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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTE
CURSO DE HISTÓRIA/LICENCIATURA
DRª. MICHELLE MACEDO
CAROLINA MARIA ALBUQUEQUE DE LIMA

A relação entre o agronegócio do Brasil e a colonialidade envolve principalmente


aspectos históricos e econômicos. Para compreendermos sua relação, precisamos ter bem claro
suas definições. Logo, a colonialidade é uma “lógica que inviabiliza, desqualifica, e elimina
tudo que é assimétrico ao único e universal caminho da humanidade: o eurocêntrico” (SILVA.
BORBA. FOPPA, 2021, p. 151) enquanto que o agronegócio “significa um complexo de
sistemas que integra todas as dimensões da economia capitalista: agricultura, indústria,
comércio e finanças.” (CARVALHO, 2018, p. 134).

A estrutura agrária brasileira tem sua origem na colonização portuguesa. Baseado na


lógica de dominação e exploração “o capitalismo é transformado no universal modelo
econômico e o lucro o principal objetivo das atividades humanas.” (WALLERSTEIN, 2012,
apud SILVA. BORBA. FOPPA, 2021, p. 140). Apesar do seu início ter se dado entre o século
XV E XVI, os frutos podres do colonialismo persistiram mesmo após as independências formais
das colônias.

A ocupação portuguesa levou à implantação de um sistema latifundiário baseado na


monocultura, inicialmente com a cana-de-açúcar e depois com o café. Claramente essa herança
persiste, a combinação do latifúndio com a monocultura, causou e causa impactos, em sua
maioria irreversíveis, a biodiversidade. Grandes extensões de terras são controladas por poucos
proprietários, muitas vezes em detrimento das populações indígenas,

Regiões que milenarmente foram ocupadas pelos povos indígenas conseguiam


produzir alimentos diversificados. Também os camponeses, pequenos
agricultores que a partir de 1500 se espalharam pelo Brasil, conseguiam
produzir com relativa diversidade. O processo de expansão do latifúndio
monocultor, no entanto, tem diminuído a biodiversidade, restringindo também
a diversidade da alimentação da população. (CARVALHO, 2018, p. 112)

Uma das características principais da colonialidade é a exploração e expropriação dos


chamados “recursos naturais”, onde o termo “recurso” já traz uma concepção que “evidencia a
dimensão colonial do poder na apropriação da natureza.” (DINIZ, 2023, p. 176). No contexto
brasileiro, o agronegócio está associado à exploração de vastas áreas de terra para a produção
em larga escala de commodities como soja, milho e carne, muitas vezes à custa de comunidades
locais e povos indígenas.

Com a expansão do agronegócio e a herança colonialista, existe uma necessidade de


“manter uma relação de dominação e exploração dos territórios” (DINIZ, 2023, p. 180). Para
isso, vêem como saída a promoção de mecanismos que justifiquem a exploração territorial,
como a “disponibilidade de terras vazias, inexploradas e degradadas”, costumam, também,
atrelar o crescimento econômico à exploração e extração de riquezas naturas, comoditizando
também a terra, o que leva a conflitos territoriais com comunidades indígenas e tradicionais,
resultando na perda de terras e modos de vida. Esses conflitos estão enraizados em padrões
históricos de colonização, nos quais as populações locais foram frequentemente deslocadas para
dar lugar a interesses econômicos dominantes.

Outro aspecto a se destacar é que a colonialidade implica em relações de poder


desiguais entre diferentes grupos sociais. O desejo de combater o atraso econômico levou à
modernização do campo. Porém, isso “significou o aumento das desigualdades sociais, a
expansão da fronteira agrícola, o desmatamento, a expulsa da terra, o êxodo rural e [a]
intensificação do latifúndio.” (MARCATTI. SOUZA, 2022, p. 04) No agronegócio brasileiro,
isso fica evidente nas relações entre grandes latifundiários, empresas de setor, onde acentuam
fortemente seu caráter capitalista através das relações com trabalhadores rurais e camponeses,
refletindo padrões históricos de exploração.

Portanto, ao fazer uma análise do agronegócio no Brasil à luz da colonialidade, precisamos


entender, principalmente, como as práticas e estruturas desse setor estão interligadas com legados
históricos de colonização e como essas dinâmicas continuara e continuam a moldar as relações sociais
e econômicas no país.
REFERÊNCIAS

CARVALHO, Fernanda Ferreira. Os impactos do modelo hegemônico de agricultura no


Brasil sobre o direito humano à alimentação (Capítulo 3). In: Estruturas opressoras, povos
famintos: a colonialidade e a violação ao direito humano à alimentação. Dissertação de
mestrado, Programa de Pós-Graduação em Direito Agrário da Universidade Federal de Goiás,
2018.

DINIZ, Juliana. A expressão brasileira da colonialidade da natureza. Revista da Faculdade


de Direito. Uberlândia, MG, v. 51, n. 1, jan./jun. 2023.

MARCATTI, Amanda Aparecida; SOUZA, Wanessa Alves Pereira de. Em Busca do


Progresso: A Revolução Verde e o Processo de Inferiorização dos Saberes
Camponeses. Revista Vozes dos Vales, nº 22, ano XI, 10/2022

SILVA, Rodrigo Ozelame da; BORBA, Carolina dos Anjos de; FOPPA, Carina Catiana. O
Sistema/Mundo Colonial/Moderno e a Natureza: reflexões preliminares. Revista Videre,
Dourados, v. 13, n. 26, jan./abr. 2021.

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