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Disciplina: GESTÃO DOS

RECURSOS NATURAIS
Prof. Rodrigo Diego Quoos

Prof. Rodrigo Diego Quoos


Ementa do IFBAIANO TDF
Introdução
• Se o homem abandonasse todos os
ecossistemas cultivados do planeta, estes
retornariam rapidamente a um estado de
natureza próximo daquele no qual ele se
encontrava há 10 mil anos. As plantas
cultivadas e os animais domésticos seriam
encobertos por uma vegetação e por uma
fauna selvagem infinitamente mais poderosas
que hoje (MAZOYER, 1933).
Introdução
• O mundo vive a era da globalização, se está aqui e ali, instantaneamente,
Hong Kong, Beirute, El Salvador, Helsinque, um mundo sem fronteiras.
Nesse mundo o agora denominado “globalizado” impera em seu reino
através da Internet, das comunidades virtuais, dos robôs, da
comida fast-food, das substâncias sintéticas, das doenças modernas.
Nesse mundo as necessidades são criadas e potencializadas pra gerarem
demanda, dependência que acaba criando um círculo vicioso onde a
ciência é empregada na manutenção das barreiras internacionais.
• Furtado (1996) faz alusão a relação do desenvolvimento com o consumo
ao dizer que o estilo de vida do sistema capitalista industrial cujo nível
consumista sempre será privilégio de poucos, serve como uma espécie de
termômetro de desenvolvimento. “O custo deste consumo será a
depredação do mundo físico” (FURTADO, 1996) .
Introdução
• A economia controla majoritariamente a escolha das produções feita pelos agricultores, bem
como os sistemas de cultivos e pecuária que decorrem de tal escolha. No contexto
desenvolvimentista a transição para uma agricultura “moderna” significou o rompimento com
as tradições e conhecimentos dos agricultores além de sua substituição por tecnologias
“genéricas” e importadas.
• As influências sobre os danos ambientais e a saúde dos consumidores ocupam agora o primeiro
plano das preocupações que motivam a formulação dos conceitos de uma agricultura
sustentável. Esses devem assegurar a alimentação humana com a dimensão da
Multifuncionalidade da agricultura, visando garantir a preservação do espaço rural.
Introdução
• É preciso desenvolver programas de
valorização cultural das práticas, hábitos e
atividades culturais no meio rural que
estimulem a população e gerem auto-estima
de sua própria cultura. Nessas condições se
disseminarão novos valores sociais, baseados
na pratica da solidariedade, da igualdade, e da
justiça social.
Recursos de produção
• Convencional e historicamente tem sido
classificados sob a denominação de terra,
capital, e trabalho. Ou: Recursos naturais;
capital (em suas mais diversas formas;
trabalho e mais recentemente, tecnologia
(ARBAGE, 2004).
A Herença Colonial
• O ganho de curto prazo e a aniquilação da
natureza, são justificados pelos economistas
em função das taxas de desconto e outros
artifícios analíticos. Na verdade o crescimento
econômico regional reproduz sistemas de
controle político e discriminação social
estabelecidos no país ainda no período
colonial.
O efeito estufa
Evolução das concentrações

Concentrações
O efeito estufa
Evolução das concentrações

Concentrações
O efeito estufa
Evolução das concentrações

Concentrações
Sachs, 2007
Existe alguma Ética Ambiental?
• Sachs (1986) considera que os sistemas econômicos de preços não são suficientes
para internalizar o meio ambiente e a gestão dos recursos. Neste sentido também
propõe a imposição de preços para usos de recursos escassos e não substituíveis.
• Os problemas ambientais deveriam ser tratados de forma multidimensional, ou seja,
levar em conta aspectos físicos, monetários, sociais e culturais.
• Uma das características marcantes dos problemas ambientais se refere ao conflito de
interesses onde as instituições privadas se tornam regra, onde a ética deve permear
na solução de problemas relacionados a esta questão.
O conceito de Desenvolvimento está
atrasado?
• A redução da agricultura à perspectiva do agronegócio tem limitado em
grande medida sua função de garantir a segurança alimentar dos povos. O
objetivo do agronegócio não é alimentar a população humana, e muito
menos valorizar aspectos culturais, mas assegurar ganhos econômicos
através das trocas de mercadorias ao longo das cadeias de produção e
mediante o acesso a mercados globais. Sua perspectiva é eminentemente
econômica, moldada por uma concepção ultrapassada de “crescimento
econômico”, proposta ainda no século XVIII por Adam Smith.
O nascimento do Agronegócio
• No início do século XXI a agricultura passou a ser vista apenas com o enfoque das
cadeias produtivas, ou seja, como um conjunto de operações interdependentes que,
realizadas em uma dada sequência, resultam em um produto final a ser
comercializado.
• Segundo Heredia, Palmeira e Leite (2010), a estruturação dessas cadeias produtivas,
pensadas como redes ou sistemas que interligam a produção agrícola, a
transformação agroindustrial e a distribuição dos produtos finais, reforçou a
perspectiva da industrialização da agricultura e dos sistemas agroindustriais, dando
sentido ao termo agronegócio, como proposto por Goldberg (1968).
Agricultura Industrial?
• Ploeg (1992) denomina esse processo de
“desconexões da agricultura”. A agricultura
perde gradativamente a conexão com os
agricultores, com a sociedade, com o
ambiente e com a própria cultura alimentar. É
um processo excludente, que degrada o
ambiente, empobrece o meio rural e não
garante a soberania alimentar dos povos.
Uma questão de Entropia
• Segundo Geogescu-Roegen (1979), a
macroeconomia deveria abandonar a análise
puramente monetária e tomar frente a um
processo que é considerado insustentável
onde a baixa entropia, ou grau de desordem
do ambiente, é que possui valor econômico.
TRIPLA ARTICULAÇÃO
Sociedade

Produção
Agrícola

Natureza População
Agrícola
CRISE AGRÍCOLA ATUAL

Sociedade

Produção
Agrícola

Natureza População
agrícola
Uma Crise Agrícola
• Primeira crise agrícola (1880): importação em massa de
commodities de baixo preço. Resposta: mudança para
produtos de alto valor;
• Segunda crise agrícola (1930): declínio do poder de
compra. Resposta: desenvolvimento de políticas agrícolas
• Terceira crise agrícola (a partir de 2000): importação
massiva de produtos de alto valor + eliminação de
políticas agrícolas + declínio do poder de compra +
aumento rápido dos custos
Impérios de Alimentos: algumas
características
• Redes de monopólio que cada vez mais ligam produção,
processamento, distribuição e consumo de alimentos
• Conquista e expansão
• Centralização do planejamento e do controle
• Apropriação do valor adicionado
• Ligação de espaços de pobreza a espaços de riqueza
• Potente, mas frágil
• “slow-down” institucionalizado
• Geografia inteligente
• Desnaturalização/artificialização
• Exclusão em massa
LACERDA. 2013
Agricultura e Modernidade combinam?
• A agricultura é muito mais do que a sua parte inserida nas cadeias produtivas,
pois abrange a alimentação, a gestão do ambiente e a cultura humana. Para
muito além do objetivo de gerar lucro, a agricultura deveria ser vista como a
atividade humana de gerenciar o ambiente e de obter alimentos e outros
produtos.
• As múltiplas formas de gestão do ambiente, especialmente das plantas e dos
animais, dos quais o homem extrai seu alimento, certamente estão ligadas a
bem mais do que aos aspectos econômicos, pois, estabelecidas há muito tempo,
estão intimamente associadas às culturas locais, à religiosidade, aos costumes e
aos hábitos alimentares.
Os Impérios Alimentares atacam!
• Em geral os mercados cobram altos preços pelos insumos industriais
e pagam o mínimo possível pelos produtos dos agricultores,
buscando aumentar seus próprios ganhos. Por outro lado, os
produtos agrícolas, após processados e distribuídos por verdadeiros
cartéis, os “impérios alimentares”, como apresentados por Ploeg
(2008), chegam aos consumidores a preços muitas vezes superiores
aos que eles poderiam pagar, e com qualidade discutível, o que
impacta sensivelmente a segurança alimentar e nutricional.
Erosão genética
• Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO,
2005), das mais de 300.000 espécies de plantas que poderíamos domesticar, somente 150
a 200 são aproveitadas de alguma forma, e 60% das calorias e proteínas obtidas delas na
alimentação básica da população do planeta provêm de apenas três espécies vegetais, o
trigo, o arroz e o milho. Hoje, 75% da alimentação humana dependem de doze espécies
de plantas e de cinco espécies de animais. Estudos indicam que, desde 1900, se acumulou
uma perda de 75% da diversidade genética das plantas usadas na agricultura e que 30%
das raças de animais domesticados se encontram em risco de extinção (Dal Sóglio, 2016).
AGROBIODIVERSIDADE
Biodiversidade utilizada na agricultura: Todos os organismos
que habitam um agroecossistema.
Maior diversidade em geral leva a maior estabilidade de
sistemas...
O conceito inclui:
Diversidade genética (dentro de espécies)
Diversidade de espécies (na comunidade)
Diversidade de sistemas de cultivo
Diversidade cultural
Princípios das interações em uma comunidade
(Odum, 1983)

1. Em condições perturbadas de um ecossistema,


predominam interações negativas entre diferentes
populações;
2. Em ambientes estáveis, as interações entre
populações tendem a evoluir para interações
positivas;
3. Entre interações recentes, existe uma maior
probabilidade de que estas sejam negativas,
prevalecendo as interações positivas nas associações
mais antigas
As “Soluções inovadoras”
• Para compensar o desequilíbrio ecológico nos sistemas
simplificados, passou-se a recomendar, de forma recorrente,
práticas que visam a substituir as funções ecológicas prejudicadas. É
por isso que a aplicação de agrotóxicos e de fertilizantes químicos e
o preparo do solo através da correção da sua estrutura, são práticas
tão corriqueiras no modelo de modernização da agricultura. Tais
práticas acentuam o desequilíbrio nos agroecossistemas,
prejudicando ainda mais as funções ecológicas, numa espécie de
círculo vicioso.
Degradação Ambiental
• Como consequência, multiplicam-se danos ambientais,
tais como a contaminação das águas por fertilizantes e
agrotóxicos, a erosão dos solos por falta de cobertura
vegetal e de estrutura e a drástica redução da
biodiversidade, que afetam o planeta como um todo,
com reflexos inclusive nas alterações do clima. Como
consequência, agricultores e consumidores também são
agredidos pelos reflexos dos problemas ambientais e das
contaminações sobre a saúde humana.
Valor da Biodiversidade?
• Por tudo isso, o valor da biodiversidade é
incalculável. Apenas quanto ao seu valor
econômico, por exemplo, os serviços
ambientais que ela proporciona – enquanto
base da indústria de biotecnologia e de
atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e
florestais – são estimados em 33 trilhões de
dólares anuais, representando quase o dobro
do PIB mundial.
Perda da Biodiversidade
• Mas esta exuberante diversidade biológica global
vem sendo dramaticamente afetada pelas
atividades humanas ao longo do tempo – e hoje a
perda de biodiversidade é um dos problemas mais
contundentes a acometerem a Terra. A crescente
taxa de extinção de espécies – que estima-se estar
entre mil e 10 mil vezes maior que a natural –
demonstra que o mundo natural não pode mais
suportar tamanha pressão.
Diminuição da produtividade Primária dos
ecossistemas
• Os diferentes tipos de comunidades ou
ecossistemas variam grandemente em sua
produtividade primária líquida.
Produção primária líquida anual (tonelada de substância seca/hectare) no planeta Terra
Fonte: SCHULTZ(1995)
Erosão 
• Práticas agrícolas incorretas e desmatamento
indiscriminado podem ser apontados como os
principais responsáveis pelos processos
erosivos.
Poluição de solos e água
• No sistema de manejo convencional, o solo é
considerado somente como suporte físico para as plantas (PRIMAVESI,
2008)
• A calagem corretiva, provoca a rápida decomposição da matéria orgânica
do solo.
• A aração profunda, que areja o favorecendo o
desenvolvimento dos organismos que decompõem a matéria orgânica.
Após quatro horas da aração, uma
grossa nuvem de gás carbônico paira sobre o solo. Em seguida, ela é
dissipada na atmosfera, aumentando o efeito estufa (PRIMAVESI, 2008)
Adubação nitrogenada
• Favorece a decomposição acelerada da matéria orgânica.
Isso acontece porque a relação entre os teores de carbono
e nitrogênio (C/N) nos restos vegetais do solo é reduzida –
passando de 45/1 para 15/1, por exemplo –, possibilitando
que os microrganismos consumam inclusive a porção da
matéria orgânica com alta relação C/N e, portanto, com
maior resistência à decomposição biológica (como as
ligninas, muito presentes em palhadas de gramíneas).
Resíduos de nitrato na água
Principais causas de contaminação da água:
–Fezes de animais e humanos
– Lixo e Esgotos contaminando poços e sistemas
de água para consumo humano
–Uso de Fertilizantes e processos utilizados na
agricultura
– Decomposição de plantas
–Enchentes
Poluição de solos e água
• Com a redução dos teores de matéria orgânica
do solo, a maior parte da vida microbiana não
sobrevive, pois fica sem alimento. Sem a ação da
matéria orgânica e dos microrganismos, o solo
desagrega, compacta e endurece.
Assim, sua capacidade de produção fica cada vez
mais dependente do pacote químico da agricultura
convencional.
AGROTÓXICOS
• Como em geral as adubações químicas
fornecem apenas cinco dos 45 nutrientes de
que as plantas necessitam, elas ficam
desnutridas, tornando-se suscetíveis ao ataque
de insetos e microrganismos, especialmente
fungos, mas também bactérias e vírus.
AGROTÓXICOS
• O ataque desses organismos sobre as plantas cultivadas é
uma estratégia da natureza para eliminar as plantas que
sofrem deficiências nutricionais e que por isso não
conseguem elaborar suas substâncias essenciais (como as
proteínas, formadas a partir dos aminoácidos livres).
• Assim, os agrotóxicos são utilizados para evitar que as
chamadas pragas e doenças eliminem as plantas que
apresentam deficiências nutricionais causadas justamente
pelo sistema de manejo da agricultura convencional.
Agrotóxicos 
• O uso de agrotóxicos aumentou 21,2% em 11
anos no Brasil (IBGE, 2017)
E as provas? Fake news?

• Lucros altamente
perigosos
Exaustão dos mananciais de água doce
Exaustão dos mananciais de água doce

• Brasil concentra 20% da água do mundo, mas


menos da metade da população tem acesso a
saneamento
• No Brasil gasta-se 72% da água na agricultura
• Exaustão dos
mananciais de
água doce
Mecanização
Grandes quantidades de insumos externos

• 35% do custo de
produção são adubos
E o eucalipto transgênico?
Considerações finais
• Entrementes, não só o planeta Terra sofre com
o prejuízo ambiental que tal modelo de
agricultura causa em praticamente todos os
ecossistemas, como sofre toda a sociedade
com a ampliação da insegurança alimentar,
com os malefícios à saúde de todas as
espécies planetárias e com o êxodo rural a que
estão sujeitas as comunidades agrícolas.
Bibliografia
• Conservation Biology, Vol. 6, No. 1. (Mar., 1992), pp. 37-46.
• Desenvolvimento, agricultura e sustentabilidade / organizadores Fábio Dal Soglio e Rumi
Regina Kubo ; coordenado pela SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016.
• FURTADO, Celso. O Mito do Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1996
GEORGESCU-ROEGEN, N. La décroissance: entropie – écologie – économie. Paris, Ed. Sang de
la terre, 1979. 232 p
PLOEG, Jan Douwe
Camponeses e impérios alimentares: lutas por autonomia e sustentabilidade na era da
globalização. Porto Alegre: Ed. UFRGS. 2008.
Cleide Fátima Moretto Jussara Giacchini DO SURGIMENTO DA TEORIA DO
DESENVOLVIMENTO À CONCEPÇÃO DE SUSTENTABILIDADE: VELHOS E NOVOS ENFOQUES
RUMO AO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
• LACERDA Gestão sustentável dos recursos naturais: uma abordagem
participativa. (2013). Brasil: SciELO - EDUEPB.
• Em construção...

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