. Desculpe pela reação. É só que...


com tudo o que está acontecendo, a última coisa que eu
quero são mais mudanças.

Kelly me ofereceu um sorriso compreensivo.

— Entendo, senhor Sterling. Vou me certificar de que a


transição seja o mais suave possível.
Assenti, agradecido por sua eficiência. A senhora
Thompson era… na dela. Mas não errava. A anterior,
derramava café, batia o carrinho e entrava nas reuniões
fazendo muito barulho. Foram meses até encontrarmos
alguém silencioso e que harmonizasse com a equipe.

— Obrigado, Kelly. Eu confio em você.

Ela saiu do escritório e me vi encarando os documentos


na minha mesa, a irritação ainda borbulhando sob a
superfície. Era uma coisa pequena, eu sabia, mas parecia
simbolizar todas as mudanças e incertezas em minha vida.
Meu telefone vibrou novamente, por sorte, consegui ler a
mensagem de Cynthia sobre os detalhes do jogo de Kurt.
Olhei para a foto do meu filho no fundo da tela, seu sorriso
largo e olhos brilhantes.

Era por ele que eu estava fazendo tudo aquilo. Por ele
eu suportava a pressão e todo o estresse. Respirei fundo,
forçando aquela sensação ruim a se dissipar. Tinha um
trabalho a fazer, uma empresa para administrar e um filho
para amar e proteger.

A dor de cabeça começou e persistiu, mas a ignorei,


voltando ao trabalho. Havia muito a ser feito, e não tinha
tempo para ser abalado por pequenas mudanças. Só
esperava que a nova copeira fosse discreta e eficiente. A
última coisa que precisava era de mais complicações e de
gente para atrapalhar a minha rotina apertada de trabalho.
A tarde havia se arrastado, o estresse da manhã ainda
zumbindo nos cantos da minha mente. Mas tudo isso
evaporou quando deu o horário de sair e principalmente,
quando, já no carro, Memphis fez a curva na rua da minha
antiga residência e vi meu filho, Kurt, pulando na calçada,
acenando freneticamente. Uma onda de alegria pura me
invadiu e abri um sorriso, algo que somente meu menino
conseguia arrancar de mim.

Memphis parou o carro e eu rapidamente abri a porta,


me ajoelhando para abraçar Kurt. Ele se atirou em meus
braços, seu riso musical enchendo o ar.

— Papai! Você veio! Você veio! — ele gritou, sua voz


cheia de felicidade.

— Claro que eu vim, campeão! — respondi, apertando-o


contra mim. — Eu não perderia seu jogo por nada neste
mundo.

Ele olhou para mim, os olhos grandes e inocentes.

— Mas eu não vou jogar dessa vez, papai. Só assistir.


Por causa da minha cabeça. Vamos torcer pelos meus
amigos mesmo assim!

Engoli em seco, a realidade de sua condição sempre


presente, sempre dolorosa.

— Tudo bem, meu amor. Mas vamos assistir juntos, e


vai ser divertido.
Kurt sorriu, satisfeito com a resposta, e corremos juntos
para o carro.

Paty, a babá, acenou me cumprimentando, um sorriso


caloroso em seu rosto. Ela tinha sido uma presença amorosa
na vida de Kurt e disse que ao longo da tarde, ele reclamou
de dores, então ligou para o professor avisando que ficaria
no banco. Olhei para meu filho com o coração doendo e
disfarcei, dizendo que deveríamos ir logo. Entramos no carro
e Memphis nos levou em direção à escola, Kurt falando sem
parar. Eu o ouvia com minha mente totalmente focada nele
porque cada palavra saída de sua boca era uma joia.

Seu rosto cheio de vida me preenchia de um amor


avassalador sem igual. Ele era a minha razão, o meu
propósito. Ele pegou minha mão, seus dedinhos envolvendo
os meus, um gesto simples e poderoso. Apertei de volta,
prometendo silenciosamente que faria tudo em meu poder
para protegê-lo, amá-lo e estar lá para apoiá-lo em todos os
momentos de sua preciosa vida.

Chegamos à escola que estudei quando criança e Kurt


pulou para fora com sua energia contagiante.

— Vamos, papai! Vamos ver o jogo!

Eu ri, seguindo-o, meu coração leve pela primeira vez


no dia. Comprei pipocas, suco, e escolhemos um bom lugar
na arquibancada. Encontrei alguns conhecidos que tinham
filhos na mesma série, cumprimentando de longe e não dei
assunto, reservando lugar para Cynthia e seu noivo, Elias,
que chegaram um pouquinho atrasados. Kurt pediu
desculpas por não jogar aos seus amigos, ele ficou de fones
abafadores para o barulho não piorar sua dor de cabeça e
ainda assim, não importava o que estivesse sentindo, o
sorriso nunca deixava o rosto do meu filho.

Quando o jogo acabou, convidei a todos para


jantarmos. Kurt seguiu comigo para o restaurante, junto
com à babá. Avisei a minha secretária que voltaria a
responder questões do trabalho depois que deixasse meu
filho em casa. Por enquanto, minha atenção era
completamente dele.

O bistrô era iluminado por luzes suaves, a música


tocando baixinho, criando uma atmosfera acolhedora e
charmosa. Estávamos sentados em uma mesa grande, Kurt
entre Cynthia e eu, Paty à minha direita, e Elias, o noivo de
Cynthia, do outro lado da mesa. Kurt contava
animadamente sobre a partida, suas mãos gesticulando
sem parar. Cynthia sorria, acariciando o cabelo dele,
enquanto Elias ouvia atentamente, fazendo perguntas e
rindo das respostas.

Olhei para eles, uma sensação de calor e


contentamento se espalhando por meu peito. Tínhamos
nossa dinâmica, nosso equilíbrio. Éramos uma família,
talvez não no sentido tradicional, mas éramos, e isso era
tudo o que importava. A guarda compartilhada tinha
dissabores, porém, aprendemos com o tempo e com os
nossos erros. Meu casamento não acabou com ódio e falta
de amor. Cynthia e eu nunca desprezamos a existência um
do outro.

Só não nos amávamos como marido e mulher,


confundimos uma amizade de anos, a pressão dos nossos
pais, de todos dizendo que éramos um bonito casal, com
algo que precisava de muito mais. Química, paixão, tesão…
tempo. Tudo que tínhamos era uma amizade sem igual e
muito amor pelo nosso filho.

Cynthia pegou minha mão, seus olhos encontrando os


meus.

— Ele está se divertindo. Obrigado por hoje, Niklas.

Apertei seus dedos, abrindo um sorriso sincero.

— Eu também estou me divertindo. E ele merece isso,


especialmente depois desta semana.

Cynthia assentiu, seu rosto sombrio por um momento


antes de ela se forçar a sorrir novamente. Eu conhecia
aquela expressão, aquele medo. Estava sempre lá,
espreitando nas sombras, mas fazíamos o possível para
mantê-lo afastado. Era o nosso maior pesadelo: perder Kurt.
Essa possibilidade não existia no meu universo, mas era um
pavor que assombrava a minha existência.

Elias começou a contar uma história engraçada sobre


seu trabalho e todos rimos, o som alegre preenchendo o ar.
Kurt comia macarrão com queijo, seu prato favorito, com os
olhos fixos em Elias, claramente fascinado. O noivo da
minha ex-mulher era um homem forte e paciente, na vida
dela e principalmente, de Kurt. Ele era bom para os dois.

O jantar continuou, a conversa fluindo facilmente, o riso


e o amor preenchendo a sala. Nos sentíamos como uma
família normal, como se o peso do mundo tivesse sido
levantado, pelo menos por um momento. Era como um tic-
tac do relógio… sem saber por quanto tempo duraria.
CAPÍTULO DOIS
Emilia

A manhã estava quieta e brilhante quando acordei, os


primeiros raios de sol penetraram através das cortinas das
janelas dos fundos. Saí da cozinha com uma caneca de café,
sentindo um nervoso familiar no estômago, sobre começar
algo novo. Era meu primeiro dia na Sterling Corp, uma
empresa que mal podia acreditar que estaria trabalhando,
mesmo que temporariamente e em uma função que não
tinha nada a ver com a minha formação.

Olhei a hora, seguindo para o banheiro, o reflexo no


espelho revelando minha aparência deplorável da manhã.
Meu cabelo estava uma zona, escovei, prendi bem apertado
e fiz uma maquiagem básica. Pus minha roupa
cuidadosamente escolhida, jeans e camiseta, com tênis. O
uniforme era cinza escuro e elegante, que a agência havia
providenciado e entregue dias antes.

Meu celular tocou e corri para atendê-lo, reconhecendo


o número da minha amiga da faculdade, Jenna.

— Emilia, tenho uma notícia incrível! — Ela soou


eufórica e sorri, sentindo sua energia.

— O que aconteceu? — Puxei uma cadeira, sentando-


me com minha curiosidade aguçada.
— Surgiu uma vaga de colunista lifestyle no jornal. Você
tem que se inscrever! É perfeita para você! — Jenna insistiu.
Senti o meu coração acelerar. Será que eu deveria?

— Nunca escrevi nada do estilo. Você sabe que meus


artigos são mais informativos, focados em temas locais. Não
sei se conseguiria...

— Você é incrível, tem talento e uma voz única. Além


disso, sua experiência em restaurantes, sua sensibilidade,
tudo isso pode ser usado na coluna. É uma chance incrível!
— Jenna argumentou, a voz firme.

Mordi o lábio, olhando para o relógio. O tempo estava


passando e eu precisava ir. Mas a ideia permanecia lá,
plantada em minha mente, crescendo e criando raízes.

— Vou pensar sobre isso, Jenna. Obrigada por pensar


em mim. Agora, preciso ir. É o meu primeiro dia em um
emprego temporário e estou mais nervosa do que gostaria
de admitir.

— Você vai se sair bem, Emilia. E por favor, pense na


oferta. Eu sei que você seria incrível nisso! — Jenna disse e
eu podia ouvir o sorriso em sua voz.

Desligamos e fiquei lá por um momento com meu


celular ainda na mão, pensando no que ela havia me dito.
Era uma oportunidade, uma chance de fazer algo diferente,
algo mais próximo do que eu realmente queria e era
formada, até porque, não estava em uma posição de
escolher muito. Mas havia uma grande parte minha cheia de
inseguranças. Será que eu era boa o suficiente para ser
colunista? Será que conseguiria ter um novo assunto a cada
semana?

Sacudi a cabeça, afastando os pensamentos. Tinha que


me concentrar no dia à frente, no novo desafio que estava
prestes a enfrentar. Ser copeira. Eu só tinha servido mesas
na lanchonete e em alguns restaurantes na vida, não fui
exclusiva de um andar. A Sterling Corp era uma empresa de
prestígio e eu queria fazer um bom trabalho, afinal,
jornalista ou não, era o meu nome e não queria queimar
meu currículo de nenhum modo.

Voltei para o banheiro para me arrumar e pronta,


respirei fundo, olhando uma última vez no espelho. Ia fazer
aquilo dar certo pelo tempo que fosse necessário, até
encontrar um novo emprego. Despedi-me da Cleo, minha
gatinha companheira, com um afago, prometendo que
voltaria no fim do dia, peguei a minha bolsa e saí pela porta,
passei pelo corredor e subi as escadas para chegar até a
calçada. Caminhei até a esquina, pegando o primeiro ônibus
até a estação de metrô mais próxima, fazendo uma viagem
tranquila. Quando me encontrei em frente à entrada
grandiosa da Sterling Corp, meu coração batia acelerado.

Passei pelo saguão imponente, apresentando-me na


recepção luxuosa, me sentindo minúscula diante da
magnitude do lugar e do esnobismo da atendente. Fui direto
ao RH, onde havia estado anteriormente. Uma simpática
senhora me recebeu, conferiu meus documentos e, em
seguida, me apresentou à minha nova chefe, mais velha,
séria e de olhar penetrante, que se apresentou como
Marcia.

— Vou te levar ao andar da presidência — ela disse,


seus olhos avaliando-me. — É um lugar muito restrito e
você precisa seguir uma série de regras.

Puta merda. Assenti com meu estômago dando um nó.


Marcia começou a listar as regras, cada uma soando mais
intimidante que a anterior e fiz de tudo para segui-la,
memorizando tudo.

— Nunca atrase. Não fale alto. Não interrompa as


reuniões. E acima de tudo — ela me encarou, sua voz
baixando para um sussurro quase ameaçador —, nunca,
jamais, fique no caminho do Sr. Sterling.

Minha mente disparou. Uau, puxa vida! Niklas Von


Sterling. O Magnata de Manhattan. Sua reputação o
precedia e eu já havia ouvido histórias sobre sua frieza e
determinação suficientes para sentir um arrepio percorrer
minha espinha.

— Entendeu? — Marcia perguntou. Dei um aceno


rápido. Só não sabia ao certo o que a empresa fazia, mas
poderia descobrir com o tempo. Tropecei sem querer em um
carpete e Marcia me deu um olhar.

— Agora, venha comigo.


Ela me levou ao andar da presidência, cada passo me
deixando mais ansiosa. Era um lugar de poder e de muitas
decisões importantes, pessoas bem arrumadas, cheirosas,
passando de um lado ao outro com expressões sérias de
quem tomava conta do mundo e tinha poder de determinar
o futuro de muitos. E eu estava ali, uma simples copeira.

Marcia seguia andando, falando e eu repetia as regras


na minha cabeça, com medo de errar. A lanchonete era
muito mais simples. O andar era bem silencioso, muito
diferente do jornal, onde os telefones não paravam de tocar
e os meus colegas não calavam a boca. Os funcionários ali
estavam concentrados em uma atmosfera carregada de
tensão e expectativa.

Marcia me mostrou meu posto, deu-me instruções


adicionais e partiu, deixando-me sozinha em um mundo que
parecia tão distante do meu. Eu era jornalista, merda.
Queria um bloquinho e fazer perguntas, ao contrário disso,
ganhei uma bandeja e café. Respirei fundo, me acalmando.
Eu podia fazer aquilo. Era apenas um trabalho como
qualquer outro, o importante era pagar as contas e
definitivamente não pedir dinheiro para os meus pais.

Fui apresentada à senhora Crawford. Ela era assistente


do CEO, no caso, o senhor Sterling. Ela me orientou em
quais lugares deveria deixar os cafés, a nunca entrar no
meio das reuniões, a não ser que o senhor Sterling
chamasse especificamente, e como a empresa tinha um
cronograma, eu deveria deixar tudo preparado
antecipadamente. Foram tantos aprendizados que mal vi o
dia passar e esfregando minhas têmporas, passei pelo
corredor da Sterling Corp, cumprimentando as colegas que
tinham se tornado rapidamente amigáveis, mesmo que eu
fosse apenas uma temporária. Elas me deram dicas e
conselhos sobre o dia a dia, e, ao final do meu turno, me
sentia exausta, mas grata pelos conselhos.

Quando saí, desviei de algumas pessoas. O sol já


estava se pondo, tingindo o céu de laranja e rosa, enquanto
eu me misturava ao mar de gente que se dirigia
apressadamente para o metrô. Era o fluxo constante de
Nova Iorque, uma cidade que nunca parava, e aquilo ali eu
estava mais do que acostumada. A cada passo que dava,
sentia as horas em pé pesando em meu corpo. Havia
esquecido como era desafiador se adaptar a um novo
ambiente de trabalho, especialmente um tão diferente do
meu usual. Enquanto caminhava, a realidade do meu
presente se chocava com a nostalgia do meu passado.

O jornal online era uma benção. Mas definitivamente,


não era suficiente para pagar todas as minhas contas, que
se acumulavam em uma pilha na mesinha de centro da
minha sala a qual Cleo fazia questão de espalhar todos os
dias. Ainda caminhando, segurando a minha bolsa bem
apertada debaixo do braço, me lembrei do dia em que me
dispensaram do meu antigo emprego, alegando cortes no
orçamento, mas na verdade, eu sabia que eles apenas
preferiram ficar com funcionários mais antigos.
Perdida em pensamentos, quase não percebi que havia
chegado à estação. Desci as escadas, o som dos meus
passos se misturando com as vozes ao redor. O ar úmido do
metrô me envolveu e aguardei o próximo trem, me
perguntando se algum dia conseguiria realizar os meus
sonhos. Queria tanto conhecer a Disney, ver o Castelo da
Cinderela com meus próprios olhos, sentir a magia que
tantos descreviam. Parecia bobo, talvez, para alguém da
minha idade, mas aquele era o meu sonho. E mesmo que as
chances parecessem distantes, não queria desistir.

Além do fato de que era saudável desejar ter o meu


próprio apartamento, um carro - mesmo que fosse um tanto
inútil em Nova Iorque, encontrar um marido um dia, ter
filhos, uma carreira sólida. Porém, guardava os meus
desejos bem no fundo, onde ninguém pudesse vê-los ou
zombar deles. Não costumava compartilhar os meus
sonhos, talvez por medo de que eles pudessem ser
destruídos.

Ia jantar na casa dos meus pais porque fazia muito


tempo que não aparecia por lá e eles estavam começando a
perguntar por mim. Ao abrir a porta do edifício antigo, um
aroma familiar me envolveu, me fazendo sentir
instantaneamente em casa. Subi os lances de escada, meus
passos ecoando no corredor enquanto me dirigia ao
apartamento onde morei a minha vida inteira. A porta de
madeira, que outrora exibia uma cor vibrante, agora estava
desgastada pelo tempo, mas ainda mantinha um charme
particular.

Enfiei minha chave na fechadura, abri e fui


imediatamente envolvida pela luz suave que vinha da sala
de estar, iluminando o ambiente de forma acolhedora. O
papel de parede de padrão floral que minha mãe adorava
estava lá desde que eu me lembrava, dava um toque retrô
ao lugar, e os móveis de madeira escura eram muito bem
cuidados por dona Sarah.

A sala tinha um grande sofá de couro, com almofadas


de tricô feitas por minha avó. Diante dele, uma mesa de
centro com um vaso de flores que meu pai pegava todos os
dias na volta do trabalho e trazia para mamãe, assim como
inúmeros porta-retratos com fotos de momentos felizes da
nossa família ao longo dos anos. Atravessando a sala,
cheguei à cozinha, onde o cheiro delicioso de um ensopado
se misturava ao aroma de biscoitos recém-assados deixados
em cima do balcão. As bancadas eram de mármore e os
armários, embora antigos, estavam impecáveis.

Olhei para o corredor que levava aos quartos, passei


pelo escritório que meus pais compartilhavam - um cômodo
cheio de livros, papéis e lembranças - e parei diante da
porta do quarto que dividia com Emily. Toda vez que parava
ali, um turbilhão de emoções me envolvia. Lembranças de
risadas, brigas, segredos compartilhados e até mesmo
algumas lágrimas derramadas por causa de namoradinhos.
Lembro-me das noites em que ficávamos acordadas até
tarde, falando sobre nossos sonhos e medos, Emily era mais
firme que eu e tinha certeza que teria sucesso. Também
houve dias em que a competitividade entre nós parecia que
nunca iria acabar.

A suíte principal, onde meus pais dormiam, era um


refúgio para eles, mas as paredes finas do apartamento
nunca ajudaram nas noites que eles discutiam. Era horrível
ouvir. Nada havia mudado: uma cama grande com uma
colcha de patchwork, mesinhas de cabeceira com abajures
e um espelho grande na parede. Era simples, mas carregava
a essência do amor e da dedicação deles.

— Emily?

Com um suspiro, entrei na cozinha e me permiti ser


vista, onde minha mãe estava ocupada cortando legumes
para o jantar. Ela levantou os olhos castanhos com a
aparência igual ao que eu teria daqui a uns trinta anos ao
ouvir meus passos e me deu um de seus sorrisos calorosos.

— Ah, Emilia! Não esperava ver você hoje! Como foi o


trabalho?

Os aromas da cozinha me envolviam, trazendo de volta


memórias de inúmeras refeições em família e discussões
acaloradas sobre a mesa. Uma panela fervia no fogão, e o
som suave da rádio tocando uma música antiga preenchia o
ambiente. Era como se o tempo tivesse parado. Por um
momento, hesitei e mordi meu lábio, ponderando se deveria
contar a verdade à minha mãe. Eu queria ser tão bem-
sucedida quanto Emily, ser motivo de orgulho para meus
pais. Não queria vê-los desapontados ou preocupados
comigo.

— Está tudo bem, mãe — disse eu, forçando um sorriso.


— Foi só mais um dia normal. Nada de novo.

Ela me estudou por um momento.

— Bem — começou, limpando as mãos no avental. —


Sempre estou aqui se você quiser conversar, querida.

Senti um nó se formando em minha garganta. Será que


ela sabia que estava mentindo?

— Eu sei, mãe. Obrigada. — Desviei o olhar, focando


nos legumes cortados à sua frente. Queria tanto ser honesta
com ela, mas a vergonha me paralisava.

A noite apenas começava e logo Emily chegaria,


enchendo a casa com suas histórias da residência e o
otimismo contagiante. Meu pai voltaria do trabalho, cansado
mas sempre pronto para ouvir sobre o dia de todos e talvez,
encontrando um novo emprego rapidamente, eles nem
precisassem saber que eu havia sido demitida. Era só uma
fase. E eu ia conseguir sair dela como uma vitoriosa.
CAPÍTULO TRÊS
Emilia

Ao abrir a porta de madeira do meu apartamento, soltei


um suspiro de alívio e um gemido de sono escapou dos
meus lábios. O ar fresco da noite, tingido pelo aroma da
cidade, era substituído pelo cheiro reconfortante e familiar
do meu pequeno apartamento no porão. Adorava aquele
lugar, mesmo que fosse modesto e escondido nas
profundezas de um elegante edifício de Nova Iorque. O
humilde espaço era meu refúgio, meu santuário e o aluguel,
perfeito para o meu bolso. Meu quarto não tinha janelas,
apenas a cozinha e os fundos, mas a refrigeração mantinha
o ambiente agradável.

O chão de madeira rangeu sob meus pés, tirei os


sapatos e deixei no canto. As paredes de tijolinhos
vermelhos, com aparência rústica e imperfeita, sempre me
davam uma sensação de aconchego e combinavam
perfeitamente com a minha decoração colorida e cheia de
folhas. Olhando ao redor, cada peça de mobiliário e item de
decoração contavam a minha história de vida adulta,
porque não foi fácil sair de casa. As cadeiras eram coloridas,
cada uma de uma cor e estilo diferentes, foram frutos de
inúmeras buscas em brechós e vendas de garagem. Minhas
estantes estavam repletas de livros, porque eu amava ler
mais do que qualquer um, alguns antigos e amarelados pelo
tempo, outros recém-comprados e esperando para serem
lidos.

Eu sempre comprava mais e nunca terminava a minha


lista de leitura.

E, claro, a Cleo. Minha fiel companheira, a pequena


gata de pelo cinza, saltou do sofá ao ouvir a chave na
fechadura e correu para me cumprimentar, roçando-se em
minhas pernas com seu ronronar suave. Agachei-me para
acariciá-la, sentindo a suavidade de seu pelo entre meus
dedos.

— Oi, menina — murmurei, sorrindo enquanto ela se


enroscava em mim. — Senti a sua falta, meu docinho.

Caminhando até a janela, afastei as cortinas levemente


desbotadas para espiar o pequeno pátio compartilhado. Meu
vizinho estava fumando, bebendo uma cerveja e
conversando com o vizinho do outro lado. Eles estavam
iluminados apenas pela luz fraca de algumas lâmpadas,
revelando vasos de flores e plantas que os moradores
cuidavam com carinho. Era um espaço tranquilo, onde
muitas vezes me sentava para ler ou simplesmente
desfrutar de um momento de paz no meio da selva de pedra
em que morava.

Meus pais não entendiam minha escolha de morar ali.


Eles viam o lugar como escuro, meio úmido e pouco
adequado para a filha deles. Mas para mim, aquele
apartamento era mais do que simples tijolos e argamassa.
Era um símbolo da minha independência, da minha
determinação em seguir meu próprio caminho, mesmo que
fosse um diferente do que eles esperavam para mim.
Primeiro, eles não queriam que eu fizesse jornalismo,
preferiam que fosse para uma profissão segura, na área da
saúde ou que me desse um emprego rápido depois da
faculdade, o que não aconteceu comigo, sim com minha
irmã.

Tomei banho, troquei de roupa para um pijama


confortável e com Cleo ao meu lado, me sentei no sofá,
abrindo o livro que estava lendo e deixando-me envolver
por suas palavras. Apesar de sentir falta de não ter
preocupações, ali era minha casa, minhas regras e por isso,
gostava de fazer tudo do meu jeito. Fui dormir perto da
meia noite e acordei antes das cinco da manhã, ouvindo o
estrondoso barulho do caminhão de lixo.

Saí da cama, ainda com sono, e fui para a cozinha fazer


café. O silêncio da manhã era quebrado apenas pelo
tiquetaquear ritmado do relógio na parede e o som suave da
minha respiração. Com a caneca de café fumegante ao meu
lado, abri o notebook e os meus olhos se fixaram na tela
branca. Fiquei completamente imersa, com a mente a mil
por hora, tentando formular o início perfeito para o meu
artigo.

Meu pijama confortável e de cores suaves contrastava


com a seriedade da tarefa que tinha pela frente, até porque,
aquilo era uma entrevista de emprego. O salário de
colunista era algo extremamente atraente e me daria uma
fama necessária para deslanchar entre jornalistas
conceituados. Dobrei minha perna no conforto familiar da
minha cadeira e fiquei batucando os dedos na mesa.

Sério? Eu não tinha nada para escrever?

Meus professores da universidade sempre me diziam


que eu precisava me soltar mais, encontrar o equilíbrio
entre ser informativa e envolvente. E, bem, aquilo era mais
fácil de dizer do que fazer. Minha tendência natural era ir
direto ao ponto, sem floreios, mas para aquela vaga, eu
precisava encontrar um meio termo entre o estilo
jornalístico direto e a prosa envolvente de um romancista.
Podia ouvir a voz de Jenna ecoando em minha mente,
encorajando-me a tentar. Mas o medo de falhar, de que meu
trabalho fosse rejeitado e de arruinar minha reputação, me
consumia. A dúvida, aquele monstro insidioso, continuava a
me assombrar, me lembrando de cada vez que falhei no
passado, de cada artigo rejeitado, de cada erro cometido e
de não conseguir ir a lugar nenhum.

Fechei os olhos por um momento, invocando todos os


jornalistas que eu admirava, cruzando os dedinhos e afastei
os meus pensamentos negativos. Precisava provar para
mim mesma que era capaz de mais do que imaginava.
Peguei meu café, cheirei antes de dar um gole, o aroma me
inspirando confiança. Comecei a digitar, inicialmente
hesitante, mas depois, com mais firmeza. As palavras
fluíram, formando frases e longos parágrafos.
Com a primeira versão do artigo finalizada, me permiti
um pequeno sorriso de satisfação. Talvez não fosse perfeito,
mas era um começo e era meu.

E eu tinha que correr para me arrumar. Cleo ficou no


sofá, se lambendo, gritei que ela havia jogado toda a areia
para fora da caixa novamente e não teria tempo para
limpar. Ela era uma vaca quando queria. Vesti-me
rapidamente, sentindo um pouco de fome, mas daria tempo
de parar, pegaria alguma coisa no caminho.

Cheguei no trabalho e fui direto me trocar. No vestiário,


enquanto ajustava minha roupa toda cinza, dando os
últimos retoques na maquiagem, ouvi conversas em
sussurros. Duas colegas discutiam sobre uma vaga na
empresa para formados em comunicação. Aquilo era
interessante e me deu uma pontada de esperança. Se eu
não conseguisse o emprego como colunista, poderia
considerar aquilo como um conselho sussurrado. Talvez
fosse hora de mudar a trajetória? Reformular os meus
planos?

Será que o mundo corporativo, com sua estabilidade e


promessas de crescimento, seria o caminho certo para
mim? Não fazia a mínima ideia. Eu tinha vinte e seis, não
conseguia ter todas as respostas do mundo. Amava o
jornalismo com a adrenalina de correr atrás de uma notícia,
o prazer de narrar histórias. Mas até o momento, estava
sendo um caminho instável e cheio de incertezas.
Meu pai, sempre tão prático, me aconselhou
incansavelmente a não ser jornalista.

"Encontre algo estável, Emilia. Algo que pague as


contas. Sonhos são bons, mas a realidade é que você
precisa se sustentar." Sua voz era sempre firme, mas cheia
de preocupação genuína. Já minha mãe, com a mente
criativa e coração sonhador, conseguiu ter uma carreira
promissora como professora de artes.

Ainda parada entre espelhos e armários, senti-me


dividida. Uma parte de mim queria a segurança de um
salário fixo e os benefícios de trabalhar para uma grande
corporação. A outra, queria aventurar-se no desconhecido,
continuar perseguindo histórias e viver a vida na ponta dos
pés. Bom… decidi que consideraria a vaga. Talvez houvesse
uma maneira de combinar os dois mundos. Algumas
pessoas conseguiam encontrar um equilíbrio entre a
segurança do conhecido e a empolgação do desconhecido.

Ajeitei minha roupa pela última vez, pegando meu


carrinho e fui para o elevador. Marcia já tinha deixado um
conjunto de coisas para ser feito, peguei a primeira tarefa.
Cumprimentei algumas pessoas no caminho, acenando bom
dia. Por ser muito cedo, estava meio vazio. Não que ali fosse
cheio, era bem reduzido.

Entrei na sala do CEO, empurrando as bebidas para o


frigobar e me ajoelhei. Era meu segundo dia, mas já tinha
aprendido que no andar da presidência, todo cuidado era
pouco. Enquanto eu abastecia, a tranquilidade do momento
foi rompida pela abertura abrupta da porta.

Minha cabeça disparou ao perceber a figura imponente


que se destacava na entrada. Era ele. Niklas Von Sterling.
Eu tinha visto algumas fotos dele em reportagens, em
eventos de gala, mas nunca imaginei que sua presença
seria tão magnética ao vivo. A cor morena de sua pele
contrastava com a postura rígida, que denunciava toda a
autoridade que possuía. Seus olhos castanhos, quase
dourados, brilhavam com intensidade e o leve perfume
masculino que exalava dele era inebriante.

Minhas mãos trêmulas fecharam bem rápido a porta do


frigobar e, com todo o cuidado, coloquei-me de pé,
sentindo-me repentinamente pequena.

— Desculpe-me, Sr. Sterling. Não queria incomodar —


falei apressada, evitando fazer contato visual.

Houve uma pausa, um momento eterno, onde o tempo


pareceu parar e em que eu pensei que não deveria estar ali
dentro no momento em que chegasse. Ele me avaliou com
um olhar gélido que me fez estremecer.

— Bom dia — disse finalmente, a voz profunda


preenchendo o espaço.

Eu precisava me recompor, mostrar confiança, mesmo


que sentisse as pernas bambas.
— Gostaria de algo, Sr. Sterling? Alguma bebida, ou
talvez algo da copa? — perguntei, torcendo para que minha
voz soasse firme.

Ele me lançou mais um olhar penetrante, dessa vez


menos frio.

— Um café, por favor. E o meu omelete matinal.

— Claro, em alguns minutos eu trago.

Mantive a minha compostura e saí da sala o mais


rápido possível, empurrando meu carrinho e respirando
fundo. Mesmo que tivesse sido uma interação breve, o
impacto da presença dele era inegável. E o homem era
muito gostoso, minha nossa senhora da bicicletinha!
Enquanto seguia para a copa, só conseguia pensar em
como seria o resto do meu dia. Encontrei com Jim, o
advogado da empresa, conversando com a senhora
Crawford, seu nome era Kelly e era a assistente de Niklas.
Na rapidez do momento, me desculpei por minha presença
inoportuna na sala do CEO no momento de sua chegada.

— Não se preocupe, Emilia — disse Jim, um homem de


meia-idade, cabelos grisalhos e sorriso contagiante. — O Sr.
Sterling pode ser um pouco intimidador à primeira vista,
mas você vai se acostumar.

Kelly olhou meu carrinho lotado de pedidos de diversos


setores e sua expressão mudou para uma de preocupação.
— Emilia — ela começou com um tom de inquietação.
— Hoje é um dia importante. O Sr. Sterling tem várias
reuniões programadas e eu preciso que você esteja cem por
cento focada na presidência. Não posso perder tempo te
chamando para a copa toda vez que precisarmos de algo.

Respirei fundo, balançando a cabeça em concordância.

— Entendido, Kelly. Vou dar prioridade à presidência.

Depois de pedir licença, corri para a cozinha. Lá,


solicitei à chef o café da manhã específico do Sr. Sterling.
Ela já estava familiarizada com as preferências dele e
rapidamente começou a preparar o pedido. Em tom de
fofoca, me perguntou como foi conhecê-lo pessoalmente e
eu apenas ri, não respondendo como uma garotinha afetada
porque ali era o meu local de trabalho, mas era nítido que
todas as mulheres meio que se derretiam pela beleza do
homem.

E era inegável o quanto era bonito.

O dia se desenrolou em um ritmo frenético. Foi a


primeira vez que, de fato, trabalhei muito com o carrinho
por todo lado. A cada instante, novos pedidos surgiam e eu
me desdobrava para atender a todos, mas sempre dando
atenção sem igual à presidência. Apesar das muitas
reuniões, no entanto, entre todos os funcionários que
sempre puxavam assunto, foi com Jim que passei mais
tempo conversando. Ele era do tipo que carregava uma
gentileza natural e tornava fácil a comunicação, de forma
inesperada, me vi sendo envolvida em conversas profundas
sobre a minha vida, aspirações e até mesmo sobre minha
trajetória profissional. Ele era bem curioso, mas não muito
invasivo.

Eu ainda precisava me ajustar ao mundo corporativo, à


formalidade das relações e ao ritmo. No fim do expediente,
meus calcanhares queimavam e eu fiz o caminho até o
metrô no automático, com os olhos ardendo, sonhando com
a minha banheira, em deitar na minha cama com minha
gata e dormir. Nem queria comer. Só… apagar.
CAPÍTULO QUATRO
Niklas

Olhando através das amplas janelas do meu escritório


que proporcionavam uma visão panorâmica de Manhattan,
estava em meio a um profundo turbilhão de emoções. O
brilho das luzes da cidade não era capaz de me distrair da
conversa que tive com Cynthia. As palavras dela,
carregadas de ansiedade e preocupações, ecoavam em
minha mente.

Cynthia, minha ex-esposa, descrevia o estado de Kurt


após sua recente sessão de quimioterapia. Mesmo com
todos os meus recursos, conexões e influência que detinha
no mundo corporativo, parecia que eu era incapaz de fazer
algo pelo meu próprio filho. O tumor dele, localizado em
uma área crítica, havia se tornado nossa maior luta.

A impotência que sentia era avassaladora.

— Niklas, por favor, entenda que ele está muito


cansado esta semana — ela murmurou com voz trêmula.

A tensão entre nós era desconfortável, não por


desentendimentos, mas pelo peso que carregávamos
juntos.
— Eu só quero vê-lo, Cynthia. Mesmo que seja por
alguns minutos antes do jantar — implorei.

Ela suspirou.

— Claro, você sabe que sempre pode. Ele está mais


sensível hoje.

A lembrança do sorriso inocente de Kurt me atingiu.


Apesar da nossa separação, Cynthia e eu mantivemos uma
relação amigável, centrada em nosso filho. Tomamos a
decisão de morar perto um do outro, facilitando a rotina de
Kurt e a nossa própria. Sabíamos que, independentemente
das nossas diferenças, do rompimento de um casamento
muito planejado por nossos pais, Kurt era a prioridade
acima de tudo. E com a doença, o mundo que havíamos
cuidadosamente construído para ele estava sendo
ameaçado.

Olhando novamente para a cidade, bela e rica, percebi


o quão frágil a vida poderia ser. Por trás da minha postura
imponente e do título de homem poderoso, capas de
revistas e um monte de gente me bajulando, era apenas um
pai desesperado para salvar o filho.

E não conseguia.

Voltei para minha mesa, com a nuca latejando de dor e


os relatórios à minha frente eram um mar de números e
gráficos, todos apontando para um retorno de investimento
que não me satisfazia. A tensão de cada linha naqueles
documentos competia com o peso que sentia no coração.

Batidas gentis na porta me trouxeram de volta, tirando-


me brevemente de pensamentos perturbadores.

— Entre — disse, esperando ver minha assistente. Ao


invés disso, fui cumprimentado pela visão esplêndida da
Senhorita Cesarini, a nova copeira.

Desde que ela começou, notei algo diferente nela. Era


algo mais do que apenas aparência, embora isso também
não passasse despercebido. Ela tinha uma presença
vibrante e um ar curioso que contrastava com a rotina do
escritório.

— Desculpe pela interrupção, Sr. Sterling — ela disse


com um tom suave. — Kelly não estava na sua mesa e eu
pensei em trazer o café e os biscoitos para a próxima
reunião.

Dei uma olhada no relógio e percebi que estava prestes


a começar.

— Claro, por favor, entre e organize tudo — respondi,


tentando manter a compostura.

Ela acenou e começou a preparar a sala para a reunião.


Por um momento, me permiti observá-la. Sua maneira
meticulosa de arrumar tudo mostrava um certo foco no
trabalho, e eu admirava isso. No entanto, era inegável que
era deslumbrante, e cada movimento dela me fazia
questionar por que sentia certa atração por ela.

Seus longos cabelos castanhos pareciam sedosos de


longe, os cílios proeminentes eram um charme com os olhos
cor de mel, a boca rosada, bem preenchida e apesar do
uniforme ser todo fechado, ela tinha curvas generosas que
não chamavam somente a minha atenção. Uma jovem
mulher bonita também distraía até os melhores executivos.

Sacudi esses pensamentos da minha mente. Eu era o


CEO de uma das maiores empresas de Nova Iorque e, acima
de tudo, tinha um filho com quem me preocupar. Não era
hora de me distrair com tais pensamentos. Concentrei-me
novamente nos documentos, mas um pequeno sorriso
apareceu em meus lábios.

Ela saiu silenciosamente e depois, Kelly entrou com o


grupo de executivos que eu esperava. Chamei minha
assistente e disse que sairia mais cedo. Assim que a decisão
de cancelar as últimas reuniões do dia foi tomada, senti um
alívio imediato. Era como se um peso fosse retirado dos
meus ombros, permitindo-me focar no que realmente
importava: Kurt.

Mais tarde, caminhei pelos corredores do escritório,


cumprimentando todos ao passar. Quando cheguei ao
elevador, percebi que a senhorita Cesarini estava ao
telefone, parecendo um pouco confusa com alguma
instrução que estava recebendo. Ela levantou os olhos para
mim, um pouco surpresa por me ver ali.

— Boa noite, Sr. Sterling — disse com um sorriso tímido.

— Boa noite, Senhorita Cesarini — respondi.

O elevador chegou e, antes que pudesse entrar,


Memphis, meu fiel guarda-costas e motorista, deu um passo
à frente, bloqueando a entrada de qualquer outra pessoa.
Ele sabia que eu estava me sentindo exausto mentalmente
e agradeci a ele com um aceno de cabeça. O silêncio no
elevador foi bem-vindo.

Ao chegar ao térreo, entramos logo no carro e, em


minutos, estávamos a caminho do apartamento em que
meu filho estava.

As ruas da cidade passavam rapidamente pela janela,


mas minha mente focava em Kurt. Os últimos meses foram
uma montanha-russa de emoções e cada momento com ele
se tornou ainda mais precioso. O câncer era uma batalha
difícil, mas eu estava determinado a lutar ao lado de Kurt
até o fim. Até vencermos.

O carro parou em frente ao luxuoso edifício onde meu


filho vivia. Desembarquei rapidamente, com Memphis
seguindo logo atrás. A entrada do prédio estava iluminada,
criando um brilho dourado que contrastava com o céu
noturno.
Ao entrar, fui recebido pela Sra. Falcone, a governanta
que cuidava de Kurt desde que ele era um bebê. Uma
mulher italiana de meia-idade, com cabelos grisalhos e
sorriso sempre acolhedor, ela era como uma rocha
constante em meio à tempestade que estávamos
enfrentando.

— Boa noite, Sr. Sterling — ela me cumprimentou com


um sorriso caloroso. — Kurt está no quarto com a babá.

Agradeci e subi as escadas o mais rápido que pude. Ao


chegar à porta do quarto, ouvi uma risadinha suave. Abri a
porta e vi Kurt deitado na cama, rodeado por seus
brinquedos favoritos. Ao me ver, seus olhos se iluminaram e
ele deu um grande sorriso.

— Papai! — exclamou, estendendo os braços.

Senti meu coração se aquecer e corri para abraçá-lo.


Seus pequenos braços se enrolaram em volta do meu
pescoço, e por um momento, o mundo lá fora desapareceu.
Estávamos apenas nós dois, pai e filho, e nada mais
importava. Paty nos deu licença, saindo silenciosamente.

Conversamos sobre seu dia, e ele me contou sobre os


desenhos que tinha feito e as histórias que a babá lhe
contara. Tentei manter o ambiente leve, fazendo cócegas
nele e contando piadas. No entanto, no fundo, a realidade
da situação sempre estava presente. Seus belos olhos como
os meus estavam fundos, a boca pálida, os braços sem
tanta força e o gelo por perto para acalmar o enjoo
constante. O cabelo era loiro como o da mãe, mas devido ao
tratamento, estava ralo e bem curto, para não evidenciar a
fraqueza dos fios.

Eu tomaria tudo para mim se fosse possível. Me


rasgava por não conseguir arrancar a dor dele.

Mais tarde, enquanto o observava adormecer, disse


baixinho o quanto o amava antes de pegar minhas coisas
para ir embora. Cynthia me convidou para jantar, mas eu
queria ficar sozinho em casa. Despedi-me e saí, para em
alguns minutos, estar em meu edifício, na cobertura.

O barulho sutil da porta fechando atrás de mim era o


único som que cortava o silêncio. A escuridão era apenas
interrompida pela luz fraca das ruas de Manhattan e dos
arranha-céus vizinhos que se infiltravam pelas enormes
janelas. Eu amava aquela arquitetura, que me permitia ver
tudo, admirar a paisagem do lugar que nasci e cresci.

Com um suspiro cansado, larguei as chaves no


aparador, um móvel de madeira escura e acabamentos
dourados que complementava perfeitamente a estética
sofisticada do apartamento, uma decoração besta que
minha mãe escolheu e apenas dei de ombros depois do
divórcio. As chaves fizeram um pequeno tilintar ao tocar a
superfície.

Sem acender as luzes, caminhei lentamente pelo


espaço, sentindo o tapete macio sob meus pés. Minha
governanta, sempre prestativa e atenta, apareceu das
sombras, trazendo consigo um aroma suave de comida
recém-preparada que estava na cozinha.

— O jantar está pronto, Sr. Sterling — ela anunciou com


a voz calma e gentil.

Parei por um momento, com meus ombros tensos e a


mente em outro lugar. Acenei com a cabeça.

— Não estou com fome, senhora Prewitt. Pode ir


descansar.

Ela assentiu com um olhar compreensivo e se retirou


em silêncio, me deixando só mais uma vez.

Fui até o bar meticulosamente organizado com garrafas


dos destilados mais finos do mundo, dispostas
elegantemente em prateleiras de vidro iluminadas. Tirei o
terno, deixando-o descansar sobre o encosto de uma das
cadeiras. Meus dedos escolheram de forma aleatória uma
garrafa de uísque envelhecido, destilado em barris de
carvalho, e servi uma dose generosa no copo, apreciando o
líquido âmbar por um longo momento.

Com o copo em mãos, parei em frente à janela do chão


ao teto que oferecia uma vista panorâmica de Manhattan.
Sempre me perdia naquela vista, observando o ritmo
constante da cidade que nunca dormia, com suas luzes
cintilantes que pareciam dançar e se fundir em um mar de
desafios.
O uísque ardeu em minha garganta, mas era um ardor
bem-vindo, trazendo uma sensação momentânea de calor e
alívio. A bebida serviu como um breve escapismo da
montanha russa emocional que experimentei naquele dia
que não parecia ter fim.

Eu me permiti ficar ali por um tempo, com a cidade se


estendendo, a bebida quente e os pensamentos correndo
freneticamente. A tensão em meus ombros começou a
diminuir, fechei meus olhos por um momento, buscando
encontrar algum tipo de paz interior em meio ao turbilhão
de sentimentos. Por mais que a minha vida fosse
preenchida de luxo e sucesso, sentia o peso enorme das
minhas responsabilidades e preocupações. A vastidão do
meu apartamento era um contraste com a solidão que me
dominava naquele momento, era um lembrete doloroso de
que, às vezes, mesmo cercado de riqueza e opulência, um
homem como eu poderia se sentir completamente só.

Amargo e irritado, percebi que era melhor dormir.


Largando o copo, fui para as escadas em direção ao meu
quarto, na intenção de me preparar para ter uma boa noite
de sono. Mas não foi isso que aconteceu.

O dia chegou e lá estava eu, acordado, mas ainda


imóvel, meu olhar fixo no teto do meu quarto. Aquela visão
ampla e familiar era um breve segundo de calma antes da
tempestade que cada dia trazia. Passei os dedos pelos meus
cabelos, sentindo a maciez do travesseiro sob minha
cabeça. Mesmo naquela quietude, o tempo estava me
cobrando agir.

Deslizei para fora da cama, sentindo o frescor do chão


sob meus pés. Eu sempre valorizei a disciplina e levantar às
cinco da manhã todos os dias era uma prova disso.

Na cozinha, separei os ingredientes do meu pré-treino,


os bati rapidamente e enchi um copo, para engolir sem
sentir o cheiro ou pensar muito no gosto. Kurt ficava maluco
com a mistura. Peguei meu telefone e ao chegar na
academia, um breve aceno de cabeça foi trocado com meu
treinador. Ele conhecia bem a rotina: poucas palavras, muito
suor.

Cada levantamento, cada corrida, não era apenas sobre


manter-me em forma. Era uma luta contra os demônios
internos, uma maneira de liberar a raiva e a frustração que
se acumulavam dentro de mim. Era como se estivesse
afastando os medos e ansiedades que me assombravam.

Enquanto levantava os pesos, minha mente voltou aos


corredores das escolas de elite que frequentei. Lembrei do
som das risadas e conversas dos outros alunos, todos
nascidos em berço de ouro. Eu era apenas um entre muitos,
mas estava determinado a me destacar. Cresci rodeado de
luxo, mas também de expectativas. Meu pai queria sempre
o melhor para nossa família. Assumi os negócios com
determinação e, às vezes, implacabilidade, transformei
nosso legado em algo grandioso.
Mas, no fundo, enquanto suava e sentia cada músculo
do meu corpo se contraindo e se esticando, uma dor mais
profunda me consumia. Aquela dor não vinha dos exercícios,
mas do coração. O cruel paradoxo da vida: eu podia ter todo
o dinheiro do mundo, podia controlar impérios, mas não
podia garantir a saúde do meu filho. A cada repetição, uma
pergunta ressoava em minha mente: "Por que ele?”

Era um castigo por tudo que fiz na vida?


CAPÍTULO CINCO
Emilia

O alívio preencheu cada fibra do meu ser ao finalmente


clicar em "enviar" no rascunho do meu texto para o jornal.
Uma sensação familiar de antecipação me invadiu,
esperando, torcendo para que aquelas palavras fossem
aceitas. Perdi a conta de quantas vezes reli o conteúdo, e
ter permitido que um amigo revisasse deu uma certa
segurança, mas o medo da rejeição ainda habitava um
canto da minha mente.

Corri para preparar minha mochila para o dia. O


uniforme cinza da Sterling estava cuidadosamente dobrado,
o tecido ainda com o cheiro fresco de amaciante. Estava
longe de ser o emprego dos meus sonhos, mas era uma
necessidade temporária. Ajeitei o pote de comida de Cleo
antes de me servir de uma xícara de café quente, tentando
organizar meus pensamentos para o dia e não esquecer
nada.

Meus planos, no entanto, foram abruptamente


interrompidos por uma série de batidas ansiosas na porta.
Quem seria? Esperava que não fosse um vizinho pedindo
um favor em um momento no qual eu precisava sair. Com
um suspiro frustrado, caminhei até a porta, abrindo-a
apenas para ser saudada pelo rosto familiar de Emily, minha
irmã mais velha.

— Emily? O que você está fazendo aqui tão cedo? —


Tentei esconder a surpresa na minha voz e falhei.

Ela não poderia saber sobre meu emprego na Sterling.


Apesar de nossa ligação como irmãs, nossas diferenças às
vezes se sobressaíam, e não queria ouvir um sermão sobre
minhas escolhas ruins e decisões apressadas.
Especialmente quando já estava atrasada para o trabalho.

Com um sorriso travesso, ela se jogou nos meus braços,


quase me derrubando no processo.

— Ah, pensei que seria divertido passar um dia com


minha irmãzinha! Faz um tempão que não nos vemos e
consegui uma folguinha do hospital. Compras, comer,
comer e comer! Que tal?

Fiquei meio boquiaberta. Aquilo não estava nos planos.


As engrenagens da minha mente giravam bruscamente,
buscando uma desculpa que pudesse me tirar dessa
situação sem revelar o meu segredinho. E ao mesmo tempo,
um pedaço do meu coração se aqueceu com a ideia de
passar o dia com ela.

Foi uma atitude bem fofa da minha irmã. Puxando Emily


para dentro, fechei apressada a porta atrás dela.

— Quer um café? — ofereci, tentando manter minha voz


calma enquanto uma sensação de pânico começava a se
instalar. Ela assentiu e se acomodou no sofá, os olhos
imediatamente focando em Cleo, que se limpava
languidamente em uma almofada.

Sem perder tempo, Emily esticou a mão em direção à


minha gata, tentando acariciá-la. Mas Cleo, fiel ao seu
temperamento desconfiado, rapidamente arqueou as costas
e disparou para o outro lado da sala, escondendo-se atrás
de uma estante.

— Ah, Cleo! — Emily exclamou com uma expressão


exagerada de tristeza. — Por que sua gata tem que ser tão
antipática? — Ela me lançou um olhar repreensivo, como se
a culpa fosse minha.

Rindo, enchi duas xícaras de café e coloquei uma delas


na mesa de centro para Emily.

— Ela é seletiva — disse, em defesa de Cléo. — Não é


pessoal.

Emily fez um bico exagerado e eu suspirei.

— Em… — comecei hesitante. — Há algo que você


precisa saber. — Tomei um gole do meu café, usando o
breve momento para reunir coragem. — Fui demitida do
meu antigo emprego. É por isso que tenho que estar no
centro em pouco tempo, não estou mais em home-office e
com tempo livre. Arrumei um trabalho temporário para
pagar as contas.

Os olhos de Emily se arregalaram em choque.


— O quê? Mas por quê? O que aconteceu? — A
avalanche de perguntas e o olhar de preocupação em seus
olhos fez com que eu me sentisse ainda pior.

Forcei um sorriso.

— Foi um corte de orçamento.

Emily parecia perdida em pensamentos por um


momento, absorvendo a informação.

— E onde você está trabalhando agora?— perguntou


enfim.

— Na Sterling Corp — respondi, evitando seu olhar.

— Você está brincando, não é? Aquilo não tem nada a


ver com o que você estudou, com o que você sonhou para
sua carreira! — Sua voz tinha um tom de incredulidade.

Respirei fundo, tentando controlar a onda de emoção


que me atingiu. E ela nem sabia que, definitivamente, não
tinha nada a ver com o que me formei.

— É temporário, Em. Apenas até eu encontrar algo


melhor.

Ela balançou a cabeça, claramente desapontada, mas


depois de um momento, sua expressão suavizou.

— Está bem, vamos conversar sobre isso mais tarde. Eu


voltarei à noite, e então podemos ter uma conversa
adequada, ok? Quero saber tudo e tentar te ajudar da
melhor maneira possível.

Assenti, agradecida por ela não pressionar o assunto.

— Mas, Em… por favor, não conte aos nossos pais.


Ainda não. Eu não quero que eles se preocupem.

Ela deu um longo suspiro.

— Está bem. Por enquanto. Não vou te atrasar mais, vá


trabalhar, se cuida, eu te amo.

E, com isso, minha irmã se levantou, me deu um abraço


rápido e saiu do apartamento. Fiquei ali por um momento,
tomando meu café, tentando assimilar tudo que acabara de
acontecer. Ela ia falar horrores na minha cabeça quando
descobrisse que estava servindo cafezinho ao invés de
correr atrás de um prêmio Pulitzer.

Ao caminhar para o trabalho, as palavras de Emily


ecoavam em minha mente. Não era apenas o choque da
demissão ou do novo trabalho o que me incomodava, mas o
medo de mais uma vez não ser suficiente aos olhos da
minha irmã. Apesar de todas as nossas pequenas brigas, eu
olhava para Emily com uma mistura de admiração e um
pingo de inveja, embora odiasse admitir. Ela sempre teve
essa luz, uma confiança que me faltava.

Nossas brigas, na maior parte do tempo, eram triviais.


Discussões bobas, porém, acaloradas sobre um batom
perdido ou quem teria o direito sobre a televisão na sexta-
feira à noite. Mas por baixo dessa camada superficial, havia
uma coisa mais profunda. Era como se estivesse à sombra
dela a minha vida inteira. Emily foi a filha planejada, a
menina com o futuro brilhante traçado desde o berço. Eu?
Eu fui o acidente.

Meus pais, embora amorosos à sua maneira, nunca


foram bons em ocultar certas verdades. A forma casual com
que deixavam escapar que eu não estava nos planos iniciais
da família era como uma pequena lasca em meu coração
que nunca curava e eu tentava deixar de lado porque não
era mais uma criança para me importar com aquilo. Cada
menção em forma de piada sobre como a vida era
imprevisível e eu apareci de surpresa, apenas aprofundava
essa feridinha. Não era que eu me sentisse menos amada,
mas esses pequenos comentários, por mais inocentes que
fossem, tinham o poder de fazer com que eu me sentisse
uma intrusa, uma adição não planejada à perfeição que era
nossa família.

Então, quando olhava para Emily, via tudo o que meus


pais tinham planejado e desejado. Ela era a personificação
dos sonhos deles. Médica, tendo tudo para ser bem-
sucedida, um apartamento grande e iluminado, um bom
carro, namorado bonito e… eu? Um lembrete de que a vida
nem sempre segue um roteiro. Às vezes, isso fazia com que
eu me sentisse especial, como se fosse o toque de mistério
e surpresa na vida deles. Mas, na maioria das vezes, eu me
sentia fora de lugar, tentando encontrar espaço em uma
vida que não tinha sido feita para mim.

E agora, com a reviravolta inesperada em minha


carreira, o sentimento de inadequação se tornou ainda mais
forte. Trabalhar na Sterling e na lanchonete, longe do
mundo acadêmico que sempre conheci, parecia ser mais
uma confirmação de que eu estava desviando do caminho e
Emily continuava sua trajetória ascendente.

Eu queria poder confiar nela, contar tudo, ser


compreendida e acolhida. Mas a insegurança que cultivava
desde a infância me impedia. Quando conseguiria,
finalmente, me sentir à altura da minha irmã? Quando
sentiria que pertencia verdadeiramente à minha família?

Chegando ao trabalho, não tinha mais tempo para


remoer nada. O ritmo era frenético. Troquei de roupa e fiz
uma maquiagem básica, subindo os andares com meu
carrinho e indo direto para a copa. Minha primeira tarefa era
certificar de que as máquinas de café estavam com
cápsulas e assim, fui indo de sala em sala enquanto os
funcionários não chegavam.

Mais tarde, durante minha reorganização de latas de


chá e café, ouvi uma batida gentil na porta. Não era o tipo
de batida apressada que eu estava acostumada a ouvir
quando as assistentes dos chefes queriam algo rápido, no
mundo urgente que eles viviam. Talvez nem mesmo a
emergência de um hospital exigia algo tão rápido quanto os
executivos daquele andar. Nem mesmo o senhor Sterling
era tão exigente quanto alguns dos outros. Era uma batida
paciente e calma. Ao abrir a porta, dei de cara com Jim.
Seus olhos gentis me encontraram com um calor
reconfortante e sua postura, sempre tão segura, parecia
destoar da humildade com que ele se comportava.

Mesmo sabendo da influência e poder que Jim detinha


na Sterling, era difícil ver qualquer traço de arrogância nele.
Desde o meu primeiro dia de trabalho, se mostrou amigável
e solícito, como se genuinamente se importasse com o bem-
estar de todos ali. Ele não era apenas um superior, mas
alguém que eu comecei a ver como um mentor, um ponto
de apoio no caos da Sterling.

— Emilia, minha querida — ele começou com seu típico


tom paternal. — Você já enviou aquele texto para o jornal?
Estou ansioso para lê-lo.

Minhas bochechas coraram instantaneamente.

— Sim, Jim — respondi hesitante. Nada de chamá-lo de


senhor. Era regra, ele detestava. Sua esposa, Amélia,
também. — Já enviei. Mas, para ser honesta, não estou
muito confiante. Há tantos escritores talentosos e mais
experientes por aí. Por que eles me escolheriam?

Jim inclinou a cabeça, analisando-me como se tentasse


decifrar algo em meus olhos.
— Sabe, a confiança não vem apenas do talento. Vem
da paixão que você coloca em cada palavra. E pelo pouco
tempo que te conheço, posso ver que você tem muito disso.
Não subestime a sua voz.

Seus comentários me pegaram de surpresa. Em um


mundo onde todos estavam sempre tão ocupados com suas
próprias vidas e metas, Jim tinha o dom de me fazer sentir
ouvida e valorizada.

— Obrigada, Jim. Sua fé em mim significa muito.

Ele deu um sorriso caloroso e acenou.

— Basta lembrar que cada vez que você duvidar de si


mesma, haverá pessoas ao seu redor que acreditarão em
você, mesmo que você não acredite. Agora, continue seu
bom trabalho e, quem sabe, em breve estaremos lendo suas
colunas no jornal.

Com isso, ele se virou e saiu da copa, deixando-me com


um sorriso grato no rosto.

Terminei o meu trabalho no horário e corri para sair,


porque tinha o meu encontro com Emily. Cheguei em casa
exausta, mas a presença de Cleo sempre tinha o poder de
me acalmar. Adotá-la foi uma das melhores decisões da
minha vida, mesmo que tenha sido para juntar meus
trapinhos e começar uma família com meu ex-namorado,
que me traiu com a namorada do nosso melhor amigo, mas
tudo bem. Meus pais me avisaram para não me iludir, ele
era um músico… Enfim, Cleo era uma boa coisa de algo
ruim.

Eu achei que tendo tantos irmãos e pais com


casamentos sólidos, Benedict não meteria um belo par de
chifres na minha cabeça. Mas ele fez isso. Depois chorou e
escreveu um álbum pedindo desculpas. Eu o perdoei, quer
dizer, éramos amigos, mas nunca mais rolou qualquer coisa
entre nós.

Depois de lhe dar um pouco de carinho, tomei banho e


troquei de roupa, decidi me distrair com algo que adorava:
cozinhar.

Escolhi preparar o prato favorito meu e da minha irmã,


separando os ingredientes e descongelando o molho. Em
pouco tempo, começou a borbulhar suavemente no fogão,
eu tinha carne já no formato no congelador, então, o aroma
das almôndegas no forno preencheu o ar.

— Vou fazer o nosso espaguete ao pesto favorito —


avisei a Emily, antecipando sua alegria.

— Perfeito! Estou a caminho com uma garrafa de vinho


— ela respondeu com entusiasmo.

Quando Emily chegou, eu já tinha colocado o espaguete


para cozinhar e estava virando as almôndegas no forno. Em
cima do balcão, estavam as folhas de manjericão e o queijo
a ser cortado. Ela entrou, falando pelos cotovelos e
reclamando que Cleo desapareceu assim que a viu. Eu ri de
novo. Minha gata não gostava de visitas. Enquanto abria a
garrafa de vinho, nossa conversa fluía naturalmente.
Começamos falando sobre os novos filmes, seriados que
estávamos assistindo e as pequenas trivialidades da vida. A
noite estava boa, e eu queria prolongar aquele momento
raro e gostoso entre nós o máximo possível. Mas sabia que,
eventualmente, teria que falar sobre a verdade, sobre o que
estava realmente acontecendo comigo.

Tomando um gole profundo de vinho, engoli em seco.

— O orçamento no meu antigo emprego foi cortado e...


bem, fui uma das 'premiadas'. Para pagar as contas e não
recorrer aos nossos pais, consegui um emprego temporário
como garçonete aos finais de semana e copeira durante a
semana.

Ficou um silêncio pesado. Emily me encarava, e eu


podia ver uma mistura de emoções cruzando seu rosto. Para
meu alívio, o primeiro sentimento que ela expressou foi de
orgulho.

— Sinto muito por tudo isso. Mas estou impressionada.


Você encontrou uma maneira de continuar, de se manter
sem pedir ajuda aos nossos pais, meu bebê está crescendo!
Porém, você é uma jornalista talentosa. Não é justo que
esteja servindo mesas e arrumando salas. E, caramba,
papai vai falar muito sobre isso, ele… você precisa de
alguma ajuda financeira?

Respirei fundo.
— Eu sei. É frustrante e humilhante em muitos
momentos. Mas, Em, aprendi que tenho que fazer o que for
necessário para sobreviver e, ao mesmo tempo, continuar
perseguindo meus sonhos.

Ela assentiu e, por um momento, ambas apenas


olhamos para nossas taças, perdidas em pensamentos.
Finalmente, Emily levantou a taça em um brinde.

— Às voltas que a vida dá e à incrível capacidade que


temos de nos adaptar e seguir em frente. E que em breve,
você esteja de volta ao seu caminho de sucesso. Eu não vou
contar aos nossos pais, ok? Você é adulta e no que precisar
de mim, estarei aqui. Só não vou aceitar que desista da sua
carreira ou que se conforme com esse tipo de emprego…
você é uma jornalista, não esqueça.

Sorri, sentindo uma onda de gratidão.

— Obrigada, Em. Te amo.


CAPÍTULO SEIS
Emilia

As luzes dos carros, principalmente dos táxis, piscavam,


enquanto eu e Jenna caminhávamos em direção ao pub,
atravessando as avenidas com saltos altos, correndo com
risadinhas adolescentes. A sensação do tecido do meu
vestido preto contra minha pele e o movimento dos meus
cabelos soltos ao vento faziam-me sentir viva e confiante.
Com nossos braços cruzados, acenamos para os seguranças
e meio que pulamos a fila enorme porque éramos clientes
antigos.

Ao entrar, deixei que a atmosfera vibrante me


envolvesse, já movendo meus ombros no ritmo da música.
As conversas animadas, risos e o tilintar de copos me
saudaram, puxa vida, senti saudade de ser jovem e
inconsequente como nos tempos da faculdade. Ultimamente
só estava sendo trabalho e contas a pagar. Logo de cara, vi
Benedict. Meu coração deu um pequeno salto. Mesmo que
tivéssemos terminado nosso relacionamento e
continuássemos bons amigos, ele ainda tinha aquele
mesmo sorriso charmoso e olhos brilhantes que me
atraíram no passado.
— Hey, Emilia! — disse ele, levantando-se para me
cumprimentar com o clássico beijinho de canto de boca que
se não desviasse a tempo, iria ser nos lábios. Era inegável
que sua altura e charme ainda me deixavam de pernas
bambas.

Jenna e eu nos juntamos a eles. Bono, meu melhor


amigo, sempre o brincalhão, levantou-se e, com um exagero
teatral, puxou a cadeira para mim.

— Para a estrela da noite! — exclamou.

Sorri, agradecendo a ele. Mesmo com todas as


mudanças recentes na minha vida, era reconfortante saber
que eu ainda tinha amigos que me apoiavam.

— Vocês não vão acreditar na semana que tive! —


comecei, depois de pedir minha bebida favorita para o
garçom que nos atendia.

Benedict sentou ao meu lado e ocasionalmente,


lançava olhares em minha direção, aquele tipo de olhar que
mostrava que ainda se importava. Não que estivéssemos
planejando reatar, mas havia uma história ali e era difícil
ignorar completamente. Eu fui muito apaixonada por ele e
sua traição me rasgou, me deixou insegura sobre confiar em
homens e um tanto cética. Emily dizia que eu me tornei má,
reativa com o sexo masculino, precisando relaxar um pouco
e ouvir o outro lado ao invés de surtar na primeira
oportunidade.
Jenna, sempre a mais extrovertida do grupo, dominou
grande parte da conversa, contando suas histórias hilárias
do jornal em que trabalhava e fazendo todos nós rirmos.
Bono acrescentou seus comentários sarcásticos, ele era
editor de moda, mais crítico impossível e Benedict, com sua
risada contagiante, fez a noite parecer especial.

Em meio a brindes e muita conversa, em algum


momento estúpido decidimos beber tequila e foi assim que
despertei lentamente, sentindo a cabeça latejar e uma
sensação de pesar me envolver. A diversão da noite anterior
ainda pairava no ar, mas a realidade batia à minha porta. Eu
me estiquei na cama, Cleo ronronou e se aninhou ao meu
lado, oferecendo o tipo de conforto silencioso que apenas os
animais de estimação conseguiam.

A sensação era de morte, mas pelo menos, estava em


minha casa, segura e sozinha. Benedict e eu dividimos o
mesmo táxi no fim da noite e eu fui capaz de sair dele
desacompanhada, o que significava que não bebi o meu
juízo. Era inexplicável o motivo pelo qual ainda nos
falávamos, levou um bom tempo, tínhamos muitos amigos
em comum e eu deixei de lado a briga. Só nunca voltaria.
Ele me perdeu e ponto.

Sentei-me, esfregando os olhos e pensando nos meus


amigos. Jenna estava fazendo o que amava. Bono tinha
recentemente conseguido uma coluna de moda e Benedict
prosperava em sua carreira de música. E eu? Parecia que,
em meio a tudo isso, era a única deslocada, lutando para
encontrar meu caminho.

Senti uma onda de frustração e tristeza. Era como se


todos estivessem navegando por mares calmos, enquanto
eu seguia presa em uma tempestade sem fim. Como
cheguei àquele ponto? Por que estava sendo tão difícil para
mim encontrar o meu lugar?

Com Cleo me seguindo, desci as escadas e fui até o


pátio dos fundos. O ar fresco da manhã fez maravilhas para
minha ressaca. Sentindo a grama sob meus pés, sentei-me
com um suspiro profundo. Coloquei Cleo no meu colo, que
se aconchegou confortavelmente e peguei um livro que
estava lendo. Não era um livro sobre carreiras ou autoajuda,
mas uma simples história que poderia me levar para longe
dos problemas. Eu era viciada em romances, talvez esse
fosse o motivo pelo qual vivesse no mundo da lua,
esperando algo incrível cair do céu.

Mesmo tendo um histórico de relacionamentos


fracassados e fama de um temperamento difícil, eu ainda
sonhava em encontrar um amor como as mocinhas. Elas
nunca estavam procurando, essa deveria ser a resposta.
Fiquei perdida por um bom tempo nas páginas do livro,
permitindo que a história me transportasse para outro
mundo. Consegui esquecer os meus problemas e me perder
em um lugar onde as coisas faziam sentido. O peso da
realidade ainda estava lá, à espreita, mas por aquele breve
momento, fui capaz de encontrar paz e tranquilidade.
Cleo ronronava, safadinha, e eu sorri, ela era a minha
fiel companheira. As coisas não estavam perfeitas naquele
momento e ainda não sabia exatamente para onde estava
indo, mas por um instante, com o sol gostoso de domingo,
minha gatinha e um bom livro, senti uma onda de gratidão.
Grata pela chance de respirar, ler e apenas ser. E era
suficiente por hora.

Emily ficaria orgulhosa do meu momento good vibes.

A segunda-feira amanheceu fresca e ensolarada.


Milagrosamente, estava bem disposta a me dirigir à
Sterling. Depois de um fim de semana reflexivo e relaxante,
estava pronta para enfrentar a semana. Mesmo que o cargo
de colunista ainda estivesse pendente, eu não ia deixar
essa incerteza me deter, nem podia me dar ao luxo de ficar
sentada esperando. Eu tinha que mostrar o que valia,
mesmo que isso significasse explorar outras áreas da
empresa em que trabalhava atualmente.

Ao passar pelas portas da frente, recebi alguns acenos


amigáveis dos funcionários. O aroma familiar de café e o
zumbido dos computadores me saudaram. Sem perder
tempo, caminhei decididamente em direção ao RH,
intencionada em expressar meu interesse no setor de
comunicação. Se eu conseguisse me posicionar ali, poderia
ter uma chance melhor de mostrar minhas habilidades
jornalísticas…
Depois de conversar com a gerente do departamento e
deixar minha ficha muito bem preenchida para o setor de
comunicação, me despedi, grata pelo ótimo atendimento e
fui para o corredor, pois tinha que estar no meu andar.
Cheguei pronta para facilitar e não me atrasar, prevendo
algum imprevisto.

Apertei o botão do elevador, esperando ansiosamente.


As portas deslizaram abrindo-se lentamente e, para minha
surpresa, o interior estava ocupado por ninguém menos que
o senhor Sterling. Com a postura impecável e olhar
penetrante, ele exalava uma autoridade quase magnética.
Ao seu lado estava Jim, com a expressão sempre amigável e
paternal, e um guarda-costas, alto e musculoso, que eu
reconheci de vista. Ele estava sempre pela presidência.

Engoli em seco com o meu coração acelerando. Queria


parecer profissional, mas ser pega de surpresa assim fez
com que eu me sentisse um pouco deslocada. Jim,
percebendo meu desconforto, me deu um sorriso
tranquilizador. Já o senhor Sterling apenas me observava,
com aqueles olhos castanhos profundos avaliando cada
movimento meu.

— Entre, Srta. Cesarini — Jim disse, fazendo um gesto


para o espaço vazio ao lado dele. Com um aceno de cabeça
agradecido, entrei no elevador, tentando manter a
compostura.
O silêncio foi desconfortável. Todos estavam em seu
próprio mundo, cada um com seus pensamentos e eu
tentando não bater os pés de nervosismo. Me esforcei para
manter o foco, porque ter o senhor Sterling perto e
emanando uma energia tão dominante me distraía. Podia
sentir o calor dele, mesmo que não estivesse me tocando.
Então, o elevador deu uma pequena sacudida e os nossos
olhares se encontraram pelo reflexo das portas. Por um
breve segundo, o tempo pareceu parar. Ele se afastou,
voltando a encarar o nada, com uma expressão
inescrutável.

A viagem até o nosso andar parecia infinita,


eventualmente, as portas se abriram, libertando-me
daquela intensa atmosfera. Com um suspiro de alívio, saí,
tentando não pensar muito no que acabara de acontecer e
fui para a copa. Eu tinha um dia cheio pela frente, e embora
o senhor Sterling fosse uma distração bem-vinda, afinal, a
beleza dele era um colírio para os meus olhos, foi um dia
agitado que eu fiquei especialmente grata quando o fim
dele se aproximou.

Desde a manhã, havia uma tensão esquisita no ar,


muitas reuniões de portas fechadas, relatórios sendo
pedidos e secretárias com pressa para tudo. A maior parte
dos funcionários eram gentis, mas havia uma ou duas
exceções que pareciam existir apenas para testar minha
paciência, algo que eu não tinha muito desde o berço. Uma
das assistentes, Carol, tinha um talento especial em
encontrar maneiras de tornar meu trabalho mais
complicado.

Seus saltos agudos soavam nos corredores como o


prenúncio de algum pedido exasperante ou crítica
desnecessária. Ela sempre me chamava com um sino.
Sério? Eu era o quê? Ou com o dedinho apontado… nem
mesmo na lanchonete era necessário ser chamada, éramos
treinados a ter contato visual com o cliente para antecipar
as suas necessidades. E mais uma vez, ela estava me
chamando perto de ir embora.

Ao chegar à sua mesa, me deparei com um pedido


familiar:

— Emilia, por favor, troque a lixeira. Já lhe disse para


fazê-lo regularmente — ela reclamou com um tom que
soava mais como uma ordem do que um pedido.

Respirei fundo. Trocar a lixeira não era exatamente a


minha função, e eu já havia percebido que argumentar com
Carol era inútil. Até acreditava que ela confundia o meu
uniforme cinza escuro com o cinza claro da limpeza, talvez
não fosse o caso…

— Claro, Carol — respondi com um sorriso forçado,


pegando o saco de lixo quase vazio e substituindo-o por um
novo. Era uma tarefa tão pequena e desnecessária, mas, se
aquilo a faria feliz...
Aparentemente, não era suficiente para Carol. Estava
me preparando para sair quando ela derramou um pouco de
café no chão. Não foi um grande desastre, apenas algumas
gotas, mas ela me olhou.

— Emilia, não vai limpar isso? Parece que cada vez que
passo por aqui, há uma nova mancha no chão — disse ela,
com uma expressão de desdém.

Toda a raiva e frustração que havia contido ao longo do


dia ameaçavam transbordar. Eu não era faxineira, meu
problema, em hipótese nenhuma, era a recolher o lixo ou
limpar, mas sim, que não possuía material adequado para
tal função. Era a copeira, servia comida. Antes que eu
pudesse dizer algo, lembrei da promessa que fiz a mim
mesma de manter a calma e evitar conflitos. Respirei fundo
novamente, agachei e limpei as gotas de café. Senti os
olhos dela sobre mim enquanto limpava. No fundo, sabia
que ela fazia essas coisas apenas para afirmar algum tipo
de domínio ou autoridade. Ela deveria sentir-se insegura em
seu próprio papel e encontrar alguém para menosprezar lhe
dava uma sensação de poder.

Independentemente de suas razões, não me permitiria


ser afetada por sua negatividade. Levantei com o pano de
limpeza na mão e lhe dei mais um sorriso forçado.

— Está tudo limpo agora, Carol — disse calmamente.

Eu ia explodir.
Ela apenas acenou com a cabeça, já absorta em outra
tarefa. Eu me virei e continuei com o meu trabalho,
lembrando-me de que cada dia na Sterling era uma
oportunidade e faltava pouco para ir embora. À medida que
o dia terminava e eu voltava para casa, disse a mim mesma
que não levaria o peso daquelas pequenas coisas comigo,
afinal, atritos podiam acontecer em qualquer lugar e eu
tinha uma vida fora daquele edifício. Não permitiria que o
comportamento de uma pessoa amargurada me
derrubasse.

Expulsei o humor ruim no caminho para o bairro em


que fui criada, atravessando a ponte para o Queens,
observando alguns turistas animados, tirando fotos até
mesmo do ônibus em que estávamos. Havia algumas
crianças brincando na calçada e entrei no prédio, subindo as
escadas bem rápido com minha mochila nas costas. O
aroma doce da comida e o som alegre das conversas me
receberam assim que cruzei a porta da casa dos meus pais.

Sempre amei as reuniões familiares.

Antes de aparecer na sala, tirando meu casaco, pude


ouvir meus primos falando sobre suas recentes conquistas:
um carro novo, um apartamento no centro da cidade,
promoções no trabalho. O ambiente estava permeado de
sucesso e revirei os olhos, já me sentindo como uma
pequena ilha, distante e deslocada. Dei um olá geral, sem
abraçar um a um.
Mamãe, com sua bandeja de entradinhas, veio ao meu
encontro e depositou um beijo caloroso em minha testa.

— Ah, minha filha! Você chegou! Seu avô estava


perguntando por você.

Meu avô tinha orgulho de cada um de nós. Ele sempre


foi nosso maior incentivador, dizendo que deveríamos
perseguir nossos sonhos, não importando quais fossem.
Com delicadeza, me aproximei dele. Seus olhos idosos, mas
ainda brilhantes, me examinaram de cima a baixo.

— Minha neta querida! — ele exclamou. — Como está o


trabalho no jornal?

Hesitei por um segundo. Eu poderia dizer a verdade e


arriscar que ele ficasse desapontado. Mas não queria que se
preocupasse.

— Está tudo ótimo, vovô. Cada dia é uma nova


aventura e estou aprendendo muito.

Ele sorriu de volta, satisfeito.

— Sabia que você se sairia bem. Sempre disse que você


tinha talento.

Desviei o olhar, sentindo um aperto no coração. Desejei


que aquelas palavras fossem verdade. Mesmo assim,
agradeci e fui me misturar aos demais convidados, tentando
não me ater muito aos assuntos de trabalho. Fiz o meu
melhor para manter o sorriso e participar das conversas,
rindo das piadas e ouvindo as histórias. Mas por dentro,
uma voz me atormentava, lembrando-me de que eu era a
única que não tinha "conquistado" nada.

Ao mesmo tempo, ficava me questionando por que eu


me importava tanto com aquilo. O sucesso não se tratava
apenas de bens materiais ou títulos. Era sobre as ligações
que construíamos, os momentos que compartilhávamos e o
amor que sentíamos uns pelos outros. E, nesse aspecto, eu
era tão rica quanto qualquer outra pessoa naquela sala. Eu
tinha uma família que me amava, isso deveria importar,
certo?

O mais importante era estar ali, celebrando mais um


ano de vida do meu querido pai.
CAPÍTULO SETE
Niklas

O quarto do hospital tinha um clima estranhamente


tranquilo, contrastando com o tormento que se desenrolava
dentro de mim. Era luxuoso, decorado de cores neutras e
com um toque moderno, e tinha a assinatura de
exclusividade que minha mãe, Victoria, exigia para tudo em
sua vida. Mas, apesar de todas as amenidades e
privacidades que o quarto oferecia, eu daria tudo para que
Kurt não estivesse ali.

Meu filho estava deitado na cama, abraçado a um


ursinho de pelúcia que compramos em uma de nossas
aventuras. Seus olhos opacos eram uma sombra do brilho
que normalmente tinham, a alegria que ele explodia estava
longe de ser vista. O som contínuo dos monitores ecoava na
sala, me lembrando da batalha que ele estava enfrentando
e eu não podia fazer nada para amenizar. A quimioterapia
tirava a energia dele, deixando-o pálido e com olheiras.

Mamãe estava sentada ao meu lado, olhando para Kurt


com os olhos cheios de lágrimas contidas. Mesmo com toda
a postura e aparência elegante, eu podia ver a dor em seu
olhar. Ela virou-se para mim e tentou segurar minha mão,
procurando oferecer algum conforto.
— Niklas — ela sussurrou. — Eu sei o quanto isso é
difícil, mas você precisa ser forte por Kurt.

Olhei para nossos dedos, o contraste de sua pele negra


com a minha morena, e puxei minha mão rapidamente,
evitando o toque.

— Eu sei, mãe. Não preciso que me lembre disso a cada


segundo.

Ela suspirou pesadamente.

— Não estou tentando te irritar. Estou apenas tentando


ajudar.

Eu a encarei.

— E eu estou tentando manter a calma e ser o pai que


Kurt precisa. Mas é difícil, mãe. É difícil vê-lo assim e não
poder fazer nada.

Mamãe aproximou-se, tentando me envolver em seus


braços, mas recuei.

— Eu sei, querido. Mas você não está sozinho nisso.


Estou aqui por vocês dois.

Minha raiva cedeu um pouco.

— Eu sei, mãe. Obrigado.

Ela assentiu e voltou sua atenção para Kurt. A dor e a


impotência que sentíamos eram compartilhadas no quarto.
Kurt era a luz de nossas vidas e vê-lo sofrendo assim era
uma tortura. Fechei os olhos, tentando me controlar. Os
momentos de fraqueza eram raros para mim, mas ver meu
filho nesse estado me despedaçava por dentro. Eu faria
qualquer coisa para trocar de lugar com ele, para aliviar a
sua dor. Mas tudo o que podia fazer era estar ali, ao lado
dele, segurando sua mão e rezando sempre pelo seu
melhor.

O silêncio do quarto era interrompido apenas pelo som


dos monitores e pela nossa respiração contida. Cada
segundo parecia uma eternidade, mas eu estava
determinado a enfrentar cada um deles, pelo bem de Kurt.

Mamãe levantou-se e se aproximou da janela, olhando


para fora.

— Ele vai ficar bem, Niklas — ela disse suavemente. —


Kurt é um lutador, assim como você.

Eu assenti, me forçando a acreditar naquelas palavras,


a me apegar a fé. Por Kurt, eu manteria a esperança viva,
não importando quão difícil fosse. Por ele, eu enfrentaria
qualquer coisa. E juntos, superaríamos aquela batalha e
todas as outras que a vida mandasse porque éramos fortes.

Após o hospital, o edifício do trabalho sempre pareceu


uma prisão. Uma fortaleza de concreto e vidro onde minha
presença era obrigatória, mas raramente desejada. A
manhã já estava sendo um inferno, com a voz irritante de
um comentarista de podcast ainda ecoando em minha
mente, criticando-me por não cumprimentar a imprensa
durante o evento beneficente do último fim de semana.
Como se, com tudo o que estava acontecendo em minha
vida, eu tivesse a menor paciência para lidar com as
superficialidades da mídia.

Ao chegar ao meu andar, junto a Memphis, a primeira


coisa que vi foi uma cena que fez meu sangue ferver ainda
mais. A nova copeira, Emilia, pegava pedaços de vidro com
as mãos, ajoelhada no chão, enquanto duas assistentes
estavam paradas perto, tomando café como se estivessem
em uma cafeteria qualquer.

Não acreditei no que vi.

O ruído dos cacos de vidro se chocando em suas mãos


e o murmúrio das duas assistentes pareciam amplificados
em minha mente. Minha raiva estava à beira de explodir, e
a veia da minha testa pulsava como um alerta de que eu
estava prestes a perder o controle.

— Emilia — disse com uma voz firme e controlada,


tentando não deixar minha ira transparecer. — Levante-se
com cuidado e vá lavar as mãos. Agora.

Ela me olhou, assustada e surpresa, mas obedeceu


rapidamente, apressando-se em direção ao banheiro.

Dirigindo meu olhar para as duas assistentes, senti


uma raiva borbulhante, mas escolhi ignorá-las, passando
direto para a minha sala. O comportamento delas era
inaceitável e eu já estava pensando em como repreendê-
las. No entanto, antes de tomar qualquer decisão, precisava
saber o que havia acontecido.

— Memphis. Solicite as imagens de segurança. Preciso


ver exatamente o que aconteceu aqui.

Ele assentiu e se afastou, enquanto eu me sentava em


minha mesa, tentando controlar o turbilhão de emoções
dentro de mim. Por um momento, fechei os olhos,
lembrando-me de Kurt e de tudo o que estava enfrentando
com um sorriso no rosto. Ele disse que me amava e queria
comer pipoca antes de o deixar com minha mãe. Mesmo no
caos, o menino queria coisas simples. Aquilo me deu a força
que precisava para enfrentar o dia e lidar com todas as
situações que se apresentassem.

O ambiente do escritório parecia um pouco mais tenso


do que o normal porque todos sabiam que eu estava prestes
a explodir.

Quando Jim entrou, exalei um suspiro aliviado. Ele,


como sempre, tinha aquele olhar clássico e avaliador. Não
era apenas o fato de ser meu mentor e amigo de longa
data, mas também meu padrinho de batismo. Com ele,
sempre me senti um pouco mais vulnerável, como se
conseguisse ver através da minha máscara de indiferença.
Era o equilíbrio nas minhas relações, até mesmo com meus
pais.
Ele sentou-se em frente a mim, cruzando as mãos
sobre a mesa, esperando que eu começasse. O silêncio
entre nós era carregado, mas um tipo de silêncio
confortável. Que dizia: "estou aqui para você”

Soltei outro suspiro, daquela vez cansado.

— Quero uma reprimenda formal contra aquelas


assistentes. Elas perseguem Emilia constantemente. Eu
sei... parece pequeno e não sei por que estou me deixando
afetar, mas isso tem que parar.

Jim me observava com seus olhos aguçados, mas havia


uma complacência neles. Ele estava tentando entender,
tentando ver além da superfície do que eu falava.

— Isso é só sobre a Emilia? — ele perguntou


suavemente. — Quando ela deixou de ser senhorita Cesarini
para você?

— Eu não sei, ela é jovem e gentil, mas vejo o quanto


Carol gosta de antagonizá-la. — Respirei fundo, frustrado
comigo mesmo. — Não. Não é só isso — admiti, afundando
na minha cadeira. — A mídia não para de falar sobre o meu
humor ruim, criticando cada movimento meu. Sei que
deveria ignorar, mas com tudo o que está acontecendo... é
difícil.

Ele assentiu.

— Você sempre foi forte, mas também é humano. Tem o


direito de sentir, de ficar irritado, de se machucar. E você
também tem o direito de se defender.

Olhei para Jim, grato pela compreensão. Mas algo


dentro de mim ainda estava se debatendo.

— Por que estou me preocupando com a Emilia? Por


que esse incidente em particular me irritou tanto?

Jim abriu um pequeno sorriso que não chegava a seus


olhos.

— Às vezes, nos preocupamos com os pequenos


incômodos porque são mais fáceis de lidar do que os
grandes. Talvez proteger Emilia seja uma forma de você
proteger a si mesmo de coisas que não pode resolver.

Fiquei em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Havia


verdade nelas. Talvez, ao me preocupar com a injustiça que
Emilia estava enfrentando, eu estivesse tentando encontrar
alguma forma de justiça para mim mesmo, para Kurt, para
todos os desafios que enfrentava.

— Você está certo — murmurei. — Como sempre.

Jim riu, uma risada calorosa que quebrou a tensão no


ar.

— Só estou tentando ajudar, Niklas. Sempre estarei


aqui para você. — Jim se inclinou para trás em sua cadeira,
estudando-me com aquele olhar clássico de quem está
prestes a fazer uma sugestão inusitada. — Você precisa de
uma companhia para esses eventos. Alguém que possa
suavizar um pouco sua imagem.

Ergui uma sobrancelha, minha expressão


provavelmente comunicando uma mistura de incredulidade
e curiosidade.

— Está me sugerindo que eu 'alugue' alguém para ser


minha namorada nos eventos? — ironizei, mesmo sabendo
que Jim falava sério.

Ele soltou uma risada breve.

— De certa forma, sim. Alguém que possa fazer você


parecer mais... acessível. Menos como o solteirão rabugento
que a mídia adora pintar.

Passei a mão pelos cabelos. A ideia parecia absurda,


mas eu não podia negar que algo precisava ser feito em
relação à minha imagem pública. Ainda assim, não
conseguia me imaginar escolhendo uma mulher apenas
para me fazer parecer melhor. Jim ajeitou seus óculos, como
sempre fazia quando estava prestes a revelar algo.

— Eu tenho uma sugestão — disse cautelosamente.

Levantei uma sobrancelha, incentivando-o a continuar.

— Emilia — ele simplesmente declarou.

Por um momento, fiquei em silêncio, tentando


processar a sugestão.
— A copeira? — Eu estava surpreso, mas também um
pouco intrigado.

Jim acenou com a cabeça.

— Ela é muito mais do que isso, Niklas. É doce,


inteligente, bonita e tem uma presença incrível. Além disso,
ela é jornalista. Ela sabe como se comportar em eventos,
como lidar com a imprensa.

Respirei fundo, pensando na Emilia que eu conhecia.


Aquela que estava sempre com um sorriso no rosto, que
enfrentava adversidades do trabalho com graça.

— É uma ideia interessante — admiti lentamente —


Mas você acha que ela aceitaria?

Jim pareceu confiante.

— Não sei. Mas não custa perguntar. E, para ser


honesto, acho que vocês dois poderiam se beneficiar com
essa arrumação.

Olhei para fora da janela, contemplando a cidade


abaixo e ponderando a ideia. Parte de mim estava cética,
mas outra, curiosa. Eu mal conhecia Emilia, mas algo nela
sempre chamava minha atenção. Talvez fosse a postura
calma em meio ao caos ou o modo como ela parecia
genuinamente se importar com as pessoas ao seu redor.
Resolvi confiar no julgamento de Jim, porque ele raramente
estava errado.
— Ok. Vamos ver o que ela acha.

Jim acenou com a cabeça, parecendo satisfeito.

— Vou conversar com ela. Mas, Niklas — ele


acrescentou —, se você for seguir com minha sugestão, seja
sincero e transparente. Ela merece.

Eu assenti, me comprometendo internamente a fazer


isso.

Sozinho em meu escritório, ativei a visualização das


câmeras de segurança na tela do meu computador. Mesmo
que tivesse acesso a todas as câmeras da Sterling, nunca
me interessava por espiá-las. Saber que poderia ver Emilia
sem ela perceber parecia uma invasão de privacidade, mas
a curiosidade me venceu. Ela movia-se com uma graça
silenciosa, quase como uma dança ao deslizar pelos
corredores, atendendo a todos com um sorriso genuíno.

“Eu realmente estou considerando isso?” Pensei.


Sentia-me um adolescente ansioso novamente. A forma
como seus cabelos caíam sobre seus ombros, o modo como
os olhos pareciam correr por todo lado mesmo em meio à
monotonia do dia-a-dia, me faziam imaginar como ela
ficaria em um vestido de gala e com joias brilhando em sua
pele. As câmeras não faziam justiça à beleza, mas mesmo
assim, ficava atraído por sua imagem.

Eu ri de mim mesmo, percebendo o quão absurdo era


ficar observando as câmeras de segurança como um
desocupado. Em um momento de distração, eu a vi se
inclinar para pegar algo no chão, possivelmente uma caneta
e enquanto se endireitava, seu olhar encontrou a câmera.
Por um momento, senti como se ela estivesse olhando para
mim, como se soubesse que eu estava observando.

Meu coração deu um pulo, e rapidamente desliguei a


visualização, me repreendendo por minha tolice. Passei as
mãos pelo rosto, tentando dissipar os pensamentos sobre
Emilia. "É apenas um contrato," lembrei a mim mesmo,
"Nada mais." Eu sabia que na minha atual condição, era
perigoso abrir portas que há muito estavam fechadas, mas
parte de mim queria saber para onde aquela estrada me
levaria.

Pegando meu terno, decidi que precisava de ar fresco,


sair um pouco do escritório, antes que minhas emoções
tomassem o controle por completo.
CAPÍTULO OITO
Emilia

Dei uma olhada no meu reflexo no espelho, tentando


recuperar o fôlego. O frescor do banheiro era um contraste
bem-vindo com o calor constrangedor que tinha
experimentado lá fora. Joguei um pouco de água na nuca,
me acalmando. Cada batida do meu coração ressoava em
meus ouvidos como o retumbar de um tambor.

"Como é que eu fui parar nessa situação?", eu me


perguntava. Nunca imaginei estar ajoelhada no chão do
corredor da Sterling, principalmente na frente do próprio
senhor Sterling. E para piorar, as duas assistentes, as
constantes pedras no meu sapato, estavam logo ali,
desfrutando de suas bebidas enquanto eu fazia o papel de
tola.

Por um momento, enquanto recolhia os cacos de vidro e


limpava o café, me senti invisível, até que a voz dele, clara
e firme, cortou o ar. "Levante-se com cuidado e vá lavar as
mãos. Agora". Fiquei surpresa que ele tenha notado, e mais
ainda, que tenha intervido.

Eu não tinha problema com trabalhos manuais. Longe


disso. Afinal, eu estava trabalhando como copeira e
garçonete. Mas havia algo diferente ali e nem fazia ideia do
motivo pelo qual elas gostavam de me antagonizar (na
verdade, eu não era a única funcionária da copa com quem
elas implicavam). Naquele momento foi como se ele
estivesse reconhecendo que eu vinha sendo tratada
injustamente e, por um breve momento, senti-me vista.

Olhando novamente para o meu reflexo, analisei o rosto


um pouco vermelho, meus olhos um tanto arregalados. "Por
que isso te afetou tanto, Emilia?", perguntava-me
internamente. Eu não esperava mesmo. Ele era a última
pessoa que esperava que notasse algo assim. O senhor
Sterling tinha uma reputação bem firme. Todos sabiam que
era rigoroso, determinado e, muitas vezes, implacável. No
entanto, naquele breve encontro, mostrou um lampejo de
algo diferente. Um tipo de justiça.

O barulho de água corrente trouxe-me de volta à


realidade. Lavei as mãos, deixando a água fresca limpar o
resquício de café entre meus dedos.

Ao sair do banheiro, decidi que era hora de parar de me


preocupar tanto com o que os outros pensavam. Era fácil
me perder no mar de julgamentos e expectativas,
especialmente em um lugar como a Sterling. Mas sabia
quem eu era e do que era capaz. E por mais humilhantes
que fossem os momentos em que me sentia diminuída, eles
não definiam o meu valor. Eu definia. Renovada, voltei ao
trabalho.
Assim que cheguei à copa, Márcia me chamou em sua
sala. Por trás da mesa, ela me olhava de um jeito
repreensivo que eu conhecia bem.

— Você sabe o quão perigoso é pegar cacos de vidro


sem a devida proteção. E não apenas isso, se você está
tendo problemas com a equipe, é o seu dever reportar a
mim, Emilia.

Minha mandíbula apertou levemente. Era frustrante


que, mesmo tentando fazer o certo, às vezes parecia que
tudo conspirava contra mim. Márcia apenas fazia o trabalho
dela cuidando da minha segurança, por mais que a
abordagem fosse um pouco dura.

— Peço desculpas, Márcia. Vou me certificar de usar o


equipamento adequado da próxima vez e comunicar
qualquer problema.

Ela assentiu, encerrando a conversa, e eu saí da sala de


cabeça erguida.

À medida que o dia passava, um sentimento estranho


me envolveu. Uma sensação de estar sendo observada
começou a me dominar a cada vez que levantava os olhos
ou olhava por cima do ombro, procurando por algum olhar
ou indício, mas nada estava acontecendo. Tudo parecia
normal. A sensação persistia, como uma coceira que não
conseguia alcançar. Poderia ser paranoia? Ou estresse
acumulado de todos os eventos anteriores? Não tinha
certeza, e começou a me incomodar. Na Sterling, com
tantas pessoas andando, era fácil se sentir apenas mais um
número, então por que tinha a sensação de que alguém
estava focando especificamente em mim?

Eu não era arrogante ao ponto de pensar que pessoas


viviam me observando. O restante do dia, embora
desafiasse a minha paz de espírito, passou sem incidentes.
Era quase o final do expediente quando Jim, uma presença
sempre tão carismática e muito bem-vinda, apareceu do
nada na minha frente, com um sorriso caloroso que só ele
conseguia ter.

— Emilia, que bom ainda te encontrar aqui. Tem um


tempinho para tomarmos um café juntos no restaurante do
prédio? Tenho uma proposta a fazer e queria te explicar
pessoalmente — ele falou com calma.

Um convite de Jim para tomar café? Eu nunca esperaria


por algo do tipo. Até porque, jamais houve qualquer
movimento não profissional na minha direção, sempre foi
respeitador e até um tanto paternal, algo que gostava na
relação que estávamos construindo.

— Claro, Jim. Só vou trocar de roupa rapidinho e te


encontro lá.

Alguns minutos depois, sentei na frente dele, que já


havia feito os pedidos, portanto, tínhamos xícaras
fumegantes entre nós. A conversa começou a fluir
facilmente entre risadas e alguns comentários bem
espertinhos sobre o dia a dia da Sterling. Mas havia um ar
de expectativa da parte dele que não compreendia
completamente e uma tensão subentendida que só
aumentava minha curiosidade sobre o motivo de estarmos
ali.

Depois de um breve momento de silêncio, Jim respirou


fundo.

— Eu não te chamei aqui apenas para falar sobre


besteiras. Tenho uma proposta para você.

Minha mente começou a correr em várias direções. O


que Jim, um homem tão influente, poderia querer comigo?
Ele continuou, escolhendo cuidadosamente suas palavras.

— Eu gostaria que você se tornasse a acompanhante do


senhor Sterling. — Meu rosto deve ter exibido uma confusão
evidente, porque ele logo acrescentou. — Não no sentido
que você está pensando! Nada sexual. Niklas precisa de
alguém como você, que tenha habilidade de conversar, com
uma boa postura e educação em eventos importantes.

Estava atordoada. Acompanhante do Sr. Sterling? O


mesmo homem que, mais cedo, me repreendeu por recolher
cacos de vidro?

Jim percebeu meu desconforto.

— Veja bem, Niklas tem uma certa... dificuldade em


lidar com as formalidades sociais. Com seu charme e
habilidade de conversação, você pode ser o que ele precisa
para suavizar a imagem dele. — Puxa vida. Aquilo era
totalmente inesperado. Ainda estava processando a
informação quando ele adicionou o que parecia ser um
incentivo tentador. — Em troca, terá um excelente salário,
cartas de recomendação para os maiores jornais do país e a
chance de conhecer editores-chefes pessoalmente.

Por um momento, tudo o que pude fazer foi olhar para


Jim, tentando assimilar tudo. Aquela era uma oportunidade
inusitada e, um pouco assustadora. Mas as possibilidades...

— Óbvio, que, não te forçaria a nada que você não


quisesse. Mas considere isso. Pode ser uma oportunidade
que mude sua carreira.

Suspirei, olhando para a minha xícara de café com os


pensamentos tão acelerados que pareciam estar chocando-
se uns com os outros. Era tentador, sem dúvida. Mas havia
muito em jogo. Jim me observava pacientemente,
esperando a minha resposta. E, em meio à cacofonia na
minha mente como uma banda desconexa, uma voz suave
e persistente se destacava: "e se isso for o que você precisa
para virar a página?”.

Eu pedi um tempo para pensar. Não podia dizer nem


que sim e muito menos que não sem considerar. Ele, claro,
aceitou me dar aquela chance para reunir minhas ideias e
com isso, agradeci o café e sua gentileza, pegando minhas
coisas porque tinha um compromisso importante.

A proposta de Jim rodava em minha cabeça a cada


passo que dava em direção ao restaurante japonês. Estava
caminhando por uma avenida movimentada, mas por
dentro, me sentia como se estivesse flutuando. Fingir ser a
namorada de Niklas Sterling? Nunca em meus sonhos mais
loucos teria imaginado algo assim. Embora a ideia fosse
tentadora, especialmente considerando a possibilidade de
alavancar minha carreira, também me fazia sentir um nó no
estômago.

Ao entrar no restaurante, fui atingida por uma onda de


aromas deliciosos, o que por um breve momento desviou a
atenção da minha confusão interna. A recepcionista me
levou até a mesa em que estava sendo esperada. As luzes
quentes e suaves do local, junto ao tilintar das taças e o
burburinho alegre, me fizeram sentir um pouco mais
centrada. Encontrei minha irmã, Emily, sentada com seus
amigos e colegas médicos, todos impecavelmente vestidos
e envolvidos em conversas animadas.

— Emilia! Finalmente! Estávamos esperando por você


— Emily acenou para mim, sorrindo. Ela ficou de pé e me
deu um abraço apertado.

— Desculpa pelo atraso, Em — murmurei, dando-lhe um


beijo na bochecha. — O trânsito estava horrível.

Depois de cumprimentar a todos, sentei-me ao lado


dela. Por mais que tentasse, não conseguia me envolver nas
conversas, até porque, entre dois médicos, não entendia
nada do que falavam. Meus pensamentos continuavam
voltando para Niklas, para Jim e aquela proposta insana. O
que as pessoas pensariam? Como seria estar ao lado dele?
E o mais importante, eu realmente estaria pronta para
embarcar em tal aventura?

— Terra para Emilia — Emily riu, me cutucando. — Está


tudo bem? Você parece a milhões de quilômetros daqui.

Balancei a cabeça com um sorriso.

— Desculpa, Em. Só estou com muita coisa do trabalho


na cabeça.

Ela olhou para mim, seus olhos afiados como os de uma


cirurgiã que ela era, e então suspirou, preocupada com as
minhas recentes reclamações do trabalho.

— Não vai me dizer que é por causa daquela mulher


que te persegue, não é?

Sacudi a cabeça rapidamente.

— Não, não é isso. É algo... diferente.

Emily sorriu, pegando minha mão.

— Você sabe que pode contar comigo, certo? Sempre


que estiver pronta.

Acenei em agradecimento, tentando me concentrar no


sushi à minha frente. Mas, no fundo, sabia que uma decisão
precisava ser tomada. E rápido. E quanto a mim, estava
dividida entre o desejo de uma carreira brilhante e o receio
de me perder em uma farsa tão grande quanto aquela. Fui
embora depois de jantar, para não dizer que nunca fazia
nada com Emily, mas estava exausta e ainda teria que
trabalhar no dia seguinte.

O silêncio do meu apartamento era quase ensurdecedor


quando entrei, um contraste com o ruído do restaurante na
comemoração da minha irmã. A única luz vinha da rua,
infiltrando-se pelas cortinas. Deixei minha bolsa sobre o
sofá e me dirigi para o quarto, onde uma sensação de
cansaço me invadiu.

Tomei banho e, de roupão, deslizei para debaixo do


edredom, sentindo a presença suave da minha gata, Cleo,
aninhando-se ao meu lado. Seus olhos verdes piscavam
para mim, quase como se estivesse perguntando o que
estava acontecendo. Como explicaria a ela? "Ei, Cleo, sua
mãe está considerando fingir ser a namorada de um
magnata dos negócios. Louco, não é?"

Ri baixinho com a ideia, mas logo minha mente voltou a


girar. Havia uma clara linha entre ser ambiciosa e me
vender, estava com medo de cruzá-la e me arrepender. Não
queria ser rotulada ou julgada, mas estava cansada de
bater contra uma parede na minha carreira. Precisava de
algo mais, de uma chance de mostrar o meu valor. Eu era
boa de verdade. Só precisava de uma chance.

Levantei, ainda mergulhada em pensamentos e


caminhei até a estante, onde estava o caderno com os
artigos que havia escrito. Passei os dedos pelas páginas
amareladas, me recordando de quando escrevi cada um
daqueles textos. Lembrei da época da faculdade, quando
sonhava em ser reconhecida por minhas palavras e por
minha paixão pelo jornalismo. Naquela época, acreditava
firmemente que uma vez formada, as portas se abririam
para mim.

E ainda estava esperando…

Deixei-me levar pelas memórias, lendo alguns dos


textos e sentindo aquele orgulho inicial de ver meu nome
impresso. Era aquele amor que eu precisava lembrar. O
desejo ardente de escrever, contar histórias e ser
reconhecida pelo meu talento.

Olhei novamente para Cleo, que agora estava enrolada


em uma bola sonolenta no canto da cama.

— E se eu tentasse, Cleo? E se eu usasse essa


oportunidade, não como um atalho, mas como uma
ferramenta para abrir portas?

Não seria fácil. Seria julgada, talvez ridicularizada. Mas


também sabia que, se conseguisse navegar por esse novo
desafio com integridade e foco, poderia sair do outro lado
com mais do que entrei.

Iria tentar.

Cleo miou suavemente em resposta, como se estivesse


me dando sua bênção silenciosa.
CAPÍTULO NOVE
Emilia

Meu coração estava leve ao entrar no imponente


edifício da Sterling Corp. O sol da manhã refletia nas
paredes de vidro e metal, fazendo o prédio parecer ainda
mais grandioso. O barulho do salto dos meus sapatos
ecoava pelo saguão enquanto caminhava, passando pela
segurança, e cada passo me fazia sentir mais empoderada,
entrei no elevador de ombros eretos, sem encarar ninguém
em específico.

A decisão de aceitar a proposta de Jim foi difícil, mas,


no final, senti que era o melhor a fazer. Sempre acreditei no
meu talento e com os contatos certos, poderia realmente
avançar na minha carreira. E como eu disse a mim mesma,
não era um acordo baseado em desejos carnais. Era uma
oportunidade: uma troca. A possibilidade de realizar meus
sonhos encontrava-se no horizonte, e estava ansiosa para
correr em sua direção.

A primeira pessoa que encontrei foi Kelly, a secretária


do Sr. Sterling, e ela olhou para mim surpresa. Pelo que
sabia, ela não fazia ideia do acordo.

— Uau, Emilia, você está radiante hoje! — ela


exclamou, a voz soando genuinamente impressionada.
— Obrigada, Kelly. São apenas saltos altos — respondi,
meu sorriso se alargando ainda mais. — Gostaria de um
café?

— Claro! E, ah, o Sr. Sterling estará aqui em breve. Você


pode adiantar o café dele com a chef? — Kelly acrescentou
com um olhar entendido.

Assenti, agradecendo internamente pelo aviso. Preparar


o café do Sr. Sterling era quase uma ciência, e a chef
sempre fazia questão de que tudo estivesse perfeito. Mas
minha mente permanecia focada em outro lugar: Jim.
Precisava encontrá-lo e dizer que aceitaria a proposta. Mais
do que isso, queria agradecê-lo por ver algo em mim que,
às vezes, eu mesma tinha dificuldade de enxergar.

Rapidamente, preparei o café do jeitinho que Kelly


gostava e o coloquei junto a alguns biscoitos. Com a
bandeja em mãos, saí da cozinha, ouvindo os pedidos no
caminho, anotando outros para não esquecer e começando
o dia na correria a qual já estava me acostumando.

Após o almoço, enquanto voltava pelo corredor de um


dos elegantes escritórios, notei Jim saindo de uma das salas
de reunião. Seu rosto, geralmente sério e focado, iluminou-
se com um sorriso amigável ao me ver.

— Emilia! — ele acenou. Eu rapidamente me aproximei.

— Oi, Jim — respondi, tentando parecer tranquila,


embora a expectativa borbulhasse dentro de mim. — Estava
mesmo querendo conversar contigo.

Jim me levou até um canto mais reservado e, por um


momento, estudei sua expressão, tentando adivinhar se ele
já havia conversado com Niklas sobre mim.

— Aceito a proposta. Sei que pode ser uma grande


oportunidade, não apenas para mim, mas para mostrar meu
valor e construir minha carreira. Então, quais são os
próximos passos?

Jim parecia aliviado e contente com minha decisão.

— Que bom, minha querida. Acredito que você tornará


essa experiência muito enriquecedora. Vamos formalizar
tudo em contrato, garantindo a segurança de todos e os
seus benefícios.

Acenei, satisfeita.

— E sobre o Sr. Sterling? Ele já sabe?

Jim hesitou por um momento.

— Sim, ele sabe. E, só para reiterar, esse contrato é


estritamente profissional. Niklas tem a própria vida e você,
a sua. Apenas desejo muito que ambos se beneficiem da
parceria.

A menção do nome de Niklas fez um arrepio subir pela


minha espinha. Era uma figura muito misteriosa e a ideia de
estar próxima dele, mesmo que profissionalmente, era tanto
intimidadora quanto excitante. Eu ia ser a namorada falsa
de um bilionário. Caramba!

— Entendo — murmurei. — Sabe, é curioso. Todo


mundo o vê como esse magnata inatingível. É estranho
pensar que vou estar, de certa forma, 'próxima' dele.

Talvez devesse ler a biografia do homem para ter um


pouco mais de noção sobre a vida dele, porque certamente
não teríamos uma reunião com direito a vinte perguntas,
como nos encontros feitos através de aplicativos.

Jim riu suavemente.

— Niklas é um bom homem, Emilia. Ele pode ser


reservado e proteger a privacidade dele, mas é muito mais
do que os tabloides fazem parecer. Acho que vocês vão se
dar bem.

Olhei para Jim, absorvendo suas palavras. Ele tinha


razão, eu não devia julgar Niklas com base no que a mídia
dizia. Em vez disso, deveria formar minha própria opinião. A
primeira coisa que deveria fazer, era me despedir da copa e
depois, conversar com o advogado, para entregar meus
dados e assinar um acordo de confidencialidade. Eu fiz
conforme a explicação de Jim e no fim do expediente, senti
certa tensão ao me despedir da copa. Márcia, sempre
atenta, franziu a testa, claramente confusa.

— Para onde você acha que está indo? — ela


perguntou.
— Eu… bem, não vou mais trabalhar aqui na copa —
expliquei com um sorriso hesitante.

Houve um breve silêncio, pontuado por alguns olhares


surpresos das minhas colegas.

— Vou sentir sua falta, Emilia — disse Tânia, uma das


copeiras mais antigas.

Eu ri, tentando esconder minha crescente ansiedade.

— Obrigada. Mas não estarei tão longe.

As despedidas foram agridoces. A Sterling Corp não


havia sido minha casa por tanto tempo, mas fiz boas
amizades e ao sair, recebi uma mensagem de Jim sobre o
endereço onde deveria encontrar sua esposa. Pouco tempo
depois, estava do lado de fora de um luxuoso salão de
beleza. Era ali que começaria minha transformação. O nome
"Amélia Westwick" gravado elegantemente na porta de
vidro. Ela era casada com Jim e, por isso, estava bem ciente
do que a vida ao lado de um poderoso homem de negócios
exigia.

Tomei uma profunda inspiração e entrei. O aroma do


salão era uma mistura de produtos caros e flores frescas.
Amélia estava sentada em uma das cadeiras, folheando
uma revista de moda. Ao me ver, levantou-se e me deu um
abraço caloroso. Eu a conheci na empresa, em uma de suas
visitas ao marido, e ela era igualmente simpática.
— Emilia, querida, que bom que você veio! Estou
ansiosa para ajudá-la a brilhar.

Por um momento, fiquei um pouco desconfortável.


Nunca fui do tipo "patricinha" que frequentava aqueles
lugares e minha ideia de moda era usar o que fosse
confortável por causa do trabalho, sexy somente para sair.
No entanto, logo lembrei-me de que precisava parecer à
altura do homem com quem estaria com frequência em
público.

— Obrigada, Amélia. Honestamente, estou um pouco


nervosa. Nunca fiz nada assim antes.

Amélia sorriu e acenou para uma das estilistas.

— Não se preocupe. Vamos cuidar de você. Queremos


apenas acentuar sua beleza natural.

As horas voaram enquanto era mimada e cuidada.


Amélia não apenas me orientou sobre o tipo de roupas que
deveria usar, mas também me ensinou sobre postura,
etiqueta e como se comportar em eventos de alto nível. A
cada etapa, ela se assegurou de que eu me sentisse
confortável e confiante. Nunca foi grosseira, apenas era
muita informação. Eu queria um bloco para poder anotar
tudo.

— O mais importante — Amélia me lembrou enquanto


eu admirava minha transformação no espelho. Meu cabelo
estava mais brilhoso, com ondas adoráveis, e minhas
sobrancelhas foram feitas, pintadas, penteadas e
harmonizadas com o meu rosto. — Continue autêntica. Você
tem uma beleza e graça naturais. Nunca perca isso,
independentemente do que estiver vestindo ou de onde
estiver.

Assenti, sentindo uma gratidão profunda por sua


gentileza e orientação. Saí do salão não apenas parecendo,
mas sentindo-me como uma nova mulher. Chamei um táxi,
dando-me o luxo de ir de Manhattan até o Harlem, mas a
corrida não deu muito cara devido o contrafluxo do horário.
Cumprimentei um vizinho e entrei em casa.

O som da minha porta se fechando atrás de mim ecoou


no silêncio do meu apartamento, trazendo uma sensação
surreal e muito gostosa de acolhimento. Olhei-me no
espelho do corredor, ainda tentando reconhecer a mulher
que me encarava de volta. Meu cabelo, uma vez simples e
sem graça, agora tinha vida e movimento graças ao toque
mágico da equipe de Amélia.

Com cuidado, coloquei a bolsa do salão sobre a mesa


da sala e a abri. Uma variedade de produtos brilhantes e
caros que ali estavam, cada um prometendo manter a
beleza que havia sido criada naquele dia. Peguei a cartilha e
folheei as páginas, com instruções detalhadas sobre como
usar os produtos. Aquilo seria um desafio por si só. Eu era
do tipo que usava condicionador e esquecia de seguir o
cronograma capilar.
Emily me acusava de “ter sorte de ser bonita”. O cabelo
dela era mais grosso e cacheado que o meu, embora
alisasse no salão há anos.

Deslizei os dedos sobre o balcão da cozinha até


encontrar uma garrafa de vinho. Despejei um copo,
permitindo que o líquido rico e rubi me ajudasse a relaxar
enquanto eu processava a montanha-russa emocional do
dia. Assim que sentei no meu sofá, o mundo pareceu ter
diminuído de velocidade. Meus colegas de faculdade
estavam escalando em suas carreiras, conseguindo
promoções e sendo reconhecidos em suas áreas, enquanto
eu seguia parada, sentindo-me invisível e sem valor.

Até aquele momento.

O sabor do vinho na minha língua trouxe uma onda de


confiança. Não, eu não estava vendendo minha alma ou
dignidade. Apenas abri uma porta, uma que me levaria a
novos horizontes e oportunidades. Ainda assim, uma dúvida
persistente me atormentava: como explicaria aquilo aos
meus pais?

Merda. Eu não havia pensado neles antes.

Eles eram simples e sempre enfatizavam a importância


da integridade e trabalho árduo. Ficariam decepcionados?
Confusos? Felizes por mim? Eu podia ouvir a voz da minha
mãe, suave, mas firme, perguntando: "Você está fazendo
isso pelas razões certas, Emilia?"
Tomei outro gole, sentindo o vinho aquecer meu
estômago. Eu estava, claro. Queria mais para mim do que o
que a vida me oferecia no momento. E se isso significasse
estar ao lado de Niklas Sterling, um homem poderoso, bem,
sentia-me pronta. Bebi tudo e deixei a taça vazia de lado,
levantei e caminhei até minha janela, olhando o pátio dos
fundos. Era a única visão que tinha. Havia tomado uma
decisão, e então, estava comprometida.

Fiquei jogada na cama até dar a hora de jantar, Emily


disse que tinha uma novidade e, no horário, saí. Cleo ficou
meio irritada em ser deixada sozinha de novo. Ao chegar à
casa dos meus pais, quis abrir o meu coração para eles,
queria que soubessem de tudo. Mas um receio me prendia,
com a incerteza de qual seria a reação deles ao ouvir sobre
minha nova "aventura".

Quando entrei, a sala estava preenchida pela luz suave


da tarde e pela voz da minha mãe cantarolando na cozinha.
Ela me saudou com um sorriso caloroso e um abraço
apertado, como se soubesse que eu precisava disso.

— Emilia! Que bom que veio! Seu pai está nos fundos
— disse ela, sem perceber a tempestade de emoções
dentro de mim.

Preparei-me mentalmente para contar tudo, para


explicar as escolhas que fiz, a demissão e tudo que rolou
como uma bola de neve em seguida. Antes que pudesse
reunir coragem suficiente, um grito alegre e familiar soou
pela casa. Emily entrou como um furacão, o rosto irradiando
felicidade e entusiasmo. Atrás dela, Matthew, seu
namorado, carregava um enorme buquê de flores.

— Eu fui promovida! Agora sou Residente-chefe! —


Emily exclamou, quase sem fôlego, enquanto a mamãe a
envolvia em um abraço efusivo. O olhar orgulhoso de meu
pai, que apareceu da porta dos fundos, dizia tudo: minha
irmã havia alcançado algo incrível.

Em meio a risadas de emoção e abraços, Matthew se


ajoelhou, pegando a mão de Emily. Seu pedido de
casamento inesperado fez a sala inteira parar. Todos
estávamos surpresos, e o sim emocionado dela foi seguido
por mais comemorações e lágrimas. Diante daquela cena,
senti alegria pela minha irmã. Mas qualquer tentativa de
abordar minha situação pareceria um balde de água fria
naquele momento especial.

Papai estourou champanhe, enchendo nossas taças.


Brindamos ao futuro de Emily e Matthew, às suas conquistas
e ao amor que compartilhavam. Os risos e as conversas
preenchiam a sala, fiquei sorrindo e participando, mas, por
dentro, queria muito compartilhar minhas notícias,
desabafar, porém, o momento não era propício. Teria que
esperar outra ocasião, um tempo onde pudesse ser o centro
das atenções e onde meus pais poderiam digerir tudo sem
distrações.
Apenas me alegrei com a felicidade da minha família e
tentei deixar de lado meus próprios problemas, prometendo
a mim mesma que, em breve, encontraria a coragem para
abrir meu coração e contar a eles tudo que estava
acontecendo na minha vida.
CAPÍTULO DEZ
Niklas

A luz suave da manhã se infiltrava pelas cortinas


espessas do meu quarto, lançando um brilho dourado em
tudo. A cada movimento meu, o relógio de bolso clássico,
exigido na vestimenta daquele evento, fazia um leve
barulho em meu terno, lembrando-me da pressa com a qual
precisava terminar de me arrumar. Não era que eu
realmente me importasse com a aparência, mas o mundo
dos negócios exigia uma certa etiqueta. E essa, às vezes,
incluía brunchs inúteis com clientes realmente importantes.

Aproximei-me do espelho, ajustando a gravata


borboleta, quando meus olhos captaram um reflexo
pequeno e familiar na cama atrás de mim. Kurt estava
sentado, com as pernas cruzadas, observando-me com
aqueles olhos enormes e brilhantes, cheios de curiosidade e
admiração.

— Você parece chique, papai — ele exclamou com um


entusiasmo contagiante, seus dedinhos erguendo os
polegares em aprovação. Um sorriso involuntário se formou
em meus lábios, afastando a tensão do momento.

— Obrigado, campeão — respondi, virei e me inclinei


para dar-lhe um beijo na testa.
A verdade era que, embora tivesse concordado com o
contrato com Emilia, uma parte de mim achava aquilo
ridículo. Por que eu, Niklas Sterling, precisaria de uma
acompanhante para eventos? No entanto, conhecia minha
própria natureza. Não tinha paciência para conversas fúteis,
e uma acompanhante como Emilia poderia ser o equilíbrio
que precisava entre mim e o resto do mundo em eventos
como o que estava prestes a ir.

Kurt parecia entender meus sentimentos sem que eu


tivesse que expressá-los.

— Papai, quando eu for mais velho, poderei ir com você


— ele declarou com sua determinação fofa.

Acabei rindo da sinceridade dele.

— Mal posso esperar por esse dia, amigo. Você será o


melhor parceiro de negócios que um pai poderia pedir.

Ele sorriu, claramente satisfeito com a ideia, e pulou da


cama, correndo para a porta, chamando por sua babá e
dizendo que estava com fome. Ao vê-lo sair, um suspiro
escapou dos meus lábios. A pressão e as expectativas
daquela manhã pareciam esmagadoras. O evento, Emilia, os
banqueiros... Tudo parecia um redemoinho de
responsabilidades. Mas olhando para Kurt, fui lembrado de
por que fazia tudo aquilo. Era por ele e pelo futuro dele.

Ajeitei o terno, respirei fundo e me preparei para


enfrentar o dia. Independentemente das opiniões e
julgamentos, eu sabia quem era e o que estava fazendo.

Encontrei Memphis na sala e nós saímos juntos,


seguindo do meu bairro até não muito longe, felizmente,
sem tanto trânsito. A senhorita Cesarini não morava do
outro lado da cidade, o que era bom, mas eu também ficava
curioso sobre como ela vivia por ali. Meu motorista parou e
olhei para o prédio à minha frente, os dedos tamborilando
na porta do carro em um ritmo ansioso. Por mais que
tentasse não demonstrar, a verdade era que estava
nervoso.

Encontrar Emilia em um contexto fora do ambiente de


trabalho era novo para mim, e o contrato que firmamos só
aumentava a tensão.

Memphis, sempre atento, já estava de pé ao lado do


carro, esperando minha instrução. Eu poderia simplesmente
tocar a buzina ou mandar uma mensagem, mas algo em
mim dizia que descer do carro e esperá-la era o movimento
correto. Um ato de cavalheirismo, ou apenas uma maneira
de garantir que o dia começasse bem.

A porta do prédio não abriu. Em vez disso, meus olhos


se voltaram para uma escada que parecia vir de algum
lugar abaixo da superfície da calçada. E de lá, ela emergiu.
Emilia. O ar ao meu redor pareceu rarear por um instante.
Ela estava, sem dúvida, deslumbrante. O vestido floral
abraçava sua silhueta curvilínea de uma maneira tão
graciosa que era impossível não notar. Os cabelos soltos, o
brilho sutil da maquiagem e os cachos que emolduravam
seu rosto apenas intensificaram a beleza.

Tentei conter o olhar de surpresa, mas falhei


miseravelmente.

Emilia aproximou-se com um andar elegante, seus


olhos exibindo entusiasmo. Ela me cumprimentou, um
sorriso nervoso adornando seus lábios.

— Bom dia, Sr. Sterling. — Ela estendeu a mão.

Eu a peguei, surpreso com o calor e a maciez dela.

— Bom dia, Emilia. Você está... impressionante.

Um leve rubor tingiu suas bochechas, e seu sorriso se


tornou mais genuíno.

— Obrigada. Espero que esteja adequada para a


ocasião.

Acenei com a cabeça, indicando o carro.

— Estamos atrasados. Vamos?

Ela concordou e Memphis abriu a porta para ela.


Enquanto a via entrando no carro, respirei fundo, tentando
acalmar os nervos. Aquele seria um longo dia. Estava
incrivelmente grato pela beleza e elegância de Emilia, seria
útil no evento, mas não podia deixar de sentir que as coisas
estavam prestes a se tornar muito mais complicadas.
Levamos trinta e sete minutos para chegarmos ao local.
Eu contei cada segundo.

O calor do sol refletia na fachada majestosa da antiga


casa, fazendo com que a aura dourada intensificasse o
clima já elegante daquela manhã. O jardim, exuberante e
bem cuidado, servia de cenário para esse encontro de
mentes influentes.

Estávamos na fila, uma espera digna e paciente, onde


cada veículo luxuoso era um prelúdio do que esperava
dentro do evento. A sensação de estar ali era familiar para
mim, mas algo estava diferente. Melhor dizendo: alguém.
Olhei de relance para Emilia, que estava encantadoramente
absorta, observando o cenário pela janela do carro. A luz do
dia iluminava seu rosto, destacando ainda mais a
maquiagem bem feita. E aquele perfume... uma fragrância
floral que invadia o carro de forma agradável, quase
poética.

Por um momento, me peguei observando-a por um


pouco mais do que o necessário. Seu perfil delicado, os
lábios levemente entreabertos e o modo como os cílios
sombreavam seus olhos me deixaram surpreso. Eu sabia
que ela era bonita, mas naquele contexto, era hipnotizante.
A clivagem dos seios no decote do vestido era de babar.

Então, chegou nossa vez. Ainda bem. Mais um pouco,


eu babaria de verdade.
A equipe de assessoria, sempre eficiente, indicou o
ponto exato para parar, o melhor ângulo para as fotos que
certamente estampariam as páginas sociais no dia seguinte.
A porta se abriu, e Memphis, meu segurança, estava ali
para garantir uma entrada tranquila. Mas, antes que eu
pudesse dar o primeiro passo, senti a mão de Emilia tocar
suavemente meu braço. Era um gesto simples, mas cheio
de significado.

Uma conexão, uma cumplicidade.

Ela exibia um sorriso sereno, quase etéreo, enquanto


seus olhos encontravam cada lente, cada flash, muito bem
treinada em uma naturalidade na postura, como se ela
tivesse feito isso toda a sua vida. Seus ombros eretos, a
leve inclinação de queixo e tudo em Emilia exalava uma
confiança cheia de graça.

Ao adentrarmos o espaço, os murmúrios e conversas se


tornaram audíveis. As pessoas nos olhavam com
curiosidade, tentando entender quem era a bela mulher ao
meu lado. Com o braço ainda entrelaçado ao dela,
caminhamos em direção aos anfitriões, eu os conhecia há
muitos anos e nos receberam com sorrisos calorosos e
palavras amáveis. A cada cumprimento, percebia o quanto
Emilia estava à altura da situação, sua elegância e carisma
não eram forçados. Jim não estava errado. Ele a observou
bem, ela era a adição perfeita para aquela manhã.
Não podia deixar de sentir uma ponta de orgulho.
Mesmo que o acordo entre nós fosse puramente
profissional, me senti sortudo por ter Emilia ao meu lado
naquele momento, afinal, o evento desenrolou-se melhor do
que eu esperava. Sempre foi um ritual tedioso, ouvir as
mesmas pessoas falando as mesmas coisas, tentando puxar
assunto comigo. Foi diferente. Emilia se transformou em um
escudo elegante e gracioso, mantendo os indesejados à
distância e entretendo os mais toleráveis com astúcia.

Eu observava de longe, ocasionalmente juntando-me a


ela nas conversas. Ela tinha a habilidade de se encaixar em
qualquer situação, uma verdadeira camaleoa social. Seu
conhecimento sobre diversos tópicos impressionava, assim
como a capacidade de manter uma conversa fluida e
interessante. Mas o que mais chamou minha atenção foi o
magnetismo natural que ela emanava. As pessoas eram
naturalmente atraídas por ela. Seu sorriso charmoso, a
risada na altura certa e a maneira como se expressava,
tudo isso fazia dela o centro das atenções. E,
honestamente, estava grato por isso.

Com Emilia ao meu lado, pude focar no que realmente


importava: fechar negócios.

Ao final do evento, a conduzi até o carro, refletindo


sobre a dinâmica inesperada que havíamos estabelecido em
tão pouco tempo. Não trocamos muitas palavras durante a
viagem, mas a tranquilidade no carro não era
desconfortável. Era mais um entendimento mútuo, uma
calma após a tempestade social. Ela não era desagradável e
não se forçou além do que deveria.

Assim que chegamos ao prédio dela, agradeci-lhe pelo


dia. A expressão que me devolveu era de satisfação, como
se estivesse orgulhosa do trabalho bem feito. Acenou em
agradecimento. Memphis, sempre atento, abriu a porta para
ela, e ela, com a educação impecável, agradeceu-lhe. Eu
me inclinei para observar enquanto ela se afastava. Então
notei algo curioso: ao invés de subir as escadas em direção
à entrada principal, Emilia desceu, rumo ao que parecia ser
uma entrada de subsolo. Aquilo me deixou intrigado. Era um
detalhe pequeno, mas que despertou minha curiosidade.
Por que ela não entrava pela porta da frente?

Deixei o pensamento de lado quando Memphis entrou


no carro e começamos nossa jornada de volta para casa.
Afrouxei a gravata, soltei os botões dos punhos e relaxei no
banco, ansiando por uma bebida gelada. A imagem de
Emilia ao meu lado no evento ficou gravada em minha
mente, não apenas por sua competência, mas por esse
pequeno mistério que ela havia, sem querer, apresentado.
Enviei um pequeno relatório a Jim e guardei o meu telefone.
Algo me dizia que trabalhar com ela seria cheio de
surpresas.

Assim que entrei em casa, ouvi a animação da TV na


sala. A melodia familiar do desenho que Kurt gostava
preenchia o ambiente. Vê-lo ali, tão absorto, fez meu
coração se encher de carinho. Amava os dias que ele vivia
comigo. A guarda compartilhada tinha seus prós e contras,
sentia saudade dele nas duas semanas que passava com a
mãe. No começo, ficamos com receio que Kurt se
confundisse ou que fosse cansativo, mas com a
quimioterapia, foi necessário equilibrar a carga hospitalar.
Cynthia e eu dormíamos todas as noites no hospital, íamos
em todas as consultas e em dado momento, estávamos
exaustos e ele também.

A psicóloga nos orientou a dividir para conquistar. Pais


saudáveis também significava um filho saudável e feliz.

Kurt se virou quando ouviu meus passos com seus


olhos cheios de alegria.

— Pai! Vem assistir comigo!

Paty, nossa babá, que também era uma excelente


enfermeira, sorriu ao me ver. Com um aceno, ela se retirou,
sabendo que aquele seria o nosso tempo juntos.

— Vou trocar de roupa e já volto — falei, enquanto Kurt


balançava os pés em excitação. — E que tal prepararmos
pipoca?

Ele acenou em concordância, os olhos ainda fixos na


tela, mas um sorriso iluminando o rosto. Rapidamente, subi
as escadas, troquei para algo mais confortável e retornei à
sala, onde as tigelas de pipoca e suco já estavam prontas,
cortesia da Paty. Agradeci a ela, sentando-me ao lado dele,
envolvi Kurt em um abraço e ele se aconchegou em mim, a
cabeça descansando em meu peito. O calor daquele
momento era indescritível. Sentir o ritmo calmo da
respiração do meu filho, ouvir suas risadas quando algo
engraçado acontecia na tela, era a melhor parte do meu
dia.

Kurt sempre foi minha âncora, meu porto seguro. Desde


o momento em que soube que seria pai, tudo mudou. Cada
decisão que tomei desde então, cada sacrifício, foi por ele. E
cada momento que passávamos juntos era um lembrete do
porquê de tudo isso valer a pena.

O céu fora da janela começou a se tingir com as cores


do entardecer, lançando um tom rosado pelo cômodo. As
tonalidades suaves pintavam um quadro perfeito de paz e
serenidade, complementando o aconchego daquela cena.
Em meio a tudo isso, beijei a cabeça de Kurt, sentindo o
cheirinho característico de seu xampu de bebê.

Perdido em pensamentos e gratidão pelo momento,


uma breve lembrança de Emilia passou pela minha mente.
O modo como ela se comportou naquele dia, a maneira
como a vi pela primeira vez fora do ambiente de trabalho...
foi algo novo e intrigante. Sacudi a cabeça, deixando esse
pensamento para depois. Naquele momento, meu foco era
aproveitar cada segundo ao lado do meu pequeno.

E ali, aninhado com meu filho, com o entardecer nos


envolvendo em seu manto, senti-me verdadeiramente em
casa.
CAPÍTULO ONZE
Emilia

Estirada em meu sofá, permiti que a onda de alívio e


exaustão me inundasse. O dia foi uma verdadeira
montanha-russa de emoções, impressões e, acima de tudo,
uma descoberta sobre o universo das pessoas ricas e
poderosas. Meus saltos, apesar de estilosos, foram uma
escolha torturante. Senti cada centímetro deles a cada
passo. "Saltos mais baixos e confortáveis na próxima vez",
murmurei para mim mesma, fazendo uma anotação mental,
massageando as minhas panturrilhas.

Cleo pulou delicadamente em meu colo, aninhando-se


e ronronando. Suas vibrações terapêuticas eram
exatamente o que eu precisava. Passei os dedos por sua
pelagem macia, perdida em meus pensamentos. Niklas...
Aquele homem era lindo com uma mistura de charme,
elegância e um toque de distância. Impecável era a palavra.
Seu perfume ainda flutuava ao meu redor, invadindo as
minhas lembranças do evento.

Era evidente que ele não era de muitas palavras,


optando por respostas curtas e diretas. Mesmo assim, seu
comportamento polido e o cuidado em manter tudo
profissionalmente era bastante admirável.
O mundo que ele habitava era muito diferente do meu.
Luxo, influência e poder. Uma dança constante de
aparências, negociações e acordos selados com um aperto
de mão ou um olhar cheio de firmeza. A experiência foi
enriquecedora e empolgante. No entanto, havia algo nesse
universo que me fazia apreciar ainda mais minha vida
simples, meu sofá confortável e a minha gatinha. Mas se
quisesse ser alguém na vida, tinha que me infiltrar entre
aquelas pessoas.

Respirei fundo, olhando para o teto, a luz suave da


tarde banhava o ambiente, trazendo o tom dourado que
sempre amei. O som dos carros lá fora, a vida pulsante da
cidade, tudo parecia mais vivo, mas, por ora, não havia
tempo para reflexões prolongadas. Cleo protestou com um
miado baixinho quando a coloquei no sofá, mas eu tinha
trabalho a fazer. Puxando meu notebook para perto, ergui a
tela e logo abri os documentos e comecei a digitar.

Tinha que entregar duas matérias para o jornal online


em que era freelancer e o prazo estava se aproximando
rapidamente.

Peguei um copo de água, colocando-o ao meu lado e


mergulhei no trabalho. As palavras fluíam facilmente, meu
foco era total. Por mais que o mundo de Niklas fosse
tentador e fascinante, eu tinha uma paixão: escrever.

Estava mergulhada em meus pensamentos e textos


quando Cleo, com sua eterna curiosidade, sem querer pisou
no controle remoto, ligando a TV. A princípio, ignorei o som,
até que uma voz familiar de uma jornalista que eu
acompanhava soou falando sobre um homem com quem fiz
um trabalho na faculdade. Levantei o olhar e lá estava ele:
Bryan Hudson. Aquele nome me trouxe lembranças, onde o
setor de negócios fervilhava com as notícias de sua saída da
Sterling Corp.

Fiquei tentando encaixar as peças. Bryan, com sua


aparência confiante, falava algo sobre investimentos e
novas oportunidades em sua empresa. Mas minha mente
estava focada nas fofocas que giravam em torno dele e
Niklas anos atrás. Lembrava da polêmica dos touros de ouro
espalhados pela cidade. Uma provocação direta a Niklas, ou
ao menos era assim que os jornais interpretavam
principalmente, com a parte que mais deixou a sociedade
chocada, o escândalo envolvendo a ex-esposa de Niklas,
Cynthia.

As fofocas eram insistentes, dizendo que ela havia


traído Niklas com Bryan, levando ao divórcio repentino e ao
término da parceria de negócios.

Na época, fiquei impressionada com a audácia, até usei


isso como referência em um trabalho acadêmico. Mas seria
verdade? Sempre acreditei que fofocas eram exageradas e
muitas vezes falsas. No entanto, agora que estava próxima
de Niklas, não podia deixar de me perguntar se eram
verdadeiras.
Desliguei a TV e me reclinei no sofá, olhando para Cleo,
que parecia orgulhosa de ter causado aquela reviravolta em
minha tarde. Eu queria conhecer o Niklas real, por trás de
todo disse me disse e das aparências. Queria entender o
homem que, apesar de todo o poder e riqueza, optou por
um contrato tão inusitado com alguém como eu. Ele era
lindo, claro que podia ter uma namorada simpática de
verdade.

A última coisa que eu queria era deixar minhas


emoções e curiosidade afetarem a minha relação
profissional com Niklas.

O barulho incessante do meu celular tirou minha


atenção dos pensamentos intrusivos. No visor, o nome
“Jenna” piscava impacientemente. Atendi rápido, já
prevendo o tom de urgência na voz da minha amiga.

— Emilia! Já viu a internet? Você está por toda parte! E


com Niklas STERLING! — Jenna exclamou quase sem fôlego.
Pude sentir sua euforia mesmo estando do outro lado da
linha.

Tentei manter a calma, com vontade de rir da maneira


que ela soou, embora já esperasse que algo assim pudesse
acontecer.

— Oi, Jenna. Sim, eu sei. Estive com ele em um evento.

Jenna não se conteve.


— Você sabe o que isso significa? A mídia inteira está
falando de vocês dois! E o que essa declaração significa?
'Jovem jornalista que Niklas conheceu nos corredores?'
Emilia, está me escondendo alguma coisa? Como assim só
esteve em um evento? Caramba, garota!

Ri nervosa, me sentindo um pouco culpada. Nunca fui


boa em guardar segredos, muito menos da minha amiga.
Era um segredo que eu tinha que manter, ao menos por
enquanto.

— Ah, Jenna... é complicado. Eu realmente conheci


Niklas na empresa, mas não é exatamente como você está
pensando. Estamos nos conhecendo.

Ela suspirou dramaticamente do outro lado.

— Então o que é? Vocês estão namorando? É sério?


Emilia, esse é o Niklas Sterling. Você não pode
simplesmente aparecer em um evento com ele e esperar
que ninguém faça perguntas! Especialmente, que eu não
faça perguntas!

Mordi o lábio, me sentindo entre a espada e a parede.

— Jenna, eu adoraria poder te contar tudo. Mas, por


agora, só posso dizer que estamos nos conhecendo e é
isso…

Houve uma pausa e imaginei Jenna franzindo a testa,


analisando minhas palavras.
— Isso soa como uma meia verdade, Emilia. E você
sabe que detesto meias verdades e sou uma jornalista,
estou farejando algo mais, algo como um romance épico,
delicioso e tórrido como nos filmes! Tipo aquele da Jennifer
Lopez ser camareira e conhece o candidato a senador!

Eu comecei a rir e a sentir o peso da situação, a


responsabilidade do contrato e o desconforto de não poder
compartilhar com minha amiga.

— Jenna, juro que assim que puder, te conto tudo.

Ela suspirou do outro lado.

— Tudo bem. Só não se esqueça de mim quando for


morar em uma daquelas coberturas incríveis em Manhattan,
ok?

Ri aliviada.

— Nunca esqueceria. E, quem sabe, você poderia ser


minha vizinha.

Jenna riu.

— Não me tente! Mas agora, de verdade, cuide-se, ok?


Esse mundo dos ricos e famosos pode ser complicado.

Prometi a ela que me cuidaria e nos despedimos.


Encerrei a chamada, me sentindo um pouco vazia. O
segredo entre Niklas e eu era necessário, mas esconder
coisas de Jenna me doía. Tinha que lembrar a mim mesma
que, no final das contas, era tudo um acordo, um contrato e
era mais que necessário fazer a minha parte. Voltei a me
concentrar no trabalho e depois preparei meu almoço,
escolhendo comer no pátio entre os apartamentos, com as
pernas esticadas.

Os raios solares quentes banhavam meu rosto


enquanto me aconchegava na espreguiçadeira. Cleo
também se aconchegava ao meu lado, aproveitando o sol
de domingo tanto quanto eu. Entre mordidas de minha
salada fresca, apreciei a calma do momento, algo raro
desde que terminei a faculdade. E também, o fato dos meus
vizinhos não estarem ali fumando, me deixando um pouco
defumada.

Meu telefone começou a vibrar sobre a mesa lateral,


interrompendo a minha serenidade. O nome “Amelia”
apareceu no visor. Ela era esposa de Jim, o braço direito de
Niklas, e agora, aparentemente, minha consultora de moda
pessoal.

— Olá, Amelia — atendi, tentando esconder minha


surpresa.

— Emilia querida! Espero que não tenha planos para o


resto do dia. Estou indo te buscar agora. Temos um monte
de roupas para você experimentar. Os eventos do Niklas
estão se acumulando e você precisa estar impecável ao
lado dele.
Engoli em seco, percebendo a rapidez com que minha
vida havia mudado.

— Oh, claro. Eu estava apenas tomando um pouco de


sol, mas posso ficar pronta rapidamente.

— Perfeito! E prepare-se, querida. No dia quatro de


julho, vocês dois irão para os Hamptons. Será um grande
evento e Niklas não pode ir sozinho — disse ela com um
entusiasmo que não sentia desde... bem, desde sempre.

Fiquei um pouco atordoada.

— Hampton? No dia quatro de julho? Isso é...


impressionante.

Amelia riu como se não fosse nada de mais.

— Bem-vinda ao mundo de Niklas Sterling, querida.


Agora, vá se arrumar. Estarei aí em vinte minutos.

Desliguei o telefone, ainda um pouco atordoada. Cleo


miou, esticando-se, como se quisesse me lembrar que, não
importava quão louca minha vida se tornasse, ela sempre
estaria ali, precisando de carinho e atenção. Ela não
pareceu feliz quando neguei carinho em sua cabeça.
Rapidamente, corri para o meu quarto, trocando o meu
vestido casual por algo mais adequado para uma tarde de
compras com Amelia. Enquanto arrumava meu cabelo,
olhei-me no espelho, pensando no turbilhão que minha vida
havia se tornado.
Namorada contratada de Niklas Sterling. Quem diria?
Aquilo soava como a trama de um romance de banca de
jornal. Jenna estava certa. Era como aquele filme. Estava
prestes a mergulhar em um mundo de luxo, eventos
sofisticados e... Hamptons no dia quatro de julho. Tomei
uma respiração profunda, tentando acalmar os nervos. Eu
tinha aceitado esse acordo e não havia como voltar atrás.
Precisava ser confiante e manter a cabeça erguida. Por mim
e por tudo que eu havia sonhado para minha vida.

Quando Amelia chegou, cumprimentou-me com um


sorriso caloroso e fui arrastada para o carro com seu
motorista. Ela estava acompanhada de um guarda-costas e
ainda bem que estava com sapatos confortáveis porque a
mulher parecia determinada. Quando cheguei em casa,
agradeci por ter a saúde em dia. Fiquei exausta. Eu malhava
e não tinha resistência física, também não era preguiçosa,
porém, uma ida às compras me derrotou. Tomei banho e me
joguei na cama, deixando para lidar com as novas roupas
quando tivesse energia no dia seguinte.

Fui acordada pelo som insistente da campainha. Quem


em sã consciência estaria na minha porta àquela hora?
Atravessando a sala, esfreguei os olhos e abri a porta,
encontrando minha irmã Emily, ofegante e segurando uma
revista de fofocas como se fosse um objeto de arte.

— Em…? Que horas são? O que está acontecendo? —


murmurei, tentando entender por que minha irmã parecia
ter acabado de correr uma maratona.
— Café. Agora — ela disse, entrando e varrendo o
ambiente à procura de Cleo. — E eu quero toda a história.

Ainda tentando acordar, olhei a revista que ela jogou no


balcão. Ali estava uma foto minha e de Niklas no evento.
Senti meu rosto esquentar. Oh, Deus, agora eu estava em
uma revista de fofocas! Eu imaginava que aquilo iria
acontecer e mesmo assim, a reação que me atingiu foi
inesperada. Preparando o café, Emily, sem sucesso, tentou
agarrar Cleo, que, esperta como sempre, correu para o
quarto e se escondeu.

— Estou faminta. O que você tem para comer aqui? —


minha irmã resmungou, vasculhando a geladeira.

— Eu poderia fazer ovos mexidos ou torradas. Sente-se


e vou preparar algo.

Enquanto o café coava e eu preparava uma comida


improvisada, Emily falava sobre tudo, desde seus
preparativos para o casamento até a última moda em
esmaltes. Mas eu podia sentir sua curiosidade. Ela estava
morrendo de vontade de perguntar sobre a foto.

— Ok, vamos lá. Desembucha! O que está acontecendo


entre você e Niklas Sterling? E por que você não me contou
nada? — Emily finalmente explodiu, seu olhar intenso em
mim.

Respirei fundo, sentindo uma mistura de apreensão e


diversão.
— É uma longa história, Em.

Ela levantou uma sobrancelha.

— Bom, eu estou aqui, e não vou a lugar algum até


você me contar tudo.

Servi nossos pratos e nos sentamos à mesa.

— Eu e Niklas... bem, estamos... conhecendo um ao


outro.

— Conhecendo um ao outro? Você está na capa de uma


revista de fofoca ao lado de um dos homens mais cobiçados
de Nova Iorque! Isso é mais do que apenas 'conhecendo um
ao outro'.

Eu ri, apreciando o exagero de Emily.

— As coisas aconteceram rápido e não é assim, algo


além do que parece.

Ela sorriu maliciosamente.

— É apenas você e um bilionário gostosão em um


evento público. Nada de mais.

— Ok, eu sei. Eu sei. Mas eu o conheci no trabalho,


como copeira, nós passamos a conversar e agora, estamos
nos conhecendo. Sei que é muita coisa… e estou tentando
assimilar tudo sem me deixar ir além do que devo.
CAPÍTULO DOZE
Emilia

Conforme a conversa avançava, eu podia ver a


preocupação nos olhos de Emily. Sempre fui a irmã mais
nova, a "menininha" aos olhos dela. Eu sabia que suas
intenções eram boas, mas doía que ela pensasse que eu
não sabia cuidar de mim mesma, porque era assim em
casa, meus pais sempre colocando-a como alguém bem
resolvido e eu buscando mostrar que podia me virar. Talvez
não fosse maldade, nem na intenção de me diminuir,
apenas o modo como me sentia.

— Lili — começou Emily, seu tom assumindo uma


seriedade incomum. — Você percebe a magnitude do que
está fazendo, não é? Niklas Sterling não é qualquer um. Ele
tem o mundo aos pés dele.

Eu balancei a cabeça, franzindo a testa.

— Não é como você está pensando. Ele é... ele é


diferente comigo.

É um contrato, irmã, nós nem nos falamos!

Emily soltou um suspiro frustrado.

— Você acha que é a primeira a pensar assim? Ele pode


ser encantador e tudo mais, mas você não tem ideia de
como essas pessoas funcionam. Eles têm tudo que querem,
quando querem e eu vejo isso o tempo todo no hospital.

— Você está dizendo que eu sou apenas um brinquedo


para ele? — Meu tom era defensivo. Eu não era inteligente o
suficiente para me defender de um homem como Niklas
porque fui traída por um tonto como o Benedict?

Ela colocou a mão sobre a minha.

— Não estou dizendo que você é um brinquedo. Só


estou pedindo que seja cuidadosa. Não se jogue de cabeça
em algo só porque parece emocionante ou diferente.

Eu me afastei, me sentindo um pouco pequena.

— Em, eu sou adulta. Sei o que estou fazendo.

— Será que sabe? — ela questionou, os olhos cheios de


preocupação sincera. — Não quero que você saia
machucada. Já vi muitas amigas se queimarem com caras
como ele. Eles são charmosos, mas também são
implacáveis. Eles conseguem o que querem e, quando
terminam, seguem em frente.

Eu respirei fundo, tentando conter a frustração e o


medo que borbulhavam em meu interior.

— Sei que está preocupada e eu agradeço por isso. Mas


também preciso que confie em mim, que acredite que sou
capaz de tomar decisões por mim mesma.
Ela me estudou por um longo momento, seus olhos
azuis claros pesando cada palavra minha.

— Confio em você, Emilia. Sempre confiei. Só... só


quero que você se proteja. Eu sou ótima em bater, ele vai
se ver comigo se te fizer chorar.

Eu a puxei para um abraço apertado, sentindo a


familiaridade daquele carinho.

— Eu vou, prometo. Só não quero que pense que sou


frágil ou inocente demais.

Ela beijou o topo da minha cabeça.

— Nunca pensei. Só sei que o mundo lá fora pode ser


cruel e quero que você esteja preparada.

Nós nos afastamos, sorrindo uma para a outra,


reconhecendo o amor que sempre esteve lá.

— Obrigada, Em — murmurei. — Por sempre estar aqui


por mim.

Ela piscou, seus olhos brilhando.

— Sempre, pequena. Sempre. E Emilia, por mais que


você não fale sobre isso, quero que saiba que apoio a sua
carreira e as suas escolhas, acho que agora nossos pais já
aceitaram a sua decisão também. — Emily acariciou meus
braços e fiz uma pequena careta.
— Eu não tenho tanta certeza, não consigo manter um
emprego.

— Você só tem vinte e seis e se manteve no primeiro


emprego por muito tempo, eu entendo que tenha sido
frustrante para eles que não tenha seguido para medicina
ou direito, mas isso passou, deixe isso de lado — disse e
assenti, era um assunto que nós não falávamos para evitar
que as brigas voltassem novamente.

Emily foi embora e fiquei tentando organizar meus


pensamentos sobre a conversa com ela. Com um olhar para
o relógio, percebi que não tinha muito tempo antes do
almoço com Niklas. Corri para o closet, escolhendo a
combinação perfeita de terninho e calça de alfaiataria em
tons claros, para me manter com uma imagem mais
angelical. Minha escolha de acessórios e maquiagem veio
rapidamente — tudo da mais alta qualidade. Seria fácil me
acostumar com a vida de luxo.

A suave batida na porta interrompeu minha reflexão. Ao


abrir, Memphis me cumprimentou com um sorriso
amigável.

— Você está pronta, Emilia?

Eu ri suavemente.

— Sabe, deveríamos trocar números de telefone. Afinal,


ambos somos funcionários, certo? Você não precisa sempre
vir até a porta.
Ele balançou a cabeça com uma leve risada.

— Não é trabalho nenhum.

Dei de ombros e o segui até a rua. Entrando no carro,


notei a ausência de Niklas. O silêncio reinou durante o
trajeto, apenas interrompido pelo suave zumbido do motor e
o barulho da cidade ao redor. Era uma calmaria
reconfortante antes do que estava por vir. Quando o carro
parou, respirei fundo, tentando me preparar mentalmente.
No entanto, nada poderia ter me preparado para a visão
que me esperava. Niklas estava parado do lado de fora, o
terno de três peças em cinza chumbo acentuando a postura
dominadora e confiante. Ele parecia saído diretamente de
uma revista de moda, o epítome da sofisticação e elegância
masculina.

Eu me perguntava se ele fazia ideia do quão gostoso


era.

Senti o meu estômago revirar e tive que engolir para


manter a compostura. Ele virou seu olhar penetrante em
minha direção, um meio sorriso curvando seus lábios
enquanto se aproximava. Abriu a porta do carro e enquanto
saía, nossos olhos se encontraram. Havia uma faísca ali.

— Emilia — ele me cumprimentou, a voz suave e


profunda. — Você está deslumbrante.

Forcei um sorriso, meu coração batendo forte.

— Obrigada, Niklas. Você também não está nada mal.


Ele sorriu, oferecendo seu braço. Aceitei, permitindo
que ele me guiasse para o restaurante.

A cada passo, sentia todos os olhares sobre nós, a


curiosidade e admiração evidentes das pessoas ao nosso
redor. No fundo da minha mente, a voz de Emily ainda
ressoava como um lembrete constante da complexidade da
situação em que me encontrava.

Sentada em uma das mesas mais exclusivas do


restaurante, observava Niklas com cautela. Era evidente
que ele não tinha a menor paciência para certos rituais
sociais. Seu tom direto, por vezes áspero, tornava clara a
impaciência. Em contrapartida, minha experiência no
jornalismo havia me ensinado a lidar com pessoas de todos
os tipos e a adaptar minha abordagem conforme a situação.
Por várias vezes durante o almoço, precisei intervir,
adicionando uma nota mais amena, com um sorriso doce,
ou direcionando a conversa para evitar conflitos.

Percebia Niklas me lançando olhares ocasionais de


agradecimento, aparentemente, percebendo melhor o papel
que eu estava desempenhando. Me senti aliviada em
perceber que ele começava a relaxar um pouco. Minha
atenção se voltou para o prato que o garçom colocou. O que
estava diante de mim era uma mistura de ingredientes crus,
que não me pareciam nem um pouco apetitosos. Tentei não
fazer cara feia, mas foi impossível esconder minha reação.
Carne e uma gema crua? Eu precisava mesmo aprender
francês.

Foi então que notei um movimento sutil do outro lado


da mesa. Niklas, sem fazer alarde, deslizou o prato em
minha direção, trocando-o pelo meu. Olhei para o agora à
minha frente e sorri ao reconhecer um ravioli recheado de
queijo, envolto em um molho cremoso e aromático.

— Melhor? — Niklas perguntou em um tom suave.

— Definitivamente — respondi, pegando o garfo e


dando uma mordida. — E está incrível.

Nossos olhares se cruzaram, sorri com uma suave


mordida no lábio e desviei. O que foi aquilo? Um
reconhecimento de que estávamos começando a nos
entender?

O almoço prosseguiu com tranquilidade, notei que a


atmosfera entre nós se tornava cada vez mais leve e
cúmplice. Os pequenos gestos, os olhares compartilhados, a
maneira como fluíamos juntos na conversa, tudo isso fez
com que o resto do mundo parecesse mais fácil de lidar.

Durante nossa saída em grupo do restaurante, uma


senhora, esposa de um banqueiro, nos abordou com um
sorriso amigável e comentou que formávamos um belo
casal. Eu sorri de volta, agradecendo pelo elogio, enquanto
Niklas apenas assentiu educadamente. A verdade era que
eu não sabia muito sobre a vida pessoal dele após o
divórcio. Havia poucas informações na internet, nenhum
rumor ou fofoca sobre possíveis relacionamentos. Seu
status e recursos permitiam que ele fosse bastante discreto
em suas conquistas.

De volta ao carro, Niklas parecia mergulhado em seu


telefone, provavelmente voltando às responsabilidades de
magnata dos negócios. Ele digitava bem rápido e meu
celular vibrou com uma mensagem da minha mãe. Era
quase uma intimação, exigindo minha presença no jantar
daquela noite. Meus pais estavam perplexos ao me verem
nas revistas de fofoca, ao lado de alguém tão influente e
poderoso como Niklas Sterling e não faziam ideia de como
isso havia acontecido.

Olhei para a tela por um momento, uma mistura de


emoções passando por mim. Por um lado, estava animada
para contar a eles sobre meu novo trabalho e as
oportunidades que surgiam. Por outro, eu sabia que seria
um desafio explicar toda a situação, especialmente o fato
de que meu relacionamento com Niklas não era exatamente
o que parecia ser.

Minha mente ficou tomada sobre como explicar tudo a


meus pais. Estava determinada a ser honesta com eles, até
onde fosse possível, e esperava que eles entendessem a
minha perspectiva. Fui deixada em casa, troquei de roupa
para algo mais confortável, coloquei água e comida para
Cleo e deixei minha bolsa pronta. Eu tinha que fazer umas
compras de mercado antes de sair de novo, minha geladeira
estava perigosamente vazia e aquilo tomaria um pouco de
tempo.

Fui andando com minhas bolsas retornáveis,


selecionando os produtos com calma e encontrei uma
antiga vizinha que compartilhou comigo muitas noites de
vinho antes de se mudar para morar com o namorado. Nós
voltamos com nossas bolsas, tagarelando, o que ajudou a
matar o tempo e nem me fez perceber o peso que
segurava. Me arrumei depois do banho e chamei um táxi.

Entrei no apartamento dos meus pais e fui recebida


pelo cheiro delicioso de lasanha, e pelo que sabia, deveria
ser de quatro queijos. Minha mãe estava ocupada
preparando o jantar e meu pai ainda trancado em seu
escritório, provavelmente finalizando algum trabalho. A
ausência da minha irmã me deixou um tanto intrigada, sem
saber se isso era bom ou ruim naquele momento.

Parei na entrada da sala, observando minha mãe


enquanto ela mexia nas panelas. Ela ergueu os olhos e seu
olhar se fixou em mim por um momento antes que soltasse
o primeiro comentário sobre minha aparência.

— Emilia, você está... diferente. Mais sofisticada, eu


diria.

Soltei um leve suspiro, sorrindo de leve enquanto me


aproximava.
— É só um novo corte de cabelo, mãe. Não é nada de
mais.

Ela franziu o cenho levemente, deixando claro que não


estava convencida.

— Ao que parece, não é só isso. Eu vi você nas revistas.


Sua tia comentou no grupo da família e até a sua avó ligou
para perguntar o que estava acontecendo. Você não nos
disse nada sobre um namorado, e agora isso?

Minhas bochechas coraram ligeiramente e eu senti um


nó na garganta. Era hora de enfrentar a conversa que eu
estava adiando. Minha mãe merecia saber a verdade, pelo
menos em parte.

— Eu sei que parece estranho, mãe. Eu queria te


contar, mas... foi tudo muito rápido.

Ela se virou para me encarar, os olhos cheios de


curiosidade e preocupação.

— O que está acontecendo, Emilia? Quem é esse


homem nas revistas?

Respirei fundo, buscando as palavras certas.

— Comecei a trabalhar em uma empresa e acabei


conhecendo alguém lá. O homem nas revistas é Niklas
Sterling. Ele é, foi… meu chefe.

Minha mãe pareceu chocada com a revelação.


— Niklas Sterling? O magnata dos negócios? Mas o que
vocês estão fazendo juntos?

Foi difícil para mim não poder explicar a situação a ela


sobre o acordo que tínhamos, que ele precisava de uma
acompanhante para eventos e como isso estava me
ajudando em minha carreira. Eu deveria contar que não era
um relacionamento romântico, mas uma espécie de
contrato de negócios. Só que mamãe comentaria com
minha tia, que falaria com minha prima, que teceria um
comentário com uma amiga e assim, um segredo viraria
uma fofoca. Eu disse que estava conhecendo melhor meu
chefe e estávamos saindo.

Minha mãe ouviu atentamente, suas expressões


variando entre surpresa e um tanto de choque. Quando
terminei, ela ficou em silêncio por um momento antes de
suspirar.

— Espero que saiba o que está fazendo. Essa é uma


situação muito incomum e você precisa ter cuidado.

Assenti, com um sorriso triste.

— Eu sei, mãe. Eu entendo as preocupações.

— Entende?

— Sim, mãe.

— Sua carreira até o momento… bom, sei que as coisas


levam tempo, mas você não nos disse que foi demitida, com
isso foi trabalhar na Sterling, acabou conhecendo um
homem, que é seu chefe e agora estão saindo juntos. Isso
não é bom para o seu currículo, vai ser conhecida como a
namorada ou a ex-namorada de alguém, ou pode ser pior.
— Minha mãe se aproximou e me abraçou apertado. — Eu
só quero o melhor para você. Prometa que vai tomar
cuidado e não deixar que nada a prejudique.

Prometi a ela que tomaria cuidado e que, apesar das


aparências, estava sendo cautelosa em relação a tudo. O
jantar foi servido, e enquanto saboreávamos a lasanha em
família, compartilhei mais detalhes da minha demissão,
como aconteceu e por que levei um tempo para contar.
Tentei tranquilizá-los de que estava tomando decisões
pensadas e conscientes.

Era nítido que meus pais ainda engoliam que a minha


carreira não era a que eles queriam para mim, usando o
exemplo que meu primo advogado, que tinha só vinte e três
anos, comprou um carro novo e, tinha acabado de ser
promovido mais uma vez e que em breve eu iria conseguir
também. Mas não foi tão ruim.

No fim da noite, enquanto me despedia dos meus pais,


senti que a conversa não foi fácil, mas meio que tinha o
apoio deles, mesmo que as coisas estivessem um pouco
complicadas. Com o tempo, esperava que eles
entendessem melhor minhas razões e escolhas.
CAPÍTULO TREZE
Niklas

Vesti-me rapidamente, deixando de lado qualquer


tarefa que estivesse fazendo em casa e corri até o meu
carro assim que recebi uma ligação urgente de Cynthia. As
palavras dela ecoaram, despertando uma preocupação
instantânea. Kurt não estava bem e minha única prioridade
naquele momento era estar ao lado do meu filho. Me dirigi
até o apartamento dela o mais rápido que pude.

Ao chegar, encontrei Cynthia visivelmente preocupada,


seus olhos cansados denunciavam a tensão que estava
sentindo. Ela me explicou o que estava acontecendo, como
Kurt tinha ficado mais quieto e, após o jantar, começou a
apresentar os sintomas característicos de uma de suas
crises. As dores de cabeça insuportáveis, o enjoo e o vômito
eram sinais familiares de um episódio que já tínhamos
enfrentado juntos algumas vezes.

Sem perder tempo, fui até o quarto onde Kurt estava


deitado, seu rosto demonstrava desconforto e dor. Ajeitei-
me ao lado dele, acariciando sua testa com cuidado.

— Ei, meu campeão, estou aqui. Vai ficar tudo bem —


murmurei suavemente, buscando acalmá-lo com minhas
palavras. Peguei um pouco de gelo para ele chupar,
sabendo que o frio ajudaria a acalmar a dor.
Cynthia continuou falando sobre o que sabia do dia dele
através dos relatos da babá e eu observava Kurt,
preocupado com cada suspiro angustiado que ele dava. Aos
poucos, começou a se acalmar, o gelo ajudando a aliviar a
intensidade das dores. Eu podia ver a exaustão em seus
olhos, como se a batalha constante contra as crises
estivesse começando a pesar sobre ele.

Sem aviso, Kurt vomitou novamente e se encolheu,


envergonhado por ter sujado a roupa e a cama. Em primeiro
lugar, quis garantir que se sentisse seguro e amparado. O
confortei com palavras gentis, assegurando-lhe que não
havia motivo para se sentir mal. Cuidadosamente, o peguei
nos braços e o levei para o banheiro, preparando um banho
morno para ajudá-lo a relaxar.

Eu lhe dei banho, meu menino continuava quieto, seus


olhos ainda mostrando os vestígios das dores. Cynthia
estava ao meu lado, sempre atenta e cuidadosa, ela limpou
o quarto, passando um alvejante para tirar o cheiro. Juntos,
trabalhamos como uma equipe, buscando proporcionar o
máximo de conforto possível ao nosso filho.

Após o banho, envolvi Kurt em uma toalha macia e o


conduzi de volta ao quarto. Ele estava muito cansado, mas
lutava para não sucumbir ao sono, com medo de que as
dores retornassem com força total assim que fechasse os
olhos. Cynthia e eu nos mantivemos ao lado dele,
confortando-o e assegurando que estaríamos ali. A noite foi
avançando e Kurt finalmente conseguiu adormecer, seu
corpo se rendeu ao descanso necessário. Com muito
cuidado, o cobri e observei seu rosto sereno por um
momento antes de me voltar para Cynthia.

Nossos olhos se encontraram, carregados de


preocupação, amor e uma determinação inabalável em
cuidar do nosso filho, não importava o que fosse preciso. O
silêncio preencheu o quarto. No coração de um pai, não
havia espaço para outra coisa senão proteger e cuidar de
um filho.

A cama infantil não era exatamente o lugar mais


confortável para um adulto e eu estava começando a sentir
meu corpo dolorido de ficar encolhido naquele espaço.

Na manhã seguinte, Cynthia e eu acordamos ao lado


dele, que ainda dormia profundo. Agradeci silenciosamente
pelo fato de que aquela crise não havia se agravado a ponto
de precisarmos correr para o hospital. Cynthia sugeriu que
tomássemos café juntos e eu concordei. Era sempre bom
poder compartilhar um momento tranquilo e íntimo com ela,
mesmo que nossa relação agora fosse a de ex-cônjuges, era
necessário falar sobre nosso filho sem a presença dele com
os ouvidos bem atentos.

A conversa inevitavelmente se voltou para a saúde de


Kurt e para a próxima consulta médica que ele teria.

— Eu acho que devemos seguir o tratamento que a


doutora Nichols-Reedburn sugeriu.
— Sim, vamos conversar mais abertamente com ela na
próxima consulta.

— Temos que ser esperançosos, certo?

Eu não era. Preferia a ciência prática e por isso, não


respondi.

— Soube que está namorando uma jovem adorável,


jornalista, Amelia falou muito bem dela. Quando irá
apresentá-la ao Kurt?

A pergunta dela me pegou de surpresa, e por um


momento eu me vi em uma encruzilhada. Não queria mentir
para Cynthia, mas também não queria revelar o verdadeiro
motivo pelo qual Emilia estava ao meu lado nos eventos.
Expor a verdadeira natureza do nosso relacionamento a ela
não seria justo com Emilia, afinal, ela não havia consentido
revelar essa informação a ninguém.

— Eu acho que prefiro esperar por um momento que


seja confortável e natural para Kurt.

Escolhi uma resposta evasiva. Cynthia olhou para mim.


Ela não insistiu no assunto, respeitando minha resposta,
mas eu sabia que aquela conversa não estava totalmente
encerrada.

Ao nos despedirmos, prometendo nos manter


atualizados sobre Kurt, senti alívio por não ter que revelar a
verdade a Cynthia e um pouco de apreensão porque essa
situação delicada ainda poderia trazer desafios e conflitos
no futuro. Queria proteger Emilia, garantir que ela não fosse
exposta a um escrutínio público desnecessário.

Passei em casa rapidamente para me arrumar e ao me


dirigir para o trabalho naquela manhã, refleti sobre as
complexidades de minha vida pessoal e a maneira como ela
se entrelaçava com as responsabilidades como pai e as
obrigações profissionais. A situação com Kurt me lembrava
constantemente das prioridades reais.

Ao chegar à empresa, meu cansaço parecia ter se


multiplicado, pesando em cada músculo do meu corpo. Eu
mal conseguia manter os olhos abertos e minha cabeça
latejava com uma dor incômoda. Com um esforço sobre-
humano, consegui chegar à minha sala e me sentei,
esfregando as têmporas em uma tentativa de aliviar a dor.

Minha assistente, Kelly, entrou com sua habitual


simpatia. Pedi a ela que não fosse incomodado, só queria
um pouco de paz e silêncio para tentar recuperar pelo
menos um pouco das minhas energias. Infelizmente, minha
breve tranquilidade foi interrompida quando Jim chegou.
Mas, ele tinha um dom misterioso de saber exatamente
quando eu precisava de orientação, mesmo que não
quisesse admitir.

Seu olhar paternal me encontrou e eu soube que não


conseguiria escapar de uma conversa.

Ele me avaliou com um olhar crítico, como um pai


preocupado com a saúde de seu filho.
— Sua mãe nos contou. Kurt teve uma das crises. — A
voz calma e tranquila ecoou na sala. — Acha que não deve
descansar hoje? Talvez tirar um tempo e arrumar suas
coisas para os Hamptons?

No fundo, eu sabia que ele estava certo. Minha cabeça


estava uma bagunça, meu corpo clamava por descanso e
eu tinha que me preparar para enfrentar um evento
importante. Meu orgulho estava em jogo e eu hesitei em
aceitar. Então, Jim continuou, usando o tom paciente e firme
que sempre me fazia ver a razão. Ele mencionou que meus
pais já estavam nos Hamptons, cuidando dos detalhes para
receber os convidados importantes da Sterling Corp. Era a
confirmação de que eu não precisava estar em todos os
lugares ao mesmo tempo.

Foi quando meu telefone tocou e eu vi o nome do meu


pai na tela. Atendi e ouvi sua voz preocupada do outro lado,
perguntando como eu estava. Aquela foi a gota d'água que
eu precisava. Estava tão exausto que até mesmo meu pai
estava preocupado comigo. Ele raramente se metia na
minha vida, era na dele, diferente da minha mãe, que ficava
atrás de mim o tempo todo.

Finalmente cedi, murmurando um acordo para Jim.


Precisava de um descanso e de uma boa noite de sono. Jim
colocou a mão no meu ombro, um gesto de apoio silencioso
que significava mais do que palavras poderiam expressar.
Ele me ajudou a sair da sala e me levou até o carro. No
caminho de volta para casa, a sonolência começou a me
dominar e eu lutava para manter os olhos abertos. Quando
finalmente cheguei, fui direto para a cama e me entreguei
ao cansaço que me consumia.

Ao fechar os olhos, agradeci silenciosamente por ter


alguém como Jim na minha vida. Havia momentos em que
me sentia como um menino novamente, sendo cuidado e
protegido por aqueles ao meu redor. E apesar de todas as
pressões e responsabilidades que carregava, havia uma
gratidão profunda em meu coração por ser amado e
cuidado de maneira tão genuína.

Acordei me sentindo renovado. Liguei para Cynthia para


saber do Kurt e fui para o closet, pegando uma mala de
couro para colocar as minhas roupas. Ela disse que ele
estava bem e que dormiu novamente, mas iria acordá-lo
para jantar e eu poderia falar com ele. Eu disse que ligaria
novamente mais tarde.

Enquanto organizava as minhas coisas para o fim de


semana nos Hamptons, não pude deixar de pensar em
como seria ter Emilia como minha acompanhante em um
evento mais longo. Até então, nossos encontros eram
breves e cuidadosamente encenados, seguindo as regras de
etiqueta social e evitando qualquer contato físico que
pudesse levantar suspeitas. Mas dessa vez seria diferente,
estaríamos hospedados juntos na minha casa de veraneio e
aquilo mudaria as coisas.
Dobrei minhas roupas cuidadosamente, divagando com
a confusão de sentimentos que tinha. Por um lado,
reconhecia que Emilia era um escudo eficaz nos eventos,
mantendo afastados os indivíduos indesejados e a conversa
fluindo. Sua inteligência e sagacidade eram surpreendentes,
sua presença era valiosa para mim.

Por outro lado, aquele acordo não deixava de ser


estranho e, em alguns momentos, me pegava pensando se
tinha tomado a decisão certa. Era um território
desconhecido, nunca havia tido um relacionamento por
contrato antes, e as complexidades de fingir ser um casal
me deixavam desconfortável em diversos momentos.

E por fim, ao mesmo tempo, não tinha a obrigação de


dar explicações a ninguém sobre meus motivos ou decisões.
Fiquei refletindo sobre como seria quando estivéssemos nos
Hamptons. A casa de veraneio era um lugar especial para
mim e para Kurt, onde criamos muitas memórias felizes.
Mas desta vez, Kurt não estaria conosco. Até porque, eu
nem fazia ideia se realmente apresentaria a minha falsa
namorada ao meu filho.

Decidi deixar esses pensamentos de lado, não


querendo me perder em divagações. Pedi para minha
governanta finalizar a arrumação da mala e peguei meu
telefone para verificar meu filho por chamada de vídeo. Ele
atendeu no segundo toque.

— Como você está, campeão? — Eu sorri.


Kurt me olhou com um pequeno sorriso.

— Melhor do que ontem, papai. Acho que estou me


recuperando.

Fiquei aliviado em ouvir isso. As crises que ele tinha


eram sempre difíceis de lidar, tanto para ele quanto para
mim. Ver meu filho sofrer me partia o coração.

— Estou feliz em ouvir isso. Mamãe está cuidando bem


de você?

— Ela fez aquela sopa de novo — ele cochichou.

— Eu ouvi isso! — Cynthia gritou de algum lugar, nos


fazendo rir.

— Coma tudo para ficar melhor.

— Espero que sim. — Ele soltou um bocejo.

— Agora, é melhor você descansar um pouco mais.

Kurt assentiu, fechando os olhos.

— Tudo bem, papai. Eu acho que vou voltar para a


cama.

Fui dormir mais cedo, depois de tranquilizar meus pais


que Kurt estava bem. Conversei com minha mãe até o sono
chegar e no dia seguinte, malhei nas primeiras horas da
manhã e fiquei pronto para o fim de semana nos Hamptons.
Memphis estava preparado também. Ele me levou em
direção ao prédio de Emilia no Harlem, minha mente já
focada no que precisávamos fazer antes de partirmos.
Chegamos à entrada do edifício e esperei enquanto ele se
adiantava para chamar Emilia.

Logo ela apareceu, vestindo roupas simples que


contrastavam com os trajes formais que eu estava
acostumado a usar. Seu sorriso era gentil e caloroso, algo
que eu estava começando a apreciar. Enquanto a
cumprimentava, percebi que ela estava com uma capa de
vestido, o que me fez lembrar de nossas roupas arrumadas
na mala, cuidadosamente dispostas para não amassar.

Sem demora, comecei a ajudá-la com as bolsas,


acomodando-as no bagageiro do carro. Conforme fazíamos
isso, notei que os paparazzi estavam nos observando de
longe, na esquina da rua. Bufei, não gostando da atenção
indesejada e agradecido por ter vidros escuros no carro para
que pudéssemos ter um pouco de privacidade.

Depois que entramos e nos afastamos da vista dos


fotógrafos, Emilia quebrou o silêncio ao me perguntar se eu
estava bem descansado.

— Sim, estou bem — respondi, mantendo minha voz


calma e tranquila. — E você? Como tem se sentido?

Ela sorriu e assentiu.

— Bem, obrigada. Acho que estou pronta para o fim de


semana.
— Isso é bom de ouvir — comentei, observando-a
brevemente enquanto ela arrumava suas coisas ao seu
lado. — Você já esteve nos Hamptons antes?

Emilia deu um aceno, parecendo pensar por um


momento.

— Sim, uma vez ou outra, mas nunca por tanto tempo.


Só passeando na praia por um dia.

Fiquei satisfeito em saber que ela estava familiarizada


com o local, pelo menos de alguma forma. A viagem não
seria completamente desconhecida para ela. Então,
lembrei-me da razão principal pela qual estávamos indo
juntos para os Hamptons.

— Está ansiosa para o fim de semana de trabalho? —


perguntei, escolhendo minhas palavras.

Ela sorriu novamente, parecendo um pouco mais


animada.

— Sim, estou. Acho que vai ser uma experiência


interessante.

Concordei com ela.

— Vai ser um evento importante para a empresa.


Vamos trabalhar juntos para garantir que tudo corra bem.

Emilia deu mais um aceno e eu pude ver uma


determinação em seus olhos. Estava começando a apreciar
essa qualidade nela — a disposição para enfrentar desafios
de frente. Era uma característica que valorizava em meus
colaboradores e ela estava mostrando que também a
possuía.
CAPÍTULO QUATORZE
Emilia

Ao chegarmos à casa nos Hamptons, minha admiração


foi imediata. A mansão era simplesmente deslumbrante,
com um grande gramado que se estendia até a beira da
praia. A piscina de borda infinita refletia o céu azul e a brisa
marinha trazia uma sensação de calma e tranquilidade.
Memphis estacionou o carro, saímos e pegamos nossas
bagagens. O caseiro nos cumprimentou calorosamente.
Niklas me explicou que ele não mantinha uma governanta
ali, já que aquela era a residência de férias.

Caminhamos pela entrada da mansão e eu não


conseguia deixar de admirar a arquitetura e a vista
espetacular. Niklas estava ao meu lado, conduzindo-me com
um sorriso, levou-me escada acima e chegamos até o
quarto em que eu ficaria hospedada. Fiquei impressionada
com a elegância e o conforto do ambiente. Era todo em tons
claros com toques gentis em dourado.

— Uau, que quarto incrível — comentei, observando


cada detalhe.

— Que bom que gostou — respondeu Niklas, parecendo


satisfeito. — Eu queria que você se sentisse confortável
aqui.
Sorri agradecida.

— Com certeza vou me sentir.

Ele mencionou que pediria pizza para o jantar.

— Você tem algum sabor favorito?

Pensei por um momento antes de responder.

— Eu como de tudo, exceto se tiver abacaxi. Não


consigo comer frutas com queijo e molho de tomate. Nem
nada doce.

Niklas soltou uma risada.

— Seu sobrenome é italiano. Você é italiana?

Ri com ele.

— Meu bisavô era italiano, mas o restante da família


nasceu aqui em Nova Iorque. Somos do Queens.

Niklas sorriu, parecendo genuinamente interessado.

— Curioso. Então, nada de abacaxi para o jantar. Vou


lembrar disso.

A troca de palavras parecia casual, mas havia uma


leveza na forma como estávamos conversando. Começava a
me sentir mais à vontade em sua companhia, o que era um
alívio considerando as circunstâncias peculiares do nosso
"relacionamento".
Niklas deu um passo em direção à porta do quarto.

— Vou deixar você se acomodar. O jantar deve chegar


em breve. Se precisar de algo, estou logo ali.

Assenti com um sorriso.

— Obrigada, Niklas. Aproveitarei a vista da praia.

Ele retribuiu o sorriso e saiu do quarto, deixando-me


sozinha para me acomodar e admirar a beleza através da
janela. Refrescada, desci para encontrá-los na cozinha.
Memphis me ofereceu bebidas, cerveja, refrigerante, suco
ou água, eu quis água. Ele estava bebendo cerveja. Niklas
escolheu Coca-Cola com gelo e limão. Apesar de não
conhecê-los, a conversa foi divertida e confortável, sem
nenhuma profundidade, e pudemos compartilhar a refeição.

Eu decidi dormir para estar descansada para o dia


seguinte. Não ter olheiras e uma aparência de mulher
cansada era muito importante no meu papel de
acompanhante, mas a noite nos Hamptons foi incrivelmente
revigorante. Acordar com o som suave das ondas do mar foi
uma experiência maravilhosa. Eu me senti grata pela
oportunidade de estar em um lugar tão bonito.

Com tempo de sobra para me arrumar, já que o


primeiro compromisso do dia seria um brunch de boas-
vindas na casa dos pais de Niklas, que não ficava muito
longe dali, tomei um tempo fazendo meditação, rezando,
pensando boas coisas e sentindo o cheiro gostoso do mar,
me alimentando de uma boa energia. Era importante estar
equilibrada com vibrações que me deixassem com o astral
elevado.

Escolhi um vestido de alta costura da Chanel, sapatos


Dior elegantes e uma deslumbrante bolsa da Balenciaga.
Adicionei algumas joias delicadas que foram gentilmente
emprestadas para o evento. Era uma sensação nova ter
tantas coisas valiosas ao meu redor, e eu me sentia um
pouco fora da minha zona de conforto, mas ao mesmo
tempo, empolgada.

Durante minha maquiagem e a arrumação do meu


cabelo, ouvi uma suave batida na porta. Levantei e fui até
lá. Meu coração deu um salto quando abri e percebi que era
Niklas. Ele estava de pé à minha frente, já pronto para o
evento. Usava um estilo casual, perfeitamente adequado
para o brunch e exalava aquele perfume irresistível que me
deixava um tanto hipnotizada. Olhei para ele por um
momento antes de lembrar de cumprimentá-lo.

— Ah, bom dia — gaguejei, me recompondo o mais


rápido que consegui.

Niklas sorriu, mas parecia meio desconcertado. Era


estranho estar tão perto dele fora do ambiente de trabalho,
e a tensão palpável no ar.

— Está pronta? — ele perguntou, claramente engolindo


em seco. Sua voz soou mais rouca do que o normal.
Assenti com um sorriso, nervosa e animada ao mesmo
tempo.

— Sim, estou quase pronta. Só falta um último retoque.

Eu estava em pé, descalça, no meio do quarto, e podia


sentir seu olhar percorrendo meu corpo. Uma sensação
estranhamente gostosa me envolveu. Ele parecia prestes a
dizer algo, mas ficamos presos em um momento de troca de
olhares intensos.

— Acho que nos veremos em breve…

A expressão de Niklas suavizou um pouco e ele pareceu


recuperar a compostura. Assentindo, voltou a ser o Niklas
seguro de si que eu conhecia.

— Claro. Vejo você lá embaixo.

Ele deu meia-volta para sair, mas parou um pouco,


como se hesitasse por um momento. Antes que eu pudesse
processar o que estava acontecendo, ele se virou
novamente.

— Você está incrível.

Fiquei momentaneamente sem palavras, surpresa por


sua doce sinceridade.

— Obrigada, Niklas. Você também está muito elegante.

E gostoso, claro. Mas eu não podia expressar em voz


alta.
Ele sorriu de modo genuíno que iluminou o seu rosto.

Abri um sorriso um tanto bobo e ele saiu. Fechei a porta


atrás dele e respirei fundo. A troca de olhares e palavras
tinha sido intensa, e eu me sentia entrando em um território
desconhecido. A sensação era emocionante, mas também
um pouco assustadora. Afinal, eu estava prestes a
acompanhar Niklas Sterling como sua "namorada" em um
ambiente mais pessoal, a casa dos pais dele, e não sabia o
que esperar.

Pronta, com Memphis na entrada, nós saímos juntos e a


mansão do senhor e senhora Sterling era tão
impressionante quanto eu imaginava. Esperamos um pouco
para sair do carro e após alguns minutos, nos dirigimos à
entrada e foi quando senti o meu nervosismo aumentar.
Estava prestes a conhecer os pais dele e eles acreditavam
que nosso relacionamento era real, não um contrato.

Para minha surpresa, Niklas segurou minha mão. A


sensação de seus dedos entrelaçados nos meus me trouxe
um certo conforto. Normalmente, eu segurava em seu braço
durante os eventos, mas segurar sua mão era diferente,
mais íntimo. Andamos juntos em direção à casa, passando
por um jardim cheio de flores exuberantes. A entrada estava
ornamentada de forma impecável, o que me deixou ainda
mais nervosa. Quando chegamos aos pais de Niklas, ele
tocou delicadamente minhas costas, indicando que era hora
de nos apresentar.
— Niklas, querido, que maravilhoso tê-lo por aqui! —
exclamou a mãe dele, uma mulher negra de aparência
deslumbrante, com cachos escovados que caíam sobre os
ombros. Ela usava um vestido magenta que acentuava sua
elegância.

— Sim, mãe, vim apresentar alguém muito especial


para vocês. Esta é Emilia, minha namorada — disse Niklas,
com uma expressão suave nos olhos.

Os pais de Niklas pareceram surpresos com a notícia,


mas ambos sorriram e foram extremamente simpáticos. O
pai dele, alto e de cabelos grisalhos, olhou para mim com
seus olhos claros.

— Prazer em conhecê-la, Emilia.

Eu sorri, sentindo-me um pouco corada com a atenção.

— O prazer é todo meu, senhor Sterling.

— Você está adorável, querida. Seja bem-vinda, espero


que goste de cada minuto e sinta-se confortável. — A
senhora Sterling me deu um abraço calmo.

Nós continuamos a conversar por um tempo. Era uma


sensação estranha estar ali, sendo apresentada como
namorada de Niklas a seus pais. Tentava me manter calma
e natural, mas meu coração estava acelerado. Depois de um
tempo, Niklas e eu nos afastamos para circular pelo evento.
Eu o guiei para conversar com algumas pessoas que eu
havia conhecido em eventos anteriores.
Eventualmente, paramos perto de Jim e Amélia, dois
rostos familiares e acolhedores. Jim olhou para nós com um
sorriso caloroso.

— Niklas, Emilia, como estão? — perguntou Jim,


cumprimentando-nos com um abraço.

— Estamos bem, Jim — respondeu Niklas com um


aceno de cabeça.

Amélia também nos cumprimentou e me entregou uma


mimosa, cochichando para que eu tirasse o sorriso nervoso
do rosto e, com isso, trocamos uma risada. Era
reconfortante estar com alguém que me conhecia um pouco
mais. Ao conversarmos, percebi que, aos poucos, meu
nervosismo diminuía. Estava aprendendo a me adaptar
àquele papel.

Fomos orientados a ir para os nossos lugares e


sentados à mesa, cercados por outras pessoas, chegou o
momento em que eu sabia que enfrentaria desafios ao
interpretar o papel de namorada de Niklas. Era impossível
conhecer todas as facetas da vida dele, especialmente
porque nossa comunicação era limitada. Eu tinha lido sua
biografia e algumas fofocas na internet, mas não era o
suficiente.

Uma senhora se aproximou com um sorriso caloroso.


Ela parecia conhecer bem a família de Niklas e seus olhos se
fixaram em mim enquanto as perguntas começaram a
surgir.
— Ah, querida, você já conheceu o Kurt? Deve ser
incrível ser madrasta de um menino tão especial quanto ele
— disse em um tom mais alto, capturando a atenção de
muitas pessoas na mesa.

Por um momento, senti uma tensão sutil vinda de


Niklas. Sua mão, que repousava em meu ombro, ficou um
pouco mais firme. Mas eu não estava ali para criar
problemas ou deixar as coisas desconfortáveis. Trocamos
um olhar rápido e eu soube o que fazer.

Com um sorriso tranquilo e confiante, me inclinei um


pouco para Niklas e entrelacei nossos dedos, segurando sua
mão firmemente. Foi uma ação natural, mas também era
um sinal para ele de que eu sabia como lidar com a
situação.

— Sim, Kurt é um garoto adorável — respondi,


mantendo o tom amigável. — Ele tem um jeito único de
conquistar as pessoas com seu sorriso e bondade.

A senhora sorriu, satisfeita com minha resposta, mas


pareceu querer continuar a conversa. No entanto, eu já
estava preparada para não me alongar muito no assunto. Eu
tinha aprendido a arte de responder de maneira educada,
mas sem dar muitos detalhes.

Niklas relaxou um pouco ao meu lado, percebendo que


eu estava tomando a liderança da conversa. Ele assentiu
levemente.
— Kurt é realmente uma parte muito especial das
nossas vidas. Emilia tem sido maravilhosa nesse processo.

— É uma bênção poder fazer parte da vida dele —


continuei, desviando delicadamente o foco. — A família de
Niklas é incrível e estou grata por ter a oportunidade de
conhecê-los melhor. Eu já tinha conhecido Amélia no salão
dela. A senhora já foi lá? É incrível! O conceito e todo
atendimento personalizado é simplesmente algo de outro
mundo…

Ao dizer isso, olhei para Niklas novamente, esperando


que ele também soubesse como lidar com a situação.
Mantivemos nossas mãos entrelaçadas, um gesto de
unidade que, esperançosamente, transmitia uma imagem
de relacionamento amoroso e comprometido. Com essa
pequena interação, consegui direcionar a conversa para um
território mais seguro.

Amelia entrou no assunto e à medida que a conversa foi


fluindo para outros tópicos, continuei segurando a mão de
Niklas, mantendo nosso contato físico e deixando claro que
estávamos juntos naquilo.

Foi um pequeno desafio superado.

Mais tarde, o sol começava a se pôr no horizonte,


tingindo o céu com tons quentes e dourados. Eu me
encontrava sentada com Amelia, conversando e apreciando
a tranquilidade do momento. A maioria dos casais já tinha
ido embora, mas o evento estava acontecendo para quem
usava as mesas de jogos para aliviar o estresse no pôquer e
fazer negócios.

Minha atenção foi desviada quando vi Niklas se


aproximando, acompanhado por Jim. Sua expressão parecia
satisfeita, como se tivesse feito bons resultados durante o
dia, pelo menos era a interpretação que eu fazia daquilo.

O DJ começou a tocar uma melodia suave que eu


conhecia, era uma música de Michael Bublé, o rei das
baladas românticas e, de repente, todos os homens
presentes foram convidados a levar suas damas para a pista
de dança. Niklas estendeu a mão para mim com um sorriso
e eu prontamente aceitei o convite, sentindo meu coração
bater um pouco mais rápido de empolgação. Caminhamos
até o centro da pista, nossos olhares travaram e logo
começamos a balançar ao som da música.

Suas mãos repousavam de forma gentil em minha


cintura, enquanto as minhas se entrelaçaram em sua nuca.
O entardecer criava um cenário mágico. Uma suave brisa
bagunçou meu cabelo e, antes que eu pudesse arrumá-lo,
Niklas gentilmente colocou uma mecha atrás da minha
orelha. Nossos olhares se encontraram novamente e por um
instante, parecia que estávamos completamente isolados
do mundo.

Ele limpou a garganta de forma discreta, interrompendo


aquele momento íntimo, e uma pequena risada escapou dos
meus lábios. Niklas olhou para mim com um olhar suave,
um brilho em seus olhos que eu ainda estava me
acostumando a ver.

— Sabe, já disse isso antes, mas você está


incrivelmente linda hoje — ele disse, a voz carregando um
toque de sinceridade.

Minhas bochechas ficaram quentes, mas não pude


conter o sorriso que se formou em meus lábios.

— Obrigada. Você pode repetir quantas vezes quiser —


respondi, sentindo-me um pouco mais à vontade. — Uma
mulher nunca se cansa de ser elogiada.

Continuamos a dançar ao som da música, o clima


descontraído e o cenário deslumbrante ao nosso redor nos
envolveram completamente. Cada movimento era suave e
natural, ele me rodopiou, me fazendo rir, como se nossos
corpos estivessem em perfeita sintonia. A presença de
Niklas era boa e eu estava começando a entender que,
apesar das circunstâncias incomuns que nos uniram, havia
uma conexão entre nós.

Talvez fosse o reflexo das luzes do entardecer em


nossos olhos, mas parecia que, naquele momento,
estávamos compartilhando algo especial. A música se
aproximava do fim, nossos passos diminuíam gradualmente,
até que enfim paramos. O entardecer havia se transformado
em um céu estrelado e Niklas e eu permanecemos ali,
perdidos em nossos próprios pensamentos por um
momento.
Foi então que ele quebrou o silêncio com um sorriso
terno nos lábios.

— Acho que estão prestes a anunciar o brinde final —


ele disse, indicando a movimentação dos convidados em
direção à área onde as taças de champanhe estavam sendo
preparadas. Ele ofereceu o braço e aceitei, caminhando ao
lado dele, tirando as ideias bobas da dança de dentro de
mim.

Niklas Sterling era o meu trabalho e nada mais.


CAPÍTULO QUINZE
Emilia

Era o meu primeiro baile de gente grande. Depois do da


escola, eu nunca fui em um tão importante quanto aquele.
Pronta com um vestido quase dourado, antes de sair do
quarto peguei meu telefone e fiz uma rápida pesquisa sobre
o envolvimento da família Sterling com a causa do câncer
infantil. As informações que encontrei me tocaram
profundamente, trazendo à tona a realidade dolorosa que
muitas famílias enfrentavam. Crianças passando por essa
terrível doença, pais lutando para oferecer o melhor
tratamento possível e, às vezes, perdendo a batalha.

Senti uma pontada de tristeza no meu coração


enquanto lia sobre as histórias de coragem e esperança.
Apaguei a tela do meu telefone, deixando para trás os
pensamentos pesados. Sabia que a noite seria repleta de
emoções, mas também era um momento para celebrar os
esforços e a solidariedade daqueles que se uniam para fazer
a diferença. Respirei fundo, prendendo uma mecha do meu
cabelo que soltou e reforcei com o grampo.

Ao descer as escadas, senti um leve nervosismo se


misturar com a empolgação. Meu vestido amarelo exalava
uma sensação de confiança e alegria, e a bolsa perolada em
minhas mãos completava o look elegante. Quando alcancei
a entrada da mansão, pude sentir o olhar de Niklas sobre
mim antes mesmo de vê-lo. Ele estava lá, inclinando a
cabeça para o lado, observando-me com um olhar que me
fez sentir como se fosse a única pessoa no mundo.

Ele deu uma lambida no lábio inferior que fez um


arrepio descer pela minha espinha e meus mamilos ficaram
endurecidos. Nossos olhares se encontraram, e por um
momento, o restante da sala desapareceu. Niklas sorriu
levemente, seus olhos capturando os meus como se
quisesse memorizar cada detalhe. O nervosismo que eu
sentia começou a se dissipar, substituído por uma sensação
de conforto e conexão. Ele começou a se mover em minha
direção, a abordagem era do tipo “sou um homem
confiante”, mas ao mesmo tempo gentil.

O sorriso em meu rosto se alargou enquanto nos


aproximávamos. Ele ofereceu o braço, prendendo o sutil
bracelete de flores, que era do evento, em meu pulso.

No caminho para o baile, com Memphis conosco, senti a


necessidade de entender um pouco mais sobre o que
esperar da noite, então decidi fazer algumas perguntas a
Niklas. Ele parecia estar de bom humor, o que me encorajou
a iniciar a conversa.

— Tem alguma coisa específica que gostaria que eu


dissesse sobre o seu trabalho? Alguma pessoa que devo
evitar? — comecei cautelosamente.
Ele lançou um olhar rápido para mim antes de voltar
sua atenção para a estrada.

— Não precisa se preocupar com isso. Você tem se


saído muito bem até agora.

Agradeci pela resposta. Mas havia algo mais que eu


queria entender.

— E sobre este evento em particular? Eu sinto que há


algo especial sobre isso.

Niklas pareceu considerar minha pergunta por um


momento antes de responder.

— Você está certa. Este evento é especialmente


significativo para a minha família. É uma arrecadação de
fundos para crianças com câncer, especialmente para a
pesquisa do tratamento. É um assunto pessoal.

Eu absorvi suas palavras, compreendendo que havia


uma conexão mais profunda entre a família Sterling e a
causa. Então, decidi mergulhar um pouco mais fundo.

— É algo relacionado ao seu filho? Aquela mulher


ontem, fazendo aquelas perguntas… Eu não sabia que Kurt
estava envolvido de alguma forma.

Niklas deu um suspiro suave, a expressão mudando


ligeiramente.
— Sim, é relacionado a Kurt. Ele foi diagnosticado com
um tumor cerebral há dois anos. É uma batalha que
enfrentamos restritamente em família, e é por isso que
investimos tanto em pesquisas e tratamentos. Aquela
mulher é prima distante do meu pai, é muito curiosa sobre
tudo.

Mas o que fiquei presa mesmo não foi na prima


fofoqueira, e sim, no aperto que senti no peito enquanto
processava a informação. Kurt, um menino de sete anos,
lutando contra um tumor cerebral. A gravidade da situação
me atingiu como um soco no estômago, eu estava chocada
e tocada por sua luta.

— Eu sinto muito, Niklas. Eu não fazia ideia. Isso é... é


realmente pesado. Como ele está agora?

Niklas deu de ombros, uma mistura de tristeza e


esperança nos olhos.

— Ele está lutando bravamente. É difícil, mas estamos


fazendo tudo o que podemos para encontrar uma solução.
Kurt é um campeão.

Eu me senti incapaz de expressar completamente a


compaixão que estava sentindo naquele momento.

— Eu não tenho palavras para isso, Niklas. Mas por


favor, saiba que estou aqui para apoiar, de qualquer
maneira que eu possa.

Ele olhou para mim, um olhar de gratidão nos olhos.


— Eu agradeço por isso. — Niklas abriu um pequeno
sorriso, talvez decidindo aliviar o assunto. — Você parece
ser ótima em relações públicas. Talvez devesse considerar
uma carreira nessa área.

Eu ri, um sorriso surgindo em meus lábios.

— Quem sabe? Talvez eu tenha um talento oculto.

Nós compartilhamos um momento de cumplicidade


antes de chegar ao local do baile. A noite estava apenas
começando e agora que entendia um pouco mais sobre o
significado especial daquele evento para a família Sterling,
mais do que nunca estava determinada a apoiar Niklas da
melhor maneira possível.

A antiga mansão nos Hamptons estava banhada pela


luz da lua, e suas paredes de pedra brilhavam como se
tivessem sido enfeitadas para a ocasião. O baile de gala
para arrecadar fundos em prol das crianças com câncer
estava prestes a começar, e eu me encontrava pronta para
a noite especial. Meu vestido de cetim reluzia à luz das
estrelas, a entrada estava repleta de convidados
impecavelmente vestidos, todos ansiosos.

O salão de baile era simplesmente deslumbrante, uma


visão que eu nunca havia experimentado antes. A
decoração estava impecável, com luzes suaves que criavam
uma atmosfera mágica. Caminhando pelo tapete vermelho
ao lado de Niklas, eu me senti como se estivesse em um
mundo de contos de fadas, cercada por casais igualmente
arrumados para causar. Flashes piscavam enquanto éramos
fotografados na saída do carro e eu tentei me manter
serena apesar da excitação borbulhante em mim.

Pela primeira vez, me deparei com rostos familiares da


televisão, atores e atrizes que eu costumava assistir nas
telas. Era estranho vê-los tão de perto, parecendo quase
irreais. Alguns deles eram exatamente como eu imaginava,
enquanto outros nem eram tão impressionantes
pessoalmente. Eu me perguntava como era possível lidar
com tanta atenção o tempo todo.

Paramos no lugar designado pela assessoria de


imprensa, enfrentando os flashes e as perguntas dos
jornalistas. Como sempre, Niklas e eu mantivemos nossas
respostas curtas e não nos aprofundamos em conversas.
Assim que conseguimos entrar no local, a sensação de alívio
me fez soltar uma respiração profunda.

Encontramos os pais de Niklas, que estavam radiantes.


Sua mãe nos cumprimentou com um sorriso caloroso,
elogiando nosso visual combinado.

— Vocês dois estão maravilhosos juntos. Realmente


fazem um casal encantador.

Troquei um olhar divertido com Niklas. Naquele


contexto, éramos um casal e, sim, bem bonitos. Ele estava
irresistível, cheiroso e eu… me sentia bela como uma
princesa. A mãe dele estava certa.
Caminhamos pelo salão, cumprimentando as pessoas
certas conforme Niklas ia direcionando. Eu o observava em
ação, notando como ele sabia exatamente como abordar as
pessoas e fazer conexões de negócios.

Estava acostumada a estar nos bastidores, observando


e relatando os eventos, mas estar no centro das atenções,
interagindo com pessoas importantes, era um desafio
completamente novo para mim e ao mesmo tempo,
gratificante conhecer pessoas novas, com trocas que eram
relevantes para o meu futuro. Conheci o editor-chefe do NY
Times. Niklas me apresentou como sua namorada e
principalmente, jornalista, ele fez o dever de casa tanto
quanto eu, citando meus artigos relevantes e o podcast em
que trabalhei, que foi premiado duas vezes pela
Nickelodeon.

O homem pareceu interessado, pedindo que entregasse


meu cartão, e como era virtual, ele riu muito ao aprender a
usar o QR Code.

A noite estava repleta de conversas e sorrisos, todos


pareciam estar se divertindo. Jim e Amélia também
estavam, compartilhando histórias engraçadas em nossa
mesa. Durante o jantar, enquanto conversávamos e
desfrutávamos da deliciosa refeição, eu podia sentir o olhar
intenso de alguém sobre mim, como se estivessem me
observando com interesse. Mas não era educado encarar
diretamente, então, tentei manter meu foco no prato e na
conversa.
Ao meu lado, percebi que Niklas também havia notado
algo estranho. Senti a tensão se espalhando dele, como se
algo o estivesse incomodando. Discretamente, virei meu
rosto em direção à origem desse olhar e meus olhos
encontraram os de Bryan Hudson, um homem que eu sabia
ter tido algum tipo de relação com Niklas no passado. Ao
lado dele, uma mulher que provavelmente era sua esposa
ou companheira.

Bryan ergueu a taça em minha direção, em um gesto


de cumprimento, mas antes que eu pudesse reagir de
alguma forma, senti Niklas chamar minha atenção
suavemente. Seus olhos me encontraram, transmitindo uma
mensagem clara de que eu não deveria interagir com
Bryan. Foi cortante. Era importante respeitar. Para dissipar a
tensão, peguei suavemente a mão de Niklas sob a mesa,
um gesto para tranquilizá-lo de que eu entendia e estava
tudo bem. Não queria causar mais problemas do que já
pareciam existir.

Decidi então mudar o foco da conversa para algo mais


leve e inusitado, como se fosse um plano para afastar
aquele clima estranho.

— Niklas, você prefere porco ou vaca? — perguntei de


forma casual, arqueando as sobrancelhas com um sorriso
travesso nos lábios. A pergunta pareceu surpreendê-lo por
um momento, mas em seguida, ele soltou uma risada
sincera.
— Bem, se for por bacon, definitivamente porco. Mas se
estiver falando de um bom filé, então, é vaca.

Minha pergunta aleatória se transformou em uma


conversa divertida sobre gostos culinários e preferências de
comida, sem a participação de mais ninguém da mesa, bem
baixinho, no nosso canto. Compartilhamos algumas risadas,
trocamos histórias engraçadas e, aos poucos, a tensão que
havia se instalado com a presença de Bryan desapareceu
completamente dele e seus dedos relaxaram contra os
meus.

O clima se tornou mais leve e agradável, atraindo até a


atenção dos outros convidados. Jim me deu uma piscada
cúmplice, ele era como uma raposa velha, certamente
percebeu tudo e senti um alívio ao ver o sorriso no rosto de
Niklas e entender que, mesmo em situações complicadas,
nós podíamos encontrar maneiras de nos conectar. A
experiência com Bryan Hudson e a prima curiosa me
ensinou uma lição valiosa, mesmo quando as coisas ficavam
difíceis, o bom humor podia ser a melhor arma para superar
obstáculos.

O baile foi um verdadeiro sucesso, tiveram muitas


doações e até conheci uma das médicas responsáveis pelo
tratamento do Kurt, com o marido dela, que pelo visto, era
um cardiologista famoso. Pouco antes do fim dos brindes,
Niklas e eu saímos juntos, de braços dados, estava ansiosa
para finalmente chegar em casa, tirar as sandálias
apertadas e relaxar.
O peso dos acontecimentos do dia parecia se acumular
em meus ombros e a ideia de me esticar na cama era o tipo
de sonho próximo que estava maluquinha para realizar.

Niklas parecia estar imerso em seus próprios


pensamentos, como se a agitação de dentro e a tensão de
nossas interações recentes ainda estivessem presentes em
sua mente. Estávamos prestes a chegar ao carro quando
ouvimos um nome ser chamado com firmeza. Meu coração
acelerou ao ver a mudança na postura de Niklas e a reação
dos seguranças ao redor.

Era Bryan Hudson.

O mesmo homem que eu tinha avistado durante o


jantar. Ele estava com um sorriso provocativo e um olhar
desafiador. Fez um gesto de atirar, como se estivesse
prometendo algo com aquele movimento. Era uma ameaça
velada e a tensão no ar ficou quase insuportável de respirar.
Niklas não respondeu, mas eu podia sentir a raiva contida
em seus olhos. Ele tocou sutilmente minhas costas,
indicando que era hora de seguirmos adiante. Memphis
estava ali, mantendo uma postura protetora ao nosso lado,
para agir se necessário.

No carro, Niklas soltou um suspiro de frustração


enquanto afrouxava a gravata.

— Me desculpe por isso.


— Está tudo bem, Niklas. Parece que ele estava apenas
tentando te provocar e conseguiu.

Ele murmurou, concordando, dizendo que Bryan sempre


tinha um jeito de tirá-lo do sério. Eu podia perceber a
angústia ainda presente em seus ombros, mas sabia que
aquele não era o momento certo para aprofundar o assunto.
Em vez disso, mantive a conversa leve e descontraída
enquanto seguíamos para sua casa.

Chegando em sua residência nos Hamptons, eu me


despedi dele com um simples "boa noite" e segui em
direção ao meu quarto. Era como se aquele dia intenso
tivesse sugado toda a energia que eu tinha. Ao fechar a
porta do quarto, me permiti um suspiro de alívio. A
sensação de estar sozinha era maravilhosa, precisava de
um tempo para processar todos os acontecimentos.

Ao me preparar para dormir, repassei os momentos na


minha mente, desde o início do baile até aquela cena final
com Bryan. Ainda tinha muitas perguntas sem resposta
sobre os conflitos do passado de Niklas, mas eu tinha que
respeitar o espaço dele. Em meio aos lençóis macios, fechei
os olhos, tentando relaxar.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Niklas

Era quatro de julho e tudo ao meu redor estava


decorado com as cores da bandeira do país. Eu observava
uma cena animada no gramado e um sorriso suave se
formou em meus lábios. Emilia estava no meio das crianças
e adolescentes, segurando seu chapéu e participando da
brincadeira do ovo na colher. Era um momento
descontraído, um respiro bem-vindo após os eventos
intensos que havíamos enfrentado. Vê-la ali, se divertindo e
interagindo com as pessoas, me trouxe uma sensação de
normalidade que eu não sentia há algum tempo.

Ainda mais depois do encontro irritante com o que eu


podia considerar, inimigo de longa data, Bryan Hudson. Um
dia, fomos amigos. Nossos pais eram sócios da mesma
empresa. Ele e o irmão herdaram a mesma coisa que eu… e
por manobras do destino, Bryan e eu caímos em uma
competição, sempre um tentando derrubar o outro. Às
vezes, ele vencia, em outras, eu vencia. Mas de fato, a
amizade que um dia existiu (se é que existiu de verdade),
morreu há tempos. Eu o queria na cadeia, ao menos. Ele,
pelo visto, me queria morto.
Cada um desejava que o outro pagasse pelos seus
pecados de alguma forma.

Meus pais estavam ao meu lado, e minha mãe, Victoria,


que sempre foi uma mulher perspicaz, me deu uma
encarada. Seus olhos castanhos me analisavam, procurando
por respostas mais profundas. Suspirei internamente,
sabendo que aquela conversa era inevitável.

— Como você a conheceu, querido? Não te preocupa


ela ser jornalista e ter… amigos do meio?

— Eu a conheci no trabalho — respondi, mantendo a


minha expressão tranquila. — E quanto a ser jornalista,
confio que ela não vá divulgar nada. Além do mais, nós
temos um contrato de confidencialidade.

Minha mãe acenou, parecendo entender o que eu


estava dizendo. Ela sempre foi uma mulher capaz de captar
as nuances das situações com facilidade. Sua aprovação era
importante para mim e eu estava aliviado por parecer
tranquila com a situação. Mesmo que o relacionamento
fosse falso, não queria ter atrito com meus pais.

— Espero que tudo dê certo entre vocês — disse com


um olhar caloroso. — Você merece alguém ao seu lado,
alguém que compreenda o seu mundo e esteja disposta a
enfrentá-lo.

Eu sorri, agradecendo silenciosamente pelas palavras


reconfortantes. Ela sempre soube me apoiar e entender
minhas escolhas, mesmo quando eram complicadas.

Observamos juntos o grupo de crianças brincando no


gramado e os meus pensamentos se voltaram para Emilia
mais uma vez. Ela estava se encaixando naquele ambiente,
mostrando uma leveza e autenticidade. Enquanto o
churrasco seguia adiante, eu me permiti um momento de
relaxamento. O som das risadas das crianças e a atmosfera
descontraída ao nosso redor eram um lembrete de que,
apesar de todos os negócios envolvidos, havia espaço para
um pouco de alegria.

Emilia continuava a brincar com os outros, sorrindo e


rindo como se não tivesse uma preocupação no mundo. Eu
me aproximei dela, que estava comemorando por não ter
derrubado o ovo na brincadeira, e aquilo me arrancou um
sorriso sincero. Ela parecia genuinamente feliz, o que
aqueceu meu coração de uma maneira que eu não
esperava. Peguei a colher e coloquei cuidadosamente na
cesta, garantindo que o ovo permanecesse intacto, e a
ajudei a descer do pequeno palanque. Sua medalha de
terceiro lugar era um orgulho que ela exibia com
entusiasmo.

Um fotógrafo se aproximou, pedindo que posássemos


juntos para as fotos. Emilia ergueu a medalha e sorriu para
a câmera e eu a abracei por trás, sorrindo abertamente
para a foto. Era uma ação simples, mas que parecia quebrar
a barreira de formalidade que havíamos mantido até então.
Emilia riu ainda mais e a sensação do calor de seu corpo
junto ao meu me fez perceber como eu estava gostando
daquele momento. Acendeu fomes que estavam
adormecidas há muito tempo.

Depois de posarmos para as fotos, decidimos nos


afastar um pouco da agitação para aproveitar um momento
de tranquilidade juntos.

— Estou com calor e com fome. — Emilia segurou o seu


chapéu.

— Vamos sentar ali, na sombra. — Apontei para uma


mesa vazia.

Escolhemos algo para comer e, com um prato em


mãos, comecei a montar uma salada com algumas das
outras opções para Emilia. Longe do restante das pessoas,
finalmente consegui dar atenção a ela sem a necessidade
de manter as aparências. Ela desfrutava uma torta de
queijos, e o aroma salgado enchia o ar. Sorriu para mim,
oferecendo um pedaço. Não era algo a que eu estava
acostumado: dividir comida com alguém, mas naquele
instante, pareceu natural aceitar.

— Obrigado — disse, aceitando o pedaço. — Está


delicioso.

Ela riu, satisfeita com a minha reação. Nossos olhares


se encontraram e eu me senti muito atraído por aqueles
olhos cativantes que agora refletiam uma mistura de
felicidade e curiosidade.
— Estou feliz que você tenha gostado — ela respondeu,
com um sorriso suave. — É uma das minhas comidas
favoritas. Minha mãe sempre faz tortas e lasanhas de
queijo.

Durante a nossa refeição, falamos sobre coisas leves e


triviais. Era uma conversa simples, mas eu estava gostando
da conexão que se formava. Emilia era mais do que apenas
uma acompanhante que eu havia contratado. Era alguém
que me dava a sensação de que podia conversar e
compartilhar momentos verdadeiros, sem a pressão das
câmeras ou da opinião pública. Não me fazia sentir a
pressão de ser Niklas Sterling. Apenas me olhava como se
quisesse ver o homem por trás da fachada de magnata dos
negócios.

Eu deveria estar me permitindo conversar com uma


mulher que havia acabado de conhecer? Não. Sei lá. Não
fazia isso há anos. As últimas mulheres que transei eram
antigas conhecidas ou profissionais do sexo de luxo, por
pura necessidade física. Eu casei com a minha melhor
amiga. Fazia realmente anos que não parava para conhecer
alguém novo. Emilia era… quase como a primeira vez.

O sol estava começando a se pôr, lançando uma luz


dourada sobre o quintal dos meus pais. Era um momento
tranquilo e sereno, e me peguei pensando em como eu
estava grato por aquele dia, mas gostaria de estar
aproveitando com meu filho. Era um evento que não
deixava de ser trabalho. Por um breve instante, esqueci das
responsabilidades que normalmente dominavam minha vida
e me permiti apenas aproveitar a companhia de Emilia.

Ela moveu as pernas, cruzando-as, nossos olhares se


encontraram mais uma vez e eu senti aquela sensação
maluca no peito. Como se nada mais importasse além da
pequena bolha que nos envolvia. O mundo ao redor
continuava a girar e eu estava feliz por ter encontrado um
segundo de paz.

A viagem para Hamptons superou todas as minhas


expectativas. Além dos negócios bem-sucedidos e da
incrível arrecadação do baile, a presença de Emilia também
desempenhou um papel crucial na minha imagem. Ela se
mostrava eficiente com relações públicas de maneira sutil e
discreta, garantindo que a atenção fosse direcionada para
as causas e os eventos, em vez de se concentrar apenas em
mim, no meu humor e no que estava fazendo ou não.

No nosso retorno para a cidade, Emilia adormeceu ao


meu lado, seu rosto iluminado pelos últimos raios do fim de
tarde de segunda-feira. Eu a observei dormir pacificamente,
incapaz de evitar sentir um certo fascínio pela sua beleza
natural. Parecia serena e tranquila enquanto dormia, suas
bochechas levemente coradas pelo sol que pegamos no fim
de semana e meus dedos coçaram para tocá-la, para tirar
uma mecha de cabelo que caía sobre o rosto dela, mas eu
resisti à tentação. Em vez disso, concentrei-me em meu
trabalho no notebook, embora minha atenção continuasse
voltando para ela a cada minuto.
Quando finalmente chegamos ao prédio dela, percebi
que ainda estava adormecida. Eu a acordei suavemente,
sentindo uma pontada de pena por ter que interromper o
sono. Ela abriu os olhos lentamente, e me cumprimentou
com um sorriso sonolento.

— Desculpe por ter dormido.

— Não se preocupe — respondi, sorrindo de volta. —


Você pareceu precisar desse cochilo. Acho que te deixei
cansada.

— Não muito. — Ela piscou.

Emilia saiu do carro, carregando suas coisas. Eu a segui


e a ajudei com as bagagens, observando enquanto ela
descia as escadas até o porão onde morava. Era
interessante, porque eu só havia ouvido falar desse tipo de
apartamento e ver um pessoalmente era intrigante. Quando
ela chegou à sua porta, olhei ao redor.

— Você nunca sente claustrofobia aqui embaixo? —


perguntei, curioso.

Emilia riu suavemente.

— Na verdade, estou acostumada. E é um preço


acessível para morar em Nova Iorque.

Eu assenti, compreendendo a lógica.


— Obrigada pela ajuda com as bagagens — disse e
nossos olhares se encontraram por um breve momento.
Parecia que havia algo não dito entre nós. — Pena que não
tenho nenhuma gorjeta pelo seu ótimo trabalho.

Ela era uma boba. Eu pensei em mil maneiras de


prolongar aquele momento, porém, antes que pudesse
explorar mais essa sensação, preferi encerrar o momento.

— De nada, Emilia. Foi um ótimo fim de semana. E


obrigado por tudo o que fez lá em Hampton.

Ela sorriu e agradeceu. Nossos olhares se encontraram


mais uma vez, porra, foi como se cimento estivesse
prendendo meus pés ao chão. Engoli em seco e me despedi,
vendo-a entrar em seu apartamento, fechando a porta atrás
dela. Voltando para o carro, me perguntei sobre a
complexidade dos sentimentos que começavam a surgir.
Emilia não era apenas uma acompanhante contratada, ela
estava se tornando alguém significativo em minha vida de
maneira que eu não podia ignorar. Mas, por enquanto, eu
precisava focar nos meus negócios e na saúde do meu
filho.

Cheguei em casa após a viagem, sentindo o contraste


entre a agitação da cidade e a tranquilidade daqueles dias à
beira-mar. A cobertura era espaçosa, luxuosa, mas algo em
mim ainda ansiava pelo cheiro do mar, pelas ondas
quebrando suavemente na praia. No entanto, estar de volta
na cidade tinha suas vantagens, principalmente estar mais
próximo de Kurt.

Eu me sentei no sofá, perdido em meus próprios


pensamentos, e estiquei as pernas. Peguei meu telefone e
liguei para meu menino, verificando como ele estava. Nossa
conversa foi curta, porém, me trouxe um conforto saber que
estava bem. Sentia um amor imenso por aquele garoto, que
havia passado por tantas dificuldades em sua curta vida.

Ainda fiquei olhando para o teto, me organizando


mentalmente e em seguida, fui para meu escritório em
casa. Eu tinha alguns novos contratos de aquisições para
analisar e eles demandavam minha atenção. No entanto,
enquanto lia os documentos, um e-mail da equipe de
marketing chamou minha atenção. Abri-o e me deparei com
várias fotos e textos prontos para serem postados nas redes
sociais, destacando os eventos do fim de semana.

As fotos eram diversas, mas havia algumas com Emilia


que chamaram minha atenção. Uma delas mostrava nós
dois sorrindo abertamente para a câmera, em meio à
celebração. Observando aquela imagem, meu coração deu
um salto. Era incrível como eu não me sentia solitário ao
lado de uma mulher que, até recentemente, era uma
completa desconhecida.

A lembrança da sensação de sua mão na minha, do seu


corpo moldando ao meu nos rápidos abraços que trocamos,
do seu calor e perfume, a maneira como nossos olhares
sempre se encontravam e o modo como ela conseguia me
tirar da zona de conforto de forma descontraída e até
mesmo divertida, eram pensamentos que eu não conseguia
evitar.

Estava me acostumando com a presença dela, com as


nossas conversas, com o jeito como ela se encaixava
perfeitamente… em mim. Emilia acordou o homem.
Faminto. Ela me deixava com tesão. Tentava ser um cara
decente ao evitar olhar para sua bunda cada vez que
passava por mim, mas em sua maior parte, era inevitável.
Eu também adorava quando usava um tipo de decote mais
baixo que me dava uma bela visão dos seus seios.

Porra.

Balancei a cabeça, tentando afastar esses


pensamentos. Não era o momento para me distrair com
sentimentos ou emoções que não deveriam me dominar.

Voltei minha atenção para os contratos à minha frente,


tentando focar em meu trabalho. Mas, de alguma forma, a
imagem de Emilia continuava a pairar em minha mente,
como um looping constante de que algo estava mudando,
evoluindo. Eu não sabia exatamente o que esperar do
futuro, mas uma coisa era certa: Emilia estava deixando
uma marca em minha vida de uma maneira que não havia
previsto. Por enquanto, precisava equilibrar meus deveres
profissionais com as novas emoções que surgiam, sabendo
que a linha entre o contrato e a realidade ficava cada vez
mais borrada.

Voltar à empresa após alguns dias fora me deixou com


uma sensação renovada. Minha agenda estava repleta de
compromissos, reuniões e decisões a serem tomadas, mas
estava pronto para enfrentar tudo aquilo. No fim de semana,
marquei vários encontros importantes, incluindo um em que
meu pai e Jim estariam presentes. Os dois estavam na sala,
conversando entre si enquanto esperavam por mim.

Cumprimentei-os com beijos e abraços e me sentei à


mesa, pedindo café.

— Como está a adorável Emilia hoje? — Meu pai


quebrou o silêncio, perguntando sobre minha namorada. Eu
sorri automaticamente.

— Ela está bem e em casa, descansando do fim de


semana.

Meu pai pareceu satisfeito com a resposta.

— Ela é realmente simpática. Sua mãe a adorou, eu a


achei uma jovem muito inteligente e sagaz, tratou a todos
muito bem.

Ao ouvir aqueles elogios, troquei um olhar rápido com


Jim, ambos compartilhando uma sensação de satisfação. A
atuação de Emilia impressionava não apenas a mim, mas
também a minha família e as pessoas ao nosso redor. Ela
estava deslizando por essa situação complexa com uma
habilidade incrível, sempre parecendo à vontade em meio
às conversas e aos eventos sociais.

As palavras do meu pai me fizeram perceber que não


era apenas o contrato que estava nos aproximando. Era
difícil ignorar a maneira como ela me intrigava, como sua
inteligência e espírito afiado a tornavam uma companhia
estimulante. Eu sentia uma atração crescente, algo que ia
além do que poderia ser explicado. Sua presença me fazia
sentir uma mistura de emoções novas e pensamentos
conflitantes, porque eu não era um homem que me permitia
ficar enamorado com facilidade.

A reunião seguiu seu curso, mas minha mente estava


parcialmente distante, divagando entre o que estava diante
de mim e Emilia. Discutindo negócios, minha mente vagava
para o toque suave de sua mão buscando meus dedos, para
seus olhos brilhantes e sorriso contagiante. Era uma
situação delicada, uma dança entre o que era real e o que
era apenas encenação.
CAPÍTULO DEZESSETE
Emilia

Alguns dias depois da viagem aos Hamptons, estava


sentada no chão da sala da casa dos meus pais, cercada por
uma variedade de revistas de noivas e amostras de cores,
animada e pronta para mergulhar nos preparativos do
casamento da minha irmã. Mal podia esperar para
compartilhar aquela experiência com ela e minha mente
borbulhava de ideias com possibilidades infinitas para
tornar o dia ainda mais especial porque fui convidada para
ser madrinha.

Finalmente, Emily e Matthew chegaram, e a energia


contagiante dela encheu o ambiente. Com um entusiasmo
incontrolável, soltou um gritinho animado e jogou a bolsa no
chão antes de se sentar ao meu lado. Nossos olhares se
encontraram, e imediatamente pude ver a mesma
empolgação refletida em seus olhos.

— Você não faz ideia de como estou animada, Emilia! —


ela exclamou, dando um sorriso radiante. — Eu não consigo
acreditar que finalmente estamos planejando o meu
casamento.

Eu sorri de volta, sentindo todo o amor e alegria que


emanavam dela. Era impossível não se deixar contagiar.
— Eu também estou empolgada, Em. Vai ser incrível!

Emily e eu começamos a mergulhar nas revistas e


amostras de cores, Matthew riu suavemente e se afastou
para a cozinha em busca de uma bebida. Fiquei grata por
esse momento a sós com a minha irmã, porque sabia que,
em breve, os detalhes do casamento seriam discutidos com
todos os envolvidos. Mamãe trouxe um par de copos com
chá gelado e se juntou a nós na mesinha de café. Ela tinha
um sorriso suave nos lábios, uma expressão radiante de
orgulho e felicidade ao ver suas duas filhas unidas para
planejar um evento importante.

— Vocês duas estão realmente empolgadas, não é? —


mamãe disse, compartilhando o olhar de Emily e eu. — Você
sempre foi boa com detalhes, tenho certeza de que será
uma madrinha incrível, Emilia.

Senti meu coração se aquecer com suas palavras gentis


e agradeci a ela com um sorriso.

— Eu só quero que seja um dia perfeito para a Emily.

Emily assentiu com entusiasmo, concordando comigo.

— Tenho certeza de que meu casamento será incrível!

Continuamos a discutir ideias, paletas de cores e


possíveis locais para o casamento. Era bom estar cercada
pela minha família, mesmo que entre nós três, eu não sabia
quem não conseguia ficar calada. O som de risadas
preenchia o ar e até mesmo quando Matthew voltou da
cozinha, se juntou à conversa com um sorriso caloroso.

As ideias estavam fluindo e eu amava que a minha irmã


não era indecisa, ela logo tomava as decisões, percebi que
aquele período de planejamento seria uma oportunidade de
criar memórias gostosas com ela além de ajudá-la a
construir o dia dos seus sonhos.

Em uma das revistas, havia a sugestão de ter um


quadro de fotografias dos noivos. Mamãe foi pegar a caixa
de fotos antigas que guardávamos há anos. Ela tinha um
olhar nostálgico e eu sabia que aquelas imagens
carregavam memórias lindas da nossa infância.

Logo, ela segurou uma foto emoldurada do dia em que


desmaiou e descobriu que estava grávida de mim. Meu pai
segurava Emily nos braços, vestida de bailarina, enquanto
minha mãe fazia uma expressão emburrada em uma maca
de hospital. Ficou nítida a emoção na voz da minha mãe
quando ela começou a contar sobre aquele momento.

— Ah, esse dia foi tão surpreendente — disse, olhando a


foto. — Eu desmaiei durante a apresentação de ballet da
Emily na escola. Fiquei tão chocada quando descobri que
estava grávida de novo. Fiquei tão chateada de perder a
dança que Emily ensaiou tanto e por ter engravidado sem
um planejamento, estava muito irritada e seu pai fazendo
graça para me animar.

Emily riu, olhando para a foto e balançando a cabeça.


— Eu era uma pequena bailarina e nem sabia que
estava prestes a ganhar uma irmãzinha.

Minha mãe sorriu para nós duas, a expressão


transbordando nostalgia. Foi então que Emily encontrou
uma foto onde estávamos abraçadas, eu com pouco mais
de um ano e ela, mais velha. Minha mãe logo comentou
sobre aquela foto e o quanto ela ficou animada com a
minha chegada.

— Emily sempre foi uma irmã mais velha incrível,


mesmo quando era tão pequena — Mamãe disse,
acariciando a foto com ternura. — Adorava brincar com
você e estava sempre ansiosa para te fazer rir.

Minhas lembranças se tornaram ainda mais vívidas


quando encontramos uma foto de nós duas vestidas de
médicas para o Halloween. Aquela imagem trouxe de volta
a energia criativa e entusiasmada que sempre
compartilhamos.

— Ah, o Halloween daquele ano foi tão divertido — eu


disse, olhando para a foto. — Lembro-me de como
planejamos nossas fantasias juntas e depois saímos pelas
ruas como médicas intrépidas.

Minha mãe riu e assentiu, concordando comigo.

— Você sempre teve essa imaginação incrível e um


espírito aventureiro. Lembro-me de como você dizia que
queria ser médica, assim como nos vestimos naquele
Halloween.

Eu dei de ombros, rindo de leve.

— Sim, eu realmente queria ser médica naquela época.


Mas, você sabe como as coisas mudam. O jornalismo
conquistou meu coração.

Minha mãe sorriu para mim, mas não foi o sorriso que
atingiu os olhos, porque eu a conhecia bem. Continuamos a
folhear as fotos e percebi que a caixa de fotografias era um
tesouro do passado, um testemunho da nossa jornada e das
muitas formas pelas quais a nossa vida pôde mudar ao
longo dos anos. E outras coisas… pareciam que nunca iriam.
Talvez eu só devesse aprender a lidar com aquilo, já estava
formada e era adulta. O leite já estava derramado.

Emily tinha razão, meus pais podiam só estar


preocupados com o meu futuro e eu posso ter dificultado
com um pouco de briga, sendo teimosa e até arrogante,
como uma adolescente batendo os pés no chão. Não me
arrependia de ter lutado pelo jornalismo. Mas estava na
hora de parar de deixar a mágoa me dominar.

Quando mamãe se afastou para preparar o jantar, Emily


olhou para mim com uma expressão um tanto inquisitiva.
Era óbvio que ela tinha algo em mente para discutir. Eu a
conhecia bem o suficiente para perceber quando algo a
incomodava.
— Estava pensando... você acha que devo esperar vê-la
com um acompanhante no casamento? — Emily perguntou,
parecendo meio incerta.

Eu ri suavemente, captando a intenção por trás da


pergunta.

— Ah, você quer saber se o Niklas vai ao casamento


comigo, não é?

Emily riu e deu de ombros.

— Bem, sim. Quer dizer, vocês têm um relacionamento,


certo? Eu só estava pensando se é sério o suficiente para
vocês aparecerem juntos na imprensa e, você sabe, para eu
conhecer o Niklas.

Era uma pergunta válida, mas também carregada de


um peso que eu não havia realmente considerado. O fato
era que Niklas estava cumprindo sua parte no acordo de
acompanhante, fazendo parecer que tínhamos um
relacionamento sério, mas eu não tinha certeza de como ele
se sentiria em relação a conhecer minha família. Até
porque… não fazia muito sentido se ele tinha se
comprometido em me dar uma carreira e não conhecer os
meus pais.

Emily percebeu que eu estava ponderando sobre sua


pergunta.

— Você está com vergonha de apresentá-lo aos nossos


pais? Sabe, nossa numerosa e tagarela família pode ser
constrangedora, eu sei. Matthew levou um tempo para não
ficar com as orelhas vermelhas aqui dentro, mas papai e
mamãe…

Quase me engasguei com a pergunta, porque essa ideia


nunca havia passado pela minha cabeça. Mas,
honestamente, a resposta era mais complexa do que uma
simples vergonha. Eu não queria que minha família
pensasse que eu estava em um relacionamento com um
homem rico por dinheiro. Não queria que eles achassem
que eu estava sendo usada. Eu também estava usando-o.

— Não, claro que não — respondi rápido, tentando


parecer confiante. — Não é uma questão de vergonha. Só
não tinha realmente pensado nisso antes.

Emily assentiu.

— Eu entendo. Mas vocês estão juntos, certo? E vocês


parecem felizes quando estão juntos.

— Sim, estamos. E eu não acho que seria um problema


apresentá-lo à nossa família. Vou conversar com Niklas e
ver o que ele acha.

Emily sorriu de forma travessa.

— Então, vou te dar um empurrãozinho nessa direção.


Matthew e eu estamos convidando vocês dois para um
jantar na próxima semana. Acho que seria uma boa
oportunidade para nós quatro nos conhecermos melhor.
Eu dei risada, surpresa com a jogada da minha irmã.

— Você é esperta, Emily.

Ela riu e piscou para mim.

— Apenas ajudando a minha irmãzinha a dar um passo


à frente.

Concordei e a agradeci por ser uma boa irmã. Eu só


realmente não sabia como iria fazer para apresentar meu
namorado por contrato aos meus pais… teria que pedir isso
a um homem com quem eu mal trocava algumas palavras.
Às vezes, queria bater com a minha cabeça na parede com
as merdas em que me enfiava.

Depois de um dia agradável na casa dos meus pais,


finalmente voltei para o meu próprio espaço. Cleo me
recebeu com amor e miados. Eu tinha alguns minutos antes
dela se tornar agressiva querendo comida nova em seu pote
de ração. Ela se acomodou confortavelmente no sofá, eu me
recostei e continuei pensando em como abordar o assunto
delicado de convidar Niklas para o jantar na casa da minha
irmã. Emily certamente não deixaria esse assunto morrer
tão fácil assim e eu teria que enfrentá-lo mais cedo ou mais
tarde.

Fiz um lanchinho, coloquei comida para Cleo e chamei


sua atenção sobre bagunçar a caixa de areia. Ela miou de
volta, lambendo a pata com ar de desinteresse, como se eu
vivesse para lhe servir. Fui dormir com ela ao meu lado,
meio que me empurrando, toda noite era a mesma guerra.
Cleo achava que a minha cama era dela.

Na manhã seguinte, acordei com a luz do sol invadindo


meu quarto, acompanhada de uma notificação no meu
telefone. Era a agenda atualizada do Niklas e a minha
curiosidade me fez conferir os próximos compromissos dele.
Uma viagem para a Flórida estava marcada, onde ele
visitaria empresas relacionadas ao espólio da companhia e
fecharia negócios com outros bancos. Era impressionante
como sempre estava ocupado, trabalhando
incansavelmente para expandir os empreendimentos.

Com um suspiro, levantei-me da cama e comecei a


pensar nas roupas que eu deveria separar para a viagem.
Enquanto escolhia peças apropriadas para diferentes
situações, meu telefone tocou, mostrando que era uma
ligação de Amelia.

— Oi, Amelia — atendi, segurando algumas blusas


enquanto falava.

— Oi, Emilia! Como você está? Queria te convidar para


sair hoje, fazer algumas comprinhas. Já sabe da viagem,
certo?

Eu ri, percebendo que Amelia tinha um talento especial


para entender meus gostos.

— Algumas roupas novas sempre caem bem. Além


disso, parece que os eventos nunca têm fim, e eu sempre
preciso estar preparada.

— Exatamente! Eu passo a maior parte do tempo


escolhendo roupas para o Niklas, então eu sei do que estou
falando. Encontre-me naquela loja que te apresentei em
uma hora?

Concordei e encerrei a ligação. Continuei escolhendo


minhas roupas, e percebi que Amelia tinha razão. A vida de
acompanhante não se limitava apenas a eventos sociais,
envolvia também estar bem-vestida e preparada para
qualquer ocasião. E com Niklas sempre presente em
eventos importantes, eu tinha que estar à altura.

Uma hora depois, encontrei-me com Amelia na loja que


ela frequentava. Juntas, caminhamos pelos corredores
repletos de roupas elegantes, e eu me perguntava se essa
rotina de compras e eventos de alto padrão era algo que eu
poderia suportar a longo prazo. Mas, por enquanto, estava
disposta a cumprir o contrato e desempenhar o meu papel.

Experimentei algumas peças de roupa e o meu telefone


apitou novamente. Era uma mensagem de Niklas,
relacionada à viagem para a Flórida. Fiquei olhando a tela,
agradavelmente surpresa que foi a primeira vez que me
enviou um texto diretamente. Respondi, dizendo que estava
disponível para acompanhá-lo e voltei para as mil peças que
Amelia não parava de enfiar pela fresta da porta.

Depois, ela disse que deveríamos ir ao salão, dar um


retoque no brilho e hidratação. Ao chegarmos, foi direto
resolver um problema no escritório e eu fui levada para uma
cadeira, aguardando a minha vez. Fiquei imersa em uma
troca de mensagens com Niklas. Era surpreendente como a
conversa fluiu de forma natural. Ele perguntou se eu estava
bem, eu disse que sim, perguntei de volta e assim, quando
dei por mim, parecia uma adolescente com o telefone
enfiado no rosto.

Minha atenção foi interrompida pelas atendentes do


salão, que estavam cochichando e trocando olhares
discretos. Olhei ao redor, tentando entender o motivo da
agitação, quando uma voz ao meu lado chamou minha
atenção.

— Você é Emilia, certo? — A voz veio de uma mulher


loira, bonita e elegante. Ela estava sentada ao meu lado,
com uma toalha no cabelo enquanto fazia uma hidratação.

Surpresa e sem saber exatamente como reagir, eu


assenti.

— Sim, sou eu.

A mulher sorriu e estendeu a mão para me


cumprimentar.

— Prazer, sou Cynthia Abrams. Eu reconheci você das


fotos.

Engoli em seco, percebendo imediatamente quem ela


era. Cynthia Abrams, a ex-mulher de Niklas e mãe do filho
dele, estava bem ali ao meu lado. Minha mente corria a mil
enquanto eu tentava processar a situação.

— Ah, sim! Prazer em conhecê-la, Cynthia. — Minha voz


saiu um pouco trêmula, mas eu me esforcei para parecer
educada e simpática, como costumava ser com todos que
eu conhecia.

Cynthia parecia calma e até mesmo amigável. Ela


comentou sobre como era estranho ver o nome de Niklas
ligado ao meu em tantas notícias e eu dei uma risadinha
nervosa, concordando. A conversa continuou de maneira
descontraída e eu me vi compartilhando pequenos detalhes
sobre a minha carreira, muito consciente de que estava
falando com a ex-mulher do homem com quem eu tinha um
acordo profissional.

— Você parece ser uma pessoa muito interessante,


Emilia — Cynthia disse com um sorriso sincero. — E, pelo
que vejo, tem conseguido lidar com a pressão da mídia
muito bem.

Eu me senti lisonjeada pelo elogio, mas ao mesmo


tempo, estava me perguntando qual era a percepção de
Cynthia sobre mim e Niklas. Eu não tinha ideia de como ele
havia lidado com a separação e como abordou o assunto
com ela sobre a minha existência. Ela não parecia saber que
era um acordo.

— Obrigada, Cynthia. Eu tento lidar com isso da melhor


maneira possível. — Minha resposta foi cuidadosa, sem
revelar muito.

Nesse momento, Amelia voltou e notou a presença de


Cynthia ao meu lado. Elas se cumprimentaram com muita
familiaridade e Cynthia sorriu de maneira calorosa.

— Eu estava apenas conversando com Emilia sobre


algumas coisas.

— Não sabia que tinha agendado hoje, querida.

— Vim sem marcar, privilégios de ser afilhada da dona.


— Cynthia sorriu, sem vergonha.

— Venha sempre que quiser, meu amor. — Amelia deu-


lhe mais um abraço.

Hum… afilhada? Eu sabia que Jim era padrinho de


batismo do Niklas. Mas quanto a Amelia e Cynthia? De que
tipo de apadrinhamento elas falavam?

A situação estava ficando cada vez mais complexa e eu


tentava encontrar uma maneira de encerrar a conversa de
forma educada. Cynthia sugeriu que nos encontrássemos
mais vezes, talvez para um café ou algo do tipo. Eu balancei
a cabeça, concordando, mas evitando fazer compromissos
definitivos. Não sabia ao certo como Niklas reagiria à ideia e
eu não queria criar confusão.

Depois de mais alguns minutos, Cynthia teve que sair


para terminar o tratamento no cabelo. Enquanto ela se
afastava, eu me vi perdida em pensamentos, tentando
entender como Niklas ficaria quando soubesse que eu havia
conversado com sua ex-mulher. Ele não podia ficar
chateado por algo que eu não tinha controle.
CAPÍTULO DEZOITO
Emilia

Chegou o dia de viajar para a Flórida e eu estava mais


animada do que uma criança. Deixei Cleo com meus pais,
eles fizeram perguntas, claro, e avisei que passaria uns dias
fora com meu namorado. Era a primeira vez, e como era
maior de idade, eles não falaram muito, apenas me pediram
para tomar cuidado e as recomendações que minha mãe
nunca deixaria de dar, não importando a minha idade.

Emily passou lá em casa para buscar a chave reserva


para molhar minhas plantas, da outra vez, ela quem ficou
responsável por colocar comida e trocar areia da Cleo.

Ela sabia que eu iria matá-la se a minha samambaia


morresse.

Memphis me buscou cedo, mas nosso chefe ainda não


estava livre. Ficamos esperando-o no estacionamento da
empresa, e aproveitei a oportunidade para usar o banheiro
antes de partirmos para o aeroporto. Memphis gentilmente
me levou até o escritório de Niklas e me ofereceu um lugar
para me acomodar enquanto ele terminava a reunião.

Cumprimentei Kelly, secretária dele, que parecia


animada em me ver de novo, e conversamos brevemente
sobre a agenda dele. Ela me assegurou que a reunião
estava quase terminando, perguntando se eu queria um
café, água, que a copeira viria me servir.

A ironia quase me fez rir alto.

Estava prestes a ir para a sala de Niklas aguardar,


quando, do nada, Chace Smith, um dos executivos da
empresa, apareceu efusivamente. Ele me cumprimentou
com um sorriso simpático, e eu percebi o olhar diferente
que ele me dirigiu. Era evidente que o fato de eu ser
namorada do chefe estava mudando a maneira como
algumas pessoas me enxergavam na empresa.

Mantive minha postura bem distante e profissional. Eu


não queria dar margem para fofocas ou mal-entendidos. Eu
sabia que, como “relações públicas” de Niklas, era
importante manter uma imagem impecável, em especial
dentro do ambiente de trabalho.

Niklas chegou, e sua presença prontamente capturou


minha atenção. Ele se aproximou de mim e, sem cerimônia,
envolveu a mão em minha cintura de um jeito possessivo,
como se estivesse marcando território. Fui pega de surpresa
por sua atitude, mas não podia deixar de notar como aquilo
era revelador do quanto ele estava levando a sério nossa
farsa de relacionamento.

Um risinho nasceu no canto da minha boca e foi difícil


de conter.
— Oi, amor — ele disse com um sorriso que só eu
poderia ver, cheio de significados internos.

— Oi, Niklas — respondi, tentando manter a


naturalidade em minha voz.

Chace ficou com as bochechas coradas e se despediu


de nós de maneira educada, parecendo um pouco
desconcertado pela presença do chefe. Eu me sentia sendo
observada e estava ciente de que as pessoas na empresa
estavam atentas a qualquer interação entre nós. Niklas
disse que pegaria suas coisas pessoais no escritório e
poucos minutos depois, estávamos caminhando até o carro.
Ainda fiquei sentindo o toque dele em minha cintura e
aquilo mexeu comigo de um jeito que eu não esperava.

Foi uma mistura de excitação e confusão, pois, embora


eu estivesse ciente de que era tudo parte do acordo, a
maneira como ele agia parecia ultrapassar as minhas
fronteiras. De repente, me fez ficar ciente de que fazia um
tempo que eu não beijava na boca e não sentia o corpo
quente de um homem me deixando maluca na cama. E,
óbvio, que não seria com o meu chefe que isso aconteceria.
Eu tinha que deixar de ser uma louca fantasiosa por conta
de uma mão grande… e boa, bem colocada, apertando da
maneira certa, a minha cintura.

Eu me acomodei no carro ao lado dele, observando a


cidade passar pela janela enquanto meus pensamentos
continuavam girando em torno das dinâmicas complicadas
que aquela farsa de relacionamento estava criando em
minha vida. Agora, eu precisava transar para deixar de
sentir tesão pelo meu chefe.

Chegamos ao aeroporto e embarcamos, sobrevoando


para a Flórida em um avião particular. A comissária de
bordo serviu um almoço sofisticado que me fez salivar. O
salmão laqueado com arroz de coco e purê de batata com
brócolis estava simplesmente delicioso. Soltei um som de
apreciação enquanto pegava alguns camarões da salada
que foi servida em um prato separado, e minha fome era
evidente quando até me permiti fazer uma pequena
dancinha de alegria.

Niklas riu, observando minha reação entusiasmada pela


comida.

— Parece que você estava realmente ansiosa por essa


refeição — ele comentou com um sorriso.

— Confesso que tomei café da manhã muito cedo hoje


para deixar minha gata na casa dos meus pais antes de vir
para o aeroporto. Não queria deixá-la sozinha durante essa
viagem de mais de três dias — expliquei, pegando mais um
pedaço de salmão com um olhar faminto.

Niklas arqueou as sobrancelhas, surpreso.

— Você tem uma gata?

— Sim, a Cleo. — Mostrei uma foto dela no meu celular.


Era impossível não sorrir ao olhar para o pequeno rosto
felino que aparecia na tela.

— É uma gata bonita — Niklas observou. — Eu não


tenho animais de estimação, na verdade. Não tenho tempo
para isso no momento.

Balancei a cabeça, compreendendo.

— Entendo. Prioridades, não é? E sei que Kurt é sua


maior prioridade.

Niklas assentiu, e seu rosto se suavizou com um


sorriso.

— Sim, definitivamente. Sempre coloco Kurt em


primeiro lugar.

Contei que Cleo veio em uma tentativa de morar com


um namorado, a história se desenrolou e Niklas lamentou
que Benedict tenha me traído, mas que, pelo menos, ganhei
uma gatinha. Perguntei sobre como Kurt estava naquela
semana e ele respondeu que estava bem, com a mãe.

— Conheci sua ex-mulher no salão, não sei se ela


comentou.

Niklas ergueu o olhar, surpreso.

— Não. Ela não disse nada, mas costumo ligar direto


para Kurt quando ele está com ela. Como foi?

— Ela é adorável. Foi muito simpática, educada e quis


até marcar um café.
— Cynthia é uma boa mulher. Somos excelentes
amigos.

— Possuem uma relação saudável pelo bem de Kurt,


isso é admirável — comentei, mantendo minha voz
tranquila e neutra, enquanto misturava o purê de batata
com o brócolis.

Niklas concordou e eu queria muito saber por que eles


se divorciaram. No entanto, não era o momento para fazer
perguntas ou explorar mais a fundo o assunto. Afinal,
estávamos a caminho de uma viagem de negócios, e a
dinâmica entre Niklas, Cynthia e Kurt não era da minha
conta.

Após um pouso tranquilo na Flórida, fomos levados para


uma luxuosa casa de condomínio que não ficava muito
perto da praia, porém, era em uma parte alta que dava uma
bela visão para o mar. Era muito bonito e mais parecia um
elegante flat. A espaçosa sala se dividia em ambientes:
cozinha, sala de jantar, televisão e área de estar.

Ao seguir pelo corredor, encontramos um lavabo


discreto e, em seguida, dois quartos grandes e muito bem
decorados, ambos com vista para o gramado dos fundos e a
belíssima piscina. Parecia um verdadeiro refúgio.

Memphis ficaria no flat da frente. Logo após a chegada,


Niklas tinha uma reunião marcada que eu não precisaria
acompanhar. Aproveitei a oportunidade para relaxar um
pouco sozinha. Decidi experimentar a hidromassagem da
suíte e, enquanto enchia a banheira, conectei meu celular
ao sistema de som para ouvir música ambiente. Coloquei
um biquíni e entrei na água quente e borbulhante, sentindo
a tensão deixar meu corpo aos poucos.

Eu me acomodei e percebi que Niklas estava parado na


porta, me observando. Ele inclinou a cabeça, um olhar de
desejo faiscando em seus olhos. Era um olhar que me
enviava uma mensagem de aproveite esse momento por
nós dois. Ele mordeu a ponta do lábio com suavidade,
causando um arrepio gostoso pela minha espinha, um
sorriso sensual e espontâneo tomou conta do meu rosto, e
borboletas dançaram em meu estômago.

— Vou aproveitar a banheira enquanto você trabalha —


disse com uma voz suave, mas cheia de sugestões.

Ele sorriu, piscou e parecendo satisfeito com minha


resposta, se afastou para sair da suíte. A porta se fechou e
senti a excitação me tomar. Era difícil não reagir à tensão
sexual que parecia estar pairando entre nós. A música
suave preenchia o ambiente, e as bolhas da hidromassagem
acariciavam minha pele. Fechei os olhos, cruzando minhas
pernas, apertando, porque merda, havia um latejar ali,
querendo fricção com urgência e permiti que a água quente
e o som relaxante me envolvessem por completo.

No fundo da minha mente ainda ecoava o olhar intenso


que Niklas havia me lançado. Doce Jesus… era possível
gozar com uma olhada?
Era um desafio constante manter a linha tênue entre a
nossa farsa de relacionamento e as emoções que estavam
surgindo. Mergulhei mais fundo na água para espantar a
fantasia. Estava prestes a enfrentar uma viagem cheia de
encontros, negócios e eventos que poderiam testar ainda
mais nossa habilidade de manter a aparência de um casal
apaixonado. E, no meio de tudo isso, havia momentos,
como o que ele parava na porta e me olhava com
intensidade, em que a linha entre realidade e a mentira se
tornava cada vez mais confusa.

Fiquei sozinha na casa por um tempo, até que Niklas


finalmente chegou. Seu olhar direto em mim deixou claro
que ele gostava do que via. Usava um justo vestido preto,
longo até os pés, que estavam descalços.

— Você já comeu?

— Ainda não. E você?

Havia uma tensão sutil entre nós, mas dessa vez era
diferente.

Ele sugeriu pedir algo para comer, já que o tempo havia


virado e estava chovendo muito lá fora. Concordei com um
aceno de cabeça e fui até a geladeira para pegar água. A
chuva batendo contra as janelas criava um ambiente
aconchegante.

Niklas tirou o terno, revelando uma imagem mais


casual, e pegou seu telefone. Ele perguntou se eu tinha
algum problema em comer e me sujar um pouco.

— Tem um restaurante de frutos do mar aqui que eu


adoro, mas é de sujar muito.

Minha empolgação foi instantânea, e eu concordei com


a ideia de imediato. Ele fez os pedidos, garantindo que a
comida chegaria em breve. Antes de ir tomar banho e se
sentir mais à vontade, perguntou se eu estava confortável
com a situação. Assegurei que sim e, enquanto ele se
afastava, liguei a televisão para ter algum som de fundo
além do barulho da chuva lá fora.

Com a comida a caminho e a chuva criando um


climinha gostoso, eu me encontrei relaxando naquele
ambiente descontraído. O jantar seria como um encontro
que estava prestes a nos tornar um pouco mais íntimos e
seria revelador para entender o que estava acontecendo.

Niklas voltou para a sala vestindo jeans e uma camiseta


casual. Ele comentou sobre a chuva e tranquilizou que a
comida logo chegaria. Sentamos juntos à espera e
perguntei sobre Memphis, se deveríamos pedir algo para o
segurança também, ele respondeu que o Memphis sabia se
virar sozinho. A energia deu uma piscada rápida, nos
fazendo olhar para cima ao mesmo tempo, e então nos
encaramos, preocupados com a possibilidade de um
apagão.

A campainha tocou e fui atender. Era o entregador com


vários pacotes de comida. Niklas me ajudou e deu uma
generosa gorjeta ao homem pelo esforço de ter enfrentado
o mau tempo para nos trazer o jantar. Espalhamos a
refeição no balcão da cozinha e dei um risinho suave
quando vi Niklas pegando uma tesoura e colocando-a ao
lado do meu prato, junto a um guardanapo de linho. Ele
educadamente pediu licença e prendeu o guardanapo em
minha roupa, o que me fez sorrir.

— Para que isso tudo? Vamos enfrentar uma guerra?

— Quase.

Ele descobriu as lagostinhas, e percebi que teria que


aprender a cortá-las para aproveitar a carne mergulhada no
molho. Niklas me mostrou como fazer e eu imitei seus
movimentos, experimentando e, inevitavelmente, sujando
meu queixo, o que nos fez rir. Ele pegou um guardanapo,
limpou meu queixo e brincou que havia avisado que aquela
era uma comida que fazia bagunça, mas valia a pena.

— Isso é simplesmente delicioso!

— Eu te disse. — Niklas sorriu, servindo o vinho que


havia pedido. Dei um gole, mas estava toda suja e ele
também. — Não se preocupe em ficar limpa, é impossível,
aqui, prove um pouco dessa salada com manga. Tem
camarões.

Ele me deu uma garfada e trocamos olhares cheios de


cumplicidade. Havia um tanto de flerte também, criando um
clima de intimidade que estava ficando cada vez mais difícil
de ignorar.

— É a melhor que já experimentei. Você estava certo.

— Sempre que estou na cidade, preciso comer lá, mas


estou feliz que eles entregaram.

— Tenho certeza de que é um excelente cliente.

As barreiras estavam caindo e o que surgia entre nós


parecia estar carregado de emoções surpreendentes. A
chuva continuava lá fora e o nosso jantar se tornava um
momento de revelações silenciosas. Não era coisa da minha
cabeça. Mas o que aquilo realmente significava?
CAPÍTULO DEZENOVE
Niklas

A chuva forte durante a madrugada parecia ter


encontrado um ritmo hipnotizante e eu estava imerso em
um sonho delicioso, vislumbrando Emília deliciosamente de
biquíni na hidromassagem, quando fui despertado pelo som
insistente do meu telefone. Suspirei e xinguei baixinho,
pegando o aparelho para ver o que estava acontecendo. Um
alerta de furacão. Memphis havia enviado mensagens
informando sobre a situação e dizendo que sairia para
comprar suprimentos necessários para todos.

Olhei pela janela e notei a intensidade da chuva lá fora.


Era um verdadeiro dilúvio. Pensei por um momento e decidi
que seria mais eficiente se fôssemos todos juntos, para ser
mais rápido, enquanto eu e Emilia fazíamos compras,
Memphis poderia abastecer o carro e adquirir os demais
suprimentos que as casas não tinham.

Saí da cama o mais rápido que pude e caminhei até o


quarto de Emilia. Encontrei-a dormindo tranquila, abraçada
com um travesseiro. Eu me aproximei da cama e toquei em
seu ombro com suavidade para acordá-la.

— Emilia, acorde. Temos um pequeno problema.


Ela se espreguiçou e piscou os olhos, ainda sonolenta.
Levou um instante para se dar conta do que estava
acontecendo e logo ficou sentada.

— O que está acontecendo? Por que meu celular não


para de apitar?

— É um alerta de furacão. Memphis sugeriu que


façamos algumas compras para nos prepararmos.

— Furacão? Sério?

Assenti e Emilia rapidamente se dirigiu para o armário,


procurando roupas mais adequadas para sair. Trocamos
nossos pijamas, prontos para enfrentar o mau tempo que se
aproximava. Ela ainda estava se aprontando, olhei para fora
e vi alguns vizinhos também saindo de suas casas, todos
com expressões preocupadas. Era claro que todo mundo
estava se movimentando para se prevenir do furacão,
previsto para chegar em trinta e seis horas.

— Você acha que vai ser tão ruim assim? — Ela saiu do
quarto vestindo um casaco.

— Memphis disse que é melhor estarmos preparados.


Não quero correr riscos desnecessários.

Emilia assentiu e pegou a bolsa, colocando o celular e a


carteira dentro.

— Vamos lá, então. Ainda é madrugada, espero que os


mercados estejam abertos.
Juntos, saímos da casa, enfrentando a chuva e o vento
que já começavam a ficar mais intensos. Passei meu braço
por seu ombro, levando-a para o carro, correndo. Memphis
estava esperando por nós. A jornada para os mercados
estava prestes a começar e sabíamos que as próximas
horas seriam um desafio.

Emilia me deu um olhar assustado enquanto a chuva


caía implacavelmente sobre nós, eu não conseguia deixar
de pensar que essa situação inesperada estava nos
colocando à prova de uma maneira que eu nunca poderia
ter previsto.

Era a primeira vez na minha vida que me via diante de


uma situação catastrófica de natureza tão intensa. Lidar
com negócios e tomar decisões difíceis no mundo
empresarial eram minhas batalhas diárias. Mas enfrentar
um furacão? Era completamente novo para mim. Eu já tinha
passado por uma nevasca em Nova Iorque, uma nuvem de
fumaça misteriosa que invadiu a cidade anos atrás e ondas
de calor sufocantes no verão, mas nunca algo tão
potencialmente destrutivo quanto um furacão.

Emilia e eu pegamos a cartilha do governo para nos


orientarmos sobre as medidas de segurança e como nos
prepararmos da melhor forma possível. Compramos
lanternas, comida não perecível, água engarrafada e tudo o
que achávamos necessário para enfrentar os próximos dias.
Eu podia ver que ela estava nervosa, mastigando o
lábio enquanto íamos pelas prateleiras do supermercado.
Ela garantiu aos pais que tinha um lugar seguro para ficar e
tranquilizou-os. Eu também me ofereci para falar com eles
para que soubessem que estava acompanhada e que
faríamos o nosso melhor.

Seus pais estavam preocupados, obviamente, não me


conheciam e a filha estava presa em outro estado com um
furacão prestes a chegar a qualquer momento.

— Eu vou precisar de chocolates para passar por isso.


— Emilia agarrou várias barras, abraçando-as como se a
vida dependesse disso.

De volta à residência, a intensidade do vento tinha


aumentado consideravelmente e as chuvas eram
incessantes. Embora as janelas fossem projetadas para
resistir a um furacão, ainda assim, tomamos precauções
extras, colocando proteções adicionais, o que nos tomou um
bom tempo. Emilia suspirou, visivelmente preocupada, ao
se sentar no sofá. Eu me sentei ao lado dela, percebendo a
tensão em sua expressão.

Coloquei minha mão sobre a dela, entrelaçando nossos


dedos.

— Vai ficar tudo bem. Estamos preparados e em um


local seguro.
Ela olhou para mim, seus olhos buscando alguma forma
de conforto. Eu estava determinado a ser essa fonte de
tranquilidade para ela, mesmo que a situação à nossa volta
fosse caótica.

— Eu sei que sim, Niklas. É só que... nunca passei por


algo assim.

— Nem eu. Vamos acompanhar as orientações do


governo, nos manter seguros e esperar que tudo passe.

Ela assentiu lentamente com os dedos apertando os


meus. Era um momento de incertezas, mas sentia uma
conexão crescendo. Aquela situação nos colocava à prova
de uma forma única e estava determinado a mostrar a
Emilia que ela não estava sozinha, que podia confiar em
mim. A chuva e o vento lá fora continuavam a rugir, fiquei
focado em ser um ponto de apoio para ela e juntos, nós
enfrentaríamos essa tempestade, figurativa e literal.

Algumas horas depois, a energia se foi, mergulhando o


ambiente na escuridão. Antes que isso acontecesse,
consegui falar com meus pais e com o meu filho,
garantindo-lhes que estávamos bem e seguros. Carregamos
nossos telefones e as baterias das lanternas para nos
mantermos conectados. Juntos na sala, as circunstâncias
nos aproximavam cada vez mais. No dia anterior, trocar
mensagens com Emilia não era algo que eu imaginava
fazer, mas sua presença me proporcionava um senso de
conforto.
Ela estava abraçando uma almofada e parecia
sonolenta.

— Você quer comer alguma coisa agora?

— Não, estou bem. Quer que pegue algo?

— Não.

— Por quê não tenta dormir um pouco? — sugeri,


observando seus olhos pesados.

Ela parecia exausta. Peguei um cobertor do quarto e o


coloquei sobre ela. Ela se recusou a deitar, querendo
permanecer na sala comigo e me sentei na outra
extremidade do sofá, esfregando o rosto.

As próximas horas seriam angustiantes e incertas.

Emilia, com um gesto gentil, jogou uma ponta do


cobertor em minha direção, oferecendo-me a oportunidade
de também descansar um pouco. Eu hesitei por um
momento, mas logo me permiti escorregar um pouco mais
no sofá, aceitando sua oferta.

Estávamos lado a lado, nossas cabeças próximas,


compartilhando o calor um do outro. Eu podia sentir o
perfume dela, a suavidade de sua presença era muito
gostosa. Eu me perdi na profundidade dos olhos castanhos
dela, maravilhado com o formato de seus lábios, com cada
detalhe que antes eu nunca tinha parado para observar.
Sem perceber, inclinei-me ainda mais em sua direção,
minha respiração ficando um pouco mais rápida, assim
como as batidas do meu coração. O silêncio ao nosso redor
parecia ampliar a intensidade do meu desejo.

A chuva batia contra as janelas, o vento uivava lá fora,


mas ali, naquele pequeno espaço, éramos apenas nós dois,
compartilhando uma vulnerabilidade. Estava prestes a dizer
algo quando nossos olhos se encontraram mais uma vez e
foda-se, tudo mudou. A tensão aumentou, o tesão que
estava escondido borbulhava na superfície e eu não
conseguia mais resistir. Levantei minha mão suavemente
para tocar a sua bochecha, enquanto eu me aproximava.

Até a eletricidade no ar parecia diferente. Minhas


emoções pulsando.

Nossos olhares se encontraram com uma mensagem de


que havia algo inevitável no ar. Nossos rostos estavam tão
próximos que eu podia sentir sua respiração contra minha
pele. A incerteza e a expectativa pairavam, criando uma
tensão e era como se o tempo tivesse desacelerado. Minha
mente estava em uma confusão de emoções, mas o instinto
me guiava. Eu queria sentir os lábios dela nos meus,
experimentar o gosto que havia imaginado nos momentos
mais inesperados. Era um risco.

Eu precisava dela.

Com um movimento suave, me aproximei ainda mais,


nossos lábios a apenas centímetros de distância. Emilia
podia sentir minha respiração irregular, porque seu olhar
estava fixo nos meus lábios, uma sutil expectativa refletida
em seus olhos com um sorriso de canto de boca que era
irresistível. Os meus lábios finalmente encontraram os dela
em um beijo tímido, quase hesitante. O contato foi delicado,
um toque cauteloso que explorava o terreno desconhecido.
Foi como se o mundo tivesse desaparecido e só existíamos
nós dois em todo maldito universo. Não queria sair dali
nunca mais.

Emilia segurou a minha nuca, puxando-me para frente e


a suavidade do beijo inicial deu lugar a um desejo
crescente. Minhas mãos encontraram seu rosto, segurando-
a com cuidado enquanto nossos lábios se moviam em
harmonia. A sensação era natural, como se nós fôssemos
destinados a viver aquele beijo.

Desci minhas mãos para sua cintura, apertando


suavemente, e mordisquei sua clavícula, arrastando meus
lábios por seu pescoço só para sentir a delícia de sua pele
arrepiada contra a minha. Ela jogou a cabeça para trás,
empurrando um pouco o torso para cima e passei meu
polegar por seu decote, voltando a tomar sua boca com um
beijo quase desesperado.

A chuva continuava a cair lá fora e o som se misturava


com as batidas dos nossos corações. Naquele sofá, em meio
à escuridão e à incerteza do furacão iminente, eu me
encontrava envolvido em uma intimidade inesperada.
— Que beijo gostoso… — Emilia abriu um sorriso contra
meus lábios, com um olhar embriagado. Agarrei sua coxa,
colocando-a em cima da minha, apertei e mordi seu queixo.

— Gostosa é você.

Emilia me puxou para mais um beijo e ficamos ali, no


sofá, envoltos pela atmosfera intensa que havia se formado.
Todo o desejo reprimido e a atração silenciosa, finalmente
encontraram um meio de se expressar. Meus dedos
tocavam sua pele com delicadeza, como se cada centímetro
dela fosse uma descoberta que eu não podia deixar de
explorar.

— Não posso deixar de perguntar… — ela começou,


meio hesitante. — O que foi isso?

Eu também estava me questionando sobre o que tinha


acontecido, mas não sabia ao certo como colocar em
palavras. Foi um impulso que simplesmente aconteceu, mas
não era apenas isso. Havia algo que eu não podia negar.

— Eu não sei — admiti, minha expressão refletindo a


sinceridade das minhas palavras. — Foi… intenso,
inesperado. Mas pareceu certo.

— Sim, foi certo. Acho que estávamos ensaiando essa


dança há um tempo, especialmente, quando eu te achava
um homem muito atraente.

Emilia ficou adorável, as bochechas coradas e a


maneira com que desviava o olhar só aumentava a
sinceridade da situação. Com gentileza, segurei seu queixo,
inclinando sua cabeça para que nossos olhos se
encontrassem de novo.

— Então é isso? — perguntei, com uma nota de


diversão na voz. — Você estava me achando atraente há
algum tempo?

— Eu não te beijaria se não achasse, oras.

A confissão dela, ainda que um tanto envergonhada,


ecoou no ar como música para os meus ouvidos. Era
reconfortante saber que a tensão que sentia era mútua, que
não estava imaginando aquelas trocas de olhares e
momentos de proximidade. Era uma confirmação de que
havia algo real ali, algo que valia a pena explorar.

— Eu também não sou imune à sua presença — admiti,


minha voz um pouco mais suave do que o normal. — Tem
algo nesse tempo que passamos juntos, nessa conexão que
criamos... que é difícil de ignorar.

Minha mão ainda estava em seu queixo, então, sem


mais palavras, inclinei-me para frente e capturei seus lábios
em outro beijo delicioso, dessa vez sem hesitação. Ela se
entregou, foi gostoso, subindo um pouco em cima de mim,
então levei minhas mãos para seu bumbum, dando um
aperto. Emilia montou em meu colo com um risinho safado
muito tentador. Eu não me importaria se o mundo se
acabasse naquele instante.
Seu vestido subiu um pouco mais e eu não podia parar
de beijá-la. Era como se as palavras que não podíamos
encontrar estivessem sendo expressadas daquele modo. E à
medida que nossos lábios se moviam em perfeita sintonia,
eu soube que não havia mais necessidade de perguntas ou
explicações. Queríamos um ao outro. Desejo não faltava.
CAPÍTULO VINTE
Emilia

A tempestade lá fora estava ficando cada vez mais


intensa, as rajadas de vento agitando as árvores e a chuva
batendo nas janelas como pequenas balas. Eu não
conseguia evitar sentir um certo receio enquanto olhava
pela janela, pensando nas possibilidades do que poderia
acontecer. Afinal, era a minha primeira vez na Flórida e eu
não esperava ser recebida por um furacão.

Mesmo em meio à ansiedade, havia uma sensação de


segurança nos braços de Niklas. Os beijos incríveis que
compartilhamos trouxeram à tona sentimentos que não
podíamos ignorar. Era um misto de emoções, todas intensas
e novas para mim. Eu sabia que aquele momento inusitado
nunca seria esquecido, que o toque dos nossos lábios seria
uma memória que guardaria para sempre.

E caramba, o homem beijava muito bem. Era muito


melhor do que havia imaginado. Ele tinha uma senhora
pegada… e um cheiro bom, a língua saborosa contra a
minha, suas mãos grandes me apertando, ele me agarrava
na cintura e me puxava para mais perto com um desejo de
nos fundir em um só. Era intenso. Foi o primeiro beijo mais
gostoso de toda minha existência. Nem o primeiro de todos,
com o garoto que eu achava que era o amor da minha vida
no colegial, foi tão emocionante. Eu senti coisas distintas
que não podia explicar.

A situação em que nos encontrávamos só aumentava a


intensidade de tudo. Estávamos sozinhos em uma casa,
enfrentando um furacão iminente, o vento uivava do lado de
fora, fazendo a casa tremer ocasionalmente. Uma sirene de
alerta soou ao longe, ecoando pelo ar. Era um lembrete das
condições adversas lá fora e do perigo que o furacão
representava. Eu engoli em seco, sentindo meu coração
acelerar.

A preocupação deveria estar escrita em meu rosto


quando Niklas esfregou os meus braços em um gesto
reconfortante.

— Não se preocupe — ele disse com voz suave, como


se pudesse ler meus pensamentos. — Estamos seguros aqui
dentro. As casas nessa área são projetadas para aguentar
furacões, e estamos seguindo todas as orientações de
segurança.

Eu o encarei, encontrando um traço de tranquilidade


em seus olhos. Era reconfortante ouvir aquelas palavras e
eu queria acreditar nelas. O vento continuava assustador e
a chuva castigando as janelas, porém, eu tinha que confiar
que ficaríamos bem. Senti um calor nos meus braços
enquanto ele continuava a esfregá-los suavemente e me
permiti relaxar um pouco mais.
— Tire esse vinco da testa. — Ele passou o dedo entre
as minhas sobrancelhas e acabei sorrindo, relaxando e
encostando a testa em seu ombro.

— Eu sei que vamos ficar bem, é só…

— É isso, vamos ficar bem.

O clima lá fora piorava a cada momento, e a sensação


de ansiedade se intensificava à medida que a tempestade
se aproximava. Nós encontramos uma maneira de nos
distrair, beliscando alguns lanches e bebendo água
enquanto nos acomodávamos debaixo das cobertas. O som
do vento era assustador, havia alguns estalos e eu me
encolhia involuntariamente.

Niklas estava ao meu lado, seu braço envolvendo meu


ombro e ele murmurava palavras tranquilizadoras. Eu sentia
seu olhar sobre mim, seu toque me transmitindo uma
sensação de proteção em meio à tempestade.

Nossos telefones apitaram de novo e eu nem quis olhar,


meu estômago, cheio de biscoitos e chocolate, torceu.

— O furacão está se aproximando, vamos nos abrigar


no banheiro, que segundo a planta da casa, é o ambiente
seguro — disse em um sussurro suave e apenas assenti,
engolindo em seco. Nós levantamos e fomos levando o que
seria necessário para o banheiro, ele montou uma pequena
cama confortável, deixando as lanternas, comidas e água
por perto. Eu queria gastar o restante da minha bateria
ouvindo música ou pelo menos, um ruído branco para me
acalmar.

Eu não podia ter um ataque de pânico no meio de um


furacão.

Prendi o meu cabelo, dando um pulo com o que parecia


ser uma explosão. Niklas me levou para a banheira e
sentamos. Ele me colocou contra o seu peito, puxando a
coberta, de um jeito apertado, parecendo entender que
aquilo faria com que eu me sentisse segura. Apertei meus
dedos na borda, tomando algumas respirações profundas
para desacelerar as batidas do meu coração.

— Sabe a primeira vez que vim aqui? — Niklas começou


a falar baixinho.

— Não. Conte-me, por favor.

— Bem, é a primeira vez que eu lembro. Foi com meu


pai, ele tinha negócios a fazer na cidade e me trouxe junto,
ficamos em uma casa à beira da praia…

— Quantos anos você tinha? — Acariciei seu braço, me


permitindo ser distraída.

— Uns dez anos. Meu pai foi trabalhar. Era uma viagem
de homens, então, sem minha mãe e sem babás. Eu achei
que seria uma ótima ideia simplesmente entrar no mar sem
ninguém por perto.

— Espero que já soubesse nadar…


— Nadar na piscina é diferente de nadar no mar.

— Eu não acredito que você era uma criança arteira,


Niklas.

— Eu era sim, e dou graças a Deus que Kurt é apenas


uma criança curiosa e criativa, puxando a mãe dele, um
filho que puxasse a mim, nas condições dele, seria um
trabalho dobrado.

— Também fui criativa, não era muito curiosa. Minha


irmã era bem mais arteira que eu, porém, ela tinha muito
medo dos meus pais, eles sempre foram extremamente
severos.

Enquanto continuávamos a conversar em voz baixa, um


pensamento me ocorreu. Desde que era criança, sempre
sonhei em conhecer a Flórida, especialmente a Disney. No
entanto, nunca considerei que um furacão faria parte do
pacote. Compartilhei isso com Niklas, admitindo que essa
não era a experiência que eu havia imaginado para a minha
viagem.

Ele olhou para mim com um olhar atencioso, seus olhos


buscando os meus como se quisesse se conectar mais
profundamente. Ele falou, como alguém que aprendeu
lições valiosas com a vida. E era, caramba, vivia em função
de um filho com uma doença incurável. Aquele homem não
fazia nada além de trabalhar e cuidar da saúde do Kurt.
— Tudo tem um propósito — ele disse, as palavras
ressoando em minha mente.

Era uma perspectiva que eu não havia considerado


antes. Suas palavras me fizeram refletir sobre como as
circunstâncias nem sempre eram como esperávamos, e que
na maior parte das vezes, minha reação a ser contrária era
um tanto mimada. Eu tinha muito que evoluir e aprender
com a vida. Minhas questões emocionais não me ajudavam
a ser evoluída. O mundo me cobrava ser madura na minha
idade e ao mesmo tempo, não tinha passado por situações
que testassem a minha maturidade.

Meu sonho de ir à Disney era um exemplo disso. Eu


tinha ressentimento que meus pais proporcionaram a
viagem à minha irmã quando ela se formou, mas na minha
vez, além das brigas por eu estar indo para uma faculdade
que eles não queriam, não tinha dinheiro porque meu pai
havia feito investimentos ruins e estava sem capital. Eu
fiquei muito magoada. Era o meu sonho. Emily nem fazia
tanta questão assim e foi.

Não era culpa da minha irmã. Mas já havia o fato de


que ela tinha se formado com honras e foi oradora da
turma, eu apenas me formei, sem nada de mais. Fui para
uma boa faculdade, só não tive nada que meus pais
pudessem se orgulhar no grupo da família.

Jurei para mim mesma que me daria aquela viagem,


sem ajuda dos meus pais, mas olhando para trás, eu
deveria ter brigado menos e ter sido um pouco mais
compreensiva da maneira que pudesse. Ao mesmo tempo,
eu tinha dezesseis anos. Como poderia me cobrar e sentir
culpa por não saber agir saindo da adolescência em meio a
tantos conflitos com meus pais?

Horas se passaram quando finalmente recebemos o


alerta de que o furacão havia subido de nível e estava se
aproximando da costa. A tensão no ar era quase
insuportável. Meus nervos estavam à flor da pele e fiquei
sentada, abraçando os joelhos enquanto olhava para o alto.
Eu me sentia pequena e vulnerável diante da natureza
imprevisível.

Os braços fortes de Niklas envolveram meu corpo, me


puxando gentilmente para perto dele, criando uma
sensação de proteção contra o mundo exterior tumultuado.
Meu coração estava acelerado.

Para minha surpresa, ele começou a cantarolar


baixinho, esfregando minhas costas, e o som era bom. Com
a cabeça apoiada no peito de Niklas, fechei os olhos,
buscando um momento de tranquilidade em meio ao caos.
Ele estava sendo o meu porto seguro.

Comecei a fazer uma oração mental, pedindo que


estivéssemos seguros e protegidos durante a passagem do
furacão. Eu não tinha controle sobre as forças da natureza,
mas pelo menos podia oferecer minhas esperanças e
desejos ao universo. Niklas quebrou o silêncio com um beijo
gentil nos meus cabelos, um gesto que me transmitiu
conforto. Inclinei meu rosto delicadamente para cima e
nossos olhos se encontraram. Ele estava me olhando com
uma expressão intensa, uma mistura de preocupação e
carinho. Seus lábios encontraram os meus em um beijo
suave.

E o beijo reconfortante foi como um bálsamo para os


meus nervos abalados. Com meu coração um pouco mais
calmo, recostei a cabeça em seu peito de novo, deixando-
me envolver pelo calor de seus braços.

Durante a maior parte da noite, minha tensão me


manteve acordada, meus sentidos alertas para cada rugido.
Os barulhos assustadores pareciam ecoar em meus ouvidos,
enquanto eu lutava contra o medo que ameaçava me
dominar. Agarrada a Niklas, busquei conforto em sua
presença. Mas a exaustão eventualmente tomou conta de
mim e acabei adormecendo, mesmo que de forma agitada.

Quando enfim acordei, meus olhos se abriram de


supetão e eu sentei rápido, ainda atordoada pelo sono
tumultuado. Olhei ao redor, percebendo que o ambiente
estava mais claro do que antes, embora a chuva ainda
caísse lá fora. Minha mente demorou um pouco para
processar a mudança, estava um pouco mais silencioso e a
minha respiração começou a se acalmar ao perceber que o
pior havia passado.
Niklas também despertou, abrindo os olhos e esticando
o pescoço enquanto massageava os músculos doloridos.

— O furacão passou. Ainda chove, mas ele passou… e


está tudo bem.

As palavras dele trouxeram uma sensação de alívio e,


ao mesmo tempo, uma consciência de que o perigo havia
diminuído.

— Nós estamos inteiros. — Suspirei, constatando que a


casa ainda estava no lugar.

— Sim, estamos. Você adormeceu, tensa, mas passou.

— Graças a Deus.

Fiquei de pé, me esticando, e saímos do refúgio do


banheiro. Nos aproximamos das janelas, tirando boa parte
das proteções que estavam da metade para baixo e
olhamos para o cenário pós-furacão: Galhos e árvores
tombadas, um rio de água descendo pela rua alagada.
Apesar da devastação, eu me sentia segura e seca em casa.
Era um misto de gratidão e tristeza ao testemunhar os
estragos causados pela tempestade. Esperava que as
pessoas estivessem bem.

Com um suspiro trêmulo, eu me virei para Niklas.

— Desculpa por ficar tão apavorada. Eu não fui de


muita ajuda, não é?
— Você não tem culpa por sentir medo de uma situação
assustadora. Não precisa se envergonhar por isso. — Ele
passou o braço por meu ombro e continuamos olhando para
fora. — A energia ainda deve demorar a voltar. Acho que
vamos ficar ilhados aqui por mais um tempo.

— Pelo menos, o pior passou. Obrigada por cuidar de


mim.

Niklas abaixou o rosto e sorriu, me dando um beijo


suave. Ele me fez sentir muito segura durante toda aquela
experiência. Seu apoio no caos foi inestimável. O cansaço
ainda pesava em nossos corpos, nós dois estávamos
doloridos e esgotados. Sem energia elétrica e incapazes de
sair de casa devido às condições do lado de fora, decidimos
deitar juntinhos no sofá.

Niklas me envolveu com seus braços e eu me aninhei


contra ele, encontrando conforto em seu calor e na
sensação gostosa do seu corpo moldado ao meu. Era uma
delícia sentir aqueles músculos, a mão safada acariciando
minha bunda e a boca sempre encontrando um jeito de
estar na minha. Não tínhamos muito a fazer a não ser
esperar que o tempo passasse e as condições melhorassem,
mas se ele continuasse tão perto, eu tinha boas ideias para
oferecer… para matar o tempo, se ele quisesse.
CAPÍTULO VINTE E UM
Emilia

Finalmente de volta a Nova Iorque, eu me sentia


exausta após os dias intensos que passamos na Flórida
enfrentando o furacão. Depois que ele passou, foi
necessário lidar com a devastação deixada. Niklas tinha
funcionários na cidade que perderam suas coisas e ele quis
pessoalmente visitá-los, cuidar de tudo, e nós também não
podíamos sair de lá. Eu tinha medo de qualquer barulho de
vento, a chuva ainda levou um tempo para ir embora.

No avião, acabei adormecendo, mas fui acordada por


Niklas, que era incrivelmente carinhoso, me dando beijinhos
e avisando que precisávamos nos sentar, pois estávamos
prestes a pousar.

Levantei-me da cama, esticando meu corpo em um


longo espreguiçar. Niklas não resistiu e me deu um divertido
tapinha no bumbum, fazendo-me rir enquanto nos
ajeitávamos em nossos assentos e afivelávamos os cintos.
O piloto anunciou que logo começaria o procedimento de
pouso no aeroporto de Manhattan, e os comissários de
bordo se movimentaram com rapidez por se tratar de um
voo particular. A voz tranquila do piloto ecoou novamente
pelos alto-falantes, dizendo que o pouso seria suave e que
os comissários deveriam se preparar.

Eu soltei um discreto bocejo, ainda me sentindo


sonolenta, e Niklas me olhou com um sorriso doce enquanto
acariciava o meu rosto.

— Pronta para voltar para casa? — ele perguntou.

— Definitivamente — respondi, sorrindo de volta para


ele. Depois de todos os desafios que enfrentamos juntos na
Flórida, voltar para Nova Iorque parecia um alívio.

O avião começou a se preparar para o pouso e segurei


a mão de Niklas, sentindo o calor reconfortante da pele
dele. O piloto falou conosco em tom amigável que
estaríamos em terra firme em breve e sem tantos ventos, o
que nos fez rir. Nossos olhares se encontraram em um
momento de cumplicidade e então ele se inclinou na minha
direção, seus lábios encontrando os meus em um beijo
rápido, mas delicioso. Aquele gesto simples era uma
expressão de tudo o que havíamos passado e compartilhado
nos últimos dias.

Depois de enfrentar um furacão juntos, a conexão


maluca que surgiu entre nós parecia mais forte do que
nunca.

A aeronave começou a descer suavemente em direção


ao solo, eu senti o friozinho na barriga comum e havia o
alívio por estarmos a salvo, ansiedade para voltar à rotina e
uma sensação de proximidade com Niklas que eu nunca
havia experimentado antes, mesmo com Benedict, que
cheguei a "morar junto". Era tão estranho sentir aquilo e ao
mesmo tempo, ainda éramos desconhecidos. Passamos a
ser mais do que apenas acompanhante e chefe, era um
fato.

Existia uma parceria, ficamos aliados em meio à


tempestade e aquilo tinha nos aproximado de uma maneira
que eu nunca poderia ter previsto.

Chegando em casa, Niklas e Memphis me ajudaram


com as bagagens, mas logo Memphis retornou para o carro.
Entrei na sala, cumprimentando Cleo com arrulhos, pude
sentir os olhos de Niklas sobre nós. Cleo, como sempre, não
parecia muito impressionada com a presença dele. Ele me
abraçou por trás e me virou para me dar um beijo incrível,
que se seguiu, com minhas costas pressionadas contra a
parede. Um arrepio percorreu minha espinha deixando a
minha pele toda atiçada e eu podia sentir a tensão
aumentando.

— Acho melhor eu ir embora — ele disse em um tom


provocador, seus lábios roçando contra os meus enquanto
falava. Minhas mãos instintivamente se apoiaram em seu
peito, segurando-o mais perto de mim.

Soltei um suspiro, sentindo o desejo pulsando por todo


o meu corpo. A verdade era que, nos últimos dias, minha
atração por Niklas só tinha crescido e eu lutava para resistir
à tentação. Queria tirar minha roupa e levá-lo para o meu
quarto. Foi muito difícil não transar. Ele se afastou, o olhar
fixo no meu rosto enquanto esperava minha reação.

Assenti com um gesto trêmulo de cabeça.

— Sim, você provavelmente deveria — minha voz saiu


quase falhando.

Ele deu um passo para trás, com um sorriso malicioso


brincando em seus lábios.

— Até logo, então.

Ele saiu e eu estava quase na porta do meu quarto


quando ouvi a batida, meu coração acelerou. Retornei e
abri. Niklas estava com as mãos apoiadas nos batentes, os
olhos fixos nos meus enquanto se aproximava novamente.

— Eu não consigo ir — ele admitiu, a voz rouca. Antes


que eu pudesse responder, ele estava de volta, seus lábios
capturando os meus em um beijo faminto.

Minhas mãos se enroscaram em seus cabelos enquanto


nossos lábios se moviam em sincronia, o desejo que tinha
sido mantido sob controle nos últimos dias agora explodia
em chamas. Ele me ergueu no colo, chutando minha porta
fechada e minhas pernas envolveram sua cintura enquanto
ele me levava pelo corredor. Murmurei a direção do meu
quarto de qualquer jeito, mas ele entendeu.
A cama estava próxima e ele me colocou gentilmente
sobre ela, nossos beijos nunca cessando. A urgência em
seus toques me deixava pegando fogo, a maneira como ele
explorava cada centímetro da minha pele era como se
estivesse marcando território, arranhei seus braços,
correspondendo à mesma loucura. Suas mãos encontraram
o zíper do meu vestido, deslizando-o para baixo, enquanto
ele me olhava intensamente. Eu não conseguia tirar meus
olhos dele, com todo o corpo vibrando de antecipação.

— Emilia… — ele murmurou meu nome, a voz


carregada de desejo. Suas mãos uniram meus seios, que
eram de tamanho médio e davam um bom volume em suas
palmas. Meus mamilos estavam eriçados. Niklas beijou cada
um como um homem faminto.

Minhas mãos deslizaram por seu peito, desabotoando


sua camisa enquanto nossos olhos continuavam
conectados. Eu queria ele tanto quanto ele me queria e não
havia mais razão para resistir. Afastando-se o suficiente,
tirou as calças, empurrei minha calcinha para longe, ele se
livrou da cueca e subi um pouco mais na cama, puxando-o
para mim. O calor entre nós aumentava, nossos corpos se
unindo com um desejo desesperado. Cada toque, cada
beijo, parecia carregar toda tensão que finalmente estava
sendo liberada.

Niklas deu um beijo delicioso no meu pescoço, puxando


o bico do meu seio entre seus dedos e um longo gemido
escapou dos meus lábios antes de ter sua boca na minha
novamente. Senti seu pau bem ereto roçando minha boceta
molhada, enviando ondas de arrepios por todo lugar. Ergui
meu quadril, querendo mais fricção, mais dele, e ele sorriu,
dando um aperto generoso na minha bunda, erguendo
minha coxa e a colocando em cima da dele, levando seus
dedos para entre minhas dobras e começando a fazer
movimentos deliciosos.

Joguei minha cabeça para trás. Eu já estava molhada.


Aquilo só melhorava tudo. Ele chupou a pele do meu
pescoço. Não podíamos ficar longe. Segurei seu cabelo,
voltando a beijá-lo, mas estiquei a mão para minha gaveta,
onde tinha camisinhas. Eu era uma mulher solteira e
preparada, melhor dizendo, esperançosa, morava sozinha,
nunca realmente planejei levar um homem para minha
cama ali, mas poderia acontecer exatamente como estava.

Niklas pegou e colocou em si mesmo. Ele percebeu meu


olhar cheio de tesão para seu pau e riu.

— Lambe a boca assim de novo e ele estará dentro


dela.

— Ele vai estar dentro dela em breve… — Apontei para


minha boceta. — E depois, bem aqui. — Dei umas
batidinhas nos meus lábios com meu indicador.

— Safada. Gostosa. — Ele segurou meu pescoço e olhou


dentro dos meus olhos. — Eu vou te foder.
E meteu muito gostoso. Agarrei o lençol, fazia um
tempo, ainda assim, foi a melhor sensação da minha vida.
Nós dois gememos. Ele encostou a testa na minha,
estocando deliciosamente, com movimentos perfeitos.
Dobrei os meus joelhos quando passei a me sentir mais
confortável, encontrando-o a cada movimento. Niklas
passou seu braço por trás do meu joelho, elevando-me em
uma posição incrível, tocando pontos sensíveis dentro de
mim, socando e me levando a um orgasmo que eu implorei
para que ele não parasse, mantivesse aquele ritmo.

— Eu não vou parar, baby. Vem, goza, linda.

— Ai, meu Deus. — Eu me contorci, mas ele me segurou


no lugar, sem parar, levando seus dedos para meu clitóris e
apenas algumas pincelas certeiras, explodi, mordi meu
punho, um tanto descontrolada, sem saber o que fazer. Caí
de costas na cama, ofegante e ele me soltou, beijando-me,
ainda sem parar, buscando o próprio gozo e foi
simplesmente maravilhoso.

Ficamos abraçados até que nossas respirações e as


batidas dos corações acalmassem. Aquilo foi sensacional.

Passamos o dia juntos em meu apartamento e a


sensação de estar nos braços de Niklas era quase surreal.
Mal saímos do quarto, como se estivéssemos em nosso
próprio mundo isolado, ignorando tudo lá fora. Cada toque,
cada olhar compartilhado, era como se estivéssemos
explorando uma nova dimensão.
No meio da tarde, a sede e a fome finalmente nos
levaram para a cozinha. Estávamos usando apenas roupas
íntimas com um ar de romance pairando entre nós.
Encontrei uma pizza no congelador, enfiei no forno e
abrimos uma garrafa de vinho. Os toques não cessavam,
nossos lábios se encontrando entre risos e ele não
economizava nos sussurros safados.

— Você tem ideia de como você é incrível? — Niklas


murmurou, os olhos fixos nos meus.

Eu ri, sentindo-me completamente à vontade na


presença dele.

— Acho que você está exagerando um pouco.

Ele se aproximou, segurando meu rosto entre as mãos.

— Não estou exagerando. Você é incrível, Emília.

Eu me derreti completamente. Nossos lábios se


encontraram em um beijo doce e lento, suas palavras
aquecendo meu coração. Esperando a pizza assar,
continuamos nos beijando, as mãos explorando cada
centímetro dos nossos corpos. Ele me ergueu no balcão,
ficando entre minhas pernas. No entanto, sabíamos que o
tempo estava passando e que Niklas tinha um compromisso
importante. Ele finalmente se afastou com um suspiro
relutante.

— Eu adoraria ficar aqui a noite toda — ele disse com


um sorriso. — Mas eu preciso buscar Kurt para o jantar.
Assenti com compreensão.

— Claro, eu entendo. Seu filho deve estar ansioso para


vê-lo depois de tantos dias.

Ele pegou minha mão e beijou delicadamente os nós


dos meus dedos.

— Nosso dia foi maravilhoso, Emilia.

Por um momento, eu senti algo mais profundo passar


entre nós, só que eu sabia que precisava deixar claro os
meus sentimentos. Eu tinha a obrigação de ser honesta com
ele e principalmente, comigo mesma.

— Niklas — comecei, minha voz suave. — Eu quero que


você saiba que o que aconteceu hoje foi maravilhoso, mas
eu não estou buscando um relacionamento. Nós podemos
continuar a ser amigos, sem pressão, curtir sem pretensão e
deixar rolar.

Ele assentiu, o olhar fixo no meu rosto.

— Eu entendo. Não quero pressionar você a nada que


não queira.

Sorri, sentindo-me aliviada por ele entender.

— Ótimo. Vamos aproveitar o tempo que temos juntos e


deixar as coisas fluírem naturalmente.

A pizza ficou pronta e começamos a comer, com a fome


que estávamos, não durou muito e logo fomos nos arrumar.
Tomamos um banho juntos, nos vestimos e eu o levei até a
entrada. Nos beijamos na porta antes de nos despedirmos.
Eu não estava alimentando esperanças de um
relacionamento romântico, mas o que compartilhamos era
muito especial.

A sensação de felicidade ainda me envolvia quando


finalmente caí na cama exausta. O dia com Niklas foi sem
explicações de tão incrível e cheio de momentos
inesquecíveis. Meus olhos se fecharam quase
imediatamente e eu me entreguei a um sono profundo com
Cleo ronronando ao meu lado, um pouco ciumenta, pois
passou a maior parte do tempo escondida já que eu tinha
uma companhia e ela não era sociável.

Meu sono reparador foi interrompido abruptamente por


uma batida insistente na porta. Eu gemi, esfregando os
olhos enquanto me levantava sonolenta. Quem diabos
poderia estar batendo na minha porta tão cedo? Era de
manhã, estava um friozinho gostoso no quarto. A confusão
tomou conta de mim até que a voz animada da Emily ecoou
pelo apartamento.

— Emilia! Emilia! Acorde, preguiçosa! Temos coisas


importantes para fazer hoje!

Porra.

Minha irmã, sempre cheia de energia, ela sabia que eu


voltaria no dia anterior. Eu olhei para o relógio e vi que
ainda era cedo, muito cedo para o meu gosto. Minhas coxas
doíam. Quiquei em um homem, pelo amor do Cristo,
precisava de um tempo!

— Emily, pelo amor de Deus, sabe que horas são? —


resmunguei enquanto tentava domar os meus cabelos.

Ela riu, entrando no meu quarto sem cerimônia.

— São só sete da manhã, dorminhoca! E eu sei que


você está cansada, mas nós temos um dia cheio pela frente.

Suspirei, me sentando na cama.

— Dia cheio de quê, exatamente?

Ela sorriu com malícia.

— Primeira prova do vestido de noiva, lembra? Você é a


minha madrinha.

A lembrança me atingiu como um raio. Merda. Eu disse


que iria com ela, afinal, não tinha planejado transar no dia
anterior. O casamento da minha irmã estava chegando.
Embora eu estivesse exausta, a ideia de ver o vestido que
ela escolheu para o grande dia me animava. Emily abriu a
porta do meu closet e começou a caçar uma roupa para
mim, mandando que eu fosse escovar os dentes, que me
compraria um café na rua.

— Por falar nisso, você não vai acreditar na ideia da


mamãe! Ela decidiu que eu vou usar o vestido dela, o
mesmo que ela usou no casamento!
Eu pisquei algumas vezes, processando essa
informação.

— O quê? O vestido da mamãe?

Emily assentiu animadamente.

— Sim! Ela acha que é uma tradição linda e eu adorei a


ideia. Não é incrível?

Minha mente estava girando. O vestido da nossa mãe?


Aquele vestido significava muito para nós, pois eu sempre
imaginei que um dia eu também o usaria em meu
casamento. Eu não estava noiva, mas aquilo ainda era um
sonho meu, uma lembrança especial que eu tinha guardado
desde criança, mamãe me deixava brincar com ele quando
eu queria ser uma princesa da Disney.

Eu forcei um sorriso.

— É uma ideia muito legal, Emily. Tenho certeza de que


você ficará linda nele.

Ela me abraçou, empolgada.

— Eu sabia que você ia gostar da ideia, maninha!


Afinal, é o seu vestido favorito! Vamos, levante-se! Temos
que nos arrumar e ir para a prova.

Eu me levantei e me arrastei até o banheiro, tentando


não deixar transparecer a minha decepção. Eu não podia
culpar Emily por isso, afinal, ela estava apenas animada
com o casamento. Mas dentro de mim, sentimentos
conflitantes estavam borbulhando. Eu me sentia feliz por
ela, mas também sentia que um pedacinho do meu sonho
estava sendo arrancado. E não era justo com ninguém. Eu
só precisava lidar com aquilo de maneira madura e racional.

Era particular, algo que só eu sentia, e não tinha o


direito de estragar o momento especial da minha irmã.
Então, respirei fundo, me preparando para enfrentar o dia
com alegria e entusiasmo, mesmo que minhas emoções
estivessem um pouco confusas por dentro.

Depois de passar o dia todo com minha irmã, provando


vestidos e experimentando o menu do buffet, finalmente
chegamos em casa. Estava exausta, mas satisfeita com o
que tínhamos conseguido fazer. Enquanto entrávamos em
meu apartamento, meus pais e Matthew estavam lá para
nos receber. Cleo estava no colo do meu pai, toda manhosa,
além de mim, ela só gostava dele.

— Emilia, minha querida, como você está? Eu estava


tão preocupada com você depois do furacão! — minha mãe
exclamou, me abraçando apertado.

— Estou bem, mãe, de verdade. Sobrevivemos ao


furacão e estamos aqui inteiros — disse, tentando
tranquilizá-la. — Obrigada por trazer a Cleo e as compras
ontem, foi ótimo chegar e encontrar a geladeira cheia.

Meu pai sorriu, me abraçando também.


— Nós sentimos tanto a sua falta, querida. Fico feliz que
esteja de volta.

Jantamos juntos, meus pais e Matthew expressaram


suas preocupações sobre o furacão e se eu estava bem.
Contei como foi, mostrei os vídeos e como ficou o lugar em
que estávamos. Emily e eu falamos sobre o dia cheio de
provas de vestido e degustação de comida, sinceramente,
meu paladar não era tão exigente, muito menos o da minha
irmã, então, gostamos de quase tudo que comemos e
ficamos meio bêbadas na hora dos drinques.

— Emilia, querida, e quanto ao trabalho? Já conseguiu


encontrar algo? — mamãe perguntou, recolhendo as louças
sujas e levando-as para a pia.

Eu engoli em seco, sentindo uma pontada de


desconforto.

— Ainda estou procurando, mãe. Mas tenho tido


algumas oportunidades interessantes. Aliás, semana que
vem tenho um almoço com o editor-chefe do NY Times.

Ela me olhou com um olhar crítico, mas também um


toque de curiosidade.

— Bom, pelo menos está tentando. Não quero que você


fique apenas viajando por aí com o Niklas. Precisa construir
sua própria carreira.

Eu assenti, sabendo que minha mãe sempre foi


bastante insistente sobre a importância de ser
independente. Eu estava decidida a seguir meu próprio
caminho e Niklas estava sendo um apoio incrível nesse
sentido. Ele realmente me apresentava a muitas pessoas e
eu ganhei excelentes contatos, o salário que ele me pagava
também era ótimo.

Depois do jantar, meus pais, Emily e Matthew foram


embora, me deixando sozinha em casa. Eu me joguei na
cama, olhando para o teto e suspirando. Meu telefone tocou
e vi que era uma mensagem de Niklas. Sorri ao ler suas
palavras, dizendo que estava pensando em mim.

"Oi, você. Desculpe por não ter te dado atenção hoje.


Minha irmã basicamente me sequestrou o dia todo."

Ele respondeu quase que imediatamente.

"Então é por isso que você estava tão quietinha. Pensei


que tinha me abandonado.”

Digitei, sentindo um calor nos meus dedos enquanto


respondia.

"Jamais faria isso, Niklas. Foi um dia longo e cansativo,


mas cheio de coisas boas.”

Ele respondeu.

"Nem me fale em cansaço. Estou pensando em você."

Minhas bochechas coraram, mesmo que ele não


pudesse me ver.
"Você está na sua cama também?"

"Sim, estou. Pode acreditar, é a primeira vez que uma


mulher me ignora no dia seguinte."

Ri baixinho, imaginando a expressão travessa no rosto


dele.

"Desculpe por isso, senhor importante."

"Nada que não possa ser resolvido," ele disse, e então


começamos a trocar mensagens cheias de flertes e carinho.
Conversamos por um tempo, até que as mensagens
começaram a ficar mais espaçadas e eu percebi que o sono
estava me vencendo. Minha última mensagem foi um "Boa
noite, Niklas. Até amanhã". Fechei os olhos e caí em um
sono profundo.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Niklas

Na quietude do meu quarto, observando Kurt dormindo


ao meu lado, meus pensamentos não conseguiam escapar
da presença de Emilia. As últimas semanas foram uma
montanha-russa de emoções e a atração entre nós
finalmente se manifestou de forma inegável. A lembrança
do nosso primeiro beijo, da intimidade compartilhada, ainda
estava fresca em minha mente. Aquilo foi mais do que
apenas um momento passageiro, tinha sido especial.

Relembrei o dia que passamos juntos, cada detalhe do


seu corpo perfeito estava gravado em minha memória. O
sabor de sua boca, o calor do seu corpo junto ao meu em
sua cama, os risos que trocamos, gemidos, o bater da cama
contra a parede e tudo estava presente como se tivesse
acontecido há poucos minutos. O modo como nossos olhos
se encontravam, carregados de desejo e entendimento
mútuo, me fazia ansiar por mais. A verdade era que eu a
queria de novo, mais uma vez, repetidamente.

E repetidamente…

Emilia foi clara sobre suas intenções. Ela não nutria


esperanças ou expectativas de um relacionamento entre
nós. E isso, de certo modo, fazia sentido. Afinal, eu
continuava sendo o homem ocupado que sempre fui,
priorizando meu filho e a minha carreira. Ela merecia
alguém que pudesse oferecer mais, alguém que tivesse
tempo e espaço em sua vida para construir algo
significativo. Seu jeito adorável era perfeito para um
relacionamento duradouro.

Aquele pensamento me trouxe uma pontada de


frustração. Eu gostava de Emilia mais do que estava
disposto a admitir para mim mesmo. A presença dela era
um raio de sol em minha rotina agitada, ela me fazia rir nos
momentos mais inusitados e nem lembrava quando sorria
ao longo do meu dia. Seus olhos, o sorriso e cada pequeno
gesto estava gravado em mim. Eu respeitava as suas
escolhas e preocupações, mas, não conseguia evitar a
sensação de que talvez houvesse algo mais entre nós.

Eu me perguntava o que ela estava fazendo naquele


exato momento, se também estava pensando em mim. Ela
me surpreendeu, me mostrando um lado dela que eu não
conhecia, era cheia de paixão e desejo. Sua entrega era
perfeita. Deliciosa. A lembrança de seu corpo se encaixando
no meu, de seus lábios macios contra os meus, me fazia
estremecer de antecipação.

Olhei para Kurt mais uma vez, sua respiração tranquila


e serena me trouxe um sorriso suave. Meu filho era a minha
prioridade e eu faria tudo para garantir o seu bem-estar e
felicidade. E eu não tinha certeza do que o futuro reservava
para Emilia e eu, só que me descobri disposto a aproveitar
cada momento que tínhamos juntos. Mesmo que fosse
apenas um interlúdio em meio ao turbilhão das nossas
vidas. Afinal, às vezes, os momentos inesperados eram os
que mais valiam a pena.

Acabei cochilando novamente e a manhã começou de


forma reconfortante. Ao acordar, senti o abraço caloroso de
Kurt ao meu lado, meu coração se encheu de gratidão. Mais
um dia da vida dele. Seu sorriso ao acordar iluminava todo o
meu ser. Ele murmurou que estava com fome e eu não pude
deixar de sorrir, meu pequeno faminto.

Demos um beijo de bom dia, um gesto simples que


expressava todo o carinho e amor que tínhamos um pelo
outro. Levantamos e seguimos para a cozinha, onde Paty, a
babá de Kurt, e a senhora Preswitt, nossa governanta, já
haviam preparado o café da manhã. Sentamos juntos à
mesa, como uma família, e aproveitamos o momento
tranquilo para compartilhar uma refeição. Eu o servi com
panquecas, bananas cortadas, mel e para mim, pré-treino.

Kurt era uma criança que falava muito e ele


compartilhou algumas histórias animadas sobre seus
sonhos. A empolgação dele era contagiante. Após o café da
manhã, Paty levou Kurt de volta para o quarto, para que ele
pudesse se arrumar para o dia. Eu planejei malhar mais
tarde naquela manhã, para poder passar mais tempo com
ele. O meu relacionamento com Kurt era o meu tesouro
mais precioso, seus quinze dias comigo mudavam minha
rotina completamente.
Peguei o meu telefone e dei uma olhada na minha
agenda. Um sentimento de antecipação cresceu dentro de
mim ao perceber que teria um encontro com Emilia em
algumas horas. Kelly colocava um ponto luminoso nos
compromissos que Emilia me acompanhava e em meio à
minha rotina agitada, ela realmente acabou se tornando
uma fonte de descontração.

Emilia trazia um frescor para os meus dias e uma


sensação de empolgação que eu não sentia há muito
tempo. Ansiava para vê-la novamente, para ouvir sua voz,
para estar perto dela e enchê-la de beijos. Era engraçado
como alguém que eu havia conhecido recentemente
poderia ter um impacto tão profundo.

Com um suspiro de contentamento, cantarolei e me


preparei para o resto do dia. Havia muito a fazer, mas a
perspectiva de passar um tempo com Emilia me
impulsionava e me motivava. A minha vida estava cheia de
surpresas e talvez fosse o momento de abraçar cada uma
delas, especialmente se isso significasse compartilhar
momentos com a mulher que estava mexendo com os meus
sentimentos de maneiras que eu nunca imaginei serem
possíveis.

Depois de malhar pesado com meu treinador, com


muito suor e força, eu me arrumava sob o olhar curioso e
atento de Kurt.
— Papai, você está muito cheiroso e arrumado — disse
e aquilo me fez rir, mas também me deixou um pouco
envergonhado. Eu estava acostumado a lidar com
negociações complexas e decisões difíceis no meu dia a dia,
mas quando meu próprio filho me elogiava, eu me sentia
como um adolescente tímido. — Vai acabar arrumando uma
namorada.

— Não é tão simples assim, Kurt — respondi, tentando


conter a minha surpresa pelo comentário dele. Seu jeito
direto e inocente de expressar as coisas sempre me pegava
de surpresa.

— Talvez devesse pensar em namorar. A mamãe sorri


muito com o Elias e eu adoro ele. Você deveria arrumar uma
namorada, para sorrir mais também. É bonitão. Mamãe diz
que você sempre foi bonitão e melhor amigo dela, por isso
vocês casaram e me tiveram.

O elogio sincero de Kurt me fez sorrir genuinamente.

— Vou pensar nisso, prometo — disse, dando um beijo


na testa dele. — Agora, vou para o trabalho, mas estarei em
casa para jantarmos juntos. Qualquer coisa, é só chamar a
Paty.

Kurt acenou com a cabeça, parecendo confiante e bem-


humorado.

— Não se preocupe, pai. Estou me sentindo ótimo.


Despedi-me dele com um último aceno e saí de casa,
encontrando Memphis na garagem. Ele estava pronto para
me levar até a empresa. Durante o trajeto, eu me vi
pensando em Emilia por causa da conversa com Kurt. Ela
nunca me disse se gostava de crianças ou não, mas toda
ansiedade misturada à empolgação, me fez ignorar o fato
de que se nos relacionássemos, ela seria madrasta de uma
criança com câncer que demandava muitos cuidados e
extremos sacrifícios.

Chegando à empresa, fui direto para a minha sala.


Memphis me informou que sairia para buscar Emilia e eu me
peguei conferindo o relógio com mais frequência do que o
normal. O coquetel para os executivos estava sendo
preparado há semanas e tudo deveria estar pronto em
breve. Kelly entrou na minha sala para passar algumas
informações e enquanto esperava, eu me esforcei em focar
nas tarefas do dia. A expectativa de ver Emilia e passar
mais tempo com ela deixava a minha mente um pouco
dispersa.

Trinta minutos depois, Memphis apareceu na porta da


minha sala para me informar que Emilia chegou. Eu me
levantei e, mesmo tentando parecer tranquilo, não pude
evitar sentir o coração batendo um pouco mais rápido. Abri
a porta e quando nossos olhos se encontraram, um sorriso
involuntário se formou em meus lábios. Ela estava tão linda
usando azul-escuro, um longo vestido e saltos altos,
retribuiu o meu sorriso e caminhou em minha direção com
determinação.

— Oi, Niklas — cumprimentou com um sorriso, a voz


suave e cativante.

— Oi, Emilia — respondi, mantendo o sorriso. — Você


está deslumbrante.

Afastei-me para que pudesse passar e disse baixinho


para encostar a porta. Assim que Emilia a fechou, eu sabia
que não poderia mais conter o desejo que estava pulsando
dentro de mim. Tirei o terno com cuidado, a urgência já
tomando conta dos meus movimentos. Me aproximei dela,
sentindo a eletricidade no ar à medida que nossos corpos se
aproximavam. Ela foi recuando contra a parede e eu me
inclinei para a frente, como se estivéssemos compartilhando
um segredo que apenas nós entendíamos. Minhas mãos se
apoiaram ao lado de sua cabeça e nossos lábios se tocaram,
começando um beijo ardente e cheio de paixão.

Ela soltou a bolsa no chão, entregando-se. A cada


movimento nosso, o desejo aumentava e eu passei as mãos
por sua cintura, sentindo a pele macia sob o tecido de sua
roupa. Emilia me agarrou, as unhas arranhando de leve a
minha nuca e o contato me enviou arrepios. Eu a segurei
pelo bumbum, erguendo-a um pouco do chão, segurando
sua coxa com firmeza enquanto nosso beijo continuava
intenso.
Finalmente, nos afastamos um pouco, ambos ofegantes
e eu estava com um sorriso nos lábios. Começamos a rir.

— Isso foi... incrível — disse, a voz um pouco rouca pela


excitação.

Emilia riu amorosamente, a expressão mostrando o


quanto ela estava envolvida também.

— Definitivamente foi muito gostoso — ela concordou, a


voz em um sussurro sedutor.

Uma suave batida na porta nos lembrou que tínhamos


que voltar à nossa aparência perfeita. Em público, éramos o
casal que todos esperavam ver: bem-vestidos, sorridentes e
muito bem comportados. No entanto, a chama que
queimava entre nós não poderia ser apagada com tanta
facilidade. Emilia se afastou, pegando a bolsa caída no
chão, e eu a assisti com um sorriso nos lábios.

— Vou ao banheiro retocar o batom — disse toda


travessa. — Você não pode ficar bagunçando tudo.

Eu ri, sem fazer promessas.

— Vou esperar aqui.

Ela se dirigiu ao banheiro e eu me recostei em minha


mesa, revivendo cada momento do beijo apaixonado. Meu
coração estava acelerado e eu mal podia esperar para
passar a noite com ela de novo. Ela ficou pronta e esticou a
mão, me convidando a segui-la, em direção ao local do
evento. Caminhamos de mãos dadas até o coquetel, cientes
de que nossa presença chamava a atenção.

Eu sabia das implicâncias das funcionárias em relação a


Emilia, tanto as que vi nas imagens, do episódio de uma
delas quebrando xícaras e fazendo com que ela limpasse
ainda estava atravessada na minha garganta, quanto
outras. Eram situações que ela e nenhuma outra funcionária
da copa deveriam enfrentar. Emilia, em particular, era uma
jornalista talentosa e dedicada. As pessoas não tinham o
direito de menosprezá-la.

À medida que entramos, percebi a mudança de


comportamento das assistentes. Elas pareciam querer
agradá-la a todo custo, o que só aumentava a minha
irritação. Emilia mantinha a sua clássica simpatia e
educação de sempre.

Passamos um tempo fazendo a social, cumprimentando


executivos e trocando palavras educadas com outros
convidados. Ela estava fazendo um ótimo trabalho em
manter as pessoas indesejadas longe de mim. Era uma
verdadeira profissional e sua habilidade em conversar sobre
absolutamente tudo sem perder o fio da meada me
impressionava.

Eventualmente, decidimos sair da festa, eu tinha mais o


que fazer. Meu trabalho não poderia esperar. Nos
despedimos dos presentes e caminhamos para fora, onde
finalmente podíamos ficar longe dos olhares curiosos. Nos
afastamos do salão, Emilia se aproximou de mim e me deu
um beijinho amoroso. Sorri para ela.

— Vou ter que me dedicar ao trabalho agora —


comentei, olhando a hora. — Jim deve subir a qualquer
momento. Ele não gosta muito desses eventos.

Ela assentiu, compreensiva.

— Eu entendo. Você tem muita coisa para cuidar. Tenho


dois artigos para escrever e enviar para o editor chefe do
NY Times como um teste… mas não sei se vai rolar, ele quer
uma colunista que fale sobre a vida e eu, definitivamente,
não sou boa em simplesmente sentar, escrever e tagarelar
sem ser uma ficção ou um romance. Acho que vou tentar
voltar para os podcasts.

— Vamos procurar sobre isso, então. Talvez seja melhor


buscar um lado da carreira que se sinta confortável, pare de
insistir em jornais.

— Vou pensar com carinho.

Eu ansiava para passar mais tempo com ela.

— Gostaria de jantar comigo amanhã? — perguntei,


buscando sua atenção.

Ela me olhou com um sorriso curioso.

— Um encontro?
— Pode ser o que você quiser — respondi com um
sorriso brincalhão.

Seus olhos brilharam e ela riu suavemente.

— Bem, nesse caso, sim. Eu adoraria jantar com você


amanhã.

Minha alegria era impossível de conter.

— Ótimo. Vou buscar você no seu apartamento, está


bem?

Emilia concordou com um sorrisão que me fez sentir um


calor reconfortante preencher o meu peito. Havia algo
especial entre nós, que ia além das aparências. Eu não via a
hora de continuar explorando essa conexão única, mesmo
que as circunstâncias nem sempre fossem fáceis.

Com um último olhar repleto de carinho, nos


despedimos por enquanto, já estava contando os minutos
para vê-la no dia seguinte. Antes de entrar no elevador com
Memphis, ela soprou um beijo e acenou. Eu voltei para
minha sala, ignorando o olhar divertido da minha
assistente.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Emilia

O espelho refletia a imagem de uma mulher vestida em


um sexy vestido preto. O detalhe lascado adicionava um
toque de ousadia, e as meias escuras e saltos altos
completavam o look. Deixei meus cabelos soltos, com ondas
bem fluidas e escolhi joias delicadas em prata para finalizar
a produção. Olhei para mim mesma, tentando controlar a
ansiedade que me dominava.

O nervosismo se misturava com a excitação na boca do


meu estômago enquanto eu me arrumava para o encontro
com Niklas. Aquelas borboletas estavam em um frenesi
completo e eu mal conseguia conter a empolgação que me
invadia como se fosse uma adolescente me arrumando para
o primeiro encontro com o garoto popular da escola. A
verdade era que eu estava completamente encantada, cada
beijo e toque era como um fogo que me aquecia da cabeça
aos pés.

Eu me derretia em seus braços e tudo o que eu queria


era me perder sem seu abraço gostoso ao ponto de me
fundir completamente em sua existência.

Só que mesmo com toda a empolgação, precisava ter


cautela. A experiência com meu ex-namorado, Benedict,
havia me ensinado que não devia me entregar demais, para
não correr o risco de me machucar tão profundamente
como foi. Niklas era um homem poderoso e rico, vivendo em
um mundo muito diferente do meu. Ele cresceu tendo tudo
e eu tive que lutar para conquistar as minhas coisas. Eu não
queria ser iludida pela intensidade dos meus sentimentos.

O som da campainha tocou e o meu coração deu um


salto. Era ele. Antes de ir até a porta, olhei para Cleo, que
estava no sofá, miando de forma manhosa. Parecia que até
minha gatinha estava torcendo por mim. Com um sorriso,
me aproximei da porta com a minha pequena bolsa e a abri.

Soltei um suspiro, Niklas estava impressionante, belo


como sempre. Um sorriso brincava em seus lábios e os seus
olhos pareciam brilhar ao me ver. Minhas preocupações e
incertezas foram momentaneamente substituídas pela
alegria de estar com ele.

— Você está deslumbrante — disse, me olhando com


admiração.

Sorri, sentindo o calor subir ao meu rosto.

— Obrigada, Niklas. Você também está muito gostoso,


digo, elegante.

Ele riu suavemente e estendeu a mão para mim, e eu a


segurei, sentindo um arrepio percorrer minha espinha
quando nossas mãos se tocaram. Como estava pronta,
juntos, caminhamos em direção ao carro, eu estava me
sentindo como se estivesse flutuando em um sonho.

Ao entrarmos no carro, percebi que as borboletas em


meu estômago ainda não haviam dado trégua. O
nervosismo estava lá, misturado com a emoção de estar
com ele. Olhei pela janela, observando as ruas de Nova
Iorque passarem. Estava prestes a ter uma noite de
encontro com o homem que mexia com os meus
sentimentos de uma maneira que nunca experimentei
antes.

Ele seguiu um caminho tranquilo, a música era boa e


fiquei tentando acalmar o meu coração acelerado. Não
importava quão cautelosa fosse, eu não conseguia evitar a
atração que sentia por Niklas. Era como se algo magnético
nos unisse, sentia como se mergulhasse mais fundo nesse
sentimento, mesmo que minha mente tentasse me alertar
constantemente sobre as consequências.

Niklas parou o carro, deu a volta e abriu a porta para


mim, segurando minha mão e entregou as chaves para o
manobrista. Nós andamos juntos até o elevador, eu nunca
tinha ouvido falar daquele lugar, era um luxuoso
restaurante no coração de Manhattan. O ambiente exclusivo
para sócios era um reflexo do mundo em que ele vivia e eu
me senti um pouco deslocada em meio a tanto requinte,
ainda bem que não estava desarrumada e com Niklas
extremamente confiante ao meu lado, segurando minha
mão, me confortava de uma maneira que eu não conseguia
explicar.

A entrada no restaurante foi marcada pela elegância da


recepcionista muito educada e pela beleza imponente do
lugar. As luzes suaves criavam uma atmosfera romântica e
a vista das luzes da cidade lá fora era deslumbrante. Niklas
havia feito as reservas e cuidado de todos os detalhes.
Fomos conduzidos a uma mesa discreta e eu observava
tudo ao meu redor, impressionada com o ambiente
requintado. Niklas puxou a cadeira para mim, um gesto que
me fez sorrir de forma involuntária. Ele se sentou à minha
frente.

Decidimos pelo vinho e optamos por seguir o menu de


sugestão do chef. Afinal, era uma oportunidade de
experimentar algo novo, que estivesse fora da minha zona
de conforto. Niklas me conhecia o suficiente para saber que
eu não era fã de pratos crus, então garantimos que tudo no
menu fosse cozido e preparado de acordo com o meu gosto.
Enquanto aguardávamos pelo primeiro prato, senti a mão
de Niklas segurar a minha, ele entrelaçou nossos dedos com
um toque suave e eu ergui o meu olhar, encontrando a
maneira intensa que me encarava, que me fazia perder o
fôlego.

Era como se ele conseguisse ler os meus pensamentos,


compreender todas as minhas inseguranças e estar dentro
dos meus desejos mais profundos. Cruzei as pernas sob a
mesa e deixei o meu pé tocar sua panturrilha, acariciando
de forma discreta, provocando. Um sorriso travesso
brincava nos lábios de Niklas. Nossa noite estava carregada
de promessas silenciosas. Um sentimento de antecipação
tomou conta de mim, e eu me perdi por um momento
naqueles olhos castanhos caramelos.

Eu também lembrei a sua deliciosa expressão de prazer


enquanto gozava e tive que piscar algumas vezes antes que
a minha calcinha ficasse muito molhada.

O garçom se aproximou novamente, e recolhi o meu pé,


voltando minha atenção para o cardápio à nossa frente. O
jantar prosseguiu com conversas descontraídas. Niklas era
um homem muito divertido, ele não era do tipo caricato,
mas carregava boas piadas em seu vocabulário e era
bastante atencioso. Cada vez que eu abria a minha boca,
ele prestava atenção como se nada mais no mundo
importasse.

A comida era servida e o vinho fluía, eu me permiti


relaxar e aproveitar a companhia dele. Toda a tensão e
insegurança que eu havia sentido antes do encontro
começaram a se dissipar, dando lugar a uma sensação de
felicidade gostosa.

Cada prato que experimentamos era uma explosão de


sabores em minha boca. Estava surpresa com o quanto eu
estava gostando, sempre tive a impressão que pratos
chiques não iriam me impressionar muito. O menu era
afrodisíaco, os sabores provocavam sensações intensas em
meu paladar. As porções eram perfeitamente equilibradas
para poder saborear cada mordida.

— Está gostando da comida? — Niklas me perguntou,


roubando um pedaço da minha batata e quase bati em seu
garfo.

— Sim, estou adorando. O chef é maravilhoso!

Os vinhos escolhidos por Niklas combinavam


perfeitamente com os pratos, e eu fiquei completamente
imersa naquela experiência gastronômica única. O jantar
estava indo muito além das minhas expectativas e eu me
deixei levar, comendo um pouco de tudo.

— Você é uma excelente companhia para vir aqui,


minha mãe não gosta muito, ela prefere lugares que possa
escolher cada item do menu.

Então, ele levou a mãe e não outro encontro? Foi legal


saber que era a primeira mulher no sentido romântico.

— Obrigada, Niklas. Estou me divertindo muito.

Quando a música do piano começou a tocar


suavemente, Niklas me convidou para dançar. Levantei-me
da cadeira com um sorriso, sentindo-me um pouco
desajeitada no início. Mas assim que seus braços
envolveram minha cintura e sua mão segurou a minha, tudo
pareceu se encaixar perfeitamente. Nós nos balançamos em
sintonia.
— Você dança muito bem. — Ele beijou pouco abaixo da
minha orelha.

— Só estou tentando acompanhar você.

Eu podia sentir o calor do corpo de Niklas contra o meu,


e a sensação era simplesmente deliciosa. Cada movimento
sincronizado era uma forma de conexão que transcendia as
palavras. Eu podia ouvir a música, os batimentos do coração
dele e tudo parecia muito certo naquele momento.

Niklas sussurrou palavras provocativas em meu ouvido,


fazendo meu coração acelerar ainda mais. Sua voz rouca e
sedutora enviava arrepios pela minha espinha e eu não
escondi o riso suave que escapou dos meus lábios. Ele
falava sobre o cheiro irresistível que eu exalava, sobre seu
desejo de estar ainda mais próximo de mim e cada palavra
dele aumentava a tensão entre nós.

— Você está tão incrível com esse vestido, linda. — Ele


me rodopiou.

— Estou usando algo bem especial por baixo dele —


provoquei de volta com um sorrisinho.

— Oh, realmente? Está me deixando muito curioso.

A brincadeira sutil fez com que ele me olhasse cheio de


cumplicidade. Eu podia sentir a eletricidade no ar. Não havia
dúvidas de que a atração era avassaladora. Eu sabia que
Niklas tinha responsabilidades e que precisava estar em
casa para Kurt em algum momento da noite. Mas antes
disso, ele me pertencia.

— Estou pronta para ir quando você quiser.

— Então, eu não quero esperar mais nem um segundo.

— Ótimo.

Niklas era sócio, portanto, ele não precisava pagar a


conta de fato, apenas descontariam. Nossas mãos
permaneceram entrelaçadas durante a nossa saída do
restaurante e o manobrista logo entregou o carro luxuoso
de Niklas. Ele abriu a porta para mim com um sorriso gentil,
gesto que me fez sentir como se estivesse em um conto de
fadas. Ele deu a partida rapidamente, navegando pelas ruas
iluminadas da cidade em direção ao meu apartamento com
a mão em minha coxa.

O toque era suave e cheio de promessas. Ele acariciou


minha perna, inclinei-me para beijar seu pescoço, deixando
um rastro de beijos suaves, mordendo o lóbulo da sua
orelha e sussurrando que estava louca para tirar a sua
roupa. Chegamos em meu apartamento, com pressa errei a
chave na porta e ela caiu no chão, rimos e entramos quase
tropeçando.

Ele me virou, nossos lábios se encontraram em um


beijo apaixonado. Rapidamente nos movemos para o meu
quarto, tirando as roupas, jogando pelo chão, chutei meus
sapatos longe. Niklas rasgou as minhas meias e soltei um
gritinho com o puxão que deu na minha calcinha, me
fazendo rir, mas ela foi a próxima coisa que ficou fora do
meu corpo. Suas roupas também desapareceram, dei um
chupão no seu peitoral, ele riu, meio que se encolhendo e
deitou na cama, me deixando explorar o seu corpo.

Sentei em sua cintura, beijando o pescoço, suas mãos


imediatamente foram para minha bunda, pressionando em
sua ereção que crescia cada vez mais. Comecei um suave
movimento de vai e vem, espalhando minha umidade,
brincando com a cabeça do seu pau no meu clitóris e me
levando à loucura ao mesmo tempo. Niklas afundou os
dedos nas minhas coxas, gemendo e peguei a camisinha,
colocando nele e em seguida, sentando devagar e apoiando
minhas mãos em seu peitoral, rebolando.

— Ah, caralho!

Coloquei meus pés nas suas coxas, abrindo e fechando


os meus joelhos, indo e vindo, apertando minha boceta. Ele
fechou os olhos, exalando, agarrando meus seios e inclinou
o rosto, dando uma mordiscada no meu mamilo. Foi
doloroso e ao mesmo tempo, incrível. Eu basicamente o
ataquei, montando nele até gozar. Niklas pediu para ficar de
joelhos na cama, empinando minha bunda e assim o fiz,
dando a ele uma bela visão. Ele estapeou minhas nádegas,
afastando-as e voltou a meter, agarrei os lençóis e mordi
meu lábio, tentando conter os gemidos, mas era impossível.
— Eu vou tirar a camisinha quando for gozar, mas só
porque quero marcar a sua bunda, ta bom?

— Tudo bem — eu gemi.

Niklas foi ficando cada vez mais rude e eu pensei que


não podia ser mais gostoso gozar de novo e juntos, foi uma
sensação maravilhosa, muito nova, eu nunca cheguei ao
ápice junto com um parceiro antes. E foi só a primeira
rodada da noite.

Mais tarde, caímos deitados depois do banho, ficamos


muito suados e com fluídos em todo lugar. Ele disse que ia
descansar só um pouco antes de ir embora e deitei minha
cabeça em seu peito, estávamos exaustos. Meus
pensamentos me levaram a questionar o que o futuro
reservaria para nós, se aquela ligação intensa poderia
florescer em algo mais duradouro, mas entre medos e
sonhos de algo bonito, acabei pegando no sono.

Acordamos juntos meio assustados com Cleo pulando


na cama, miando e interrompendo nosso sono, estávamos
envoltos em lençóis e braços entrelaçados, ainda sentindo
os vestígios da noite anterior. A suave luz da manhã entrava
pelo quarto.

— Alguém está faminta — comentei, rindo, enquanto


Niklas se espreguiçava ao meu lado.

O telefone dele começou a tocar, quebrando o silêncio


da manhã. Ele atendeu, e pelo que pude ouvir da conversa,
era seu filho, Kurt. O menino estava preocupado com o fato
de Niklas não estar em casa e queria garantir que tudo
estava bem. Era adorável ouvir a voz do outro lado da linha
e eu me peguei sorrindo com sua inocência.

Niklas pareceu ser honesto com o filho, compartilhando


uma versão editada da nossa noite juntos. Ele disse que
estava com uma amiga e pegou no sono. A maneira como
ele lidava com Kurt, com carinho e sinceridade, me fez
gostar ainda mais dele.

— Ele é um fofo — comentei quando ele desligou.

Niklas sorriu, concordando. Nosso abraço de bom dia se


intensificou, como se ambos estivessem relutantes em
deixar aquele casulo. No entanto, a realidade da vida estava
chamando, e ele tinha responsabilidades como pai e
executivo bem sucedido. Com um suspiro resignado, ele se
levantou e começou a se vestir. Eu o segui, enrolada em um
lençol, até a porta. Ali, nos despedimos com um beijo suave.

— Nos vemos em dois dias, para o jantar de gala — ele


murmurou, com um olhar cheio de promessas.

Eu sorri, sentindo-me ansiosa pelo nosso próximo


encontro.

— Mal posso esperar.

Ele acenou, partindo e eu fechei a porta, permitindo


que meu corpo tombasse contra ela. Ainda sentia o calor da
presença de Niklas e o toque de suas mãos em minha pele.
Cleo miou, trazendo-me de volta ao presente. Eu ri,
olhando para ela.

— Está na hora do café, menina.

Comecei a preparar a comida dela, meu coração ainda


pulsava com a nossa noite. Eu era emocionada e estava me
apaixonando por Niklas, mas também tinha que manter a
cautela. Nossos mundos eram diferentes e havia extremas
incertezas entre nós que me deixavam um pouco
apreensiva. Mesmo assim, o sorriso não deixou meu rosto,
alimentei Cleo, fiz um café para mim e me preparei para
enfrentar o dia.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Emilia

Cheguei à casa da Jenna com os presentes em mãos,


cumprimentando-a calorosamente pelo seu aniversário.
Minha amiga estava comemorando vinte e sete anos.
Nossos amigos já estavam reunidos, e como sempre, a
energia era contagiante. Sorri para todos, acenei
animadamente e até abracei Bono, que estava com o bom
humor usual. No entanto, quase caí no colo de Benedict.

— Está com saudades, baby?

— Nos seus sonhos, imbecil. — Revirei os olhos,


afastando-me dele de forma descontraída. Benedict já não
tinha o poder de mexer com minhas emoções há muito
tempo, fisicamente, e depois do que compartilhei com
Niklas, ele não me afetava mais.

Aproveitando a ocasião, fui até a cozinha e peguei um


pouco de vinho, sentindo-me bonita e confiante. Decidi tirar
uma foto de mim mesma e postei nas minhas redes sociais.
Fiquei surpresa ao ver que Niklas foi um dos primeiros a
curtir a foto. Ri ao ver aquilo, passamos a seguir um ao
outro quando nosso contrato foi firmado, meu perfil era
muito mais profissional do que pessoal, o dele também, mas
às vezes, postava uma coisa nos stories, que sumiria em
algumas horas. Eu não resisti em brincar com ele,
chamando-o de stalker no privado.

“Espionando minhas redes sociais, Sr. Sterling?"

Sua resposta veio rápida e uma risada escapou dos


meus lábios enquanto eu lia suas palavras.

"Estava só esperando a febre do Kurt ceder. Ele está


bem, apenas ficou febril no fim da noite. Estou de olho e
aproveitando para matar o tempo nas redes."

Suspirei aliviada ao saber que Kurt estava bem, eles


não mereciam uma noite ruim.

"Tenho certeza de que você é um ótimo pai."

Era reconfortante ver o quanto Niklas se importava com


Kurt, mostrando um lado dele que ainda estava
descobrindo. Meu pai foi bom para mim e minha irmã,
então, nós sempre comentamos uma com a outra o quanto
era importante buscarmos parceiros que também fossem
bons pais, mesmo que não houvesse pretensão de ter filhos,
mas podia acontecer.

A noite seguiu animada, com todos compartilhando


histórias dos trabalhos e risadas dos tempos da faculdade.
Jenna estava radiante, com um vestido vermelho. Eles
ficaram implicando que não larguei o meu telefone, porém,
não conseguia deixar de voltar a Niklas. Sua presença
virtual era inevitável, ainda mais que estava acordado e
preocupado com Kurt. Eu não o deixaria sozinho. Quando a
febre do menino finalmente cedeu, Niklas foi trabalhar um
pouco e comer, então as mensagens diminuíram, mas ainda
assim, estava online.

As risadas continuaram sobre eu estar namorando um


cara muito rico que podia comprar a carreira de todos ali.
Benedict fez uma suave careta. Ele não tinha o direito de
sentir ciúme. Eu lhe dei um olhar severo. Era melhor que
não ousasse tecer qualquer comentário. Eu me permiti
relaxar e aproveitar o momento ao lado das pessoas que eu
amava, mesmo que, em sua maior parte, nossas vidas
estavam seguindo rumos diferentes do que eu havia
imaginado quando nos formamos.

Após a festa de Jenna, estava exausta e ansiosa para


voltar para casa. Peguei um táxi e, ao sair na porta do meu
prédio, ouvi alguém chamando meu nome, virei e antes que
pudesse entender o que estava acontecendo, uma tinta
dourada foi jogada sobre mim e rapidamente a pessoa
responsável fugiu enquanto eu era fotografada com um
show de flashes. Fiquei em choque, tentando processar o
que tinha acabado de acontecer. Corri para dentro do meu
prédio, sentindo-me pegajosa e completamente confusa.

Tirei minhas roupas sujas na entrada, um pouco em


pânico, e fui para o chuveiro. A água quente me envolvia e
a minha mente fervilhava com várias possibilidades.
Deveria chamar a polícia? Ou ligar para o meu pai? A
situação parecia surreal e eu me sentia vulnerável e
assustada. Aquele era um dos momentos em que detestava
morar sozinha. Enquanto tentava clarear os meus
pensamentos, meu telefone tocou e o nome de Niklas
piscou na tela.

— Emilia? Você está bem? Recebi um alerta da


segurança remota de que algo aconteceu.

Segurança remota?

— Como assim? Tem alguém me vigiando de longe?

— Claro que sim, eu jamais te deixaria


desacompanhada. Você está bem?

Respirei fundo.

— Sim, Niklas, estou bem. Foi só um susto e um banho


de tinta dourada. Não estou ferida, apenas um pouco
confusa.

Ele suspirou do outro lado da linha.

— Desculpe por isso, linda. Foi uma provocação do


Bryan, tenho certeza. A partir de agora, não vou deixar você
desacompanhada pessoalmente. Você terá um motorista
que também será um guarda-costas. Preciso garantir sua
segurança.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando processar


o que Niklas estava dizendo. Era estranho pensar que eu
teria um guarda-costas me seguindo, mas compreendi a
necessidade de modo geral. Esfreguei meu rosto antes de
responder, balançando a cabeça, concordando com a
situação, mesmo que ele não pudesse ver de fato.

— Eu entendo, Niklas. Se for necessário para minha


segurança, tudo bem. Só espero que se resolva logo.

Ele suspirou de novo, parecendo muito chateado.

— Eu também, Emilia. Sinto muito que você tenha sido


arrastada para isso. Farei o possível para garantir sua
segurança.

Conversamos por mais alguns minutos e Niklas garantiu


que iria lidar com tudo da melhor forma possível. Eu me
senti um pouco mais tranquila ao ouvir sua voz determinada
a cuidar de mim. Era surreal, mas eu sabia que estava nas
mãos de alguém que se importava de verdade, ele era
muito cuidadoso e protetor.

Depois que desligamos, terminei meu banho e saí do


chuveiro, me sentindo um pouco mais calma. Vesti roupas
confortáveis e me deitei na cama, tentando relaxar e
esvaziar minha cabeça. A imagem da tinta ainda estava
fresca em minha memória. Na manhã seguinte, acordei com
toques incessantes em meu telefone.

As fotos do incidente com a tinta dourada haviam


parado em todos os lugares na internet, e parecia que todo
mundo que conhecia estava tentando entrar em contato
para saber o que aconteceu. Respondi às mensagens dos
meus pais, minha irmã, alguns parentes e amigos,
garantindo a todos que eu estava bem e que tinha sido
apenas um momento desconfortável.

Cleo quis atenção e ficar de mimo com minha filha


felina me trouxe a calma que precisava.

Logo cedo, Memphis apareceu e me apresentou a Cory,


o guarda-costas que trabalharia comigo quando ele
estivesse ocupado com Niklas. Apertei a mão de Cory e
senti que ele transmitia confiança e segurança. Era
esquisito demais uma pessoa como eu ter um guarda-costas
ao lado, porém, com o contrato que assinei e pela pessoa
com quem estava me relacionando, percebi que era
necessário para minha segurança, dadas as circunstâncias
bizarras da noite anterior.

Como meu pai disse em sua breve ligação, foi tinta,


porém, poderia ter sido algo pior.

Troquei de roupa, usando a minha “fantasia de


namorada do CEO”, vestida de marcas de luxo da cabeça
aos pés, cabelo arrumado e maquiagem para encontrar com
Niklas. Chegamos à empresa e logo soube que Niklas estava
em uma reunião com Jim. A situação com a tinta dourada
também havia ocorrido no prédio de Cynthia, mas ela
estava fora do país com o noivo. Felizmente, eu estava bem
e ninguém havia me machucado durante o ataque bobo.

Niklas me abraçou apertado assim que me viu, seus


olhos procurando os meus para ter certeza. Eu retribuí o
abraço, sentindo-me reconfortada por sua presença.
— Você está mesmo bem? — ele perguntou, a voz
carregada de preocupação.

Assenti com um sorriso suave.

— Sim, Niklas, estou bem. Foi assustador, mas estou


bem. Ninguém me machucou. Eles só jogaram, saíram
correndo e os fotógrafos surgiram do outro lado da rua.

Ele me olhou nos olhos por mais um momento antes de


soltar um suspiro aliviado.

— Ainda assim, não gosto de ver você envolvida nisso.


Bryan é um filho da puta.

— Calma, ok? Vamos resolver. — Ajeitei a sua gravata e


muito tarde, percebemos que trocamos afeto na frente de
Jim. Ele só parecia um gato que tinha comido um canário,
sentado com as pernas cruzadas e um sorrisinho no rosto.

— Nem uma palavra, padrinho — Niklas murmurou para


ele, nos fazendo rir.

Seguimos para uma reunião com a equipe para discutir


mudanças nos protocolos de segurança. Era evidente que
Bryan estava usando o ataque como uma forma de
marketing para seu novo lançamento, o que tornava a
situação ainda mais complicada. Discutimos estratégias
para proteger a mim e aos outros envolvidos, além de
avaliar maneiras de lidar com o que parecia ser uma
campanha de difamação, ele gostava de fazer palhaçada
enquanto Niklas era extremamente discreto.
Ficamos discutindo as opções e eu me perguntei o que
Niklas faria para revidar. Ele era um homem de negócios
poderoso e tinha recursos consideráveis à sua disposição.
Sabia que ele faria o possível para proteger não apenas a
mim, mas também sua imagem e reputação. E ele também
não construiu um império muito maior do que o do pai
sendo um santo.

No final da primeira reunião, Niklas e eu trocamos um


olhar significativo. A sensação que tive era de que a mente
dele girava em mil ideias ao mesmo tempo. Ele chamou sua
assistente baixinho, pedindo água para mim, um banquinho
para apoiar meus pés e um bloco, porque eu tinha usado
todas as folhas dele anotando minhas ideias.

Passamos o dia inteiro na empresa, discutindo


estratégias e planejando como lidar com a provocação de
Bryan na imagem pública de Niklas nos eventos. Ele sugeriu
que cancelássemos nossa presença no jantar de gala,
considerando o ocorrido, mas eu estava determinada a não
deixar que Bryan nos vencesse dessa forma.

— Precisamos ir ao jantar — insisti, olhando-o nos


olhos. — Se nos retirarmos agora, estaremos cedendo
terreno para ele. Temos a chance de mudar o jogo a nosso
favor. Entendo o seu lado de recuar para agir
silenciosamente, mas é isso que Bryan espera.

Ele suspirou, claramente preocupado com minha


segurança, mas ao mesmo tempo compreendendo a
importância de enfrentar a situação de frente. Jim ficou
quieto, nos observando.

— Tudo bem, Emilia, vamos fazer do seu jeito. O que


tem em mente para essa noite?

— Jogar o jogo dele. Por que o dourado é tão


importante? Por que te provocar é tão divertido? Ele gosta
de fazer parecer que você é corno, fraco, que é fácil de ser
atingido e manipulado. Ele gosta de brincar com tudo que a
mídia diz sobre você e tenho trabalhado arduamente para
reverter isso nos eventos, mostrando que é simpático,
brincalhão e bom. Porque você é, só não tem paciência com
gente chata… e tudo bem. — Bati meu lápis na mesa. — E
se… usarmos a cor também?

Decidimos mudar o foco do jantar, estava em cima da


hora, mas a equipe da Sterling era maravilhosa e daria
tempo para aproveitar o tema dourado que Bryan tentou
usar a seu favor. Se ele queria dourado, nós iríamos roubar
essa ideia e transformá-la em algo positivo para a empresa
e para a causa que Niklas estava apoiando. Estava
determinada a não deixar que ele nos atrapalhasse.

De última hora, liguei para Amelia e pedi para que ela


encontrasse um vestido adequado para o evento, além de
uma joia chamativa emprestada. Eu mesma liguei e pedi
para que a governanta do Niklas trocasse a roupa dele, Kelly
encontrou uma assistente para ir à Gucci, à caça de uma
nova gravata.
Ligamos para a assessoria de imprensa e solicitamos
que organizassem uma repórter específica para fazer
perguntas direcionadas a Niklas durante o evento. Ele só
responderia aquelas perguntas e nada mais. Era uma forma
de controlar a narrativa e direcionar a atenção para os
avanços da empresa na área de pesquisa do câncer.

Mais tarde, já no hotel próximo ao local do evento,


continuei com meus preparativos. Enquanto faziam o meu
cabelo, mantive o telefone em mãos, coordenando os
detalhes finais com Amelia e a mãe de Niklas, que também
estava me apoiando em nossos planos. Victória era a
anfitriã do evento, um disfarce para que ninguém soubesse
que Kurt era a criança com câncer na família.

Quando chegou o momento de nos arrumarmos, Niklas


entrou no quarto vestindo um terno impecável e me olhou
com admiração.

— Você é incrível, sabia? Encontrou uma maneira de


virar o jogo a nosso favor.

Sorri, sentindo uma mistura de nervosismo e


determinação.

— Bem, não vou deixar que Bryan tome o controle da


situação. Nós vamos mostrar a todos que estamos unidos e
focados em causas importantes. Além do mais, ele estragou
um dos meus vestidos favoritos.
Niklas se aproximou de mim, abaixando-se para me dar
um beijo suave.

— Você é brilhante, Emilia. E eu tenho muita sorte de


ter você ao meu lado.

O calor de suas palavras me envolveu e eu retribuí o


beijo com todo meu carinho. Sabia que o caminho à frente
seria desafiador, mas com nossos planos meticulosamente
traçados, eu estava confiante de que poderíamos ser
imparáveis.

Ao chegarmos, o evento estava em pleno andamento e


eu me sentia deslumbrante em meu vestido dourado. Ao
meu lado, Niklas estava vestido de preto, com uma gravata
dourada que combinava perfeitamente comigo. A mudança
de última hora nas cores do evento havia sido uma jogada
inteligente da equipe de marketing, que conseguiu
transformar o caos inicial em algo que focava a atenção do
público no que realmente importava: os avanços da Sterling
na área de pesquisa do câncer.

Caminhamos juntos pelo tapete vermelho de mãos


dadas, parando para posar para os fotógrafos. Apesar do
episódio da noite anterior, eu me sentia ótima, confiante e
determinada a não deixar que nada abalasse o nosso
propósito naquela noite. A segurança ao meu redor estava
mais apertada do que nunca, mas eu estava grata por isso,
não queria outro banho de tinta ou qualquer maluquice que
Bryan pudesse ter preparado para chamar a atenção.
Niklas respondeu às perguntas da jornalista com
profissionalismo e eloquência, enquanto eu permanecia ao
lado dele, orgulhosa do homem que era e da causa pela
qual estávamos lutando. Entramos no evento,
cumprimentando os pais de Niklas que estavam próximos à
entrada. Victoria me agradeceu de forma sincera por ter
transformado o caos em algo positivo e focado no que era
realmente importante para a empresa e para a família
deles.

Cynthia chegou com o noivo, ambos vestidos de


dourado e deslumbrantes.

— Estou me sentindo uma barra de ouro ambulante,


morrendo de cansaço com o fuso horário e quero saber de
todas as fofocas! — Ela foi abraçando um a um. — Foi um
desafio caber nesse vestido em cima da hora — cochichou e
nós rimos juntas, em um momento de descontração. Niklas
apenas sorriu, demonstrando que não se importava com o
fato de eu e sua ex-mulher nos darmos bem. Ele entendia
que o foco estava em algo muito maior do que qualquer
questão pessoal entre nós.

Conversamos com diversos convidados, trocando


informações e elogios sobre o evento. As pessoas estavam
genuinamente interessadas no que a Sterling estava
fazendo e em como aquilo poderia impactar de forma
positiva a vida de muitas pessoas, principalmente, de
crianças com câncer em todo mundo. A noite estava fluindo
e eu estava com o coração repleto de gratidão por fazer
parte de algo tão significativo.

Ao longo da noite, Niklas e eu dançamos juntos,


aproveitando o momento de celebração por estarmos
unindo nossos esforços para causas maiores. A música
tocava ao fundo, olhei nos olhos de Niklas e ele sorriu
docemente para mim, segurou meu queixo e me deu um
beijo gostoso nos lábios. Cheguei a ficar na ponta dos pés
para não ter que soltá-lo.

No final, quando nos despedimos de sua família e de


alguns convidados, nos preparamos para deixar o local,
estava cansada e aliviada que com toda correria, foi um
sucesso e agora, Bryan começaria a ficar confuso com todas
as fofocas que sairiam nos portais sobre ele. Niklas estava
namorando uma jornalista que até poderia não conseguir
um bom emprego, mas tinha muitos amigos curiosos.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
Niklas

Enquanto dirigia meu carro pelas ruas da cidade, não


conseguia desviar os olhos de Emilia ao meu lado. Ela
estava deslumbrante e o meu coração repleto de orgulho e
gratidão por tudo que ela havia feito durante o dia. O
evento foi mais que especial, não apenas por sua
dedicação, mas também por se tratar de um tema que era
especialmente significativo para mim por causa do Kurt. A
batalha que travávamos contra o tumor do meu filho era
uma constante preocupação, mas Emilia trouxe um sopro de
ar fresco.

Peguei a mão dela e levei-a suavemente aos meus


lábios, sentindo o calor reconfortante da sua pele contra a
minha. Naquele momento, tudo o que importava era a
presença dela ao meu lado, seu apoio incondicional sem
hesitação em um dia que foi particularmente estressante.

— O que foi? — Ela quis saber, sorrindo.

— Só estou pensando em como você foi incrível hoje. O


evento foi um sucesso graças a você.

— Sua mãe foi quem organizou tudo.


— Mas as pessoas estariam falando sobre Bryan e a
empresa dele, não sobre o que ela preparou. Se tivemos um
foco de volta, foi por sua causa.

— Todo o esforço da sua mãe não poderia ser jogado no


lixo.

Eu a olhei e o desejo queimou entre nós. Parei em um


sinal e nossos lábios se encontraram em um beijo
apaixonado. O carro estava imerso na semi escuridão da
noite, mas nossas emoções pareciam iluminar o espaço ao
redor. Aproveitei o momento tranquilo para me aproximar
dela, sentindo seu perfume suave. O beijo foi carregado de
paixão e anseio pela nossa noite juntos, uma fusão de
sentimentos que nos conectava em um nível profundo.

Quando o sinal abriu, voltei à direção.

— Onde estamos indo? Não é o caminho para a minha


casa.

— Não, não é. Mas não pretendo devolvê-la ou deixá-la


dormir.

Ela soltou um risinho, misturando surpresa e diversão. A


maneira como olhou para mim, com aqueles olhos
brilhantes e travessos, fez meu coração bater mais rápido.
Minha safadinha.

— Estou sendo sequestrada, é isso?


— Digamos que é um sequestro consentido. — Dei-lhe
um sorrisinho de lado.

Continuamos a trocar olhares carregados de desejo, e


de vez em quando, a cada oportunidade que o trânsito
permitia, ela me dava beijos. A ideia de tê-la em minha
cama era algo que eu fantasiava há alguns dias e como Kurt
estava com a mãe, teríamos privacidade para fazermos o
que quiséssemos sem me preocupar com meu filho
acordando no meio da noite. Parei o carro na garagem, saí,
dei a volta e abri a porta para ela. Peguei sua mão
novamente e a guiei até a entrada do elevador.

Logo estávamos dentro do meu apartamento, imersos


em um ambiente aconchegante e íntimo.

— Bem-vinda à minha moradia.

— É amplo e bem aconchegante. — Ela deixou a bolsa


dela na mesinha.

As palavras flutuavam no ar, puxei-a para meus braços


e nossos lábios se encontraram mais uma vez, em um beijo
repleto de desejo e promessas. Eu a abracei, sentindo a
pressão suave de seu corpo contra o meu.

— Quer alguma coisa? Água? Uma bebida?

— Estou bem, obrigada. Não preciso de nada agora.

Seguimos de mãos dadas pelas escadas. Emilia estava


ali comigo, com os dedos entrelaçados nos meus e quando
chegamos ao meu quarto, ela fechou a porta suavemente
atrás de nós. Um olhar carregado de desejo se passou e eu
me vi sendo empurrado para a cama, caindo sentado. Um
sorriso se formou em meus lábios enquanto a observava se
despir lentamente, seus gestos carregados de sensualidade
e uma promessa de prazer.

— Você é absolutamente gostosa, sabia disso?

Em um movimento gracioso dos seus ombros, o vestido


dourado dela caiu no chão, revelando uma beleza de tirar o
fôlego. Por baixo, usava um conjunto branco lindo, que não
escondia os poucos pelos que ficavam em uma trilha
aparada em sua boceta e os mamilos rosados, os bicos
atiçados. Meu olhar percorreu cada curva, cada detalhe
daquela mulher que me encantava de todas as maneiras
possíveis.

Minhas mãos ansiosas encontraram as dela assim que


se aproximou, peguei-a em meu colo, segurando o cabelo e
tomando a boca em um beijo faminto, carregado de paixão.
Era impossível resistir a ela, à maneira como seus lábios se
moviam contra os meus, como seus dedos exploravam meu
corpo com uma urgência crescente e tentava me despir.

— Niklas...

O som do meu nome saindo de seus lábios era como


uma melodia envolvente, um gemido que me deixava de
pau duro. Minhas mãos percorriam sua pele, explorando
cada centímetro daquela superfície macia e cheirosa. Eu me
inclinei para a frente, mordendo seu lábio inferior e o puxei
entre meus dentes. Explorei suas costas com minhas mãos
e passei para as coxas, enquanto nossos corpos se
pressionavam um contra o outro, buscando a fricção e a
entrega que só poderiam ser encontradas na união deles.

— Fique nu, agora.

— Sim, senhora.

Minha mente estava nublada pelo desejo, pela urgência


de tê-la ainda mais perto e obedeci o seu comando, me
afastando e me despindo diante dos seus olhos cheios de
tesão. Ela me puxou para a cama novamente e ali nos
perdemos, o tempo parecia não ter mais significado
enquanto eu estava enterrado dentro de sua boceta
gostosa, meu coração parecendo que iria explodir com a
paixão avassaladora que me consumia feito lava. Eu me
rendi naquele encontro profundo de almas.

O prazer cresceu, se entrelaçando em um ritmo


frenético de desejo. Eu meti até fazê-la gozar, chegando a
um orgasmo com lindos gemidos escapando de sua boca. E
então, em um instante de total entrega, tudo culminou em
uma explosão de sensações, em um clímax que me deixou
sem fôlego e completamente saciado.

Desabei na cama ao lado dela, meu coração ainda


acelerado, um ritmo maluco, a respiração descompassada.
Eu a puxei para perto, envolvendo-a em meus braços,
enquanto nossos corpos se acalmavam gradualmente.
— Caramba… é tão bom.

— É gostoso pra caralho.

Ela sorriu, um sorriso que refletia o meu. Era mais do


que desejo físico, era uma ligação emocional. Passamos
algum tempo ali, apenas aproveitando a proximidade um do
outro, aos beijos, atiçando o fogo novamente e nos
perdemos um no outro, jogando os travesseiros para fora da
cama. A lua brilhava suave através da janela e eu teria
aquele cheiro para sempre em meu quarto.

Quando amanheceu, o despertador tocou baixinho ao


meu lado e logo desliguei, voltando a abraçá-la.

— Bom dia, baby — ela murmurou, me agarrando de


volta.

— Acordar assim ao seu lado é maravilhoso.

Por um momento, tudo o que importava era a sensação


de tê-la em meus braços, de saber que ela estava ali,
completamente entregue a nós e àquilo que
compartilhávamos. Ela não era uma mulher cheia de jogos
ou artifícios, era simples e autêntica e aquilo me fascinava.

— Acho que estou um pouco manhosa, não sei o que


deu em mim.

— Não precisa pedir desculpas por isso. Eu vou mimar e


cuidar de você.
Era verdade. Adorava a maneira como ela se permitia
ser vulnerável, como mostrava as emoções sem reservas.
Cada momento com ela era uma descoberta, uma viagem
por territórios desconhecidos e eu me sentia privilegiado
por cuidar e proteger.

— Estamos ganhando o dia de folga. O que acha?

Eu lhe dei um sorriso malicioso.

— Não vejo motivo para não aproveitarmos, afinal,


atender aos desejos da minha mulher não é um sacrifício.

Eu a puxei para mais perto, beijando-a bem apaixonado


e era incrível como o desejo entre nós ainda queimava
forte, como nossos corpos se encaixavam com perfeição.
Emilia estava me transformando, me fazendo sentir coisas
que eu nunca havia sentido antes. Eu sempre fui
independente, seguro de mim mesmo, mas com ela, tudo
mudava.

Depois de uma manhã com muito sexo, nos


encontramos rindo e recuperando o fôlego. Eu a observava
falar sem parar ao meu lado, com as pernas em cima das
minhas e seu estômago roncou bem alto, me fazendo
gargalhar.

— Vou buscar algo para comermos. Volto logo.

Emilia concordou com um sorrisinho e se levantou para


tomar banho enquanto eu saía do quarto com uma calça de
pijama. Estávamos sozinhos em casa, minha governanta
folgava aos domingos quando Kurt ficava com a mãe.
Caminhei até a cozinha e preparei sanduíches de carne
assada com salada, suco de laranja, encontrei chocolate
meio amargo para comermos com algumas frutas.

Subi, deixei a bandeja na cama, belisquei alguns


morangos e quando Emilia voltou do banho de roupão,
sorriu ao me ver na cama.

— Parece que você já voltou para a cama.

— Claro, estou respeitando a minha rara preguiça do


domingo.

Ela riu e se aproximou, sentando-se ao meu lado.

— Tenho que ir para a casa dos meus pais daqui a


pouco, mesmo que esteja vivendo um cativeiro de prazer.

— Bem, você é uma prisioneira por uma boa causa.


Excelente, na verdade.

Nós rimos juntos. O clima entre nós era sempre leve e


descontraído. A vida nos trazia desafios e momentos
intensos, mas com Emilia, tudo parecia mais fácil de
enfrentar. Ela era jovem, estava se descobrindo, buscando o
seu lugar no mundo, e eu já era um homem formado, com
uma carreira estabelecida, já tinha passado por um
casamento que não foi ruim, acabou porque… nem era para
ter começado, mas não existia arrependimentos. A maneira
que Cynthia e eu nos amamos não era como homem e
mulher deveriam. E por uns breves segundos, percebi que
estava mais do que disposto a estar ao lado de Emilia
enquanto ela trilhava o caminho de crescimento.

Depois de deixá-la em sua casa, para que pudesse


trocar de roupa e ir para os pais, fui visitar os meus. Eu
tinha a chave e o código de acesso, porém, sempre tocava a
campainha mesmo assim. Mamãe abriu a porta com o
sorriso bonito de sempre.

— Oi, mãe. Como a senhora está?

— Estou muito bem, meu querido. Fico feliz em te ver


aqui. O jantar será servido em breve, estou quase
terminando e seu pai está na biblioteca, vá até ele.

Entrei e senti a familiar sensação reconfortante de estar


em um lugar onde era amado e bem-vindo. Por um
momento, consegui deixar de lado as preocupações do
mundo lá fora. Subi as escadas, virando à esquerda e
empurrei a porta do salão cheio de livros com o cheiro de
charuto de menta.

— Oi, pai.

— Niklas, sente-se. Vamos tomar um uísque e conversar


um pouco.

Meu pai mantinha sua coleção de livros e bebidas


favoritas. Ele serviu dois copos de uísque e nos sentamos
em poltronas confortáveis de couro escuro enquanto ele
acendia um charuto.
— É bom ter um domingo de folga, não é? — Eu dei um
gole do uísque, e caramba, era bom.

— Com certeza. Você trabalha muito, meu filho. É


importante tirar um tempo para si mesmo de vez em
quando.

— Eu sei, pai. Mas às vezes sinto que tenho que estar


sempre no controle de todas as coisas e ao mesmo tempo,
estar disponível para Kurt.

— Você é um homem ambicioso, Niklas. Isso é uma


qualidade boa, mas lembre-se de que também precisa
cuidar de si mesmo e da sua família. Eu entendo que o seu
casamento acabou, mas ainda é jovem, pode se casar
novamente.

Enquanto meu pai falava, eu pensava nas palavras


dele. Não gostava muito de admitir que ele estava certo.
Estava tão envolvido nos negócios, na proteção de Kurt, que
às vezes esquecia de reservar um tempo para relaxar. E
agora, com Emilia na jogada, talvez fosse a brecha que
precisasse antes. Nós continuamos a conversa, discutindo
sobre os negócios da família, compartilhando ideias e ouvi
todos os seus conselhos. Era sempre bom ter a perspectiva
do meu pai, alguém que tinha vivido muitas experiências no
mundo dos negócios.

Ao final da noite, depois do jantar, me despedi dos


meus pais, agradecendo pelas conversas e pelo tempo de
qualidade juntos. Saí de lá com um sentimento de força
renovada, pronto para começar a semana. Estava confiante
com a estratégia que tinha em mente, conseguiria enfrentar
Bryan Hudson de maneira eficaz e assertiva.

Entrei em casa sozinho, fechando a porta atrás de mim


e acionei o alarme. O silêncio do lugar era reconfortante, me
trazia paz e ao mesmo tempo, eu sentia falta da presença
do Kurt agitado ao meu redor e até mesmo, de Emilia. Ela
havia deixado sua marca em meu apartamento. Joguei meu
casaco em cima do sofá e me dirigi para o quarto, onde sua
fragrância ainda pairava no ar. Ao me deitar na cama,
agarrei um dos travesseiros e senti uma sensação de
conforto ao abraçá-lo. Peguei o celular e, com um sorriso,
notei as mensagens dela.

Abri as fotos que ela enviou, vendo sua bela imagem


segurando um prato cheio de comida caseira que a mãe
preparou. Ela estava natural, com um sorriso genuíno, o que
só aumentou o meu fascínio por ela. Estava digitando uma
mensagem de resposta quando outra foto apareceu. Emilia
estava deitada na cama, ao lado de sua gatinha, usando um
pijama fofo. Um sorriso involuntário se formou em meus
lábios enquanto a observava.

Aquela mulher estava me enfeitiçando de todas as


maneiras possíveis.

“Aqui está a minha parceira de noite, a Cleo. Ela adora


me fazer companhia”.
Respondi imediatamente, querendo compartilhar meu
próprio sorriso com ela.

“Parece que vocês formam uma ótima equipe. Cleo é


sortuda em ter você como dona”.

Emilia não levou muito tempo para enviar a minha


resposta.

“E você, teve uma ótima companhia para o jantar?”.

Eu comecei a digitar bem rápido.

“Devo confessar que sua ausência deixou um vazio por


aqui”.

Ela enviou quase no mesmo instante.

“Eu também senti falta do seu rosto bonito e do seu


sorriso”.

Abri um sorriso enorme e virei de barriga para cima na


cama.

“Eu tenho que admitir que fazia um bom tempo que eu


não sorria para a tela do meu telefone como estou fazendo
agora”.

Ela me enviou uma carinha com os olhinhos cheios de


corações.

“Isso é um bom sinal, então?”

“Mais do que você possa imaginar”.


Fiquei olhando para a tela do celular e pensando na
jornada que eu estava trilhando com Emilia. Ela estava
mudando a minha vida. Eu, me apaixonando pela minha
namorada falsa.

Era para ser apenas um contrato de relacionamento.


CAPÍTULO VINTE E SEIS
Emilia

Vesti uma calça de tecido cinza-escuro, optando por


conforto, juntamente com um par de mocassins e uma
camiseta cropped branca. Prendi meus cabelos em um
coque despojado e escolhi não usar maquiagem, querendo
me sentir natural e à vontade. Antes de sair, deixei água e
comida para Cleo, que miou como se estivesse me dando
sua bênção para sair em um sábado comum, que eu
costumava ficar sozinha com ela enchendo-a de mimo.

Quando Niklas chegou para me buscar, meu coração


acelerou de empolgação, estava com muita saudade. Ele
me cumprimentou com um beijo apaixonado e também
saudoso. Eu amei saber que ele sentiu a minha falta. O
toque dos nossos lábios trouxe a gostosa sensação
reconfortante, já bastante familiar, não importava quantos
dias haviam se passado, a atração não tinha mudado e ficar
sem vê-lo só me deixou um pouco manhosa.

Andamos de mãos dadas em direção ao carro, sabendo


que as câmeras estavam sobre nós. O carro dele era
chamativo e a imprensa andava nos cercando desde o
último evento. Acenei para Cory, que iria nos seguir. Não me
importava com a atenção dos fotógrafos, até porque,
quanto mais em evidência positiva ficávamos, menos palco
Bryan Hudson tinha para falar sobre Niklas. E naquele
momento em específico, só me importava com o fato de
estarmos juntos, aproveitando um momento de
tranquilidade.

O clima estava perfeito para passear, mas Niklas queria


se esconder em casa para ficarmos à vontade e durante o
trajeto até a cobertura dele, a conversa fluiu naturalmente,
como sempre acontecia. Começamos a rir de uma bobeira
que aconteceu comigo durante minha entrevista com o
editor do NY Times, deixei cair o escargot dentro do prato
dele ao tentar comer aquela coisa gosmenta, voou longe e
espirrou um pouco de sopa na gravata do homem. Eu fiquei
mortificada por dois segundos, depois, tive uma crise de
riso.

— Eu liguei para ele e pedi desculpas mais uma vez,


conversamos sobre os contos que escrevi na faculdade. Ele
acha que tenho um ótimo material para fábulas.

— E falou sobre o podcast?

— Sim, falei. Ele em si não está nessa área, mas


conhece a equipe e está disposto a me apresentar na
próxima semana.

— Isso é ótimo. Quero ler os seus contos. — Niklas


pegou a minha mão.
— Estava com saudade — admiti, sorrindo para ele
enquanto ele mantinha sua atenção na avenida
movimentada à nossa frente.

— Eu também estava — respondeu com um olhar


carinhoso. — Fica difícil quando minha agenda nos mantém
afastados. Quase inventei um evento para podermos ficar
juntos mesmo que por algumas horas.

— Mas é por isso que momentos como esse são ainda


mais especiais — comentei, apertando sua mão
suavemente. — Adorei o convite.

Niklas concordou, dando-me um sorriso caloroso.

— Completamente de acordo. Quero aproveitar cada


minuto dessa folga maravilhosa com você.

Chegamos à casa dele com o sol se pondo e a sala


começou a ganhar um tom suave e dourado. Estava tudo
tranquilo e aconchegante, ele precisava de um refúgio do
mundo exterior, se desligar das preocupações e por ser
sábado, fiquei empolgada com o convite especial, pois
raramente tínhamos a oportunidade de estar juntos sem
nenhum compromisso pendente. Ele me chamou para
relaxarmos, bebermos algo e até mesmo pedirmos comida
japonesa mais tarde.

Tirei os meus sapatos, ele ligou a televisão e colocou


música para tocar, encontrei cerveja gelada na geladeira.
Peguei uma para ele, para relaxar, eu não bebia nada além
de vinho ou alguns tipos de drinques. Em seu colo, fiquei
com o menu de um restaurante japonês badalado que, só
por causa do sobrenome dele, aceitou fazer a entrega. A
comida chegou em pouco tempo e faminta como estava,
ataquei, Niklas e eu fizemos uma pequena guerra com
nossos hashis, disputando um último pedaço de salmão
flambado.

Sem querer, derrubei nele um pouco de molho agridoce


e ele teve que trocar a camisa.

— Você é maluquinha e um pouco desastrada.

— Eu não me importaria que ficasse sem camisa. — Dei


de ombros com um risinho.

Niklas apenas sorriu, tirando e jogou no sofá. Eu lhe dei


um beijo, encostando minha cabeça em seu ombro e
tiramos uma foto. Eu queria guardar aquele momento para
sempre. Era uma alegria sem igual estar com Niklas e a
cada minuto que passávamos juntos, nascia uma certeza
dos sentimentos que tinha por ele — e que todos eram
recíprocos. Aquela era a nossa bolha, um espaço para
sermos nós mesmos, sem preocupações externas ou
pressões da imagem de casal perfeito que criamos no
tapete vermelho.

O mundo lá fora continuava girando, os negócios dele


jamais paravam, ele sempre seria um magnata poderoso, só
que sentado no chão ao meu lado, sem camisa e bebendo
cerveja, era apenas um homem pelo qual eu estava me
apaixonando profundamente.

Falando de forma racional, era o momento de levantar e


sair correndo.

Deitamos no sofá, assistindo a um filme de ação


qualquer, só estávamos tranquilos e com preguiça. Nossos
corpos estavam embolados, quase pegando no sono e eu
acariciava sua cabeça, fazendo um cafuné suave que
parecia estar levando-o para um estado de relaxamento
profundo. Ele havia tomado algumas cervejas, aproveitando
sua folga, e eu sabia que ele estava à beira de uma soneca
daquelas que seriam muito renovadoras.

O silêncio foi quebrado quando o telefone de Niklas


vibrou em cima da mesa. Olhei para ele com um sorriso
divertido.

— Vai atender?

— Só se for a minha família. Trabalho, avisei a Kelly que


lidaria na segunda-feira — disse e eu concordei com um
aceno, enquanto continuava acariciando seus cabelos. No
entanto, a expressão de Niklas mudou rapidamente ao ver
quem estava ligando. Ele riu, mas havia um traço de zelo
em seu olhar. — É a Cynthia — avisou, meio preocupado.

Eu não sentia ciúme da ex-mulher de Niklas. Ela estava


noiva e parecia feliz com o noivo, que era um bonitão que a
olhava de modo apaixonado. Mas o fato de ligar em um
sábado à noite indicava que algo sério estava acontecendo.
Assisti enquanto ele atendia a chamada e ouvia a voz
urgente da mulher do outro lado da linha. Isso fez com que
Niklas se sentasse rápido, abandonando a sonolência
anterior.

Meus olhos se arregalaram de preocupação e surpresa


quando vi sua reação.

— O que houve? — perguntei, quase caindo do sofá


enquanto tentava entender a situação.

Ele olhou para mim com a expressão séria.

— Kurt teve uma convulsão e está sendo levado ao


hospital às pressas — disse ele com urgência na voz. Ele
agarrou a camisa, vestiu e pegou as chaves, enfiando-as no
bolso, junto à carteira.

Minha preocupação se intensificou e eu me levantei


rapidamente do sofá.

— Meu Deus, Niklas, precisamos ir! — Meu coração


batia mais rápido com a adrenalina tomando conta do meu
corpo. Coloquei meus sapatos e ele se apressou em fazer o
mesmo. — Eu dirijo — declarei, minha voz firme apesar do
nervosismo.

Niklas assentiu, sem discutir, sabendo que eu estava


certa, afinal, ele tinha bebido várias cervejas. Nós saímos
correndo da sala em direção ao elevador, logo saindo na
garagem. Minha mente estava trabalhando em alta
velocidade, pensando no que poderia ter causado a
convulsão e o que poderia estar acontecendo no hospital.

Eu estava ao volante, dirigindo rápido mas com cautela,


enquanto Niklas estava ao meu lado, a expressão tensa.

— Cynthia não me atende — disse ele com um suspiro.


— Eu não posso acreditar que isso está acontecendo.

— Vamos chegar lá o mais rápido possível — prometi,


apertando sua mão para transmitir apoio.

Dirigi enquanto lutava para controlar minha própria


ansiedade. Kurt era a vida de Niklas e eu sabia que todos
estavam preocupados. Estava determinada a ser o apoio
que Niklas precisava naquele momento de incertezas.
Conseguimos chegar ao hospital quase ao mesmo tempo
que a ambulância, estacionei o carro às pressas e saímos
depressa. A expressão desesperada no rosto dele me partia
o coração. Juntos, corremos em direção à entrada, nossas
mãos entrelaçadas em busca de força mútua.

O cenário era uma confusão de médicos e enfermeiros


trabalhando depressa para cuidar de Kurt. Eu podia sentir a
tensão no ar enquanto Cynthia acompanhava a maca com
Kurt, que estava desacordado e parecia tão pequeno e frágil
naquela cama. Niklas tentou se aproximar, mas foi impedido
pela equipe médica.

Cynthia estava visivelmente nervosa, histérica,


descabelada, falando e gesticulando e eu a observei com
simpatia enquanto tentava acompanhar os procedimentos,
seu rosto expressando muito medo. Quando tive a chance,
me aproximei dela e coloquei uma mão gentil em seu
ombro.

— Vai ficar tudo bem — sussurrei, oferecendo algum


conforto.

— Ah, Emilia! — Ela chorou e me abraçou apertado. —


Eu só quero segurar o meu filho de novo!

— Vai ficar tudo bem!

Fomos orientados a aguardar no andar da pediatria,


que assim que possível, alguém iria falar conosco. Niklas se
sentia impotente diante da situação. Ele ficava andando de
um lado para o outro com o olhar carregado de angústia. Me
aproximei dele com cuidado e coloquei uma mão em seu
braço, acariciando suavemente, tentando transmitir meu
apoio.

— Niklas?

Ele me olhou, seus olhos refletindo uma mistura de


medo e esperança.

— Eu não consigo acreditar que isso está acontecendo,


eu só quero ouvir que ele vai ficar bem — murmurou com a
voz embargada.

Apertei o braço dele de leve.


— Vamos passar por isso. Kurt é forte e os médicos
estão cuidando dele. Estou aqui com você, está bem?

Niklas me puxou para um abraço e beijou minha testa.


Elias chegou, vestido formalmente e um pouco suado,
pedindo desculpas, dizendo que ficou preso em um trânsito
depois de um acidente na ponte. Ele abraçou Cynthia e eu
pude ver a preocupação em seu rosto também. Era evidente
que a situação estava afetando a todos.

Sentei em um dos bancos com um chazinho,


observando Niklas andar de um lado para o outro, puxando
os cabelos, lutando para conter suas emoções. Ele olhou
para mim, seus olhos buscando conforto nos meus. Soprei-
lhe um beijo, bati no lugar vazio ao meu lado e ele sentou,
segurando minha mão. Assim, permanecemos juntos por
longas horas. Uma enfermeira nos disse que Kurt foi
enviado para exames e os médicos ainda estavam
trabalhando nele, sem mais notícias positivas para nos dar.

— Sem mais notícias positivas? — Cynthia desabou


sentada. Elias rapidamente ficou ao lado dela, esfregando
os braços.

— Como eles não podem dizer mais nada? — Niklas


parou no balcão e fui até ele, tentando acalmá-lo. Ver o
homem que ele era normalmente, quebrado e preocupado
daquele modo, me apertava o coração. Puxei-o, mas quis
ficar andando e assim, mais horas se passaram, até que ele
se ajoelhou no chão em frente a mim, e eu o abracei com
força, tentando transmitir toda a minha energia positiva.

Nós dois compartilhamos um momento de silêncio e


orações silenciosas, pedindo para que Kurt se recuperasse
logo. E então, a médica pediatra, Dra. Liz Nichols-Reedburn,
finalmente saiu das portas duplas, trazendo um vislumbre
de alívio consigo.

— Kurt está estável, respondendo ao tratamento e


lúcido — disse, tensa. Niklas ficou de pé em um salto. Ela
destacou a importância de ter cautela e calma ao se
aproximar dele, pois ele estava passando por dores e se
sentindo exausto.

A médica continuou falando e mesmo que estivesse


segurando a mão do Niklas, eu senti a tensão na mulher e o
peso de toda situação que ela carregava. Eu não a conhecia
bem, mas percebi que estava sob pressão e que não era
uma situação fácil para ninguém.

— Depois que o virem, vamos conversar no consultório,


ok? — a médica concluiu e foi para a estação da
enfermagem com um prontuário.

Niklas me guiou até o quarto de Kurt. O menino estava


deitado na cama, parecendo encolhido e choroso, o que
partiu o meu coração.

Cynthia parou ao lado dele, tentando confortá-lo em um


tom de voz suave que toda mãe amorosa tem. Niklas parou
do outro lado da cama e eu fiquei ao lado dele. Kurt olhou
para mim, curioso.

— Quero que conheça minha amiga especial, Kurt. Ela


se chama Emilia — Niklas me apresentou, passando o braço
por meu ombro.

— Você vai ser minha amiga também? — Kurt quis


saber com uma vozinha fraca.

Eu sorri, mesmo com os olhos marejados.

— Claro que sim, Kurt. Será um prazer ser sua amiga —


respondi e pisquei para afastar as lágrimas. Ele sorriu de
volta para mim, depois olhou para a mãe, um pouco
nervoso com todas as agulhas em seu braço. Niklas apoiou-
se na cama, dizendo a melhor posição para ele ficar
enquanto Cynthia tentava acalmar o filho.

A médica informou que apenas os pais de Kurt


poderiam conversar com ela. Elias e eu nos mantivemos
ocupados com o menino, tentando distraí-lo com um jogo e
oferecendo o jantar. Ele aceitou cinco colheradas, limpei sua
boca com lenços, entre os dedos e o ajudei a voltar para a
posição mais confortável, mas não muito deitado porque
estava enjoado. Elias disse que iria em casa pegar algumas
coisas dele, então, Kurt foi listando os itens que queria para
seu padrasto anotar.

Era muito difícil ver uma criança pequena passar por


tudo aquilo, mas tentei manter um sorriso no rosto e
oferecer um pouco de conforto ao lado de Elias.

Quando Niklas finalmente saiu do consultório da


pediatra junto à oncologista e o neurologista, sua expressão
dolorida era evidente, mas ele tentou esboçar um sorriso e
beijou o filho, prometendo estar de volta pela manhã e que
a mãe passaria a noite com ele. As despedidas foram
difíceis, mas nós saímos de mãos dadas.

No caminho de volta para casa, o silêncio parecia


pesado, era madrugada e as ruas estavam tranquilas. O
cenho franzido dele mostrava o quanto sua mente estava
carregada de preocupação.

Assim que entramos na cobertura, tirei os meus


sapatos e fui até a cozinha para pegar água. Abri a
geladeira, então ouvi um som que partiu meu coração em
mil pedaços: um choro quebrado, dolorido, vindo da sala.
Corri de volta e subi no sofá, abraçando Niklas com força.
Seu choro era uma expressão visceral de dor e medo. Ele
me agarrou forte de volta, balançando-se, e murmurava
palavras que eram quase ininteligíveis entre soluços sobre o
tempo que parecia estar se esgotando, o crescimento do
tumor e a ineficácia do tratamento.

Meu peito se apertou ao vê-lo tão vulnerável e abatido


por tudo o que estava acontecendo. Só que eu precisava ser
forte por ele. Segurei seu rosto em minhas mãos, fazendo-o
olhar nos meus olhos.
— Niklas, olhe para mim — pedi com ternura, tentando
transmitir toda a minha convicção. — Você é o pai de Kurt,
e ele precisa de você agora mais do que nunca. Prometa
que não vai desistir, que vai lutar com toda a sua força e
amor.

Ele olhou nos meus olhos, seu rosto molhado pelas


lágrimas, e assentiu com determinação.

— Nunca vou desistir. Será até o último suspiro. —


Niklas jurou.

— Kurt é forte. Ele vai vencer.

Nós nos abraçamos com força, compartilhando a


esperança. Por mais que as coisas parecessem sombrias,
era importante ter fé. A noite era escura, o futuro incerto,
mas com coragem e amor, poderíamos vencer.
CAPÍTULO VINTE E SETE
Niklas

A noite foi longa e insuportável. Cada minuto parecia


uma eternidade e a preocupação pela saúde de Kurt me
manteve acordado. Emilia conseguiu tirar um cochilo ao
meu lado, toda encolhida, com a cabeça apoiada em meu
ombro e a mãozinha apoiada em meu peito, os dedos
fechados em minha camisa para que não saísse do lado
dela sem que percebesse, mas eu não consegui fechar os
olhos nem por um segundo.

Quando o dia finalmente amanheceu, nós nos


levantamos e tomamos um café meio que em silêncio. Era
difícil encontrar palavras naquele momento. Precisava me
manter forte e também havia uma turbulência de emoções
que se agitavam dentro de mim.

Fomos até a casa de Emilia para que pudesse se trocar


e dar atenção a Cleo, que precisava de água e comida
fresca, além de ter a areia limpa. A gata sumiu assim que
me viu, o que só aumentou a sensação de desânimo que
pairava sobre mim. Sentei no sofá, observando o vazio e
tentando me distrair da angústia que me consumia. De
repente, senti que estava sendo observado. Ergui o olhar e
encontrei Cleo escondida atrás dos livros na estante. Tentei
me aproximar dela para oferecer um pouco de carinho, mas
ela fugiu rapidamente, como se soubesse que algo estava
errado.

— Ela é muito antipática — Emilia brincou e eu


consegui esboçar um sorriso fraco. — Não é pessoal, eu
juro. Estou pronta, baby. Organizei uma bolsa para ficar com
você o tempo que for necessário e qualquer coisa,
passamos aqui rapidinho só para ver a Cleo.

— Tudo bem, meu anjo. — Beijei-lhe na testa.

Saímos juntos. Memphis estava ao volante, dirigindo


com cuidado. A ansiedade e a preocupação eram tangíveis
no ar. Me sentei no banco de trás, perdido em pensamentos.
A noite anterior ainda estava muito fresca em minha mente.
As palavras da médica ecoavam em meus ouvidos: o tumor
estava crescendo e o tratamento não vinha sendo eficaz.
Nós precisaríamos adotar medidas mais agressivas para
combater a ameaça que se escondia dentro do corpo do
meu filho.

Cada quilômetro que nos aproximava do hospital me


enchia de uma sensação de apreensão. Precisava ser forte
para Kurt, mas a incerteza do que estava por vir era
angustiante. Racionalmente, sabia que teria que ser o pilar
para ele, o porto seguro que ele precisava, mas também me
sentia esgotado pelas ondas de preocupação que pareciam
não cessar.
Emilia pegou minha mão e foi doce sentir sua presença
ao meu lado. Aquilo me dava algum conforto. Ela me
lembrava que eu não estava sozinho na batalha. Por mais
que Cynthia e eu sempre fomos uma frente unida, com
Emilia ontem, foi diferente. No meio de todo o medo e
insegurança, formamos um time e tínhamos que continuar
lutando por Kurt.

Algumas horas se passaram desde que chegamos ao


hospital. O corredor era um lugar de espera, de incertezas,
ainda mais quando os médicos levavam uma eternidade
para voltar com o resultado dos exames da manhã e o
tempo parecia se esticar infinitamente. Meus pais chegaram
e se juntaram a mim, observando a cena à nossa frente.
Emilia estava na cama do hospital com Kurt, um cenário que
eu não poderia imaginar algumas semanas atrás. Ela tinha
bonecos e um jogo de cartas. Os olhos do meu filho
brilhavam enquanto ela falava algo que o fazia rir sem
parar.

Era incrível ver os dois juntos, dividindo momentos de


alegria e descontração.

Eu imaginei, brevemente, que Emilia e Kurt se dariam


bem, mas vê-los juntos excedeu todas as minhas
expectativas. Ela aguentou a noite toda ao meu lado sem
hesitar, foi um apoio inigualável, e agora estava ali,
passando o dia com meu filho no hospital. Sua força e
compaixão em um momento tão difícil mostrava muito
quem ela era de verdade.
— Como ele passou essa noite? — minha mãe
perguntou.

— Foi um susto e tanto dessa vez. — Papai suspirou.

Comecei a contar aos meus pais sobre o estado de Kurt


e o tratamento que estava prestes a começar, quando de
repente, ouvimos a voz dele avisando que ia vomitar. Meu
coração disparou instantaneamente e eu me virei para ver
Emilia agindo com uma rapidez impressionante. Ela pegou o
balde e, ao mesmo tempo, segurou Kurt para que ele não se
machucasse. Eu me aproximei deles, sentindo a
preocupação e o nervosismo correrem pelo meu corpo.
Emilia manteve a calma, confortando Kurt enquanto ele
tossia e vomitava. Peguei um lenço e limpei sua boca.

Emilia continuou sendo um pilar de força, segurando


Kurt enquanto ele se recuperava, acalmando-o com
palavras gentis e carinho. Eu me juntei a ela, acariciando
suas costas. Ela e eu trocamos um olhar, era doloroso ver
meu filho sofrer, mas não me senti desolado. Em momentos
como aquele, a importância de ter alguém ao meu lado que
pudesse compartilhar a dor era imensurável.

— Vai ficar tudo bem, campeão. Papai está aqui com


você.

Kurt finalmente parou de vomitar e olhou para Emilia,


seus olhos ainda cheios de lágrimas. Ela lhe deu um sorriso
caloroso e lhe beijou na testa suavemente. Eu me abaixei
com meu coração apertado. Queria poder tirar sua dor,
protegê-lo de qualquer sofrimento, mas tudo o que podia
fazer era estar ao lado dele e apoiá-lo da melhor maneira
possível.

— A médica está aqui, querido — mamãe chamou e eu


saí, deixando Kurt com Emilia. Minha mãe entrou para ficar
com eles.

Os exames da manhã apenas confirmaram o que


conversamos na madrugada e Kurt podia ser movido para
um quarto mais privado e finalmente, depois de muitos
esforços, adormeceu. Fiquei ao lado dele por um bom
tempo, contando histórias e cantando suavemente até que
ele relaxasse e caísse no sono. Com cuidado, saí da cama,
evitando qualquer movimento brusco que pudesse acordá-
lo.

Emilia cobriu-o com um cobertor de carros, que eu


sabia que era seu favorito, e reduzimos as luzes para criar
um ambiente mais tranquilo.

Nós dois saímos do quarto, encontrando meus pais na


antessala.

— Quer beber alguma coisa? — Emilia me perguntou e


lhe dei um tapinha no bumbum com um sorrisinho.

— Um cafezinho está bom para relembrar os velhos


tempos.

— Bobo.
Enquanto Emilia preparava café, eu me sentei ao lado
dos meus pais e começamos a falar em tom baixo sobre o
estado de saúde de Kurt e o que esperar dali em diante. Ele
teria alta no dia seguinte, mas precisaria retornar para uma
consulta oncológica no fim da semana. Conversamos sobre
a perspectiva de um tratamento mais agressivo e a
incerteza do que viria a seguir.

— Ele é forte e vai passar por isso — Emilia disse,


confiante.

Minha mãe concordava com Emilia, dizendo que


tínhamos que ter fé no processo e acreditar que o
tratamento seria bem-sucedido a longo prazo. Emilia
segurou minha mão, olhando para mim com uma expressão
de determinação. Ela acreditava em Kurt e na capacidade
dele de superar isso.

Emilia trouxe as xícaras de café e nos sentamos juntos,


em silêncio, por um momento. O aroma do café enchia o ar,
criando um ambiente acolhedor. Nós não precisávamos de
palavras para expressar o que sentíamos.

Olhei para o quarto do meu filho e, mesmo em meio a


toda a incerteza, senti um raio de esperança brilhando
através das nuvens escuras.

Os dias no hospital foram cansativos e emocionalmente


desafiadores para todos nós, mas finalmente o momento
que esperávamos chegou: Kurt teve alta. A nossa família
estava reunida, ansiosa para levá-lo de volta para casa.
Emilia trouxe balões coloridos e um novo boneco para ele,
fazendo Kurt sorrir, e comentei que o garoto iria se
apaixonar por ela.

Nos reunimos para um brunch de comemoração na


casa de Cynthia e Elias. Ela decorou todo o lugar como se
fosse uma festa infantil, mas só tinha seus pais, os meus,
Emilia e eu. Cada segundo da vida de Kurt era precioso e
estávamos todos conscientes disso. Ver o sorriso no rosto
dele enquanto comíamos juntos era reconfortante e ele
sabia que estava cercado de amor.

— Papai, olhe isso! — Kurt chamou minha atenção para


a torta de morango que Emilia e eu encomendamos para a
ocasião.

— Eu soube que era a sua favorita. Acertei? — Emilia


brincou com ele.

— Bem, sim senhora. — Kurt abriu um sorrisão.

— Emilia sabe conquistar o menino: brinquedos e


comida. — Cynthia riu, sem tirar os olhos do nosso filho,
porque era lindo vê-lo feliz. Kurt sentou no colo de Emilia. —
Kurt, meu Deus do céu, tenha modos!

— Está tudo bem, mamãe. Emilia é minha amiga


especial. — Kurt deu a ela uma piscadinha e todo mundo
derreteu.

— Ai, que garoto fofo! — Emilia o esmagou em um


abraço apertado.
— Anda, vamos comer essa torta. — Kurt a cutucou e
nós rimos.

Depois do brunch, Emilia e eu fomos para a casa dela.


Nos sentamos no sofá, e Cleo, sempre vigilante, nos
observava de longe. Emilia me abraçou, querendo meu
conforto e aquele gesto me trouxe uma sensação de paz e
gratidão. Eu olhei para ela, com os olhos cheios de emoção,
e agradeci do fundo do meu coração por todo o apoio que
ela tinha me dado nos últimos dias.

— Jamais precisa me agradecer por estar ao seu lado,


Niklas. Kurt é um menino incrível e estou muito feliz em
poder conhecê-lo.

— Mesmo assim, foram dias difíceis e você não me


deixou em nenhum momento, obrigado.

Sua presença era um raio de luz em meio às sombras.


O modo como ela se importava com Kurt, comigo e com
todos ao seu redor era sincero e eu me sentia abençoado.
Havia algo novo em meu peito e eu queria viver aqueles
sentimentos sem ter medo de que algo ruim explodisse no
meu rosto a qualquer momento. Nós dois ficamos ali,
abraçados, aproveitando o silêncio reconfortante até que
ela limpou a garganta, quebrando o silêncio.

— Eu entendo que foi tudo repentino, que ainda não


planejava me apresentar ao Kurt, porque não estamos
oficialmente em um relacionamento. — Ela brincou com os
meus dedos. Seus olhos tinham uma expressão suave, cheia
de compreensão. — Mas eu adorei conhecê-lo e vou
entender se quiser moderar a nossa interação, até… termos
certeza do que temos.

Eu a encarei por um instante, antes de responder,


sentindo uma vulnerabilidade.

— Emilia, a verdade é que... eu gostaria de tentar um


relacionamento com você — admiti, deixando as palavras
saírem com sinceridade.

Ela me olhou com surpresa, parecendo processar o que


eu havia dito.

— Mas… eu tenho alguns medos. — Afastou-se


suavemente, mordendo o lábio. — Temo que as nossas
diferenças financeiras se tornem um obstáculo. Fico
preocupada sobre a realidade interferir nos sentimentos de
contos de fadas. Eu ainda estou construindo a minha
carreira, não sou rica, meus pais também não, nem nasci na
alta sociedade…

Respirei fundo, olhando para suas mãos enquanto


segurava as minhas.

— Entendo seus receios. Nossas diferenças não podem


ser ignoradas, mas também não devem ser motivo para nos
separar — disse olhando nos olhos dela, querendo que ela
visse minha sinceridade. — Nós podemos superar essas
barreiras juntos, desde que estejamos dispostos a enfrentá-
las.
Ela me olhou intensamente, como se estivesse
considerando minhas palavras.

— E você, tem algum medo?

A rotina, às vezes, me obrigava a tomar decisões


difíceis, como abrir mão de compromissos por causa do
estado de saúde de Kurt.

— Eu preciso ser honesto. Haverá momentos em que


terei que estar com Kurt e isso pode afetar nossos planos.
Em alguns casos, como viu nos últimos dias, a situação
ficará complicada.

Ela ponderou por um momento, a expressão séria


enquanto refletia sobre minhas palavras.

— Kurt jamais será um problema, não deve se


preocupar com isso, não em relação a mim. Estarei ao seu
lado no que eu puder ajudar.

— Então, acho que não temos problemas. Não vamos


brigar por dinheiro, por favor.

— É uma questão que me incomoda, sim, porém, acho


que se sempre nos esforçarmos para estarmos juntos,
poderemos enfrentar qualquer coisa que venha em nosso
caminho. As diferenças financeiras, os compromissos com
Kurt... Se estivermos juntos, acredito que podemos lidar
com tudo.
Suas palavras me atingiram e sorri com carinho,
segurei seu rosto e lhe beijei suavemente nos lábios. Emilia
me lembrava que a vida real não era um conto de fadas,
mas com amor e apoio mútuo, poderíamos encontrar beleza
e força mesmo nas situações mais difíceis.

— Você tem razão. Vamos enfrentar isso juntos, um


passo de cada vez. E, quem sabe, talvez nossa história se
torne o nosso próprio conto de fadas.

Ela sorriu de volta para mim e eu soube que estávamos


tomando a decisão certa.
CAPÍTULO VINTE E OITO
Emilia

Acordei com o som dos passos rápidos de Cleo pela


casa e resmunguei comigo mesma sobre a bagunça que a
gata estava fazendo, ela era muito matinal para o meu
gosto. Meus olhos estavam meio embaçados de sono
quando me levantei e fui até o banheiro. Sentei-me no vaso
sanitário, ainda sonolenta, planejando o dia à frente. Minha
irmã e eu tínhamos planos de tomar café juntas antes de
irmos ao ateliê para experimentar os vestidos, que estavam
quase prontos.

Olhei para minha calcinha, tendo uma memória,


percebendo que ainda não havia menstruado. Meus seios
estavam doloridos e eu tive dores de cabeça nas últimas
manhãs, então assumi que meu ciclo estava prestes a
começar. No entanto, parecia que estava atrasada. Peguei
meu celular e abri o calendário, contando os dias.

A sensação de pânico começou a crescer dentro de


mim.

Eu nunca ficava atrasada.

Sempre fui regular em relação ao meu ciclo menstrual.


Mas agora, parecia que algo estava fora de controle. Uma
onda de ansiedade se espalhou por mim. Respirei fundo,
tentando me acalmar e pensar com clareza. Era possível
que o estresse dos últimos dias, com a situação de Kurt e
tudo o que estava acontecendo, estivesse afetando o meu
corpo?

Eu sabia que a única maneira de ter certeza e me


acalmar era fazendo um teste de gravidez. No entanto, a
ideia me deixou ainda mais nervosa. Não estava pronta
para lidar com uma gravidez naquele momento. Meu
relacionamento com Niklas estava apenas começando e ele
enfrentava muitos desafios com o tratamento de Kurt.

Passei a mão pelo rosto, sentindo a confusão e a


incerteza se intensificarem. Sozinha em casa, notei Cleo
brincando em algum canto, e senti um nó na garganta
enquanto me levantava e me olhava no espelho. Encarei
meu próprio reflexo, buscando alguma resposta que não
estava lá.

Minha mente estava cheia de pensamentos ansiosos


enquanto eu me perguntava se deveria ou não comprar um
teste de gravidez. Será que eu estava pronta para enfrentar
essa possibilidade? E se o resultado fosse positivo, como
isso afetaria o relacionamento entre Niklas e eu?

Precisava conversar com alguém, não queria preocupar


minha irmã antes de ter certeza de qualquer coisa. Minha
mente estava a mil, repleta de perguntas e preocupações. A
incerteza me consumia enquanto eu ponderava sobre o que
fazer a seguir. Comecei a me arrumar no automático, saindo
de casa com Cory e encontrei Emily na rua, sua expressão
preocupada foi imediata.

— Está tudo bem? — Emily quis saber.

— Claro, sim. Apenas com fome. Vamos comer?

Entramos em uma lanchonete que costumávamos


frequentar, mas o cheiro dos omeletes de queijo me atingiu
com força, fazendo meu estômago se revirar. Uma onda de
enjoo me pegou de surpresa e a paranoia imediatamente se
instalou: seria um sintoma de gravidez?

Eu estava assustada com meus próprios pensamentos.

Sentamos à mesa, e Emily estava cheia de energia


apesar de ter saído de um plantão no hospital. Ela abaixou o
cardápio, olhando para mim com curiosidade.

— O que foi, garota? — questionei, rindo de sua


expressão.

— Estou sabendo de uma fofoca…

— Qual? — arqueei minha sobrancelha.

— Ouvi falar, lá no hospital, que o filho do Niklas foi


visto na emergência de outro hospital. Estão dizendo que
ele tem câncer.

Aquilo me pegou desprevenida. Meu coração disparou e


um arrepio percorreu minha espinha. Fiquei em choque, mal
conseguindo formar palavras coerentes.

— Em, olha… você, espera, me conta direito — pedi e


minhas mãos tremiam enquanto segurava a xícara de café.

Emily inclinou a cabeça, preocupada com minha


reação.

— Não é só fofoca, não é? Você o conhece?

Meu instinto protetor se acendeu imediatamente.

— Ele é um menino amoroso e adorável, a família só


está tentando protegê-lo das fofocas e que inimigos do
Niklas usem isso para atacá-lo.

Minha irmã, com seu olhar compreensivo, prometeu


que nunca falaria sobre isso com ninguém. Ela entendeu o
quanto aquilo era importante para mim e para a família do
Niklas. Eu agradeci, sentindo alívio. O segredo estava
seguro com ela, porém, não com outras pessoas e por esse
motivo, contei a Niklas por mensagem. Enquanto Emily
continuava a falar sobre outras coisas, eu me perdi em
pensamentos brevemente, tentando processar tudo o que
estava acontecendo. Meu coração seguia apertado por Kurt
e por Niklas.

Niklas me respondeu que poderíamos conversar melhor


mais tarde, pessoalmente, porque outras fofocas como
aquela já saíram antes e eles conseguiram evitar que se
espalhassem.
Comemos e minha irmã fez a gracinha de pagar a
conta, murmurando que meu emprego era ser namorada de
um homem rico.

— Sério, Emily?

— Ah, para de se importar com isso, boba!

— Parece que estou com ele por dinheiro, e não é a


realidade.

— Desculpe se isso te ofendeu. Vem, vamos.

Caminhamos de braços dados porque o ateliê era muito


perto dali e Cory nos seguiu a uma curta distância.
Entramos e logo fomos atendidas, porque era por hora
agendada e a estilista era bem rigorosa. A primeira a trocar
de roupa foi minha irmã e quando saiu, fiquei extasiada.

Emily estava radiante em seu vestido de noiva, e a


visão dela me trouxe lágrimas. Ela caminhou em minha
direção, e eu não conseguia conter a emoção. Usava o
vestido reformado da nossa mãe e ficou perfeito. Abanei o
meu rosto, tentando conter as lágrimas que ameaçavam
cair.

— Pare de chorar. — Emily me castigou, também com a


voz embargada. — Droga, Emilia.

— Meu Deus, eu preciso de um lenço!


Quando chegou a minha vez de experimentar o vestido,
a ansiedade voltou com força total. A preocupação de que
eu estivesse grávida e que não coubesse mais no vestido
em algumas semanas tomou conta dos meus pensamentos.
A estilista iria me matar se engordasse, mas ainda deu,
ficou perfeito e estávamos contando o tempo para o grande
dia finalmente chegar.

Eu me despedi da minha irmã, que precisava ir para


sua casa e era perto dali, decidi que precisava resolver
aquela incerteza que estava me atormentando. Chamei
Cory, que era incrivelmente discreto e fomos até uma
farmácia. Andei pelos corredores, peguei alguns itens
aleatórios, como protetor labial e presilhas de cabelo,
apenas para disfarçar. Então, finalmente cheguei à seção de
testes de gravidez e escolhi dois. Pedi ao atendente um
saco de papel para garantir que ninguém visse o que eu
estava comprando.

De volta em casa, na presença atenta de Cleo,


finalmente tomei coragem para enfrentar o teste de
gravidez. Fui para o banheiro, lendo as instruções com mãos
trêmulas, porque era a minha primeira vez.

Quando finalmente fiz o teste, esperei alguns segundos


que pareceram uma eternidade. E então, quando olhei para
o resultado, quase desmaiei. Apoiei minhas mãos na pia.

Duas listras. Positivo.


Minha respiração ficou presa na garganta, meu coração
disparou e eu senti um turbilhão de emoções me
atropelando como um trator. Não tinha me preparado para
ver aquele resultado, no fundo, jurava que daria negativo.
Olhei novamente para o teste, como se pudesse acreditar
mais na segunda vez, mas as duas listras ainda estavam lá,
claras e definitivas.

Senti medo e choque. Porra! Eu sabia muito bem como


aconteceu, mas, a ideia de estar grávida era avassaladora e
mudaria completamente a minha vida. Olhei para o espelho
e me encarei por um longo momento, tentando processar a
notícia. Eu tinha que contar a Niklas e o momento não
parecia certo, especialmente com tudo o que ele estava
enfrentando com Kurt.

Saí do banheiro e abracei Cleo, que miou com o meu


aperto, deixando que as lágrimas finalmente caíssem. Tudo
estava acontecendo tão rápido e eu não tinha certeza de
como lidar com todas essas emoções. Eu não estava feliz,
como imaginava que deveria estar. Não senti aquela
sensação de alegria e celebração que tantas mulheres
relatavam quando descobriam estar grávidas. Ao invés
disso, uma enxurrada de preocupações, dúvidas e medos
inundaram minha mente.

Estar grávida de alguém que mal conhecia era


assustador. Niklas tinha um filho doente para cuidar e agora
eu estava prestes a trazer outro ser humano ao mundo, com
todas as responsabilidades que isso envolvia. Como
poderíamos cuidar de um bebê quando mal tínhamos tempo
para nós?

Ainda mais complicado era o fato de que eu não tinha


um relacionamento sólido com Niklas. Não morávamos
juntos e meus pais nunca o tinham conhecido
pessoalmente. Contar a eles que estava grávida só
aumentava minha ansiedade. Como eles reagiriam? O que
diriam? Eu não tinha respostas para todas essas perguntas
e isso fazia com que eu me sentisse completamente
perdida.

Esses pensamentos invadiam minha mente, meu


coração começou a acelerar descontrolado. Minha
respiração ficou rápida e superficial, uma sensação de
sufocamento tomou conta de mim, o quarto estava girando
muito rápido. O pânico estava tomando conta do meu
corpo. Meu peito doía e eu sentia como se meu coração
fosse explodir a qualquer momento.

Eu precisava de ajuda.

Minhas mãos tremiam enquanto discava o número de


Emily, minha mente gritando por socorro. Eu conseguia
ouvir a voz dela do outro lado da linha, mas suas palavras
estavam distantes e confusas. Estava perdendo o controle
da realidade, meu corpo reagindo de uma maneira
completamente irracional. Minha visão ficou turva e tudo ao
meu redor desapareceu. Não tinha mais forças para me
manter consciente e o meu corpo cedeu. Tudo ficou escuro.
A sensação de pânico foi substituída por um vazio e estava
caindo em um abismo sem fim.

Quando recobrei a consciência, estava deitada no chão,


cercada por pessoas que não conhecia, vestidas com
uniformes do corpo de bombeiros e Emily. Seu rosto estava
pálido e os olhos mostravam medo. Ela estava segurando
minha mão, tentando me acalmar, enquanto eu perguntava
o que havia acontecido. Minha cabeça estava nublada e eu
mal conseguia articular as palavras. Contei a ela sobre o
teste de gravidez e sobre como me senti sobrecarregada
por todas as circunstâncias.

Emily me abraçou com força e suas palavras de


conforto se misturaram com meu choro. Eu estava me
sentindo completamente vulnerável, perdida e assustada.
Acabei desmaiando novamente.

Acordei com uma sensação de confusão e


desorientação. Olhei ao redor, percebendo que estava em
um quarto de hospital e logo me dei conta de que havia um
tubo no meu nariz e uma máquina apitando ao lado. Minha
mente ainda estava turva quando a porta se abriu, uma
enfermeira entrou dizendo que eu deveria deitar novamente
e que ela chamaria a médica.

— Pode chamar a doutora Cesarini, por favor?

A enfermeira sorriu, concordando que ela seria a


pessoa a me acompanhar.
Minutos depois, Emily entrou no quarto acompanhada
por alguém que eu não esperava ver ali: Niklas.

Merda.

Minha surpresa foi evidente, mas minha mente ainda


estava tentando processar o que estava acontecendo.

— O que aconteceu para que esteja aqui? — questionei


a Emily.

— Bom, mocinha. Além de chegar no seu apartamento


e te encontrar desmaiada, incoerente, decidi chamar a
emergência quando não consegui te trazer à lucidez. Sua
pressão arterial estava extremamente elevada — ela me
explicou, segurando um prontuário. — Encontrei o teste de
gravidez no seu banheiro e um dos seus exames iniciais
acaba de indicar que está com uma infecção. Vamos cuidar
disso.

Eu massageei minhas têmporas, tentando absorver


todas essas informações.

Meu ritmo cardíaco deu uma breve acelerada porque as


minhas emoções ainda pareciam tumultuadas dentro de
mim. Eu sabia que a situação era complicada, mas vê-los
ali, especialmente Niklas, mexeu comigo.

— Eu surtei ao descobrir a gravidez. Entrei em pânico.

Emily olhou para Niklas de uma maneira um tanto


hostil.
— Você quer conversar sobre isso? — Ela segurou
minha mão.

— Foi um colapso emocional, ninguém sabia ainda, eu


sequer pude contar ao Niklas…

— Cory me ligou quando te viu saindo em uma maca,


entrando na ambulância, ele a seguiu e eu entrei em
desespero. Quando cheguei, encontrei sua irmã… — ele
começou a falar e minha irmã bufou. Eu olhei para ela.

— Ele foi muito persuasivo em saber informações sobre


você. — Emily cruzou os braços, me fazendo rir. Eu conhecia
Niklas. Ele, com toda certeza, atropelou minha irmã feito um
trator e ela sequer percebeu.

Niklas pediu a Emily um momento a sós comigo e ela


concordou antes de sair do quarto. Ficamos em silêncio por
um momento, eu ainda processando tudo e ele parecendo
preocupado e ansioso.

— Eu sinto muito por tudo o que aconteceu. Não queria


te colocar nessa situação. Eu entendo que tudo isso é
avassalador, não quero que você se sinta pressionada ou
sobrecarregada…

Eu o olhei nos olhos, sentindo uma mistura de


emoções.

— Niklas, eu... eu não sei o que fazer. Tudo isso é tão


complicado. Eu nunca imaginei que minha vida tomaria esse
rumo, que eu estaria aqui, nessa situação.
Ele se aproximou da cama e pegou minha mão
gentilmente.

— Sei que isso não é o que você esperava. Eu também


não estava preparado para isso. Mas estamos juntos, seja
qual for a decisão que você tomar. E eu vou apoiar você,
não importa o que aconteça.

Suas palavras eram reconfortantes, mas minha mente


ainda estava em um turbilhão.

— Não sei o que sentir. Eu não sei se estou pronta para


ser mãe, se estamos prontos para isso, não planejei ser mãe
agora e essa criança vir quando nem sei como você se
sente em relação a tudo isso me deixa maluca!

Ele suspirou e olhou para baixo por um momento antes


de me encarar de novo.

— Não vou mentir, isso é assustador para mim


também. Mas uma coisa eu sei: nós vamos enfrentar isso
juntos. Seja qual for a decisão que tomarmos, estaremos
unidos nisso. E eu estou disposto a fazer o que for preciso
para apoiar você e esse bebê, se você decidir seguir
adiante.

— Obrigada, Niklas.

Ele sorriu suavemente e apertou minha mão.

— Vamos enfrentar um passo de cada vez.


Sua mão segurou a minha e senti um leve conforto se
espalhando dentro de mim.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
Emilia

Após ser liberada do hospital, estava grata por Emily


concordar em não contar aos nossos pais sobre a gravidez,
até porque, não era da conta dela, só tinha que guardar o
meu segredo por enquanto por ser minha irmã e me apoiar.
Precisava de tempo para me acostumar com a ideia antes
de enfrentar as expectativas e as preocupações deles.

Niklas sugeriu que eu passasse a noite em seu


apartamento, mas sabia que Kurt estaria com ele durante os
quinze dias que morava com o pai. Emily se ofereceu para
ficar comigo ou que eu ficasse na casa dela, ambos
insistindo que eu não deveria ficar sozinha. No entanto, eu
tinha Cleo e não estava disposta a deixá-la por mais tempo.

Meu namorado e agora pai do meu bebê, me levou


para o apartamento, alegando que eu precisava descansar
depois de uma noite mal dormida no hospital, afinal, nem
eu e muito menos ele, descansamos com o vai e vem das
enfermeiras entrando toda hora. Durante a noite,
conseguimos conversar sobre o bebê. Admiti abertamente
que a gravidez não estava nos meus planos, que estava
apavorada e me sentia muito perdida. Niklas concordou que
a situação era difícil, especialmente com Kurt doente, mas
lembrou que o bebê não tinha culpa e merecia todo nosso
amor.

E ele estava totalmente certo e assim, veio o peso


enorme da culpa.

Eu me sentia culpada por ter inicialmente rejeitado a


ideia da gravidez e por ter pensado coisas cruéis. Meu
coração estava carregado de emoções conflitantes e eu não
sabia como lidar com tudo aquilo. Eu dei ao meu bebê o que
minha mãe me entregou, comentários cheios de rejeição
por falta de planejamento e ele, mesmo sendo tão pequeno,
não merecia essa carga por um ato pelo qual eu e o pai dele
éramos totalmente responsáveis. Nós, conscientes, tivemos
muitas noites em que compartilhamos paixão e assim, ele
(ou ela) veio.

Niklas percebeu minha expressão angustiada e me


puxou para um abraço reconfortante. Ele me conduziu até o
espelho do meu quarto e ergueu minha blusa, revelando
minha barriga. Seu toque gentil me fez estremecer
ligeiramente.

— Imagino que seja assustador por não ser o que


planejamos para nós agora. Mas olhe para isso. — Ele
colocou a mão sobre minha barriga, e eu a segurei lá. —
Dentro de você, há um pedaço de nós dois, algo que foi
criado pelo que sentimos um pelo outro.

Meus olhos se encheram de lágrimas e olhei para nosso


reflexo no espelho. Eu estava tão preocupada com as
complicações e incertezas que esqueci que aquela pequena
vida era um resultado dos sentimentos lindos e intensos que
compartilhávamos. Tudo entre nós foi tão belo até aquele
momento, não merecia nenhuma mancha.

— Você está certo.

— Eu sei que não será fácil, Emilia. Nós vamos cuidar


desse bebê, não importa o que aconteça. Você nunca estará
sozinha nessa jornada. Essa criança tem uma mãe e um
pai.

Sua voz era cheia de convicção e eu finalmente


comecei a sentir um pouquinho de tranquilidade. Olhei para
a barriga e abri um pequeno sorriso.

— Eu não sei como será, mas vou tentar. Eu quero fazer


tudo que é certo pelo bebê.

Ele sorriu e me abraçou de novo.

— Isso é tudo o que podemos fazer como pais. Vamos


enfrentar um passo de cada vez.

Seu apoio me deu uma sensação de segurança que eu


não esperava, ele não estava surtando como eu e talvez as
coisas não fossem perfeitas ou planejadas, mas tínhamos
amor e determinação para encarar de frente, com o peito
aberto, o que viesse. Aquele pequeno pedaço de nós estava
prestes a mudar nossas vidas de maneiras inimagináveis.
— E agora, é hora de descansar. Chega de colocar essa
cabecinha para pegar fogo.

— Não estou tão cansada.

— Por favor, linda. Durma um pouco e vá jantar comigo,


dorme lá em casa. Kurt está louco para te ver novamente.

Fiz um pequeno beicinho, não queria dormir e muito


menos ficar sozinha, mas Niklas tinha que trabalhar e ele
estava sem dormir. Planejei ir com Cory mais cedo para que
eu pudesse passar um tempo com Kurt antes de Niklas
chegar em casa do trabalho. Ele foi embora e fiquei sozinha
em meu apartamento, a realidade da situação começou a
pesar sobre mim. Tentei dormir, mas meus pensamentos
estavam em um turbilhão. A incredulidade de estar grávida
se misturava com o medo do futuro e a preocupação sobre
como tudo isso afetaria minha vida e a vida daquele
pequeno ser dentro de mim.

Eu me sentei na cama e olhei para minha barriga,


tocando-a com as pontas dos dedos como se pudesse de
alguma forma me conectar com o bebê que estava ali.

"Oi", sussurrei, sabendo que era uma interação


unilateral. Um pequeno sorriso surgiu em meu rosto por
causa da tolice da situação. Estava falando com um ser que
nem mesmo podia me ouvir. Deitei de novo e olhei para o
teto, minha mente começou a correr pelos cenários que eu
precisaria enfrentar.
Meus pais eram conservadores e tradicionais. Eu não
estava casada, e engravidar de um namorado de pouco
tempo definitivamente não estava em meus planos. Um
bebê... quando foi a última vez que eu segurei uma criança?
Lembrei-me vagamente de pegar um primo distante no colo
quando eu era adolescente, mas isso não significava que eu
soubesse o que fazer.

Minha família não tinha crianças pequenas. Éramos


todos adultos ou adolescentes, e a ideia de um bebê em
casa era algo completamente novo para mim. Eu nem sabia
trocar uma fralda, e a simples noção disso me fez sentir um
frio na espinha. Como eu ia cuidar de uma criança quando
eu mal sabia cuidar de mim mesma em meio a tudo isso?

As dúvidas e inseguranças se acumularam, fazendo


meu peito apertar. Era como se cada pensamento me
levasse mais fundo em um abismo de preocupações. Eu
estava assustada e sobrecarregada, e não sabia por onde
começar. Olhando para o teto, as lágrimas começaram a
preencher o canto dos meus olhos. Eu não tinha todas as
respostas e não sabia o que fazer.

Só que havia uma parte de mim que sabia que não


podia simplesmente desistir. Aquela pequena vida dentro de
mim merecia uma chance, amor e cuidado. Respirei fundo e
enxuguei meu rosto. Era uma nova estrada, com um longo
caminho pela frente cheio de aprendizados, mas eu não
estava sozinha. Me concentrei nesse pensamento, e
finalmente consegui pegar no sono, deixando para trás as
preocupações por um momento de descanso.

Acordei um pouco menos estressada, tomei um longo


banho, daqueles renovadores, lavando o cabelo, depilação e
até fiz esfoliação. Escovei o cabelo, limpei as minhas
sobrancelhas e ajeitei as unhas. Deixei tudo preparado para
Cleo e saí com Cory.

Chegar mais cedo na casa de Niklas sempre me


proporcionava uma sensação agradável. Memphis abriu a
porta para mim e a governanta, a senhora Preswitt, se
apresentou, já que todas as vezes anteriores em que estive
ali, Niklas estava sozinho. Ela foi gentil ao pegar meu
casaco leve e a minha bolsa, agradeci com um sorriso antes
de entrar completamente.

— O jantar será servido quando o senhor Sterling


chegar. Gostaria de comer alguma coisa antes? — ela me
ofereceu.

— Estou bem, obrigada.

Kurt apareceu na sala, curioso para saber quem estava


ali e seu sorriso contagiante surgiu ao me ver. Ele correu em
minha direção e eu tentei pedir que não corresse, mas ele
estava tão empolgado que não conseguiu resistir. Seus
braços pequenos envolveram meu corpo em um abraço
caloroso e senti um quentinho reconfortante invadir meu
coração. Kurt era uma criança incrível.
— Não era para ter corrido desse jeito, menino.

— Estou bem, bobinha. — Ele me soltou, agarrando


minha mão e me levou para a sala. Me acomodei ao lado
dele no sofá, observando-o com ternura enquanto explicava
o que estava fazendo. Parecia estar se esforçando em seu
dever de casa e eu admirava a dedicação dos pais em
proporcionar a ele uma vida o mais normal possível, apesar
de todas as dificuldades que enfrentava com todas as
internações.

— Aqui, olha esses exercícios de matemática. Eu meio


que entendi, mas está difícil — Kurt disse, empurrando um
papel em minha direção.

Eu peguei o papel, sorrindo para ele.

— Vamos dar uma olhada juntos.

Ele começou a explicar os problemas e nós


trabalhamos juntos para encontrar as respostas. Eu o
incentivava a pensar e explorar diferentes abordagens e
seus olhos brilhavam de empolgação sempre que ele
percebia algo novo. A alegria que ele demonstrava ao
aprender era contagiante. Kurt era inteligente e
determinado como o pai.

Fiquei feliz em ajudá-lo em algo importante de sua vida,


mesmo que fosse algo pequeno como ajudar com os
deveres de casa. À medida que o fim da tarde passou,
conversamos sobre várias coisas, desde livros até suas
atividades favoritas. Eu também aprendi muito com ele.
Depois de vê-lo vulnerável no hospital, cada risada e sorriso
que dava era como um presente.

— Obrigada por me ajudar com meu dever — disse,


olhando para mim com olhos cheios de admiração.

— De nada, meu amorzinho. Você é o menino mais


incrível do mundo, Kurt. Estou muito feliz em poder passar
um tempo com você.

Paty ficou o tempo todo ao fundo, nos dando


privacidade, mas ficando perto o suficiente.

Quando Niklas finalmente chegou em casa, estava


sentada no sofá ao lado de Kurt, ambos vestindo pijamas
iguais. O pijama que eu estava usando, na verdade, era de
Niklas, o que fez com que um sorriso brincasse nos lábios
dele ao ver aquela cena.

— Kurt disse que deveríamos tomar banho e colocar


roupas de dormir para esperar o papai chegar em casa. Ele
sabia exatamente onde tinha pijamas iguais — expliquei em
tom de diversão. — Apenas obedeci o comando desse
menino.

— Então, acho que preciso sair dessas roupas de


trabalho e encontrar algo mais apropriado para vestir, assim
poderei ficar com vocês. — Niklas riu e foi diretamente para
as escadas. Ele retornou algum tempo depois usando uma
calça de moletom e uma camisa com o mesmo tom do
pijama e eu notei que aquela cena era simplesmente
natural. Nós três parecíamos uma família de alguma forma e
aquilo aqueceu o meu coração.

Com um beijo suave nos meus lábios e outro na testa


de Kurt, Niklas nos cumprimentou carinhosamente antes de
indicar que o jantar estava pronto e ele estava faminto, pelo
visto. Fomos em direção à mesa, sentando juntos. Ergui as
tampas, meu estômago roncou com os filés de frango bem
grelhados junto a uma salada de legumes cozidos, purê de
batatas e folhas verdes.

Servi nossos pratos e Niklas começou a negociar os


legumes com Kurt, tentando fazer com que ele comesse.
Aquela tentativa arrancou risos de mim. Eu não era fã de
ervilhas e cenouras, mas, em um esforço para dar um bom
exemplo, acabei enfiando um pouco delas na boca, fazendo
uma careta teatral enquanto mastigava.

— Olha só, Kurt. Emilia está comendo legumes, mesmo


não gostando muito — Niklas brincou, olhando para mim
com um sorriso divertido.

Engoli rapidamente e peguei o copo de água, bebendo


em um gole só para aliviar o sabor. Isso fez com que Niklas
soltasse uma risada sincera e eu me vi rindo com ele. Teria
que melhorar meu gosto por legumes, só gostava de batata
e brócolis, um pouco de vagem, mas dependia do modo que
era preparada, os demais, eu não comia muito.
Kurt olhou para nós dois com diversão. Eu adorava vê-
lo feliz e à vontade comigo, me dava a sensação de
pertencimento que nunca experimentara antes. Com o
bebê, estávamos formando uma pequena família, me
assustava e ao mesmo tempo, havia algo belo nascendo.

Depois do jantar, lavei a louça com Niklas, a


governanta já tinha se recolhido. Ele foi colocar o filho para
dormir e eu deitei no quarto dele. A babá não estava
presente naquela noite, então Niklas e eu teríamos um
momento de privacidade. Minutos depois, a porta se abriu e
ele entrou, com um sorriso reconfortante nos lábios.

— Ele finalmente dormiu depois de falar sem parar e


querer pular na cama — me informou. Com um suspiro de
alívio, fechou a porta e se aproximou.

Niklas deitou-se praticamente em cima de mim,


envolvendo-me em seus braços fortes. Seus beijos
começaram suaves, cheios de carinho e eu me deixei levar
por eles.

— Você está bem mesmo? — Quis saber e eu sorri,


sentindo-me acolhida e amada.

— Estou bem, Niklas. Ontem foi um susto, mas estou


bem calma agora — murmurei, meu coração aquecido por
seu afeto. — Senti sua falta nos últimos dias.

— Eu também. Vamos fazer um acordo? Nada de


ficarmos mais de doze horas sem encontrar com o outro,
combinado? Se você não passasse mal, eu só iria te ver
amanhã à noite, isso seriam quase quatro dias!

— É muito tempo, não vamos deixar isso acontecer


novamente.

Seus lábios encontraram os meus de novo e meus


dedos acariciaram suavemente sua nuca. Todas as dúvidas
sobre minha gravidez pareciam distantes. Estar ali nos
braços de Niklas era o suficiente para me fazer esquecer de
tudo. As palavras se tornaram desnecessárias nos deliciosos
beijos e abraços intensos.

Cada toque de suas mãos me trazia um conforto que eu


não sabia que precisava, até senti-los. Seus dedos
percorriam minha pele com ternura, causando arrepios em
meio ao nosso carinho noturno, cheio de mimos, a
preocupação sobre o futuro se dissipou. Eu não precisava
temer o desconhecido. Estávamos juntos.

Havia tanto que gostaria de conseguir dizer a ele, mas


certas emoções não precisavam de palavras. Nossos
corações falavam por si só. À medida que a noite avançava,
perdemos a noção do tempo, nos entregando ao outro com
prazer, intimidade e carinho. Sob o olhar da lua, nossas
almas se conectavam mais uma vez e em um abraço, no
calor dos beijos de Niklas, eu tinha certeza de que tudo
ficaria bem.
CAPÍTULO TRINTA
Emilia

A tarde do domingo seguinte a minha internação


chegou carregada de tensão e antecipação. A cozinha
estava repleta de ingredientes, panelas e aromas que
flutuavam pelo ar. Eu estava em pé, de avental, tentando
me concentrar nas receitas que estava preparando. Niklas
estava comigo com uma expressão serena enquanto mexia
delicadamente um molho. Seus olhos encontraram os meus
e ele sorriu tranquilamente, dando-me uma piscadinha
marota.

— Está indo tudo bem? — ele perguntou suavemente.

Respirei fundo e forcei um sorriso.

— Sim, está tudo indo bem. Só estou um pouco


nervosa, você sabe.

Ele abaixou o fogo e se aproximou, envolvendo seus


braços ao meu redor, me abraçando gentilmente. Seu toque
era muito reconfortante e eu me apeguei àquele carinho por
um momento antes de continuar com minhas tarefas na
cozinha. Era um gesto simples, mas significativo. Niklas
enfiou as mãos por dentro do meu avental e acariciou
minha barriga, dando um beijo no meu pescoço. Olhei para
ele, apaixonada.

— Você está fazendo um trabalho incrível, está tudo


cheiroso e vamos preparar uma comida gostosa para todos
— ele elogiou, inclinando-se para beijar minha testa. — Tem
certeza de que não quer contar hoje para os seus pais?

— Tenho. É muito cedo.

Emily conversou comigo na noite anterior e minha irmã


foi incrível em me acalmar um pouco sobre a parte médica
de uma gravidez. Ela me salientou que o primeiro trimestre
era crucial e era bom esperar antes de contar aos nossos
pais. Achei uma decisão sensata. Mas não diminuía a
ansiedade que eu sentia em apresentar Niklas à eles, afinal,
em poucas semanas, eles saberiam que seriam avós.

O dia foi passando e continuamos a cozinhar juntos,


rindo de pequenas trapalhadas que provoquei, como
começar a bater o molho no liquidificador e esquecendo da
tampa, voando líquido para todo lado, principalmente no
rosto dele e ao invés de ajudá-lo, comecei a rir sem parar.
Ele disse que eu era mestre em causar momentos
descontraídos. Niklas não tinha medo de se sujar, de
experimentar novas receitas, o que tirava a expressão de
riquinho mimado do caminho.

Terminamos de preparar toda a comida e fomos nos


arrumar, tomei banho primeiro, ele ficou passando a roupa
dele no quarto com Cleo olhando-o, deitada no travesseiro.
Eu estava nervosa e ao mesmo tempo, empolgada, com
uma sensação que me lembrava dos dias de adolescência
antes de apresentar aos meus pais um namorado, só que
daquela vez, era diferente. Niklas não era apenas um
namorado. Ele era alguém que eu estava muito apaixonada,
que imaginava construir um futuro e estaria na minha vida
para sempre como pai do meu bebê.

A mesa estava lindamente arrumada, com velas acesas


que criavam uma atmosfera aconchegante. O jantar,
perfeito, mas eu estava muito mais preocupada com a
reação dos meus pais ao conhecer Niklas. Eu não queria que
eles se sentissem surpreendidos ou desconfiados. Em todos
os comentários, havia um ar de “ele é um bilionário, ele é
alguém que vive em outro mundo”, mas o Niklas de
verdade, andava em casa descalço, comia mini cenoura
direto do pote e era surpreendente a cada nova faceta que
descobria.

A campainha tocou e o meu coração deu um salto.


Niklas sorriu e segurou minha mão, me dizendo que tudo
ficaria bem. Respirando fundo, fui até a porta e a abri, com
um sorriso enorme no rosto. Meus pais, Emily e Matthew
estavam lá, animados para o jantar. Cumprimentei-os com
abraços calorosos, tentando esconder minha ansiedade.
Niklas se aproximou, cumprimentando a todos com
gentileza e naturalidade. Seus modos eram impecáveis,
mas havia uma autenticidade nele que eu sabia que
conquistaria qualquer um.
Sentamos à mesa, servi as entradas com as primeiras
bebidas, o olhar de Niklas encontrou o meu e senti uma
onda de calmaria se espalhar por mim. Não importava o que
fosse acontecer.

— Suas plantas estão lindas, filha — mamãe comentou,


olhando minha samambaia enorme.

— Toda vez que passo por ela me pergunto como Emilia


consegue ter essa planta nessa selva de pedra — Niklas
comentou, apertando meu ombro suavemente.

— Ela ameaçou a minha vida se eu deixasse as plantas


dela morrerem quando viajou. — Emily brincou, me fazendo
rir.

— Eu nunca imaginei que Emilia pudesse cuidar de


qualquer coisa. A pessoa que sempre foi cuidadosa lá em
casa, era Emily, Emilia era avoada, pensativa — mamãe
continuou e suspirei. Claro, ela sempre pensava que eu não
era capaz de fazer qualquer coisa. Ignorei e decidi servir o
jantar.

Meu pai, carinhoso, elogiou a comida e eu me esforcei


para esconder minha satisfação. Niklas e eu
compartilhávamos olhares discretos de orgulho. Nossos
esforços valeram a pena.

— Esse salmão está incrível, Emilia — disse minha mãe


com um sorriso.
— Obrigada, mãe — respondi, sentindo um sorriso
tímido se formar em meus lábios.

— Vocês realmente se superaram — Emily acrescentou,


e eu assenti, agradecendo o elogio.

Matthew teve que sair inesperadamente para uma


emergência, coisa de sua profissão, afinal, ele era médico
especialista em trauma e seu telefone nunca parava de
tocar. Prometi que faria uma marmita para que Emily
pudesse levar para ele comer mais tarde. Mesmo com essa
breve interrupção, conversas animadas se desenrolaram ao
redor da mesa. Meu pai e Niklas estavam envolvidos em um
papo interessante sobre esportes e eu sorri, feliz por ver
que eles estavam se dando bem. Eu tinha esperança de que
meu pai aprovasse Niklas, e a cena diante de mim era um
bom indício de que isso estava acontecendo.

Emily mencionou o quanto a mesa estava linda com as


flores e velas e eu ri, admitindo que havia passado algum
tempo organizando cada detalhe. Niklas serviu mais vinho,
notei minha mãe me observando, percebi que logo viria
uma pergunta sobre o motivo de eu não estar bebendo. Ela
não demorou a abordar o assunto.

A mulher não deixava passar nada.

— Você não está bebendo vinho? — perguntou com um


olhar curioso.

Eu sorri e rolei os olhos de forma brincalhona.


— Ah, mãe, você sabe como é. Às vezes, a gente
precisa se cuidar. A médica me proibiu de misturar álcool
com os medicamentos que estou tomando.

Minha irmã entrou na conversa, apontando para si


mesma com um sorriso malicioso.

— Ela está falando a verdade. Fui testemunha da


consulta dela, melhor dizendo, eu fui a médica da consulta
dela.

Minha mãe riu, aceitando a explicação.

— Bem, querida, é importante seguir as orientações


médicas. Melhor não arriscar.

Balancei a cabeça concordando, agradecendo


internamente por Emily ser tão boa em inventar histórias
plausíveis, porque apesar de ser jornalista, eu era péssima
em mentir. A verdade era que eu não queria levantar
suspeitas ou preocupações antes do momento certo para
contar sobre a gravidez. A explicação sobre os
medicamentos e a infecção parecia suficiente para acalmar
minha mãe.

Planejei aquela noite com cuidado e estava feliz por ver


tudo se desenrolar da maneira que eu havia imaginado.
Mesmo com o segredo da gravidez pesando em minha
mente, foi perfeito porque meus pais ficaram confortáveis
com meu namorado e viram que apesar de toda a fama, ele
era um ser humano maravilhoso. Foram embora tarde da
noite, Niklas e eu lavamos tudo, guardamos e fomos dormir,
estava exausta, meus pés doendo e minha cabeça começou
a doer repentinamente com um enjoo do tanto que havia
comido no jantar.

No dia seguinte, Niklas e eu chegamos juntos à


empresa e eu estava me sentindo um pouco mais enjoada
do que o normal. Bom… talvez aquele fosse o meu novo
normal. Segurando a mão dele, busquei conforto em sua
presença, encostando minha cabeça em seu braço e cobri
minha boca, para esconder o meu bocejo. Jim estava na
entrada e nos cumprimentou, mas eu percebi uma
expressão preocupada em seu rosto.

— Vocês estão bem? — ele perguntou, a voz soando


um pouco tensa.

Olhei para Niklas, que franziu o cenho e depois para


Jim.

— Sim, estamos bem — Niklas respondeu.

A expressão de Jim não parecia convencida, e eu sabia


que algo estava acontecendo. Preocupação se misturava
com curiosidade em meu peito.

— O que está acontecendo? — perguntei, minha voz


carregada de apreensão.

Jim suspirou e fez um gesto para que entrássemos em


sua sala. Niklas preferiu ficar em pé atrás de mim enquanto
eu me sentava na poltrona, um nó de ansiedade se
formando em meu estômago.

— Como vocês estão lidando com o relacionamento


agora? — Jim começou, observando-nos atentamente.

Niklas e eu trocamos um olhar antes de responder.

— Estamos levando isso a sério — Niklas respondeu


com a voz firme. — Está me deixando preocupado, Jim.

— Sim, não é mais um acordo contratual — acrescentei,


sentindo um leve rubor em meu rosto. Ele meio que nos
uniu, só que sempre deixou claro que seria uma relação de
trabalho. Niklas e eu que misturamos tudo, mas Jim nunca
fez com que eu me sentisse mal por isso, ele sorria sempre
que nos via juntos.

Jim assentiu, parecendo avaliar nossas palavras.

— Bom, acho que é melhor vocês saberem... A última


internação de Kurt vazou para a imprensa.

Meu coração deu um salto. Meus sentimentos


conflitantes sobre a gravidez foram momentaneamente
deixados de lado diante dessa nova revelação. Olhei para
Niklas, preocupada, e ele parecia igualmente alarmado.

— O que você quer dizer com 'vazou para a imprensa’?


— perguntei, minha voz um pouco trêmula.
Jim suspirou novamente, encostando em sua mesa.
Niklas ficou muito tenso.

— Parece que alguém conseguiu tirar fotos suas e de


Kurt no hospital. Soube por fontes seguras há alguns
minutos que Bryan Hudson comprou essas fotos e,
aparentemente, elas foram tiradas quando a porta estava
aberta no corredor, antes de vocês serem movidos para
uma área mais privada.

A notícia me atingiu como um soco no estômago.


Fotografias nossas no hospital, Kurt doente, tudo isso sendo
explorado por paparazzi. Aquilo era a última coisa que a
família precisava. Olhei para Niklas, minha mão apertando a
dele em busca de apoio. Seu rosto parecia uma pedra. E o
olhar… me trouxe arrepios e não em um bom sentido.

— Isso é terrível — murmurei, meu estômago se


revirando de ansiedade.

Niklas permaneceu ao meu lado com sua presença


reconfortante. Jim assentiu, a expressão séria.

— Estamos lidando com isso da melhor forma possível.


Nossa assessoria está trabalhando para controlar os danos,
mas eu achei importante que vocês soubessem porque
dessa vez…

Respirei fundo, tentando acalmar meus nervos.

— Obrigada por nos informar, Jim — falei quando


percebi que Niklas estava com o maxilar trincado demais
para responder qualquer coisa. Entendi o motivo pelo qual
ele questionou sobre o nosso relacionamento, Kurt era um
tema pessoal e íntimo para Niklas e Jim ainda não sabia que
eu o conheci, porque para não chamar a atenção, nem
todos os parentes iam para o hospital visitar o menino.

Ele assentiu novamente e nos deu um olhar


compreensivo.

— Vocês têm o meu apoio. E, se precisarem de algo,


não hesitem em falar. E meu filho…

— Está tudo bem, Jim.

Niklas agradeceu a ele e então nos retiramos da sala, o


peso da situação ainda pairando em nossos ombros.
Caminhamos em silêncio pelo corredor e segurei a mão de
Niklas com força.

— Acho que isso é só o começo — comentei, minha voz


ainda carregada de preocupação.

Niklas suspirou, apertando minha mão.

— Tenho que ligar para a mãe do Kurt.

— Sim, é claro.

Niklas fechou a porta de seu escritório e trancou. Ele


pegou o celular e ligou para sua ex-mulher, que atendeu no
segundo toque, preocupada. Kurt estava na escola, então,
eles imediatamente ficaram atentos às mensagens um do
outro, mas era só um momento de articular uma forma de
manter a doença longe dos holofotes da imprensa.

A conversa começou calma, alguns minutos depois, o


noivo dela entrou na discussão e enquanto a chamada com
Cynthia e Elias continuava, a sensação de urgência pairava
no ar. Era hora de tomar uma decisão importante sobre
como lidar com a mídia e a doença de Kurt. Minha
ansiedade estava à flor da pele.

Niklas conduziu a conversa de maneira firme e eu o


ouvia atentamente. Cynthia estava calma. Pensei em algo
e… escrevi minha ideia em um papel, mostrando a Niklas.

— Emilia tem uma sugestão interessante. — Ouvi Niklas


dizer, e meu coração acelerou enquanto eu me preparava
para falar.

— Eu acho que a melhor maneira de lidar com isso é


fazer um comunicado conjunto — comecei, minha voz firme.
— Se nós quatro, como família e companheiros, deixarmos
claro que estamos unidos e comprometidos com o bem-
estar de Kurt, isso pode neutralizar qualquer tentativa de
Bryan de explorar a situação. Ele gosta de usar várias
narrativas, claro, que de algum modo, vão envolver Elias e
eu, por causa da co-parentalidade.

— Você está certa, Emilia. As pessoas precisam saber a


verdade. Nós somos uma família, e nosso foco é o
tratamento e o amor por Kurt — Cynthia concordou. — Esse
homem é sujo, temos que olhar por todos os ângulos e eu
não vou permitir que use meu filho de nenhum modo.

— Estou com Emilia nessa. Será uma mensagem


poderosa — Elias comentou.

— Então, faremos isso. Vamos elaborar esse


comunicado e acabar com a narrativa dele. Vamos nos
falando. — Niklas encerrou a chamada e me olhou, sem
esconder que estava sentindo raiva.

Seus olhos pareciam chamejar em determinação, e eu


sabia que ele estava disposto a fazer qualquer coisa para
proteger Kurt. Ele pegou o telefone de novo e vi que ligou
para alguém chamado Arthur Baxter. Eu não sabia quem
era, mas prestei atenção enquanto Niklas explicava a
estratégia. Minhas sobrancelhas quase uniram-se ao meu
couro cabeludo, mas encostei na poltrona, segurando os
braços.

— O que você está fazendo?

— Arthur é meu parceiro de negócios e irmão de um


dos meus melhores amigos — Niklas explicou. — Ele tem
pessoas, que tem pessoas dentro dos negócios de Bryan e
está bem informado sobre o que ele está planejando.

— E o que tem?

— Bom. Eu tenho bons amigos. — Niklas deu de


ombros. — Comprei a maior parte das ações do novo
empreendimento do Bryan sem que ele soubesse. Ele tem
um sócio, ele acha que tem um sócio. Na verdade, sou eu. A
pessoa que ele se comunica é só um idiota, que outro idiota
paga para ser o CEO. Assim, Bryan não consegue chegar até
mim.

— Você deu um golpe e eu me achei mestre em usar o


dourado. Isso é brilhante, Niklas — comentei, admirando
sua astúcia.

Ele sorriu, mas havia um toque de amargura em seu


olhar.

— Bryan não vai usar Kurt contra nós. Não permitirei


isso.

A intensidade de suas palavras ecoou em minha mente.

— Eu sei que não.


CAPÍTULO TRINTA E UM
Niklas

Chegamos à casa da minha ex-mulher e senti certo


alívio por Kurt estar na escola, assim teríamos a chance de
conversar abertamente sobre a situação e fazer todos os
planos necessários sem os ouvidos atentos dele. Cynthia e
Elias nos receberam, mas Cynthia ainda precisava finalizar
uma reunião com a sua assistente. Emilia parou no corredor,
observando o quadro de horários de Kurt e eu me aproximei
ao seu lado, sabendo que sua mente estava trabalhando.

— O Halloween está chegando — ela comentou,


olhando as datas no quadro. — Parece que este ano será
com você.

Assenti, lembrando-me das conversas que tivemos


sobre a rotina de Kurt e as datas importantes divididas entre
Cynthia e eu. Em algumas, passávamos todos juntos, para
que ele tivesse memórias com os pais juntos.

— Sim, ele passará o Halloween comigo.

Emilia pareceu pensativa por um momento e então


falou sobre buscar fantasias e sair para pegar doces no
bairro. Percebi pelo modo animado que era uma tradição
importante para ela. E eu queria fazer parte também.
— Minha assistente costuma cuidar disso — expliquei,
me sentindo um pouco desconfortável por não fazer essas
coisas pessoalmente. — Ela já sabe as preferências dele e o
tamanho das fantasias.

— Sua assistente? — Emilia virou-se, meio irritada. Ah,


os hormônios. — Nós vamos sair e buscar fantasias. Kurt vai
amar sair pelo bairro e pegar doces, se ele estiver se
sentindo bem. Estou vendo aqui, que uns dias antes, ele
tem quimio.

— Se ele estiver enjoado, faremos algo mais reduzido


em casa, respeitando o ritmo dele.

— Você tem uma agenda como essa para o Kurt? — ela


perguntou, olhando para mim. — Pode deixar comigo, para
que eu possa fazer parte da rotina dele também, se você
quiser.

Fiquei tocado com o gesto dela. Era uma oferta sincera


de se envolver mais na vida de Kurt e, por extensão, na
minha vida. Ainda era difícil acreditar que tudo isso estava
acontecendo, que nós dois estávamos formando uma nova
família, com Kurt na co-parentalidade e mais um bebê a
caminho, mas ali, ironicamente, na casa da minha ex-
mulher, eu vi que tinha encontrado a pessoa da minha vida.

— Emilia — comecei, minha voz suave depois de limpar


a garganta. — Acho que isso seria ótimo. Quero que você
faça parte da vida do Kurt, da nossa vida. Somos uma
família agora.
Um sorriso suave curvou os lábios dela, e senti o calor
de sua mão na minha, entrelaçando nossos dedos. Era um
movimento simples que significava muito para mim. Nós
estávamos unidos e construindo algo valioso. Uma família
que eu estava determinado a proteger e amar com tudo o
que tinha.

Assim que Cynthia terminou sua reunião, sentamos


todos na sala de jantar, debatendo as opções de
informações que colocaríamos em nosso comunicado. Não
era simples para mim abrir minha vida privada, ainda mais
qualquer coisa relacionada ao Kurt. Até porque, eu não
queria que a mídia pensasse que podia ir longe demais.
Precisaria estabelecer limites muito rígidos nessa
comunicação com o público.

Um pouco mais tarde, recebi a notícia de que um


programa de televisão estava prestes a lançar uma
reportagem sensacionalista sobre a doença de Kurt e aquilo
me fez sentir uma mistura de raiva e preocupação. Eu sabia
que a mídia podia ser implacável, fui alvo dela muitas
vezes, mas a ideia deles explorarem a situação delicada do
meu filho para ganhar audiência me enfurecia. Comecei a
discutir a situação com Cynthia, e Emilia conseguiu mais
informações através de sua amiga Jenna, que tinha amigos
na produção do programa.

Pelo menos agora tínhamos um pouco mais de


conhecimento sobre o que estava por vir.
Cynthia e eu sentamos para escrever o comunicado
como pais, com a ajuda de Elias, que era um advogado bem
eloquente, e percebi que Emilia estava imersa em seus
próprios pensamentos.

— Está tudo bem? — questionei a ela.

— E se criarmos um vídeo com os bastidores do


tratamento do Kurt e os melhores momentos da vida dele
para postar com o comunicado?

— E por que faríamos isso? — Cynthia estava confusa.


— Eu não sou jornalista, sou advogada e cética, só quero
entender.

— Comoção. Minha ideia é roubar a narrativa de


sensacionalismo e controlar a pauta. Limitar o que eles
poderão falar e tirar a novidade, trazer o público para o
nosso lado e qualquer tentativa de audiência em cima de
uma criança doente poderá nos dar abertura para que
vocês, advogados, entrem com tudo do modo que for
melhor — Emilia explicou. Ela e Cynthia trocaram um sorriso
meio perverso.

— Eu adorei isso… eles não vão usar o meu filho sem


sentir a minha fúria de volta.

Achei a sugestão incrível, uma maneira de mostrar ao


mundo que nossa família nunca teve vergonha do Kurt ou
de sua doença, mas sim, sempre quis protegê-lo. E também
deixar claro que continuaríamos investindo em pesquisas
para avanços em tratamentos contra o câncer. Segurei a
mão de Emilia, apertando seus dedos, agradecendo.
Estávamos convictos de que iríamos conseguir.

Assim que tudo estava pronto e revisado pela equipe


de marketing e assessoria de imprensa da família Sterling,
postamos o comunicado e o vídeo antes do programa de
televisão, com o objetivo de controlar a narrativa e evitar
que a mídia distorcesse a verdade. A ansiedade estava
presente, era impossível conter a reação das pessoas na
internet, mas também senti uma sensação de dever
cumprido por estar tomando medidas para defender o nosso
filho.

Kurt chegou em casa vindo da escola e foi um alívio vê-


lo alegre como sempre. Cynthia e eu estávamos com Elias e
Emilia para apoiá-lo. Ver a expressão de alegria em seu
rosto ao nos encontrar, a sensação de que ele estava
cercado de amor e apoio, aqueceu o meu coração de
maneira indescritível. Quando planejamos ter um filho,
Cynthia e eu prometemos que faríamos de tudo para que
ele sempre fosse amado acima de qualquer coisa.

— Kurt! Meu campeão! — eu o cumprimentei com


entusiasmo.

— Papai, mamãe! — ele exclamou, correndo para


abraçar a mim e a Cynthia. Paty nos deu um olá também e
foi para a sala ao lado, deixar as coisas dele.
Emilia e Elias estavam sorrindo calorosamente também
e todos nos abraçamos, formando um grupo unido. Elias
convidou Emilia e eu para jantarmos, e deixei que ela
decidisse, ficando com eles até o momento em que
estivesse confortável. Emilia aceitou para a felicidade sem
fim do Kurt em ter “todos que ele amava em casa”.

Jantamos juntos, compartilhando histórias engraçadas


das trapalhadas de Emilia na entrevista com o editor chefe
e Cynthia disse que seu pai era do setor de comunicação,
que ela o apresentaria para que Emilia tivesse ainda mais
conexões no meio.

Cynthia não era próxima dos pais, foi criada por babás
a vida inteira e se não fosse nossa madrinha, Amelia e os
acampamentos de verão, ela seria ainda mais solitária.
Dizer que apresentaria o pai para Emilia significava que as
duas tinham laços reais. Eu olhei ao redor da mesa com
gratidão. Nossa família estava ali, enfrentando as
adversidades complicadas e demonstrando apoio
incondicional um ao outro.

Todas as preocupações pareciam um pouco mais leves.


Kurt estava cercado por uma rede de amor e esperança.

Depois da sobremesa, levei Emilia para a casa dela


porque estava um pouco preocupada de ter deixado Cleo
sozinha por muito tempo. Entendia como os animais de
estimação eram importantes, então, questionei como
faríamos para que Cleo se acostumasse comigo e com as
mudanças que estavam por vir.

— O que você quer dizer com isso? — Emilia perguntou,


meio confusa.

— Quando for começar sua mudança para minha casa,


Cleo precisará se acostumar comigo e com um novo lar.

Emilia ficou ainda mais confusa, olhando-me como se


eu fosse um louco.

— Hum?

— Você vai se mudar para minha casa, certo? — Fiquei


meio incerto. — Começar a nossa vida em família, preparar
o quarto do bebê, ter muito sexo e nada mais de dias com
saudades um do outro.

Emilia levantou as mãos, expressando surpresa.

— Não é cedo demais? — ela soou ofegante.

— Baby, literalmente, tem um bebê na sua barriga.


Estamos prestes a ser pais e eu quero passar cada
momento dessa gestação ao seu lado. — Apontei para sua
barriga, puxando-a suavemente para mim. — Além do mais,
quero acordar todas as manhãs ao seu lado, sentir seu
cheiro na minha cama, seu corpo no meu… e sabe, de
manhã cedo, quando você está particularmente manhosa e
se esfrega todinha em mim…
Enquanto conversávamos, percebi que Emilia estava
derretendo sob o meu olhar. Senti o calor de seu abraço e
ela concordou com a cabeça, pensando sobre a proposta.
Era uma decisão importante, com muitas mudanças
acontecendo de uma vez só, e eu a entendia
completamente por estar um pouco assustada.

— Eu vou pensar sobre isso.

— Dirijo uma empresa de sucesso, mas também tenho


certeza de que posso convencer a mulher mais incrível do
mundo a morar comigo — disse com um sorriso brincalhão.

Ela riu, a expressão suavizando enquanto me olhava


nos olhos, ficando nas pontas dos pés e beijando minha
boca. Era evidente que ela queria pensar seriamente, mas
também queria que ela tomasse a decisão quando estivesse
pronta, tendo a certeza do quanto eu a adorava, desejando
construir uma vida juntos e o quanto estava ansioso para
ser um pai presente.

Envolvi meus braços em volta dela, mantendo-a perto


de mim, dando um aperto bem gostoso e desci minhas
mãos para seu bumbum.

— Seja qual for a sua decisão, saiba que estarei ao seu


lado, amando e apoiando você.

— Ah, para! Assim eu vou chorar!

— Não quero seu choro, linda. — Segurei seu rosto e lhe


dei um beijo, ela me provocou com sua língua, agarrando
minha camisa e disse que deveríamos ir para o quarto para
relaxarmos um pouco.

Foi um dia tenso e cheio de acontecimentos, decidimos


tomar um banho juntos, buscando chamego um no outro e
no calor da água. Ao terminarmos, avisei a Memphis e à
segurança remota que não iríamos sair mais e voltei para o
quarto, depois de colocar comida para Cleo, na tentativa de
conquistá-la. Gata difícil. Ela só me olhou de longe, com um
ar de superioridade. Emilia estava enrolada em um roupão
quando me aproximei, peguei o frasco de creme das mãos
dela e o coloquei na cama. Meu olhar encontrou o dela e
segurei sua mão, começando a distribuir beijos suaves em
seu pulso, erguendo a manga do roupão.

A cada beijo, eu a sentia arrepiar. Subi até seus


ombros, saboreando a sensação de sua pele sob os meus
lábios. Minha boca encontrou o colo de seus seios e suguei
a parte macia de seu pescoço, logo acima da pulsação.
Emilia soltou um gemidinho e soube que estava sentindo a
mesma eletricidade que percorria pelo meu corpo.

— O que esse beijo significa, Niklas? — ela murmurou,


olhando-me excitada.

— É o meu beijo de boa noite — respondi com um


sorriso malicioso.

Ela não estava satisfeita com aquela resposta e me


agarrou, demonstrando que queria mais. Não consegui
resistir ao desejo que também estava queimando dentro de
mim. Com cuidado, tirei o roupão dela, revelando seus seios
e inclinei-me à frente, levando-a para a cama, capturando
seu mamilo entre meus lábios e puxando de forma suave.
Emilia agarrou meu cabelo, empurrando o torso em minha
direção. Deixei minhas mãos explorarem cada pedacinho de
seu corpo maravilhoso, como se estivesse memorizando
cada centímetro dela para guardar em mim para sempre
porque eu estava profundamente apaixonado.

Beijei seu ventre e eu não pude evitar a sensação de


adoração que sentia por ela se espalhar pelo meu coração.
Emilia me olhou, emocionada. Dei uma suave mordida em
seu quadril, sentindo-a arquear ligeiramente, então, subi
por seu corpo, tomando seus lábios em um beijo ardente.
Quando quebramos o beijo, olhei nos olhos dela e ouvi sua
voz sussurrando que me amava. Meu coração parecia que ia
explodir no peito e um sorriso rasgou na face. Segurei seu
rosto entre minhas mãos, olhando profundamente em seus
olhos.

— Eu também te amo, Emilia — disse com sinceridade,


minha voz carregada de emoção.

Livrando-se completamente do roupão, joguei a minha


toalha longe e era uma delícia sentir seu corpo nu contra o
meu. Emilia arranhou meus braços e costas enquanto me
beijava. Ela afastou as pernas, dando-me uma bela visão de
sua boceta gostosa e explorei suas dobras com meus dedos.
Acariciei seu clitóris, provocando, adorando o estremecer do
seu corpo com meu tesão quase me fazendo explodir.
Bombeei meu pau para acalmar minha vontade.

Emilia era má.

Ela sentou e me agarrou, esfregando-se em mim, rindo


com o gemido que escapou dos meus lábios. Agarrei sua
bunda rudemente, mudando de posição para que sentasse
em meu colo.

— Rebola gostoso, vai.

Sorrindo com toda ciência de que me tinha em suas


mãos, ela segurou meu pau e o encaixou em sua entrada,
descendo. Porra, puta que o pariu, fechei os olhos,
mordendo o lábio com força, todo arrepiado. Emilia apoiou
as mãos nos meus ombros, estávamos bem encaixados, era
uma delícia. Enfiei meus dedos em seus cabelos, atacando o
pescoço, queixo, lambendo os lábios e por fim, beijando-a,
com meu pau todo enterrado dentro dela, sentindo suas
incríveis reboladas.

Eu a deitei, unindo seus joelhos e colocando as pernas


de lado. Voltei a meter, ela segurou a cabeceira, mordendo
o punho para não gemer alto e tirei de sua boca, porque
queria ouvir tudo. Emilia agarrou os próprios seios,
manipulando os mamilos e era uma visão do caralho, ela
me fazia perder toda a compostura e educação no sexo.

— Não para, continua, ai meu Deus… — ela murmurou,


dando indícios de que iria gozar. Era o meu espetáculo
particular favorito. Sua boceta ainda estava me apertando
cruelmente quando mudamos de posição, ela deitou de
bruços, empinando a bunda, rebolando e me provocando.
Colei minha boca em seu ouvido.

— Eu amo você, gostosa.

— Ah, Niklas!

Era mágico estar com ela, como se meu coração


batesse no mesmo ritmo. Eu me deixei levar, perdido em
uma miríade de emoções físicas intensas que borbulhavam
com a conexão linda que tínhamos. Ela virou depois que
gozei, completamente sem fôlego e riu do meu estado
perdido. Abraçados, nossas bocas se encontraram sem
dificuldade. Eu queria tê-la todo dia.

— Acho que morar junto vai ter muitos benefícios —


falei baixinho.

— Depende. Serei deliciosamente fodida desse modo


sempre que eu quiser?

— Sempre, sempre.

Emilia sorriu contra meus lábios.

— Se já não tivesse engravidado, hoje teria. Você gozou


com tudo…

Abri um sorriso sem culpa. Se com a camisinha


conseguimos produzir uma criança, se não quiséssemos
mais filhos, era melhor fazer uma vasectomia.

— E eu farei isso novamente…

Emilia deu uma mordida no meu ombro, murmurando


por favor e decidi dar um orgasmo a minha mulher ainda
mais intenso que o anterior.

Mais tarde, estava sentado na sala, lendo as reações


das pessoas em relação ao comunicado sobre a doença do
Kurt. Os comentários eram variados, desde mensagens
solidárias de apoio até ataques cruéis e insensíveis. A
assessoria de imprensa relatou que a média de impacto era
positiva, o que era um alívio, pois desviava o foco do
programa sensacionalista que tentava explorar a situação
de maneira deturpada.

Ao meu lado, Emilia dormia tranquilamente, ela ficou


irritada com o programa, mas consegui acalmá-la o
suficiente. Sua respiração calma e serena também me
relaxava. Olhei para sua barriga, um nó se formando em
minha garganta. Ela estava grávida, algo que eu nunca
esperava que acontecesse. Aos quarenta anos, não podia
me dar ao luxo de ser irresponsável com uma gravidez
inesperada. Era minha responsabilidade também. Nós dois
tínhamos feito aquilo juntos, com paixão e entrega. Mas em
meio a tudo o que estava acontecendo em minha vida, eu
me sentia confuso.

O momento era uma mistura de emoções


contraditórias. Não conseguia aceitar plenamente a
realidade de perder um filho e, ao mesmo tempo, ganhar
outro. A complexidade das situações me deixava perplexo.
Emilia e o bebê não tinham culpa das lutas internas que
ocupavam meu coração. Eu sabia que precisava lidar com
esses sentimentos e enfrentar a realidade.

Olhei novamente para Emilia, meu amor adormecido ao


meu lado. Ela era forte, nunca recuava nos problemas, tinha
seus conflitos internos e ainda assim, ficava de pé. Era
corajosa, enfrentava tudo com determinação. Eu me
perguntava se eu seria capaz de ser o homem que ela
merecia. Nossa vida estava tomando um rumo
completamente inesperado, mas eu estava muito disposto a
fazer o meu melhor por nossa família.

Estava determinado a ser o melhor que Kurt merecia, a


enfrentar o desafio de ser pai novamente e a construir uma
vida feliz e estável que pensei que não faria depois do meu
divórcio. Olhei para o futuro com esperança, eu era um
homem adulto e forte o suficiente para superar qualquer
obstáculo que viesse em meu caminho.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
Emilia

Ao entrar no meu pequeno apartamento, suspirei ao ver


todas as caixas que agora dominavam o espaço. A decisão
de morar com Niklas foi tomada depois de muita reflexão e
ponderação nos últimos dias. Não queria passar a gravidez
longe do pai do meu bebê, e se estávamos dispostos a
formar uma família, então era hora de unir nossas vidas de
uma vez por todas. Olhei ao redor, vendo o lugar onde
passei tantos momentos, praticamente desmontado.

Após a primeira consulta com a ginecologista e


obstetra, que confirmou as semanas iniciais da minha
gestação, fiquei pensando sobre a mudança. Não era uma
decisão fácil, afinal, estava deixando para trás um lugar
onde construí lembranças, minha independência. Mas no
final, disse para Niklas abrir um espaço no armário,
simbolizando que eu estava pronta para essa nova fase.

Primeiro, começamos a levar algumas coisas leves,


roupas e pertences pessoais. Claro, Cleo foi a primeira a
explorar o novo ambiente, para se acostumar com sua nova
casa. Comunicar minha família sobre a decisão também foi
um passo importante, meu pai perguntou se eu estava certa
disso, de dar esse passo em um relacionamento tão jovem,
mas que ele sempre me apoiaria e sempre teria espaço
para mim na casa deles. Mamãe não falou nada. Era para
entender que ela concordava com meu pai, mas eu a
conhecia, ela se calava quando não concordava.

E eu meio que entendia. Eles ainda não conheciam meu


namorado completamente e preferiam que eu morasse com
um homem depois de casar. Emily e Matthew não moravam
juntos, porém, era uma decisão deles e não tinha nada a ver
em como minha irmã conduzia a vida dela.

Niklas, como sempre, agiu rapidamente e contratou


uma equipe para cuidar da mudança. Doei meus móveis
antigos, já que não havia espaço para eles e nem fazia
sentido levá-los para casa do Niklas.

Encostei na parede e contemplei o espaço vazio do que


costumava ser meu pequeno refúgio, lembrando das
lágrimas que derramei ali. Quando entrei pela primeira vez,
eu tinha apenas algumas malas, a caixa protetora da Cleo e
muitas emoções tumultuando meu coração. Foi ali que me
reestruturei, escrevi inúmeras palavras, falei comigo mesma
e peguei sol no pátio enquanto buscava clareza sobre o que
fazer da minha vida.

Aquele apartamento de porão foi mais do que um lugar


para morar. Foi onde cresci emocionalmente, enfrentei
meus medos e descobri minha força interior. Foi onde
aprendi que podia ser eu mesma, que precisava lidar com
meus traumas do passado e definitivamente, não merecia
um relacionamento como tive com Benedict. A cada tijolo
vermelho nas paredes, via um pedaço de mim. Peguei uma
caneta que usei para marcar as caixas e escrevi uma
mensagem para o próximo morador, um lembrete para que
aproveitasse cada momento ali e se permitisse ser feliz.

Estava na hora de seguir em frente, de criar um novo


lar com Niklas e preparar um espaço para a chegada do
nosso bebê. Apesar das lembranças que deixaria para trás,
estava me sentindo pronta para abraçar o futuro e construir
uma nova história ao lado da pessoa que amava. Com um
sorriso no rosto, fechei a porta do apartamento, deixando
para trás os momentos preciosos que vivi ali e as caixas que
a empresa iria levar mais tarde.

Cory me levou para a cobertura do Niklas e eu estava


um pouco enjoada, mas tinha trabalho a fazer. Sentei em
minha nova casa, com o computador no colo e Cleo ao meu
lado. Gatos odiavam mudanças e isso era evidente na
maneira como ela estava grudada em mim, buscando
conforto sempre que estávamos sozinhas. Fiquei digitando
um novo conto que estava fluindo na minha mente e me
sentia estranhamente inspirada demais para desperdiçar
aquela ideia.

Além disso, havia uma série de compromissos de Niklas


que requeriam a minha atenção, desde discursos até
questões relacionadas à sua imagem pública. Ainda estava
envolvida em cuidar desse aspecto da vida dele, algo que
eu gostava de fazer para apoiá-lo, por saber que sua
dificuldade de se relacionar com pessoas fora do seu meio
de conforto era real.
— Gostaria de algo para beber, Emilia? — A voz gentil
da senhora Preswitt me tirou momentaneamente da minha
concentração. A pergunta me pegou de surpresa, afinal, não
estava acostumada a ter alguém por perto, muito menos
alguém se oferecendo para me servir.

— Estou bem, obrigada.

— Ainda enjoada? — questionou, preocupada. Ela sabia


que estava grávida e era uma das poucas pessoas. Achei
melhor contar para não parecer que eu era uma louca
esnobe que simplesmente corria para vomitar a comida dela
no café da manhã. Niklas ficou rindo, dizendo que ela era
uma funcionária leal e discreta, que não faria perguntas.
Mas eu me senti melhor assim.

— Um pouco. Acho que vou ficar bebendo apenas água


até passar.

Antes que ela pudesse responder, a energia


contagiante de Kurt preencheu o ambiente com a sua
chegada da escola, irradiando alegria. A pequena Cleo,
surpreendentemente, não fugiu dele como fazia com a
maioria das pessoas. Em vez disso, ela se deixou ser
mimada por Kurt e eu sorri. Ele pulou em mim, distribuindo
beijos e carinhos, oh, garoto. Ele me fazia sentir meu
coração se aquecer. Não havia nada como o amor puro e
genuíno de uma criança.

— Vá tomar seu banho com a Paty e eu te faço


companhia no dever de casa — falei com ele, limpando o
suor de suas bochechas rosadas. Ele era a misturinha
perfeita dos pais. Cabelo claros como os da mãe, sardas no
nariz e olhos castanhos iguais aos do pai. Ele foi correndo
na frente, mesmo com a babá pedindo para que
desacelerasse um pouco.

Continuei digitando com a gatinha ao meu lado e o som


das risadas de Kurt preenchendo o espaço. Quando ele
voltou, ensinei-lhe o dever, ele comeu e falou com sua mãe
por chamada de vídeo. Niklas chegou em casa mais cedo.
Estávamos empolgados com o nosso primeiro programa em
família. O plano era sair para caçar fantasias para o
Halloween, algo que eu estava ansiosa para fazer. Além das
fantasias, também queria pegar decorações temáticas e
alguns doces para entrarmos no clima.

Assim que Niklas entrou, Kurt correu para ele, pulando


em seu colo. Cleo, por outro lado, não parecia tão
empolgada com a chegada dele, correndo para se esconder.
Niklas riu e murmurou que um dia conquistaria a gata,
assim como tinha conquistado a dona dela. Essa relação
entre Niklas e Cleo sempre me fazia rir.

Depois de nos arrumarmos, saímos de casa


acompanhados por Memphis e Cory, nossos guarda-costas.
O destino era um shopping luxuoso onde encontraríamos
tudo o que precisávamos. Kurt estava animado, cheio de
histórias para contar sobre a escola e suas aventuras,
andando entre o pai dele e eu. Peguei um mapa para me
orientar, porque o lugar era enorme e não estava
acostumada. Era do lado oposto de onde costumava morar,
eu nunca atravessaria a cidade para ir a um shopping.

A primeira parada foi em uma loja de fantasias. Kurt


experimentou várias e a paciência dele me surpreendeu.
Encontrei a fantasia perfeita para ele, assim como algumas
roupas para deixar na casa do pai. Ele adorou as roupas,
querendo usar um dos casacos logo. Depois das fantasias,
passamos em algumas lojas para pegar os elementos que
eu e Niklas usaríamos. Eu me diverti escolhendo acessórios
e pensando em como aquela seria a primeira vez que
passaríamos o Halloween juntos.

Antes de voltarmos para casa, fizemos uma parada em


uma livraria. Escolhemos novos livros para Kurt e para nós
mesmos, um título sobre maternidade chamou minha
atenção. Era uma temática que eu não dominava, mas que
estava pronta para aprender e seguir meu próprio instinto
quando o momento chegasse.

No caminho de volta para casa, olhei para Niklas e Kurt,


falando sem parar. Nós paramos para comer em um bistrô.
Eu me deliciei com uma pizza e depois, com um bolo de
chocolate para sobremesa. Kurt comeu macarrão ao sugo
com muito queijo em cima, ganhando o direito de escolher a
sua sobremesa e optou por sorvete de morango. Niklas ficou
no filé, ele amava carne. Chegamos em casa na hora de
começarmos a rotina da noite.
Estava aprendendo que apesar dele ter sete anos, era
preciso mandar tomar banho e depois, era muito necessário
implorar para que ele saísse do chuveiro. Por fim, fazê-lo
parar para vestir a roupa de dormir. Niklas ia diminuindo as
luzes para criar um ambiente mais aconchegante e desligar
a energia do filho, mas só de pensar que no dia seguinte ele
teria quimioterapia, dava um pouco de vontade de deixá-lo
fazer o que quisesse.

Depois de fazer Kurt dormir, saímos de seu quarto e nos


encontramos no corredor, sorrindo um para o outro. Era a
primeira vez que isso acontecia desde que eu oficialmente
me mudei. Em um gesto silencioso, nos afastamos do
quarto dele.

— Estou com vontade de tomar um pouco de sorvete.


Vem comigo?

Niklas concordou e me acompanhou até a cozinha. Ele


pegou um pote de sorvete de baunilha com pedaços de
chocolate, uma colher e nos sentamos nos bancos altos do
balcão. Compartilhamos colheradas do doce gelado, o
silêncio da noite envolvendo-nos de maneira confortável.
Mas não resisti a provocá-lo um pouco, saí do meu lugar,
me inclinei e dei um beijinho com meus lábios gelados em
seu pescoço, sentindo-o estremecer.

— Emilia…

Niklas reagiu rapidamente, passando o braço pela


minha cintura e descendo a mão para apertar meu
bumbum. Nossos olhares se encontraram e logo nossos
lábios também, em um beijo avassalador. As mãos dele
passearam por minhas costas e eu não seria capaz de
resistir por muito tempo. De repente, ele me ergueu e me
colocou no balcão, sinalizou para ficar parada e fechou a
porta da cozinha com a chave. Seu olhar cheio de desejo
me fez perder a capacidade de pensar claramente.

— Posso experimentar o sabor do sorvete em sua


língua? — Niklas quis saber.

Assenti, incapaz de articular palavras e ele pegou um


pouco, aproximando-se de mim.

O sabor doce e gelado misturou-se ao gosto de seus


lábios, e eu gemi suavemente contra sua boca. Nossos
beijos se tornaram mais urgentes, mais famintos, como se o
desejo estivesse fervendo. Ele abaixou o decote da minha
blusa, derramando um pouco ali e limpando com a língua,
me mantendo no lugar. Aos poucos, as roupas começaram a
desaparecer, mais partes do meu corpo serviram de prato
para Niklas experimentar o sorvete.

Cada toque dele era carregado de emoção, amor e um


desejo intenso que só crescia. Minha pele arrepiava com o
contato do sorvete e eu não conseguia (e nem queria)
conter os suspiros e gemidos que escapavam dos meus
lábios. Ele comandou baixinho para descer e empinar minha
bunda. A ordem foi como um raio de excitação, obedeci no
mesmo instante, meio sem pensar. Ele riu e mordeu meu
ombro, segurando meu quadril e me posicionando
corretamente.

Passando a mão pela minha espinha até os meus


cabelos, agarrou uma grande quantidade e puxou no
mesmo instante que meteu, fundo. Como estava molhada,
foi uma explosão. Bati com a palma no mármore, xingando
alto. Niklas me fez soltar um ofego com algumas gotas de
sorvete no centro das minhas costas, estremeci e me
empinei ainda mais, querendo tudo dele. Era assim, uma
loucura, mas boa. Confortável, doce e seguro, ao mesmo
tempo, avassalador, de tirar meus pés do chão e virar
minha mente.

Eu não conseguia me importar muito se era rápido


demais, foi inesperado nos envolver e engravidar, mas
parecia tão certo amá-lo… nos encaixávamos
perfeitamente.
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
Emilia

Nosso dia de Halloween começou com muita animação


e risadas já no café da manhã temático que a governanta
preparou. Eu amei encontrar tudo decorado, uma surpresa
que Niklas fez para mim, comprando ainda mais coisas
quando percebeu que eu estava empolgada com a data. Ele
foi trabalhar um pouco e durante a tarde, Kurt e eu
arrumamos o restante da sala juntos, para nos divertirmos.
Quando o pai dele voltou, fomos nos arrumar porque era
hora de começar a aproveitar as brincadeiras que tinha pela
cidade.

— Estou pronto, Emilia! — Kurt avisou, entrando no


quarto com Niklas. Eles passaram para o closet, onde eu
estava terminando de colocar os acessórios.

Nós três estávamos vestidos como os personagens de


"Os Fantasmas se Divertem" e a cena que víamos no
espelho nos arrancava gargalhadas. Kurt estava
absolutamente hilário como o besouro suco, enquanto eu
usava um vestido de noiva provocante e engraçado, e
Niklas estava irreconhecível com um terno cinza segurando
uma cabeça falsa com uma peruca que combinava com seu
cabelo.
— Definitivamente, não terá família mais bonita. —
Niklas me deu um beijo. — Gostei desse vestido branco em
você. Me dá ideias.

— Cale-se, homem. — Bati em seu peito, rindo. —


Segure essa cabeça direito, vamos descer.

Tiramos algumas fotos em frente à sala, decorada de


maneira caprichada e depois colocamos um aviso na porta
dizendo que tínhamos doces para as crianças do prédio
como os outros vizinhos, já que coloquei nosso nome na
lista e assim, as crianças sabiam onde podiam bater. Kurt
estava todo empolgado para distribuir os doces, e eu me
derretia vendo como ele ficava feliz e envolvido na
brincadeira.

Niklas, ao meu lado com uma cerveja, observava com


um sorriso enquanto Kurt se divertia abrindo a porta,
entregando doces e falando pra caramba.

— Faz um tempo que não comemoramos o Halloween, é


uma data que eu costumo trabalhar. Só que esse ano minha
agenda ficou vazia. — Ele deu um gole de sua bebida e me
olhou de esguelha. Eu fiz uma expressão inocente, olhando
para frente. — Sabe dizer por que a minha assistente
remanejou tudo de maneira tão sorrateira que nem eu
percebi?

— Não faço ideia. — Dei de ombros, com um risinho.

— Espertinha.
— Eu sou apenas sua companheira e lido com sua
agenda pública, só precisei ligar para Kelly e dizer que seria
muito importante o papai Niklas ser visto com o filho em
uma data como essa. Eu não tenho culpa que ela pensou
que eu estava falando de marketing e que iria favorecer a
sua imagem, só te queria em casa. — Puxei-o pela gravata e
tomei seus lábios.

— Maravilhosa. Estou realmente me divertindo.

— Você está gostoso com esse terno. Posso tirá-lo mais


tarde?

— Pensei que só eu estivesse com desejo, sei lá, me


passou a ideia de te comer nessa roupinha tentadora — ele
cochichou no meu ouvido e fiquei toda vermelha, rindo.

— Pai, vem ver! — Kurt gritou da entrada.

— Vai lá, papai.

Ver aqueles dois juntos, compartilhando momentos


especiais, me enchia de alegria e ansiedade para o futuro.
Em breve, haveria um bebê entre eles.

Depois de distribuir balas e chocolates para os vizinhos,


decidimos sair para pegar doces na vizinhança também.
Estava uma noite agradável e nós três caminhamos juntos,
brincando, conversando e interagindo com as outras
crianças que também estavam em busca de guloseimas.
Kurt tinha passado por um tratamento de quimioterapia
e ainda se recuperava. Nos dias anteriores, ele se sentiu
enjoado e cansado, então não queríamos abusar na
festividade do Halloween. No entanto, estávamos nos
esforçando para tornar aquele dia especial para ele, mesmo
que de forma mais tranquila.

Kurt pegava doces e sorria de orelha a orelha com sua


sacola lotada. Eu segurava a mão dele com carinho, indo de
porta em porta e Niklas também não parava de fazer piadas
e comentários engraçados, mantendo o clima divertido. Em
um prédio, Kurt foi na portaria sozinho.

Niklas se aproximou de mim, envolvendo a mão na


minha e trocamos um olhar cheio de carinho. Era incrível
como ele sabia exatamente como tornar tudo especial,
como estar presente de maneira autêntica e amorosa como
pai e namorado.

Quando finalmente voltamos para casa, exaustos mas


felizes, Kurt se aconchegou no sofá com seus doces, e
Niklas me puxou para um abraço carinhoso enquanto alguns
clipes musicais passavam na televisão, de escolha do
pequeno DJ empolgado.

A noite do Halloween estava cheia de expectativas


porque eu convidei os pais de Niklas e os meus para
jantarem juntos, na esperança de que pudéssemos estreitar
os laços entre as nossas famílias, afinal, em breve, haveria
um bebê unindo a todos. Embora meus pais fossem simples
e discretos, e os pais de Niklas fossem ricos e influentes, eu
sabia que eles eram educados e sempre me trataram muito
bem.

Kurt foi animado até a porta para receber os avós. Era


inegável que ele era o centro das atenções em nossa
família. Eu observei aquele momento com carinho,
imaginando como seria quando o bebê chegasse, aquilo me
trazia um pouco de ansiedade, porque para Niklas, era
natural as mudanças de uma criança, ele planejou a
chegada do primeiro filho cuidadosamente, mas para mim,
estava sendo uma montanha russa.

Eu teria em breve um bebê nos meus braços!

Uma parte minha ainda se sentia culpada por ter


pensamentos ruins sobre o bebê no início, por ter sentido
medo e incerteza. Esses pensamentos me atormentavam de
vez em quando, especialmente quando eu pensava em
como fui criada. Sempre ouvi que não fui planejada e que
aumentei as despesas da família. Era uma ferida que nunca
cicatrizou por completo, e eu não queria repetir essa
história com o meu próprio filho.

Eu queria que ele se sentisse amado e desejado desde


o início.

Me perdi em meus pensamentos, Niklas percebeu o


meu silêncio.

— Está tudo bem?


— Sim, pensando demais.

Decidi me distrair pegando as bebidas para servir aos


pais de Niklas enquanto os meus ainda não haviam
chegado. Era uma maneira de ganhar tempo para organizar
meus pensamentos e emoções antes de enfrentar aquela
reunião. Niklas estava me apoiando, sempre me ouvia e
buscava me entender, mas havia uma parte de mim que
ainda lutava contra esses medos internos.

— Amor! Seus pais estão subindo! — Niklas me gritou


entre as risadas do Kurt recebendo cosquinhas do avô.

— Deixa que eu cuido disso, Emilia. — A senhora


Preswitt apontou para a bandeja de bebidas.

— Obrigada. — Abri um sorriso e ajeitei minha roupa.

Receber meus pais na porta com um sorriso animado


era uma maneira de disfarçar a tensão que eu sentia. Sabia
que minha mãe era crítica e que aquela cobertura luxuosa
poderia despertar seus olhares desaprovadores, e não
estava errada. Enquanto trocávamos abraços e
cumprimentos, percebi os olhos dela percorrendo o
ambiente e me perguntava o que estava pensando.

— Você está maravilhosa nessa fantasia, filha. — Papai


me deu um beijo na bochecha.

— Obrigada, papai.
— Sejam bem-vindos. — Niklas aproximou-se, com seu
sorriso encantador decorando a face. Minha mãe gostava
dele, porque vi a mudança em seu olhar, mas ela era
relutante em ceder.

Levamos todos para a sala de estar decorada, onde


Niklas apresentou seus pais e Kurt, que, como sempre, era a
alegria contagiante. Eu estava nervosa, preocupada se
todos se dariam bem e se a noite seria agradável. Servi as
entradas e tentei me manter calma enquanto observava o
início das conversas. Minha sogra, como sempre, era polida
e conseguia conduzir um assunto fácil. Os homens pareciam
ter encontrado uma conexão instantânea, conversando
sobre esportes como se fossem amigos de longa data.
Percebi que Niklas introduziu meu pai e o pai dele através
do futebol americano, o que me deixou aliviada por ver a
interação fluindo.

No entanto, minha atenção foi rapidamente desviada


quando Kurt sentou ao meu lado.

— Estou enjoado, quero dormir.

— Tudo bem, querido — falei baixinho com ele e peguei


sua mão, levantando. — Nosso pequeno besouro suco está
cansado e precisa descansar.

Eu o orientei a dizer boa noite a cada um deles antes de


subir e ele fez, sendo simpático. No momento em que
peguei a mão dele novamente, percebi o olhar da minha
mãe fixo em nós dois. Subimos direto para seu quarto com
Cleo nos seguindo. Ela deitou no pé da cama dele, nos
olhando. Após ajudar Kurt com o banho e a rotina noturna,
ele finalmente adormeceu. Aferi sua temperatura, era o que
Niklas faria e estava tudo bem.

— Cuide dele, mocinha — falei com Cleo, que continuou


enroscada na cama dele.

Desci novamente, trazendo a babá eletrônica comigo,


caso ele precisasse de algo durante a noite.

Eu também me sentia cansada. Não considerei que


muitos eventos no mesmo dia iriam me cobrar um preço
grande, mas tinha que manter a compostura e continuar a
noite. Era importante para mim que meus pais e os pais de
Niklas se conhecessem melhor. Tentei me concentrar na
conversa, mas minha mente estava dividida entre o jantar,
a noite de Kurt e os olhares que minha mãe lançava em
minha direção.

Ficava muito óbvio que minha sogra vivia no mundo das


esposas de empresários ricos, apesar de ser uma design de
interiores, ela não trabalhava fora desde que Niklas havia
nascido. E minha mãe era uma mulher que trabalhava todos
os dias dando aulas e ainda não iria se aposentar. Mas usei
o que tinha de criatividade para criar uma conversa em que
ambas pudessem participar sem que houvesse certo
choque de realidades.

Aquela noite se mostrava desafiadora, mas eu estava


determinada a fazer o melhor possível para que todos se
sentissem confortáveis e bem-vindos, eu queria poder
receber meus pais como sempre fiz na minha casa, quando
morava sozinha. Esperava que aquela reunião fosse um
passo importante para unir nossas famílias em torno do
novo bebê que em breve estaria chegando.

Após um jantar tranquilo e delicioso preparado pela


governanta, percebi os olhares críticos da minha mãe, mas
ela não fez nenhum comentário. Eu a entendia: como assim,
governanta? Como assim, ser servida? Era bizarro, sabia
disso. Mas era como Niklas vivia. Durante a sobremesa,
enquanto os homens se retiravam para jogar cartas na sala,
me sentei ao lado da minha sogra e peguei um copo de
água gelada para acalmar a ânsia de enjoo que começava a
dar um olá.

— Sem beber vinho novamente, querida? Esse é


delicioso.

— Realmente. É um dos melhores que conheço —


minha sogra concordou.

— Tenho um artigo para escrever antes de dormir e não


quero estar sonolenta — inventei uma desculpa.

— E como está sua busca por emprego? — mamãe


questionou, olhando-me com atenção. — Você sabe que por
mais que seja confortável ficar em casa, não te criei para
isso, sua carreira é muito importante — ela falou e engoli
em seco. Como se grávida eu fosse trabalhar em qualquer
lugar agora. — Emilia trabalha desde nova. Começou
entregando jornal na nossa vizinhança, ela nunca foi
acomodada.

Percebi que aquelas palavras eram direcionadas à mãe


do Niklas, uma maneira de garantir que eles não pensassem
que éramos interesseiros. Era óbvio que minha mãe queria
mostrar que eu era independente e capaz de me sustentar.
Eu entendia suas preocupações, mas aquela conversa na
frente da mãe de Niklas me deixava um pouco
desconfortável, ainda mais que a minha sogra era uma
esposa-troféu. Mordi meu lábio, pensando que Emily ali me
ajudaria a sair da situação sem rir.

— Ah, eu imagino. Emilia é uma grata surpresa e uma


adição incrível à nossa família — Victória comentou,
pegando minha mão. — Ela e Niklas construíram uma
parceria muito bonita em pouco tempo, algo raro de se ver
em jovens casais, ainda mais agora, nesse mundo perdido e
exigente. Emilia lida com a imagem pública da nossa família
e contorna todos os problemas com maestria. Eu sei que ela
não está oficialmente em um emprego agora, mas ser
mulher de um Sterling tão engajada quanto ela, dá muito
trabalho e tenho certeza de que será uma ótima experiência
para o currículo.

— Ah, que isso… — Fiquei toda embaraçada.

— É apenas a verdade. E você abraçou a causa que é


importante para nossa família, só tenho a agradecer por
meu filho ter encontrado alguém que o apoia em tudo.
Como mãe, a gente fica tranquila e feliz sabendo que estão
amando e se cuidando. — Victória sorriu e mamãe me deu
um sorriso… orgulhoso.

Aquele tom de orgulho e respeito vindos da minha


sogra também me pegou de surpresa. Aquilo mexeu
comigo, especialmente por estar passando por uma fase tão
sensível e lidando com as mudanças em minha vida. Os
hormônios da gravidez me atingiram em cheio naquele
momento e eu não consegui conter a emoção que subiu.
Lágrimas se formaram em meus olhos e tentei disfarçar,
mas era evidente que eu estava emocionada.

Vi minha mãe ficar sem graça, e ao mesmo tempo,


percebi a confusão em seus olhos. Eu não era chorona, ela
me conhecia.

— Obrigada, Victória. Desculpa pela emoção, hoje foi


um dia com muitas informações, Kurt voltou do hospital um
pouco enjoado, mas ele aproveitou tanto e agora… enfim,
estou digerindo tudo.

— Ele estava lindo. Cynthia o viu?

— Ela está viajando com Elias, mas mandei muitas fotos


e vídeos, depois vou ver se ela conseguiu me responder.

— Quem é Cynthia? — Mamãe quis saber, interessada.

— É a mãe do Kurt — expliquei. Ela, provavelmente,


deveria achar estranho porque geralmente, namoradas não
se dão bem com as ex-esposas. Mas Cynthia tinha a vida
dela e Niklas e eu, a nossa. O bem em comum, era o Kurt.

— É interessante saber que todos se dão bem —


mamãe comentou. Minha tia era uma ex-esposa terrível
para a atual mulher do ex-marido, provavelmente pensava a
mesma coisa.

— Cynthia e Niklas eram muito amigos antes do


casamento e, bem… se o Kurt não tivesse câncer, é muito
provável que eles seriam próximos e cordiais, pelo filho,
mas a doença nos pegou sem aviso e foi necessário
adaptar, passar por cima de preconceitos comuns que as
pessoas têm com antigos relacionamentos, buscar parceiros
que entendam a importância dessa dinâmica familiar por
Kurt — Victória disse e concordei. Eu não sentia nenhuma
vibração romântica entre Niklas e Cynthia, era até difícil
pensar que eles foram casados um dia. Ela e Elias tinham
uma química de deixar constrangido quando se olhavam.
Era quente.

Depois de um Halloween cansativo, Niklas e eu


estávamos exaustos. Com nossos pais já indo embora, nós
dois nos encarregamos de cuidar da bagunça porque a
governanta foi descansar. Estava ansiosa para me livrar da
maquiagem, soltar os cabelos e finalmente tirar aquele
vestido de noiva fajuto. Niklas riu da minha situação,
brincando que eu parecia um zumbi de tanto sono.
— Eu vou te ajudar para não ter que te carregar até a
cama.

— Obrigada por sua gentileza.

Depois de um banho relaxante e de retirar toda a


maquiagem, finalmente fui para a cama. Era um hábito que
se tornara comum para nós: ficarmos enroscados, sentindo
a presença um do outro antes de dormir. Fiquei tão cansada
que mal tinha energia para mais alguma coisa. Tudo o que
eu queria era ser mimada e sentir os braços de Niklas ao
meu redor.

Era uma maneira de me sentir segura e de espantar os


sentimentos conflitantes que minha mãe costumava me
causar. Era doloroso perceber que Emily, minha irmã,
parecia ser tratada de forma diferente. Elas nunca
brigavam, enquanto eu e mamãe sempre pisávamos em
ovos ao redor uma da outra para não surgir faísca.

Eu queria que minha mãe só… parasse de dizer que fui


um descuido que aumentou as despesas e a me cobrar
excessivamente.

Niklas, percebendo que algo estava errado, perguntou


baixinho por que eu parecia triste.

— Eu não quero que o bebê sinta que não é bem-vindo,


mesmo não sendo planejado.

Eu não queria que o bebê experimentasse o mesmo


que eu havia sentido em relação à minha própria chegada.
— Meu amor, o bebê é uma agradável surpresa.
Aconteceu porque deveria, é uma benção para nos unir
ainda mais, como casal e como família. — Niklas beijou a
minha testa, esfregando os lábios entre minhas
sobrancelhas e desceu para a pontinha do meu nariz.
Segurou meu queixo, ergueu um pouco meu rosto e tomou
meus lábios. Acariciei sua bochecha, beijando-o de volta. —
Você está nos trazendo um presente e tanto, Emilia.

— Acha que Kurt vai amar saber que será um irmão


mais velho?

— Ele vai pirar de alegria. — Niklas sorriu e depois, seu


olhar caiu um pouco.

— Essa possibilidade que passou na sua mente, por


medo, não existe. Eles vão crescer juntos e serão como
Emily e eu, brigando por qualquer motivo e prontas para
enfrentar uma guerra mundial uma pela outra.

— Eu amaria ter tido irmãos, mas minha mãe levou


muito tempo para conseguir me ter e quase morreu no meu
parto. Eles não quiseram tentar mais.

— Bom, você está dando dois netos a ela — brinquei,


ele sorriu e levou a mão à minha barriga.

— Talvez mais…

— Vai com calma, homem. Sossega! Eu preciso lidar


com essa gravidez primeiro…
Nós trocamos um olhar e rimos.
CAPÍTULO TRINTA E
QUATRO
Niklas

Estava em meu escritório, mergulhado em trabalho. O


relógio avançava implacavelmente, me lembrando que em
poucas horas seria o lançamento oficial do novo
empreendimento de Bryan Hudson. Ele investiu uma
quantia considerável em marketing, acreditando que
poderia me superar desta vez. Uma campanha publicitária
porca e implicante, como a cara dele, no entanto, até o fim
daquele dia, Bryan descobriria que seu tão esperado projeto
já não lhe pertencia mais.

Seria um dia longo e exaustivo, mas, estranhamente,


pela primeira vez, não me via empolgado com a perspectiva
de derrotá-lo. Tudo o que desejava era terminar minhas
tarefas e ir para casa, estar com Emilia e Kurt e tentar
conquistar Cleo, que parecia ser a gata mais difícil do
mundo.

Minha rivalidade com Bryan precisava finalmente


chegar a um desfecho. Ele precisava aceitar que perdeu,
que fui eu quem prevaleceu. A verdade era que ele sempre
foi inferior a mim nos negócios e, apesar de todos os seus
esforços, isso nunca mudou e não me importava o quão
arrogante soava. Eu era bom no que fazia. Não sentia culpa
por pensar em mim mesmo, por priorizar os meus
empreendimentos e fazer o que fosse necessário para
alcançar os meus objetivos. Afinal, era um empresário e o
mundo dos negócios muitas vezes exigia que fôssemos
implacáveis.

Jim estava na sala comigo, compartilhando a situação


relativamente tranquila. Já havíamos enfrentado aquele tipo
de cenário antes e não seria a última vez. Mantinha minha
compostura, sabendo que era preparado para lidar com
qualquer desafio que surgisse. Independente do que Bryan
fizesse, minha dedicação e habilidades me levariam a
superar qualquer obstáculo. Diferente dele, levei anos da
minha vida estudando e não perseguindo pessoas porque
meu pai era rico.

Eu já tinha tudo nas mãos, a empresa foi herdada, mas


eu precisava ir além do que me foi deixado. Meu pai me deu
ela em vida para vê-la prosperar. Tirar Bryan do meu
caminho foi como chutar um rato traiçoeiro que me irritava,
dava em cima da minha mulher desde o ensino médio e
roubava as ideias de todos.

Quando finalmente chegasse o momento de enfrentar


Bryan e suas investidas, estaria pronto para encerrar essa
disputa de uma vez por todas. Já era hora de ele aceitar a
derrota e entender que, no mundo dos negócios, eu sempre
estaria um passo à frente.
No meio da tarde, enquanto permanecia imerso em
minhas tarefas, recebi uma foto de Emilia deitada na cama
com Kurt. Ela estava claramente sofrendo com os enjoos da
gravidez desde a manhã. Foi uma noite difícil para ela, pois
tinha passado a madrugada toda segurando o cabelo dela
enquanto vomitava o jantar. Sua mensagem dizia que Kurt
estava sendo um enfermeiro atencioso, cuidando dela até
que pegou no sono assistindo a um desenho. Olhei para a
foto e sorri, sentindo uma onda de ternura por aquela cena.

Respondi rapidamente, dizendo que estaria em casa


mais cedo para que pudéssemos jantar juntos. Naquele
momento, tudo o que eu queria era estar com eles,
especialmente quando Emilia não se sentia bem. Ela e Kurt
haviam criado um laço afetivo muito especial.

Nunca considerei ter um relacionamento depois que


Kurt ficou doente, mas Emilia entrou em minha vida como
uma tempestade, roubando meu coração e me
presenteando com uma nova família. Era incrível ver como
meu filho a aceitava tão naturalmente e como ela se
entregava de maneira tão amorosa. Ela não apenas o
amava, mas também estava disposta a construir uma
relação saudável com a mãe dele.

Emilia era o meu presente e eu não poderia estar mais


grato por tê-la em minha vida. Ela me mostrou que ainda
havia espaço para o amor, mesmo após as adversidades
que enfrentei com Kurt doente. Trouxe luz e alegria, e eu
estava me sentindo mais otimista e incrivelmente sortudo.
Cada mensagem que trocávamos era um lembrete
constante de que construímos algo bonito juntos.
Estávamos formando uma família e isso me preenchia de
uma sensação de felicidade que eu nunca imaginei que
voltaria a experimentar.

Assim que terminei minhas tarefas e encerrei os


compromissos do dia, peguei minhas coisas e saí do
escritório com um sorriso no rosto. Ansioso para estar com
Emilia e Kurt, para cuidar dela. Não importava o que o resto
do mundo pudesse trazer, eu tinha algo precioso em minha
vida, algo que me fazia sentir verdadeiramente abençoado.

Jim e Amelia estavam indo para minha casa depois de


um dia longo e exaustivo. Entrei, chamando por eles, e
Emilia preparava o jantar na cozinha, uma lasanha
borbulhante e deliciosa. Eu me perguntava se ela teria mais
uma noite de enjoo ou se conseguiria dormir satisfeita após
a refeição que tanto desejava. A mesa estava posta com
uma grande vasilha de salada no centro e os lugares
organizados.

Emilia estava linda, com o rosto livre de maquiagem e


usando um conjunto de moletom azul escuro. Tão à vontade
e tão natural que eu não podia deixar de admirá-la.

— Oi, linda.

— Oi, querido. — Ela me deu um beijo suave nos lábios.


— Kurt está no banho, aproveitando a água e os brinquedos,
mas está tendo dificuldade em sair da banheira.
— Eu vou cuidar do malandrinho.

Me ofereci para ajudar e disse que logo voltaria. Jim e


Amelia ficaram com ela na cozinha, abrindo vinho e
conversando. Fui até o banheiro e me deparei com uma
cena adorável. Kurt falava baixinho com seus bonecos,
totalmente imerso em sua própria diversão aquática. Ri
discretamente ao vê-lo tão entretido

— Oi, campeão, está na hora de sair do banho, Jim e


Amelia estão aqui para te ver um pouco.

— Ah, papai. — Ele fez um beicinho, claramente


relutante em deixar a diversão da banheira, mas logo pegou
a toalha e saiu. Kurt tinha um jeito todo próprio de lidar com
as coisas, e eu adorava cada traço de sua personalidade
única. Ser pai era uma das melhores coisas que já me
aconteceu.

Voltamos juntos para o quarto, onde Emilia havia


organizado as roupas. Kurt estava todo empolgado com a
visita de Jim e Amelia, e seus olhos brilhavam de alegria. Ele
sabia que era amado e admirado por todos nós, e isso fazia
com que ele se sentisse confiante e feliz.

— Aqui está a estrela da noite. — Desci com Kurt


pronto.

— Vem cá, meu amor! — Amelia agachou para abraçá-


lo. Ele adorava sua avó postiça.
Jim também o abraçou, enchendo-o de beijos. Emilia
pediu ajuda para colocar as entradas na mesa, lavei minhas
mãos e fiz tudo que ela precisava. Ao nos juntarmos para o
jantar, meu estômago roncou. Emilia havia preparado
aquela lasanha com tanto carinho, cada garfada era um
deleite para o paladar.

— Está delicioso, querida. Eu queria tanto comer


lasanha… — Amelia comentou, me fazendo sorrir.

— Culinária italiana é algo que precisamos aprender na


família tanto quanto andar — Emilia brincou, passando um
pãozinho no molho e mordeu. — E eu estava morrendo de
vontade também, assim como senti saudades de vocês.

Compartilhamos a refeição e conversamos sobre o dia.


Amelia contou sobre duas clientes brigando no salão,
chegando às vias de fato, trocando tapas e derrubando
produtos, o que nos rendeu risadas. O motivo era bobo.
Uma queria ser atendida imediatamente e a outra, que
esperava, achou um absurdo a mulher chegar e exigir
tratamento vip.

— Ainda bem que eu tenho tratamento vip. — Emilia


riu.

— As minhas meninas ficam loucas quando isso


acontece, mas sempre é engraçado depois que passa o
susto. E claro, depois que recupero meus espelhos
quebrados.
Kurt enrolou um pouco para comer, o que sempre me
dava trabalho. Ele era um implicante com legumes em seu
prato. Emilia preparou tudo do jeito que ele gostava, mas
ainda assim, as vagens foram um custo. Também estava
chato por estar com sono e depois de o colocar para dormir,
Jim e eu nos encontramos na sala, aguardando a reação de
Bryan ao descobrir que a Sterling era a verdadeira
proprietária do seu novo empreendimento, através da
Baxter.

A tensão estava no ar e ambos sabíamos que as coisas


não seriam fáceis dali para frente. Sentados no sofá, ao lado
de Emilia e Amelia, observávamos a transmissão ao vivo do
evento de lançamento, com a imprensa presente e toda a
expectativa que a situação gerava.

Quando Bryan finalmente descobriu a verdade, sua


expressão no palco era difícil de decifrar. Ele era um
empresário experiente, acostumado a lidar com
adversidades e manteve a compostura diante das câmeras.
Suas palavras eram cuidadosamente escolhidas e tentava
minimizar o impacto da revelação. Disse que tudo não
passava de estratégia de marketing, tentando mascarar a
surpresa que sentia.

O que chamou minha atenção foi quando ele


mencionou que ele e eu já havíamos trabalhado juntos
antes, na empresa que pertencia aos nossos pais. Ele
admitiu que a parceria entre nós havia sido lucrativa até o
fim, elogiando minhas habilidades empresariais. Mas
aquelas palavras carregavam um subtexto que não passou
despercebido por mim.

— Niklas tem defeitos como todo ser humano e por isso


brigamos, faz parte, sempre pagamos por nossos pecados,
alguns deles, em vida.

— Filho da mãe! — Emilia murmurou, ficando ereta no


sofá.

Entendi que aquilo era uma referência à doença do


Kurt, babaca.

— É tudo que ele pode fazer… ser um babaca. — Jim


me acalmou.

Bryan parou de responder às perguntas dos jornalistas


e foi escoltado por seus seguranças até o carro, deixando o
evento. Desliguei a televisão e o peso da situação começou
a se acomodar em meus ombros. Sabia que a batalha ainda
não estava totalmente ganha, que Bryan certamente
buscaria alguma forma de retaliação.

Olhei para Emilia ao meu lado e ela me lançou um olhar


reconfortante. Seus olhos transmitiam confiança e apoio.
Amelia, minha madrinha, também estava ali e a sua
presença era um lembrete de como a família era importante
para mim. Só nos restava aguardar e estar preparados para
o que viesse a seguir. O que Bryan não percebia era que eu
estava disposto a fazer o que fosse preciso para garantir
que minha família ficasse protegida e unida.
Depois que Jim e Amelia foram embora, Emilia me
pediu para contar a história com Bryan. Sentei-me ao lado
dela no sofá, pensando em como começar a narrativa que
envolvia anos de rivalidade e desavenças. Suspirei antes de
começar, sabendo que ela merecia saber toda a verdade.
Estiquei minhas pernas nas poltronas confortáveis e
acariciei seus dedos, que estavam apoiados na minha
perna.

— A história com Bryan remonta aos dias em que


herdamos a mesma empresa de nossos pais. Éramos sócios,
mas com proporções diferentes. Bryan e seu irmão tinham
sessenta por cento das ações, enquanto eu tinha quarenta
— expliquei que, em situações aparentemente neutras,
parecia que Bryan tinha mais influência, mas quando os
irmãos concordavam entre si, eu ficava em desvantagem.
Quando brigavam, eu tinha uma pequena margem de
vantagem. Nossa relação sempre foi de choque, duas
personalidades fortes que divergiam constantemente. —
Uma vez, aproveitei uma oportunidade para comprar
metade das ações do irmão de Bryan, mas ele logo
conseguiu comprar a outra metade. Mesmo assim, eu
permaneci na liderança da sociedade, o que o incomodava
profundamente e ele não escondia isso.

Contei a ela sobre o ponto de virada, que foi mais ou


menos na época em que casei com Cynthia, quando nossas
desavenças se transformaram em ódio mútuo. Bryan e eu
começamos a nos confrontar cada vez mais e o clima ficou
insustentável. Estava determinado a sair por cima e Bryan
também estava disposto a qualquer coisa para me
prejudicar.

— Mas por quê?

— Eu não sei, eu só não queria ficar em desvantagem,


os problemas que ele criou são todos da cabeça dele.
Entenda, meu pai fundou aquela empresa e quando teve
problemas financeiros, precisou vender parte das ações
para o pai do Bryan. Eu era jovem quando prometi a mim
mesmo que iria recuperar tudo e assim, trabalhei para isso
e não me arrependo.

— E como tudo acabou?

— Consegui um avanço na justiça. Baseado em um erro


de Bryan, que desviou dinheiro, consegui tomar suas ações
e tirá-lo da sociedade. Foi a minha chance de me livrar dele
dentro da empresa, mas, é claro, ganhei um inimigo feroz.

A situação só piorou a partir daí. Bryan começou a me


acusar de roubo e a espalhar informações difamatórias
sobre mim. Eu estava determinado a não ser derrotado, a
não deixar que ele manchasse minha reputação e fiz o que
fosse necessário para proteger meus interesses e garantir
que minha família estivesse segura.

— Ele dava em cima da Cynthia?

— Na escola, ele tentou namorá-la, mas Cynthia sempre


foi reservada e por algum motivo, nunca gostou dele. Mas
não acho que isso tenha a ver, ele a usava, assim como te
usa, para me irritar. Sabe que vou reagir.

— Será que é só isso mesmo? — Ela mordeu o lábio. —


Homens, sei lá, fazem loucura por menos. Uma rejeição e
inveja… é um combo perigoso.

— Eu nunca poupei esforços para tirar Bryan do meu


caminho. Fiz coisas das quais talvez não me orgulhe, mas
estava em uma competição. Sempre quis vencer e provar
que era o melhor.

Olhei nos olhos de Emilia, esperando que ela


entendesse a complexidade da situação. A história com
Bryan era cheia de altos e baixos, de erros e acertos, mas
uma coisa estava clara: eu faria qualquer coisa para
proteger minha família e meus negócios, mesmo que isso
significasse entrar em conflito com um inimigo implacável
como Bryan.
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
Emilia

O grande dia do casamento da Emily finalmente


chegou. Estávamos juntas no hotel, cheguei cedo para estar
disponível para ajudá-la a se arrumar para a cerimônia e
festa, que seria a seguir. Amelia organizou a meu pedido um
sofisticado dia da noiva no salão de beleza.

Minha irmã e eu passamos por uma massagem


gostosa, fomos mimadas com tratamento facial e
compartilhamos um momento tranquilo, bebendo suco de
laranja em taças elegantes, com um toque de xarope de
morango para dar cor ao drinque sem álcool.

Era um momento de carinho e cumplicidade entre


irmãs.

— Eu não tenho palavras para agradecer esse dia


especial, ia me arrumar em outro lugar e olha só esse
presente enorme! Obrigada!

— É o meu dever como madrinha, além do mais, tive


uma colher de chá por Amelia ser madrinha do Niklas —
disse e dei um gole do meu suco, fazendo uma suave
careta. Emily esticou as pernas com cuidado para não
borrar as unhas dos pés.
— E como está lidando com o enjoo? Já está
conseguindo dormir? — ela perguntou.

— Tem dias em que eu consigo dormir sem sentir nada


e outros que luto contra o enjoo. Mas não está tão ruim
quanto eu havia imaginado inicialmente.

Emily sugeriu um brinde, levantando sua taça, em


homenagem ao bebê e a todas as experiências que
estávamos vivendo juntas. Nós erguemos nossas taças em
uníssono, brindando não apenas ao novo capítulo na vida de
Emily, mas também à nossa relação como irmãs e às
aventuras que a vida nos reservava com uma criança em
nosso futuro.

Ter um pouquinho de tranquilidade em meio à agitação


do casamento iminente foi bom, era uma oportunidade para
nós duas compartilharmos nossos pensamentos e sonhos,
reforçando a ligação que sempre tivemos como irmãs sem a
interrupção constante de mamãe, que acabava nos
colocando uma contra a outra mesmo que sem querer com
alguns comentários.

— E como é viver com o bonitão? Estou meio ansiosa


em compartilhar o teto com Matthew. Só nos fins de semana
que ficamos juntos, me bate uma ansiedade, querendo
mais… — Ela sorriu, toda apaixonada.

— Tem sido uma aventura gostosa, nós quase não


brigamos, é impressionante o quanto nos damos bem até
nas mínimas coisas. Niklas é realmente uma pessoa muito
quieta, pensei que fosse apenas algo inicial, ele conversa
comigo, só não é um homem agitado. A mãe dele diz que é
um contraste, porque foi bem agitado quando criança.

— Isso será bom, porque em breve terá um bebê e a


última coisa que você quer é que ele seja agitado.

Nós brindamos àquilo também.

À tarde, enquanto nos arrumávamos para o


casamento, nossa mãe se juntou a nós para fazer parte da
preparação e tirar algumas fotos com Emily. Eu também fui
chamada, pois Emily queria uma foto com nós três juntas.
Organizamos as poses e agradeci por ainda não ter sinais
visíveis da gravidez, apenas meus seios estavam um pouco
maiores e sensíveis. Depois das fotografias com os roupões,
chegou o momento de nos vestir.

O vestido que eu escolhi para o casamento coube


perfeitamente e me olhei admirada no espelho, maquiada e
com o cabelo feito. A empolgação em celebrar o casamento
de Emily estava em alta. A fotógrafa queria algumas fotos
com a luz natural e quando fomos para o quarto ao lado,
onde nossa mãe e Emily estavam se arrumando
inicialmente, fui tomada por um cheiro forte de perfume que
instantaneamente me deixou enjoada.

Tentei controlar a sensação, mas o enjoo se tornou


intenso demais e corri para o banheiro. Embora eu tenha
sentido ânsias, não cheguei a vomitar. Emily, preocupada,
abriu a porta do banheiro e veio até mim, oferecendo apoio.
— Você está bem, querida?

— Foi apenas um cheiro ruim… — respondi e percebi


que nossa mãe estava parada na entrada, congelada.

— Você está grávida, Emilia Cesarini? — ela soou até


um tanto ofegante.

O impacto da pergunta me atingiu como uma onda. Eu


não havia planejado revelar minha gravidez naquele
momento, mas diante da situação, senti que não podia
negar a verdade.

Com uma mistura de surpresa, nervosismo e emoção,


olhei para Emily e depois para nossa mãe. Assenti,
confirmando o que ela suspeitava. Minha mãe deixou
escapar uma mistura de choque e alegria, e eu pude ver os
olhos dela se encherem de lágrimas. Emily também ficou
visivelmente emocionada e deu um sorriso afetuoso.

— Mas como assim, Emilia? — Sua expressão se


transformou em confusão. — Como você permitiu que isso
acontecesse? — Suas palavras carregavam preocupação. Eu
sabia que ela estava pensando em todas as mudanças que
um filho não planejado poderia trazer para a vida de um
casal e para o ritmo familiar. — Seu namorado tem um filho
doente. Como ele está lidando com a chegada de um bebê
não planejado?

Respirei fundo, sentindo a necessidade de manter a


calma.
— Niklas e eu estamos bem. A notícia nos pegou de
surpresa, sim, mas ele ou ela, é uma bênção em nossas
vidas. É bem-vindo. — Fui honesta, porque sim, houve
medo, mas naquele momento, estávamos bem e felizes
com o bebê.

No entanto, a preocupação da minha mãe ainda era


evidente, especialmente em relação à falta de
planejamento. Ela começou a andar de um lado ao outro,
murmurando todas as coisas que aconteciam com a
chegada de uma criança sem que os pais estivessem
preparados e aquilo, mais uma vez, foi um pouco cortante
para mim. Mas eu decidi que meu filho não receberia o
mesmo tratamento.

— Mãe, pare um instante — chamei e segurei as mãos


dela entre as minhas. — Por mais que Niklas e eu não
sentamos e dissemos “vamos ter um bebê”, agora ele está
aqui. E nós o amamos. Esse tipo de comentário sobre minha
própria concepção, sendo vista como uma surpresa não
planejada que aumentou as despesas e estava fora dos
planos da família, me afetou profundamente ao longo da
vida. Essas palavras me fizeram sentir rejeitada e menos
amada, mesmo que eu soubesse que era muito querida.

Mamãe arquejou, sem saber como me responder.

Minha irmã, Emily, concordou comigo.

— Eu nunca gostei disso também, mãe. Não é como se


Emilia tivesse pedido para nascer, ela não teve culpa. Você
dizer que amou planejar a minha gravidez e nunca soube
como lidar com a surpresa que ela é, também me magoa —
adicionou e eu fiquei um pouco surpresa. Emily nunca tinha
deixado escapar que ela percebia, mas talvez estivesse
muito ocupada comigo mesma e com as minhas mágoas
para olhar um pouco mais ao redor.

Minha mãe ficou parada, olhando para nós duas,


absorvendo nossas palavras.

— Eu sinto muito, filha. Nunca tive a intenção de fazer


com que se sentisse menos amada do que Emily. Eu te amo
e muito, você é minha menininha também e me perdoa
por… nunca saber lidar com as minhas frustrações, não tem
nada a ver com você e agora, muito menos com o seu
bebê.

Aquelas palavras me tocaram profundamente e senti


que estávamos começando a acertar algumas das pontas
soltas do nosso relacionamento, mesmo que ainda
tivéssemos um longo caminho pela frente, aquele momento
marcou um passo importante na direção certa. Finalmente
consegui abrir diálogo sobre nossas feridas e sentimentos,
era crucial para a cura e a construção de um
relacionamento mais forte e saudável entre nós.

— Obrigada por me entender, mãe. — Eu a abracei


apertado. — E agora, sem lágrimas e clima ruim, vamos
sorrir e festejar. É o dia mais importante da Emily!
Nós voltamos para as fotografias porque estava quase
na hora de sairmos. Papai chegou para nos buscar alguns
minutos depois e teve um pouco de choro ao ver Emily de
noiva, o que atrasou ainda mais o cronograma, mas
conseguimos chegar na igreja a tempo. Fui preparada e no
tempo certo, caminhei sozinha em direção ao altar,
segurando o buquê de flores com emoção pulsando dentro
de mim.

Meus olhos buscaram na multidão o rosto de Niklas,


ele sorriu e acenou para mim, sentado na ponta de um
banco. Um dia afastada dele e a saudade já me invadia.
Soprei um beijo em sua direção. Voltei minha atenção para
a cerimônia, retirando um lenço do meu buquê para conter
as lágrimas de felicidade que escapavam quando minha
irmã, de braços dados com nosso pai, entrou.

Abanei o rosto com suavidade, recobrando a


compostura e admirando a linda cena à minha frente.
Aquela primeira parte do casamento estava sendo perfeita,
exatamente como minha irmã merecia.

Eu comecei a rir quando Matthew precisou de um


lenço para acalmar as suas lágrimas por ver minha irmã
caminhando em sua direção. Era mágico.

Após a celebração, saímos da igreja seguindo os


noivos. Eu estava ao lado do irmão do Matthew, que era o
padrinho. Quando chegamos ao final do tapete, encontrei
Niklas. Irresistível, impecável como sempre e pegou minha
mão e a beijou, sussurrando em meu ouvido que eu estava
linda. Derreti um pouco, cheia de saudade e o abracei,
ganhando uma carícia na barriga também, seu modo de
dizer oi ao bebê.

Descemos as escadarias da igreja juntos em direção


ao carro que nos levaria à festa de comemoração. Com
Memphis ao volante, entrei no carro e dei um beijo saudoso
em meu namorado.

— Como você e o meu bebê estão? — Ele gentilmente


me puxou para perto.

Não podia evitar um sorriso derretido enquanto me


aconchegava nele.

— Estamos muito melhores agora que você chegou.

A sensação de estar nos braços dele, protegida e


amada, era incomparável.

Durante o trajeto até a festa, trocamos olhares e


alguns beijinhos carinhosos. Sabia que ele estava ali para
me apoiar, porque ainda não era totalmente próximo da
minha família e se esforçava para isso, além do fato de que
Niklas fazia questão de cuidar de mim. Minha mão
encontrou a dele, nossos dedos se entrelaçaram e eu sentia
um amor tão grande por Niklas e nosso bebê que meu
coração até parecia bater diferente.

O casamento da minha irmã era um lembrete do amor


e da união que poderiam existir entre duas pessoas
completamente distintas, ela e Matthew eram como óleo e
água, apesar de exercerem a mesma profissão. Estava mais
certa do que nunca de que Niklas e eu estávamos no
caminho certo. Juntos, celebraríamos cada vitória, porque
tínhamos um ao outro para nos amparar.

Chegamos ao salão e ver toda a decoração


pessoalmente foi emocionante. A festa de casamento
estava repleta de um clima romântico que mexia
profundamente com minhas emoções. Sentados com a
família, Niklas e eu aproveitávamos cada etapa, nos
divertindo. Comi bastante, porque não queria perder nada
que deu muito trabalho para organizar. O DJ animou a pista
de dança e eu chorei mais uma vez com as valsas
principais.

Quando os casais foram convidados para a pista de


dança, Niklas não perdeu a oportunidade de me levar para
dançar. Ele envolveu minha cintura com suas mãos grandes
e nos balançamos de um lado para o outro no ritmo da
música. Soltei um risinho baixo, lembrando do tempo em
que costumávamos dançar nos eventos da empresa, mas
poucas palavras eram trocadas entre nós naquela época.

— Do que está rindo, linda? — Ele colocou uma mecha


do meu cabelo atrás da orelha.

— Lembrando das nossas primeiras danças. Você


quase não falava comigo — respondi rindo.

Niklas riu também.


— Me desculpe por ter sido tão inacessível. Mas você
também não falava nada, me deixava te olhando e meio
que chupando o dedo — brincou, me fazendo rir mais
ainda.

— Está tudo bem, foi divertido ser contratada para ser


a sua melhor versão.

Foi exatamente daquele jeito que, aos poucos, nós


dois nos aproximamos e nos apaixonamos. Ele me rodopiou
na pista de dança e depois me puxou para seus braços.

— Você, Emilia, é a dona do meu coração e uma das


partes mais bonitas da minha vida — Niklas falou baixinho
em meu ouvido. Completamente apaixonada, meu sorriso
se alargou, e nós trocamos um beijo cheio de carinho e
paixão.

Olhei a hora e precisávamos ir embora. Eu tinha um


compromisso com Cynthia no hospital para cuidar de Kurt.
Nos despedimos de todos os presentes, minha irmã sabia
que não ficaria até o fim da festa e saímos, indo para casa
primeiro para trocar de roupa. Optei por algo confortável e,
em seguida, partimos novamente em direção ao hospital.

— Oi, como foi o casamento? — Cynthia nos recebeu


na porta do quarto de Kurt.

— Foi lindo. E como ele está?

— Está um pouco enjoado. — Ela suspirou e olhamos


para Kurt. — E Niklas, temos que assinar alguns formulários
na recepção.

— Vamos lá — Niklas falou com ela e se afastaram.

Meu coração apertou de preocupação ao ver Kurt


amuado. Ele não estava lidando bem com o tratamento e
aquilo me deixava angustiada.

Tirei os meus sapatos e subi na cama, deitando-me ao


lado dele. Suavemente, acariciei seus cabelos enquanto
tentava transmitir conforto. Fiquei ali, em silêncio,
abraçando-o com ternura, desejando com todo o meu ser
que ele se sentisse melhor. Minhas orações baixinhas
preenchiam o ambiente enquanto me dedicava a estar ao
lado do meu pequeno guerreiro, esperando que tudo ficasse
bem e que pudesse superar mais esse desafio com a força
que sempre o caracterizou.
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
Emilia

Kurt ainda se encontrava no hospital, passando por um


novo tratamento que causou reações mais intensas do que
o esperado. Ele não pôde sair na data prevista e, por isso,
continuei ao lado dele, tentando distraí-lo com alguns jogos
de cartas na cama. No entanto, logo percebi que ele não
estava com ânimo para continuar, então o ajudei a se
acomodar, colocando seu boneco favorito ao seu lado. Beijei
sua testa com carinho e murmurei uma prece silenciosa,
pedindo para que ele se sentisse melhor em breve.

Meus olhos encontraram Cynthia parada na porta,


observando a cena com um sorriso afetuoso.

— Ele está cansado.

— Imaginei que sim — ela me respondeu com um


sorriso e nos afastamos. — Sabe, sempre me preocupei com
quem eu me envolveria e, por consequência, Niklas, por
causa da criação de Kurt quando nos divorciamos. Eu queria
um amor avassalador e não mais estar casada com o meu
melhor amigo, nossa relação sempre foi segura e
confortável para mim, aquele tipo que nunca iríamos errar
com o outro porque éramos amigos demais para isso. Só
que…
— Você quis mais.

— Parece um absurdo quando se tem tudo. Eu só queria


paixão ardente… algo que Niklas e eu nunca tivemos um
pelo outro. Como disse, era fácil. Nos acomodamos com a
expectativa de todos ao nosso redor, ele estava focado na
empresa e eu só queria ficar bem longe dos meus pais, só
conseguiria isso casada.

— Eu sinto muito. Acho que entendo um pouco, só que


eu bati o pé e saí de casa mesmo assim. — Abri um
sorrisinho insolente.

— E aí, quando nos separamos, pensei muito sobre


quem faria parte da vida do Kurt. Ele nunca deixou de ser a
nossa prioridade, mas a doença… veio e acabou unindo
Niklas e eu de forma inesperada, depois Elias chegou,
somando, sem nunca interferir e agora, você. — Cynthia
pegou minha mão. — Não tenho palavras para agradecer
por amar o meu filho como se fosse seu. Tenho tanto prazer
em dizer que ele é nosso, porque só alguém com um
coração disposto a amar como mãe aguentaria o que você
passa nesse hospital com Kurt junto a mim. Obrigada,
Emilia. Obrigada mais ainda por não me fazer sentir que
estou sozinha. É tão doloroso ver meu filho ali… e por mais
que Niklas compartilhe tudo comigo e até Elias, eu sinto que
você sabe a profundidade dessa dor mesmo chegando
agora.

Soltei um suspiro choroso com suas palavras.


— É impossível não amá-lo. Aquele menino só arrombou
a porta do meu coração e fez dele morada.

Eram laços verdadeiros, a família que formei com Niklas


era dona do meu coração. Nossos olhares se voltavam para
Kurt, compartilhamos preocupações silenciosamente, mas
também emitimos uma aura de otimismo e esperança,
enviando pensamentos positivos para que ele se
recuperasse logo.

Minutos depois, Niklas entrou no quarto para ver o filho


e me levar de volta para casa para descansar. Seu olhar
encontrou o meu, carregado de preocupação. Ele se
aproximou de Kurt, conversando baixinho e depois olhou
para mim, angustiado. Eu me aproximei dele, acariciando
suas costas, para se acalmar.

Cynthia sugeriu que fôssemos descansar em casa e eu


concordei, sabendo que era hora de recarregar as energias
para continuar apoiando Kurt. Saímos do quarto, deixando-o
com a mãe enquanto emanava pensamentos de cura para
ele. Caminhando pelos corredores do hospital, senti os
dedos do Niklas procurando os meus e entrelaçamos,
reforçando a necessidade de conexão que tínhamos
construído.

Quando chegamos em casa, encontramos pacotes do


correio sobre a mesa. Eram os mimos que eu havia
encomendado para os pais de Niklas e os meus, incluindo
Jim e Amelia, para contar sobre a gravidez. Sentei-me com
Niklas para organizar as fotos das ultrassonografias,
juntamente com as pequenas chupetas e um cartão que
escrevemos à mão. Decidimos que Kurt receberia uma
camiseta com a frase "Melhor Irmão Mais Velho do Mundo".

Era importante para mim que cada momento fosse


especial.

— Acho que não te contei que minha mãe acabou


descobrindo sobre o bebê no dia do casamento de Emily.

Niklas ergueu o olhar da nota que escrevia.

— E o que ela disse? — Arqueou a sobrancelha, ciente


de que minha mãe podia ser bem ácida com novidades.

— Muitas coisas, mas o importante é que tudo vai ficar


bem.

Era uma surpresa que eu não tinha planejado, mas tudo


se encaixava de maneira única. Enquanto montávamos os
presentes, Niklas sugeriu que deveríamos decorar a casa
para o Natal, já que eu adorava essas datas festivas. Ele
também propôs que organizássemos um jantar de Ação de
Graças para toda a família e revelássemos a gravidez nesse
momento especial. A ideia me encantou e concordei
prontamente, pensando em começar a preparar os convites
logo.

À medida que conversávamos, percebi como éramos


compatíveis em nossos planos para o futuro. Ele brincou
que nossa viagem a Disney precisaria ser adiada até o bebê
ter idade o suficiente para apreciar o parque e concordei,
amando ainda mais o meu sonho. Seria realizado junto com
meu filho ou filha.

Em casa, sozinhos, tínhamos sempre um clima leve e


agradável. Era notável o quão rápido nosso relacionamento
se desenvolveu e raramente discutíamos. Algumas vezes,
as finanças nos causavam atrito, mas eu estava aprendendo
a relaxar nesse aspecto, compreendendo que não valia a
pena brigar com Niklas por questões de dinheiro. Assim
como o fato de que ele era capaz de deixar meias
espalhadas por todo lugar e acordava muito cedo,
interrompendo meu sono muito mais que a minha gata
pedindo comida.

Após terminarmos os presentes, nos dirigimos para o


quarto, prontos para descansar. Cleo apareceu, toda
manhosa, mas deixou claro que só queria a minha atenção.
Comecei a acariciar a pelagem dela, que ronronava em
contentamento. Niklas tentou se aproximar, mas Cleo o
ignorou na maior parte do tempo, deixando claro que seu
afeto era exclusivamente meu. Minha ciumentinha.

Deitamos na cama juntos, abraçados, ele ficou


assistindo a um filme chato que me fez pegar no sono muito
rápido.

O toque estridente do telefone dele interrompeu o


nosso sono, nos assustando. Era Cynthia do outro lado da
linha, pedindo que voltássemos imediatamente para o
hospital em pouquíssimas palavras. Meu coração acelerou e
o nervosismo se apoderou enquanto me vestia. Niklas
dirigiu em alta velocidade até o hospital, paramos e fomos
direto para o andar da pediatria, praticamente correndo até
o consultório médico.

Meu primeiro impulso foi abraçar Cynthia, sentindo seu


nervosismo e angústia. Sua expressão era de medo e
desalento. Elias estava em Chicago, e eu imaginava o quão
difícil era para ela estar sozinha, enfrentando essa situação
com Kurt.

O neurologista permaneceu muito sério quando nos


explicou a gravidade da situação naquele instante. O tumor
estava vencendo a batalha e Kurt lutando arduamente
contra o tempo... questão de horas. Porém, havia uma
oportunidade. O tumor havia crescido, tornando-se mais
visível e acessível para a cirurgia. A equipe médica
acreditava que era o momento de tentar a operação,
embora as sequelas fossem incertas. A incerteza estava nas
possíveis consequências. A cirurgia poderia afetar a fala, a
capacidade de andar e até mesmo a visão de Kurt.

No entanto, os médicos estavam otimistas e dispostos a


fazer tudo o que pudessem para aumentar as chances dele.

Olhei para Cynthia, vendo a angústia e o medo em seus


olhos. Também sentia a mesma mistura de emoções. Niklas
permaneceu firme, buscando a minha mão e entrelaçando
nossos dedos. Cynthia e Niklas se olharam, compartilhando
o peso da decisão.

— Nós vamos fazer isso, Niklas? — Ela chorou, secando


o rosto.

— Vamos lutar até o último suspiro — Niklas confirmou,


cheio de convicção, sendo uma fortaleza por nós e
principalmente por Kurt.

A cirurgia seria uma jornada difícil, mas não havia


dúvida de que era a única opção. O médico nos orientou
sobre a logística e as preparações necessárias, porque Kurt
precisava vencer aquela noite. Cynthia e eu nos abraçamos,
compartilhando nossas lágrimas. Nunca senti tanto medo
em toda minha vida e ao mesmo tempo, uma força
poderosa crescia em meu peito. Estaríamos juntos nessa
batalha. Kurt ficaria conosco para sempre.

O hospital disponibilizou uma sala de espera privada


para a família, reconhecendo a importância de termos um
espaço para nos apoiarmos mutuamente e recebermos
nossos pais. Não seria fácil. O processo seria longo e
angustiante. Olhei para Niklas de novo, nossas mãos
entrelaçadas, íamos lutar por Kurt. Era muito medo, porém,
havia uma determinação silenciosa correndo entre nós. Não
importava o que estivesse pela frente, a nossa missão era
salvar a vida do Kurt.

Niklas ficou no consultório para lidar com os aspectos


burocráticos da cirurgia, Cynthia e eu fomos acompanhar o
preparo de Kurt e dar a difícil notícia aos familiares. Fiz o
possível para manter a calma, embora meu coração
estivesse acelerado.

— Não vou ligar para os meus pais, eles não serão de


muita ajuda, vamos avisar aos pais de Niklas e aos nossos
padrinhos, Jim e Amelia.

— Deixa que eu ligo. Pode ir na frente ficar com nosso


menino. — Dei a ela um sorriso tranquilo e com cuidado,
avisei a todos sobre a cirurgia iminente de Kurt. Ao mesmo
tempo, liguei para a minha irmã, Emily, pedindo suas
orações e apoio. Ela prometeu enviar boas energias para
seu novo sobrinho.

Voltei para o quarto e sentadas junto a Kurt, Cynthia e


eu nos esforçamos para explicar a ele o que estava prestes
a acontecer. Usamos histórias de super-heróis para
amenizar o medo do procedimento e enfatizar sua coragem.
Quando a enfermeira entrou para começar os preparativos,
Kurt agarrou a mãe com força, visivelmente preocupado. Foi
doloroso ver seu pavor. Engoli em seco, acariciando seu
braço, lembrando que ele era um menino muito forte e iria
vencer aquela batalha.

Niklas retornou com os olhos vermelhos de quem


poderia chorar a qualquer momento e logo chegou o
momento de levá-lo para a sala de cirurgia. Acompanhamos
Kurt até o limite possível, dando-lhe palavras de amor e
encorajamento. Niklas também teve seu momento com o
filho e suas palavras tocantes me emocionaram.

Quando Kurt finalmente partiu para a cirurgia, ficamos


juntos, agarrando-nos à esperança e rezando para que tudo
desse certo.

— Eu me recuso a viver sem meu filho — Cynthia falou.

— Nós não vamos — eu disse com convicção.

De volta à sala de espera, encontramos os pais de


Niklas, Jim e Amelia. Todos chorosos e angustiados. Eu
abracei Niklas com força, deitando minha cabeça em seu
peito para ouvir os batimentos do seu coração, mas,
naquele momento estava muito acelerado. Tudo era tão
avassalador, a única coisa que eu desejava era que Kurt
superasse essa provação com sucesso.

Continuamos aguardando com muita ansiedade, com o


ambiente repleto de emoções à flor da pele e todos nós
compartilhávamos a mesma fé fervorosa de que Kurt saísse
da cirurgia bem e que nossa família pudesse, finalmente,
encontrar um pouco de paz.

Meu coração estava muito apertado e os nervos


sensíveis, decidi me afastar um pouco e fui até a capela.
Sentei sozinha em um banco vazio, minhas mãos se
juntaram para buscar uma ajuda divina, um milagre que
pudesse guiar as mãos dos médicos que operavam Kurt.
Minhas palavras eram cheias de súplicas desesperadas por
um final feliz.

De repente, senti alguém se sentar ao meu lado e, ao


olhar, percebi que era minha mãe. Sua presença me
surpreendeu.

— Mãe? O que está fazendo aqui? — Funguei, secando


meu rosto.

— Eu tive a sorte de criar duas filhas que compartilham


uma bela amizade e se falam o tempo todo. Emily ligou, ela
sabia que você não me ligaria, mas agora, estou aqui para
ficar com você.

— Mas e o seu trabalho?

— Estar com a minha filha orando pela recuperação do


meu novo neto é mais importante.

Lágrimas surgiram em meus olhos e a abracei bem


apertado.

— Obrigada, mãe! Estou com medo, Kurt é tão


importante para mim, eu sei que ele não saiu do meu
ventre, mas eu o amo como meu filho.

— Tenha fé, minha querida. Ele vai ficar bem.

Juntas, nós duas rezamos, unindo nossas esperanças e


pedidos silenciosos em uma prece cheia de emoção. Pouco
depois, Niklas se juntou a nós. Seu olhar também carregava
a mesma mistura de ansiedade e fé. Ele se aproximou e,
como que por instinto, deitei minha cabeça em seu ombro.
Cantamos baixinho uma das músicas favoritas de Kurt. A
harmonia da melodia trazia um certo conforto, uma
sensação de que, mesmo em meio à turbulência, havia
como estar perto dele.
CAPÍTULO TRINTA E SETE
Niklas

Nunca me senti tão impotente em toda minha vida. A


agonia de esperar enquanto a vida do meu filho estava em
jogo era insuportável. Cada minuto parecia uma eternidade
e a incerteza era torturante. Eu não era bom em esperar,
especialmente quando se tratava de algo tão crucial, de
alguém tão importante. Eu olhava para a porta do centro
cirúrgico como se ela pudesse abrir a qualquer momento
trazendo notícias de Kurt. Cada pensamento em minha
cabeça se multiplicava em um turbilhão de preocupações.

Ansiando pelo momento em que ele estaria seguro nos


meus braços novamente. Eu fazia de tudo para manter a
esperança viva, mesmo que fosse como uma luz frágil em
meio à escuridão da ansiedade.

Para tentar amenizar a tensão, decidi comprar um


lanche para compartilhar com Emilia. Ela permanecia ali ao
meu lado, angustiada, com os lábios pálidos, pálpebras
inchadas e olhos fundos, e mesmo que ela rejeitasse a
comida, tinha que se alimentar pelo bem do nosso bebê.
Emilia parecia estar lutando contra suas próprias emoções.
Ela se recusava a sair para comer, preferindo permanecer
ali, junto a Cynthia, dando todo o apoio que podia. Nossos
pais, Jim, Amelia e até os pais dela estavam presentes,
formando um círculo de apoio ao nosso redor.

Elias, que estava em Chicago, retornou


apressadamente assim que soube da cirurgia.

Convenci Emilia a se deitar no sofá, preocupado que ela


estivesse se esforçando demais. Ela comeu algumas batatas
fritas, mas rejeitou o hambúrguer, alegando estar com o
estômago embrulhado. Olhando para ela, me fez sentir
preocupação misturada com ternura. Ela carregava nosso
filho e minha prioridade era cuidar do seu bem-estar e da
criança que crescia dentro dela.

Sentei ao lado dela, segurando sua mão com carinho.


Olhei em seus olhos.

— Você precisa cuidar de si mesma, Emilia. Tenho fé de


que Kurt vai superar isso. Mas você também precisa se
alimentar e dormir, pelo bem do nosso bebê — falei bem
baixinho, minha voz cheia de determinação e amor. Eu
estava ao lado dela, não importava o que acontecesse, e
faria o possível para garantir que se sentisse protegida e
amparada, mesmo no meio da angústia que nos cercava.

— Eu sei, mas simplesmente não consigo. Não vou


embora até ter notícias dele — ela me respondeu, lambendo
os lábios secos e dei-lhe um beijo na testa.

Quando a doutora Liz Nichols-Reedburn finalmente saiu


do centro cirúrgico, acompanhada pelo médico neurologista,
todos nós nos erguemos, ansiosos por notícias. Eles
pareciam exaustos, seus rostos marcados pelas máscaras e
toucas, sinais evidentes de horas de trabalho intenso. Minha
pulsação acelerou, minha respiração presa enquanto
esperávamos ouvir o veredito que poderia definir o destino
do meu filho.

O neurologista deu um passo à frente, a expressão séria


e grave.

— A cirurgia foi um sucesso. O tumor foi removido com


êxito e Kurt reagiu bem ao procedimento.

As palavras pareciam ecoar em meus ouvidos e um


peso imenso foi retirado dos meus ombros. Minhas pernas
pareciam que iam falhar. Um abraço apertado e emocionado
se seguiu entre mim e Emilia. Era um alívio que mal
podíamos conter. Os outros também se abraçaram,
compartilhando o mesmo sentimento de gratidão.

A notícia de que Kurt havia sobrevivido era como


explosão de fogos de artifícios, mesmo sabendo que os
desafios ainda não tinham acabado. O futuro continuava
incerto, com possibilidades dolorosas. Ele poderia não
acordar, poderia ficar em coma ou ter sequelas que
afetassem sua qualidade de vida. Era uma batalha que
ainda tínhamos que enfrentar, mas por enquanto,
celebrávamos a vitória da cirurgia bem-sucedida.

Um passo de cada vez, era o que eu repetia


internamente.
Cynthia e eu fomos autorizados a vê-lo na unidade
intensiva. Quando o vi na cama, parecendo frágil e pálido,
com a faixa na cabeça e conectado a diversos tubos e
aparelhos, meu coração se apertou. Cynthia e eu ficamos ali
tão… perdidos. Era o nosso menininho. Mas ele iria vencer,
eu tinha esperanças. Depois, voltei com Emilia para vê-lo
novamente. Ficamos ali em silêncio, nossas mãos tocando o
vidro que nos separava dele. Eu inclinei minha cabeça e
beijei os cabelos dela, buscando confortá-la.

— Em breve, iremos levá-lo para casa — falou baixinho,


com voz cheia de esperança. Eu a abracei mais uma vez,
sentindo toda sua fragilidade. Eu sempre seria o pilar de
força que ela precisava, assim como ela era para mim todo
tempo sem questionamentos.

— Sim, amor. Nosso bebê tem o irmão mais velho mais


incrível de todos.

Cancelei todos os meus compromissos, deixando bem


claro para todos que minha prioridade era o bem-estar e a
recuperação do meu filho. O trabalho podia esperar,
enquanto Kurt não acordasse, eu não estava disposto a me
afastar do hospital. Insisti para que Emilia fosse para casa
com os pais, se alimentasse e descansasse. Ela ficou
esgotada, precisava recarregar as energias para
enfrentarmos o que estava por vir, o incerto era pior do que
qualquer planejamento.
Depois de muita relutância, a convenci de que
precisava descansar pelo menos algumas horas. Planejamos
revezar com Cynthia e seu noivo, para que todos pudessem
estar presentes quando Kurt acordasse. Ela foi na frente,
com Cory e os pais dela, eu ainda fiquei, para conversar
com os médicos, acompanhar a mudança de Kurt para outro
quarto e quando cheguei, encontrei Emilia dormindo
profundamente em nosso quarto. Tomei um banho rápido e
me sentei na ponta da cama, olhando para ela.

Porra… foram as horas mais intensas da minha vida.

Surpreendentemente, Cleo pulou em meu colo. Ela


ronronava e dava cabeçadas em minha barriga, como se
soubesse que eu precisava daquele conforto. Aquela
safadinha. Acariciei sua pelagem macia e me deitei ao lado
de Emilia, aconchegando-me com ela e com a gata. Ficamos
ali, abraçados, como um pequeno refúgio de paz em meio a
todo o caos.

Emilia se virou na cama, abraçando-me, meio


adormecida. Trocamos um beijo suave, com Cleo deitada
entre nós. Ela murmurou baixinho que só precisava
descansar um pouco e voltar para Kurt. Acariciei suas costas
até o bumbum com ternura, voltando e afagando os seus
cabelos. Garanti a ela que logo estaríamos de volta com
Kurt e com boas notícias. Peguei no sono em seguida e
quando acordei, parecia até outra pessoa.
Voltamos para o hospital e as primeiras horas após a
cirurgia foram angustiantes. A saudade do meu filho
apertava a cada minuto que passava, queria ouvir sua voz e
fazê-lo rir até que as lágrimas de felicidade escapassem dos
seus olhos. Quando finalmente tivemos permissão para
entrar no quarto, ficamos ali, de mãos dadas, sentados ao
lado de Kurt. Contávamos histórias, como se ele pudesse
nos ouvir, para que a nossa presença pudesse lhe trazer
conforto. Emilia cantarolava canções suaves, ajeitando as
cobertas com todo o cuidado do mundo.

Os exames iniciais foram positivos, era uma boa coisa.


Kurt respondia aos estímulos, seus reflexos estavam
presentes. Nós dormimos ali, ela no sofá e eu na poltrona,
de manhã, saí para comprar um café para mim, chá e
bolinhos para ela. E então, finalmente aconteceu. Emilia me
chamou bem baixinho, virei na porta e os olhos castanhos
que tanto amávamos se abriram e começaram a procurar
no quarto.

Era como se ele estivesse nos procurando, querendo se


certificar de que estávamos ali. Um sorriso sonolento se
formou em seus lábios e não pude conter as lágrimas de
emoção.

Emilia e eu pegamos suas mãozinhas delicadas e as


beijamos, como se estivéssemos selando aquele momento
de reencontro. Juntos, sussurramos um "olá" suave,
deixando que ele nos ouvisse, sentisse a nossa presença.
Enviei um alerta em letras gigantes e muitos corações para
Cynthia correr de volta para o hospital, ela só tinha ido
tomar um banho, mas voltaria o mais rápido possível.

Kurt soltou uma tosse fraca e sua voz um pouco rouca.


Ele disse "oi" de volta, e aquele simples cumprimento
encheu meu coração de alegria e alívio. Informei a
enfermagem que ele havia acordado e logo a médica
pediatra presente fez algumas perguntas teste. Para minha
surpresa e orgulho, ele respondeu a todas elas, mesmo com
a voz um tanto debilitada.

— A cirurgia já passou, papai?

Eu sorri emocionado, segurando a mão de Emilia.

— Sim, Kurt, a cirurgia passou — disse a ele, com um


amor que transbordava em cada palavra. Aquele era um
momento que eu tinha rezado para vivenciar, ver meu filho
acordar, interagir e ser ele mesmo. E ali estávamos,
testemunhando sua coragem e força, celebrando a vitória.

Cynthia surgiu na porta com os cabelos molhados e


olhos arregalados, Emilia e eu nos afastamos. Ela correu
para Kurt e ele abriu um sorrisinho.

— Calma, mamãe. Eu estou bem.

— Ah, meu querido. — Cynthia chorou e afundei meu


rosto nos cabelos de Emilia para conter a minha vontade de
chorar. — Você é o meu herói, Kurt.
Kurt começou a se recuperar gradualmente, e apesar
do processo ser lento, eu via nele uma força incrível. Reagia
conforme o esperado, mas ele era sempre gentil e alegre,
um tanto curioso, perguntava tudo a nós ou para as
enfermeiras. Observar seu sorriso frágil, mas cheio de
vitalidade, me mostrava o verdadeiro campeão que ele era.
Kurt me ensinava sobre resiliência e determinação todos os
dias.

O tempo de internação não era fácil para Kurt,


especialmente por estar afastado da escola e dos amigos.
Ele estava determinado a melhorar, cada pequeno
progresso que fazia era uma conquista para todos nós.

A rotina da nossa família foi voltando aos poucos ao


normal, Emilia voltou a escrever, muitas vezes ao lado de
Kurt no hospital e ele nunca reclamava de nada. Mesmo
enfrentando desafios que muitos adultos não conseguiriam,
meu menino tinha coragem e um espírito inabalável.

Enquanto Kurt se recuperava, também voltei


gradualmente ao trabalho. No entanto, recusei qualquer
evento ou compromisso que pudesse tirar minha atenção de
Emilia, da casa e, é claro, do meu filho. Era um tempo de
dedicação à família. Além disso, eu estava ciente dos
ataques na internet em relação à minha manobra contra
Bryan Hudson. Mas sinceramente, não me interessava em
dar atenção a isso. Sabia que logo as pessoas encontrariam
outro assunto para comentar. Meu foco estava nas coisas
que realmente importavam.
Cuidar dos meus negócios era importante, mas cuidar
de Kurt e de Emilia eram minhas prioridades máximas.
Aproveitava ao máximo cada momento com Emilia,
especialmente porque sabia que ela vivia uma fase delicada
da gravidez. Suas emoções estavam à flor da pele e eu
queria estar ao lado dela, para registrar seus choros
aleatórios, as conversas que começavam com um assunto e
do nada terminavam em outro, os desejos por comidas com
combinações duvidosas e as transformações de seu corpo.

Todos os dias, acordava grato, ia cuidar de mim mesmo,


da minha namorada manhosa, de sua gata teimosa e do
meu filho forte como um ferro, com a alma transbordando
gratidão. Eu torcia fervorosamente pela recuperação de
Kurt, pela saúde do nosso bebê e pela felicidade eterna da
família que fui agraciado em construir. Foi um presente foda
do destino. Quando iria imaginar que a bonita, porém, doce
e tímida copeira da minha empresa era uma jornalista
talentosa, que se tornaria minha namorada falsa, eu me
apaixonaria e depois, ela se tornaria mãe de um dos meus
filhos, uma madrasta excepcional, minha melhor amiga e
companheira?

Ninguém diria. Essas coisas só aconteciam nos filmes.


Mas aconteceu comigo. Eu tinha que agradecer aos céus.
CAPÍTULO TRINTA E OITO
Emilia

Era um dia aguardado com grande ansiedade por todos


nós. O primeiro dia de Kurt em casa após uma longa
internação. Niklas e eu decidimos celebrar esse momento
com uma pequena festa de boas-vindas, combinada a uma
comemoração tardia de Ação de Graças. Havia muito para
agradecer e era uma ocasião especial que merecia ser
vivida com nossa família e amigos mais próximos.

A casa estava decorada de forma acolhedora, com uma


mesa repleta de comida deliciosa, de um buffet que minha
sogra recomendou muito. Queríamos aproveitar a
oportunidade para dar a notícia de que, além de Kurt estar
finalmente em casa, totalmente recuperado, ele também
seria um irmão mais velho em breve. A felicidade enchia o
ar quando todos se reuniram para dar as boas-vindas a Kurt.

No momento em que nosso menino entrou, todos


bateram palmas com carinho e admiração. Seu sorriso era
contagiante, e ver sua alegria ao estar em casa nos encheu
de emoção. Ele segurou minha mão e a de Cynthia, como se
estivesse transmitindo a gratidão que sentia por estar ali.
Niklas e Elias carregavam as malas atrás de nós.
A governanta, senhora Preswitt, e Victoria, minha sogra,
haviam organizado tudo com cuidado para a celebração.

Depois que Kurt passou basicamente de colo em colo, e


eu também consegui cumprimentar todo mundo, fomos
comer, porque estávamos famintos. Niklas propôs um
brinde antes de tudo.

— Sei que o dia de dar graças passou, mas nós estamos


celebrando hoje a vida do meu filho, seu retorno ao lar e
sua recuperação completa. Todos nos disseram que Kurt não
passaria dos cinco, depois dos seis, que cada minuto da
vida dele era um milagre, que o tumor era impossível e
quando cresceu, foi como um tic-tac do relógio em nossas
mentes. — Niklas olhou para Kurt. — Mas por dons médicos
ou milagres divinos, escolha no que acreditar, estamos aqui
com ele. E por isso, agradeço o apoio, amor e compreensão
de todos vocês na vida dele e nas nossas. Obrigado por
tudo.

Erguermos nossas taças e brindamos a vida do Kurt. Ele


subiu na cadeira, querendo bater seu copo nos nossos
também, me fazendo rir.

Em um momento planejado, decidimos revelar a todos


o motivo da nossa dupla comemoração. Peguei os
envelopes com os presentes que preparei anteriormente,
entregando um para cada casal de pais. Kurt estava ansioso
com seu presente também, com os olhos brilhantes,
enquanto todos seguravam os envelopes, prontos para abrir
juntos.

A tensão se dissipou em risos e lágrimas de alegria


quando leram a mensagem anunciando que Kurt seria um
irmão mais velho. O sorriso radiante no rosto dele era
indescritível.

— Eu vou ganhar um irmão, papai? — Kurt gritou de


alegria.

— Vai sim, campeão.

Cynthia e Elias expressaram sua felicidade com abraços


animados, enquanto Kurt pulava no sofá, pedindo colo. Com
carinho, eu o peguei, sentindo a doçura do momento. Ele
murmurou em meu pescoço que estava muito feliz por se
tornar um irmão mais velho e eu senti meu coração derreter
por sua emoção sincera.

Os pais de Niklas e meu pai estavam emocionados,


muito felizes com o novo netinho ou netinha. Minha mãe,
que já sabia do bebê, filmava a cena, e até meu pai,
geralmente tão reservado, não conteve as lágrimas de
alegria. Ele me abraçou fortemente, expressando o amor e
a felicidade que sentia naquele momento. Chegou até a me
erguer do chão, dando uma rodopiada. Eu tinha que
reconhecer que mamãe estava se esforçando, ela deixou os
comentários de lado e abriu os braços para nossa relação
tanto quanto eu. Ainda tínhamos um longo caminho pela
frente, porém, estava disposta a deixar as mágoas para trás
e construir uma relação saudável entre nós.

Depois de todos os abraços, beijos e comemorações,


olhei para Niklas, minha mão pousando suavemente sobre a
barriga onde nosso bebê crescia. Ele abaixou na minha
frente e beijou.

— Eu amo vocês — disse a ele, porque era verdade.


Nada mais de medo. Só amor.

Após a festa de gratidão, percebi que Kurt estava


cansado no sofá, todo encolhidinho vendo filme, afinal, ele
havia acabado de sair da internação. Levei-o para o quarto
e contei uma história para ele, garantindo que estivesse
confortável e tranquilo. Ativei a babá eletrônica para
monitorá-lo enquanto dormia, certificando-me de que
pudéssemos ouvi-lo chamar se precisasse de ajuda. Pedi
baixinho para Cleo, que estava deitada ao seu lado, para se
comportar e encostei a porta.

Depois, fui para o meu quarto, precisando relaxar


também. Despi-me e entrei em um banho relaxante,
deixando a água quente massagear meus músculos.
Agradeci silenciosamente por tudo ter corrido bem, por Kurt
estar em casa e saudável. Ao sair do banho, vesti meu
pijama e deitei na cama, aliviada que era gostosa e não
igual ao sofá do hospital. Peguei meu iPad para checar meus
e-mails, apenas um hábito que peguei de Niklas.
Encontrei uma surpresa maravilhosa: havia uma
resposta de um amigo do editor do NY Times, apresentando-
me a uma famosa editora de Nova Iorque com alcance
mundial. Eles estavam interessados em transformar os
meus contos em histórias de, não só um romance, como em
vários, e propuseram a ideia de trabalharmos juntos em um
projeto inicial. Eu fiquei pasma, nunca havia pensado em
me tornar uma romancista, mas a perspectiva me deixou
empolgada.

— Que alegria é essa? — Niklas entrou no quarto, eu


estava no auge da empolgação.

— Você não sabe o que acabei de receber!

Expliquei sobre o interesse da editora e a proposta de


trabalhar em uma história. Ele sentou ao meu lado na cama,
sorrindo.

— Seu talento com a escrita é inegável, talvez essa seja


a resposta que tanto vem buscado nos últimos meses.
Finalmente, algo que realmente te deixou feliz bateu à
porta. Todas as outras, você me dizia um “eu acho” na
frente, sem essa alegria bonita aí. Tenho certeza de que
dará certo.

Suas palavras de encorajamento me deixaram ainda


mais confiante e foi reconfortante saber que ele estava ao
meu lado, como sempre.
Niklas tirou o iPad da minha mão de forma gentil e
apagou a tela, sua expressão carinhosa e um pouquinho
atentada me fez sorrir. Ele se inclinou sobre mim e beijou
suavemente o meu ventre, murmurando palavras fofas para
o bebê. Senti ternura e amor transbordando dentro de mim.
Ele arrastou o nariz pela minha pele com delicadeza,
deixando-me derretida com seu carinho. Arrepiada, fui
chegando para trás.

Aproveitei cada momento de seu abraço, sentindo-me


protegida e amada. Não havia mais tensão ou
preocupações, apenas a sensação reconfortante de estar
nos braços de Niklas. Nossos lábios finalmente se
encontraram em um beijo apaixonado, eu me movi para
cima dele, sentindo o calor de seu corpo se espalhar pelo
meu.

A vontade de estar perto, de sentir sua pele contra a


minha, era irresistível. Aos poucos, ele começou a erguer a
minha camisa de pijama com toques cheios de desejo e
saudades acumuladas. A tensão dos últimos tempos foi
sendo liberada a cada carícia.

— Tira a sua roupa, vai. Quero sentir seu peito contra o


meu.

— É claro, senhora. Ficar nu com você é um prazer.

Nossas mãos exploravam cada centímetro de pele


exposta, enquanto o desejo se intensificava. Alguns
travesseiros foram empurrados para o chão conforme nós
rolávamos pela cama, em um misto de paixão e
necessidade. Estava louca de saudade dele e com sua
clássica habilidade, Niklas retirou as minhas calças,
seguindo-se por suas próprias roupas. Cada movimento era
carregado de urgência. Agarrei seus cabelos enquanto
nossos lábios se uniam em beijos intensos, queimando de
tesão.

Não havia nada mais importante além de nós dois.


Nossos corpos se fundiam em um ritmo apaixonado, uma
dança de amor e, cada vez mais molhada, pronta para ele,
sem necessidade de mais nada. A entrega mútua explodia
dentro do nosso quarto. Niklas pegou um travesseiro para
me deixar confortável e ficou entre minhas pernas, afastei
meus joelhos, passando as mãos provocativamente pelo
meu torso, beliscando meus mamilos e ele posicionou seu
pau na minha entrada, empurrando dentro. Suspirei, porra,
aquilo era muito bom.

Nos entregamos um ao outro, senti uma explosão de


emoções e sensações, uma catarse de que havíamos
enfrentado e permanecemos juntos, inabaláveis. Envolvi
minhas pernas em sua cintura, impulsionando junto às
estocadas deliciosas que me faziam arrepiar da cabeça aos
pés, com a sensação de que estávamos nos renovando, nos
fortalecendo por meio do amor que sentíamos um pelo
outro. Gozei, beijando-o, arranhando seus braços para
segurá-lo e ele afundou o rosto no meu pescoço, dando uma
mordida ao chegar ao ápice, se liberando.
— Acho que para sempre não é o suficiente para tudo
que quero viver com você. — Acariciei seu rosto.

— Então, vamos viver cada segundo com intensidade —


ele prometeu, me dando um beijo.

Niklas permaneceu deitado ao meu lado, as carícias


suaves nas minhas costas faziam com que eu me sentisse
amada e protegida. Mais tarde, percebi que ele ainda não
havia conseguido pegar no sono e me preocupei um pouco.

— Está tudo bem, baby?

— Ainda não consigo acreditar que Kurt está casa —


respondeu com a voz soando um pouco cansada. — É difícil
acreditar que o tumor não é mais uma ameaça. Não é uma
bomba prestes a explodir e levar meu filho. Estou aliviado e
ao mesmo tempo, me sinto sobrecarregado.

Eu o ouvi com atenção, compreendendo a magnitude


do que sentia. Ele lutou incansavelmente pela vida do filho
e agora a recompensa estava diante de nós.

— Você sempre foi implacável na batalha pela vida do


Kurt — disse com ternura. — Se ele é um herói e está em
casa, é porque teve um pai incrível dando-lhe força.
Descanse agora, Kurt está conosco.

Inclinando-me, beijei seus lábios com carinho e peguei


a babá eletrônica, mostrando Kurt dormindo tranquilamente
em seu quarto através da câmera. Quis que Niklas visse que
o filho estava realmente em casa, seguro e em paz.
Cantando suavemente uma melodia reconfortante, comecei
a acalmar Niklas, desejando-lhe uma boa noite de sono.
Enquanto cantava, a porta se abriu lentamente. Era a nossa
felina autoritária, Cleo, que entrou no quarto com a postura
de quem dominava todos os ambientes. Ela subiu na cama
e se acomodou na ponta, como se estivesse assegurando
de que tudo permanecia em ordem.

Sorri com a presença de Cleo, ela era uma figura.


Abracei Niklas com carinho, sentindo a paz que sua
presença me trazia. Fechando os olhos, entrelacei minha
mão na dele e me aconcheguei em seus braços. Eu me
sentia completa juntos. Com Cleo nos guardando, adormeci
com a certeza de que estávamos vivendo tudo que
merecíamos.

Na manhã seguinte, fui acordada pelo entusiasmo de


Kurt, que havia acordado mais cedo do que o normal. Ele
correu para o quarto, subiu na cama e deu um animado
"bom dia".

— Estou com fome, gente.

Soltei uma risada. O apetite dele estava bem acordado


também.

— O que quer comer? — perguntei, bocejando.

— Deixe-me ver… — Ele bateu com o dedinho indicador


no queixo. — Panquecas com mel.
Ele não parou mais de falar, expressando suas vontades
de forma adorável. Se aproximou de mim e me deu um
beijo, me surpreendendo ao também beijar a minha barriga.
Meu coração não resistia a tanto carinho, e eu o abracei,
sentindo-me emocionada por fazer parte da vida daquele
menino incrível.

Niklas abraçou Kurt com força, concordando que era


hora de descermos para comer. Todos nós vestíamos nossos
pijamas, formando uma cena aconchegante e familiar
enquanto íamos para a cozinha. A babá e a governanta
estavam lá com sorrisos calorosos, felizes com a presença
de Kurt em casa. Servi um pedaço de bolo para mim e
aproveitei cada mordida, o sabor do chocolate me deixando
radiante. Todos riram da minha empolgação, o que só me
fez sorrir ainda mais.

Kurt, curioso como sempre, perguntou se eu já podia


sentir o bebê mexer. Expliquei que ainda não, que havíamos
ouvido apenas os batimentos cardíacos por enquanto. Ele
parecia intrigado e queria ouvir também. Niklas pegou seu
celular e mostrou um vídeo do ultrassom que havíamos
feito, onde podíamos ouvir claramente o som do
coraçãozinho do bebê.

— Está entendendo? — Niklas quis saber. Eu amava


ouvir o som do meu bebezinho.

Os olhos de Kurt se encheram de lágrimas e ele correu


para me abraçar, apertando-me com carinho. Ah, meu
Deus! Sussurrei que o amava, porque era a verdade mais
genuína que poderia expressar. Kurt não era meu filho
biológico, mas desde que o conheci, ele havia conquistado
completamente meu coração.
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
Emilia

Decidi fazer um chá de revelação do sexo do bebê por


sugestão de Emily. Ela disse que estava na moda e seria
uma maneira divertida de compartilhar essa novidade com
todos. Conversei com Niklas, ele concordou, então fiz o
exame para descobrir o sexo do bebê e Emily ficou
encarregada de preparar a decoração nas cores
apropriadas. A maior parte do planejamento ficou comigo,
desde a escolha do local, que desisti de procurar algo fora e
resolvi fazer em casa mesmo, até a organização dos
detalhes. Embora estivesse um pouco cansada da maratona
das últimas semanas, fiquei empolgada com a ideia de criar
mais um momento especial para a nossa família.

Na noite anterior ao evento, Kurt dormiu com a mãe


como parte do acordo de guarda compartilhada. Estava
sozinha em casa com a governanta, ocupada finalizando
alguns detalhes de decoração e verificando todos os
preparativos. O interfone tocou e a senhora Preswitt me
informou que subiam com as frutas frescas para a festa.
Fiquei animada, pois estava com um desejo irresistível.

— Será que eles vão entregar tudo? Quero comer


morangos com açúcar.
— A sua médica não pediu para maneirar nos doces? —
Ela me lembrou gentilmente e fiz uma pequena careta. Ela
estava certa, afinal, eu precisava cuidar da minha saúde e
do bem-estar do bebê. Ainda assim, eu queria.

Voltando minha atenção para o computador, continuei


conferindo os últimos detalhes quando ela entrou na sala
novamente com uma expressão estranha no rosto, e eu
estava prestes a perguntar o que havia acontecido quando
ergueu as mãos no ar, como se estivesse se rendendo. Meu
coração disparou e me levantei da cadeira, sentindo um nó
na garganta. Logo atrás dela, surgiram dois homens
vestidos com uniformes de entrega, mas seus rostos
estavam cobertos por algum tecido que pareciam meias e
eles seguravam armas.

Meu corpo inteiro ficou tenso de medo e surpresa.

— Vocês podem levar o que quiserem, mas por favor,


não nos machuquem — implorei, engolindo em seco.

A adrenalina corria pelas minhas veias enquanto eu


tentava não entrar em pânico. Olhei rapidamente ao redor,
procurando por uma saída ou algo que pudesse ajudar.
Minha mente ficou a mil, tentando entender o que acontecia
e como poderia garantir a minha segurança e a da senhora
Preswitt.

— Afaste-se da mesa com as mãos levantadas. Você vai


vir conosco.
— O quê?

— Não queremos dinheiro, vem, anda. Você vem


conosco.

Minha mente entrou em uma confusão de medo e


pânico. Minha surpresa só aumentou quando eles revelaram
que não estavam atrás de joias ou dinheiro, mas sim de
algo mais obscuro. Eles me ordenaram a acompanhá-los
com calma, alertando que qualquer movimento brusco
resultaria em consequências graves para a governanta e
para o meu bebê, já que a minha gestação, era de
conhecimento público.

Pensei que teria um ataque cardíaco ao perceber que


aquilo não era um roubo comum, e sim um sequestro.

Com o coração martelando no peito, me vi obrigada a


seguir as ordens deles. Eles trancaram a governanta na
despensa e me fizeram entrar no elevador, mantendo a
arma apontada para mim o tempo todo. Meu corpo estava
tenso, minhas mãos tremiam e minha mente girava em
torno do que estava acontecendo e em como fugir. Meus
pensamentos oscilavam entre a preocupação com o medo
do que poderiam fazer comigo e o terror de que pudessem
me machucar de maneira que prejudicasse o bebê que eu
carregava.

O elevador parecia uma prisão claustrofóbica, cada


andar que ele descia aumentava a minha ansiedade. As
lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto mesmo
tentando manter a tranquilidade, mas era uma tarefa quase
impossível diante daquela ameaça terrível. Quando
finalmente chegamos ao térreo, meus olhos se arregalaram
de terror ao ver uma van esperando do lado de fora. Eles
tentaram me arrastar para dentro dela, mas, de repente,
Cory apareceu acompanhado de outros seguranças.

Os homens armados tentaram reagir, um deles atirando


enquanto eu tropeçava e caía no chão. A dor da queda foi
momentânea, mas aproveitei a oportunidade para me
arrastar para trás de um carro estacionado, buscando
abrigo e proteção, cobrindo meus ouvidos da barulheira. Um
dos seguranças me puxou, levando-me de volta para o
elevador com os outros, formando um escudo de proteção
ao meu redor. Tremia da cabeça aos pés, minha respiração
estava acelerada e meu coração parecia querer saltar do
peito a qualquer momento.

A adrenalina corria em minhas veias enquanto o


elevador subia, meu olhar voltava-se para o painel,
contando os segundos angustiantes até que finalmente as
portas se abrissem de novo e eu pudesse estar mais perto
de um lugar seguro e bem longe da ameaça que tinha
colocado em risco a minha vida e a do meu bebê.

Assim que paramos no andar da cobertura, corri para


soltar a senhora Preswitt da despensa. A governanta estava
em choque e eu também, à beira de um colapso nervoso.
Ela ficou tão histérica quanto eu, mas o choque da situação
começou a se manifestar em uma crise de pânico. Meu
corpo tremia incontrolavelmente, minha respiração estava
rápida e superficial, e eu sentia como se o mundo estivesse
girando ao meu redor muito rápido.

A senhora Preswitt tentou me acalmar e me levou até o


sofá, mas a sensação de que estar sufocando só piorava.

— Eu não sei o que fazer, Emilia. Acalme-se, por favor.

Tentava controlar minha respiração, repetindo para mim


mesma que estava segura, que estava em casa, com
pessoas que me protegeriam. Mas o pânico continuava a
me dominar. A senhora Preswitt, percebendo o quão
vulnerável eu estava por estar grávida, fez a decisão de
chamar a emergência. Meu coração batia tão rápido que
parecia querer sair do peito e eu lutava com tudo, porém, as
lágrimas venceram e molharam todo meu rosto e colo.

Sentada no sofá, coloquei minhas mãos na barriga em


uma tentativa de encontrar alguma conexão com o meu
bebê e trazer um pouco de calma. Fui repetindo para mim
mesma que estava tudo bem. Respirei fundo, fazendo uma
contagem em minha mente.

Era difícil acreditar que quase fui sequestrada dentro da


minha própria casa. A simples ideia de estar sendo levada
por homens desconhecidos para um destino de pesadelo
era aterrorizante. Minha mente revivia o momento em que
fui abordada com o medo do que poderiam fazer comigo e
com o meu bebê.
Mas, mesmo em meio ao turbilhão de emoções, eu
também sentia um profundo alívio. Kurt não estava em casa
naquele momento e aquilo era uma bênção que eu
agradecia do fundo do meu coração. E, mais importante
ainda, os sequestradores foram impedidos por Cory e pelos
seguranças do condomínio. Cory, com sua coragem e
habilidade sem igual, interveio e me resgatou de uma
situação que poderia ter sido muito pior. Eu o agradeceria
para todo o sempre.

Buscando o meu equilíbrio emocional, falei baixinho


com o meu bebê, como se pudesse transmitir a ele um
pouco de tranquilidade, porque ficaríamos bem.

— EMILIA!

Meu alívio foi imenso quando ouvi a voz familiar de


Niklas invadindo o apartamento com urgência. Ele me
agarrou de maneira tão apertada que senti como se
estivesse tentando me proteger de todo o mundo. Seu
coração batia rápido e sentia o desespero dele ecoando em
suas mãos que me tateavam, buscando se certificar de que
eu estava inteira e a salvo.

— Emilia, meu Deus, você está bem? — ele questionou,


a voz trêmula, revelando a intensidade de suas emoções. —
Senhora Preswitt, está tudo bem?

Nossa governanta, que parecia mais calma agora, se


aproximou com um copo de água com açúcar para mim.
Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava o copo, mas
bebi um gole tentando acalmar o nervosismo que ainda me
dominava. As palavras não saíam da minha boca, só
conseguia chorar, tentando assimilar o que havia
acontecido.

— Estamos bem, assustadas, ela não consegue se


acalmar — a senhora Preswitt respondeu por mim. — E eu
chamei a emergência, estou preocupada.

— Você fez o certo. Deus, que pesadelo.

Niklas explodiu com os seguranças, exigindo respostas


imediatas. Os olhos dele estavam cheios de fúria e
preocupação, não havia como escapar da tensão no ar
enquanto ele questionava o que havia ocorrido. A sala se
tornou um caos, com seguranças, policiais e vizinhos
curiosos que tentavam se aproximar. Os seguranças
mantinham todos afastados da entrada do apartamento,
criando uma barreira de proteção ao nosso redor.

Minha mente estava ainda em turbilhão quando vi Jim


entrando na sala com o pai de Niklas, William. Eles queriam
respostas e entender como algo tão terrível havia
acontecido dentro de nossa própria casa. Eu fechei os olhos
por um momento, sentindo um nó na garganta. Sabia que
eles ficaram preocupados comigo, com o bebê, e não tinha
palavras para explicar o que havia acontecido. Eu estava
grata por estar segura, por ter sido resgatada a tempo, mas
também esmagada pela experiência traumática que vivi.
Os paramédicos chegaram e minha pressão arterial
estava muito elevada, porém, não precisei ser encaminhada
para o hospital. Eu fui medicada e recomendada a
descansar. Mas não quis ficar no quarto sozinha de
nenhuma maneira.

O dia se desdobrou em uma sucessão de rostos


familiares e preocupados invadindo a cobertura onde eu e
Niklas vivíamos. Todos queriam me ver, saber se eu estava
bem. Cynthia e Elias chegaram primeiro, seguidos pela mãe
de Niklas e os meus próprios pais. Amelia, Emily e o marido
também estavam presentes. Eles formaram um círculo ao
meu redor, todos preocupados com o que eu havia passado.

Kurt ficou grudado em mim assim que percebeu a


gravidade do que aconteceu. Seus pequenos braços me
envolviam com força, como se ele quisesse garantir que eu
nunca fosse embora. Acariciei seus cabelos e lhe assegurei
que estava tudo bem. Eu precisava ser forte por ele, que
era muito pequeno para passar por algo tão traumático.

— Querida, vá deitar, por favor. — Papai pediu e eu


neguei, com um repentino medo de ficar lá em cima
sozinha.

Minha mãe ficou ao meu lado o tempo todo,


praticamente me obrigando a ficar sentada e descansando.
Ela estava claramente nervosa e ansiosa para me cuidar,
sem dar espaço para mais ninguém. Emily me aconselhou,
não como irmã, mas em seu tom autoritário de médica, a
ficar deitada por um tempo e eu obedeci, mas ali no sofá
mesmo, deixando-me ser envolvida pelo carinho da minha
família.

— Você é tão teimosa, menina. — Mamãe riu,


acariciando meus cabelos.

— Só vou deitar quando Niklas puder ficar comigo.

— Tudo bem, descanse. — Ela beijou minha testa


carinhosamente. — Estou aqui com você, filha. Nada vai te
acontecer.

A polícia ainda investigava os detalhes do incidente. Os


homens responsáveis pelo sequestro foram presos, mas não
confessaram quem os havia contratado. Dentro da van que
usaram, encontraram o corpo do verdadeiro entregador,
além das frutas e muito material que indicava um plano de
sequestro.

Eu ia entrar em um carro com uma pessoa morta e só


de pensar, me dava muita vontade de vomitar. Nada fazia
sentido, a suspeita recaía sobre diversas pessoas,
considerando que Niklas tinha inimigos e desafetos por
todos os lados. Poderia ser um caso de tentativa de resgate,
ou mesmo alguém que ele vinha enfrentando há anos…

Enquanto todos estavam ocupados debatendo as


possibilidades e conversando com a polícia, eu me permiti
fechar os olhos por um momento e respirar fundo. Apesar
do susto e do medo que ainda se agarravam a mim, estava
cercada pelas pessoas que amava muito e ainda bem que
nenhum deles estava ferido. Eu morreria se acontecesse
qualquer coisa com a nossa família. Kurt brincava com o
marido da minha irmã, rindo e parecendo esquecer o que
aconteceu. Era a inocência das crianças, um lembrete de
que, mesmo diante do perigo, a vida continuava seguindo
seu curso.

Eu não podia negar o alívio que sentia por ter escapado


ilesa. A busca pelo mandante e pelos motivos por trás do
sequestro ainda estava em andamento. Olhei para Niklas,
que conversava com as autoridades, a expressão muito
séria e determinada. Ele não ia descansar. Não haveria
pausa. Seu coração era bom, amoroso, mas também
possuía uma determinação implacável. Se havia alguém
indesistível, esse alguém era Niklas.

Ele olhou de volta para mim e seu olhar suavizou, com


um pequeno sorriso surgindo, mas a preocupação evidente.
Pisquei, sorrindo de volta, para lhe dizer silenciosamente
que estava tudo bem.
CAPÍTULO QUARENTA
Niklas

Minha cabeça rodava com muita frustração. Refleti que


minha cota de dias ruins já tinha sido excedida há muito
tempo. Em um momento, estava mergulhado em uma
reunião crucial no trabalho com a maioria dos meus
executivos ao redor, no próximo, corria de volta para casa
em um estado de pânico, porque quase perdi Emilia. Era
como se o universo estivesse brincando com meus
sentimentos, testando meus limites emocionais e se eu era
capaz de infartar em minha jovem idade.

Ao chegar em casa e ver Emilia segura, meu coração


finalmente começou a bater em um ritmo normal. Mas as
perguntas e a raiva ainda fervilhavam dentro de mim. Exigi
respostas sobre como a segurança do nosso condomínio
tinha falhado tão miseravelmente. Afinal, como poderia algo
assim acontecer em nosso próprio lar, em um ambiente que
supostamente deveria ser seguro? Minha mente estava em
turbilhão, buscando compreender o que tinha acontecido.

Olhei para Emilia, aliviado por vê-la bem, mas também


frustrado por ter sido colocada em uma situação tão
assustadora. Agradeci muito a Cory pela vigilância
constante nas câmeras de segurança e por monitorar as
entradas e saídas da nossa cobertura quando Emilia estava
em casa. Ele havia se mostrado excepcional, mantendo-a
segura quando eu não me encontrava por perto, fazendo o
seu trabalho de maneira incrível.

As suspeitas eram inúmeras, mas minha mente se


fixava em um nome em particular: Bryan. Ele tinha ido
longe demais em sua busca por vingança. Eu sabia que não
podia sair acusando sem provas concretas, mas não
conseguia ignorar a sensação de que o ódio irracional que
Bryan sentia por mim poderia tê-lo levado a esse ponto.
Conversando com Jim, ele me aconselhou a agir com
cautela, a considerar todas as possibilidades antes de
apontar o dedo para alguém.

Respirei fundo, tentando acalmar minha mente


turbulenta. Eu sabia que teria que reunir provas sólidas para
a minha suspeita, mas estava disposto a fazer o que fosse
necessário para proteger minha família e buscar a verdade.
Afinal, Emilia, Kurt e o bebê eram o meu maior tesouro, e eu
faria qualquer coisa para garantir a segurança deles. Muito
determinado, prometi a mim mesmo que descobriria quem
estava por trás do que aconteceu e garantiria que aqueles
que tentaram nos prejudicar enfrentassem as
consequências de suas ações.

Apesar de toda a turbulência do dia, tínhamos uma


consulta marcada para certificar que o bebê estivesse bem.
Felizmente, a pressão arterial de Emilia permaneceu
controlada, o que era um alívio. Ela se manteve firme em
sua decisão de não cancelar o chá de revelação. Mais do
que nunca, desejava momentos felizes com a família e uma
pausa na tensão que nos cercava. Além disso, estava
ansiosa para descobrir o sexo do bebê, e eu acabei
cedendo, apesar da minha preocupação latente.

A noite chegou e ambos estávamos esgotados. Depois


de um jantar tranquilo que parecia impossível mediante ao
dia que tivemos, Emilia adormeceu tranquilamente, mas eu
não conseguia desligar minha mente agitada. Deitei-me ao
lado dela, observando seu rosto sereno enquanto minha
gratidão se enchia de seu amor.

Pensei em como tudo poderia ter sido perdido, como eu


poderia estar lutando para pagar um resgate ou, pior ainda,
enfrentando a possibilidade de nunca mais vê-la. Mas,
contra todas as probabilidades, Emilia estava ali, segura em
meus braços. Inteira e o bebê também, era tudo o que
importava.

Cleo subiu na cama e eu a peguei. Não era a sua


pessoa favorita, mas ela cedia aos meus afagos quando
ninguém olhava.

Finalmente, o sono me alcançou e eu dormi


profundamente. A manhã seguinte chegou cedo, e acordei
um pouco melhor. Era véspera de Natal, um dia de
celebração, de união e, no nosso caso, de descoberta.
Emilia e eu não tínhamos preferência quanto ao sexo do
bebê, só queríamos que ele ou ela fosse saudável e
trouxesse mais alegria às nossas vidas.

— Bom dia, meu amor. — Ela rolou na cama para cima


de mim. Cleo saiu correndo, miando. — Tem comida no seu
pote!

— Como sabe? — Eu ri baixinho, abraçando-a.

— A senhora Preswitt sempre coloca de manhã, Cleo


que é chata e quer me pentelhar.

— Ela ama você.

— Isso eu sei. — Emilia fez um pequeno beicinho. — Eu


também te amo.

Porra, eu a amava tanto…

— Vem aqui, linda. Me dê um bom beijo de bom dia.

A expectativa presente no ar quando nos preparamos


para o chá de revelação. Nossa casa estava decorada,
pronta para receber nossa família e amigos mais próximos.
Eu olhei para Emilia, com a mão sobre a barriga, usando um
lindo vestido longo e vermelho, e um sorriso nasceu em
meu rosto. Ela estava radiante, cheia de energia e
entusiasmo, apesar de tudo o que havíamos enfrentado nos
últimos tempos. Admirava o quanto ela não se derrubava
por nada.
Nossos entes queridos se reuniram ao nosso redor e
minha mente voltava à importância daquela ocasião. Era
um lembrete de que a vida seguia, que havia alegria mesmo
nos momentos mais difíceis e confusos. Minha mão
encontrou a de Emilia, nossos dedos se entrelaçaram, e
trocamos um olhar. Eu me inclinei e roubei um beijo, porque
vivia para ter os lábios dela nos meus.

As horas passaram e o momento finalmente chegou.


Emily colocou uma grande caixa prateada no meio da sala,
orientando que eu e Emilia ficássemos frente a frente,
segurando um balão grande (fixado na caixa), ansiosos para
revelar o segredo que estava prestes a mudar nossas vidas.
Um sorriso brincou nos lábios de Emilia, seus olhos
brilhavam de emoção e começamos a contagem junto a
nossa família.

Kurt pulava sem parar, com os dedos cruzados e sua


mãe tentava lhe fazer ficar quieto, mas era impossível.
Rindo, segurei o alfinete e Emilia assentiu.

O balão estourou, liberando uma chuva de confetes cor-


de-rosa no ar. Um riso alegre ecoou pela sala enquanto as
pessoas aplaudiam e comemoravam.

— Porra, sim! Uma menina! — Agarrei Emilia, erguendo-


a do chão. Ela gritou no meu ouvido para não sacudi-la,
rindo e chorando ao mesmo tempo. Ficamos abraçados,
bem apertados e depois, pegamos Kurt.
— Você vai ser irmão de uma menina, Kurt! — Emilia
chorou.

Nossos corações ficaram cheios de alegria quando


percebemos que estaríamos recebendo a nossa princesinha.
Um sorriso orgulhoso e emocionado se formou em meus
lábios enquanto eu abraçava Emilia com ternura mais uma
vez.

A felicidade e a expectativa de conhecer nossa filha, de


vê-la crescer ao lado de Kurt, me enchia com um
sentimento de profundo contentamento. No meio de todas
as provações, uma nova luz brilhava em nosso caminho.
Emilia e nossos filhos eram minha maior força e motivação.

Minha linda namorada não parava de sorrir com a


notícia de que teríamos uma menina, acariciando sua
barriga, cada vez mais bonita e delicada. Seu rosto irradiava
felicidade, e eu me senti muito abençoado por ter me
permitido conhecê-la melhor, mesmo assustado, pensando
que não poderíamos ter um futuro com Kurt doente.

Saboreamos a refeição deliciosa de Natal em meio à


família, Kurt expressava sua alegria por ter uma irmãzinha a
caminho, mesmo que secretamente esperasse por um
irmão para brincar. A dinâmica entre eles certamente seria
única, e eu sabia que, independentemente do sexo do bebê,
nossa família estava se fortalecendo.

— Você sempre será o mais velho, certamente terá uma


pequena coisa de fralda te perseguindo pela casa. — Emilia
explicou a ele, quando não entendeu sobre talvez não ser
possível brincarem juntos.

— Eu vou tentar mesmo assim. — Kurt sorriu, ansioso.


Quando o bebê chorasse, eu ia vê-lo tentar de verdade.

Após nos despedirmos dos familiares e ficarmos a sós,


Emilia começou a arrumar os presentes sob a árvore de
Natal. Eu tinha um presente especial guardado para ela,
algo que planejava dar na noite de Ano Novo, mas diante
dos acontecimentos recentes, senti que não havia motivo
para esperar.

— Pode vir aqui um instante, baby? — pedi a ela


enquanto me olhava curiosa. Emilia parou no meio da sala e
me ajoelhei diante dela, tirando a pequena caixa do bolso.

O brilho nos olhos dela refletia as luzes da árvore


enquanto eu segurava a caixa de veludo em minhas mãos
trêmulas. Respirei fundo, sentindo um nó na garganta.

— Emilia — comecei, minha voz um pouco rouca de


emoção. — Desde o momento em que você entrou na minha
vida, tudo mudou. Você trouxe luz, amor e uma felicidade
que eu nunca imaginei ser possível. Cada dia ao seu lado é
um presente, um milagre e uma benção — disse e ela me
observava com os olhos marejados. Continuei, sentindo a
emoção me envolvendo cada vez mais. — Nossa vida juntos
tem sido incrível, cheia de risos, desafios superados e uma
conexão que cresce a cada dia. Você é a pessoa com quem
eu quero passar o resto da minha vida, a mulher que eu
amo com todo o meu coração.

— Niklas, meu Deus! — Ela fungou, secando as lágrimas


que caíram.

Abri a caixa para revelar a aliança brilhante que estava


dentro dela. Seus olhos se arregalaram.

— Não quero mais imaginar minha vida sem você.


Quero compartilhar todas as alegrias e tristezas, superar
juntos obstáculos e construir um futuro de mãos dadas,
celebrando cada conquista. Você aceita se casar comigo?
Ser minha parceira, minha melhor amiga e o amor da minha
vida para sempre?

As lágrimas escorriam pelo rosto dela, e um sorriso


radiante se formou em seus lábios. Ela não precisava dizer
nada, seus olhos já me diziam tudo. Com um aceno
emocionado, ela murmurou um "sim" tão suave que fez
meu coração soar como um sino. Eu coloquei a aliança
delicadamente em seu dedo, e então, nos abraçamos.

Emilia ficou ainda mais radiante, seus olhos brilhavam


com a emoção do momento. Ela se inclinou nas pontas dos
pés para me beijar e eu a abracei com ternura, sentindo
como se meu coração fosse explodir de felicidade. A alegria
que irradiava dela era contagiante e eu não podia deixar de
sorrir ao vê-la tão empolgada com nosso noivado.
Com um movimento suave, eu a ergui em meus braços,
segurando-a com firmeza e carinho. Eu amava sentir o
cheiro do corpo dela junto ao meu.

— Vamos deixar os presentes para depois, meu amor —


sussurrei com um sorriso. — Agora é hora de comemorar o
sim mais importante de nossas vidas.

Emilia respondeu com um beijo apaixonado, suas


palavras se misturando em um doce murmúrio contra meus
lábios. Suas mãos deslizaram por meu pescoço e senti o
calor de sua paixão repleto de desejo ardente. Com cuidado,
subi as escadas e a coloquei na cama, nossos olhos fixados
um no outro, conectados por algo mais profundo do que
palavras.

Meu coração batia acelerado enquanto eu a despia com


gentileza, revelando o conjunto de renda vermelha que
usava por baixo do vestido. A visão era hipnotizante. Meu
pau rapidamente disse olá e meu anseio por ela cresceu
ainda mais. Nossos lábios se encontraram, e daquela vez o
beijo foi cheio de urgência. Beijando seu ombro, desci pelo
colo dos seios, até o sutiã, livrando-me da peça.

Ela estava sensível, um pouco marcada também e


olhando em seus olhos, levei seu mamilo à boca, dando
pinceladas suaves com a língua. Gemendo, fechou os olhos,
inclinando-se um pouco para trás e me deixando deliciar
com seus peitos que ficavam cada vez mais cheios. Desci
um pouco mais e plantei um beijo suave acima de seu
umbigo, ela foi afastando as pernas, dando-me uma ampla
visão de sua boceta linda.

Eu só precisei enfiar meu indicador com delicadeza e


dar uma suave roçada em seu clitóris para assistir o arrepio
se alastrar por toda sua pele. Deitando-se confortável,
passei meus braços por suas coxas e passei a devorá-la com
beijos realmente precisos. Eu amava seu gosto, era viciado
nos gemidos que escapavam de sua boca sempre que a
chupava, era mágico e intenso.

— Niklas, Niiiklas… — ela gemeu, puxando meus


cabelos e a mantive no lugar, sem parar de dar atenção ao
seu clitóris, onde claramente sentia muito prazer, e logo,
seu corpo se rendeu ao orgasmo. Beijei entre suas coxas,
amando o estremecer e a maneira como seu rosto se
transformou em uma obra de arte refletindo prazer.

Emilia sentou e me puxou, beijando-me e empurrando


minhas roupas. Eu me despi rápido, ela segurou meu pau
com o sorriso safado que me deixava maluco, rodeando a
língua ao redor da cabeça, sem tirar os olhos dos meus.

— Porra.

— Quer que eu chupe, amor?

— Quero tudo. Eu amo a sua boca.

Ainda brincando comigo, chupou só a pontinha,


causando a pressão certa e soltou. Fiquei todo arrepiado,
agarrando seus cabelos, ficando maluco. Emilia riu, ciente
do poder que tinha sobre mim e segurou minha coxa,
levando-o todo à boca, começando um boquete
surrealmente gostoso que foi foda de conseguir aguentar.
Trinquei os dentes, fechando meus olhos, e puta que pariu,
como era bom. Eu era um homem gentil e centrado na
maior parte do tempo, mas existiam dois momentos que me
perdia completamente: na boca e na boceta dela.

— Vou gozar, vou gozar, ai porra…

Emilia teve pena de mim e parou, passou o polegar no


lábio e chupou também. Maldita. Peguei um travesseiro,
acomodando seu corpo de lado e deitei atrás dela, aquela
era a nossa posição favorita naquela fase da gravidez.
Encaixados, ela gemeu e sussurrei em seu ouvido o quanto
a amava, que era louco por ela, sem parar de meter.
Segurei sua cintura, adorando o seu rebolar buscando o
prazer e ela encontrou o orgasmo novamente, agarrando o
meu braço.

Continuei estocando e mordi o seu ombro, deixando um


chupão em seu pescoço. Depois que gozei, nos afundamos
nos braços um do outro. A respiração estava entrecortada e
o suor em nossa pele, mas eu não me importava.
Estávamos noivos. Queria comemorar a noite inteira. Emilia
virou de frente e beijou meu peito, bem acima do coração, e
apoiou o queixo ali, com um sorriso de mulher bem fodida.

— Nós vamos casar — disse com felicidade.

— Você vai ser minha esposa.


— Com muito orgulho. — Ela me deu um beijo e dei
vários tapinhas em seu bumbum, fazendo-a rir.

Acordei antes de Emilia na manhã seguinte por ter


algumas questões de negócios para resolver antes que o dia
começasse oficialmente. Fui até meu escritório e comecei a
fazer algumas ligações cruciais. Primeiramente, queria
saber se os sequestradores haviam finalmente confessado o
nome do mandante por trás de tudo. Eu tinha que
pressionar meus advogados, afinal, era uma parte
importante do processo, mas não pretendia apenas
depender deles.

Conhecendo o mundo em que eu estava envolvido,


sabia que muitas vezes a verdade precisava de um
incentivo financeiro para emergir. Não era nenhum ingênuo.
Criado em Nova Iorque, uma cidade que abrigava todas as
nuances da sociedade, eu sabia que os bastidores podiam
ser sombrios e complexos. Com dinheiro e os contatos
certos, a verdade poderia ser desvendada de maneira
surpreendentemente eficaz.

Com a minha influência e os meus recursos, comecei a


mexer as peças do tabuleiro, oferecendo uma recompensa
generosa para qualquer informação que levasse à
identificação do mandante do sequestro. Eu não brincaria
em relação à segurança da minha família, e quem ousou
ameaçar minha futura esposa pagaria caro por isso.
Pouco tempo depois, Kurt explodiu porta adentro com
Cynthia e Elias para o café da manhã de Natal e a troca de
presentes. Estava ansioso para celebrar aquele dia com a
família reunida. Assim que Emilia desceu, pronta e radiante
como sempre, anunciou nosso noivado, o que provocou uma
nova comemoração.

— Eles vão acabar casando antes de nós. — Cynthia


deu um cutucão em Elias.

— Mulher, já te pedi para marcar a data! — Elias ergueu


as mãos, nos fazendo rir.

— Mas nós vamos, mesmo que vocês corram. — Emilia


riu, com a mão na barriga. Nossa filha deveria estar dando
os chutes da manhã, pedindo comida. Nós brincávamos que
aquele comportamento era típico da Cleo.

— E por quê? — Cynthia colocou as mãos na cintura.

— Não queremos demorar, vamos fazer isso logo. —


Emilia piscou, provocando.

Kurt, o centro das atenções, logo mergulhou na pilha de


presentes debaixo da árvore de Natal. Seus olhos brilhavam
de excitação e a energia contagiante dele era um lembrete
constante do milagre que ele representava. Ele saiu
rasgando os papéis de presente, comemorando cada
brinquedo que foi descobrindo. Emilia deu a ele um monte
de legos e me vi surtando com as peças espalhadas pela
casa, isso se não pisasse em alguma e visse estrelas.
Emilia sentou no meu colo, observando Kurt e comendo
um pouco de frutas.

Eu não podia deixar de pensar em como minha vida


tinha mudado. De um homem focado apenas nos negócios,
me transformei em alguém que valorizava cada momento
ao lado da mulher que amava e do meu filho com a saúde
recuperada. Cada segundo ao lado deles significava mais do
que qualquer transação de negócios e enquanto o dia se
desenrolava, eu tive certeza de que aquele era um dos dias
mais preciosos da minha vida.
CAPÍTULO QUARENTA E UM
Emilia

Eu não conseguia parar de olhar para a aliança em


meu dedo. Era um símbolo de compromisso e de uma nova
etapa na minha vida ao lado de Niklas. A empolgação era
grande e eu não podia deixar de compartilhar essa
felicidade com minha mãe e irmã. Peguei o meu telefone e
fiz uma chamada de vídeo para ambas, querendo mostrar a
notícia emocionante de um jeitinho especial.

Niklas brincava que antes eu não queria um


relacionamento e agora não parava de sorrir com um
noivado, mas enfim, eram as mudanças da vida e porque
ele nunca poupou esforços em me fazer sentir segurança
diante de todos os aspectos de sua vida que poderiam nos
levar à ruína. Se estávamos juntos, não era por falta de
amor ou paixão, era também pela integridade de Niklas
comigo desde o primeiro minuto. Ele sempre esteve um
passo à frente dos meus medos.

Assim que elas atenderam, simplesmente ergui a mão


para mostrar a aliança brilhando na luz. A expressão de
surpresa e alegria no rosto de Emily me fez rir muito. Ela
ficou tão animada que parecia prestes a explodir, mas,
como estava no hospital, precisava controlar a empolgação.
Ficou pulando no lugar feito louca. Minha mãe saiu correndo
da sala de casa para contar a novidade ao meu pai, que,
para minha surpresa, já sabia sobre o noivado.

— Eu estava esperando a notícia chegar! — papai


contou com alegria. — Niklas veio até a mim e pediu sua
mão em casamento, eu não tive dúvidas de que esse
homem te ama, principalmente por honrar a minha opinião.

Fiquei emocionada ao saber que Niklas tinha


conversado com meu pai e até mesmo pediu a bênção dele.
Foi um gesto tão carinhoso e tradicional que só aumentou
meu amor por ele.

— Não se acomodem muito, vamos casar em um mês


e meio — avisei e Emily parou de andar.

— Você esqueceu o trabalho que deu organizar o meu


casamento?

— Está tudo bem, irmã. Terei cinquenta convidados ou


menos, não vai dar tanto trabalho assim.

— Eu não acredito que as minhas meninas estão se


casando, acho que estou velha — mamãe falou do nada,
nos fazendo rir mais ainda.

Emily ainda permanecia incrédula, mas eu tinha


certeza de que conseguiríamos fazer tudo funcionar.
Mencionei que usaríamos o poder de persuasão da minha
sogra para resolver qualquer dificuldade que surgisse.
Afinal, Victória era uma mulher determinada e eficaz. E eu
sabia que poderíamos contar com Amelia também, para
tornar o planejamento do casamento mais tranquilo.

A empolgação da minha família em relação ao nosso


noivado fez com que eu me sentisse ainda mais abençoada.
Eu olhava para a aliança com um sentimento de felicidade
imenso, sabendo que a vida que eu compartilhava com
Niklas era cheia de amor, apoio de todos que nos amavam e
momentos preciosos inesquecíveis. Depois que encerrei a
chamada com elas, subi para o meu quarto com Cleo, que
deitou na almofada, enfiando as unhas. Ela tinha acabado
de voltar do pet, estava linda e cheirosa.

Não costumava dar banho nela, gatos se limpavam,


mas a bonita andou passeando nas minhas plantas da
varanda e ficando toda suja de lama. Eu não ousaria dar
banho nela em casa, a não ser que quisesse terminar
esfaqueada com suas unhas poderosas.

Eu me acomodei na cama, acariciando


carinhosamente minha barriga enquanto conversava
baixinho com minha menininha que estava crescendo
dentro de mim. Cada momento parecia mágico e eu ficava
mais apaixonada pelo milagre da vida que acontecia em
meu corpo. Era incrível ver o formato da barriga mudando e
sentir os movimentos suaves da minha filha. Pensei que
seria esquisito, que me daria nervoso, mas era bom. Era
perfeito.
Com as pernas esticadas à minha frente, eu preparava
tópicos para uma reunião online com meu futuro editor, no
dia seguinte. Precisávamos discutir detalhes do contrato
para o livro que eu estava empolgada para começar a
escrever. Além disso, já era hora de procurar um advogado
especializado, como Jim havia me aconselhado.

Com o ritmo de escrita que eu tinha e o tempo


disponível, acreditava que conseguiria terminar o livro antes
do nascimento da minha filha. A ideia de compartilhar
minhas histórias com o mundo me deixava empolgada, era
um rumo inesperado para minha carreira que nunca
imaginei. E nada me impedia de me preparar para outros
projetos no futuro.

Niklas entrou no quarto, tirando a gravata e


parecendo cansado.

— Em casa mais cedo hoje?

— Estou cansado e preciso deitar um pouco.

Eu o olhei com preocupação e perguntei se ele queria


algum remédio. Ele agradeceu, mas disse que apenas
descansar resolveria. Enquanto foi tomar um banho, deixei
o quarto completamente escuro, pois sabia que ele estava
com dor de cabeça. Esperando-o, comecei a trocar
mensagens com Jenna, falando sobre seu trabalho e no
meio do assunto, ela mencionou que eu deveria ligar a TV e
assistir ao noticiário, o que me deixou intrigada. Expliquei
que estava me mantendo afastada de notícias ruins desde o
quase sequestro, mas ela insistiu.

Peguei o controle e no momento em que liguei e


sintonizei no noticiário, vi a imagem de Bryan Hudson sendo
escoltado pela polícia, algemado. Minha expressão mudou
instantaneamente para choque. As palavras na tela
indicavam que ele havia sido preso por financiar a tentativa
do meu sequestro. A notícia ainda mencionava a morte de
um homem inocente durante o incidente.

— Puta merda! Eu… meu Deus!

Eu mal conseguia acreditar no que via e ouvia. Minhas


mãos tremiam involuntariamente. A sensação de estar a
salvo e protegida desmoronou por um momento e minha
mente começou a girar enquanto eu tentava processar o
que acontecia.

— Niklas, vem aqui! — chamei com urgência e ele


saiu do banheiro enrolado em uma toalha, claramente
preocupado com minha reação.

Ao ver a televisão ligada e a notícia sobre Bryan


Hudson sendo escoltado pela polícia, ele suspirou e pegou o
controle, desligando o aparelho. Sua expressão deixava
claro que aquilo se relacionava à sua dor de cabeça e ao
desejo de se desconectar das notícias desagradáveis.

Eu o compreendi de imediato. A rivalidade nos


negócios entre Niklas e Bryan era intensa, mas Bryan havia
cruzado todos os limites ao tentar me sequestrar e ferir
Niklas de maneira tão grave. Aquilo não era mais uma
simples competição empresarial, era um crime sério que
tinha o potencial de causar danos irreparáveis.

Soltando um suspiro, me levantei da cama e me


aproximei de Niklas, abraçando-o com carinho, lamentando
o quão longe Bryan tinha ido. Assim que ele estivesse
melhor, eu sabia que precisávamos discutir todos os
detalhes para entender o quadro completo. Era difícil
acreditar que alguém que conhecíamos tinha chegado a
esse ponto.

— Como isso foi acontecer?

Ele esfregou o queixo com a barba para fazer.

— Diante da lentidão da polícia em conseguir


respostas, ofereci uma generosa recompensa para qualquer
pessoa que apresentasse provas contundentes do
mandante do sequestro. Estava impaciente e não podia
esperar pela justiça convencional. — Ele esfregou os lábios
na minha testa, e mordi o meu enquanto ouvia, absorvendo
essa informação.

— E conseguiu as provas?

— Um conjunto de chamadas telefônicas, áudios e


diversos materiais compilados, envolvendo várias pessoas
que acabaram entregando informações sobre Bryan. Foi
realmente impressionante ver como a situação se
desenrolou e como aquelas peças do quebra-cabeça se
encaixaram.

Niklas continuou explicando que, naquela manhã,


Bryan foi preso em seu próprio escritório, fingindo surpresa,
convencido de que havia construído um plano seguro que o
manteria longe do alcance da justiça. Era chocante perceber
até que ponto ele estava disposto a ir.

Ficamos em silêncio por um momento, absorvendo


toda essa informação. O que parecia um dia comum tomou
um rumo um tanto perturbador. Me sentia aliviada por estar
a salvo, por saber que ele pagaria pelo que cometeu, mas
também triste e preocupada com a escuridão que algumas
pessoas eram capazes de carregar em seus corações.

— Sempre competimos, mas eu nunca fiz mal à


família dele. Por que ele achou que tinha esse direito?

— Não importa o que ele achou, apenas que estamos


aqui e bem — disse e o abracei com ternura, pedindo que
sentisse a minha presença ali, segura e em casa, com a
minha barriguinha crescendo entre nós. Ele se abaixou e
beijou minha barriga.

— Eu morreria se alguma coisa acontecesse a vocês,


Emilia.

— Estou mais do que bem. No dia, foi um susto e um


ralado no joelho, mas está tudo sob controle. — Beijei sua
testa.
— Preciso mesmo tirar um tempo do mundo hoje.

Nós nos deitamos juntos, reconhecendo a necessidade


de mantermos a calma. Niklas era um homem poderoso, um
magnata inacessível para muitos, mas, acima de tudo, um
homem dedicado à família.

Para distraí-lo e mudar o foco dos pensamentos


sombrios, comecei a falar de forma animada sobre os
detalhes do nosso casamento, depois, sugeri que
fizéssemos bonecos de neve juntos, rindo e tagarelando
baixinho sobre os planos e ideias. Aos poucos, percebi que a
tensão em seu corpo estava cedendo e então ouvi o ronco
suave dele em meu ouvido. Sorri para mim mesma,
sentindo tranquilidade e encerrando definitivamente o
assunto do sequestro em nossa mente.

Fechei os olhos e me permiti descansar, afinal, nada


poderia abalar a nossa determinação de seguir em frente e
construir uma vida juntos, cercados pela segurança que
encontramos um no outro.
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS
Emilia

Parei em frente ao espelho, observando as mudanças


que a gravidez trouxe ao meu corpo. Passei a mão pela
minha barriga, que começava a se curvar com o
crescimento da nossa menininha, e refleti sobre como todas
as situações que enfrentamos, especialmente a doença do
Kurt, me fizeram amadurecer em um ritmo acelerado. A vida
me ensinou a ver além dos meus pequenos problemas e
medos, valorizando o que realmente importava.

Antes, carregava o peso do medo de me relacionar


por causa das feridas do passado. Também estava ansiosa
demais com a minha carreira, sem ter uma clara direção do
que realmente desejava para mim mesma. No entanto, todo
caminho que percorri até ali me fez enxergar a vida como
um rio, fluindo com seu próprio curso e destino. Não podia
controlar tudo, mas podia escolher como reagir diante das
situações que surgiam.

Compreendi que focar em um problema de cada vez


era mais eficaz do que me preocupar com um milhão de
coisas ao mesmo tempo. Aprendi a deixar de lado mágoas
desnecessárias e a construir laços mais fortes com meus
pais e comigo mesma. Cada desafio com Kurt me mostrou
que eu era mais forte do que imaginava e que poderia
enfrentar qualquer obstáculo.

Apesar de muitas vezes as mudanças que ocorreram


em nossa vida não terem sido visíveis para os outros, sentia
o meu crescimento interno, a transformação que ocorreu
em meu coração e, principalmente, na minha cabeça.
Estava tudo bem se algumas pessoas não percebessem,
pois o que realmente importava era como me sentia em
relação a mim mesma. Eu não carregava mais o peso do
passado, aproveitava o presente e olhava para o futuro com
uma doce esperança.

Sorri para o reflexo no espelho, sentindo-me em paz


comigo mesma. As marcas do tempo e da experiência eram
sinais de que estava viva e vivendo plenamente. Cada
cicatriz que ganhei, cada pesadelo superado, me trouxe até
aquele momento, onde eu amava poder abraçar a minha
jornada com gratidão e confiança.

Interrompendo meus pensamentos, Kurt entrou no


quarto e me encontrou em frente ao espelho.

— O que foi, querido? — percebi que estava um


pouco nervoso. Ele parecia ter algo em mente.

— Você gosta de mim com ou sem cabelo?

Hum, então, seus cabelos, ou a ausência deles, eram


o foco da questão. Desde a cirurgia, ele tinha perdido todo o
cabelo e agora usava touca na escola. Antes, mesmo com o
cabelo ralo por causa do tratamento, ele tinha algo. Agora,
a cicatriz da cirurgia era visível.

— Quer me contar o que está acontecendo? —


Encorajei com um sorriso gentil. Coloquei-o na minha frente
no espelho.

— Acho que não quero mais esconder a cicatriz. Estou


pensando se devo deixar crescer como os meus colegas da
escola.

Rapidamente entendi que era um desejo de se


encaixar. Meninos na idade dele poderiam ser terríveis e
esperava que não estivesse acontecendo nenhum tipo de
encarnação sobre o que ele sofreu e a doença. Eu iria na
escola pessoalmente solicitar medidas imediatas.

Mas antes de tudo, era necessário acalmar aquela


cabecinha repleta de pensamentos confusos, pelo visto. Me
abaixei na frente dele, ficando no mesmo nível de seus
olhos.

— Você não precisa e não deve sentir vergonha da


sua cicatriz, porque ela conta sua história, coragem e
perseverança em uma situação ruim — disse com calma.
Ele deu um pequeno aceno. — Você é corajoso, Kurt.

— E por que eu me sinto diferente de todo mundo?

Olhei para o espelho e o convidei a fazer o mesmo.


— Pessoas são únicas, com suas próprias vitórias,
perdas, defeitos e qualidades. Cada um tem uma trajetória
diferente e especial, e não precisamos nos comparar com os
outros. — Dei-lhe um beijo na cabeça. — Você é livre para
ser um pequeno careca charmoso ou deixar seu cabelo
crescer como bem entender. A vida é sua, mas até os seus
vinte e um, mamãe, papai, Elias e eu teremos fortes
opiniões sobre suas atitudes. — Soltei uma pequena risada.
Kurt assentiu, absorvendo minhas palavras, e disse que iria
pensar a respeito, ver como seu cabelo cresceria.

Em meio a um sorriso, trocamos um abraço gostoso.


Ali, naquele momento, senti um profundo amor por aquele
pequeno ser de luz que tinha entrado em minha vida. Ser a
madrasta dele era uma bênção e uma alegria imensa.
Sempre estaria ali para apoiá-lo em cada escolha e lembrá-
lo de que ele era único e especial exatamente como era.

Kurt pareceu satisfeito com a nossa conversa e disse


que iria ver um filme em seu quarto. Eu o acompanhei para
verificar qual seria o entretenimento e peguei o meu
notebook para fazer algumas compras on-line.

Na fase atual da minha gravidez, finalmente me


deparei com o mundo mágico e complexo do enxoval. Eu,
que não tinha muita convivência com crianças,
ingenuamente imaginei que montar o enxoval seria algo
simples e descomplicado. Porém, a realidade rapidamente
me mostrou o contrário. Diante da quantidade de itens
necessários para cuidar de um bebê, percebi que estava
completamente equivocada. Foi nesse momento que decidi
pedir reforços.

Minha mãe foi a primeira pessoa que chamei para me


ajudar a selecionar as roupinhas e os itens essenciais para a
primeira neta. Suas orientações foram bastante valiosas e
eu ficava grata por poder contar com a sabedoria dela
nessa jornada. Além disso, minha sogra entrou em cena
para emprestar seu talento na decoração do quarto da
minha futura filha. Sua habilidade em criar ambientes
acolhedores e belos era exatamente o que eu precisava
para criar um espaço especial para a nossa nova integrante
da família.

Tive que compartilhar com Niklas a minha surpresa


diante da complexidade do enxoval. Ele riu comigo e
decidimos nos matricular em uma aula para pais de
primeira viagem. Eu estava começando a entender esse
mundo, mas ele já tinha experiência como pai e entendia a
importância de me envolver e aprender. Na verdade, Niklas
sugeriu que eu conversasse com outras mães, trocasse
experiências e conhecimentos, algo que eu aceitei
prontamente.

— EMILIA!? — Kurt gritou de seu quarto e ri. Ele deitou


e não queria levantar.

— O que foi, garoto? — gritei de volta, da minha


cama.

— Tia Emily vem jantar aqui hoje?


— Sim, baby. Ela virá à noite.

— Oba! Será que ela vai trazer pirulitos?

Eu ri sozinha. Diante da animação com o casamento e


tudo que estava acontecendo, decidi que era hora de
finalmente convidar Emily e Matthew para um jantar de
casais. Era algo que deveria ter acontecido há tempos, mas
a correria da vida nos havia impedido. Com a ajuda da
senhora Preswitt, escolhi um cardápio que agradasse a
todos. Optei por uma carne saborosa para satisfazer os
gostos masculinos e uma massa que fosse uma opção
deliciosa tanto para mim quanto para Emily.

Fiquei descansando a maior parte do dia para não


ficar com os meus pés inchados, em dado momento, Kurt
tirou um cochilo comigo e quando Niklas chegou, ele nos
acordou com beijos e alguns afagos. Enquanto ele foi ter um
momento de pai e filho com Kurt, arrumando-se juntos,
ainda fiquei de preguiça na cama, sentindo minha
menininha começar a me chutar. Fiquei acariciando meu
ventre e depois de muito custo, consegui levantar. Vencer a
preguiça da gravidez era muito difícil.

Desci pronta e conforme arrumava a mesa, mais


desperta, sentia a empolgação crescer. Estava ansiosa para
compartilhar os planos do casamento e aproveitar um
momento agradável com eles.

— Niklas, eles estão aqui! — chamei da escada e fui


para a porta, esperá-los sair do elevador.
Emily segurava uma garrafa de vinho e Matthew,
flores.

— Não é exatamente uma casa nova, mas estávamos


planejando dar de boas-vindas ao novo casal morando
juntos, como vocês fizeram conosco depois da lua de mel —
Emily disse e me deu um abraço apertado.

— Ah, eu amei. — Peguei as flores, eram lindas. —


Obrigada. Niklas vai amar o vinho, tenho certeza.

Na dica, meu noivo surgiu.

— Eu ouvi o meu nome? — Niklas riu, descendo as


escadas. — Sejam bem-vindos, estou feliz que estão aqui.
Kurt está vindo, ele não consegue decidir qual camisa usar.

— Ele anda muito cheio de escolhas e querendo saber


se a tia Emily trouxe pirulitos.

Minha irmã riu, achando graça do quanto Kurt se


apegou a ela. Ele não tinha tios de nenhum lado dos pais.
Kurt estava amando ser mimado por uma tia.

— Sim, eu trouxe.

Sentamos na sala porque antes de comer, eu tinha


uma missão para minha irmã e cunhado. Niklas pegou a
caixa de presente e colocou na frente deles.

— O que é isso? — Emily pegou e abriu. — Ah, que


coisa perfeita! É claro que sim!
— Será uma honra apadrinhar vocês dois. O
casamento tem sido uma maravilha para nós dois, ao
contrário do que muitos dizem, é só felicidade — Matthew
disse e eu sorri, trocando um olhar com Niklas. Para mim,
morar junto era como um matrimônio, só faltava a
oficialização. A rotina e os problemas eram os mesmos.

— Eu vou ser a melhor madrinha do mundo, como


você foi para mim.

Convidar todos os padrinhos para o nosso casamento


foi uma tarefa emocionante, nenhuma novidade com meus
hormônios. Queria que aqueles que estivessem ao nosso
lado nesse dia tão especial fossem pessoas queridas e
significativas em nossas vidas. Niklas escolheu o primo que
morava na Alemanha, mas eles viviam se falando, para ser
um dos seus padrinhos também e ele seria par da minha
amiga, Jenna. Mas Emily aceitar ser minha madrinha com
Matthew fazia parte do pacote de conexão que
compartilhávamos, de irmã para irmã. Era bom que estava
se estendendo também à amizade entre nossos maridos.

Eles pareciam estar se entendendo bem e


conversando sobre livros no escritório. Ver Niklas
recuperando parte de sua vida social após os tempos
difíceis que passamos, especialmente durante o tratamento
do Kurt, me trazia alegria. E o nosso pequeno raio de sol
também ficou empolgado com a ideia de ser o portador das
alianças. Era uma sensação maravilhosa saber que ele
participaria ativamente do nosso casamento e que estava
feliz por fazer parte desse momento.

Emily trocou de lugar, ansiosa para sentir minha


barriga e perceber os movimentos da sobrinha. Era incrível
pensar que em breve aquele serzinho estaria entre nós,
trazendo ainda mais amor e alegria para a família. Em
alguns dias, Emily nem perguntava sobre mim, apenas se
ela tinha mexido ou feito alguma coisa diferente no meu
ventre.

Ter uma irmã mais velha tão protetora como Emily era
um verdadeiro presente. Eu demorei a enxergar o quanto
ela sempre esteve perto para cuidar de mim. E com a
maturidade, certamente aprendemos que sermos melhores
amigas e irmãs era uma das maiores bênçãos da vida.

Conforme a noite foi avançando, pensei sobre como


todos os elementos da minha vida estavam se encaixando
de forma harmoniosa. O casamento se aproximava, a
família estava reunida e a expectativa pelo nascimento da
nossa filhinha crescia a cada dia. Mesmo com todos os
desafios que enfrentamos, eu me sentia abençoada por ter
pessoas tão especiais ao meu lado, fazendo parte das dores
e também das superações.

— E então, me diga como são os sintomas mais ruins


da gravidez? — Emily pediu e a encarei, rindo.

— Você deveria saber. É médica.


— Mas nunca engravidei, oras. — Ela deu de ombros,
segurando sua taça.

— E é um pensamento frequente?

— Ter uma carreira é muito importante para mim,


claro. Mas ter uma família com Matthew também é. — Ela
mordeu o lábio suavemente e pensei no quanto Emily era
pressionada para ser perfeita.

— E você pode ter as duas coisas, porque quem


decide o melhor para sua vida é você. — Peguei sua mão. —
Se quiser ter filhos e planos ambiciosos para a carreira
depois, tudo bem. Pode ser o contrário também, contanto
que esteja feliz e fazendo o que você quer, estarei ao seu
lado te apoiando para sempre.

— Obrigada, irmã. Talvez eu me anime e comece a


tentar… e dar um priminho ou priminha a essa princesa.
Antes, vou ver se você vai enlouquecer. — Deu-me uma
piscadinha e comecei a rir. Era bem provável que sim, mas
iria deixar para me preocupar com isso quando fosse o
momento certo.
Epílogo
Niklas

Emilia dançava com o pai a valsa tão significativa no


dia do nosso casamento. Era um daqueles momentos que
ficam gravados na memória e no coração, uma cena que eu
admirava enquanto observava com um sorriso. Era uma
imagem tocante vê-la nos braços do pai, ambos
compartilhando um momento tão especial e
particularmente, único. Eu me sentia sortudo de verdade
por estar ali, fazendo parte da vida dela e prestes a criar
nossa própria família.

Enquanto assistia àquela dança, meus pensamentos


se voltaram para o futuro que tínhamos pela frente. Em
alguns meses, seríamos pais de uma linda menina, e eu não
poderia estar mais animado para viver essa nova fase das
nossas vidas. Imaginar o dia em que eu dançaria com minha
filhinha em seu próprio casamento enchia meu coração de
emoção. Era um privilégio estar presente em todos os
momentos que a vida nos reservava.

Kurt olhou para mim, de pé ao lado de seu padrasto,


ergueu os polegares e piscou. Minha vida girou em torno
dele nos últimos sete anos, mas eu estava grato que nós
dois expandimos o nosso universo para Emilia e fomos
abençoados com uma família incrível.

Quando chegou a minha vez de dançar com a minha


linda esposa, meu coração acelerou como se fosse a
primeira vez que a beijava, naquela casa na Flórida, em
meio a um furacão. Caminhei até ela na pista de dança,
sentindo a felicidade transbordar em meu peito. Peguei sua
mão suavemente e a puxei para perto, sentindo o calor de
seu corpo junto ao meu.

Ela sorriu para mim, linda com seu vestido branco e


um delicado véu preso em seus cabelos, os olhos brilhando
de alegria, e eu sorri de volta. Era impossível não me perder
na intensidade do amor que explodia por ela dentro de mim.

Segurei-a em meus braços e começamos a dançar ao


som da música romântica que ecoava no salão, pela banda
ao vivo, que conhecemos quando estávamos na busca de
criar uma trilha sonora para o nosso casamento e eu quis
surpreender Emilia com a presença deles.

Cada movimento era suave e envolvente, como se


estivéssemos flutuando em nosso próprio mundo. Aproximei
nossos rostos, nossos olhos se encontraram e, antes que
percebesse, meus lábios uniram-se aos dela em um beijo
doce e muito apaixonado. Aquele beijo era uma promessa
do meu amor eterno, um compromisso de estarmos juntos
em todos os momentos das nossas vidas.
Dizer sim para uma vida a dois foi uma sensação
indescritível, como se nossas almas estivessem se
conectando de uma forma única e profunda. A felicidade
irradiava de nós, envolvendo-nos em uma aura de paixão e
cumplicidade. Era apenas o começo de uma vida inteira de
danças, risadas e conquistas.

A música continuava a tocar, e eu só conseguia


pensar em como ansiava para construir um futuro perfeito
ao lado dela. Prometemos diante de Deus e de nossos
amigos e familiares que estaríamos lá um para o outro, não
importava o que o destino nos reservasse. Aquele momento
era a celebração que sonhamos juntos e eu não poderia
desejar nada mais perfeito do que dançar com Emilia,
minha esposa, minha companheira de vida, em meio a
sorrisos e olhares cheios de significado.

No fim da dança, beijei sua testa e depois, beijei seu


ventre proeminente.

— Eu amo vocês.

— Eu amo muito você e a nossa família, meu magnata


poderoso.

Mais tarde, já em minha casa, estava sentado à mesa


com Jim e meu pai. Brindamos ao fim da festa de
casamento que foi maravilhosa, relembrando os momentos
especiais que tivemos ao longo do dia. Emilia no quarto,
compartilhando com a minha mãe as novas roupinhas que
havíamos adquirido para a nossa bebê. Era um momento de
cumplicidade entre elas, uma amizade que eu admirava.

Depois que brindei com eles, Jim trouxe à tona um


assunto mais sério.

— Eu sei que está em uma nova página em sua vida,


deixando para trás os momentos difíceis que enfrentamos,
incluindo a doença do Kurt e a rivalidade com Bryan. No
entanto, como padrinho e advogado, tenho o dever de lhe
informar sobre a situação de Bryan.

— Sei disso, pode falar… — Dei um gole do meu


uísque.

Jim ficou sério e suspirou.

— Bryan está sendo condenado pelas acusações de


sequestro e assassinato, e a perspectiva de sair da prisão é
remota, mesmo com um bom advogado.

Eu ouvi aquelas palavras de Jim com seriedade, ciente


de que aquela era a consequência inevitável para Bryan e
seus crimes.

— Eu realmente lamento pelo que aconteceu, mas


também ele está colhendo o que semeou por uma dor e
inveja que se criou através da nossa competição. Minha
prioridade agora é construir uma vida feliz ao lado de Emilia
e de nossa futura filha, junto a esse milagre que é ter Kurt
curado em casa.
Aprendi que a rivalidade desmedida e as ações
negativas só levariam ao fracasso e à infelicidade.

Com um sorriso, agradeci a Jim por compartilhar a


informação comigo. Era importante que eu soubesse o
desfecho dessa história, mas agora podia seguir em frente
com a certeza de que a justiça estava sendo feita.
Brindamos mais uma vez, celebrando o nosso futuro e as
alegrias que viriam. Olhei ao redor, sentindo a felicidade
que emanava daquela noite. Minha rotina agora seria cheia
de amor, risos e pessoas queridas, e eu me tornei um
homem verdadeiramente abençoado por tudo o que havia
conquistado.
Epílogo
Emilia

Alguns meses depois…

Desci as escadas após um banho relaxante, com uma


sensação de alívio por ter conseguido me banhar sem
interrupções, algo raro desde o nascimento da minha filha,
Anelise. A paz do momento era acentuada pelo fato de que,
ao chegar na sala, encontrei Niklas segurando nossa
princesinha nos braços, profundamente adormecida. Era
uma cena encantadora e eu sorri ao vê-los juntos, como
muito sonhei durante a gravidez.

Meu lindo marido encontrava-se recostado no sofá, os


olhos fechados, parecendo tão sereno quanto nossa filha e a
sala parcialmente escura, apenas a luz da televisão, que
estava ligada em um volume baixo, iluminava o ambiente.
O jogo na tela mal chamava a atenção do papai dedicado,
pois o foco principal se direcionava para a pequena Anelise,
que o fez dormir também.

Observar Niklas segurando nossa filha com tanta


delicadeza era uma delícia. A maneira adorável como ele a
segurava com cuidado, transmitindo uma sensação de
proteção e amor, me fascinava por ter um companheiro que
também era um pai perfeito. Cleo, nossa fiel companheira
de quatro patas, também estava ali, descansando com a
cabeça apoiada no ombro de Niklas.

Desde o nascimento da Anelise, minha vida se


transformou em uma montanha-russa de emoções. Os
hormônios somados às noites mal dormidas e a
responsabilidade de cuidar de um recém-nascido me
deixaram à beira de muitos sentimentos conflitantes. Mas
nada me impediu de sentir alegria e amor toda vez que
olhava para minha menina. Ela era um presente inesperado
e maravilhoso que havia transformado minha vida.

Anelise trouxe consigo uma nova perspectiva, uma


renovação de sentimentos e uma ligação ainda mais forte
entre Niklas e eu. Ela nos uniu de uma forma que eu jamais
poderia ter imaginado. Aqueles momentos simples, como
Niklas cuidando dela enquanto dormia, eram os que mais
aqueciam meu coração. Ele era um pai totalmente ativo,
nada de me deixar sobrecarregada ou solitária.

Caminhei até eles em passos leves, peguei uma colcha


e os cobri suavemente. Deixei-os adormecidos e saí de casa
com minha bolsa, pronta para buscar Kurt na casa de um
amiguinho. Embora Memphis pudesse buscá-lo sozinho,
gostava de ter esses momentos a sós com meu enteado.
Era uma oportunidade de conversarmos sobre qualquer
coisa porque tínhamos uma ótima relação de confiança.

Desde que o mudamos de escola e ele fez novos


amigos, frequentemente se reunia em suas casas para jogar
e brincar.

Passou a ser comum sempre ter a casa agitada, com


cerca de dez meninos correndo, rindo e gritando pelos
cômodos. Eu me divertia com a energia contagiante deles,
mesmo que às vezes ficasse um pouco maluca. Mas ver Kurt
se relacionando com seus amigos e se desenvolvendo
socialmente era importante, especialmente porque eu sabia
o quanto isso significava para ele, ainda mais depois da
doença.

Cynthia e Elias estavam em lua de mel, trocaram


alianças no mês anterior e finalmente realizaram a viagem
que ela sempre sonhou, mas que havia sido adiada devido à
condição de saúde de Kurt. Niklas e eu brincávamos que
quando chegasse a nossa vez de fazer uma viagem como
aquela, Cynthia ficaria encarregada das crianças. Ela era
uma tia maravilhosa para minha filha.

Quando Kurt entrou no carro, me cumprimentou com


um beijo na bochecha e eu sorri enquanto nos
acomodávamos. Suado e um pouco agitado, mas cheio de
histórias sobre suas atividades na casa do amigo. Dirigi de
volta para casa, ouvindo e percebendo que ele precisava
dormir.

O menino tinha um jeito engraçado de lidar com o sono.


Mesmo que estivesse ficando mais velho e menos
interessado em sonecas, ainda demonstrava aquela
irritação típica de um bebê quando ficava com sono. Era um
paradoxo curioso, mas eu adorava esses momentos em que
ele demonstrava a individualidade e personalidade em
desenvolvimento.

Incentivei-o a tomar banho e descansar e fui preparar a


comida, distraída com os meus pensamentos e com o
aroma do jantar preenchendo a cozinha. Eu me sentia no
meu melhor momento enquanto cozinhava uma refeição
para minha família. Olhando para trás, nunca imaginei que
encontraria tanta alegria e realização no papel de mãe,
esposa e até mesmo na fase mais tranquila da minha
carreira. A vida me surpreendeu de formas maravilhosas.

Com o meu primeiro romance finalmente concluído,


enviei para a aprovação final do editor e também para a
revisão. Em algumas semanas a equipe de marketing
entraria em contato para iniciar a divulgação. A ansiedade
crescia à medida que o lançamento se aproximava. Durante
a espera, eu me dedicava a um novo projeto, um podcast
sobre entretenimento e moda, que apresentaria com meu
amigo Bono, idealizado por um editor que foi meu professor
na universidade. Estava sendo uma experiência divertida.

Além disso, continuava trabalhando na estratégia de


imagem pública de Niklas e da nossa família. Era um
equilíbrio delicado garantir que estivéssemos sempre
presentes nos holofotes, mas de uma maneira que fosse
autêntica e tivesse um propósito. Aprendi que a visibilidade
podia ser uma ferramenta poderosa para causas que
acreditávamos e queríamos apoiar.
Enquanto mexia os ingredientes no fogão, sorri
pensando em como a vida havia tomado um rumo que eu
jamais imaginaria. Ser mãe de Anelise era uma alegria que
nunca soubera que existia, e ver Niklas cuidando dela com
tanto carinho só fazia meu coração transbordar. Nossa
família tinha seus altos e baixos, nem sempre a rotina
deixava as coisas bonitas e os desafios podiam ser
estressantes, mas havia momentos de calmaria e era uma
escolha que eu me apaixonava cada vez mais.

Com o jantar finalizado, coloquei os pratos na mesa.


Eles já estavam acordados. Anelise no colo do papai, Kurt
me auxiliando com os talheres e ainda preparei o suco.
Sentamos para comer juntos e os olhei, com um sentimento
de plenitude sem igual. Minha carreira, minha família e
meus projetos se encaixavam como peças de um quebra-
cabeça, formando uma imagem que eu amava.

Me encontrava exatamente onde deveria estar. A vida


tratou de encontrar pra mim um rumo melhor do que eu
havia sonhado.
FIM
SOBRE A AUTORA:

Mari Cardoso nasceu no início da década de


noventa, na região dos lagos do Rio de Janeiro.
Incentivada pela mãe, que lia histórias bíblicas e entre
outras, sempre teve aguçado o amor pelos livros.

Em 2008, passou a se aventurar no mundo das


fanfics da Saga Crepúsculo até que, anos mais tarde,
resolveu começar escrever originais. Em 2019, iniciou a
carreira como autora profissional e hoje tem duas séries
em destaque: Elite de Nova Iorque e Poder e Honra,
quarenta livros publicados e algumas milhares de
leituras acumuladas.

Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o


romance Perigoso Amor – Poder & Honra.

Ela possui
Suas redes sociais:
www.instagram.com/autoramaricardoso
www.twitter.com/eumariautora
http://www.maricardoso.com.br/
Grupo do Facebook.
Livros físicos em
www.lojamavlis.com.br
AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda


profissional da revisora Dani Smith, da betagem sensível da
Paula Guizi, Daiane Lopes e Keu Bernardo, assim como a
edição da Mavlis Editorial. Agradeço imensamente o apoio
no período de construção da história. Não poderia deixar de
fora a torcida das minhas leitoras nos grupos de contato e o
carinho excepcional (e paciência) da minha amada mãe nos
dias de muito trabalho.
Gratidão eterna.

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