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Prof. Dr. Carlos A. Martinez - carlosamh@ffclrp.usp.br - Departamento de Biologia, FFCLRP, USP, 14040-901, Ribeirão Preto, SP)
9.1) Plantas C4
Em geral, o ciclo C4, seja de qual tipo, pode ser dividido em 4 fases (fig 26): 1) fixação de CO2;
2) transporte do composto de 4 carbonos (malato nesse tipo de ciclo C4); 3) descaboxilação do
composto de 4 carbonos; 4) Carboxilação pela Rubisco no Ciclo de Calvin; 5) Transporte do
composto de 3 carbonos; e 6) regeneração do fosfoenolpiruvato (PEP). Observe que nesse tipo 1 de
ciclo C4, é o piruvato o único composto de 3 carbonos transportado.
Fig. 26: Esquema básico de um Ciclo C4 e sua divisão em diferentes tipos de células.
Todos os tipos de plantas C4 possuem dois mecanismo paralelos de fixação de carbono, os
quais encontram-se separados espacialmente: enquanto a fixação de carbono pela PEPC ocorre nas
células do mesófilo, a fixação de carbono pela Rubisco ocorrem nas células da bainha vascular, células
estas que caracterizam a Anatomia Kranz, presente somente em plantas C4 (Fig. 27).
Fig 27. Análise transversal de uma folha de uma planta C4 apresentando a anatomia Kranz.
As plantas C4 podem ser divididas em três subtipos, dependendo do tipo de enzima
descarboxilativa usada nas células da bainha do feixe vascular. Estes subtipos são (Quadro 1):
Fig. 27: Esquema da fixação de carbono em plantas C4 tipo 1, mostrando a compartimentalização das diferentes
reações nos dois tipos de célula envolvidas.
9.1.2) Plantas C4, Tipo 2:
Nesse tipo 2 do Ciclo C4, outro tipo de enzima málica é envolvida (Fig 28), e o composto de 3
carbonos transportado é um aminoácido (aspartato) ao invés de um ácido orgânico (malato). Também o
composto de 3 carbonos é um aminoácido de 3 carbonos (alanina), ao invés de um ácido de 3 carbonos,
como no tipo 1 (piruvato).
Fig. 28: Esquema da fixação de carbono em plantas C4 tipo 2, mostrando a compartimentalização das diferentes
reações nos dois tipos de célula envolvidas.
Observe que nesse tipo de planta C4, não há transporte de NADPH entre o mesófilo e a célula
da bainha.
Esse tipo de Ciclo C4 é uma forma modificada do tipo 2 (Fig. 29). A diferença é que além da
alanina, também o PEP pode ser transportado da célula da bainha para a célula do mesófilo. A geração
do PEP agora ocorre na célula da bainha pela enzima carboxilase do fosfoenolpiruvato. Observe que
agora não ocorre o consumo e posterior regeneração de poder redutor, mas sim o consumo de somente
uma molécula ATP, em contraste com o tipo 1 e 2, as quais gastam 2ATPs .
Célula do mesófilo Célula da bainha
Fig. 29: Esquema da fixação de carbono em plantas C4 tipo 3, mostrando a compartimentalização das diferentes
reações nos dois tipos de célula envolvidas.
Em geral, duas principais vantagens são advindas do metabolismo tipo C4. Primeiro, o aumento
da concentração de CO2 dentro da célula da bainha, somada a maior afinidade da Rubisco pelo CO2,
resultam que praticamente somente reações de carboxilação ocorrerão, ou seja, fotorespiração próxima
ao valor zero. Outra vantagem advém também do aumento da concentração do dióxido de carbono
(CO2): havendo maiores concentrações dele dentro da folha, o estômato dessas plantas pode fechar nas
horas mais quentes do dia, reduzindo a transpiração da planta, sem afetar a fixação total de CO2 durante
o dia. Assim as plantas C4 tem sua maior distribuição em regiões de clima quente e/ou seco. Contudo,
é importante ressaltar que essas vantagens tem um custo energético extra, correspondente a 2 ATPs por
molécula de CO2 fixado.
Esse metabolismo é uma modificação do ciclo C4, de forma que agora não existe mais uma
separação espacial entre fixação pela PEPC e pela Rubisco, mas sim, uma separação temporal (Fig.
30). Nas plantas CAM, a fixação pela PEPC ocorre somente a noite, ao contrário das outras plantas C4,
aonde a atividade dessa enzima é limitado ao período diurno. A vantagem desse metabolismo é que as
plantas CAM apresentam uma menor necessidade de água, visto que precisam abrir os seus estômatos
somente a noite para fixar o C02 atmosférico. Durante a noite o malato é acumulado no vacúolo dessas
plantas Durante o dia, esse ácido orgânico é transportado para o citosol e descarboxilado. Nesse ciclo
também são gastos 2 ATPs para a regeneração do PEP, além de mais 1,5 ATP/CO2 fixado, gasto
energético esse necessário para transportar o malato contra um gradiente de concentração (do citosol
para o vacúolo).
Fig. 30. Esquema das reações do Ciclo CAM e sua distribuição temporal.
Acredita-se que as plantas C4 e CAM, foram derivadas das plantas C3, e surgiram no final do
período Cretáceo, quando ocorreu um drástico declínio na concentração de CO2 atmosférico. Na tabela
abaixo estão resumidas algumas das principais diferenças entre essas plantas.
Tab. 3 Características diferenciais entre os três principais grupos de plantas, de acordo a seu mecanismo de fixação de carbono.
Observa-se no quadro acima que as plantas CAM possuem maior eficiência no uso da água
necessitando menor quantidade de água para acumular matéria seca. As plantas C4 apresentam
comportamento intermediário entre as plantas CAM e C4. Outro aspecto importente é o menor ponto
de compensação de CO2. A explicação por quê muitas plantas aquáticas são plantas CAM pode ser
explicado, como visto na tabela acima, da menor necessitadade dessas plantas da concentração desse
gás para que a fotossíntese líquida seja positiva.
Os principais fatores ambientes que afetam a fotossíntese são, luz, CO2 e temperatura. A
disponibilidade de água e de nutrientes também são fatores importantes, com efeitos aparentemente
mais indiretos sobre o processo.
10.1) Luz
Potencialmente somente 5% da energia solar que chega até a superfície terrestre poderia ser
convertida em carboidratos mediante o processo fotossintético (Fig. 32)
Fig. 32. Esquema das perdas energéticas no aproveitamento energético potencial pelas plantas da energia luminosa da
radiação incidente na superfície de uma folha.
. Assim, do total de energia solar que chega até uma folha, 60% é radiação de comprimento de
onda não absorvido; 8% corresponde a radiação que é refletida ou transmitida; 8% é radiação dissipada
como calor. Sobram ainda 24% dessa energia, que é utilizada no metabolismo geral da folha, mas cerca
de 19% é perdida no metabolismo, sendo então somente 5% convetido em carbohidratos.
A fotossíntese depende do número de fótons absorvidos mais do que da energia total absorvida.
A densidade do fluxo fotônico (DFF) expressa a quantidade de fótons (mol ou µ mol de fótons) por
unidade de área e de tempo. Num dia a pleno sol, a DFF, na faixa de radiação fotossinteticamente ativa
(400 a 700 nm), pode alcançar valores de 2000 ou 2500 µ mol m-2 s-1 .
Considerando-se a absorção líquida de CO2 pela planta, dois processos antagônicos ocorrem
nas plantas. De um lado, ocorre a absorção de CO2 pela planta através da fotossíntese. De outro lado,
dois outros processos metabólicos liberam o CO2: a respiração mitocondrial e a fotorespiração. Assim,
podemos definir o termo fotossíntese líquida pela fórmula abaixo:
Sendo :
FL = fotossíntese líquida
FL = FB - (RM + FR) FB = fotossíntese bruta
RM = Respiração mitocondrial
FR = Fotorespiração
A fotossíntese líquida das plantas responde de forma hiperbólica (curva) à densidade de fluxo
fotónico. nível de radiação no qual a taxa fotossintética líquida (FL) se iguala a zero é denominado
Ponto de compensação de luz ou Irradiância de Compensação. Na irradiância de compensação, o
intercâmbio líquido de CO2 é igual a zero. Abaixo da irradiância de compensação, ocorre perda líquida
de CO2
Fig. 33: Resposta da fotossíntese líquida a diferentes intensidades luminosas. O ponto de compensação luminoso é aquela
intensidade na qual a aborção de CO2 equivale-se à liberação de CO2.
De acordo com seu requerimento de luz, as plantas podem ser classificadas como plantas de sol
e plantas de sombra. As plantas de sol são mais eficientes no uso da luz, ou seja, respondem melhor aos
incrementos da radiação. As plantas de sombra saturaram-se com baixos níveis de radiação, mas são
mais efetivas no uso da radiação porque tem maior fotossíntese líquida com pouca luz. Isso se deve
principalmente ao menor nível de respiração nessas plantas. Nas plantas de sol, a irradiância de
compensação está na faixa de 10 a 20 µ mol m-2 s-1 . Nas plantas de sombra, a irradiância de
compensação está na faixa de 1 a 5 µ mol m-2 s-1 .
Fig. 34. Curvas fotossintéticas de resposta à luz de plantas de sol e de sombra. Plantas de sombra possuem menor ponto de
compensação e saturação luminosa do que plantas de sol.
Algumas plantas C3 podem saturar-se com baixos níveis de radiação (aproximadamente 500 µ
mol m-2 s-1 ). As plantas C4 são mais eficientes no uso da radiação e não se saturam com altos níveis de
DFF. Quando comparadas as taxas fotossintéticas de plantas C3 e C4 sobre o mesmo nível de radiação,
observa-se que a taxa de fotossíntese da C4 é maior do que da C3. O ponto de compensação
luminosamente não varia necessariamente entre esses diferentes tipos de plantas.
Fig. 35. Curvas fotossintéticas de resposta a luz de plantas C3 e C4. Plantas C4 possuem maior ponto de saturação luminosa
que plantas C3 (trigo ou algodão).
10.2) CO2
Ponto de compensação de C02 é aquela concentração de C02 na qual a fotossíntese líquida (FL)
é zero. Só a partir desse ponto ocorre acumulação de reservas e, portanto, crescimento. Plantas C4
apresentam fotorespiração muito baixa, possuindo um menor ponto de compensação de C02 (Fig. 36).
A fotorespiração, sob condições extremas pode consumir até 50% do carbono fixado pela fotossíntese.
Quando artificialmente aumentamos as concentrações de C02, a fotorespiração pode não mais ocorrer
em níveis detectáveis. Nessa situação, plantas C4 continuariam ainda a realizar o ciclo C4 de
concentração de C02 nas células da bainha, o qual consome dois ATPs para cada C02 concentrado nessa
célula (cada piruvato transformado em PEP consumirá 2 ATP). Assim nessa condição de ausência de
fotorespiração, a planta C4 estará utilizando mais ATP do que a planta C3, tendo, por consequência,
menor fotossíntese líquida e, portanto, menor crescimento e produtividade. Nas plantas C3, o ponto de
compensação é alcançado entre 30 a 70 µ L L-1 de CO2 , entanto que nas plantas C4 o ponto de
compensação de CO2 é de 0 a 10 µ L L-1 de CO2.
Fig. 36. Gráfico da resposta da fotosíntese líquida (FL) de plantas C3 e C4 a diferentes concentrações de C02.
10.3) Temperatura
Fig. 37: Gráfico da resposta da fotossíntese líquida a diferentes temperaturas em plantas com níveis normais
(baixos níveis) e altos níveis de CO2.