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FISIOLOGIA

VEGETAL

Talita Antonia da Silveira


A água na planta
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar a importância da água para a planta.


 Descrever o processo de absorção da água pela planta.
 Reconhecer os processos de perda de água pela planta.

Introdução
A água é uma das substâncias cruciais para o nosso planeta. A evolução
da vida veio por meio da água, que é o solvente ideal para a ocorrência
dos processos bioquímicos. Sem água, a vida como nós conhecemos
não existiria. A água é importante para a manutenção funcional das
moléculas orgânicas biológicas e da atividade metabólica das células
vegetais e animais. A cada grama de matéria orgânica produzido, 500
gramas de água são absorvidos pelas raízes, transportados pelo corpo
da planta e perdidos para a atmosfera.
Estudar as relações hídricas em plantas é importante devido à diversidade
das funções fisiológicas e ecológicas que a água exerce. A água é o recurso
mais abundante, mas também mais limitante, quando falamos de recursos
para o crescimento e bom funcionamento dos vegetais. A quantidade
de água disponível é diretamente relacionada com a manutenção da
turgescência dos tecidos, que é importante para a fotossíntese, a floração,
a frutificação e a qualidade de produtos como verduras e frutas.
Assim, neste capítulo, você vai reconhecer a importância da água
para a planta, identificando como ocorrem os processos de absorção e
perda de água pela planta.

A importância da água para a planta


A água é essencial como reagente ou substrato nos processos como a fotossíntese
e a hidrólise do amido em açúcar em sementes germinando. Existem outras
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importantes funções da água, como aquelas relacionadas ao movimento de


nutrientes minerais tanto no solo quanto nas plantas, ao movimento de produtos
orgânicos da fotossíntese e à locomoção de gametas no tubo polínico para a
fecundação. A água serve também como meio de transporte na disseminação
de esporos, frutos e sementes para muitas espécies.

Solvente
A água é considerada o solvente universal, por dissolver maior variedade de
substâncias do que qualquer outro líquido O tamanho pequeno da molécula e a
polaridade fazem com que ela dissolva quantidades maiores de uma variedade
mais ampla de substâncias do que outros solventes. Nesse sentido, o transporte
de substâncias orgânicas e inorgânicas, no xilema e no floema, só ocorre na
presença de água como solvente, transportando açúcares e proteínas.

Reagente
A água participa de inúmeras e importantes reações químicas vitais para a
planta, como a fotossíntese (Figura 1), a respiração, a hidrólise e a condensação.

Fotossíntese

6 CO + 6 H O C H O + 6O

Luz
6 CO + 12 H O C H O + 6H O + 6O
Pigmentos
(gás (água) fotossintéticos (glicose) (água) (oxigênio)
carbônico)

Figura 1. Equação da fotossíntese mostrando a participação da água no processo.


Fonte: Adaptada de Petrin (2014).
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Manutenção da turgescência celular


O turgor é responsável pela forma de numerosos órgãos vegetais que possuem
poucos tecidos de sustentação, como folhas, flores lenhosas e algumas plantas
inteiras. A manutenção da turgescência celular é fundamental para diversos
processos e situações, como o crescimento e o desenvolvimento celular, os
tropismos, com o fechamento dos estômatos e folíolos, e a movimentação de
raízes, ramos e folhas.

Turgescência é o aumento do volume de uma célula causado pela entrada de água


no seu interior.

Regulação térmica
A água possui um alto calor específico, que faz com que a planta tenha a
capacidade de absorver grandes quantidades de calor sem elevar a temperatura
prejudicialmente. No processo de transpiração, a planta apresenta um efeito de
resfriamento. Assim, observamos que, na sombra das árvores, a temperatura
é mais amena.

Absorção da água pela planta


A água que a planta utiliza é proveniente do solo, e o órgão responsável por
essa absorção é a raiz. A eficiência na absorção da água vai depender do
volume e das características do solo a ser explorado por ela. É importante
darmos condições para o bom desenvolvimento das raízes, observando aspectos
como acidez, compactação, disponibilidade de nutrientes e retenção de água,
para o bom funcionamento da planta. A maior parte da água é absorvida nos
pelos radiculares. Existem dois processos fisiológicos para a planta absorver
a água: o passivo e o ativo.
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Absorção passiva
O mecanismo de absorção passiva está diretamente relacionado com a
transpiração das folhas da planta, processo no qual a planta perde a água em
forma de vapor pelos estômatos. À medida que a água evapora, toda a coluna
líquida dentro dos vasos do xilema é arrastada para cima, uma vez que as
moléculas de água se mantêm unidas por forças de coesão.
Esse processo pode ser comparado ao ato de beber água com um canudo,
em que, ao sugar, a boca cria uma tensão que suga a água de uma ponta à outra
dentro do canudo. No processo de absorção passiva, a boca seria a atmosfera,
o canudo seria os vasos do xilema, a extremidade inferior do canudo seria a
raiz, e a água seria a solução do solo.

Alguns fatores podem inibir o crescimento das raízes, como os solos compactados e a
presença de alumínio no solo, interferindo diretamente na absorção de água pela planta.

Absorção ativa
O mecanismo de absorção ativa da água ocorre quando a atividade de
transpiração é reduzida. O mecanismo funciona devido ao aumento da
concentração de sais no xilema, aumentando a demanda de água, criando uma
concentração diferente da água da solução do solo, permitindo a entrada de
água na planta. Alguns fatores podem influenciar na absorção da água, como:

 disponibilidade de água no solo;


 condutividade hidráulica do solo — grau de umidade, textura e estrutura
do solo;
 aeração do solo — o O2 é um elemento fundamental para o
desenvolvimento das plantas, atuando na respiração das raízes e no
xilema, influenciando a absorção de água;
 extensão das raízes — quanto maior o volume de solo explorado pelas
raízes, maior será a quantidade de água absorvida pela planta; um
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sistema radicular mais profundo tem raízes finas e ramificadas, o que


dá à planta uma maior resistência nos períodos de estiagem;
 permeabilidade da raiz — a maior absorção de água ocorre na região
dos pelos absorventes;
 temperatura do ar — a temperatura ideal para a maioria das plantas é
em torno de 20 e 25°C; em baixas temperaturas, as plantas reduzem
a permeabilidade das membranas celulares e diminuem a respiração,
reduzindo o acúmulo de sais, causando menor atuação no mecanismo
de absorção ativo; temperaturas elevadas causam o fechamento dos
estômatos, interferindo na transpiração, cessando o processo de ab-
sorção passiva.

Acesse o link a seguir e saiba mais sobre a importância das micorrizas — associações
de fungos com as raízes das plantas, que determinam um aumento da superfície de
contato das raízes com o solo. Como consequência, aumenta-se também a capacidade
de absorção de água e nutrientes pelas plantas.

https://goo.gl/JsJTt7

Perda de água pela planta


Alguns processos metabólicos, como transpiração, gutação (ou sudação) e
exsudação, fazem com que a planta perca 98% da água absorvida.

Transpiração
Nas plantas, a transpiração ocorre fundamentalmente nas folhas, que apre-
sentam ampla superfície exposta ao ambiente; é considerada a principal força
responsável pela subida de água pelo xilema. À medida que a água evapora,
toda a coluna líquida dentro dos vasos do xilema é arrastada para cima, uma
vez que as moléculas de água se mantêm unidas por forças de coesão, conforme
Taiz e Zeiger (2017).
Dentre as estruturas celulares mais importantes nesse processo de trans-
piração estão os estômatos (Figura 2), que estão presentes na maioria das
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espécies vegetais nas partes superior e inferior das folhas — a transpiração


ocorre através dessas estruturas. O processo de transpiração vai variar durante
o dia, com a abertura dos estômatos; à noite, com o fechamento dos estômatos,
a transpiração será bem menor.

Figura 2. Estômato aberto e fechado.


Fonte: Kazakova Maryia/Shutterstock.com.

Fatores climáticos que afetam a transpiração


Alguns fatores climáticos podem interferir na transpiração, como:

 umidade do ar — pois, quanto maior for a umidade, menor será a taxa


de transpiração dos vegetais, devido à diferença de potencial da água;
 temperatura — pode afetar de duas maneiras: 1) o aumento da tempe-
ratura aumenta a evaporação de água nos estômatos; 2) com o aumento
da temperatura, a abertura dos estômatos aumenta, para manter a tem-
peratura da planta;
 correntes de ar — ventos causam a remoção do vapor de água na su-
perfície das folhas, mudando a concentração de vapor de água entre a
folha e a atmosfera e aumentando a transpiração.

Ambientes com elevada umidade levam à redução da transpiração, mesmo


que apresentem, também, temperaturas altas. A quantidade de gás carbônico
(CO2) pode influenciar na transpiração, pois, em alta concentração no ambiente,
ele faz com que os estômatos fiquem fechados. Isso reduz a transpiração e
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mantém a turgidez das plantas. A alta concentração de gás também aumenta


a eficiência da fotossíntese, resultando em uma maior produção de energia.

Gutação ou sudação
A gutação ou sudação ocorre quando a pressão positiva da raiz se encontra
em um solo encharcado, e a umidade do ar está elevada. Nessas condições, as
plantas perdem a água das folhas das plantas através dos hidatódios ou poros
aquíferos, que são terminais dos vasos do xilema, localizados no ápice ou na
borda das folhas. Esse processo pode ser visto pela manhã, com a formação
de gotículas nas bordas das folhas, conforme Ambis e Martho (1998). Esse
processo se torna evidente quando a transpiração é suprimida e a umidade
relativa é alta, como ocorre durante a noite.

Acesse o link a seguir para assistir a um vídeo que demonstra o processo de gutação.

https://goo.gl/1a2w1K

Exsudação
É um processo de perda de seiva pela planta, provocado normalmente por podas,
incisões ou ferimentos nas plantas. A seiva perdida na exsudação possui água e
sais minerais absorvidos, que seriam transportados para a parte aérea da planta.
Com base na compreensão desse processo, é importante programar as podas
para um período de dormência das plantas, quando o fluxo de seiva for reduzido.

Déficit hídrico
A deficiência de água na planta, em muitas culturas, gera um impacto negativo
no crescimento e desenvolvimento das plantas, existindo um conflito entra a
conservação da água pela planta e a taxa de assimilação de CO2 para produção
de carboidratos. O Quadro 1 apresenta os efeitos do déficit hídrico.
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Quadro 1. Efeitos do déficit hídrico nas plantas

Fechamento dos Os estômatos tendem a fechar quando ocorre


estômatos a deficiência de água, sendo o principal
mecanismo regulatório hídrico vegetal.

Fotossíntese A falta de água causa o fechamento dos


estômatos, causando redução na taxa
fotossintética, diminuindo a entrada de CO2 na
planta. Essa falta também murcha as folhas,
reduzindo a superfície de absorção de luz.

Respiração A taxa de respiração diminui.

Crescimento e A falta de água afeta diretamente o


desenvolvimento desenvolvimento e o crescimento das plantas;
as células necessitam estar túrgidas para que
haja crescimento celular, e qualquer pequena
redução de água afeta o desenvolvimento.

Germinação de sementes A germinação depende de um suprimento


adequado de água; a falta desta pode
dificultar ou inibir a germinação.

Florescimento Essa é a fase em que a planta é mais sensível


à falta de água, pois essa falta influencia
diretamente na abertura da flor e na
formação das estruturas reprodutivas; a falta
pode levar ao abortamento das flores.

Frutificação Na frutificação, plantas com déficit hídrico,


além do abortamento das flores, podem ter
abscisão de frutos. A falta de água influencia
também diretamente no tamanho dos
frutos, que tendem a ficar menores.

Nutrição A nutrição é comprometida pela não absorção


de água, devido à dificuldade de transporte
de água da raiz para a parte aérea e à menor
disponibilidade de nutrientes no solo.

Hormônios O déficit hídrico produz mais ácido


abscísico e etileno, hormônios vegetais que
aceleram o envelhecimento da planta.
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Sintomas do déficit hídrico


A deficiência de água pode apresentar, além dos sintomas fisiológicos, alguns
efeitos visuais, como diferentes níveis de murcha:

 a murcha incipiente é invisível a olha nu e ocorre nos tecidos;


 a murcha transitória é visível a olho nu, ocorrendo nas horas mais
quentes do dia, quando a planta transpira mais água do que absorve;
 a murcha permanente é quando a planta não consegue mais recuperar
a turgescência, em situações de severo déficit hídrico;
 a murcha fisiológica, ao contrário das três anteriores, não está rela-
cionada à menor disponibilidade de água no solo — ela decorre da
incapacidade de absorção de água causada pela baixa temperatura ou
pela falta de aeração em solos compactados ou inundados.

Quando estudamos sobre a importância da água no crescimento e desenvolvimento


das plantas, pensamos nos fatores que influenciam a absorção de água. Por exemplo, o
crescimento das raízes — quando associadas às micorrizas, que aumentam a superfície
de contato das raízes com o solo — aumenta a capacidade de absorção de água e
nutrientes pelas plantas.

AMBIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. 2. ed. São Paulo: Moderna,
1998.
PETRIN, N. Autotrofismo. Estudo Prático, 03 set. 2014. Disponível em: https://www.
estudopratico.com.br/autotrofismo-fotossintese-e-quimiossintese/. Acesso em: 18
fev. 2019.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
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Leituras recomendadas
CUTLER, D. F.; BOTHA, T.; STEVENSON, D. W. Anatomia vegetal: uma abordagem aplicada.
Porto Alegre: Artmed, 2011. 304 p.
LACERDA, C. F.; ENÉAS FILHO, J.; PINHEIRO, C. B. Fisiologia vegetal. Fortaleza: UFC, 2007.
Disponível em: http://www.fisiologiavegetal.ufc.br/apostila.htm. Acesso em: 18 fev. 2019.
PES, L. Z.; ARENHARDT, M. H. Fisiologia vegetal. Santa Maria: Colégio Politécnico da
UFSM, 2015. Disponível em: http://estudio01.proj.ufsm.br/cadernos_fruticultura/
terceira_etapa/arte_fisiologia_vegetal.pdf. Acesso em: 18 fev. 2019.
RODRIGUES, J. D. Identidade dos seres vivos: como a planta consegue produzir seu
próprio alimento? Museu Escola do IB, 2008. Disponível em: http://www2.ibb.unesp.
br/Museu_Escola/3_identidade/3-identidade_funcoes_fotossintese2.htm. Acesso
em: 18 fev. 2019.

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