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Marcelle Oliveira
Copyright © 2019 Marcelle Oliveira
Todos os direitos reservados.
Lara Martinelli é uma gaúcha de personalidade forte, autêntica,
bonita e sonhadora. Disposta a reerguer a vinícola de seu pai, nos pampas
gaúchos, a moça sai em busca dos sonhos para a Toscana, num encontro de
negócios com o CEO italiano Vincenzo Gatti, dono da vinícola referência
naquela região da Itália.
O que ela não imaginava era que o poderoso empresário das uvas
fosse um moreno de olhos sérios azul turquesa, gostoso, sedutor e
extremamente carinhoso. E Vincenzo, por sua vez, não esperava que, por trás
da personalidade impetuosa e arredia de Lara, havia uma moça virgem e
romântica.
Estaria Lara Martinelli disposta a deixar os seus sonhos no Brasil
para viver uma aventura amorosa ao lado de um CEO dominador e cheio de
mistérios?
Até quando Lara resistirá aos encantos do CEO italiano?
– Estou decidida. Eu vou para a Toscana. – digo, empurrando as
malas em direção à porta. Meu pai estava sentado à poltrona e, num
sobressalto, me olha nos olhos, abaixando o jornal num ímpeto de fúria.
– Lara, como você dá um susto desses no seu velho pai?! – então,
ele se levanta, vem até mim, deixando o jornal sobre o sofá. – Não podemos
ter gastos com viagens infundadas, neste momento. Não estamos no tempo de
dar ao luxo de gastar com passeios para o exterior!
Dou um longo suspiro e fecho os olhos, buscando as palavras certas
que poderiam convencer a meu pai.
– Senta aqui, papai. – puxo seus dedos enrugados e nos
aconchegamos em uma daquelas poltronas. – Eu pesquisei muito sobre as
empresas italianas, e há uma na Toscana que está passando por dificuldades
por conta de sua plantação de uvas. Estão constantemente enfrentando pragas
e, por isso, eles buscam a parceria de alguma empresa brasileira. Não
podemos perder essa oportunidade, pai. Por favor, confie em mim.
Meu pai me olha nos olhos com um ar complacente, diferente do
impetuoso com que me encarava há alguns segundos.
– Você sabe muito bem, Lara, que os sócios nos abandonaram na
nossa empreitada. – observo nossos dedos entrelaçados. – Quando estava
tudo de vento em poupa, simplesmente aderiram aos nossos ideais e projetos,
vestiram a nossa camisa. E, agora, só restam apenas eu, você e alguns
colonos, e por isso fico extremamente emocionado por você tomar essa
iniciativa, filha.
Olho nos olhos marejados de papai e, logo em seguida, desvio o
olhar para as malas. Eu estava partindo, completamente decidida, mas meu
coração estava terrivelmente em pedaços.
– Pai, eu não vou desistir do empreendimento da nossa família. Não
vou. – me levanto e caminho até as malas. – Desculpa por não ter te
comunicado da minha decisão antes, mas eu precisava agir dessa maneira, ou
o senhor poderia fazer de tudo para me impedir.
Papai se levanta e vem até mim, segurando mais uma vez em minha
mão.
– Lara. Eu confio em você. Eu apenas temo ver seu sofrimento e
decepção...
– Mas eu acredito que se eu não arriscar, será bem pior. – observo
papai concordando comigo. – E não precisa ficar preocupado, pai. Já morei
em Milão para os cursos de capacitação, na época em que a empresa estava
em seu auge, então, além das minhas experiências em solo milanês, acredito
também que meu italiano ainda esteja na ponta da língua.
Meu pai sorri e uma lágrima escapole de seus olhos esverdeados.
– Guria, vá conquistar seus sonhos. Mande notícias. – e ele me
envolve num abraço terno e já repleto de saudades.
– Eu vou conquistar os meus sonhos, pai. Os nossos sonhos...
Foi difícil fechar a porta naquela tarde. Deixar para trás a
comodidade da casa de meu pai, o conforto, a segurança, o carinho. Agora,
eu estava prestes a desvendar novos rumos em minha vida, sozinha. Ou
melhor, eu, meus sonhos e a gana imensurável para poder ver o sorriso de
meu pai novamente, entregando-lhe, assim, outra vez o sucesso.
O ônibus deslizava na estrada pelos pampas gaúchos rumo ao
aeroporto de Porto Alegre, e meu coração era só esperanças, enquanto uma
saudade louca de meu pai já abraçava todos os meus sentidos.
Miro novamente, em minhas mãos, a revista que me dava todas as
dicas sobre a Toscana. Observo aquelas vinícolas, os cachos de uva bonitos
que se desprendiam das parreiras, além de uma garrafa de vinho brilhosa, ao
lado de duas taças, que instintivamente me dava água na boca, apenas de
olhar. Isso tudo completava o enredo da minha história. Desde pequena
convivendo com esses singelos detalhes. Sempre foram apenas eu, meu pai e
nossos sonhos. E, agora, não poderia ser diferente.
Eu estava disposta a recomeçar.
***
***
– Brasileira?
Então, ele para de esfregar o balcão que já estava mais brilhante que
uma pérola.
– Sim.
Corro para um banho e, minutos depois, visto uma saia lápis preta,
com uma blusa bonita estampada de cores sóbrias. Os scarpins já estavam
enfiados em meus pés.
***
– Obrigada.
– Muito prazer, senhor. Estou feliz por ter aceitado minha proposta
de apresentação da vinícola brasileira Martinelli.
– Sim. Vivemos das uvas há muito tempo. É uma tradição que foi
passando de geração a geração. Inclusive chegamos ao topo do mercado há
uns cinco anos atrás. – vejo Vincenzo concordar com os olhos sobressaltados.
– A fase da vinificação, onde as uvas são esmagadas, processadas, como os
senhores conhecem como maceração é atualmente toda feita de forma
mecanizada, diferentemente da época dos meus avós, em que existia o
contato humano. Ao mesmo tempo em que ocorre a maceração, acontece a
primeira fermentação, a alcoólica, assim que o açúcar das uvas se converte
em álcool e, então, já temos a garantia do sabor nos vinhos devido à
qualidade das nossas frutas.
Que deselegante!
– Claro.
Então, vou até meus papéis e cato meus pertences sobre a mesa de
reunião. O CEO italiano vem em minha direção, num lindo terno cinza. A
gravata era preta e extremamente elegante.
– Não seja tão prematura nas suas decisões, Lara. Eu vejo potencial
em você. Queria sinceramente tê-la na minha empresa e, na verdade, foi para
isso que te chamei para esse particular.
– Ei! Está tudo bem? – sinto sua mão em meu ombro. Então, paro e
me viro, encontrando um rosto bonito a me fitar no degrau de cima.
– Você é a brasileira?
– Mas eu acredito que voltar para o Brasil seja uma boa saída, Lara.
– Proposta?
Cruzo os braços.
– Sim, que seja, mas cabe a você decidir agora. Ficar ou partir.
– Eu vou ligar para o meu pai. Apenas ele vai me deixar agir.
– Que horas?
– Às 10h?
E infernalmente tentador.
Coloquei mais um pedaço de bolo no prato e refleti se havia feito a
escolha correta em ter aceitado o convite de Vincenzo. Olhei pela janela e o
dia estava simplesmente lindo e morno. O céu completamente azul, apenas
com poucas nuvens brigadeiro enfeitando alguns espaços.
Estava numa roupa confortável. Tênis e cabelos presos, com o
intuito de soltá-los depois. Eu me achava mais bonita assim, e certeza de que
Vincenzo também notaria o momento em que soltaria meus cabelos,
chamando, dessa maneira, a sua atenção para a minha beleza. Mordo o bolo e
me pergunto por que deveria estar tão preocupada em me reafirmar para o
belo CEO italiano?!
Ora! Simplesmente porque Vincenzo era o sonho de qualquer
mulher.
Ele era um CEO poderoso e milionário. Essa história de que não
aceitava parceria com empresa falida, é apenas para ter o gostinho e o prazer
de negar propostas e, dessa maneira, se sentir superior aos seus lacaios. Aff.
Reviro os olhos, apenas por imaginar a petulância daquele deus-
grego. Deus deu asas àquela cobra, agora eu deveria aturar, enquanto
estivesse tentada por aquela proposta.
Meu pai, obviamente concordou. Disse que se desse tudo certo,
venderia sua vinícola e viria morar comigo. Ou eu repassaria uma boa quantia
para ele lutar junto aos colonos pela reascensão de sua vinícola. Sim, os
salários da empresa de Vincenzo não eram baixos, e eu imediatamente pedi a
papai que não se precipitasse. Aquela vinícola era a sua vida, a sua história. E
eu não queria que ele deixasse seus sonhos morrerem.
Finalmente, saio do hotel e, quando me dou conta, um belo carro
está parado exatamente ao pé da escada.
Assim que desço mais um pouco, completamente desconfiada, o
vidro da janela se abaixa e os olhos azuis brotam lá dentro acompanhados de
um sorriso branco e galanteador.
– Pode vir, Lara. Eu não mordo.
Sorrio por dentro imaginando que aquele belo homem insistia em
estreitar intimidades.
– Bom dia! – respondo contrariando a vontade de respondê-lo que
eu mordia. E mordia com força. – Como soube do hotel?
– Foi o contato que deixou no formulário da recepção.
Abro a porta e me sento ao carona.
– Entendo, Vincenzo. Você é realmente muito astuto.
Então, partimos em direção à vinícola Gatti.
Enquanto estávamos dentro daquele carro luxuoso, meu coração era
massageado por uma espécie de satisfação. Sim, era inevitável assumir que,
apesar de tudo, a companhia de Vincenzo era de fato agradável.
– Olha esse céu. Perfeito para o nosso passeio na vinícola, não
acha?
– Passeio? Não seria um encontro de negócios?
Então, ele me olha meio de lado.
– E você se arrumou com o intuito de fazer um encontro de
negócios? Tênis e moletom, Lara?
No mesmo instante sorrio amarelo, puxando o zíper do meu casaco
até o pescoço, e na verdade queria que ele subisse até a minha testa para tapar
a minha cara de tacho.
– Vincenzo, sua família é daqui? – desconverso.
– Não. Somos do Norte da Itália, fronteira com a França. Essas
terras foram herança de meu avô materno. Mas, minhas raízes estão um
pouco longe daqui, no Valle D’Aosta. – observo seus turquesas atentos à
estrada.
– Você foi ousado em deixar sua história para trás...
Vincenzo sorri.
– E eu tenho certeza de que você também deveria fazer o mesmo. –
o tom autoritário faz vibrar meu coração.
Engulo em seco, ao mesmo tempo em que me animo ao ver a
insistência daquele belo CEO na proposta de eu ficar em sua empresa.
– Lara, o mercado precisa de profissionais como você. – ouço
atentamente, enquanto estou prestes a ceder à sua proposta tentadora. Aos
seus encantos. – Eu quero muito mais além que uma parceria de uvas. Eu
quero você atuando diretamente com suas ideias, quero sua colaboração para
o cultivo e plantio das nossas uvas aqui, nessa cidade. – ele fala
completamente obstinado em sua proposta.
E a ficha de repente cai. Vincenzo era muito, muito esperto. Ele iria
lucrar muito mais se trouxesse minha experiência para a sua empresa, ao
invés de importar as uvas brasileiras. Que danado.
– Você me surpreende com seu olhar visionário para os negócios. –
confesso, sem perceber.
Ele faz mais uma curva e eu imagino que já poderíamos estar perto
da vinícola Gatti.
– E seu pai? – de repente, Vincenzo me pergunta.
– Meu pai? Quem te falou sobre o meu pai? – estou surpresa.
– Ana. Eu pedi que ela fosse te abordar, Lara. – respiro fundo num
susto. – Eu não queria ser um estúpido com você. Fazê-la vir de um lugar tão
distante, para simplesmente ignorar suas propostas e você partir sem
expectativas. E Ana conseguiu para mim tudo o que eu queria de fato saber. –
e ele me olha apreensivo.
Eu estava completamente boquiaberta. Mas ao mesmo tempo
notava a sinceridade com que Vincenzo tratava daquele assunto comigo.
Embora tenha feito Ana Giulia me “usar”, eu via intenções corretas
em seus propósitos.
– Então você... você usou a mim, usou a Ana...
– Não. Não pense por esse lado. – a voz é crua e séria. – Você
jamais se abriria comigo daquela maneira, menina. Apenas me mantive firme
em minhas intenções e uma delas é contratá-la.
Dou um sorriso incrédulo e olho pela janela. Vincenzo além de
lindo, inteligente, poderoso, era um articulador de situações. Óbvio, se elas
dissessem respeito às suas intenções.
Vincenzo era determinado, é isso, além de um sedutor nato!
***
Vincenzo se afasta.
***
– Que bom que você aceitou o convite para visita à vinícola, afinal,
pude conhecer ainda mais o seu potencial, Lara.
– É sério, sim, Ana. Eu decidi que vou ficar para ajudar Vincenzo
nos negócios e, principalmente, a tratar da plantação.
Olho disfarçadamente para trás e não gosto do que vejo. Ana Giulia
nos encara com um olhar maligno, vingativo, ao mesmo tempo em que meu
coração batia diferente quando estava perto do CEO italiano.
Uma moça bonita e alto astral, com a qual fiz amizade nas últimas
semanas, vem me abordar.
– Mas hoje é dia de polo! Nosso chefe vai estar lá, competindo!
– Vincenzo?
– Eu vou. – sibilo.
Estico os olhos por trás do vidro fumê e vejo Ana num diálogo
agressivo com o namorado, enquanto ele levava as mãos no rosto num gesto
impaciente.
– Hm, isso quer dizer alguma coisa?! – ela me olha com um sorriso
safado nos lábios.
– Sim, ele é justo, e sabe muito bem que a namorada não é flor que
se cheire.
– Acho que ela não veio. – mal escuto Paola, por conta da torcida
em polvorosa.
– Ana? – pergunto.
– Lara, ele só deu uma tacada em dois minutos que o jogo começou
e você já tirou as suas conclusões sobre o time? Precipitada, diga-se de
passagem...
***
– Lara!
– Oi, Vincenzo!
– Vem cá, por favor. – ele é sério e quem vê assim até imagina que
é um durão arrogante.
– Já vou.
– Dói?
Ele sorri.
– Existe isso?
– Você vai para a minha casa, Lara. – então, ele me olha. – Você já
fez tanto por mim nessas últimas semanas! Não posso simplesmente
abandoná-la num hotel ou com a louca da Paola.
Assim que ele abre a porta do carro, mais uma vez ele me pega no
colo. A casa de Vincenzo era uma mansão típica italiana, de tijolinhos e
flores pelas janelas.
Assim que me sento sobre a cama e olho para o meu pé, ele está
completamente inchado e roxo.
– Ana, você sabe muito bem que não estamos bem há um tempo.
– Vincenzo, você já contou para ela sobre o seu passado? Seu fundo
de poço foi realmente vergonhoso! – a megera gargalha. – Sua ambição é a
sua ruína!
– Lara?!
– Então, por que se envolveu com ela? – digo, num fio de voz, mas
não poderia deixar de perguntar.
Ele sorri de lado.
– Por que está fazendo isso tudo por mim? – sinto meu coração
dançar tarantela em meu peito. Estava surpresa com minha impetuosidade.
– Lara... – ele fala com uma voz sedutora, mesmo que não tivesse
intenções de seduzir, Vincenzo era naturalmente assim. – eu vou ser sincero
com você. – então suas mãos envolvem as minhas. Imediatamente eu arrepio,
quando sinto os seus dedos gelados tocarem a minha pele. – Você é a mulher
mais bonita, inteligente e forte que eu já conheci. Difícil não me abalar, não
me sentir atraído.
– E?
Gargalho.
Então, ele aperta seus lábios em meu rosto, num beijo. A barba roça
em minha pele e imediatamente vejo estrelas no teto do quarto.
Vincenzo sorri.
– Juízo, minha filha. Ele é seu chefe! Não se deve confiar na fala-
mansa desses milionários.
Sorrio.
– Amém.
Eu não iria aguentar por muito tempo segurar meus instintos, nessa
casa. Apenas eu e ele.
E Verbicário.
***
– Como assim, não tem mais hotel? – dou uma risadinha com medo
de sua resposta.
– Lara, eu...
Um brinquedinho?
***
Então, ele segura minha bunda num impulso, e eu pulo no seu colo.
Entrelaço minhas pernas nas costas de Vincenzo. Nossas bocas não se
desgrudam por nenhum segundo sequer, era como se fosse vital aquela troca
de desejo, de salivas.
Ele me beija a boca e sai pela porta, coçando a nuca. Talvez minha
surpresinha tivesse incomodado Vincenzo.
***
– Srta. Lara, uma amiga sua está aqui. – a governanta surge como
um fantasma na porta, então a destrambelhada dá um grito de onde está,
surtindo um eco insuportável que faz vibrar meus tímpanos. – Pode entrar!!!
– O que é isso?
– Aquele setor fica tão sem graça sem você, Lara! Mas, me conta!
O que deu no Vincenzo para te hospedar aqui?!
– Sei.
– E Dona Verbicário.
– Putz, havia me esquecido da versão feminina do Frank Stein. –
ela desarma, relaxando o corpo esguio entre as almofadas. Então, em poucos
segundos, minha amiga retorna à posição inicial. – Mas o que eu quero dizer
é que você pode buscar no escritório dele algum indício, alguma anotação,
algum recorte de jornal que seja! Você nunca viu nos filmes? Os ricaços
sempre guardam seus segredos naqueles escritórios imensos, como
bibliotecas.
– Não acredito que você vai fazer isso, Paola! Nível de maturidade
zero!
– Boa, Lara.
– Dona Verbicário disse que você sumiu, depois que a tal bandeja
caiu no chão. Sumiu como?
– Não, você não vai, Lara. Seu pé está cada vez pior... o seu
repouso...
***
Vou para o hotel sem saber como seria o clima entre mim e meu
chefe naquela vinícola. Estava triste por ter sido dessa forma, mas eu não
poderia deixar de esclarecer os mistérios que rodeavam a aura misteriosa de
Vincenzo Gatti.
– Quer ajuda?
– De onde você é?
Meu celular vibra em meu bolso, no mesmo instante. Era meu pai
perguntando por que não estava mais na casa de Vincenzo. As notícias
corriam como pólvora!
– América?
– Do sul. – completo.
Então, ele chega mais um pouco perto de mim, naquele sofá. Fico
terrivelmente assustada e irritada, principalmente, com a petulância daquele
rapaz. Eu não me lembrava de ter dado algum tipo de intimidade para o cara
ir roçando seu braço no meu, daquela maneira.
– Qual o seu problema? – pergunto de maneira firme e contérrita.
– Você está ainda debilitada. – ele fita o meu pé-bola. – Não creio
que meu amigo colocaria a senhorita na rua, nesse estado!
Reviro os olhos. Que tom mais antipático esse italianão usou para
dizer que Vincenzo teria me dispensado!
– Deve ser por causa dos seus negócios, não é mesmo? Quem
poderá salvar as suas plantações, agora? – digo, abaixando suas mãos de meu
rosto.
– Por que você está falando isso? – a voz séria sai por seus lábios,
não combinando muito com a feição que Vincenzo esboçava no momento. –
Não pretende voltar à Gatti?
Então, me encaminho para a cama, segurando numa das mãos do
belo moreno, que imediatamente se senta ao meu lado.
– Lara, não entendi por que você saiu daquela maneira da minha
casa. Eu juro que me esforcei para retribuir tudo o que você significa para
mim.
Então, ele segura em meu queixo, com tanta ternura, com tanto
carinho.
– Amigos?
– Amigos.
– Se cuida, menina.
***
– Você ainda está na casa dele, por que agora não vejo mais
necessidade de ficar sob os cuidados do CEO, não é mesmo?
– Sim, eu comentei, mas ele disse que eu valorizo muito o que Ana
fala e que tudo não passa de mentiras.
Assim que ele adentra a sua sala, Ana vem como uma faísca por
aquele espaço e entra pela porta da presidência, indo ao encontro do CEO
italiano.
***
Olho seriamente dentro dos olhos daquela mulher. Ela deveria ter
uns trinta e sete anos, era mais velha que Vincenzo, embora não aparentasse,
pois sua magreza e elegância a rejuvenesciam.
– Por quê? Espero que tenha bons argumentos para querer controlar
a minha vida.
– Eu não acredito em você. – decido jogar com ela, para ver se Ana
deixava escapulir mais dos mistérios de Vincenzo.
Tomava cuidado com o meu tom de voz, afinal, não queria que
ninguém escutasse os assuntos sérios que tratávamos naquela mesa de café.
– Eu não dei ordens para você sair, Ana Giulia. Sente-se agora. – a
voz grave ecoa pela cafeteria. Um silêncio constrangedor se instaura.
– Não, Ana, você iria pedir a minha morte. Não minta! – Vincenzo
soca a mesa num acesso de raiva.
– Você é louca! – dou um murro na mesa, mas era para ser na cara-
de-pau de Ana Giulia. – E agora, pilantra? Vai fazer finalmente o
depoimento, se entregando à prisão, para que o comparsa seja liberto e mate
Vincenzo? Afinal, ele não está mais namorando você!
Ana Giulia não me olha, apenas noto suas mãos trêmulas. Então,
Vincenzo, já num tom mais pacífico, continua suas tão tristes confissões.
Vincenzo se levanta da cadeira, sem dizer mais nada, sai pela porta,
deixando apenas seu perfume em nossa companhia.
– Que cara é essa, amiga? – Paola se senta ao meu lado com uma
xícara de chá nas mãos.
– Lara, por favor. – ele apenas diz isso e já é o bastante para o meu
coração voltar a acelerar. Será que eu também seria demitida, depois que
tomei consciência de todos os absurdos feitos pelas mãos podres de Ana
Giulia?
– Nossa. Imaginava que Ana Giulia fosse louca, mas não a esse
ponto! – Paola diz engolindo uma taça inteira de vinho e um bigode
avermelhado se forma pelos cantos da boca. – Vincenzo é outro louco. Eu
teria denunciado a psicopata à polícia, após as chantagens!
***
Assim que o CEO italiano me fita adentrar aquele lugar, seus olhos
azuis se perdem nos meus. Ele se levanta, sem ao menos se dar conta, e vem
até mim, deixando Francesco no meio de uma fala não concluída.
– Oi! – ele diz, colocando as mãos nos bolsos e sorrindo para mim.
– Isso é um sim?
Então, apenas grudo meus lábios nos dele, em um beijo leve, porém
gostoso e sensual, o suficiente para me deixar em chamas.
Boba apaixonada.
***
***
Sorrio.
– Não, eu amei!
Então, passo o polegar por sua barba mal feita, suas sobrancelhas
pretas e grossas são tão lindas. Bruto e angelical, ele era um contraste de
beleza.
– Lara.
– Você, você está preparada, para a sua primeira vez, meu amor?
– Amor?
E que me amava.
– Se doer, me fala.
Estava tão excitada que minhas mãos vão direto para a bunda
durinha de Vincenzo, depois as bolas e por último o membro inteiro está por
minha mão, quente, molhado, delicioso.
Então, Vincenzo desliza as mãos por minha coxa, sobe até meus
seios, aperta meus mamilos e abre os meus joelhos. Sua boca está em meu
ouvido.
– Sente, meu amor, todo o desejo que tenho por você, Lara. – a voz
rouca já me faz gozar praticamente.
– Delícia, gozei.
***
Sorrio.
Sorrio.
***
– Não sabia que você tinha tanto interesse em mim, assim... – digo,
fitando a sua boca.
– Vamos embora, garota. Mal posso esperar para passar o resto dos
meus dias ao seu lado. – ele diz num tom empolgado, e meu coração estava
igualmente feliz.
***
A convivência com Dona Verbicário até que não era uma das
piores, me restava apenas calar a minha boquinha nervosa e saber obedecer às
suas ordens. Sim, ela era a empregada, mas cismava de repente e mandava
nos outros. Talvez se espelhasse no jeito do CEO dominador, que se apossara
completamente do meu coração.
– Pode levar, sim, Pietro. Avise aos rapazes que separem as uvas
para o galpão. Lá, já estão todos avisados que hoje será o dia em que daremos
início à nova safra de vinhos Gatti.
O dia estava lindo, um céu azul intenso, e assim que respiro fundo,
inalando os ares daquele dia agradável, me viro distraída, rumo à próxima
parreira, então, para a minha torrencial decepção, dou de cara com uma
assombração.
Ana Giulia.
– Nossas terras, Lara. – então, ele caminha pela sala, parando perto
da janela. – Eu não posso viver tranquilo com Ana Giulia assombrando
nossas vidas, nossos negócios, dessa maneira. Ela é capaz de tudo.
Então, ele vem em minha direção, num belo terno preto, segurando
meu rosto em suas mãos.
– Obrigada.
Então, me afasto.
– Está linda de boné. – ele me diz, assim que saio da sala. Então,
pisco o olho para o meu namorado, em agradecimento ao elogio.
***
Era bem cedo, então estávamos apenas nós dois naquele lugar. Os
barris espalhados pelos corredores chegavam a uns três metros de altura. O
cheiro de vinho se espalhava naquele ambiente e tudo o que eu mais queria
era ouvir de Vincenzo boas notícias e elogios quanto ao meu trabalho junto
aos funcionários, aos colonos.
– Estou tão ansiosa, mal posso esperar para saber o que achou do
primeiro vinho feito por mim, aqui, na vinícola Gatti. – caminhávamos de
mãos dadas por aqueles corredores.
– Não é a toa que deus Baco era o deus do vinho e do prazer. – ele
sussurra em meio a um sorrisinho.
***
– Me conta, como foi hoje mais cedo, você estava tão ansiosa! –
então, ela puxa uma cadeira para eu sentar.
Gargalho.
– O que deu errado, Lara? – ele me pergunta num tom sério, estou
extremamente abalada.
– Errado?
Então, ele se vira para mim. Seu ar fechado me assusta. Noto suas
sobrancelhas unidas em descontentamento.
– Vincenzo, eu...
Eu detestava injustiças.
– Chegou cedo?!
Quando estou prestes a terminar o meu copo de leite, eis que vejo
um vulto passar pela janela. Imediatamente, me levanto da cadeira, deixando
o copo sobre a mesa. Olho pelo vidro e vejo apenas os quilômetros de grama
verde com árvores espaçadas a sumir de vista. Meus olhos percorrem
lentamente, por trás da janela, aquela solidão deserta à minha frente, quando,
sem eu esperar, um braço perpassa o meu pescoço.
Estou sem ar, meus olhos esbugalham pela força que Ana Giulia faz
em meu pescoço. Sim, era ela, como não reconhecer a voz insuportável que
pertencia àquela megera. Tento respirar e o ar não sai. Ela aperta, e não se dá
por satisfeita, pressiona com mais força ainda o meu pescoço. Eu começo a
me debater, rezando para que Dona Verbicário impeça de alguma forma o
estrangulamento iminente, porém tento inspirar e não consigo. A dor que o
seu braço causa em meu pescoço é insuportável, parecia que iria quebrá-lo a
qualquer momento. Ana Giulia me estrangulava com todo o ódio acumulado
em seu âmago. E eu apenas gemo de dor e seguro a sua mão, tentando me
livrar, inutilmente.
Olho melhor para Vincenzo e percebo que ele ainda está com o
terno de ontem.
Então, ele apenas faz um gesto negativo com a cabeça, falando logo
em seguida.
– Podem ser vazias de sentido para você, mas, para mim, foram a
gota d’água para eu perceber que, por qualquer detalhe, você pode vir a
perder a confiança em mim. – Vincenzo tira, aos poucos, as suas mãos de
meu rosto. – A que ponto você pode chegar por seus negócios? Aturar uma
chantagem? Viver um relacionamento de fachada com a mulher que destruiu
parte de sua história? Não confiar na mulher que te ama?
– Pistas?
– Sim, Lara. Você havia me falado que Ana Giulia esteve mais
cedo nas nossas terras e te ameaçou.
– Mas como você descobriu que era ela, afinal estava disfarçada e
poderia ser qualquer pessoa, inclusive eu!
– Eu iria até o inferno para provar a mim mesmo que você não teve
culpa de nada, que você é uma profissional por excelência, Lara.
– Eu já te perdoei, Vincenzo.
Em resposta, ele me dá um beijo gostoso nos lábios. Suas olheiras
me chamavam a atenção.
Sorrio.
Assim que ele me coloca no chão, outra vez, o italiano me fala, com
um ar altamente sério.
– O que não fiz durante os últimos anos. – olho para os seus lábios
avermelhados. – Entregarei todas as provas à polícia e ela será detida, além
de obrigada a me pagar cada centavo do nosso prejuízo.
– Meu Deus, essa mulher não cansa de fazer burradas! – Paola está
em cólicas. – Então é por isso que os dois estão lá dentro!
***
Vincenzo Gatti
Vejo a maneira como Ana revira os olhos. Falar sobre Lara era para
ela uma tortura medieval.
– Você não tem vergonha de ser tão cruel? – grito, e meus olhos
arregalam tamanho ódio da falta de caráter da mulher que estava de pé à
minha frente.
– São seus.
***
E, afinal, o que era aquilo ali, perto do que fez Vincenzo passar em
sua juventude?
– Coisas da sua cabeça, Lara. Vai ficar tudo bem. Daqui a pouco o
seu telefone toca com as boas notícias.
– Ok, beijos.
Finalmente!
***
– Ragazzo misterioso.
– Você o conhece?
– Eu não vejo a hora de partir para o Brasil com você, Lara. – ele
diz, passando os dedos em minha franja.
Então, finalmente, o avião alça voo. A Itália tão pequena sob nossos
olhos, e apenas agradeci a mim mesma por tudo o que havia conquistado nos
últimos meses. Se não fossem minha impetuosidade e coragem, a história da
minha vida certamente estaria paralisada em capítulos muito mornos e chatos.
Parti do Brasil repleta de anseios, falida, sem um amor, e agora
estava completa. Viro para o lado e observo Vincenzo olhar pela janela.
Como eu amava aquele ragazzo. Ele foi uma espécie de amuleto em minha
vida e tinha certeza de que ele também sentia o mesmo por mim.
Era quase 11h da manhã e apenas por abrir a janela do carro e sentir
os ares brasileiros entrando por minhas narinas, pude relaxar, como num
acalento, por estar próxima às minhas raízes. Faltavam poucos quilômetros
até a vinícola Martinelli e toda vez que eu me dava conta disso, meu coração
dançava em meu peito de maneira ansiosa.
– Lara, fique calma, meu amor. Olha essas parreiras, estão verdes,
cheias de uvas prestes a se desenvolver. – já havíamos saído do carro e
caminhávamos em direção ao casarão.
– Mas eu só vou acalmar assim que ver o meu pai e saber como ele
está.
Assim que adentro aquele galpão, que tinha apenas como intuito a
preparação das uvas para venda, meus olhos arregalam estupefatos e uma
música alta começa a tocar. Vejo muitas pessoas conhecidas e que eu amava,
e daí me dou conta que era uma linda surpresa. Meu pai vem em direção a
nós dois de braços abertos e o sorriso mais lindo que já vi em toda a minha
vida.
– O que é isso, meu Deus, Paola!!! – ela vem ao meu encontro junto
a Sr. Francesco. – O que significa isso?! – minhas pernas estão bambas, o
coração em colapso em meu peito, os olhos já são lágrimas puramente. – Que
surpresa é essa, Vincenzo!!! Meus primos!!! – corro em direção a eles, num
abraço forte e saudoso. Não dou conta de tanta surpresa! – Dona
Verbicário!!! – e solto uma forte gargalhada percebendo o sorriso
emocionado de Vincenzo.
– Mi vuoi sposare?
Fim
***
Amores de Penélope
Michelle e Nick Dylan: ele não é o cara dos seus sonhos (Duologia Moto & Rosas Livro
1)
Nick Dylan: o cara dos meus sonhos (Duologia Moto & Rosas Livro 2)
Garoto de Fases