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INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ - CAMPUS PALMAS

FRANCESCO GIOVANNI TANCREDI DOMENICO PARENTI

RALEIO DE FLORES E FRUTAS DE MACIEIRAS NO MUNICÍPIO DE PALMAS - PR

PALMAS
2023
FRANCESCO GIOVANNI TANCREDI DOMENICO PARENTI

RALEIO DE FLORES E FRUTAS DE MACIEIRAS NO MUNICÍPIO DE PALMAS - PR

PALMAS
2023
TERMO DE APROVAÇÃO

FRANCESCO GIOVANNI TANCREDI DOMENICO PARENTI


TÍTULO:

Trabalho de conclusão de curso aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Agronomia pelo Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

BANCA EXAMINADORA:

Presidente da Banca: Profª Drª Rejane Escrivani Guedes


Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

Professor Prof. Dr. Clóvis Pierosan Filho


Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

Professor Dr. Paulo Maurício Centenaro Bueno


Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas

Palmas, 18 de dezembro de 2023


COMPROVANTE DE ENTREGA
POR MEIOS DIGITAIS DE TRABALHO DE
CONCLUSÃO DE CURSO IFPR – CAMPUS PALMAS

Acadêmico: Francesco Giovanni Tancredi Domenico Parenti


Orientador: Dr. Paulo Maurício Centenaro Bueno
Curso: Agronomia
Título do Trabalho: RALEIO DE FLORES E FRUTAS DE MACIEIRAS NO MUNICÍPIO DE
PALMAS – PR

Conceito obtido: “B”

______________________________________
Paulo Maurício Centenaro Bueno
Professor(a) Orientador(a)

______________________________________
Paulo Maurício Centenaro Bueno
Coordenação de Curso
Dedico este trabalho a Deus, por tudo aquilo que me proporcionou durante todos os dias de
minha vida, me elevando cada vez mais para perto de Si.
AGRADECIMENTOS

Às minhas "irmães" Beatriz Chaves Loureiro e Maria de Lourdes Loureiro Giotto, pelo
incentivo sempre animador.
A meus filhos, nora e netos, por serem o fruto daquilo que almejei.
Ao meu orientador, Dr. Paulo Maurício Centenaro Bueno, pelo apoio e simplicidade na
maneira de lidar.
A escolha de um estudante depende da sua vocação, mas também da sorte de encontrar
um grande docente.
Rita Levi Montalcini
RESUMO

A pomicultura no Sul do Brasil é destaque em nível nacional. O raleio de flores e/ou frutas é
uma fase muito importante para a determinação da qualidade das mesmas, seja em tamanho,
em coloração, ou sabor. Além disso, essa intervenção propicia que haja uma homogeneidade
de produção ao longo dos anos, poupando o desgaste energético das árvores do pomar. As
condições ambientais são essenciais para que esse processo seja eficiente. O presente
trabalho tem o propósito de relatar e explicar como é feito o processo de raleio de flores e
frutas de maçãs nas propriedades em que a empresa Ivanir Leopoldo Dalanhol Ltda.
"Agrodala" presta serviços, buscando embasamento na literatura e através dela, procurar
atualizações sobre o tema. Foi realizado estágio supervisionado na referida empresa, onde
foi possível observar e acompanhar os eventos ambientais como elevada precipitação
pluviométrica e ocorrência de granizo e fortes ventos durante a floração e frutificação das
cultivares Gala e Fuji. As duas cultivares mais precoces (Eva e Princesa) já haviam passado
pelo processo de floração, então os fatores ambientais mencionados afetaram menos a
frutificação efetiva das maçãs. Mesmo com as condições citadas, foi necessário realizar raleio
químico de flores e frutas nos pomares com as cultivares Gala e Fuji, mas o elevado volume
de chuvas impedia a entrada de máquinas agrícolas nos pomares, então o presente relatório
de estágio foi escrito confrontando a teoria com a prática, embasando as atividades do estágio
com a literatura existente.

Palavras-chave: Pomicultura; Manejo das macieiras; Tratos culturais; Qualidade da maçã.


ABSTRACT

Pomiculture in the south of Brazil is highlighted at a national level. The thinning of flowers
and/or fruits is a very important phase in determining their quality, whether in size, color or
flavor. Furthermore, this intervention ensures that there is homogeneity in production over the
years, saving the energy drain on the trees in the orchard. Environmental conditions are
essential for this process to be efficient. The purpose of this work is to report and explain how
the process of thinning apple flowers and fruits is carried out on the properties where the
company Ivanir Leopoldo Dalanhol Ltda. "Agrodala" provides services, seeking support in
literature and through it, looking for updates on the topic. A supervised internship was carried
out at the aforementioned company, where it was possible to observe and monitor
environmental events such as high rainfall and the occurrence of hail and strong winds during
the flowering and fruiting of the Gala and Fuji cultivars. The two earliest cultivars (Eva and
Princesa) had already gone through the flowering process, so the environmental factors
mentioned less affected the effective fruiting of the apples. Even with the aforementioned
conditions, it was necessary to carry out chemical thinning of flowers and fruits in the orchards
with the Gala and Fuji cultivars, but the high volume of rain prevented agricultural machinery
from entering the orchards, so this internship report was written comparing the theory with
practice, supporting the internship activities with existing literature.

Keywords: Pomiculture; Apple Management; Cultivation; Apple quality.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Pomar em plena floração antes do período de raleio em Palmas, no ano de


2022...........................................................................................................................12

Figura 2 - Demonstrativo do acúmulo e volume diário das chuvas no período de


19/8 a 09/11/2023, município de Palmas, Paraná...............................................13

Figura 3 - Demonstrativo de ventos no período de 10/8 a 09/11/2023, em Palmas,


Paraná......................................................................................................................14

Figura 4 - Variações de temperatura em Palmas, Paraná, de 14/8 a 09/11/2023................14

Figura 5 - Situação do terreno após chuvas torrenciais, durante a pulverização de


pomar de maçãs em Palmas, Paraná, 2023......................................................20

Figura 6 - Ramo de maçãs cultivar Gala, antes da aplicação de raleante e antes da


incidência das chuvas, em Palmas, Paraná...........................................................21

Figura 7 - Ramo de cultivar Gala durante um período chuvoso (2023), aparentemente sem
danos à sua floração, em Palmas, Paraná.............................................................21
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14

2 DESCRIÇÃO DA EMPRESA .................................................................................... 15

3 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................... 15

3.1 Tipos de Raleio ......................................................................................... 19


3.2 Tipos de Raleantes ................................................................................... 20
3.2.1 Raleantes de Ação Cáustica ............................................................ 20
3.2.2 Raleantes de Ação Hormonal .......................................................... 22

4 CONDIÇÕES AMBIENTAIS ...................................................................................... 23

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 25

6 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 26
14

1 INTRODUÇÃO

Conforme Belrose (p. 98, 2018), a macieira é a mais importante frutífera de clima
temperado no mundo, respondendo por 12,45% da produção mundial de frutas.
De acordo com a EMBRAPA a região Sul é a principal produtora de maçã no Brasil,
especialmente os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Isso se deve, entre outros
motivos, à necessidade de frio que a fruta necessita para completar seu ciclo anual de vida
(p. 202, 2013)
Segundo o IBGE, em 2022, a quantidade de maçãs colhida foi de 1.047.217
toneladas, numa área de colheita de 33.311 hectares, com rendimento de 31.438 Kg ha-1.
Ainda segundo o IBGE, em 2022 o Paraná produziu 29.005 toneladas da fruta, num total de
996 hectares plantados, com média de 29.121 kg ha-1. Por sua vez, no município de Palmas,
conforme dados publicados pelo DERAL (2023), a produção em 2022 foi de 8.489 toneladas,
numa área de 353,6 hectares, com média de produção de 24.000 kg ha-1.
A técnica do raleio consiste em remover os frutos em excesso na planta, a fim de
aumentar o tamanho, coloração e qualidade dos mesmos, evitar alternância de produção,
rompimento de ramos, reduzir frutos com defeitos e custos de colheita (GIOVANAZ et al., p.
329-333, 2016).
O raleio pode ser manual, mecânico ou químico. Dentre os métodos utilizados, o
raleio químico tem sido considerado como o mais satisfatório, uma vez que pode ser realizado
no momento mais adequado, em um curto período de tempo, diminuindo a mão de obra e
com efeitos positivos no retorno da floração (DENNIS, p. 471-474, 2002). Em função do
exposto, o presente trabalho tem o propósito de relatar e explicar como é feito o processo de
raleio de maçãs nas propriedades em que a empresa Ivanir Leopoldo Dalanhol Ltda.,
"Agrodala" presta serviços, buscando embasamento na literatura e através dela, procurar
atualizações sobre o tema.
15

2 DESCRIÇÃO DA EMPRESA

A Ivanir Leopoldo Dalanhol - "Agrodala" é uma empresa localizada na Rodovia PR 280,


Km 60, s/n°, Bairro CODAPAR, em Palmas, estado do Paraná.
Seu escritório está localizado exatamente nas dependências do Instituto de
Desenvolvimento Rural do Paraná, antiga CODAPAR, onde estão as dependências de
classificação e armazenagem em câmaras frigoríficas.
Atualmente, se ocupa da administração e manejo de um total de 232 hectares de área
de pomares destinados à exploração da maçã, entre os municípios de Palmas e Guarapuava,
com a predominância das cultivares Gala e Fuji.
A empresa também realiza a classificação, embalagem e comércio de maçãs.

3 DESENVOLVIMENTO

O presente trabalho foi desenvolvido com base nas experiências obtidas durante as
observações a campo relacionadas ao processo de raleio de flores e frutos das macieiras.
Os processos adotados são os recomendados, baseados na literatura, buscando a
manutenção da qualidade dos frutos, como seu tamanho e coloração, além do sabor. O
acompanhamento foi feito em quatro propriedades no município de Palmas, Paraná.
A atividade de raleio químico das macieiras teve início justamente com a floração do pomar,
em meados do mês de setembro, durante o mês de outubro e início do mês de novembro
(Figura 1).
16

Figura1: Pomar com floração plena, antes do período de raleio, no município


de Palmas, Paraná, no ano de 2022.

Foto: Ivanir Dalanhol

A aplicação específica dos produtos destinados ao raleio depende da situação climática,


onde este ano de 2023, em Palmas, ocorreu alto nível de pluviosidade e precipitação de
granizo (Figura 2), associado à ocorrência de ventos fortes e rajadas de ventos com até 70
km h-1 (Figura 3), além das variações de temperatura (Figura 4), prejudicando muito a floração
das cultivares Gala e Fuji, ocasionando perda de grande parte da capacidade produtiva de
frutas de ambas, inviabilizando a possibilidade de raleio. No início de outubro, época destinada
ao raleio químico dos pomares, pôde-se observar o prejuízo causado pelas intempéries, com
alto índice de perdas da floração da cultivar Gala, mantendo-se a expectativa para o início da
frutificação da cultivar Fuji, que também apresentou certo nível de perdas.
O alto nível de pluviosidade e variação de temperatura podem afetar a floração da
macieira com a diminuição da polinização das flores, reduzindo a quantidade de frutos que
serão produzidos. Além disso, a variação de temperatura pode afetar o desenvolvimento das
flores e frutos, levando a uma floração desuniforme ou a uma maturação irregular dos frutos.
A literatura descreve alguns dos prováveis motivos, como citam os autores Stubbings &
Strydom (p.149-151, 1965): - O período crítico favorável ao "russeting" (início de
desenvolvimento dos frutos), quando utilizados produtos químicos, tais como enxofre,
oxicloreto de cobre, quelato de ferro, dodine, e organofosforados, se aplicados sob condições
de baixa temperatura e de alta umidade relativa do ar (baixa evaporação), podem induzir a
formação de "russeting".
Segundo Camilo et al. (p.145-152, 1991), para as cultivares 'Gala' e 'Fuji', a incidência
do "russeting" não tem relação com a associação do ANA ao carbaryl , mostrando que existe
diferença varietal quanto à suscetibilidade a esse problema.
17

Figura 2 - Demonstrativo do acúmulo e volume diário


das chuva no período de 19/8 a 09/11/2023
no município de Palmas, Paraná.

Fonte: IDR CLIMA

Figura 3 - Demonstrativo de ventos e Rajadas


no período de 10/8 a 09/11/2023,
em Palmas, Paraná.
18

Fonte: IDR CLIMA

Figura 4 - Variações de temperatura em Palmas,


Paraná, de 14/08 a 09/11/2023.

Fonte: IDR CLIMA

Outro processo de raleio acompanhado foi o manual, com as cultivares Eva e Princesa,
que apresentam alta resistência aos produtos utilizados para raleio das cultivares Gala e Fuji.
19

Pudemos ainda, acompanhar a utilização, pela primeira vez, nas cultivares Eva e
Princesa, de produtos à base de metamitrona e pinoxaden, com nome comercial de Goltix®
(metamitrona 70% I.A.) e Axial® (pinoxaden 5,0% I.A.) nas cultivares Eva e Princesa. Tais
produtos são utilizados na cultura da beterraba, cenoura e batata como herbicidas e sendo
utilizados nos pomares destinados à produção de pêssegos, com o mesmo propósito de raleio
de frutos.

3.1 Tipos de Raleio


O raleio de frutos é uma das práticas agrícolas mais importantes para a cultura da
macieira. Uma macieira produz entre quatro e cinco frutos a cada inflorescência e o ideal é
que o produtor mantenha apenas um ou dois destes. Muitas vezes é preciso retirar de 500 a
600 frutos por planta, o que é bastante trabalhoso e exige muita mão de obra (ROYO, 2010).
Conforme Petri et al. (p. 170-182, 2013), com o raleio químico, esse processo é acelerado e
bem mais econômico, dispensando boa parte do trabalho manual. O raleio de flores e frutos
em excesso promove o aumento no tamanho dos frutos remanescentes, evitando a
alternância de produção e quebra de ramos, melhora a qualidade e equilibra o número de
frutos em relação à parte aérea, levando ao aumento de assimilados para os frutos e brotos
remanescentes (COSTA et al., p. 301-310, 2006).
O raleio químico de flores permite a redução precoce do excessivo potencial de
frutificação (MELAND, p. 275-281, 2004), diminuindo a competição por carboidratos no
florescimento (STOVER et al., p. 1077-1081. 2001), Segundo Faoro (p. 179, 2022), embora
as cultivares do grupo ‘Gala’ não sejam propensos à alternância de floração, fenômeno em
que uma planta produz um número significativamente maior de flores em um ano e, no ano
seguinte, muito menos flores. Isso pode ocorrer devido a vários fatores, como condições
climáticas, nutrição inadequada ou outros estresses ambientais. Esse fenômeno pode afetar
a produção de frutas e sementes, bem como a saúde geral da planta. em face do excesso de
frutificação e por produzirem frutos de tamanho médio, é necessário o raleio para que os frutos
apresentem tamanho adequado à aceitação comercial. Caso contrário, os frutos produzidos
ficarão muito pequenos, perdendo seu valor.
O raleio manual consiste na retirada manual dos frutos, com ou sem auxílio de tesoura
de raleio, tendo sido utilizado no raleio das cultivares Eva e Princesa, que, mesmo após a
20

utilização da metamitrona e pinoxaden como citado anteriormente, precisaram passar por um


repasse do volume de frutos em seus ramos, em função da alta resistência aos raleantes.

3.2 Tipos de Raleantes


De acordo com Wertheim e Webster (p. 267-294, 2005), é possível realizar o raleio
químico na macieira de duas formas: por meio do uso de substâncias químicas que inibem a
formação de gemas floríferas, diminuindo a densidade de floração e pelo uso de substâncias
que induzem a abscisão de flores ou frutos quando aplicadas na floração ou em pós-floração.
A diminuição da densidade de floração pelo uso de fitorreguladores mostra-se uma alternativa,
preferencialmente em espécies que apresentam abundante florescimento, como em muitos
cultivares de ameixas e pêssegos. Assim, o uso de fitorreguladores com ação de giberelinas
pode reduzir a formação de gemas florais para o ciclo de produção posterior e,
consequentemente, diminuir a necessidade de raleio em função do menor número de flores
por planta.
Segundo Byers (p. 409, 2003), as substâncias raleantes podem ser divididas em
substâncias de ação cáustica, e substâncias com ação hormonal. Entre as substâncias
cáusticas, destacam-se o tiossulfato de amônio (ATS), a ureia, a cianamida hidrogenada, a
calda sulfocálcica, os óleos vegetais e outros compostos à base de enxofre. Segundo Osborne
et al. (p. 423-428, 2006), tais substâncias causam danos nos tecidos do estigma e do estilete
das flores, assim como grãos de pólen, limitando a polinização e fertilização de algumas flores.
Os raleantes cáusticos são aplicados no momento da plena flor, pois eles inibem a
formação do tubo polínico impedindo a polinização (CHILDERS, et al., p. 106, 1995).

3.2.1 Raleantes de Ação Cáustica


Dentre os raleantes, o mais utilizado nos Estatos Unidos conforme Costa et al. (301-310,
2006), é tiossulfato de amônio que, por sua vez, é mais efetivo no raleio de flores em macieira
‘Golden Delicious’ quando aplicado em concentrações acima de 1% e não superiores a 1,5%
na plena floração. No Brasil o ATS, mostra perspectivas no raleio da macieira “Gala” e Fuji
Suprema, com redução da frutificação efetiva, número de frutos por planta e aumento da
massa média dos frutos.
Há muitas informações sobre o uso potencial do ATS como um diluente químico de flores
no cultivo de frutas em todo o mundo (MELAND, p. 235-242, 2007; Milić et al., 120-124, 20011;
MYRA, p. 35-52, 2007; MAAS, p. 45-51, 2016). Segundo Myra et al. (p. 35-52, 2007), diluentes
21

de flores como o ATS ou a calda sulfocálcica diminuem significativamente a taxa de


germinação do pólen ou o comprimento do tubo polínico, que age contra a fertilização do
óvulo.
Apesar da eficácia no raleio químico, os raleantes de ação cáustica podem causar injúria
em parte dos frutos, mas favorecem o aumento de tamanho das maçãs e melhoram o retorno
de florada. Estes produtos inibem a formação das flores laterais do cacho floral, favorecendo
o desenvolvimento do fruto da flor-rainha. Contudo, alguns estudos mostram que os danos
causados aos frutos por esses raleantes devem basicamente por aplicações tardias e doses
elevadas (BYERS, p. 424, 2003). Um exemplo destes produtos é o tiossulfato de amônio
(ATS) utilizado nos EUA (BYERS, p. 424, 2003, e FALLAHI, p. 179-187, 2010). Segundo Feel
et al., (p. 1572-1575, 1983), alguns fungicidas podem inibir a formação do tubo polínico
dependendo do momento e o tipo de aplicação.
Os raleantes cáusticos não necessitam ser absorvidos pelas partes vegetativas da
planta, apenas o contato do produto com as flores é suficiente para obter redução na fixação
de frutos (BYERS, p. 424, 2003).
Muito utilizados em larga escala nos pomares do Brasil, a maior parte dos raleantes
cáusticos tem o inconveniente de propiciar o desenvolvimento de "russeting", uma camada de
cortiça formada nas células da epiderme. A causa primária de sua formação são fatores
externos à planta que levam à formação de fendas na cutícula que envolve o fruto, expondo
as células que ficam logo abaixo desta camada. Sob condições de alta umidade relativa,
aquelas células sofrem danos, e a consequente reação protetora da planta é isolar as áreas
danificadas através da formação deste tecido de cortiça (TUKEY, p. 30-39, 1969;
STEENKAMP et al., p. 501-505, 1984).
A Empresa Agrodala não utiliza este tipo de produto que, segundo seu técnico, aumenta
potencialmente o risco de russeting como descrito pela literatura e, em função da
impossibilidade de estar presente em todos os pomares no momento da aplicação, prefere
não correr o risco, primeiro em função da responsabilidade técnica, depois pela depreciação
dos frutos que a empresa comercializa posteriormente.
O raleio químico de flores permite a redução precoce do excessivo potencial de
frutificação (MELAND, p. 275-281, 2004), diminuindo a competição por carboidratos no
florescimento (STOVER et al., p. 1077-1081. 2001).
22

Segundo Faoro (p. 304, 2022), embora as cultivares do grupo ‘Gala’ não sejam propensos à
alternância de floração, em face do excesso de frutificação e por produzirem frutos de tamanho
médio, é necessário o raleio para que os frutos apresentem tamanho adequado à aceitação
comercial. Caso contrário, os frutos produzidos ficarão muito pequenos e terão baixo valor
comercial.
Na Agrodala, utilizou-se o Sevin® (48% I.A.), produto à base do carbaril, da classe dos
carbamatos, originalmente utilizado como inseticida de contato, produto que não afeta o
equilíbrio hormonal das plantas e tem o poder de inibir o crescimento e desenvolvimento
excessivo de frutos, sendo utilizado no período de pós-floração, no repasse das cultivares
Gala, quando as frutas apresentam de 20 a 25 mm de diâmetro, na proporção de 1 L ha-1.

3.2.2 Raleantes de Ação Hormonal


Estes raleantes possuem menos eficiência durante a floração em relação aos raleantes
cáusticos, devido à baixa quantidade de área vegetativa para a absorção das moléculas. O
raleio por estes produtos é dependente da penetração e translocação até o local de ação para
que possam surtir efeito (DENNIS, p. 471-474, 2000). Segundo Byers (p. 424, 2003) esses
raleantes atuam no metabolismo das plantas, favorecendo o desequilíbrio nas rotas
metabólicas, causando a queda de frutos. O risco desses produtos, causarem injúrias nos
frutos formados é menor em relação aos raleantes cáusticos.

ÁCIDO NAFTALENO ACÉTICO (ANA)


O ácido naftaleno acético (ANA) foi um dos primeiros reguladores de crescimento do
grupo das auxinas utilizados comercialmente. O ANA promove a síntese de etileno e, quando
aplicado nas plantas, causa epinastia, um murchamento das folhas que persiste em torno de
24 horas (MONQUERO, p. 400, 2014). Luckwill (p. 190-206, 1953) descreve que o ANA aborta
as sementes causando abscisão dos frutos. Já Curry (p. 846-850, 1991) mostra que a
aplicação de ANA interfere na produção de etileno, favorecendo a translocação do etileno
produzido pelas folhas para as zonas de abscisão, causando o raleio.

BENZILADENINA (BA)
23

A benziladenina é um regulador de crescimento vegetal do grupo das citocininas que


induzem a divisão celular. É comercializada no Brasil com o nome comercial MaxCel®, com
2% de I. A. É o produto utilizado pela Agrodala nas cultivares Gala, quando os frutos têm de
10 a 12 mm de diâmetro, com a distribuição de 2 L ha-1.
Nas cultivares Fuji o produto é utilizado quando as frutas apresentam 4 a 5 mm de
diâmetro, aplicando-se 4 L ha-1, associado com o Etrel® (Etefom), na proporção de 1 L ha-1.
Yuan e Greene (p. 169-176, 2000) descrevem que tratamentos com benziladenina estimulam
a respiração noturna diminuindo a disponibilidade de fotoassimilados. Esse fato, juntamente
com o aumento de etileno causado pela benziladenina, causa a queda de frutos. Além disso,
a BA diminui o volume da translocação de fotoassimilados das folhas para os frutos (GREENE,
et al., p. 775-779, 1992). Assim, juntamente com o aumento de etileno, causa a queda de
frutos. Além de possuir grande potencial raleante, a BA favorece o aumento do tamanho de
frutos por estimular o aumento no número de células no momento da divisão celular do fruto
(BYERS, p. 409, 2003).

ETEFOM
O etefom é um fitorregulador relacionado à síntese de etileno, apresentando múltiplas
aplicações na produção de frutíferas, sendo uma delas seu uso como raleante de floração ou
em pós-floração. O etefom mostra-se mais eficaz quando existe a tendência natural de queda
de frutos (WERTHEIM, p. 445-462, 1997)
O etefom é um regulador de crescimento do grupo do etileno e influencia diversos processos
fisiológicos da planta. Ao ser absorvido por frutos e folhas, ele se move no citoplasma,
liberando etileno e estimulando a planta a produzir mais etileno endógeno. Essa reação é
dependente do pH e da temperatura (EDGERTON E BLANPIED, p. 1064-1065. 1968;
FORSHEY & EDGERTON, citado por PETRI, 2016). É um inseticida utilizado como raleante
que atua no ciclo do etileno, causando abscisão de frutos (BYERS, p. 409, 2003). Este produto
mostra-se altamente variável com a temperatura do ar na hora da aplicação. Em temperaturas
acima de 25°C, o efeito raleante pode ser potencializado devido à maior taxa de síntese de
etileno, podendo resultar em raleio excessivo.

4 CONDIÇÕES AMBIENTAIS
24

Durante os meses de setembro, outubro e início de novembro, as condições necessárias


para que se pudesse fazer a aplicação de produtos para o raleio e controle de produção das
macieiras no município de Palmas foi impraticável em função de muitas chuvas, granizo e
ventos fortes (Figura 1). A cultivar Gala teve sua floração prejudicada (Fotos 2 e 3), ocorrendo
a queda das flores, o que, comercialmente é um grande prejuízo.
Os fatores climáticos no momento da aplicação interferem diretamente na ação do raleante.
Desta maneira, o uso de adjuvantes colabora para diminuir a variabilidade das respostas de
raleio, aumentando a área de contato do ralente e favorecendo a absorção pela planta
(BYERS, p. 409, 2003).

Figura 5 - Situação do terreno após chuvas torrenciais, durante a


pulverização de pomar em Palmas, Paraná, 2023.

Fonte: do Autor

Figura 6 - Ramo de maçãs cultivar Gala, antes da aplicação de raleante


e anterior à incidência das chuvas em Palmas, Paraná, 2023.
25

Fonte: do Autor

Figura 7: - Ramo da cultivar Gala durante um período chuvoso (2023), aparentemente sem danos à sua
floração, em Palmas, Paraná.

Fonte: do Autor

As condições ambientais de alta pluviosidade e ventos fortes comprometeram a melhor


época para a aplicação de raleantes químicos.
A empresa utiliza raleantes recomendados pela literatura, e com registro no Ministério
da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
26

Apesar dos inconvenientes das intempéries ambientais durante praticamente todo o


período de estágio, foi possível acompanhar as aplicações de raleantes químicos, com
aproveitamento satisfatório para o aprendizado no que se refere às aplicações, modo de ação
e, principalmente, a vivência prática do raleio de macieiras, com o objetivo de produzir frutos
de boa qualidade, boa aparência e sabor.
As condições ambientais de alta pluviosidade e ventos fortes comprometeram a melhor
época para a aplicação de raleantes químicos.
A empresa utiliza raleantes recomendados pela literatura, e com registro no Ministério
da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA.
A título de curiosidade, pudemos presenciar a ocorrência de um distúrbio da evolução
das frutas, o "russeting", que segundo o técnico da Agrodala, pode ser ocasionado por vários
motivos, como erro de aplicação de produtos, aplicação em horários de temperaturas mais
baixas e até por influências climáticas desfavoráveis àquela época de evolução do fruto, como
fortes ventos, e granizo.

6 REFERÊNCIAS
27

BELROSE. Word apple review, 2018 edition. Pullman: Belrose, 98p. 2018.

BYERS, R. E. Apples: Botany, Production and Uses: Flower and Fruit Thinning and
Vegetative Fruit75 balance. C.16, p. 409, Ed. D.C. Ferre and I.J. Warrington, 2003.

BYERS, R. E., Flower and Fruit Thinning and Vegetative: Fruiting Balance. CABI.
Department of Horticulture, Virginia Polytechnic Institute and State University, Winchester,
Virginia, USA, p. 424, 2003.

CAMILO, A.P; MONDARDO, M.; LEITE, G. B. Raleio de frutos de macieira, cultivar Gala.
Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, BA, v.13, n.1, p.145-152, 1991.

CAMILO, A. P.; PEREIRA, A. J. A Cultura da Macieira: Raleio de Frutos. Florianópolis, p.


416, 2006.

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