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Prof. Carlos A. Martinez (carlosamh@ffclrp.usp.br - Departamento de Biologia, FFCLRP, USP, 14040-901, Ribeirão Preto, SP)
Colaboração na elaboração e processamento de imagens: Prof. Marcelo Loureiro (UFV), R. Salermo, N. Rust e W. Antunes
A fotossíntese pode ser dividida em duas fases que ocorrem simultaneamente 1) Fase
fotoquímica, onde a energia luminosa é transformada em energia química presente nas moléculas
de ATP e NADPH, e, 2) Fase bioquímica, na qual essa energia produzida nas reações fotoquímicas é
utilizada para a fixação do CO2. Anteriormente, essas fases eram denominadas erroneamente de
fase clara e fase escura da fotossíntese. O erro do uso desses termos para definir as diferentes fases
da fotossíntese, consiste que ambas as fases só ocorrem na presença de luz, visto que muitas das
enzimas participantes nas reações bioquímicas de fixação de CO2 só estão ativas na presença da luz.
Na fase fotoquímica da fotossíntese participam 4 grandes complexos protéicos: 1)
fotossistema II, onde ocorre a hidrólise da molécula de água; 2) complexo citocromo b6-f, o qual
participa no transporte de elétrons entre o fotossistema I e II; 3) fotossistema I , onde os elétrons
provenientes da água são utilizados para a redução do NADP+; 4) complexo sintase do ATP, onde é
transformada a energia química potencial presente no gradiente protônico entre o lúmem do
tilacóide e o estroma, em ATP (Fig 13).
Fig. 13. Esquema geral das reações fotoquímicas, apresentando os quatro grandes complexos protéicos envolvidos nas
reações fotoquímicas.
.
Em resumo, a etapa fotoquímica começa com a absorção de energia luminosa pelos dos
sistemas coletores antena LHCII e LHCI, associados respectivamente aos fotossistemas II (PSII) e I
(PSI). A captura da energia luminosa possibilita a transferência de elétrons da molécula de água até
o NADP+ , com a formação de NADPH. A fotólise da molécula de água e o transporte de elétrons
permitem a criação de um gradiente de prótons entre o lúmen do tilacóide e o estroma do
cloroplasto. Esse gradiente eletroquímico de prótons permite a síntese de ATP, via complexo ATP-
sintase. A etapa fotoquímica resulta então, em produção de poder redutor (NADPH), liberação de
oxigênio (subproduto da dissociação da molécula da água), e formação de ATP por meio do
complexo ATP-sintase. O ATP e NADPH são utilizados no Ciclo de Calvin, aonde o CO2 será
fixado e reduzido.
Como pode ser observado na fig. 13, são quatro os complexos protéicos envolvidos nas reações
fotoquímicas da fotossíntese. Esses complexos diferem quanto as proteínas que os compõem, bem
como sua função:
a) O centro de reação P680 , o qual contém uma molécula especial de clorofila a que atua como
citocromo b6 /f ;
d) O doador secundário de elétrons Z (resíduo de tirosina), que transfere elétrons da molécula da
e) A proteína D2 mantém ligada à sua estrutura a plastoquinona QA, que transfere elétrons da
feofitina até a QB. Recentes evidências mostram que o heterodimero D1 / D2 também mantém ligado
o complexo de oxidação da molécula de água (complexo que evolui oxigênio, CEO). (Figura 14)
Fig. 14: Estrutura do fotossistema II, apresentando as suas proteínas constituintes, centro de reação e o complexo de
evolução de oxigênio (CEO).
Ligada às proteínas do CEO, existem quatro átomos de manganês, os quais servem como
“reservatórios” temporários de elétrons. A reação de hidrólise da água por esse complexo, utiliza
como substrato, duas moléculas de água simultaneamente, retirando então quatro elétrons de uma
só vez, os quais são então armazenados nos átomos do manganês. Esses elétrons irão então, um de
cada vez, recompor os elétrons perdidos pela clorofila do centro de reação do fotossistema II.
Somente após a retirada dos quatro elétrons do CEO, é que uma nova hidrólise da água pode
ocorrer. Assim, a hidrólise da água é um processo dependente da perda de elétrons pela clorofila,
ocorrendo somente durante o dia.
Fig. 15. Estrutura do fotossistema I, mostrando o transporte de elétrons da plastocianina (doador de elétrons do FSI) e a
ferredoxina.
∆ p = ∆ pH + ∆ ψ
A elucidação do mecanismo enzimático da síntese do ATP foi realizado por Paul Boyer e John
Walker, da Universidade de California (EUA) e do Laboratorio de Biologia Molecular, Cambridge
(Reino Unido), respectivamente. Estes pesquisadores obtiveram o prêmio Nobel de Quimica em
1997 por esta descoberta. Boyer e colaboradores clarificaram a estrutura tridimensional da
ATPsintase.
Segundo o mecanismo proposto por Boyer e Walker, quando os ions hidrogênio fluem atraves da
membrana, pelo disco formado pelas subunidades c da parte Fo, o disco é obrigado a girar. Esse
giro obriga a rotar à subunidade gamma da parte F1 que se encontra ligada a esse disco. As três
subunidades beta e alfa da parte F1 não podem girar por encontrar-se ancoradas pela subunidade b.
A subunidade gamma rota dentro do cilindro formado pelas 6 subunidades alfa e beta. Dado que a
subunidade gamma é assimétrica, sua rotação provoca mudanças estruturais na subunidade beta. A
subunidade beta muda de três formas βO , βL e βT. As mudanças estruturais na subunidade beta
permite que o ADP e o ATP fiquem ligados com diferente força
Em resumo, a etapa fotoquímica começa com a absorção de energia luminosa pelos dos
sistemas coletores antena LHCII e LHCI, associados respectivamente aos fotossistemas II (PSII) e I
(PSI). A captura da energia luminosa possibilita a transferência de elétrons da molécula de água até
o NADP+ , com a formação de NADPH. A fotólise da molécula de água e o transporte de elétrons
permitem a criação de um gradiente de prótons entre o lúmen do tilacóide e o estroma do
cloroplasto. Esse gradiente eletroquímico de prótons permite a síntese de ATP, via complexo ATP-
sintase. A etapa fotoquímica resulta em:
Até agora apresentamos o transporte acíclico, através do qual os elétrons são retirados da
+
água (fonte dos elétrons), no CEO do FSII, e transportados ao receptor final de elétrons (NADP ),
+
resultando na síntese de NADPH. Os elétrons, quando chegam no NADP , não voltam mais a
membrana do tilacóide, inexistindo então a possibilidade de um transporte cíclico a partir dessa
molécula.
Também pode haver um transporte cíclico de elétrons nas reações fotoquímicas. Reações de
estresse, as quais podem prejudicar o funcionamento do FSII, ou das reações do Ciclo de Calvin,
podem servir como gatilhos para ativar um certo níivel de transporte cíclico de elétrons.
Este transporte cíclico, pode ocorrer de duas formas. A primeira é chamada de Ciclo Q (Q de
quinona), em analogia a um clico semelhante que ocorre nas reações de transporte de elétrons na
cadeia de transporte de elétrons. A segunda forma é denominada de fotofosforilação cíclica, aonde
ocorre um transporte cíclico dos elétrons do FSI a plastoquinona oxidada, junto ao FSII.
O ciclo Q envolve o transporte cíclico de elétrons entre a plastoquinona reduzida (ou
plastoquinol, ou PQH2) e o complexo citocromo b6f (Fig xá). No sítio de ligação do quinol (Qp),
uma molécula de mplastoquinol é oxidada e dois prótons são gerados ao lúmem. Durante o primeiro
desvio de elétrons pelo complexo (A), um elétron liberado do plastoquinol é passado para
carregadores de alto potencial para o transporte de elétrons (proteína RfeS de Rieske e o citocromo
f), chegando então a plastocianina (PC). O outro elétron é desviado dessa rota normal (transporte
acíclico), sendo passado o elétron para dois tipos de citocromos b (b1 e bh), chegando, finalmente ao
sítio de ligação da quinona PQ, denominado na figura como Qn, no qual este reduz uma molécula de
quinona para formar uma plastosemiquinona (PQ.). Durante a oxidação de uma segunda molécula
de plastoquinol (B), a rota de transferência de elétrons é idêntica exceto que o segundo elétron
reduz a plastosemiquinona no sítio Q n a uma molécula de plastoquinol totalmente reduzida (PQ. .),
a qual então captura dois prótons do estroma, estando então novamente apta para doar elétrons para
o mesmo complexo, transportando também prótons para o lúmem.
Fig. 16. Esquema de um ciclo Q, o qual pode ser dividio em duas fases: (A) desvio de um elétron de uma
primeira plastoquinona doadora, e (B) desvio de outro elétron de uma segunda molécula doadora de plastoquinona.
Fig. 17: Fototransporte cíclico de elétrons. A enzima Fed-PQ oxidoredutase é localizada no fotossistema II,
próxima ao sítio de ligação da plastoquinona
A significância desse ciclo sob condições fisiológicas normais ainda é assunto controverso.
Contudo há evidências inequívocas de que a fotofosforilação cíclica deve operar a altas taxas nos
cloroplastos das células da bainha de certas plantas C4. A função desse transporte cíclico é
provavelmente ajustar as taxas de síntese de ATP e NADPH de acordo com a demanda.
Fig. 19: Esquema do modo de ação dos herbicidas que afetam as reações fotoquímicas
Esses herbicidas podem apresentar certa seletividade, como por exemplo, as atrazinas, as
quais não afetam plantas como o milho e o sorgo. A razão para esta seletividade baseia-se em
pequenas diferenças na seqüência de aminoácidos da proteína D1, na região peptídica a qual liga a
quinona B e a atrazina. Nessas plantas a quinona B liga-se normalmente, mas não o herbicida. O
uso contínuo por várias décadas desse herbicida no cultivo de milho no cinturão do milho nos EUA
(Corn Belt) tem levado a uma pressão evolutiva que resultou na mutação em alguns aminoácidos
das proteínas D1 em várias plantas daninhas, as quais tornaram-se resistentes a esse herbicida..
Com exceção do paraquat, a maioria dos herbicidas afeta o transporte entre o FSII e o
complexo citocromo b6/f. O paraquat retira os elétrons do fotossistema I, competindo com a
ferredoxina. O efeito herbicida do paraquat se deve a este levar a rápida produção de superóxidos. A
produção desse radical é tão rápida, que esse herbicida é utilizado inclusive como dessecante, de
forma, por exemplo, a antecipar a colheita de alguns produtos agrícolas.
Outras informações podem ser obtidas junto aos sítios eletrônicos das companhias
,
fabricantes desses agrotóxicos. DuPont, Dow Chemicals, Ciba Geigy, BASF, etc.
A segunda fase da fotossíntese é a fase bioquímica, composta pelo Ciclo de Calvin, o qual
pode ser subdividido em quatro fases: 1) fixação do C02 pela Rubisco , gerando duas moléculas de
ácido 3-fosfoglicérico a partir de uma molécula de ribulose 1,5-fosfato (Fig. 16) ; 2) redução,
envolvendo duas reações químicas, na qual as duas moléculas de ácido 3-fosfoglicérico serão
transformados em duas trioses (gliceraldeído 3-fosfato) (Fig. 20) e, 3) regeneração, na qual serão
envolvidas 5 moléculas de trioses para regenerar três moléculas de ribulose 1,5-bifosfato (RuBp)
para a continuação desse ciclo bioquímico (Fig. 18) e 4) biossíntese de compostos.
Fig. 20. Primeira fase do Ciclo de Calvin. A enzima Rubisco (Carboxilase da ribulose 1,5 bifosfato), enzima mais
abundante na natureza, pode promover dois tipos de reação: a reação carboxilativa, normalmente predominante, e a
reação oxigenásica.
A enzima Rubisco é uma proteína abundante nas folhas (quase 50% da proteína solúvel total
das folhas) e é a enzima mais abundante do planeta, e é composta de 8 subunidades grandes e 8
subunidades pequenas. O gene que codifica as subunidades grandes está localizado no DNA do
cloroplasto, entanto que o gene que codifica as subunidades pequenas está localizado no DNA do
núcleo. A Rubisco, além de atuar como uma carboxilase, também apresenta atividade oxigenásica.
Quando atua como oxigenase, o aceptor ribulose 1,5-bifosfato se combina com o oxigênio para
produzir um PGA e uma molécula de fosfoglicolato. Esse processo é a primeira de uma reação de
uma rota metabólica denominada de fotorrespiração.
Fig. 21. Esquema das reações componentes da fase de redução do ciclo de Calvin. É nessa fase que a energia gerada na
fase fotoquímica é utilizada, produzindo moléculas ricas em energia (trioses: 3-fosfogliceraldeído).
Fig. 23. Esquema simplificado do Ciclo de Calvin. Observe que maior nível de energia é gasta na fase de redução.
A regulação do ciclo de Calvin tem como função evitar a formação de ciclos fúteis, como
por exemplo, a síntese e degradação da frutose-1,6-bifosfato, que resultaria em um gasto adicional
de ATP. Uma outra função é a manutenção de concentrações adequadas de intermediários, como
eritrose e sedoheptulose, que devem ser suficientes para garantir a regeneração da Ribulose -1,5-
bifosfato. O esquema abaixo mostra detalhes da ativação da rubisco.
Fig. 24: Esquema da regulaçao da Rubisco pela enzima Ativase da Rubisco e pela carboimilação associada aos sinais
fotoquímicos.
Durante a noite a RuBP se encontra em alta concentração dentro do cloroplasto, e liga-se a
um sítio ativo da Rubisco (sítio esse diferente do sítio catalítico da enzima). A ligação da RuBP
nesse sítio evita a ativação da Rubisco pelo processo de carboimilação. O papel da enzima Ativase
da Rubisco, é retirar essa molécula RuBP desse sítio alósterico, permitindo então que a
carboimilação prossiga. As reações de carboimilação só ocorrem durante o dia, e são uma forma
pelo qual sinais da ocorrência de níveis significantes das reações fotoquímicas regulam a ativação
do Ciclo de Calvin. Assim, com alto nível das rações fotoquímicas, um alto nível de transporte
ocorrerá de prótons do estroma para o lúmem do tilacóide. Isso levara a redução da concentração de
prótons no estroma, e a conseqüente primeira reação da carboimilação, aonde o grupo amino do
resíduo aminoácido da serina da Rubisco é desprotonado. Paralela ao intenso transporte de prótons
para dentro do lúmem, um contra transporte de Mg++ ocorre do lúmem para o estroma, duplicando a
concentração de magnésio no estroma. Esse aumento da concentração de íons magnésio permite
então a carboxilação do grupo amino daquele resído de serina desprotonado, ligando-se o magnésio
a esse novo carbono introduzido. Note que a carboimilação ocorre em um aminoácido diferente
daqueles do sítio ativo da Rubisco.
Com a ocorrência das reações fotoquímicas um alto nível de ferredoxina reduzida é
encontrado no estroma, permitindo a transferência de seus elétrons para a tioredoxina, e finalmente,
para as enzimas alvo, as quais após sua redução, podem ser ativadas ou inativadas. Entre as enzimas
ativadas por esse sistema, encontra-se a ativase da rubisco, a fosfatase da frutose 1,6-bifosfato, a
fosfatase da sedoheptulose-1,7-bifosfato, a fosforibulocinase, e a desidrogenase do 3-GAP. Assim,
essas enzimas também só estarão ativadas durante o dia. A função dessa ativação das enzimas
somente durante o dia, tem como objetivo evitar a ocorrência de ciclos fúteis de síntese e
degradação de alguns intermediários do Ciclo de Calvin (p.ex., síntese e degradação da F1,6BP, o
que levaria ao desperdício de ATP).
Fig. 25: Sistema ferredoxina-tioredoxina de regulação da atividade das enzimas do Ciclo de Calvin.
A ação em conjunto desses diferentes mecanismos de regulação do Ciclo de Calvin pela luz
resultam na atividade de várias enzimas, somente durante o período diurno. Assim não ocorre
carboxilação, mas também não ocorre redução nem regeneração, preservando-se a noite razoável
quantidade de intermediários desse ciclo, de forma que ele, quando do início de um novo período
diurno, possa rapidamente ocorrer em altos níveis.