Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

DISCIPLINA DE ANATOMIA VEGETAL

PROFESSOR PAULO AUGUSTO ALMEIDA SANTOS

GABRIEL RABELO SILVA

LIANDRA BRASIL PIRES

ADAPTAÇÕES ANATÔMICAS DAS PLANTAS À SECA

SÃO CRISTÓVÃO-SE

2019
1. INTRODUÇÃO
A água é o principal constituinte das células vegetais e um componente essencial
para as plantas, podendo variar entre 10% e 95% do peso dos órgãos vegetais. É
fundamente para todos os processos metabólicos dos vegetais como, crescimento,
fotossíntese e transpiração (BARRETO, et al., 2001).
As primeiras plantas a dominar o ambiente terrestre, aproximadamente 470
milhões, desenvolveram estruturas e mecanismos de resistência para suportar à seca,
sendo capazes de passar longos períodos de deficiência hídrica (CERQUEIRA, 1992).
Tais mecanismos de resistência à seca, podem ser de três tipos: escape, retardo e
tolerância. No primeiro, a planta antecipa o ciclo do desenvolvimento antes que ocorra o
severo déficit hídrico capaz de provocar danos fisiológicos. No retardo, ocorre o
fechamento das vias estomáticas e das vias não estomáticas como a cutícula com o
objetivo de reduzir a perda por transpiração, como também acontece o aprofundamento
do sistema radicular para a absorção maior de água. A tolerância, está associada com a
capacidade da planta manter o metabolismo e à capacidade antioxidante
(CALVACANTE et al., 2009).
No processo de adaptação, as características adquiridas pelas plantas através dos
genes, envolvem o processo de seleção durante muitas gerações (BIANCHI et al., 2016).
A adaptação e a aclimatização relacionadas as condições ambientais, resultam em
eventos integrados que ocorrem em todos os níveis de organização, desde o anatômico e
morfológico até o celular, bioquímico e molecular. A plantas exibem folhas
morfologicamente diferentes, denominadas folhas de sol e de sombra, em resposta ao
déficit hídrico que são capazes de reduzir a perda de água pela folha e a exposição à luz
incidente, diminuindo o estresse pelo calor sobre as folhas (CALVACANTE et al., 2009;
AOYAMA & MAZZONI-VIVEIROS, 2006).

2. CLASSIFICAÇÃO DE PLANTAS QUANTO À SECA


A folha é um órgão cuja função é a fotossíntese, todavia também atua na
transpiração, o armazenamento de água, proteção e atração de polinizadores. Em função
da capacidade de adaptação à quantidade de água disponível no ambiente e cada grupo é
caracterizado por uma combinação de adaptações estruturais ao seu ambiente: hidrófitas,
higrófitas, mesófitas e xerófitas (SILVEIRA, 2004; CALVACANTE et al., 2009).
As plantas aquáticas, denominadas hidrófitas, possuem folhas que ficam sobre
lâminas d’água, tendo os seus estômatos localizados na superfície adaxial. A cutícula está
presente apenas na porção não submersa dela. O seu xilema é pouco desenvolvido. O seu
crescimento pode ocorrer parcialmente ou totalmente submersas e não toleram
dessecação. As higrófitas estão presentes em ambientes úmidos e sombreados. Essas
podem suportar dessecação prolongas, tendo o seu crescimento reiniciado quando ocorre
reidratação. As mesófitas estão localizadas em ambientes com grande variação de
umidade relativa do ar, sendo algumas consideradas decíduas. Realizam o processo de
regulação de perda de água a partir da abertura e fechamento dos estômatos. As plantas
xerófitas se caracterizam pela baixa disponibilidade hídrica, alta incidência luminosa e
uma marcada sazonalidade. Possuem grande quantidade de esclerênquima, as paredes das
suas células são espessas e lignificadas, cutícula grossa e seus estômatos estão localizados
em depressões na superfície da epiderme. Estas depressões são cobertas de tricomas e são
denominadas cripta subestomática. Elas têm a função de diminuir a perda excessiva de
água diminuindo o contato com o ambiente. O seu mecanismo de sobrevivência dá-se
pela fixação do carbono à noite, desenvolvimento de sistema radicular profundo, presença
de cutícula e armazenamento de água nos cladódios (SILVEIRA, 2004; CAVALCANTE
et al., 2009; SILVA, 2016).
As xerófitas também podem ser classificadas em três tipos: suculentas, lenhosas e
efêmeras. Nas suculentas estão presentes caules e folhas carnosas com tecido esponjoso
que proporcionam um melhor desempenho e capacidade de sobrevivência em condições
de seca, como também estômatos protegidos e cutícula espessa com o objetivo de
diminuir a transpiração. As lenhosas são caracterizadas pela presença de estômatos
contráteis, caducifólia, raízes profundas, revestimento de suberina nas folhas e
espessamentos em órgãos de reserva, suas estruturas são consideradas de resistência à
seca. As efêmeras são definidas como plantas que possuem ciclo de vida que não passam
de algumas semanas ou meses e estas aproveitam a estação chuvosa para completar todo
seu ciclo de vida e desaparecem com a seca (SILVA, 2016).

3. MECANISMO DE ADAPTAÇÃO VEGETATIVA


As plantas possuem estratégias para se adaptar de acordo com ambiente em que
vivem, a exemplo as plantas da caatinga e cerrado, em virtude disso, possuem várias
estruturas morfológicas que facilitam esse processo de adaptação sendo extremamente
importantes na prevenção contra perda de água, excesso de radiação solar, aeração, entre
outras. (FERRI, 1955).
A região epidérmica, possui cutícula em sua parede celular separada por uma
camada de pectina com presença de cutina, que são um conjunto de compostos lipídicos
insolúveis, é brilhosa e por isso reflete parte da radiação solar, podem também apresentar
cera epicuticular e intracuticular que evita a perda de água. A pilosidade é uma importante
adaptação pois possui apêndices na epiderme conhecidos como tricomas, classificados
em tectores e glandulares atuando na defesa da planta com secreção de várias substâncias
e diminuição da transpiração. Além disso, os estômatos têm uma importante função
permite troca gasosa e perda de vapor de água, são encontrados em folhas, caules jovens,
frutos e quanto a sua distribuição podem ser: anfiestomático (encontrado nas duas faces),
hipoestomático (presente na face inferior abaxial) e epiestomático (apenas na face
superior adaxial). (FAHN; CUTLER, 1992; ALQUINI et al. 2003).

Figura 1:. Secção transversal foliar de Fícus sp (Moraceae) com cutícula


espessa. Fonte: http://www.sbs.utexas.edu/mauseth/weblab/webchap10epi/10.2-
14.htm
A periderme é um tecido complexo de origem secundária, substitui a epiderme
sendo formada de felema, felogênio e feloderme. A periderme possui função de
impermeabilização, formação de orifícios chamados lenticelas que promovem trocas
gasosas e isolante térmico pois o súber protege as camadas mais internas da planta em
casos de temperaturas extremas como fogo, frio intenso e radiação solar. (Mazzoni-
Viveiros & Costa 2003). Muitas espécies de plantas como os cactos tem um sistema de
armazenamento de água com existência de células aquíferas com grande vacúolo. Já
outras além de suculência possui epinescência, uma vez que suas folhas são suprimidas
ou reduzidas surgindo os feixes de espinhos. (SCATENA & SCREMINDIAS 2003;
RAWITSCHER 1976).

4. MECANISMO DE ADAPTAÇÃO REPRODUTIVA


A adaptação na reprodução serve para que o material genético do vegetal se
dissemine da melhor forma no meio. São nos órgãos reprodutivos onde ocorre tal ação.
Com base nisso, os organismos encontraram três formas de se proliferarem, dispersando
seus frutos e sementes ao longo da coevolução (RAVEN et al., 1996). São essas
dispersadas por:
4.1 Vento
As frutas leves e que possuem um mecanismo de flutuação são levadas de um
lugar para outro (Figura 2). Do mesmo modo ocorre com as sementes sem frutos, só que
estas sendo deslocada por maiores distâncias. Ou, simplesmente, quando não possuem
estruturas de flutuação, em ambos os casos, elas caem no solo e se proliferam também.

Figura 2: frutos (Acer saccharum Marsh. - Aceraceae) e semente (Asclepias sp -


Asclepiadaceae) que possuem estruturas de flutuação (Berg 1997).

4.2 Água
Os órgãos, quando armazenam ar no seu interior ou têm tecidos com grandes
espaçamentos entre as células. Ou seja, ficam com uma densidade menor que a da água,
flutuam sobre a mesmo. Desse modo, assim, mudando sua localização (como, por
exemplos, fazem os Cocos nucifera).
4.3 Animais
Nesse modo os animais deslocam as sementes para os vegetais. Para isso, esses
comem os frutos - ao serem atraídos pelo fato deles serem doces, carnudos ou coloridos
- e dispersam as sementes longe do local de consumo através de regurgitação ou fezes, já
que elas não são digeridas por completo no sistema digestivo. Além disso, as sementes
também podem ser deslocadas quando grudam no animal e depois são soltas em outro
ambiente (RAVEN et al., 1996)
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AOYAMA, EM; MAZZONI-VIVEIROS, SC. Adaptações estruturais das plantas ao


ambiente. Instituto de Botânica (IBt). São Paulo, Brasil, 2006.

ALQUINI, Y., BONA, C., BOEGER, M.R.T., COSTA, C.G. & BARROS, C.F. 2003.
Epiderme. In Anatomia Vegetal (B. Appezzato-da-Glória & S.M. Carmello-Guerreiro,
eds.) UFV, Viçosa, p.87-107.

BARRETO, AF; BARBOSA, JKA. Mecanismos de resistência à seca que possibilitam a


produção em condições do semi-árido nordestino. Anais 3º Simpósio brasileiro de
captação de água de chuva no Semiárido, Areia, PB, Brasil, ABCMAC, 2001.

BERG, L.R. 1997. Introductory Botany: plants, people, and the environment. Saunders
College Publishing, Ft. Worth

CAVALCANTE, ACRCA; CAVALLINI, MC; LIMA, NRCB. Estresse por déficit


hídrico em plantas forrageiras. Embrapa Caprinos e Ovinos, 2009.

CERQUEIRA, YM. Efeito da deficiência de água na anatomia foliar de cultivares de


mandioca Manihot esculenta Crantz. I-Densidade estomática. Sitientibus, v. 10, p. 103-
115, 1992.

FAHN, A.; CUTLER, D. F. Xerophytes. Berlin: Gebüder Borntraeger, 1992

FERRI, M. G. Contribuição ao conhecimento da ecologia do cerrado e da caatinga.


Estudo comparativo da economia d’água de sua vegetação. Boletim da Faculdade de
Filosofia e Ciências da Universidade de São Paulo, v. 12, p. 1-170, 1955.

MAZZONI-VIVEIROS, S.C. & COSTA, C.G. 2003. Periderme. In Anatomia Vegetal


(B. Appezzato-da-Glória & S.M. Carmello-Guerreiro, eds.) UFV, Viçosa, p.237-263.

RAVEN, P.H., EVERT, R.F. & EICHHORN, S.E. 1996. Biologia Vegetal. 5 ed.
Guanabara Koogan, Rio de Janeiro.

RAWITSCHER, F. 1976. Elementos básicos de Botânica: Introdução ao estudo da


Botânica. 7 ed. Companhia Editora Nacional, São Paulo
SCATENA, V.L. & SCREMIN-DIAS, E. 2003. Parênquima, Colênquima e
Esclerênquima. In Anatomia Vegetal (B. Appezzato-da-Glória & S.M. Carmello-
Guerreiro, eds.) UFV, Viçosa, p.109-127

SILVA, SRS. Adaptações morfoanatômicas de herbáceas em resposta a condições


xéricas. 2016.

SILVEIRA, FAO. Anatomia vegetal. Curvelo: Faculdade de Ciências de Curvelo.


Departamento de Ciências Biológicas, 2004.

Você também pode gostar