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aos direitos inalienáveis da pessoa humana.

No final do século XVIII, os


acontecimentos históricos na França gerariam novas expectativas, que
multiplicar-se-iam a partir do continente europeu para todo o mundo,
favorecendo o surgimento de novos ideais na sociedade, e habilitando os
homens para uma fase nova em suas relações com o aparelho do Estado.

O marco francês, segundo Marcineiro (2009, p. 38), possuiu registros


consideráveis na formação das polícias mundiais:
A preservação da ordem pública praticada hoje (...) teve influência da
referência francesa, cuja origem remonta a necessidade dos comandantes
militares de guardar a cidade da agressão dos próprios militares.
As polícias do mundo, portanto, se filiam a dois grandes grupos que são: do
tipo latino e do tipo anglo-saxônico.
As do grupo latino são mais observadas nos países unitários e suas unidades
uniformizadas são conhecidas como Gendarmerias, Polícias Nacionais,
16
Guardas Nacionais e Carabineiros.
O modelo francês é considerado o principal modelo mundial, pois (...)
desenvolveu-se e organizou-se de forma integrada ao exército, constituindo
unidades de elite, as quais, a partir da Revolução Francesa e no Primeiro
Império, já no século XIX, foram introduzidas nos países conquistados por
Napoleão Bonaparte durante suas campanhas.

As influências do modelo francês para a formação da polícia brasileira,


conforme citações acima foram marcantes, principalmente quanto ao caráter militar e
ligado à segurança nacional.

Em contraponto, o mesmo autor se refere que a origem da polícia moderna no


cenário mundial ocorreu em 1829, com a criação da Real Polícia Metropolitana de
Londres pelo Primeiro Ministro inglês, Sir Robert Peel, para a garantia da paz e
tranquilidade à população de Londres (MARCINEIRO, 2009).

Desenha-se por fim a necessidade de institucionalização e estruturação das


organizações policiais que estivessem realmente voltadas para a coletividade, agindo
de forma legal e pautada com conduta ética e vinculada aos anseios da sociedade.

1.2 OS PRINCÍPIOS DE ROBERT PEEL: O MARCO HISTÓRICO DA


TRANSFORMAÇÃO DAS FORÇAS POLICIAIS NO MUNDO

#####

Em contraponto ao cenário vivenciado na França, destaca-se uma importante


iniciativa no século XIX na Inglaterra, que em 1829, surgiu por intermédio de Sir
Robert Peel, ministro do interior (Home Secretary). Foi levada a experiência da
Polícia Metropolitana de Londres, a Scotland Yard, para o conhecimento de todo o

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cenário internacional, dotando-a de características novas e muito mais aproximadas
aos anseios da sociedade organizada, a partir de estrutura militar, com hierarquia e
disciplina rígidas, porém voltada sempre para a proteção do cidadão e a prevenção
ao crime. (MARCINEIRO, 2009).

Figura 1- Robert Peel

17

Fonte: Portal da educação do Brasil Escola1.

Para Monet (2006, p. 52 e 53):

(...) os ingleses parecem ter vários corpos de vantagem sobre o resto da


Europa. (...) uma concepção preventiva, e não mais apenas reativa, do papel
da polícia na sociedade se desenvolve nos meios judiciários e policiais (...).
(grifo nosso)

Considerado hoje como fundador do moderno conceito de polícia e precursor


do policiamento comunitário, Robert Peel estabeleceu os princípios que iriam nortear
a nova políciae proclamariam a prevenção da criminalidade em oposição à repressão
pela força militar e severidade de sanções.

O projeto de um policiamento feito mediante o uso de um uniforme


(sobrecasaca e cartola) que simbolizasse a ideia de um serviço público como tantos
outros, a partir de servidores com fortes vínculos com a comunidade e realizado – por
incrível que isso possa parecer – sem o uso de armas, dotou as polícias britânicas de
uma marca inconfundível e abriu espaços para uma nova visão de policiamento
(ROLIM, 2009).

A ideia central é focada na prevenção ao crime e a profissionalização policial.


O emprego da força passa a ser precedido pela argumentação.O diálogo e a

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aprovação do público ao serviço policial dependiam exatamente da conduta do policial
como ser pertencente à própria sociedade.

A reforma da Polícia Inglesa de 1829, implantada e originada por Peel, foi


pautada conforme seus respectivos princípios no quadro abaixo:

Quadro 1 - Princípios de Robert Peel

PRINCÍPIOS DE ROBERT PEEL

1º Princípio: A missão básica pela qual a polícia existe é prevenir o crime e a desordem.
18
VAI CAIR 2º Princípio: Necessidade de respeito mútuo – a habilidade de executar os seus deveres é
diretamente dependente da aprovação pública quanto à sua existência, ações, comportamento
e habilidade policial em assegurar a manutenção do respeito público.

3º Princípio: Cooperação do público com a polícia – a polícia deve assegurar a cooperação do


público quanto à observância voluntária da lei e assegurar e manter o respeito público.

4º Princípio: Diminuição do uso da força – o grau de cooperação do público, que possa ser
assegurado, diminui a necessidade de uso da Força Pública.

5º Princípio: Imparcialidade – a polícia procura e preserva a cooperação do público. Não por


cativar a opinião pública, mas, demonstrando, constantemente, um serviço imparcial à lei, em
absoluta independência, sem se ater à justiça ou injustiça de leis individuais, por estar pronta a
oferecer um serviço individual de amizade a todos os membros da sociedade, sem distinção de
raça ou classe social.

6º Princípio: Esgotamento de todas as possibilidades – a polícia deveria usar a força física no


limite necessário para assegurar a observância da lei ou para restaurar a ordem, somente
quando o exercício da persuasão, conselho e aviso forem considerados insuficientes.

7º Princípio: Interação com a sociedade – a polícia deveria manter, com constância, um


relacionamento com o público que valorizasse a tradição – a polícia é público e o público é a
polícia. Porém, a polícia é o único membro do público pago para dar atenção integral às
obrigações que incubem a cada cidadão no interesse do bem-estar da comunidade.

8º Princípio: Limite da ação policial – a polícia deveria sempre direcionar suas ações no sentido
estrito de suas obrigações e nunca parecer usurpar os poderes do judiciário de vingar indivíduos
ou do Estado.

9º Princípio: Ausência de crime – o teste da eficiência policial é a ausência do crime e da


desordem, e não da evidência visível das ações policiais ao lidar com elas.

Fonte: Adaptado de Bandaruk (2007) apud (COSTA e FERNANDES, 2012, p. 138 a 140).

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Os princípios que nortearam as mudanças da polícia inglesa expressam
claramente preocupação institucional voltada à organização policial e pautada aos
anseios da sociedade civil organizada. O alinhamento a esses anseios nem sempre
esteve presente nas ações policiais, tanto antes deste importante marco, quanto
posteriormente a essa medida e nas mais diversas localidades.

Insta ressaltar que o processo de aprendizado se dá por intermédio da correta


leitura nos acontecimentos históricos mirando o horizonte futuro. A partir das
experiências pretéritas de repressão e ausências organizacionais, parte-se para
novas formas de condução das atividades policiais e a edição de suas culturas 19

institucionais.

1.3 AS TRANSFORMAÇÕES POLICIAIS NOS ESTADOS UNIDOS

O estudo dessas transformações, a partir dos Estados Unidos,possui o objetivo


de melhor compreensão da dinâmica policial e que pode ser comparada ao modelo
predominantemente implantado até nos dias atuais no Brasil.

As transformações ocorridas nas forças policiais norte americanas tiveram por


base três distintos períodos (eras)e ocasionaram impactos em vários países do
mundo:

Figura 2 - Eras de transformações da polícia nos EUA

ERA POLITICA ERA DA REFORMA ERA DA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS


1830 - 1930 1930 - 1980 COM A COMUNIDADE
1980 - 2000
Fonte: Adaptado de SENASP (2009).

AEra política(1830 a 1930)foi marcada pela forte presença de corrupção


policial, emprego de abusos de poder e violência. As forças policiais foram
manipuladas pelas autoridades políticas para a prevalência de interesses de
pequenos grupos (SENASP, 2009).

A polícia era uma instituição responsável pelo bem-estar social para


determinada sociedade, o grande objetivo era atender aos cidadãos e aos políticos

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Em outro exemplo, no dia 12 de março de 2011, os veículos de comunicações
divulgaram um flagrante de homicídio praticado por policias de serviço que se
encontravam no interior de um cemitério numa cidade de São Paulo.

A matéria pode ser assim evidenciada:

Uma mulher presenciou um assassinato praticado por um PM fardado dentro


de um cemitério em Ferraz de Vasconcelos, na grande São Paulo. A mulher,
que não se intimidou, ligou imediatamente para o 190 e denunciou o caso na
frente do assassino. Felipe Damel, cinco anos de polícia. Ailton Vital, 18 de
profissão. Dois policiais conhecidos na corporação pela boa conduta e pelas
prisões em flagrante, até então. Na tarde de 12 de março, um sábado, os dois
contam que faziam ronda na Zona Leste de São Paulo, quando interceptaram 27
um furgão que acabava de ser roubado. Perseguiram o veículo em alta
velocidade e, dentro de um condomínio residencial, trocaram tiros com o
motorista. Era Dileone Lacerda de Aquino, de 27 anos, um homem com
extensa ficha criminal. Ele morreu a caminho do pronto socorro5.

Diante de todo esse cenário, abrem-se espaços contundentes para


questionamentos muito relevantes acerca da temática de “violência policial”,
sobretudo dentro da sensível questão relacionada ao histórico processo de formação
policial em falta de sintonia com as dinâmicas de funcionamento da sociedade civil e
os seus anseios.

Para Silva (2003, p. 305):

A Constituição de 1988 representou, do ponto de vista formal, uma ruptura


com a ordem tradicional, ruptura essa que, no plano concreto, não se operou
como imaginavam os constituintes. De qualquer forma, a constatação de que
a ideologia da Constituição conflitou radicalmente com a ideologia policial
então dominante é um indicador do que deve mudar na ideologia da polícia e
em que direção.

Cabe então às próprias instituições policiais modelarem-se à luz dos novos


preceitos democráticos e construírem formas internas de se adequarem de acordo
com os anseios sociais. A formação policial tanto para quem está iniciando o serviço
dentro da PMES quanto para quem já trabalha há anos é um importante eixo a ser
seguido pelas forças policiais.

1.5 OS PROBLEMAS DA SOCIEDADE ATUAL

####

A abordagem ao tema remonta épocas bastante afastadas da atualidade em


que os conflitos humanos sempre estiveram presentes e nos mais diversos meios

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sociais do mundo. A violência, alvo maior de nossa preocupação neste contexto, é
uma temática que ganha uma análise cada vez elevada e em todas as classes sociais,
levando-se em consideração dois tipos distintos: a violência objetiva e a estrutural.
A objetiva é pessoal e visível. É o que sofre, objetivamente, esta violência que se pode
reclamar e registrar o fato; já a estrutural o sofrimento da violência permanece nas
“entrelinhas” (TRANSFERETTI, 2010).

Essa premissa também abre uma discussão dos mais diversos tipos de
situações que possam estar levando às práticas da violência, amplamente divulgada
pelos meios de comunicações à sociedade de um modo geral. 28

Quando se trata da violência dita estrutural é definida como encoberta, pois se


trata de um tipo de violência sistêmica, não é resultado de um ato violento de um
indivíduo concreto sobre outro, mas é fruto de um sistema social que propicia
oportunidades, não de maneira igual a seus membros. Não temos conhecimento de
sistema que não apresentou desigualdade, o que vai diferenciar é o grau da
desigualdade. Implica as oportunidades de acesso aos benefícios do
desenvolvimento, a distribuição desigual de recursos e o poder de influência nas
instâncias que decidem a distribuição dos mesmos. No aspecto econômico, a
violência estrutural ainda é maior (TRANSFERETTI, 2010).

Nesse cenário de desigualdade social, verificam-se problemas sérios e atuais


que se encontram muito presentes na sociedade, conforme demonstrado abaixo:

(...) “a violência sempre foi uma parte importante da vida humana”. Ele
estabelece a ideia de que a violência tem uma história, tanto quanto tem uma
geografia e uma sociologia, que assume formas diferentes em períodos
diferentes, peculiar a uma época ou a um determinado povo (MCNEIL, apud
SENASP, 2007, p.22).

Neste aspecto também se concentram graves problemas como as delicadas


questões da precariedade da educação e saúde pública, a má distribuição de rendas,
a indigência social, dentre vários outros fatores presentes na atualidade.

Dos mais diversos problemas que a atual sociedade vivencia, podemos


destacar a questão do tráfico e uso ilícito de drogas, altas taxas de homicídios,
assaltos, lesões corporais dentre outras tipificações delituosas disseminadas dentro
dos bairros e cidades.

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Para ilustrar este preocupante cenário, o quadro abaixo apresenta
didaticamente alguns dados no contexto brasileiro, conforme o “Anuário Brasileiro de
Segurança Pública” (2019):

Quadro 5 - Números da Violência no Brasil – 2019


(Continua)

DISCRIMINAÇÃO QUANTITATIVOS

Mortes violentas intencionais (2017) 63.895

29
Lesões corporais seguidas de morte (2017) 955

Latrocínios (2017) 2.460

Feminicídios (2017) 1,133

Registros de violência doméstica (2017) 221.238

Estupros (2017) 61.032

Desaparecimentos (2017) 82.684

Pessoas encarceradas no Brasil em 2016 726.551

Gastos com a segurança pública no Brasil


84,7 bilhões de reais
em 2017

% do PIB decorrente de despesas com


1,3% do PIB
segurança pública no Brasil

Fonte: Adaptado do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2019, p. 6 e 7).

Vários meios de comunicações vêm divulgando diariamente notícias


emblemáticas acerca do comportamento social e suas consequências para a
sociedade, como por exemplo, a título de uma pequena amostragem, pode-se verificar
abaixo:

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Figura 5 – Jovens acusados de matar por R$ 10.

30

Fonte: Adaptado de “Jornal A Tribuna” de 21/05/2011.

Diante dos exemplos e muitos outros, emerge então um aspecto muito


importante sobre a discussão do nascedouro de toda essa violência, externada por
diversos meios, sobretudo aquela em que podemos evidenciar “a olhos nus” no que
tange ao produto final do relacionamento e conflito em sociedade.

Nesse contexto, Rolim (2009, p.67) nos conta uma estória interessante da
qual se pode observar abaixo:

Vamos imaginar que você esteja passeando ao longo de um rio e que,


subitamente, perceba que uma criança está sendo arrastada pela correnteza.
Se você for uma pessoa minimamente solidária, por certo se jogará na água
para tentar resgatar a criança. Suponhamos que você tenha sorte e que seu
gesto seja bem-sucedido. Assim, como bom nadador, você consegue trazer
a criança sã e salva em seus braços e tem razões de sobra para comemorar
seu feito. Vamos imaginar agora que toda vez que você passe por aquele
lugar haja uma criança sendo levada pela correnteza, fazendo com que você
seja, sempre, obrigado a repetir a mesma façanha. Certamente, as chances
de salvar todas as crianças seriam menores e, ao mesmo tempo, o risco de
você ser tragado pelas águas aumentaria. Mas, se isso ocorresse, pareceria
evidente que algo estava acontecendo com essas crianças em um ponto
anterior da correnteza. Portanto, tão logo a repetição das ocorrências fosse
comprovada, pareceria-lhe não apenas óbvio, mas urgente, descobrir o que
estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. Então,
você provavelmente iria percorrer as margens do rio em direção a sua
nascente para tentar descobrir a causa de tão chocante e misteriosa
sucessão de tragédias. Quando pensamos no papel desempenhado pelas

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polícias no mundo moderno, o maior desafio é o de superar um modelo pelo
qual os policiais se obrigam a “nadar” todo o tempo, normalmente com
resultados muito limitados porque, quando são avisados, isso é sinal de que
“as crianças já estão afogadas”. As propostas em favor do policiamento
comunitário (PC) e do policiamento orientado para a solução de problemas
(Posp) partem do pressuposto de que é preciso procurar o que está
acontecendo antes daquele ponto da “correnteza”. (Grifo nosso)

O texto acima remonta reflexões muito importantes no cenário da segurança


pública: Quais são as causas de tanta violência? A polícia sozinha conseguirá
recuperar a paz na sociedade? Na medida em que os policiais, no árduo e espinhoso
exercício diário de suas atividades, se deparam com as mais diversas situações, ao
final, percebe-se que o produto obtido é muito limitado perante as enormes demandas 31
para atendimento, muitas vidas não conseguem ser salvas e a vida do próprio policial
é colocada em risco intensamente, reportando-se ao texto de Rolim, quando o mesmo
retrata metaforicamente o salvamento das crianças.

Extrai-se, portanto, o entendimento de que a atuação da polícia nesse cenário


merece especial atenção no que tange a melhor abordagem a ser empregada diante
de cada situação, uma vez que se verifica que a nascente desses problemas possui
raízes sociais complexas e com diversos tipos de encaminhamentos.

1.6 A COMPLEXIDADE DAS COMUNIDADES E O BAIRRO COMO UNIDADE URBANA

####

A definição do termo “comunidades” implica num conjunto de situações que


merecem atenção para o entendimento da diversidade e da dinâmica em torno dos
relacionamentos humanos dentro dos espaços geográficos.

Segundo a SENASP (2008, p.83):

Para não se correr o risco de definições ou conceitos unilaterais, vamos


analisar alguns traços que caracterizam uma comunidade, entre eles:
- Forte solidariedade social;
- Aproximação dos homens e mulheres em frequentes relacionamentos
interpessoais;
- A discussão e soluções de problemas comuns; e,
- O sentido de organização possibilitando uma vida social durável.

No contexto da segurança pública, ressaltam Trojanowicz e Bucqueroux (1994,


p. 91):

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(...) a própria natureza da comunidade constitui um dos primeiros problemas
enfrentados por alguém que tenta iniciar esforços para lidar com o crime, a
desordem e o medo. Uma comunidade agrícola coesa de 5000 habitantes,
uma cidade industrial, uma capital, uma cidade universitária, uma metrópole
– todas diferem radicalmente em termos de taxas de criminalidade, grau de
homogeneidade ou heterogeneidade cultural, recursos financeiros e
institucionais, condições políticas e medo do crime.

Assim sendo, as “comunidades” podem ser definidas, segundo Pereira (2008,


p. 145), como:

Agrupamento de pessoas que vivem em uma determinada área geográfica


ou território (rural ou urbano), cujos membros têm alguma atividade,
interesse, objetivo ou função em comum, com ou sem consciência de
pertencimento, e de forma plural, com múltiplas concepções ideológicas, 32
culturais, religiosas, éticas e econômicas.

Mais além, segundo Bauman (2003, p. 7):

(...) a comunidade é um lugar “cálido” [com alta temperatura], um lugar


confortável e aconchegante. É como um teto sob o qual nos abrigamos da
chuva pesada, como uma lareira diante da qual esquentamos as mãos num
dia gelado. Lá fora, na rua, toda sorte de perigo está à espreita; temos que
estar alertas quando saímos, prestar atenção com quem falamos e quem nos
fala, estar de prontidão a cada minuto.

O texto acima mencionado por Bauman pode nos fazer refletir que a
comunidade infere segurança a seus integrantes e ao não pertencê-la alcançamos as
incertezas. Mas, ainda no aconchego da comunidade ou além dela o “perigo está à
espreita”.

Em meio a esse contexto, a compreensão da dinâmica de “comunidade” é


essencial para a prevenção e o controle do crime e da desordem, assim como o medo
do crime, uma vez que se fazem necessários o conhecimento do cotidiano das
pessoas, cada espaço ocupado, os serviços desempenhados e os fatores
propiciadores de situações que poderão desencadear os crimes dentro do espaço
geográfico (TROJANOWICZ e BOUCQUEROUX, 1994).

Aprofundando o cenário das comunidades, o bairro apresenta-se enquanto


figura de relevância central para abordagens do poder público, mais especificamente
para as ações voltadas à segurança. Assim, segundo a SENASP (2007, p. 367 e 368)
pode-se apresentar abaixo considerações muito esclarecedoras carca dessas
localidades:

Como principal núcleo urbano, o bairro talvez seja o grande centro de


confluência dos interesses comuns da comunidade, em uma cidade. Segundo
Wilheim (1982), o bairro constitui hoje a unidade urbana mais legítima da

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espacialidade de sua população (...). Corresponde à dimensão de território
ideal para a reivindicação coletiva. Em território maior, na região
administrativa, surgem conflitos de prioridade entre um bairro e outro; em
escala menor, na rua domiciliar, as reivindicações esgotam-se rapidamente
(...). É na escala do bairro que se luta por obras civis, por segurança, por
escolas e centros de saúde, transporte e mais lazer. Esta especificidade do
bairro torna-o uma unidade politicamente importante (...). Do ponto de vista
físico, os cenários dos bairros variam: os mais antigos possuem estruturas de
pequenas cidades, com suas ruas levando naturalmente a um pólo
centralizador, catalisando as atividades comerciais e atraindo os pontos de
embarque; frequentemente a igreja do bairro e sua praça constituem pontos
de encontro preservados com o passar do tempo. Daí a importância em se
entender que o bairro é o local físico onde o cidadão mora e se identifica com
sua coletividade seja ela de negócios, social, etc., ou seja, é no bairro que o
indivíduo adquire identidade de valores coletivos e de cidadania.
33
No cenário de bairros, vale também destacar as “favelas” enquanto espaços
que merecem um olhar especial em se tratando de mais bem direcionar políticas
públicas visando à melhoria de qualidade de vida. Sem avançar nos maiores detalhes
que circundam suas dinâmicas, seu conceito pode ser apresentado conforme abaixo:

(...) todo o conjunto de unidades domiciliares construídas em madeira, zinco,


lata, papelão ou alvenaria, em geral distribuídas desorganizadamente em
terrenos cuja propriedade individual do lote não é legalizada para aqueles que
os ocupam. Taschner (2001, p. 13) apud Filho (2015, p.342)6.

Segundo (GUIMARÃES, 1953 apud FILHO, 2015, p. 345), para que as favelas
sejam assim classificadas, ao menos devem possuir pelo menos duas das
características abaixo:

Proporções mínimas – agrupamentos ou residenciais formados com número


geralmente superior a cinquenta;
Tipo de habitação – predominância de casebres ou barracões de aspecto
rústico, construídos principalmente com folha de flandres, chapas zincadas
ou materiais similares;
Condição jurídica da ocupação – construções sem licenciamento e sem
fiscalização, em terrenos de terceiros ou de propriedade desconhecida;
Melhoramentos públicos – ausência, no todo ou em parte, de rede sanitária,
luz, telefone e água encanada;
Urbanização – área não urbanizada, com falta de arruamento, numeração ou
emplacamento.

No contexto das periferias, também emergem os denominados “cortiços” que


se confundem com as favelas. Nesses espaços, podem-se observar características
um tanto quanto difíceis para a convivência social:

Vivendo na maioria das vezes em imóveis sem as mínimas condições de


habitação, com grandes rachaduras, forro podre, encanamentos entupidos,
em cômodos exíguos, úmidos, muitos sem janelas, cheios de ratos, à mercê
de proprietários inescrupulosos, esta significativa parcela da população [...]
jamais foi assistida pelo poder público [...]. A incidência de tuberculose, de
anemia, os problemas psicológicos estão presentes nesses lugares
insalubres e promíscuos [...]. Além disso, como os imóveis nunca foram

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reformados, encontram-se deteriorados. (Folha de São Paulo, 24/11/1980
apud KOWARICK, 2013, p. 51)7.

Esses cenários lançam luz para a forma heterogênea e a diversidade inclusas


num mesmo contexto de convivência social, onde pessoas que detêm altos poderes
aquisitivos convivem com aqueles que nada têm, ou possuem aquém do que
necessitariam para uma vida digna.

A realidade acima imposta infere a reflexões necessárias no sentido de que as


forças policiais devem compreender essas diferentes realidades de forma a mais bem
abordá-las com vistas à promoção da não revitimização8. Os públicos já se 34
encontram seriamente impactados, e o poder público possui o dever, no mínimo, de
não piorar esse horizonte.

Na evolução do raciocínio, verificam-se a existência de dois termos de especial


atenção: a comunidade geográfica e a de interesse. Esses conceitos se confundiam
no passado quando ambas as comunidades se misturavam para abranger a mesma
população. Esse fato é relevante para o uso de “comunidade” no policiamento
comunitário porque o crime, a desordem e o medo do crime podem criar uma
comunidade de interesse dentro da comunidade geográfica. Incentivar e enfatizar esta
comunidade de interesse dentro de uma área geográfica pode contribuir para que os
residentes trabalhem juntamente com o policial comunitário para criar um sentimento
positivo na comunidade (TROJANOWICZ e BOUCQUEROUX, 1994). (Grifo nosso)

Em síntese, se faz necessária a compreensão por parte do policial de que há


uma diversidade muito acentuada dentro dos bairros, com presença marcante de
interesses diversos e pessoas com características heterogêneas. A abordagem mais
adequada para cada problema apresentado ao policial exigirá por parte do mesmo a
criatividade, sensibilidade e habilidade para conduzir os conflitos sociais para
caminhos que possam desaguar a resolução pacífica dos problemas.

1.7 AS AGÊNCIAS DE CONTROLE SOCIAL: O DELINEAMENTO DO CONVÍVIO EM


SOCIEDADE.

Como foi visto anteriormente em outros tópicos, a sociedade de uma forma


geral encontra-se em ebulição, principalmente sob o prisma da latente criminalidade

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e violência disseminadas nos meios sociais.

Neste sentido, verifica-se que o controle da sociedade ganha também


importante aspecto como forma de abordagem mais adequada para as soluções dos
problemas decorrentes do crime.

Em atenção a seu conceito, o controle social subentende-se como sendo:

Um conjunto de sanções positivas e negativas, específicas durante o


processo de socialização e seus mecanismos, que agem desde cedo para
incutir na personalidade valores, normas e modelos normativos, conformando
a capacidade individual de estabelecer juízos morais. Nesse mister avulta, 35
em primeiro lugar, a ação de instituições como a família e outras formadas
por laços de parentesco e afetividade. Depois, as organizações formais
(escola, igreja, etc.), por intermédio de seus agentes, profissionais
especializados na criação, aplicação e transmissão de padrões sociais
(SCURO NETO, 2004, p.199-200).

Neste sentido, esse conceito abre espaço para o desenvolvimento de uma


questão de relevante importância dentro do cenário social: Quem controla ou
minimiza os mais variados conflitos dentro da sociedade?

Vários são os atores responsáveis pelo controle da sociedade civil organizada.


Através de cada órgão pertencente à sociedade, há uma série de atribuições
específicas que limitam e regulam condutas e comportamentos nos meios urbanos.

Nessa perspectiva, como exemplo, cita-se o caso da ‘vigilância sanitária’ que


atua especificamente na fiscalização da prestação de serviços por parte de bares,
restaurantes e outros órgãos congêneres, tendo o devido poder de polícia para
proceder à lavratura de autos de infrações ou até mesmo a interdição desses
estabelecimentos. Várias outras agências podem ser citadas como é o exemplo dos
estabelecimentos escolares, igrejas; assim sendo, conforme se verifica abaixo,
evidencia-se a amplitude do controle social e seus respectivos tipos:

Podemos, portanto, distinguir entre os tipos de controle social e as agências


e meios que são os veículos do controle social. Os principais tipos de controle
são [...] o costume e a opinião, a lei, a religião, a moral e a educação
(conhecimento, ciência). O sistema educacional também figura como agência
de controle social, juntamente com o sistema político, igrejas e outros órgãos
religiosos, a família (onde a socialização inicial tem lugar) e muitas outras
organizações especializadas (BOTTOMORE, 1975, p.199).

Como forma de mais bem visualizar as Agências de controle Social, dentre


tantos outros órgãos que podem ser citados, encontra-se a figura abaixo que cita
apenas alguns deles:

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Figura 6 - Diagrama representativo das Agências de Controle Social

Igrejas

Famílias Escolas

Agências de
Polícia Controle Social Polícia
Civil Militar

Ministério
Poder
Público 36
Judicário

Fonte: Adaptado de (BOTTOMORE, 1975, p.199).

Verifica-se também que das agências de controle social que se podem


mencionar, as famílias ocupam uma posição de bastante destaque na sociedade, uma
vez que se presume que é delas que partem os seus integrantes.

Neste diapasão, para Trojanowicz e Bucqueroux (1994, p. 85 e 86):

[...] O controle social é mais eficaz a nível individual. A consciência


individual é a chave, pois é ela que impede que uma pessoa cruze a linha
mesmo quando ninguém está vendo [...]. A família, a próxima unidade mais
importante para o controle social, obviamente é importante para a
formação inicial da consciência e um contínuo reforço dos valores que
encorajam o comportamento dentro dos cânones da lei. Os familiares,
num sentido mais amplo, especialmente quando moram numa proximidade
geográfica, e os vizinhos, são também elementos importantes no apoio das
normas para um comportamento positivo. (Grifos nossos)

A citação acima assevera importante convergência no tocante às famílias


enquanto principais células iniciais de controle social. Ao avançar para a incumbência
das Polícias Militares frente ao sistema de justiça criminal e a desproporcionalidade
do peso que permanece sob suas limitadas atribuições constitucionais, Silva (1990, p.
15 e 16) aponta considerável reflexão:

Diante do caos, as acusações mútuas. A polícia acusa a justiça, o Ministério


Público acusa a polícia. A justiça se defende. Os advogados acusam a
polícia. A polícia acusa todo o sistema. Diante do caos, as reuniões, os
“mutirões” contra a violência, os estudos, os relatórios, as comissões, os
conselhos. Diante do caos, a constatação do imenso atraso e da extrema
dificuldade – de toda ordem – para equacionar e enfrentar o problema
seriamente. Diante da complexidade, a fuga. E mais uma vez a simplificação:
o crime é problema da polícia. E lá se vão os estudos e os relatórios. Volta-
se a estaca zero e aciona-se a polícia.

Pôde-se observar que a Polícia Militar não se encontra sozinha dentro desse

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contexto. Ocorre que, muitas vezes, a grande maioria dos conflitos é destinada à
polícia em função da marcante presença diuturna que a mesma desenvolve e
disponibiliza dentro da sociedade. Porém, no atendimento direto dos conflitos, muitos
dos quais se configuram de naturezas diversas e com intervenções de outros órgãos
para o atendimento devidamente adequado às demandas apresentadas.

Enfim, a arquitetura do pacífico convívio em sociedade depende muito da


atividade integrada de todos os órgãos pertencentes ao poder público, respeitando-se
cada atribuição específica. Constitui-se num enorme desafio para os governos
canalizarem todos os esforços no sentido de garantir o funcionamento adequado 37

dessas instituições e estas também atuando com a mesma preocupação em prol da


sociedade.

CAPÍTULO 2 – POLÍCIA COMUNITÁRIA:


DOUTRINA E REFLEXÕES
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O segundo capítulo tem por objetivo apresentar os principais aspectos doutrinários que
remontam a filosofia de polícia comunitária e suas vertentes de funcionamento.

2.1 POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO: DISTINÇÕES


BÁSICAS

####
A preliminar ideia que se tem a respeito do tema Polícia Comunitária é que ela
é particularizada e pertinente a uma ou outra organização policial que a adota, dentro
de critérios peculiares de mera aproximação com a sociedade sem, contudo, obedecer
a critérios técnicos e científicos que objetivem a melhoria da qualidade de vida da
38
população.

Precisa-se deixar claro que Polícia Comunitária não tem o sentido de


ASSISTÊNCIA POLICIAL, mas sim o de PARTICIPAÇÃO SOCIAL. Nessa condição
entende-se, que todas as forças vivas da comunidade devem assumir um papel
relevante na sua própria segurança e nos serviços ligados ao bem comum. Torna-se
necessária esta ressalva, para evitar a interpretação diversa da realidade, e desta
forma criar uma nova polícia ou uma especialização dentro dos órgãos policiais.

O policiamento comunitário possuiu sua origem a partir de duas experiências


anglo-saxônicas segundo Sherman et al. (1973, pp. xii-xiv) apud Brodeur (2002, p.
60),

(...) as primeiras experiências em policiamento em grupo foram realizadas em


Aberdeen, Escócia, e em Accrington, no condado de Coventry. Essas
experiências continham dois modelos diferentes de policiamento em grupo:
em Aberdeen, grupos de 5 a 10 oficiais de polícia foram colocados em
diferentes partes da cidade de acordo com a quantidade de trabalho
necessária; em Coventry, foi feita uma experiência com a Unidade de Ronda
Policial, isto é, um grupo de homens permanecia numa determinada área e
fornecia informações a um coletor, que era responsável por disseminar essas
informações e maximizar a coordenação, de modo a uma área maior poder
ser coberta com um número menor de homens.

Esses grupos passariam a ser responsáveis exatamente pela interface junto às


comunidades locais. Em extensa análise acerca das atividades preliminares
desenvolvidas pelo TeamPolicingem Aberdeen, Escócia, Almeida [Org.], Guinote
(2013, p. 143) acentua uma importante transição sobre sua origem:

Foi no final da década de 1950 que surgem as primeiras iniciativas de cariz


comunitário. As tensões sociais vividas nas cidades escocesas são mais
uma vez o embrião das experiências britânicas. Foi em Aberdeen (Escócia)
que o Team Policing ganhou forma. Equipas trabalhando por zonas, através
de uma afetação geográfica estável (sempre os mesmos elementos

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policiais a policiarem a mesma área), procurava um reaproximar entre a
população e a Polícia, realimentando o ciclo do modelo integral de
policiamento com informações. Contudo, a fraca motivação e o sentimento
de solidão de patrulhar ruas desertas, culminou no seu abandono em 1963.
Também na década de 1960 é desenvolvida uma outra iniciativa importante,
o Neighborhood Team Policing. Desenvolvida a partir do conceito do Team
Policing britânico, a ideia é exportada para os EUA na década de 60, e vai
sendo desenvolvida ao longo da década seguinte. Sherman, em 1973,
caracterizava-a como apresentando uma afectação geográfica estável,
interacção departamental, promotora de conferências formais dadas pelas
equipas, mobilizadora da participação comunitária no trabalho policial e
congregando em torno de si organismos de apoio social através de um
reencaminhamento sistemático de casos. (Grifos nossos).

O policiamento em grupo, segundo (GOLDSTEIN, 1977) apud (FERREIRA,


39
2017, p.78):

(...) é uma estratégia de policiamento que acontece quando um grupo de


policiais assume a responsabilidade de todos os serviços de polícia em uma
determinada área, ou seja, há a descentralização do comando, com um
policial responsável pelo grupo em uma área pré-determinada, considerado
chefe local da polícia. (Grifos nossos).

As atividades ainda que embrionárias de policiamento comunitário, já


apontavam para uma necessidade fundamental de interação entre os policiais e as
comunidades envolvidas. Neste sentido assim aponta Fernandes (2015, p. 31):

(...) a parceria é essencial na prossecução da garantia da segurança a que


cada cidadão tem direito. Para que tal seja exequível, é necessário
desenvolver relações com a população, no sentido de envolvê-la na
segurança. Desta forma, os recursos do Estado e da comunidade devem ser
articulados para enfrentar os problemas da comunidade. Este modelo
destaca-se ao ser diferente do Modelo Profissional, tido como reativo.

Nesse sentido, segundo Sherman (1973, p.7) apud Brodeur (2002, p. 61), o
policiamento em grupo atende elementos que operacionalizam as atividades, sendo
partes integrantes do que futuramente se constituiria a comunitarização do
policiamento:

a) tarefa geográfica estável; b) interação intragrupo; c) encontros formais do


grupo; d) comunicação entre a polícia e a comunidade; e) encontros formais
da comunidade; f) participação da comunidade no trabalho da polícia; e g)
informes sistemáticos a agências sociais.

A partir das narrativas descritas ditando o nascedouro dessa poderosa reflexão,


a Polícia Comunitária deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a
todos os órgãos de Polícia. A ideia central reside na possibilidade de propiciar uma
aproximação dos profissionais de segurança pública (PSP) junto à comunidade onde
atua e humanizar o próprio profissional, e não apenas focar na disponibilização de um

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número de telefone ou uma instalação física referencial. Para isso faz-se necessário
um amplo trabalho sistemático, planejado e detalhado.

Uma definição do termo “Polícia Comunitária” possui ainda caráter incipiente e


difícil de estabelecer, conforme apontam Bayley e Skholnick (2002, p. 19):

(...) Embora muito se fale sobre policiamento comunitário, a realidade é que


não se tem nem ao menos consenso acerca de seu significado. Os autores
propõem então que apenas se possa referir a policiamento comunitário
quando estejam presentes as seguintes características:
(i) organização da prevenção do crime tendo como base a comunidade;
(ii) reorientação das atividades de patrulhamento para enfatizar os serviços
não-emergenciais; 40
(iii) aumento da responsabilização da polícia;
(iv) descentralização dos comandos.
h

A partir das considerações apontadas por Bayley e Skholnick, a polícia


comunitária então deve passar por ações que partam do princípio de que as agências
policiais devam possuir nas comunidades seus principais focos.

Neste sentido, a partir da compreensão das dinâmicas mudanças sociais, as


agências passam a promover a reorientação de suas abordagens e processos
policiais, enfatizando ações não emergenciais que possam estar centradas nas
causas dos mais graves problemas criminais. As estratégias organizacionais
passariam por uma compreensão descentralizada de comandos e o aumento das
autonomias locais e da responsabilização da própria polícia.

Nesta linha de pensamento, seguindo um dos mais largos conceitosutilizados,


a Polícia Comunitária pode ser definida como sendo:

Uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria


entre a população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia
quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e
resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime,
desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo
de melhorar a qualidade geral da vida na área. (TROJANOWICZ;
BUCQUEROUX, 1994, p. 4).

Segundo Wadman (1994) apud Marcineiro (2009, p. 105), “é uma maneira


inovadora e mais poderosa de concentrar as energias e os talentos da organização
policial na direção das condições que frequentemente dão origem ao crime e a
repetidas chamadas por auxílio local”.

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Já o Policiamento Comunitário (ação de policiar) volta-se às ações efetivas de
patrulhamento preventivo, visando identificar e resolver os problemas junto com a
comunidade. De maneira mais específica, (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 1994,
p. 4) definem ‘policiamento comunitário’ como sendo:

(...) uma filosofia de patrulhamentopersonalizado de serviço completo, onde


o mesmo policial patrulha e trabalha na mesma área numa base permanente,
a partir de um local descentralizado, trabalhando numa parceria preventiva
com os cidadãos para identificar e resolver problemas.

Marcineiro (2009, p. 103) retrata que o policiamento comunitário “(...) é o agir


da polícia nas comunidades, ele tem como escopo a prevenção de delitos, porém, 41
efetua, também, ações repressivas”. Desta feita, o serviço completo que Trojanowicz
e Bouqueroux relataram, em tese repousariam no contexto de um policiamento que
estivesse sob a perspectiva tanto da prevenção quanto da repressão, desde que
devidamente qualificada.

A atuação dos policiais é o centro desse conceito, que deve ser percebida
conforme assevera Monjardet (2012, p. 261), que:

O policiamento comunitário “implica a delegação formal, aos policiais que


agem no escalão de bairro, da autoridade decisional de que precisam para
agir eficazmente”, ou seja, o reconhecimento de sua autonomia prática, de
sua capacidade para decidir por conta própria prioridades locais, horários
locais, horários de trabalho mais bem adaptados à situação local e às
demandas do público, à sua organização e distribuição interna das tarefas
etc.

Nessa perspectiva, com vistas a prosseguir discutindo as características da


Polícia Comunitária como filosofia e estratégia organizacional, as seções seguintes
apresentam as características deste modelo inovador não só de Polícia, mas, de
Gestão da Segurança Pública.

2.2 O QUE POLICIA COMUNITÁRIA NÃO É

####

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Com o propósito de delinear os aspectos de polícia comunitária de forma que
possa ser percebida dentro de um ângulo do que não se pretende, pode-se verificar
abaixo o que não está associada à prática de polícia comunitária:

Quadro 6 – O que a Polícia Comunitária não é


O QUE A POLÍCIA COMUNITÁRIA NÃO É

Uma tática, um programa ou uma técnica

SABER PELO MENOS 4 Policiamento com enfoque de cima para baixo

42
Condescendente com o crime

Modalidade e/ou Ação especializada

Apenas Relações-Públicas

Político-Partidária

Favorecedor de grupos e/ou pessoas

Espalhafatosa

Paternalista

Uma simples edificação

Anti-tecnologia

Uma panaceia (Remédio pretensamente eficaz na cura de todos os males)

Fonte: Adaptado de Trojanowicz e Bucqueroux (1994).

2.3 OS SEIS GRANDES DA POLÍCIA COMUNITÁRIA

Para que a filosofia de polícia comunitária possa funcionar de acordo com a


integração entre os mais diversos órgãos pertencentes à sociedade civil organizada,
encontram-se abaixo os chamados “Seis Grandes” grupos da polícia comunitária.
Esses grupos podem ser visualizados conforme quadro abaixo:

Quadro 7 - Os seis grandes grupos da Polícia Comunitária

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(Continua)

OS SEIS GRANDE GRUPOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA

A POLÍCIA

É a organização policial e seus integrantes, responsável por determinada circunscrição ou área


geográfica, a quem cabe a execução das várias modalidades de ações e operações policiais
preventivas e repressivas, visando proporcionar aos cidadãos a sensação de segurança e o
controle da criminalidade a níveis suportáveis de convivência social, mantendo a ordem pública
local.

A COMUNIDADE 43

As pessoas da comunidade, desde os líderes comunitários, religiosos e responsáveis por


associações cívicas, até os cidadãos comuns, moradores ou frequentadores da região. As
participações se qualificam na medida em que representam os vários interesses da
coletividade. A comunidade possui a melhor rede de informações sociais e policiais que
conhecemos. É preciso ter acesso aos seus arquivos e experiências.

A COMUNIDADE DE NEGÓCIOS

Os pontos de negócios possuem inúmeros atrativos para a criminalidade, principalmente no


tocante aos crimes contra o patrimônio; levando os seus funcionários, necessariamente, a uma
visão mais cuidadosa diante das situações do cotidiano social.

AS AUTORIDADES CIVIS ELEITAS (OU NÃO)

Incluindo-se o prefeito, o secretariado, os vereadores e quaisquer outros funcionários federais,


estaduais ou municipais, cujo apoio seja importante para a comunidade e para a sedimentação
da filosofia e da implementação do modelo interativo de polícia, em cada localidade.

A MÍDIA

Toda a imprensa local e regional, desde os pequenos jornais escritos e as rádios comunitárias
até as redes de telecomunicações.
A imprensa (televisão, rádio e jornais) deve ser informada da implantação do policiamento
interativo em cada região, a fim de divulgar para as próprias comunidades, a existência do
processo de parceria e a necessidade de participação de todos.

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Quadro 7 - Os seis grandes grupos da Polícia Comunitária
(Conclusão)

OS SEIS GRANDES GRUPOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA

OUTRAS INSTITUIÇÕES

Instituições públicas, privadas, Clubes Sociais, Sindicatos e outros.

Fonte: Adaptado de Trojanowicz e Bucqueroux (1994).

44
2.4 OS 10 PRINCÍPIOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

#####

Para a implantação do sistema de Policiamento Comunitário é necessário que


todos na instituição conheçam os seus princípios, praticando-os permanentemente e
com total honestidade de propósitos. Segundo a SENASP (2007, p.46 e 47), são estes
os princípios do policiamento comunitário:

1. Filosofia e Estratégia Organizacional - A base desta filosofia é a


comunidade. Para direcionar seus esforços, a Polícia, ao invés de buscar
ideias pré-concebidas, deve buscar, junto às comunidades, os anseios e as
preocupações das mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de
segurança;
2. Comprometimento da Organização com a concessão de poder à
Comunidade - Dentro da comunidade, os cidadãos devem participar, como
plenos parceiros da polícia, dos direitos e das responsabilidades envolvidas
na identificação, priorização e solução dos problemas;
3. Policiamento Descentralizado e Personalizado - É necessário um
ENTENDER policial plenamente envolvido com a comunidade, conhecido pela mesma e
conhecedor de suas realidades;
4. Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazo- A ideia é
que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência.
Com isso, o número de chamadas do COPOM deve diminuir;
5. Ética, Legalidade, Responsabilidade e Confiança – O Policiamento
Comunitário pressupõe um novo contrato entre a polícia e os cidadãos aos
quais ela atende, com base no rigor do respeito à ética policial, da legalidade
dos procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que devem
existir;
6. Extensão do Mandato Policial - Cada policial passa a atuar como um
chefe de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar iniciativa, dentro
de parâmetros rígidos de responsabilidade.
7. Ajuda às pessoas com Necessidades Específicas - Valorizar as vidas
de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias, pobres, deficientes,
sem teto, etc. Isso deve ser um compromisso inalienável do Policial
Comunitário;
8. Criatividade e apoio básico - Ter confiança nas pessoas que estão na
linha de frente da atuação policial, confiar no seu discernimento, sabedoria,
experiência e, sobretudo na formação que recebeu. Isso propiciará
abordagens mais criativas para os problemas contemporâneos da

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comunidade;
9. Mudança interna - O Policiamento Comunitário exige uma abordagem
plenamente integrada, envolvendo toda a organização. É fundamental a
reciclagem de seus cursos e respectivos currículos,
bem como de todos os seus quadros de pessoal. É uma mudança que se
projeta para 10 ou 15 anos;
10. Construção do Futuro - Deve-se oferecer à comunidade um serviço
policial descentralizado e personalizado, com endereço certo. A ordem não
deve ser imposta de fora para dentro, mas as pessoas devem ser
encorajadas a pensar na polícia como um recurso a ser utilizado para ajudá-
las a resolver problemas atuais de sua comunidade.

2.5 OS NOVE P’S DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 45

####

Longe de uma preocupação meramente axiomática, há nove “partes” que


integram a compreensão da filosofia de polícia comunitária e que a fornece muito
sentido em razão da alta presença destas que se interagem entre si. Trojanowicz e
Bouqueroux as apontam abaixo:

Figura 7 - Os Nove P's do Policiamento Comunitário

FILOSOFIA PERSONALIZAÇÃO POLICIAMENTO PATRULHAMENTO

PERMANÊNCIA POSTO PREVENÇÃO PARCERIA

RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS
9 P’s

Fonte: Adaptado de Trojanowicz e Bouqueroux (1994, p. 6 a 9).

Os autores descrevem de forma sintetizada cada uma das nove vertentes que
integram os “9 P’s”:

1. Filosofia (Philosophy): é baseada em uma política de serviço de


policiamento completo, preventivo e repressivo, que deve envolver a
comunidade como sendo parceira nos processos de identificação, priorização
e resolução de problemas.
2. Personalização: é a aproximação direta entre a polícia e a comunidade, a

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ponto de ambos se tratarem pelo nome, com a quebra do anonimato.
3. Policiamento: os policiais comunitários devem atender às chamadas de
serviço e realizar prisões assim como qualquer outra polícia.
4. Patrulhamento: constitui o processo pelo qual o policial fará a patrulha,
libertando-o do isolamento da radiopatrulha e lançando mão de uma patrulha
a pé, de bicicleta, a cavalo, com motocicletas, etc.
5. Permanência: os policiais comunitários não devem ser trocados
constantemente, para que possam desenvolver afinidades com a
comunidade.
6. Posto: é a descentralização, com o objetivo de conceder ao policial
autonomia de agir na sua área de atuação.
7. Prevenção: voltada para a prevenção dos problemas antes que possam
ocorrer ou se agravarem.
8. Parceria: tende a motivar o civismo, o apoio e a integração entre os
cidadãos e a polícia, através do respeito de ambas as partes.
9. Resolução de Problema: redefine os objetivos da polícia, tendo como foco 46
resultados qualitativos.Trojanowicz e Bouqueroux (1994, p. 6 a 9).

A partir dos termos acima descritos, verifica-se que o policiamento comunitário


enfatiza de forma destacada a prevenção, afastando-se mais da maneira tradicional
de realizar o policiamento, distante dos anseios das comunidades e apenas atrelado
aos chamados emergenciais.

O policial comunitário tende a alçar voos mais altos, compreendendo seu papel
enquanto agente de transformação social, respeitando as comunidades locais, sua
diversidade e adotando estratégias conjuntamente acordadas junto às comunidades
atendidas.

2.6 CONCEPÇÕES SOBRE A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL

####

Em meio às abordagens ao tema de segurança pública, os órgãos pertencentes


ao sistema vigente no cenário nacional possuem diferentes visões acerca do melhor
tratamento do crime e suas abordagens.

Em 2010, em palestra proferida aos capitães da PMES integrantes do Curso


de Aperfeiçoamento de Oficiais no Anfiteatro da Universidade Vila Velha-ES, o
renomado “policiólogo”, Coronel Jorge da Silva, apresentou essas visões de uma
maneira muito didática e clara para a compreensão de seu funcionamento.

Restou evidente que para o mesmo tema da segurança pública sob os aspectos
do tipo de atitude empregada, atividade policial adotada, concentração, foco,

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pretensão, desempenho, formação e gerência diferem amplamente entre si. Tais
visões podem demonstrar que mudanças são necessárias para a abordagem ao
problema da criminalidade no Brasil.

A figura a seguir mostra uma comparação entre os paradigmas penalista,


militarista e prevencionista das concepções sobre a segurança pública no Brasil:

Quadro 8 - Paradigmas de segurança pública


PARADIGMA
PARADIGMA PENALISTA PARADIGMA MILITARISTA
PREVENCIONISTA
47
Atitude reativa. Falar em Atitude reativa. Falar em Atitude proativa. Falar em
Segurança é falar de crime; de segurança é falar em segurança é falar em
um problema do Governo e do desordem; de um problema da prevenção; de um problema
Judiciário. polícia e da força armada. da comunidade e do governo.

Atividade policial referida às Atividade policial referida a Atividade policial referida às


leis penais. Formalismo táticas de guerra: inimigo, políticas de prevenção do
burocrático do inquérito cerco, vitória. Formalismo crime (prevenção primária,
policial. burocrático e militar. secundária e terciária).

Concentração na atividade Concentração no aparato, em Concentração na mediação


de polícia judiciária. O que prejuízo da polícia técnica e dos conflitos no espaço
importa são os crimes das técnicas de mediação. público e nas técnicas de
consumados, em prejuízo da Não interessam os crimes já abordagem. Repressão como
prevenção e das vítimas. acontecidos. parte da prevenção.

Traço individualista. Foco nos Traço maniqueísta. Foco em Traço comunitário. Foco nos
infratores de forma "suspeitos?” em cidadãos em geral e nas
individualizada. abstrato: "Nós? Contra vítimas. "Suspeitos? Quem?”
eles?”.

Pretensão de "resolver?” o Pretensão de "erradicar?” o Pretensão de "controlar?” o


problema do crime e da crime e "acabar com a crime e “mediar os conflitos de
violência com a repressão desordem?”. Não seletividade interesses”. Seletividade no
policial-penal. no uso da força. uso da força.

Desempenho referido à Desempenho referido à Desempenho referido às


Quantidade de inquéritos quantidade de prisões, de maiores ou menores taxas de
realizados e infratores levados mortos em confronto, e criminalidade, e aos riscos de
aos tribunais. de material apreendido. vitimização da população.

Formação: ênfase na Formação: ênfase em táticas Formação: ênfase nas


legislação penal. Ensino militares. Ensino irreflexivo. técnicas de abordagem e de
irreflexivo. mediação. Ensino reflexivo.

Gerência: refratária ao Gerência: refratária ao Gerência: controle externo

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controle externo. controle externo. como insumo gerencial.

Fonte: Adaptado do BLOG Segurança Pública e Direitos Humanos do Coronel Jorge da Silva1.

As concepções de Segurança Pública no Brasil, em síntese, foram abordadas


pelo autor destacando aspectos relacionados à atitude, atividade policial,
concentração, traço, pretensão, desempenho, formação e gerência. As reflexões
apontadas destacaram principalmente um rompimento com uma postura meramente
reativa da polícia, situando-a numa posição mais voltada às comunidades atendidas,
por meio do paradigma prevencionista.
48

2.7 DIFERENÇAS ENTRE A POLÍCIA TRADICIONAL E POLÍCIA COMUNITÁRIA

####

O cenário da segurança pública no Brasil, mencionado nos paradigmas


penalista, militarista e prevencionista, conforme Silva foi retratado demonstrando certa
evolução no trato da polícia e sua adequada abordagem da criminalidade.

Em meio a essa discussão, não raras vezes, as forças policiais oscilam em


práticas preventivas e repressivas dentro de um caráter de desequilíbrio, ressaltando
os aspectos de prisões e apreensões enquanto políticas eficazes e eficientes para a
solução dos problemas de ordem pública.

Muito embora a repressão qualificada aos delitos deva ser adotada nos
ambientes criminais, há de se evocar o adequado equilíbrio quanto ao emprego de
meios que possam enfatizar a prevenção de delitos antes até mesmo que venham
ocorrer.

Neste sentido, reside o desafio de acentuar esta prática enquanto “viga mestra”
das instituições policiais proporcionando serviços de qualidade à população, sem,
contudo, realizar exposições excessivas de emprego de força privilegiando as
mediações e táticas preventivas.

Como forma de ilustrar a discussão, na figura abaixo, retirada do artigo “O


serviço policial, os conflitos sociais e o foco de atuação do policiamento de rádio
patrulha em Cuiabá” de Clelcimar S. Rabelo de Sousa, o mesmo retrata, através de

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adaptações de (Bayley e Sckolnick), e, de maneira bastante didática, os resultados e
descobertas das estratégias repressivas adotadas pelas agências policiais:

Quadro 9 - Principais descobertas das estratégias policiais reativas


ESTRATÉGIA RESULTADO
ORDEM DESCOBERTA
POLICIAL ESPERADO
1) Reduzir crimes.
Aumento do efetivo policial
Primeiro na rua
2) Aumentar casos
solucionados.

1) Aumentar prisão de
suspeitos. Estratégia ineficiente para o
2) Reduzir crimes. resultado pretendido.
49
Patrulhamento motorizado
Segundo aleatório
3) Diminuir o medo do
crime.
4) Aumentar confiança na
polícia.

Terceiro Desconsiderado para esse tipo de análise.

1) Reduzir crimes. Estratégia eficiente, mas


Patrulhamento direcionado 2) Diminuir medo do crime. temporariamente, pois
Quarto em áreas críticas 3) Aumentar confiança na ocorre o deslocamento do
polícia. crime.

Reduzir o medo dos


Estratégia ineficiente, pois
crimes: roubo com arma de
esses crimes dificilmente
Quinto Policial em patrulha fogo, roubo, furto de
são enfrentados pelo
residência, estupro e o
policial em patrulha.
homicídio.

Estratégia ineficiente, pois:


1) A vítima costuma
demorar em média
quatro minutos para
chamar a polícia;
2) A vítima espera mais que
1) Aumentar a chance de
uma pronta reação ao
Melhoria do tempo de prisão do criminoso.
Sexto resposta 2) Melhorar satisfação do
chamado;
3) A vítima prefere aguardar
cidadão com a rapidez
mais tempo e ter a
do atendimento.
certeza do atendimento
policial do que a
incerteza da resposta
imprevisível para o seu
problema.

Estratégia ineficiente, pois


a maioria dos crimes é
resolvida pela:
Crimes resolvidos com Criminosos presos e
Sétimo investigação criminal julgados.
1) Prisão em flagrante do
suspeito;
2) Identificação do suspeito
por uma testemunha.

Fonte: Adaptado de Bayley e Skolnick (apud SOUSA, 2012, p. 390).

Conforme se verificou, a figura demonstra claramente que tal enfoque não


apresenta resultados satisfatórios sob o prisma da prevenção, muito embora sejam
ações necessárias e que permeiam o ordenamento jurídico vigente.

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Em sequência, a Secretaria Nacional de Segurança Pública, apresenta de
maneira muito relevante, a divisão da polícia considerada tradicional (com enfoque
repressivo) e a polícia comunitária (considerada um ideal a ser seguido pelas
instituições policiais em geral). Esta divisão pode ser apresentada conforme figura
abaixo:

Quadro 10 - Diferenças entre a Polícia Tradicional e Polícia Comunitária


POLÍCIA TRADICIONAL POLÍCIA COMUNITÁRIA 50

A polícia é o público e o público é a polícia: os policiais


A polícia é uma agência governamental responsável, são aqueles membros da população que são pagos para
principalmente, pelo cumprimento da lei; dar atenção em tempo integral às obrigações dos
cidadãos;

Na relação com as demais instituições de serviço


Na relação entre a polícia e as demais instituições de serviço público, a polícia é apenas uma das instituições
público, as prioridades são muitas vezes conflitantes; governamentais responsáveis pela qualidade de vida da
comunidade;

O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo visando


O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime; a resolução de problemas, principalmente por meio da
prevenção;

As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios As prioridades são quaisquer problemas que estejam
e todos aqueles envolvendo violência; afligindo a comunidade;

A polícia se ocupa mais com os problemas e as


A polícia se ocupa mais com os incidentes;
preocupações dos cidadãos;

O que determina a eficácia da polícia são o apoio e a


O que determina a eficiência da polícia é o tempo de
cooperação do público, a eficácia da polícia é medida
resposta;
pela ausência de crime e de desordem;

O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito
rápidas aos crimes sérios; relacionamento com a comunidade;

A função do comando é prover os regulamentos e as


A função do comando é incutir valores institucionais;
determinações que devam ser cumpridas pelos policiais;

As informações mais importantes são aquelas


As informações mais importantes são aquelas relacionadas a
relacionadas com as atividades delituosas de indivíduos
certos crimes em particular;
ou grupos;

O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade O policial trabalha voltado para os 98% da população de
de sua área, que representa, no máximo, 02% da população sua área, que são pessoas de bem e trabalhadoras os
residente ali onde “todos são inimigos, marginais ou quais devem ser tratados como cidadãos e clientes da
paisanos folgados, até prova em contrário”; organização policial;

O policial é o do serviço; O policial é da área;

Emprego da força como técnica de resolução de problemas;


O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei,

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na solução dos problemas com a marginalidade, que no
máximo chega a 02% dos moradores de sua localidade
de trabalho;

O policial “presta contas” de seu trabalho ao superior e à


Presta contas somente ao seu superior;
comunidade;

As patrulhas são distribuídas conforme o pico de As patrulhas são distribuídas conforme a necessidade de
ocorrências. segurança da comunidade, ou seja, 24 horas por dia;

Fonte: Adaptado da SENASP (2007, p. 48 e 49).

51

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Assim sendo, é de fundamental importância a busca pelo equilíbrio. O conceito de
polícia comunitária introduzido por Trojanowicz e Bucqueroux (1994), retrata
exatamente a condução da segurança pública dentro de um viés muito mais amplo do
que meramente a repressão.

Ao avaliarmos o Quadro 9 e compararmos com o Quadro 10, verifica-se


claramente que mudanças de enfoques devem ser evidenciadas e, sobretudo,
pautadas enquanto políticas de segurança pública em seu sentido mais amplo e
profundo m prol da qualidade de vida em sociedade.
52

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CAÍTULO 3 - POLÍCIA COMUNITÁRIA
COMPARADA
O terceiro capítulo tem como objetivo apresentar de forma comparada os modelos mais
relevantes de polícia comunitária predominantes no âmbito internacional e nacional.

3.1 A POLÍCIA COMUNITÁRIA NO MUNDO GLOBALIZADO

A globalização permitiu não apenas o fluxo mais livre de capital, pessoas e 53


pensamentos políticos, mas também a troca de toda uma gama de experiências de
gestão pública quer seja dos recursos aplicados à saúde, quer seja no
desenvolvimento de Políticas Públicas de Segurança. Nesse sentido, este capítulo
pretende apresentar a aplicação de filosofias de gestão policial junto às comunidades,
que aproximem às instituições de seus verdadeiros clientes. A seguir encontram-se
quatro relevantes experiências internacionais em policiamento comunitário e que
serão apresentados subsídios de modo a compreender a evolução dos modos de
operação das organizações policiais no mundo e no Brasil.

3.1.1 Os Estados Unidos da América: do rádio patrulhamento à aproximação

###

As transformações verificadas nas agências policiais norte-americanas servem


de parâmetro até os dias atuais às instituições latino-americanas. Grande parte
dessas abordagens tem, portanto, sustentação teórica em estudos e experimentos
que objetivaram a melhoria da capacidade policial na prevenção do crime nos centros
urbanos dos EUA.

Nos termos de Moore (2003)apud (SENASP, 2009) o policiamento tradicional


ou profissional adotado nos EUA decorreu em grande parte das inovações
tecnológicas em telecomunicações e meios de transporte introduzidas no país que
associadas às grandes extensões territoriais e à demanda por atendimento acabou
por induzir a escolha pelo patrulhamento motorizado como tática preventiva. O autor
também estabeleceu outras duas táticas que definem o modelo de policiamento

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profissional: respostas rápidas às demandas geradas pela comunidade via tele
atendimento e a investigação retrospectiva dos crimes.

De acordo com Souza (2003), tal modelo reativo apresentou resultados


insuficientes apresentados no controle da criminalidade, entre os quais se destacam:
a sobreposição dos esforços reativos em detrimento de estratégias preventivas, o
quase extermínio do policiamento a pé, a desativação de postos policiais
descentralizados, a desmobilização da comunidade junto às instituições policiais e o
crescimento desordenado da privatização da ordem pública.
54
Como evolução, a era do policiamento estratégico apresentou poucas
melhorias no que se refere à prevenção dos delitos comuns nos bairros e ruas, apesar
de direcionar mais racionalmente a tática de emprego das patrulhas. Moore e
Trajanowicz (1993)apud SENASP (2009) destacam a melhoria no controle do crime
como um passo a frente em relação ao combate profissional do crime.

A insatisfação da comunidade acabou por criar uma demanda por melhores


resultados junto à ao poder público que significou uma importante correção das
estratégias tradicionalistas no EUA entre os anos 1960 e 1970. Segundo Bayley e
Skolnick (2002) os cidadãos foram consubstanciados e, corresponsáveis pelos
destinos da segurança pública em suas comunidades. Assim os principais aspectos
que permeiam as filosofias de polícia comunitária nos EUA podem ser apresentados
conforme adiante:

Quadro 11 - Práticas e reflexões de polícia concebidas nos EUA


(Continua)

PROGRAMAS/AÇÕES DISCRIMINAÇÃO

Programa desenvolvido dentro do critério de que qualquer delito (de


maior ou menor potencial ofensivo) deveria ser coibido com o rigor
da lei. Não apenas os delitos, mas as infrações de trânsito e atos
antissociais como embriaguez, pichações, comportamentos de
moradores de rua, etc. O programa exigiu a participação integrada
de todos os órgãos públicos locais, fiscalizados pela comunidade.
Programa “Tolerância Zero” Não foi uma ação apenas da polícia. A cidade que implementou este
programa com destaque foi Nova Iorque que, devido ao excepcional
gerenciamento, reduziu em quase 70% a criminalidade da cidade.
Tal política também submeteu toda uma população da cidade –
jovens negros e hispano-americanos – a buscas frequentes de
oportunidade em que a polícia do então prefeito Rudolf Giuliani foi
comparada a um exército de ocupação nas comunidades
minoritárias. É importante também ressaltar a Nova Iorque de

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Giulliani atentando para a prosperidade vertiginosa que predomina
desde meados dos anos 90.

Quadro 11 - Práticas e reflexões de polícia concebidas nos EUA


(Conclusão)

PROGRAMAS/AÇÕES DISCRIMINAÇÃO

A teoria desenvolvida por George Kelling embasou um programa


(Broken Windows Program) que estabeleceu como ponto crucial a
recuperação e estruturação de áreas comuns, comunitárias, ou
mesmo a comunidade assumir seu papel de recuperação social. Um
Teoria das “Janelas Quebradas” prédio público preservado ou o apoio para recuperação de um jovem 55
adicto são mecanismos fortes de integração e participação
comunitária. É a confirmação da teoria de Robert Putnam
(engajamento cívico). Este programa também preconiza formas de
prevenção criminal, reeducando a comunidade.

Trata-se de mais um meio de engajamento social. A premissa


baseia-se no conceito de que a polícia deixa de reagir ao
crime (crime fighting policing) e passa a mobilizar os seus
recursos e esforços na busca de respostas preventivas para
os problemas locais (problem-oriented policing); ao invés de
reagir contra incidentes, isto é, aos sintomas dos problemas,
a polícia passa a trabalhar para a solução dos próprios
Policiamento orientado para a problemas. A noção do que constitui um problema desde uma
resolução de problemas perspectiva policial expande-se consideravelmente para
abranger o incrível leque de distúrbios que levam o cidadão a
evocar a presença policial. A expectativa é de que ao
contribuir para o encaminhamento de soluções aos
problemas, a polícia atrairá a boa vontade e a cooperação dos
cidadãos, além de contribuir para eliminar condições
propiciadoras de sensação de insegurança, desordem e
criminalidade.

Fonte: Adaptado de SENASP (2007).

De igual forma, David Bayley e Jerome Skolnick ao realizarem estudos mini-


etnográficos a partir de 1982 em seis polícias norte-americanas perceberam
relevantes inovações na adoção de emprego do policiamento voltado aos anseios das
comunidades (BAYLEY, SKOLNICK, 2003). Desta feita, em caráter didático e de
forma bastante resumida, o quadro abaixo apresenta as iniciativas em cada localidade
estudada pelos autores:

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Nas cidades de Halifax e Toronto no Canadá, o Departamento de Polícia
estruturou e executou o policiamento de “grupos” que é baseado em áreas
denominadas “zonas”. Ocorreu a reintrodução do policiamento em rondas a pé, e,
em outras cidades, iniciou-se a alocação de escritórios policiais estabelecidos em
frente às delegacias (SKOLNICK e BAYLEY, 2017).

Figura 8 - Polícia Comunitária do Canadá

60

Fonte: Adaptado do Documentário “Polícia Comunitária - O exemplo do Canadá”3.

Na cidade de Halton, sua força policial empregou uma experiência de divisão


de forças: enquanto uma era voltada aos chamados emergenciais a outra se
encarregava do atendimento de serviços solicitados (não emergenciais), mas que de
igual forma possuem consideráveis impactos na dinâmica da sociedade. (SKOLNICK
e BAYLEY, 2017).

Acerca do contexto da implantação da filosofia de polícia comunitária, Chris


Murphy afirmou que “o policiamento comunitário é mais uma fonte de organização e
de reforma administrativa potencial, pois é uma reforma do papel da polícia em relação
às comunidades policiadas”. Skolnick e Bayley (2017, p. 43).

Vários foram os programas desenvolvidos pela Polícia do Canadá no âmbito

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da filosofia de polícia comunitária, dentre os quais (ALBUQUERQUE, 2009, p.20) cita
dois deles na cidade de Oxford:

Em 1991, inicia-se o programa de proteção e atendimento aos portadores


do mal de Alzheimer, pelo qual a polícia de Oxford desempenhou papel
fundamental. No desdobramento do programa, ocorreu a criação de uma
Secretaria Nacional para Pessoas na Rua, centralizada na cidade de Toronto.
Este projeto consiste em manter uma central de informações onde são
recebidas fichas de várias localidades, contendo todos os dados do portador
do mal de Alzheimer, como descrição física, foto com nome, data de
nascimento, parentes próximos e médicos. Um verdadeiro departamento de
responsabilidade, em que o profissional está consciente do programa,
reconhece os sintomas da doença, procura a identificação na pulseira e
trabalha com paciência e compreensão. A Sociedade Alzheimer fornece uma
pulseira com identificação, manual e cartões de identificação ao custo de CA$
61
25,00 por um determinado tempo. A inscrição é voluntária.

O “Pais de Quarteirão”é outro programa da polícia de Oxford, o qual


desempenha papel fundamental na produção e distribuição de material,
contendo informações sobre segurança infantil; visitação de escolas e outros
locais, ensinando as crianças sobre questões que envolvem segurança.
Qualquer pessoa que teve sua vida investigada pela polícia, pode participar
do “Pais de Quarteirão”: podem ser solteiros, casados, divorciados ou idosos,
não precisando ser necessariamente pai. O “Pais de Quarteirão” é um local
onde as crianças com dificuldades podem se dirigir em busca de ajuda,
proporcionando uma rede rastreada por policiais. Educam-se crianças para
segurança na rua e dentro de casa; desenvolvendo-se materiais para
divulgação do programa e conhecimento da comunidade, proporcionando um
trabalho conjunto entre: polícia, comunidade, conselhos escolares e grupos
organizados. (ALBUQUERQUE, 2009, p.20).

Sobre as atividades do policial comunitário canadense, a SENASP, por meio


do Livro do Curso Nacional de Promotor de Polícia Comunitária, aponta para
relevantes aspectos:

O Policial deve conhecer as pessoas e todos os problemas do bairro. A


população e as empresas fazem parceria com a Polícia, doam prédios e
equipamentos, fora o aperfeiçoamento dos serviços. A divisão territorial está
ligada a questões geográficas e aos tipos de crimes em determinadas
regiões. Quando uma modalidade criminosa chama a atenção, os policiais
fazem curso a respeito e são treinados a enfrentar e solucionar os problemas
resultantes da ação criminosa detectada. Na sua ronda o policial visita casa
e empresas e demonstra estar trabalhando por prazer. Quando um problema
é identificado, o município, a população e a polícia se unem para solucioná-
lo imediatamente. Exemplo: em um bairro notou-se que os orelhões
(telefones) tradicionais, serviam para esconder drogas. A população informou
a polícia e em menos de 30 dias todas as cabinas telefônicas foram
envidraçadas ficando transparentes, o que impedia a ocultação das drogas.
Outras providências que demonstram a participação da população referem-
se a iluminação de praças e ruas para evitar ambientes que favorecem o
crime. Para se ter uma ideia mais contundente da parceria polícia-população,
os bancos da praça de um bairro foram divididos em três partes por
braçadeiras para evitar que mendigos ou possíveis infratores da lei
dormissem neles. Há um caso em que foi instalado um posto policial num
SHOPPING, em razão de furtos e depredações causados por gangs juvenis.
(SENASP, 2007, p. 61 e 62).

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Enfim, o modelo Canadense apresentou importantes contribuições de maneira
a mais bem aproximar a polícia de suas comunidades atendidas, mas dentro de um
olhar para além da forma tradicional de execução do policiamento cotidiano e reativo.

3.1.3 As transformações da polícia na Colômbia

A Colômbia ao longo de vários anos ficou nocivamente marcada por meio das
ações de facções criminosas que defendiam o tráfico internacional de drogas, assim
conhecidas como as FARC’s (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Por
meio de uma pesquisa realizada, segundo (SENASP. 2007, p. 73 e 74), a situação 62

diagnosticada do país encontra-se abaixo descrita:

1. Enfraquecimento dos valores morais da Polícia Nacional - se todos os


cidadãos possuem valores, a Polícia também deveria tê-los;
2. Deficiência da liderança - a polícia, antes, formava líderes comandantes,
que se afastavam da comunidade. É necessário formar líderes capazes de
realizar processos de gestão voltados para as atividades que atendam ao
cidadão;
3. Atividades diversificadas – a polícia cuidava de várias coisas que nada
tinham a ver com a atividade policial e deixava de realizar as missões afetas
à polícia;
4. Foco ineficiente - a abordagem da Polícia era ineficiente. Administrava mal
os talentos humanos e o policiamento obedecia às regras dos comandantes,
não se baseando na missão principal da polícia de proteção da comunidade;
5. Deficiência nos processos de treinamento – a Academia e as escolas de
formação estavam desviadas dos objetivos da Instituição, formando o homem
na área jurídica. A missão policial e o ensino policial eram secundários;
6. Sistema de avaliação e desempenho ineficaz – obedecia a critérios
pessoais, procuravam-se culpados e se aplicavam sanções e transferências.
Atualmente, é importante saber as causas do problema para que todos
possam ter um planejamento estratégico. A partir do plano estratégico, a
avaliação foi facilitada e busca um controle de gestão sobre o que cada um
efetivamente faz, tanto o pessoal, os departamentos e a própria Polícia
Nacional como um todo;
7. Afastamento da polícia da comunidade – sendo a polícia responsável pela
proteção da vida do cidadão, era um contrassenso, pois saía à rua para
violentar os direitos humanos, sistematicamente.

O governo do país para tentar fazer frente a esse difícil cenário, lançou um
plano que foi concebido, dentre outros aspectos, as características abaixo descritas:

1. Participação do Cidadão para a mudança, como base fundamental do


trabalho da polícia;
2. Multiplicação e potencialização do conhecimento e da formação policial.
Era necessário buscar os melhores policiais, aqueles que tivessem vocação
e talento para o trabalho policial e para servir a comunidade;
3. Treinamento e informação – que insira uma nova cultura profissional, onde
o homem aprenda a trabalhar em equipe e passe a planejar com o cidadão;
4. A Polícia não deve se comprometer com aquilo que ela não poderá cumprir
e assim estabelecer uma nova cultura de segurança para poder conviver
harmoniosamente com a comunidade;

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5. Desenvolvimento gerencial de integração – com desenvolvimento de mais
treinamento aos comandantes em técnicas de gestão, e menos milícia,
buscando o desenvolvimento de capacidades e trabalho em equipe. O que
se quer é que estes líderes possam avaliar com visão do todo o plano
estratégico, sem esperar, no caso de falha, uma nova avaliação ou resultado
final, quando já for tarde para correções. O líder neste novo modo de
gerenciar deve mobilizar e dinamizar a inteligência das pessoas para que
todos possam agir antecipadamente. (SENASP. 2007, p. 73 e 74).

A revista Exame/Abril de outubro de 2017 apontou para uma relevante


transformação ocorrida na cidade de Medelin, antes conhecida como sendo um
grande cartel ligado ao tráfico ilícito e internacional de drogas e outros crimes em
geral:
63
A explicação para o sucesso de Medellín na segurança pública está numa
combinação de coisas que não costumam andar juntas. De um lado, houve
uma intensa repressão policial e a aplicação de leis severas. De outro,
programas sociais que oferecem uma porta de saída do mundo do crime, com
capacitação profissional, renda garantida por tempo determinado e apoio
psicológico e social — além da presença tanto do Estado quanto de
organizações não governamentais.
Um ponto de inflexão foi a eleição do presidente Álvaro Uribe em 2002.
Nascido em Medellín, Uribe foi prefeito da cidade e governador de Antioquia,
estado do qual Medellín é capital. A Colômbia é um país centralizado e tem
coisas que só um presidente pode fazer. A polícia, por exemplo, é nacional,
e as ações estão concentradas nos ministérios em Bogotá.
Uribe partiu para uma guerra total contra a guerrilha e o crime organizado. A
polícia foi capacitada e passou a contar com mais inteligência do que com
presença ostensiva. Ao mesmo tempo, a eleição de Sergio Fajardo para a
prefeitura, em 2004, complementou a iniciativa federal. O município investiu
na coleta e na sistematização de dados sobre o crime e a situação social nas
favelas, identificando parceiros e inimigos. (Artigo do site Exame/abril de
05/10/2017)4.

À época, algumas mudanças estruturais foram muito expostas como resultados


das medidas adotadas, principalmente quanto ao aspecto focado nos ambientes
urbanos seguros:

Um marco foi a inauguração do teleférico ligando o metrô às favelas


Andalucía, Popular e Santo Domingo em 2004. Com o transporte, veio o
Estado. No ano seguinte, foi instalado na favela Popular o primeiro posto do
Centro de Desenvolvimento Empresarial Zonal (Cedezo), que oferece
capacitação para pequenos negócios, agência de empregos e microcrédito.
Diana Avendaño, coordenadora do Cedezo na favela Popular, conta que o
posto atende de quatro a cinco pessoas por dia e oferece oficinas para
ensinar contabilidade, plano de negócios e marketing digital.
Os moradores atendidos são tatuadores, donos de mercearia, de bar, de
barraquinha de lanches, de salão de beleza, e assim por diante. “A vida
melhorou muito aqui”, diz o eletricista Héctor Duque Arango, de 61 anos, que
vive na favela há 30 anos. O Brasil tentou fazer algo parecido. O projeto de
Medellín inspirou o teleférico do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro,
inaugurado em 2011. O sistema melhorou o transporte por um tempo, mas
hoje está desligado. A operação foi interrompida em setembro de 2016 para
a troca dos cabos e até hoje não foi retomada por falta de pagamento do
governo estadual ao consórcio responsável. (Artigo do site Exame/abril de

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05/10/2017)

Figura 9 - Intervenção Urbana em Medellín (Escadas rolantes)

64

Fonte: Adaptado do artigo Transformação social e urbanística de Medellín 5.

A figura 8 apresenta a alocação de escadas rolantes na communidad 13, San


Javier. Essas transformações também podem ser corroboradas segundo Souza
(2015, p. 67 e 68):

Alguns traços característicos do modelo de segurança cidadã colombiano


precisam ser destacados: ações integradas e simultâneas na área de
urbanismo, educação e segurança, priorizando as áreas mais pobres das
cidades de Medellín e Bogotá. O lema das políticas implementadas é: “as
melhores obras para os mais pobres”. Em outras palavras, os governos
compreenderam que, se a cidade estiver proporcionando uma boa qualidade
de vida para os mais carentes, também será considerada um lugar bom para
se viver para os mais abastados. A continuidade das ações pelos políticos
sucessores foi um ingrediente fundamental para o êxito das mudanças
estruturais da cidade e dos hábitos das pessoas.
Os aparelhos públicos passaram a comunicar-se com os equipamentos
privados e ambos com os cidadãos, dando origem a um fenômeno
denominado pelos colombianos de “conectividade”. Os espaços públicos

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foram recuperados, aformoseados, tornando-se espaços de interação entre
as pessoas. Os logradouros passaram a beneficiar pedestres e pessoas com
deficiências. Bibliotecas modernas foram construídas especialmente em
áreas desassistidas por muitos anos pelo Estado. Houve uma participação da
sociedade, que passou a ocupar os espaços e compreender que a cidade
deve ser cuida por cada habitante6.

As ricas informações apontadas pela autora citando a obra “As lições de Bogotá
e Medellín: do caos à referência mundial” de Murilo Cavalcanti, reflete para horizontes
de largo espectro. A sinergia resultante do trabalho integrado entre o poder público, a
sociedade civil e os equipamentos privados puderam gerar transformações relevantes
no ambiente social e, por conseguinte, impactando na criminalidade.
65

3.1.4 “Kobans” e “Chuzaishos”: a experiência japonesa de policiamento


comunitário

####

O alto grau de participação social da sociedade japonesa em muito a difere do


VAI CAIR modelo de ativismo social brasileiro. O Japão possui um sistema de policiamento
fardado baseado na estrutura da Polícia Nacional Japonesa. Lá é desenvolvido um
dos processos mais antigos de Policiamento Comunitário no mundo (criado em 1879),
montado numa ampla rede de postos policiais, num total de aproximadamente 15.000
em todo o país, denominados KOBANS e CHUZAISHOS (SENASP, 2007).

O modelo praticado no Japão que remonta ao século XIX, pode assim ser
caracterizado:

[...] se caracteriza basicamente pelo patrulhamento preventivo e ostensivo a


pé e de bicicleta, visando garantir a segurança e a tranquilidade dos
moradores das comunidades. Esse modelo busca contar com as opiniões,
sugestões e solicitações dos moradores e assim moldar as operações
policiais de acordo com as necessidades especificas de cada comunidade
(SÃO PAULO, 2009, p. 87).

Os “Kobans” e os “Chuzaishos” são construídos pelas prefeituras das cidades


onde estão localizados, responsabilizando-se também pela manutenção do prédio,
pagamento da água, luz, gás, etc. O critério para sua instalação e localização é
puramente técnico e é estabelecido pela Polícia de tal forma que garanta o
atendimento cuidadoso e atencioso às pessoas que procurem a polícia. Estes postos
policiais estão subordinados aos PoliceStations.

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Os Kobans, em número superior a 6.500 em todo o Japão, estão instalados
em áreas de maior necessidade policial (critério técnico). Os Kobans são
construídos em dimensões racionais, em dois ou mais pavimentos, com uma
sala para o atendimento ao público, com todos os recursos de comunicações
e informática, além de compartimentos destinados ao alojamento (com camas
e armários), cozinha, dispensa e depósito de materiais de escritório,
segurança, primeiros socorros, etc. Nesses postos trabalham equipes
compostas por 03 ou mais policiais, conforme seu grau de importância,
cobrindo às 24 horas do dia em sistema de rodízio por turnos de 08, 12 ou
até mesmo 24 horas, o que é mais comum. (SENASP, 2007, p. 261)

Logo abaixo se encontram algumas ilustrações de “Kobans” e “Chuzaishos”:

Figura 10- Foto de um Koban


66

Fonte: Acervo da DDHPC/PMES.

Figura 11-Chuzaisho de Nakayama

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67

Fonte: Acervo da DDHPC/PMES.

No interior de um Koban há sempre uma equipe de um ou dois policiais para


atendimento ao público, ao rádio e ao telefax; os demais desenvolvem atividades de
patrulhamento a pé, de bicicleta ou mesmo motocicletas, e é responsável por uma
pequena área e pelas visitas comunitárias, através das quais sabem o número de
residências, comércios, estrangeiros residentes, enfim, acabam possuindo uma visão
bem detalhada daquela pequena área, uma vez que o controle das ocorrências é de
responsabilidade dos integrantes daquele Koban (SENASP, 2007).

Para todas as atividades desenvolvidas em um Koban, há horários específicos


para o seu cumprimento, como por exemplo, horários para o patrulhamento,
entrevistas com a comunidade, preenchimento de relatórios policiais, refeições e
descanso no próprio Koban. Há também reuniões com a comunidade, chamados
conselhos de ligações (similar aos Conselhos Comunitários de Segurança –
CONSEGs), os quais se reúnem de 2 a 3 vezes por ano, isto porque, enquanto um ou
mais problemas apresentados pela comunidade não forem solucionados, não se
discute novos problemas, para evitar que um problema se acumule sobre outro e não
se resolva nenhum (SENASP, 2007).

Já nos “Chuzaishos”, o policial é instalado numa casa, juntamente com sua


família. Esta casa, fornecida pela Prefeitura, é considerada um posto policial, existindo

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mais de 8.500 em todo o Japão. Cada Chuzaisho está vinculado diretamente a um
Police Station (Cia) do distrito policial onde atua. O policial trabalha no horário de
expediente, executando suas rondas fardado. Na ausência do policial, sua esposa
auxiliará em suas atividades, atendendo ao rádio, telefone e às pessoas, sem que,
para isso, seja considerada funcionária do Estado, mas essa sua atividade possibilita
ao marido policial o recebimento de uma vantagem salarial. Quanto aos gastos com
energia, água, gás e a manutenção do prédio ficam a cargo da prefeitura da cidade
onde o posto está localizado (SENASP, 2007).

As atividades desenvolvidas nos “Kobans” podem ser mais bem visualizadas 68

conforme abaixo:

Quadro 13 - Rotinas de atividades no Koban


ROTINAS DE ATIVIDADES NOS KOBANS
- Atendimento às pessoas;
- Recebimento e transmissão de mensagens;
- Preenchimento de relatórios de serviço;
- Faxina e manutenção do material;
- Patrulhamento a pé, de bicicleta ou motocicleta nas áreas abrangidas pelo Koban;
- Visitas às residências, casas comerciais e escritórios de serviço;
- Visitas a pessoas idosas, escolas, etc.
Fonte: Adaptado de SENASP (2007).

3.2 A POLÍCIA COMUNITÁRIA NO CENÁRIO NACIONAL

As iniciativas de policiamento comunitário no cenário nacional estão


disseminadas em vários Estados Brasileiros, e se deram praticamente após a
promulgação do regime democrático brasileiro a partir de 1988. As experiências que
serão apresentadas nas seções seguintes.

3.2.1 As experiências do Estado de São Paulo

As Bases Comunitárias de Segurança (BCS)

Em São Paulo, as experiências compartilhadas com as regiões do Programa


Nacional de Segurança e Cidadania e em países da América Latina serviram como
base à implementação de um sistema de policiamento híbrido em relação às técnicas
aplicadas pelas Polícias Ostensivas Preventivas e de Preservação da Ordem Pública
do Brasil, dentro da técnica e prática aplicada pela Polícia Nacional do Japão, com
ênfase no Sistema Koban / Chuzaisho, denominados na PMESP de Bases

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atuam no atendimento ao público, nos contatos com a população das redondezas,
devendo a BCS possuir ainda sinalização adequada (bandeira de identificação) e
quadro de aviso externo iluminado (SENASP, 2007).

Já as Bases Comunitárias de Segurança Distritais (BCSD), assemelham-se


aos Chuzaishos, sendo uma variante de BCS aplicável aos distritos municipais do
interior, consistindo em 01 (um) PM que reside no local e que presta atendimento ao
público, a partir de sua residência. O policial possui uma viatura de apoio a sua
disposição e jornada de trabalho de, no mínimo, 40 (quarenta) horas semanais,
ficando a critério do Comandante de Companhia definir os turnos de serviço. Para 70

afastar-se do distrito municipal, o PM deve pedir autorização ao seu Comandante de


Cia PM. O patrulhamento nas áreas rurais pertencentes ao distrito não é considerado
afastamento, mas deve, porém, ser comunicado ao COPOM (SENASP, 2007).

Figura 12- Base Comunitária de Segurança

Fonte: Adaptado de SENASP (2007).

Programa de Vizinhança Solidária (PVS)

####

Segundo March et al. (2019, p. 203), o PVS teve como gênese:

(...) as mesmas bases de programas com origem nos Estados Unidos da


América (EUA). Um desses programas surgiu em 1964, no bairro de Queens,
em Nova Iorque, quando após um homicídio, constatou-se que a pessoa
ferida teria agonizado por mais de 30 minutos antes de falecer, situação
presenciada por diversas pessoas moradoras do bairro, mas que não se
comoveram em sequer chamar a Polícia.

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A indignação com a exploração desse fato levou à mobilização da
comunidade local, fazendo com que nascesse o Programa Neighborhood
Watch, que, em tradução livre, seria “Bairros Vigiados”. A partir de 1972, tal
programa passou a ser incentivado pela National Sheriff’s Association,
tornando-se de caráter nacional, o National Neighborhood Watch, devido à
comprovação da redução de crimes nos locais onde tem sido implementado.

O Programa denominado de “Vizinhança Solidária” ou PVS teve seu início na


cidade de Santo André no ano de 2010 através de iniciativas das comunidades locais
coordenadas pelo capitão Temístocles Telmo Ferreira Araújo em reuniões do
Conselho Comunitário de Segurança da região. (ARAÚJO, 2012, p. 03) apud (MARCH
et al, 2019, p. 77). Mas apenas foi institucionalizado pela Polícia Militar do Estado de
71
São Paulo por meio da Diretriz nº PM3-002/02/13 de 13 de junho de 2013. O PVS traz
como conceito:

O Programa Vizinhança Solidária é a ferramenta preventiva e moderna que


se predispõe à resolução de conflitos de forma pacífica, em que os
envolvidos, por meio do diálogo, poderão chegar a uma solução adequada
do problema. É uma ferramenta técnica, flexível e ágil, de solução rápida que
visa atingir a satisfação dos interesses e necessidades dos envolvidos nas
questões controversas e está perfeitamente alinhada aos princípios da Polícia
Comunitária, que se caracteriza pela integração entre polícia e comunidade.
(MARCH et al., 2019, p. 76).

A Diretriz nº PM3-002/02/13 também traz seu conceito:

Consiste num conjunto de medidas destinadas a estimular os integrantes de


determinada comunidade à mudança de comportamento diante de fatos ou
condutas que possam afetar a ordem pública da localidade onde vivem,
trabalham ou estudam, conscientizando-os de sua importância e
responsabilidade nos assuntos relacionados à segurança pessoal e coletiva
e mobilizando-os a realizar ações de prevenção primária na preservação da
ordem pública. (SÃO PAULO, 2013).

Os conceitos apresentados apontam para uma reflexão voltada para a


mudança de posturas e atitudes das comunidades no sentido de se conscientizarem
em torno de suas próprias seguranças e se movimentarem para o alcance deste fim.
O rompimento da apatia e anomia que se formam no seio das comunidades em função
de um ambiente permeado de delitos acabam por tornar as comunidades
participativas diante de tão perigoso cenário.

Alinhado a essa reflexão, a diretriz também traz o conceito do centro do


programa, a “Vizinhança Solidária”:

Grupo de pessoas que internalizam a necessidade de reduzir a intolerância


social, aproximar os vizinhos uns dos outros e resgatar a percepção de
segurança por meio de posturas preventivas individuais e coletivas,
materializada na expansão da vigilância para o contexto do grupo,

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desenvolvendo o sentimento de pertencimento social e dissipando a
indiferença para com o próximo. (SÃO PAULO, 2013).

Sobre o seu funcionamento, a adesão ao programa é voluntária após ser


apresentado pelo comando local, e a PMESP realiza nas localidades pactuadas as
visitas solidárias e comunitárias nas localidades. As comunidades por sua vez, devem
eleger um tutor que as represente e as mobilize para fins de orientação e instrução de
aspectos relacionados à prevenção de crimes, previamente repassados pela PM local.
A comunidade também providencia placas de segurança, conforme Figura 12, que
permanecem em localidades ostensivas e fáceis de visualização externa. (MARCH et
72
al., 2019).+

Figura 13 - Placa afixada nas comunidades que aderem aos PVS

Fonte: Anexo B da Diretriz nº PM3-002/02/13 de 13 de junho de 2013 (PMESP) (SÃO PAULO, 2013).

O PVS é implementado seguindo três distintas etapas, que, segundo


(MARCH et al., 2019, p. 90) se discriminam abaixo:

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Na 1ª Etapa do programa, são realizadas reuniões de mobilização e palestras
de sensibilização, esclarecimento e mobilizando a comunidade a respeito do
funcionamento do programa, bem como a adoção de medidas de prevenção
visando resgatar a sensação de segurança, estímulo ao surgimento de um
tutor que estará à frente do programa e orientará os demais moradores
quanto às medidas a serem adotadas;
Nas reuniões de mobilização é importante que sejam abordados temas que
possam esclarecer qual o papel da polícia; formas de prevenção e auto
preservação; o que é e qual o objetivo do PVS; qual o papel de cada um
(polícia e comunidade) dentro do programa; o que é e qual a função do tutor;
mostrar a importância do programa dentro do contexto de interação social.
Na 2ª Etapa ocorre a implantação propriamente dita do PVS com base nas
ferramentas inteligentes utilizadas para realizar o mapeamento das AISP,
caracterização e identificação dos índices criminais. Há ainda, a aquisição e
fixação de placas e faixas que identificam o programa.
Na 3ª e última Etapa ocorre a manutenção e mensuração do programa, por 73
meio de visitas comunitárias realizadas pelo tutor do PVS com o intuito de
demonstrar o interesse da Instituição no programa, visitas solidárias
realizadas à vítima de ocorrência policial registrada na localidade que tenha
aderido ao programa, realização de palestras e entrega de material
principalmente voltados à prevenção primária, monitoramento dos resultados
e reflexos após a implantação do programa. (MARCH et al., 2019, p. 90)

Após a adesão das comunidades ao programa, conforme mencionado na última


etapa, as localidades recém as visitas comunitárias, que, segundo a Diretriz que
institucionalizou o programa menciona seu conceito:

Consiste no contato periódico de policial militar do Programa de Policiamento


Comunitário com os integrantes da comunidade, com a finalidade de estreitar
relações e criar vínculos de confiança mútua, permitindo que a Instituição
conheça os reais problemas de segurança pública que o afligem e adote as
providências cabíveis visando solucioná-los. (SÃO PAULO, 2013).

Já a visita solidária,

Consiste no contato de policial militar com vítima de ocorrência policial,


previamente analisada e triada pelo Cmt de OPM, visando a demonstrar
conhecimento do fato e solidariedade frente ao ocorrido, esclarecendo os
esforços que a Polícia Militar envidará para manter a segurança pública na
região onde o delito ocorreu e orientando acerca das medidas de prevenção
primária que poderão ser adotadas a partir de então. (SÃO PAULO, 2013).

É certo que o PVS possui extenso detalhamento que não se encerra nesta
seção, perfazendo importante medida de conscientização das comunidades no
sentido de sua autoproteção, empoderamento e responsabilização conjunta enquanto
partícipe na coprodução da segurança e ordem pública.

Núcleos de Mediação Comunitária (NUMEC)

Outra ação da Polícia Militar de São Paulo é o desenvolvimento e a execução

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CAPÍTULO 4 – POLÍCIA COMUNITÁRIA NO
ESPÍRITO SANTO: “A POLÍCIA INTERATIVA”
O quarto capítulo tem por objetivo expor a introdução da Polícia Interativa
enquanto forma inicial de aproximação da Polícia Militar do Espírito Santo junto às
comunidades capixabas, seus aspectos históricos mais relevantes e as ações
desencadeadas dentro dessa filosofia.
101
4.1 A ‘POLÍCIA INTERATIVA’ ADOTADA NO ESPÍRITO SANTO

###

As práticas policiais estão sintonizadas com a soma da construção histórica


dos valores e cultura da sociedade, dentro do seu contexto específico, aliada às
experiências individuais e profissionais dos policiais, com uma maior ou menor
influência da coletividade nas decisões tomadas pelos gestores públicos. Dessa
forma, na segurança, poderemos entender a distância histórica na relação entre
polícia e sociedade, com vistas a alcançar dosagens maiores de cidadania para
alcançar uma polícia cidadã.

Se o “DNA das polícias” apresenta características sectárias


(discriminatórias), patrimonialistas (ênfase ao patrimônio) e guerreiras (ênfase
ao combate ao inimigo) e a ideologia pré-1988 era a do combate ao “inimigo”, os
tempos mudaram e tornou-se imprescindível acompanhar tais mudanças. Por sua vez,
a sociedade brasileira também não obtinha resposta adequada aos seus anseios. A
cidadania era – ou ainda é – um conceito, e não uma prática (ARAÚJO; COSTA;
FERNANDES, 1998).

Já antes de 1988 e da promulgação da nova Constituição Federal brasileira,


sinais de uma abertura política se mostravam à população. No Espírito Santo, através
do Decreto 2.171, de 13 de novembro de 1985, ficou autorizada a criação de
Conselhos Comunitários de Segurança. Tal política só se concretizou em 1994, na
cidade de Guaçuí, região sul do estado, próxima à divisa com os estados de Minas
Gerais e Rio de Janeiro.

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A sociedade guaçuiense, segundo o Censo/1991 do IBGE, contava em 1990
com uma população de 21.712 habitantes, mas para efeito de comparações, a capital,
Vitória, possuía 253.758 habitantes à época. Entretanto, a despeito das dimensões
geográficas e populacionais, a pequena Guaçuí tornou-se grande na forma de se
pensar e fazer policiamento no Espírito Santo e, em larga medida, no Brasil.

A cidade de Guaçuí, embora interiorana, possuía experiências que a colocavam


à frente no processo democrático capixaba e brasileiro. Barreto apud Menezes (2010)
aponta que em 1927, a terceira mulher brasileira a ser inscrita como eleitora – D.
Emiliana Vianna Emery – era cidadã guaçuiense. Destaca-se que apenas em 1934, 102

dez anos depois, o direito ao voto seria garantido pela constituição ao restante das
mulheres brasileiras.

Para Moulin (2003, p.106): “Antes da Polícia Interativa de Guaçuí, a PM


mantinha a velha mentalidade repressora e não aceitava críticas (...)”. O autor ainda
descreve as transformações experimentadas pela PMES:

A Polícia Interativa mostra claramente que o Espírito Santo muda a versõ,


alinha a conexão e a finalidade da polícia. Se a Polícia se transformou em
alguns momentos da história, se as Polícias Militares foram o braço armado
do Estado em relação ao cidadão dissidente, parece aqui que nós
começamos a retomar a função clássica da segurança pública para entender
que a discussão não é uma questão exclusivamente policial. É uma questão
basicamente de liberdade individual. Moulin (2003, p.83).

Em 1989, a Constituição Estadual do Espírito Santo, em seu artigo 124,


parágrafo único amplia o poder e a responsabilidade popular nas políticas públicas de
segurança:

Parágrafo único. Fica assegurado, na forma da lei, o caráter democrático na


formulação da política e no controle das ações de Segurança Pública do
Estado, com a participação da sociedade civil (ESPÍRITO SANTO,1989).

Acompanhando as mudanças de cenário que se apresentavam, dentro e fora


dos territórios capixabas, o então capitão da PMES Júlio Cézar Costa, comandante
da 2ª Companhia do 3º Batalhão da PM, sediada em Guaçuí, hoje coronel da reserva
remunerada da PMES, desenvolveu em julho de 1991, o POP-Com – Policiamento
Ostensivo Produtivo-Comunitário, estratégia de melhor aproveitamento dos recursos
policiais junto à comunidade local, atendendo aos seus anseios de forma participativa,
uma vez que a população participava das decisões das políticas locais de segurança.
Reunidos através dos Conselhos Interativos de Segurança (CISEG), representantes

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da sociedade civil perceberam que tinham voz junto ao Poder Público, sendo também
responsáveis pelas decisões tomadas.

Várias reuniões antecederam à formalização do CISEG, permitindo assim,


que Guaçuí fosse a primeira cidade capixaba, a dar cumprimento ao
mandamento constitucional, que autoriza a participação da sociedade na
formulação das políticas públicas de segurança, pois desde o seu
nascedouro, a participação comunitária na formulação das questões locais
de Segurança Pública, trilhou pelo caráter democrático e isento, da eclética
participação de todos os segmentos da sociedade (ARAÚJO; COSTA;
FERNANDES,1998, p. 11).
O Coronel Júlio Cézar Costa narrando o surgimento do termo ‘Polícia
Interativa’, relata que, ainda tenente na PMES, reencontrou-se com um de seus 103
instrutores na PM de Pernambuco – onde se formara Aspirante a Oficial da PMES –
e tal oficial, perguntou-lhe sobre os projetos que realizava na cidade de Guaçuí.
Ao responder que trabalhava a ideia de uma polícia que interagia mais com a
comunidade, recebeu, em tom de brincadeira, a seguinte resposta: “então, estás
fazendo uma polícia interativa”. Daquele diálogo, o oficial capixaba providencia a
colocação de duas grandes placas nas entradas da cidade com os seguintes dizeres:
“Em Guaçuí, você tem uma Polícia Interativa”.
A foto abaixo apresenta o retrato do coronel RR Júlio Cézar Costa da PMES,
idealizador da Polícia Interativa no Estado do Espírito Santo:
Figura 32 - Coronel Júlio Cézar Costa

Fonte: Acervo pessoal do coronel QOC RR Júlio Cézar Costa1.

Segundo Araújo, Costa e Fernandes (1998, p. 87),

A experiência originária da cidade de Aberdeen na Escócia, com os


chamados ‘team policing’ ou equipes de policiamento, comprovam que, para
que se efetive a comunitarização da polícia, é necessária a aplicação do
exercício de policiamento com profissionais ambientados na circunscrição
social onde se desenvolve a parceria. As partes devem se conhecer, pois
somente através dos contatos pessoais de seus integrantes é que se obterá

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êxito no controle da criminalidade, visto que policiar é, sobretudo conhecer,
investigar, obter informações, entre outros tantos aplicativos.
Assim sendo, a experiência de Guaçuí demonstrou que a permanência do
profissional de polícia junto a uma devida circunscrição geográfica culmina em um
maior conhecimento da realidade. (CAMPOS, 2010).

O trabalho policial em Guaçuí recebeu as atenções da mídia, pela condução


diferenciada das decisões na Segurança Pública local, e também pelos resultados
alcançados. Moulan (2003, p.72) aponta que “(...) o modelo de Polícia Interativa
deixou de ser propriedade da pequena Guaçuí e ganhou dimensões nacionais e
104
internacionais (...)”.

Através de reuniões com a comunidade local, participação em programas de


rádio, utilização da “urna interativa”, emprego dos SAC (Serviços de Atendimento aos
Cidadãos) e do telefone disque-interativa, destinados a sugestões e denúncias sobre
o atendimento policial, com o encaminhamento dos problemas a outras esferas do
poder público. Guaçuí desponta como o berço da Polícia Interativa Capixaba e a
Polícia Comunitária no Brasil, termo em destaque que ficou mais conhecido após uma
série de entrevistas dadas à Rede Globo de Televisão, quando a repórter Sandra
Passarinho sugeriu a mudança do nome POP-Com para Polícia Interativa, por se
tratar de neologismo mais alinhado à época. (MOULIN, 2003).

E àquela época, para uma boa atuação, a polícia local precisava de


informações sólidas, obtidas através da participação ativa e responsável da sociedade
guaçuiense, a melhor fonte de subsidiar a chamada “repressão qualificada”:

Os órgãos policiais destinar-se-ão ao eficaz controle da criminalidade através


da percepção de que o êxito da atuação policial depende do conjunto de
informações disponíveis que possibilitem uma operacionalidade racional
(ARAÚJO; COSTA; FERNANDES,1998, p. 93).

Entre os anos de 1995 a 2002, principalmente, o Espírito Santo difundiu a


filosofia e metodologia de polícia interativa a outros Estados e países. A participação
popular nas decisões sobre Segurança Pública tornou-se necessária na elaboração
das políticas públicas de segurança, bem como a sua execução. Através da Polícia
Interativa, a população se sente fortalecida e, confiando no comprometimento da
polícia, passa a atuar como parceira e maior colaboradora com as ações policiais.
Neste sentido aponta Menezes (2008):

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Interatividade é uma das principais características da Polícia Comunitária.
Não existe polícia sem sociedade. Sem ouvirmos e responder às
necessidades da sociedade de forma transparente, inclusive quando
falhamos, não se consegue fazer Polícia Comunitária. Essa transparência
nos assegura o respeito da população. Não há como se esconder na “grande
rede”. Na Polícia Comunitária é preciso se mostrar, de ambos os lados, para
que haja confiança mútua na resolução dos problemas criminais, que agora
não possuem apenas um caráter policial, mas sim um aspecto mais amplo,
carecendo da participação de todos, sob pena de fracasso das ações,
desperdício de recursos humanos e materiais e risco à incolumidade das
pessoas, nosso bem maior2.

Como forma de melhor evidenciar e apresentar didaticamente a importância


fortíssima do pioneirismo de Guaçuí para o Espírito Santo e o país, encontra-se
105
exposto no quadro abaixo relatos de autores renomados na área de segurança pública
no Brasil:

Quadro 17 - Opiniões acerca da Polícia Comunitária em Guaçuí


(Continua)

[...] Cláudio Beato (2011) faz menção à experiência desenvolvida nas cidades de Guaçuí e
Alegre, no Espírito Santo em 1994, quando o então tenente Júlio Cézar Costa, orientado
pelo Coronel Cerqueira, exercitou medidas de preservação da ordem pública, que poderia
ser considerada como a primeira experiência brasileira de polícia comunitária. Esta
experiência foi denominada de Polícia Interativa (MARCINEIRO, 2009, apud COSTA e
FERNANDES, 2002, p. 45).

[...] Eu diria que o Espírito Santo tem uma experiência sobre isso. Foi o primeiro a lançar o
programa de policiamento comunitário no país, o policiamento interativo. Foi também o
primeiro a criar programas de policiamento comunitário em favelas, como nós vemos no Rio, as
UPPs. A questão é que aqui essas coisas não duraram. E não duraram porque faltou um plano.
E esse plano não é um papel escrito. É aquele que todo mundo assina, que todos nós
construímos juntos, na forma de um pacto social (MUNIZ, 2011, apud COSTA e FERNANDES,
2012, p. 45).

[...] Na cidade de Guaçuí foi implantado, em 1994, o policiamento interativo, com um novo
modus operandi para o policiamento ostensivo tradicional, realizado com policiamento
ostensivo produtivo-comunitário. Idealizado pelo capitão Júlio Cezar Costa, foi iniciado por uma
companhia do 2º Batalhão da Polícia Militar do Espírito Santo e hoje constitui uma realidade no
Estado e em outras cidades do país. (PEDROSO, 2005, apud COSTA e FERNANDES, 2012, p.
46).

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2020
Quadro 17 - Opiniões acerca da Polícia Comunitária em Guaçuí
(Conclusão)

[...] O primeiro policiamento interativo foi adotado a partir de 1994 em Guaçuí, cidade de 20
mil habitantes situada a 250 quilômetros ao sul de Vitória, a apenas 6 quilômetros da divisa como
Estado do Rio de Janeiro. Sua proximidade com o Rio favoreceria a expansão do crime
organizado, envolvendo até policiais. A luz verde para a adoção do modelo foi dada pelo então
prefeito Luiz Ferraz Moulin, advogado especializado na França em sociologia do
desenvolvimento e ex-exilado político. Em Guaçuí, segundo Moulin – que foi prefeito em duas
gestões, a primeira na década de 1980, a polícia agiu de forma desorganizada e autoritária: “O
cala-a-boca e o pescoção eram os cartões de visita dos policiais” (OLIVEIRA, 2002, apud COSTA
e FERNANDES, 2012, p.47).

Fonte: Adaptado de Costa e Fernandes (2012, p. 45 a 47). 106

A seguir, o breve histórico dos fatos mais importantes ocorridos no âmbito da


PMES contextualiza a importância da temática para a sociedade capixaba e o
pioneirismo no Brasil:

Quadro 18 - Histórico da implantação da filosofia de Polícia Interativa no ES


(Continua)

ANO ACONTECIMENTO

1985 Vitória – Decreto nº 2.171 (Criação dos Conselhos Comunitários);

1988 Alegre – 1º Conselho Comunitário de Segurança.

1994 Guaçuí – Implantação do Policiamento Interativo.

1994 1º Encontro Estadual sobre Polícia Interativa em Guaçuí.

1995 1º Fórum Nacional sobre Polícia Interativa em Guaçuí.

1996 Inclusão do projeto no Plano Nacional de Direitos Humanos.

Programa semifinalista do Concurso de “Gestão Pública e Cidadania”, pelas fundações


1996
FORD e Getúlio Vargas.

1996 Recomendado como modelo exemplar por consultoria independente do PNDU/ONU.

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2020
Quadro 18 - Histórico da implantação da filosofia de Polícia Interativa no ES
(Conclusão)

ANO ACONTECIMENTO

Apresentação do modelo interativo no Parlamento Canadense, reconhecido pelo do


1997 Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e Universidade de
Ottawa, Canadá.

Criação da Comissão Permanente de Sistematização dos Conselhos Interativos de


1999
Segurança Pública, do Comando-Geral da PMES.

1999 Criação dos Parâmetros do Modelo Interativo de Polícia. 107

1999 PRO-PAS (Programa de Planejamento de Ações de Segurança Pública).

2001 Prêmio Motorola do Brasil de melhor modelo de policiamento comunitário do país.

Publicação da experiência do Morro do Quadro no livro “Policiamento Comunitário:


2003
experiências no Brasil 2000-2002, do Ministério da Justiça.

Projeto REPAS (Rede de Promoção de Ambientes Seguros) é destaque nacional na 1ª


2009
Conferência Nacional de Segurança Pública – CONSEG / Senasp / MJ.

Criação do Sistema de Polícia Comunitária Interativa, com ativação da Coordenadoria


2009 Estadual de Polícia Interativa e Comissão de Sistematização do Modelo através da
Portaria 477-R/2009 da PMES.

Lançamento oficial do Território de Paz, com a presença do Presidente da República,


2009
no bairro São Pedro em Vitória/ES.

Criação do Sistema de Governança Operacional dos Territórios de Paz, que estabelece


2010
os novos parâmetros da Polícia Interativa no Espírito Santo.

Fonte: Adaptado do Histórico da Polícia Interativa no Espírito Santo3.

4.2 PARÂMETROS PARA A SISTEMATIZAÇÃO DO MODELO

Em outubro de 1999, através da Diretriz de Instrução nº 03 – EMG/PMES


foram instituídos os Parâmetros para o Modelo Interativo de Polícia, que regularam
a forma de instalação dos Conselhos Interativos de Segurança, conceituando as
características do modelo capixaba, entre outras orientações. A seguir verificam-se
alguns importantes conceitos que nortearam a Polícia Interativa no Espírito Santo no

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âmbito do referido instituto estabelecido na Corporação.

4.2.1 Definindo o Modelo Interativo

A definição do Modelo Interativo de Polícia (A Polícia Interativa) parte de uma


derivação de “polícia comunitária”, e ostenta-se como um serviço completo de
policiamento (preventivo e repressivo), através da parceria com as comunidades; na
identificação, priorização e resolução de problemas de segurança pública e outros. O
policiamento interativo baseia-se numa filosofia inovadora no campo da Segurança 108
Pública, onde as comunidades participam da elaboração das políticas voltadas para
as ações policiais, através da visão preventiva, junto aos órgãos oficiais da Polícia, de
maneira permanente e organizada (TROJANOWICZ; BOUCQUEUROUX, 1994).

Deve ser implantado de forma descentralizada e personalizada, buscando a


participação comunitária por meio de discussões, informações, sugestões e críticas.

Seu objetivo principal pauta-se na melhoria da qualidade de vidade todo o


grupo social, através da diminuição dos índices de criminalidade, devendo ser
abolidos os sectarismos sociais e econômicos.

4.2.2 Principais Objetivos

###

Segundo Miranda, Rodrigues e Tatagiba (2008, p. 33 e 34), foram estes os


principais objetivos da ‘Polícia Interativa’ no Espírito Santo:

VAI CAIR - Melhorar da qualidade de vida na sociedade;


- Estabelecer o bem-comum acima de todos os interesses particulares ou
de classes, sem discriminação de qualquer ordem;
- Respeito e promoção de todos direitos do ser humano/cidadão;
- Incrementar a mentalidade de uma polícia cidadã;
- Aproximar reciprocamente a sociedade e a Polícia;
- Interagir de maneira permanente e organizada com os vários segmentos
da sociedade;
- Inserir os princípios de qualidade e produtividade, de maneira coerente,
na prestação do serviço policial. O cidadão como cliente da PM;
- Descentralizar o poder e as responsabilidades da Segurança Pública entre
os policiais e as comunidades;
- Aumentar a sensação de segurança na sociedade;
- Melhorar a imagem da Polícia Militar, baseada na credibilidade em seus
profissionais e serviços;

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- Diminuir dos índices de criminalidade nas regiões atendidas pelo
policiamento.

4.2.3 Principais Características

As principais características do modelo interativo de polícia adotado pela


PMES, segundo a Diretriz de Instrução Nº 003 de 01/10/1999, foram recepcionados
pela PMES na década de 1990 e até hoje estão contidas nas características da Polícia
Comunitária no âmbito nacional. As características estão adiante listadas nos quadros
abaixo:

Quadro 19 - Princípios da Comunitarização 109


A comunidade participa na escolha de prioridades e avaliação do
GESTÃO PARTICIPATIVA E
serviço executado, através de conselhos comunitários de
PRESTAÇÃO DE CONTAS
segurança.

Troca de informações: a PM orienta sobre o sistema de


INTERAÇÃO segurança e a comunidade informa problemas através de
urnas, disque denúncias, contatos pessoais e outros meios.

A permanência dos policiais ao maior tempo possível trabalhando


FIXAÇÃO DO EFETIVO no mesmo posto ou setor é essencial para possibilitar sua atuação
interativa contínua.

Fonte: Adaptado da Diretriz de Instrução Nº 003 de 01/10/1999 do EMG/PMES.

Quadro 20 - Princípios da cidadanização


Opção da polícia por participar no desenvolvimento de um estado
POLITIZAÇÃO democrático de direito, deslocando a ênfase do controle social para a
mediação de conflitos.

“Toda instituição policial deve ser representativa da comunidade como um todo


SUPERVISÃO CIVIL
e deve ser responsável perante ela e prestar lhe contas”. (Resolução 34/169
DA POLÍCIA da Assembleia das Nações Unidas, de 17 Dez 79).

DEFESA DOS
A polícia resgata sua função, assumindo compromisso existencial de defesa do
DIREITOS pacto social com o respeito à vida antes de tudo.
HUMANOS

Os Conselhos Interativos não devem ter na sua Diretoria e em seus


Conselhos membros que exerçam cargos públicos eletivos, como uma das
ISENÇÃO POLÍTICO-
formas de evidenciar na comunidade o seu caráter não partidário, caráter este
PARTIDÁRIA que deve revestir todos os seus atos, para que sua atuação não se confunda
com interesses político eleitorais.

Fonte: Adaptado da Diretriz de Instrução Nº 003 de 01/10/1999 do EMG/PMES.

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somavam 114 (cento e quatorze) Conselhos atuantes e, em 2008, não passavam de
38 (Trinta e oito) conselhos. Foram vários os motivos levantados nesse diagnóstico
que acarretaram entraves para os seus funcionamentos, dentre os quais, e
principalmente, as descontinuidades das políticas públicas de segurança.

Entre os anos de 2015 e 2016 foi realizado um levantamento promovido pela


Diretoria de Direitos Humanos e Polícia Comunitária. Segundo dados produzidos no
Relatório de Pesquisa Técnica realizado em decorrência desse levantamento, 22
(vinte e dois) conselhos encontram-se em atividade no Espírito Santo, reduzindo ainda
mais se comparando os anos de 1999 e 2008. 114

4.4 O MÉTODO INTERATIVO DE POLÍCIA: AS MODALIDADES DE INTERAÇÃO

O contexto das modalidades de interação adotadas na Polícia Militar na década


de 90 pode ser mais bem evidenciado conforme (ARAÚJO; COSTA; FERNANDES,
1998, p.93):

O programa de interação comunitária da Polícia Militar do Espírito Santo,


iniciado em Guaçuí, a partir de 1994, desenvolveu ineditamente o método de
interatividade, consubstanciado nas seguintes modalidades de interação,
destacando-se para compreensão didática, que estas serão executadas de
forma simultânea e sincronizada para o alcance dos resultados esperados.

A foto abaixo ilustra um dos principais momentos da implantação da Polícia


Interativa, o momento da interação funcional, a apresentação da nova interna ao
público interno por parte do então capitão Júlio César Costa, idealizador do formato
implantado no Espírito Santo e disseminado pelo país:

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Figura 34 - Reunião com a tropa de Guaçuí

115

Fonte: Adaptado de Moulin (2003, p. 51).

Essas etapas, segundo citação anterior compreendem as “modalidades de


interação” que norteiam as etapas da implantação da filosofia de polícia
interativa/comunitária no seio das comunidades. Neste sendo, tais modalidades estão
apresentadas no quadro abaixo:

Quadro 23 - Modalidades de interação


(Continua)

MODALIDADES DE INTERAÇÕES

Nesta fase, o público alvo é a própria corporação. Deve-se


primeiramente, investir na mudança das mentalidades operacional e
administrativa, aplicando políticas internas de valorização, capacitação,
INTERAÇÃO FUNCIONAL aperfeiçoamento, reciclagem e melhoria das condições de trabalho do
policial. É indispensável o desenvolvimento de um trabalho permanente
de conscientização e disseminação da filosofia comunitária, envolvendo
toda a escala hierárquica da polícia.

Consiste em mobilizar recursos internos e externos à polícia, no intuito


de promover e consolidar a parceria com as comunidades e agências
públicas e civis – elemento essencial no processo de comunitarização
do provimento de ordem pública. Recomenda-se o emprego de
INTERAÇÃO
expedientes criativos para sensibilizar e envolver as comunidades e
ESTRATÉGICA E SOCIAL suas lideranças nas atividades do programa. Deve-se, ainda, fazer uso
de dispositivos formais e informais que visem não só garantir e ampliar
a participação comunitária, como também estimular o convívio social
entre policiais e cidadãos.

Esta etapa ocupa-se de inventariar os meios legais necessários para


institucionalizar os Conselhos Interativos de Segurança – instâncias
INTERAÇÃO comunitárias deliberativas, responsáveis por levantar os recursos
FINANCEIRA/LOGÍSTICA financeiros necessários à realização dos objetivos do programa;
desenvolver estratégias conjuntas com os órgãos de segurança; e
fiscalizar suas atividades.

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Quadro 24 - Modalidades de interação
(Conclusão)

MODALIDADES DE INTERAÇÕES

Reporta-se a necessidade de reforçar as iniciativas voltadas para a


busca de cooperação das agências municipais e estaduais
comprometidas – direta ou indiretamente – com o provimento de ordem
e segurança públicas. Trata-se de ampliar os recursos públicos
INTERAÇÃO
disponíveis, através da ação coordenada com o poder local, a Polícia
COMPLEMENTAR Judiciária e o Ministério Público. Em harmonia com a necessária
descentralização das atividades de comando, recomenda-se que esse
trabalho cotidiano de interação seja realizado pelos policiais
responsáveis pelos setores ou sub-áreas contempladas pelo programa.

116
Refere-se à alocação dos recursos humanos e materiais disponíveis,
para o exercício dos serviços de polícia. Objetivando uma maior
proximidade com a população, sugere-se que as unidades
operacionais ultrapassem as fronteiras e se enraízem no interior das
comunidades. O corpo interativo (batalhão/superintendência de polícia
judiciária) deve ser dividido em núcleos interativos
(companhias/delegacias), e estes em células interativas (pelotões,
INTERAÇÃO TÁTICA destacamentos, entre outros). Salienta-se que o planejamento e a
execução do policiamento ostensivo devam orientar-se pelas
estatísticas policiais e pelas necessidades e expectativas das
comunidades, expressas nas reuniões do Conselho Interativo ou
através de outras formas de interação. Cabe ainda observar que o
emprego tático supõe que as etapas anteriores estejam concluídas ou
encontrem-se bastante adiantadas.

Fonte: Araújo, Costa e Fernandes (1998, p. 93, 94 e 95) 4.

4.5 AÇÕES DECORRENTES DO MODELO DA “POLÍCIA INTERATIVA” EMPREGADOS


NO ESPÍRITO SANTO

4.5.1 Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)

###

VAI CAIR Sob os aspectos da responsabilidade territorial e fixação do efetivo policial,


existem as estruturas fixas de policiamento conhecidas como os antigos DPM’s
(Destacamentos Policiais Militares), hoje denominados SAC’s (Serviços de
Atendimento aos Cidadãos) e, neste sentido, cada SAC sedia uma célula interativa,
conforme citação abaixo:

O corpo interativo (batalhão/superintendência de polícia judiciária) deve ser


dividido em núcleos interativos (companhias/delegacias), e estes em células
interativas (pelotões, destacamentos, entre outros). Salienta-se que o
planejamento e a execução do policiamento ostensivo devam orientar-se
pelas estatísticas policiais e pelas necessidades e expectativas das
comunidades, expressas nas reuniões do Conselho Interativo ou através de

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outras formas de interação. Cabe ainda observar que o emprego tático supõe
que as etapas anteriores estejam concluídas ou encontrem-se bastante
adiantadas (ARAÚJO; COSTA;FERNANDES, 1998, p.96).

A célula interativa, conforme citação anterior compreende um espaço


geográfico de um ou mais bairros tendo como sede um SAC devidamente comandado
por um graduado e, o conjunto de células interativas, por sua vez, compreende a área
de uma companhia PM. Em continuidade, cada Célula é comandada por um sargento
PM, graduado responsável pelo funcionamento administrativo e operacional, bem
como das comunidades que se encontram na área de atuação daquele SAC.
117
Para melhor exemplificar a visão espacial da alocação e associação dos SAC’s
dentro de cada Célula Interativa, pode-se visualizar a figura abaixo:

Gráfico 2 - Divisões das células interativas e SAC


SUB-ÁREA DE COMPANHIA PM

CÉLULA
INTERATIVA 2 CÉLULA
CÉLULA INTERATIVA 3
INTERATIVA 1

CÉLULA
INTERATIVA 4

CÉLULA
INTERATIVA 5

SAC's

Fonte: Adaptado de Araújo, Costa e Fernandes (1998, p. 96).

Essas estruturas encontram-se sediadas nas mais diversas localidades como


sendo referências para a população e para a própria PMES.

Os SAC constituem-se na setorização territorial das ações táticas da PM,


atuando como pontos referenciais para atendimento as comunidades de forma
descentralizada. Visam estabelecer a efetiva prática da comunitarização da Polícia
Militar, pois além de se fazer mais acessíveis, procuram atuar de maneira enfática na
resolução preventiva dos problemas originados no dia-a-dia das comunidades. Esses
problemas, por vezes pelo pequeno impacto são desprezados, mas que são

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alimentadores do aumento da sensação de insegurança e de temor da sociedade
(ARAÚJO; FERNANDES; COSTA, 1998).

Figura 35 - Serviço de Atendimento ao Cidadão

118

Fonte: Adaptado de Moulin (2003, p.60).

O principal elo entre as comunidades e a PM é o motivador, comandante do


SAC, que deve ser função de um Sargento. Dentre as obrigações de fiscalização o
sargento motivador deve desenvolver ações de mobilização comunitária buscando a
participação das comunidades na discussão da Segurança Pública.

Neste sentido, conforme “Cartilha de Polícia Interativa” criada pela Polícia


Militar do Espírito Santo (2010), há de se observar algumas atribuições específicas
dos graduados à frente de cada SAC:

I. Fiscalizar o efetivo policial lotado no SAC sob vários aspectos


relacionados à conduta, disciplina e o cumprimento de ordens;
II. Controlar a utilização das instalações físicas do SAC, bem como a
utilização de telefone;
III. Atendimento do telefone com educação e devida identificação por
parte do servidor;
IV. Assinar e acompanhar todas as alterações lançadas no Livro de
Partes diárias do SAC, levando ao conhecimento do Comandante da
Cia PM aquelas que escapem de suas atribuições;
V. Atender e fazer atender bem o público externo;

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VI. Dar o encaminhamento de ocorrências policiais acionando viatura
policial se for o caso;
VII. Levantar as prioridades no dia a dia da sociedade local, propondo ao
comandante de Cia PM ações que venham melhorar os serviços
locais;
VIII. Realizar diagnósticos locais apresentando-os ao Comandante de Cia
PM para os encaminhamentos diversos;
IX. Participar de reuniões em nível de bairros visando coletar e transmitir
informações dentro de sua esfera de atribuições;
X. Manter-se em constante sintonia e diálogo junto aos presidentes de
associações comunitárias, bem como dos demais órgãos
pertencentes à célula interativa;
XI. Acompanhar os dados estatísticos da área a que está afeto e possuir
criatividade para a alocação de mudanças.

Há várias outras missões de incumbência do Comandante de Cia PM e em 119


conformidade com a legislação em vigor e que abordam de maneira relevante a
filosofia de polícia comunitária.

4.5.2 Urnas Interativas

Conforme Araújo, Costa e Fernandes (1998, p.91), as urnas Interativas são


conceituadas como sendo:

(...) caixas coletoras tipo as dos correios, colocadas em pontos estratégicos


da cidade, visando captar as demandas societais por segurança pública.
Atuam como uma excelente fonte de informações que, após analisadas,
servirão para a facilitação do trabalho operacional da polícia.

Essas ações serviam também para lastrear a comunitarização da Polícia e


nivelar o perfil de todos os policiais que atuam na célula interativa. As informações,
reclamações e sugestões, são avaliadas pelo Motivador a quem compete dar o retorno
nas reuniões comunitárias.

Figura 36 - Urnas Interativas

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120

Fonte: Site da Voz da Barra – Notícias de Barra de São Francisco5.

4.5.3 “Operações Panfletagens”

Essas operações são estratégias que buscam maior aproximação da


comunidade, através da divulgação de informações importantes à população em prol
de uma cultura de paz, mantendo os laços de confiança, cordialidade e credibilidade
entre a instituição e a sociedade.

Eram realizadas com o apoio de outras entidades como forma de demonstrar a


integração das agências de controle social na busca por uma Segurança Pública de
qualidade.

4.5.4 Visitas Tranquilizadoras

######

Nas visitas tranquilizadoras, o policial deve divulgar contatos que estreitem a


distância com a comunidade em caso de algum problema a ser resolvido.

Após a incidência de um delito, verifica-se a necessidade do corpo policial


realizar visitas às vítimas de delitos para a coleta de maiores informações ou até
mesmo tranquilizar as pessoas que estiveram sob o efeito da violência. Nessas visitas,
muitas informações podem ser obtidas, sobretudo, de autoria de delitos, fatos que
ajudarão no trabalho de identificação dos problemas daquela comunidade, bem como
dar atenção e humanidade àquelas pessoas que necessitam de atenção por parte do

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poder público.

Figura 37 - Visita tranquilizadora realizada pela PMES no Morro do Quadro/Cabral

121

Fonte: Adaptado de Estratégias e desafios: violência, direitos humanos e segurança pública, p. 157.
Figura 38 - Visita tranquilizadora realizada pela PMES no Morro do
Quadro/Cabral

Fonte: Adaptado de Estratégias e desafios: violência, direitos humanos e segurança pública, p. 132.

4.5.5 Missões cotidianas dos policiais interativos

###

O policial interativo de uma forma geral deve sempre buscar a interação com a
VAI CAIR comunidade a qual serve, portanto é imprescindível que saiba conduzir suas ações
diárias no trato com as pessoas que farão parte da sua relação quer com fins
preventivos ou repressivos. Conforme “Cartilha de Polícia Interativa” criada pela
Polícia Militar do Espírito Santo (2010), todos os policiais interativos devem primar por:

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- Conhecer as particularidades da área da Célula Interativa, fortalecendo o
contato com moradores, comerciantes e lideranças;
- Compreender e difundir os preceitos da Polícia Interativa;
- Orientar e prestar informações sobre locais de interesse coletivo, órgãos
públicos de atendimento ao cidadão, bem como dicas de segurança;
- Realizar visitas, conforme programação da Célula Interativa;
- Cumprir os cartões-programa e, nos PB’s (pontos-base), manter contato
com público local, conhecendo seus problemas e aumentando a interação
social;
- Registrar e encaminhar ao Comandante da Célula Interativa os pontos
críticos e informações de interesse para o policiamento interativo, visando
aprimorá-lo;
- Realizar o patrulhamento com velocidade compatível ao policiamento
ostensivo de modo a visualizar as alterações no setor de serviço e ser
visto pelos cidadãos;
- Ser cortês e educado no trato com as pessoas, sempre pronto a servir e 122
responder às demandas solicitadas;
- Conscientizar as pessoas que residem ou trabalham no setor do
policiamento ostensivo sobre a importância da parceria entre a sociedade
civil e a Polícia Militar;
- Conhecer os endereços e telefones de órgãos públicos para que possa
informar as pessoas, quando solicitado;
- Fazer anotações sobre as ocorrências atendidas durante o turno de
serviço e repassar às demais equipes, para continuidade das ações
policiais;
- Incentivar o cidadão a participar na identificação, priorização e solução
dos problemas da comunidade;
- Trabalhar de modo a prevenir as ocorrências, conhecendo os fatores
motivadores do crime ou da desordem na região;
- Agir de acordo com a lei e a ética policial.

4.5.6 O Programa de Planejamento de Ações de Segurança Pública (PRO-PAS)

O Programa de Planejamento de Ações de Segurança Pública do Estado do


Espírito Santo (Pro-pas), conforme editorial do jornal A Gazeta de 02 de dezembro de
1999:

É dada a partida para a maior reforma de base da história recente da


Segurança Pública no Espírito Santo. Presume-se que a implantação total do
conjunto de medidas, arrojadas e inteligentes, transmitirá à sociedade a
sensação de que estará mais bem protegida contra a sanha da criminalidade.
Essa esperança origina-se de uma percepção há muitos anos não verificada:
o aumento da capacitação profissional das polícias civil e militar. (COSTA;
FERNANDES, 2012, p. 123).
Um gravoso quadro de violência criminalizada se instalou no Espírito Santo por
meio de presídios depredados e um percentual enorme de presos em fuga, delegacias
superlotadas com presos provisórios, a ocorrência de várias greves nas polícias,
enorme quantidade de assaltos a bancos e com o número de homicídios crescendo a
cada dia, além do sucateamento completo e sem exceções das estruturas dos órgãos
de Segurança Pública.

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Para fazer frente ao cenário instalado, no ano de 1999 o governo do Estado
instituiu o Programa de Planejamento de Ações de Segurança Pública (Pro-pas) por
meio do Decreto nº 4.557-N, de 10 de dezembro de 1999, pretendendo definir uma
nova arquitetura para os órgãos de defesa social. Moderno, o modelo de ordem
pública e de defesa da cidadania contava com inédito padrão gerencial para que os
órgãos de Segurança Pública se tornassem mais modernos, qualificados, visíveis,
eficientes e mais próximos da população. O objetivo era controlar a criminalidade,
reduzindo-a a patamares aceitáveis dentro dos padrões nacionais. (COSTA;
FERNANDES, 2012). 123

O novo modelo foi formatado por um conjunto de medidas, projetos e ações


capazes de atuar com eficácia na proteção e na paz social. A meta era restaurar a
sensação de segurança da sociedade com uma política pública estruturante e
duradoura, conforme pode ser verificado na imagem que sintetizaria a sua base
conceitual:

Figura 39 - Conjunto de projetos integrantes do Pro-Pas

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Fonte: Adaptado de (COSTA; FERNANDES, 2012, p. 168).

Para (COSTA; FERNANDES, 2012, p. 168 e 169):


O Pro-pas constituiu-se oficial e legalmente na primeira política pública na
área da Segurança Pública implantada no Espírito Santo. Foram oito projetos
que se subdividiam em subprojetos, abrangendo toda a área da Segurança
Pública, projetos estes incluídos no Plano Plurianual de Investimentos do
Governo do Espírito Santo 2000/2003, 37 figurando na unidade orçamentária
da então Secretaria de Estado da Segurança Pública (SESP).

Dentre muitos projetos contidos nesse profundo e dinâmico programa que o


Espírito Santo possuiu, também vale destacar alguns deles como o projeto de ações
124
impactantes, composto pelos Corredores de Segurança Ostensiva (CSO), Saturação
de Áreas e Zonas de Policiamento Integrado (ZPI).

Os Corredores de Segurança Ostensiva foi um subprojeto que teve como


principal objetivo o de aumentar a transparência e a visibilidade do policiamento
ostensivo nos principais eixos viários e locais de maior movimento e circulação de
pessoas e veículos, como prevenção à criminalidade e proporcionando maior
sensação de segurança à população. Foram distribuídos geograficamente em mais
de 40 ilhas de policiamento na Região Metropolitana da Grande Vitória e no interior.
Eram duas viaturas caracterizadas da Polícia Militar: uma fixa e a outra circulava e
interagia na comunidade, além de atender às ocorrências naquele perímetro. A
inovação capixaba rapidamente foi adotada por outras polícias militares, entre as
quais a do Estado do Rio de Janeiro, com o polígono de segurança, e pela Prefeitura
de Cachoeiro de ltapemirim e o seu "cinturão de segurança". (COSTA; FERNANDES,
2012).

A foto abaixo demonstra o posicionamento de uma ilha dos CSO na Praça de


Campo Grande em Cariacica:

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Figura 40 - Corredor de Segurança Ostensiva (CSO)

125

Fonte: Adaptado de (COSTA; FERNANDES, 2012, p. 184).

O subprojeto “Saturação de Áreas” teve como meta a identificação de áreas


de maior ausência estatal para que se intensificasse a presença do Estado, com ações
emergenciais voltadas para a defesa da cidadania e da melhoria da qualidade de vida
da população, impedindo o domínio territorial pelo tráfico de drogas. Envolveu a
Polícia Militar, a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros Militar, cada qual atuando em
sua área específica, de modo integrado e com planejamento conjunto. (COSTA;
FERNANDES, 2012).

O subprojeto das “Zonas de Policiamento Integrado (ZPI)” teve como


objetivo o de compatibilizar as áreas das circunscrições das polícias com as das
prefeituras municipais, por meio das administrações regionais. Foram baseadas nas
zonas de policiamento da cidade de Belém do Pará, concebidas pelo então secretário
de Defesa Social paraense, Paulo Sette Câmara. As regiões foram divididas em áreas
e em cada uma existia um único local onde as polícias civil e militar ficaram incumbidas
de executar o planejamento e ações conjuntas para controlar a criminalidade naquela
região. (COSTA; FERNANDES, 2012).

Outro projeto de muita relevância do Pro-Pas foi o de “A Gente de Paz” que


atuou de maneira emblemática num olhar intersetorial e com características
complementares ao meio policial. Seu contexto é apresentado abaixo:

O projeto "A Gente de Paz" foi idealizado com enfoque na interação e no


desenvolvimento comunitário e na diminuição dos fatores condicionantes da
criminalidade em bairros com pouca infraestrutura da Grande Vitória. Por
meio da organização popular, o objetivo era promover o resgate da cidadania,
com ações direcionadas à geração de renda e ao exercício da atividade de

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Fonte: Acervo da REPAS – Página pública do Facebook da REPAS.

Figura 44 - Coronel Jaílson Miranda - Idealizador da REPAS

131

Fonte: Acervo da REPAS – Página pública do Facebook da REPAS.

4.5.9 Territórios de Paz – Região Metropolitana da Grande Vitória/ES

###

O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI,


desenvolvido pelo Ministério da Justiça, iniciou uma ação inédita no controle da
criminalidade em nível nacional. O programa articulou diversas políticas de segurança
integradas a ações sociais; priorizando a prevenção e o entendimento das causas que
levam à violência, associadas às estratégias de ordenamento e tranquilidade públicos.

A Polícia Militar do Espírito Santo tem estabelecido estratégias e ações que


visam ampliar a abrangência da filosofia e das práticas de excelência em policiamento
interativo. Neste sentido, a PMES, em parceria com a SENASP, programou no Estado
o Território de Paz, projeto aplicado em áreas com índice de criminalidade violenta
mais latente. Na região Metropolitana da Grande Vitória, os TERRITÓRIOS DE PAZ
foram instalados nas seguintes regiões: Grande São Pedro (Vitória), Grande Terra
Vermelha (Vila Velha), Vila Nova de Colares (Serra), Nova Rosa da Penha (Cariacica)
e Nova Betânia (Viana).

Em tais regiões, buscou-se a maior aproximação da PMES com as


comunidades e o fortalecimento das lideranças comunitárias locais, através de ações
multidisciplinares e integradas, unindo poder público municipal, estadual e federal; em

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iniciativas que promovam o controle e a redução da criminalidade, garantindo à
população maior qualidade de vida.

Através de diretrizes, eram estabelecidas premissas operacionais que regem o


Sistema de Governança Operacional (SGO) nos Territórios de Paz, visando
operacionalizar as atividades de cada região. Na construção e avaliação dessas
diretrizes, participaram o comando do CPOM, os comandantes das unidades
operacionais da Região Metropolitana da Grande Vitória, e os Oficiais e Praças dos
Territórios de Paz.
132
Figura 45 - Territórios de paz

Fonte: Adaptado do site da PMES7.

O SGO foi instituído através da Diretriz de Serviço nº 013 de 10/09/2010


(ESPÍRITO SANTO, 2010), e consistia em uma metodologia de análise de indicadores
que orientaram a atuação nos Territórios de Paz em conformidade com a visão da
Instituição, congregando a participação da sociedade no modelo de gestão da
Segurança Pública através da filosofia de polícia comunitária. Além disso, funcionou
através do desmembramento em metas como indicadores em seus diversos
segmentos de atuação, cujo êxito é de importância ímpar na materialização da missão

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e dos valores almejados pela PMES e pela sociedade.

Para tanto, tais objetivos são apresentados em formato de matriz de


responsabilidades em que se identificam com maior clareza os atores responsáveis
em cada meta, no intuito de gerar maior eficiência e eficácia na prestação do serviço
de segurança pública com qualidade à população capixaba.

Vale destacar ainda que o projeto de Reestruturação da Polícia Interativa


desenvolvido em 2008 precedeu e estruturou os Territórios de paz. Esse projeto teve
como finalidade: 133
Apresentar propostas para reestruturação das práticas policiais militares no
Espírito Santo, voltadas para o policiamento comunitário-interativo, tendo
como base a parceria organizada e permanente entre a Polícia Militar, as
comunidades e os demais segmentos da sociedade capixaba, bem como a
filosofia sobre o assunto e as experiências exitosas em nosso Estado.

O projeto constituiu inicialmente com 10 projetos pilotos em áreas com altas


taxas de homicídios na Região Metropolita da Grande Vitória e antecedeu à
implantação dos Territórios de paz.

A figura abaixo ilustra os resultados obtidos em todos os territórios:

Figura 46 - Resultados dos Territórios de paz

Fonte: Adaptado do site da Associação dos Peritos Oficiais em identificação do Espírito Santo 8.

4.5.10 Programa “Crack é Possível Vencer”

O programa “Crack é possível vencer” foi concebido pelo Governo Federal por
meio do Decreto Federal nº 7.179, de 20 de maio de 2010, instituiu o Plano Integrado

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2020
época da criação da Diretoria, junto de sua equipe.

Figura 51 - Foto DDHPC-PMES

139

Fonte: Adaptado do acervo da DDHPC

CAPÍTULO 5 - AÇÕES DE POLÍCIA


COMUNITÁRIA EM ANDAMENTO NA PMES
O quinto capítulo tem por objetivo apresentar os principais programas de prevenção
realizados pela PMES no âmbito da filosofia e prática de Polícia Comunitária. Bem Como,
expor experiências práticas e projetos sociais.

#####

O atual Planejamento Estratégico da PMES (2020/2023) retrata em seu 7º


objetivo estratégico: “Consolidar a doutrina, a filosofia e a prática do sistema
comunitário-interativo, dos direitos humanos e de ações sociais da corporação”.
Nesse ínterim, entre desafios e ações para seu alcance, destacam-se: “Desafio 1:
Fortalecer as ações de policiamento comunitário. Ação 1: Revitalizar o projeto
Patrulha da Comunidade. Ação 2: Revitalizar o projeto Maria da Penha. Ação 3:
Revitalizar o projeto Patrulha Escolar. Ação 4: Estruturar o projeto Patrulha Rural”.

Dado o mandamento máximo da Instituição no tocante ao planejamento


estratégico, a polícia comunitária e suas ações ganham expressiva e significativa
relevância, conforme se verão estas e outras ações em andamento.

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5.1 PATRULHA DA COMUNIDADE (PCOM)

O programa denominado “Patrulha da Comunidade” foi introduzido na PMES


no ano de 2013 e teve como enfoque inicial os territórios com altas taxas de crimes
contra o patrimônio. Posteriormente a atividade foi expandida para o combate aos
crimes letais.

Atualmente o programa conta com números médios de 159 militares e 47


viaturas policiais empregados em 39 quadrantes (áreas de altas concentrações de
estabelecimentos comerciais nos bairros). A PCOM está acolhida nos termos da 140

Diretriz de Serviço nº 010, de 20 de junho de 2017 que reestruturou o programa


iniciado em 2013/2014, além de nortear e operacionalizar suas ações.

A figura abaixo ilustra uma das mais diversas atuações das Patrulha da
Comunidade:

Figura 52 - Patrulha da Comunidade – PMES

Fonte: Adaptado do Acervo da Diretoria de Comunicações da PMES.

Em síntese, o programa conta com efetivos policiais embarcados em viaturas


policiais militares que variam numericamente, e estão indisponíveis para o
atendimento de ocorrências emergenciais via CIODES (Centro Integrado de
Operações de Defesa Social). Essa exigência tem como finalidade a priorização do
patrulhamento preventivo e os desembarques em localidades e horários críticos, além

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de estabelecer contatos junto aos cidadãos.

A PCOM também conta com reuniões comunitárias realizadas pelos


comandantes e comunidades locais, com a participação de seus sargentos e demais
policiais, tendo como foco o levantamento de problemas de insegurança pública e o
debate voltado à construção conjunta de possíveis soluções.

A foto a seguir representa um de vários momentos de visitas tranquilizadoras


em estabelecimentos comerciais, ocasião onde o diálogo e a transmissão de
orientações assumem importantes papéis de prevenção por parte da PMES: 141

Figura 53 - Patrulha da Comunidade - PMES

Fonte: Adaptado do Acervo da Diretoria de Comunicações da PMES.

Conforme dados obtidos da Coordenação Geral do programa centrado na


Diretoria de Direitos Humanos e Polícia Comunitária (DDHPC) da PMES, os principais
indicadores de funcionamento e criminais encontram-se destacados no quadro
abaixo:

Quadro 25 - Dados da PCOM - PMES (2019)


(Continua)

Dados de funcionamento da PCOM Quantitativo

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Efetivo* 159

Viaturas* 47

Quadrantes atendidos* 39

Reuniões comunitárias realizadas** 279

142

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2020
Quadro 24 - Dados da PCOM - PMES (2019)
(Conclusão)

Dados de funcionamento da PCOM Quantitativo

Visitas tranquilizadoras em Estabelecimentos


24.350
Comerciais**

Fonte: Divisão de Polícia Comunitária da DDHPC a partir dos dados enviados pelos Comandos
Regionais (CPO). *Médias mensais. **Somatório de todo o ano de 2019 (Jan/Out).

5.2 BASES COMUNITÁRIAS MÓVEIS (BCM)

As Bases Comunitárias Móveis foram implantadas na PMES no final do ano de 143


2018 e norteadas por meio da Diretriz de Serviço nº 011, de 23 de outubro de 2018.
As BCM são veículos adaptados tipo Van com considerável tecnologia embarcada
que permite a confecção de ocorrências online, monitoramento de câmeras de vídeo
das imediações, atendimento personalizado às comunidades e, principalmente se
constitui enquanto relevante referência às comunidades locais.

As BCM estão contidas no programa “Estado Presente”, projeto “Segurança


Cidadã” financiado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e possuem
característica principal focada na fixação do efetivo e na responsabilidade territorial.
Essas características evidenciam relevante destaque que posiciona os recursos da
Instituição dentro de uma rotina diária à disposição de qualquer cidadão que assim
queira acionar a PMES.

A figura abaixo apresenta o posicionamento de uma das dezenas de Bases


Comunitárias Móveis em atuação pela PM do Espírito Santo:

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Figura 54 - Bases Comunitárias Móveis (PMES)

144

Fonte: Adaptado do Acervo da Diretoria de Comunicações da PMES.

A PMES conta hoje com quarenta e uma BCM e um efetivo médio de oitenta
policiais. As BCM são conectadas à padrões de energia elétrica previamente
instalados por meio de convênios firmados pelos Comandos locais e as respectivas
Prefeituras, de modo a oferecer energização necessária para o funcionamento das
estruturas.

O recente emprego encontra-se em avaliação para fins de agregações de


outras tecnologias e o aprimoramento das atividades, sendo considerado valioso
recurso de emprego descentralizado em áreas de altas concentrações de pessoas e
horários críticos.

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2020
Figura 55 - Base Comunitária Móvel

145

Fonte: Adaptado do Acervo da Diretoria de Comunicações da PMES.

Conforme dados obtidos da Coordenação Geral do programa centrado na


Diretoria de Direitos Humanos e Polícia Comunitária (DDHPC) da PMES, os principais
indicadores de funcionamento e criminais encontram-se destacados no quadro
abaixo:

Quadro 26 – Dados resumidos das BCM - PMES (2019)


Dados de funcionamento da PCOM Quantitativo

Visitas tranquilizadoras em Estabelecimentos


6922
Comerciais

Visitas Tranquilizadoras em Residências 301

Fonte: Divisão de Polícia Comunitária da DDHPC a partir dos dados enviados pelos Comandos
Regionais. *Médias mensais. **Somatório de todo o ano de 2019 (Jan/Out).

Na foto abaixo numa inspeção realizada no dia 13 de novembro de 2019, pelo


BID por meio de seu representante, o senhor Joel B. Korn em visita ao Estado para
conferência das medidas adotadas em torno dos investimentos na área de Polícia
Comunitária. Abaixo se observa uma das visitas à BCM do bairro Itararé:

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2020
Figura 56 - Inspeção BID - BCM/PMES

146

Fonte: Adaptado do acervo da DDHPC.

Figura 57 - Inspeção BID - BCM/PMES

Fonte: Adaptado do acervo da DDHPC.

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2020
Figura 58 - Visita BID ao Comando Geral da PMES

147

Fonte: Adaptado do acervo da Diretoria de Comunicação Social da PMES.

5.3 NÚCLEOS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA (NPC)

Os Núcleos de Polícia Comunitária (NPC) é uma ação contida no programa


“Estado Presente”, projeto “Segurança Cidadã” financiado pelo BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento). Considerado projeto prioritário do Governo do
Estado, foi instituído no âmbito da PMES por meio da Diretriz de Serviço nº 012, de
04 de outubro de 2019.

Ainda de maneira incipiente, o programa está em fase de estruturação com


previsão para o início de julho de 2019. Contará com sessenta viaturas e trezentos e
sessenta policiais militares em trinta bairros denominados “Núcleos” e cada NPC
contará com duas viaturas e uma BCM.

Os NPC são bairros que foram mapeados dentro de uma série histórica de
quatro anos consecutivos de 2015 a 2018 como aqueles com maiores indicadores de
crimes letais, além da existência de grupos vulneráveis.

A figura abaixo traz um recorte dos homicídios consumados da área que


empregará os recursos da PMES, ilustrando preocupante área no Estado:

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Gráfico 3 - Taxas de Homicídios Consumados dos NPC

148

Fonte: Adaptado da Orientação DDHPC/PMES nº 002 (Normatizações das Atividades dos NPC), de
18 de outubro de 2019.

5.4 PATRULHA MARIA DA PENHA (PMP)

A Patrulha Maria da Penha foi implantada no âmbito da PMES por meio da


Diretriz de Serviço nº 006, de 16 de maio de 2017, em decorrência da Lei Estadual º
10.585, de 26 de outubro de 2016.

Figura 59 - Patrulha Maria da Penha (PMES)

Fonte: Adaptado do Acervo da Diretoria de Comunicações da PMES.

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Antes da institucionalização das PMP, a instituição no ano de 2015 iniciou uma
série de Visitas Tranquilizadoras às Mulheres Vítimas de violências domésticas
agregadas ao programa Patrulha da Comunidade – PCOM.

Posteriormente, no mesmo ano foi instituída a “Patrulha da Família” que elegeu


equipes específicas para a realização dessas tarefas, tendo como foco as mulheres
vítimas de violência doméstica com MPU (Medidas Protetivas de Urgência) expedidas
pelo poder judiciário.

Conforme dados obtidos da Coordenação Geral do programa centrado na 149


Divisão de Polícia Comunitária da Diretoria de Direitos Humanos e Polícia Comunitária
(DDHPC) da PMES, os principais indicadores de funcionamento e criminais
encontram-se destacados no quadro abaixo:

Quadro 27 – Dados resumidos das PMP - PMES (2019)


Dados de funcionamento da PCOM Quantitativo

Efetivo Médio 56

Viaturas 25

Visitas tranquilizadoras às mulheres vítimas


6.287
de violência doméstica com MPU efetivadas

Fonte: Adaptado da Divisão de Direitos Humanos da DDHPC a partir dos dados enviados pelos
Comandos Regionais (Jan/Dez-2019).

5.5 CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA PÚBLICA

Conforme mencionado no capítulo quatro, o Espírito Santo inicialmente contou


com os Conselhos Interativos de Segurança Pública que se expandiram na década
de 1990 no âmbito da Polícia Interativa.

Ao longo dos anos, o cenário nacional acabou por acompanhar uma


nomenclatura voltada para a “Polícia Comunitária”, não sendo diferente para os
Conselhos.

A PMES no ano de 2018 elaborou e publicou por intermédio da Divisão de


Polícia Comunitária da DDHPC e o EMG, a Diretriz de Serviço nº 010, de 18 de

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setembro de 2018. A diretriz estabeleceu parâmetros quanto à forma de atuação da
PMES no tocante aos trabalhosrelacionados aos Conselhos Comunitários de
Segurança Pública do Espírito Santo.

Essa medida também visou fortalecer a filosofia de polícia comunitária no


âmbito das OrganizaçõesMilitares Estaduais com responsabilidades territoriais, tendo
como foco um diálogo Intersetorial e multidisciplinar, partindo da perspectiva de que a
segurança pública é temáticadifusa e que exige amplos olhares e debates
permanentes de discussões e construções depropostas locais. (ESPÍRITO SANTO
(2), 2010). 150

O Espírito Santo hoje conta com trinta Conselhos Comunitários de Segurança


Pública em funcionamento, segundo levantamento realizado pela DDHPC junto aos
Comandos Regionais em 2019.

Figura 60 - Reunião no Conselho de Segurança de Linhares (CONSEL)

Fonte: Adaptado do site público do Conselho Interativo de Segurança Pública de Linhares


(CONSEL)1.

Por se tratarem de OSC (Organizações da Sociedade Civil), a PMES


compreende que são autônomas e independentes do poder público, muito embora
devam atuar de maneira integrada e cooperativa. Atualmente, encontra-se em curso
debates junto aos Conselhos existentes no sentido da criação de uma Federação
Estadual, também uma OSC, que represente e auxilie todos os Conselhos
Comunitários de Segurança Pública.

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Foi realizada uma reunião no dia 22 de outubro de 2019 no Auditório do Hospital
da Polícia Militar do Espírito Santo sendo acordada a formação de uma Comissão que
pudesse elaborar uma proposta de Estatuto para a Federação para sua leitura e
aprovação em plenário.

Figura 61 - Assembleia para a FECONSEG

151

Fonte: Adaptado do acervo da DDHPC.

Figura 62 - Assembleia para a FECONSEG

Fonte: Adaptado do acervo da DDHPC.

5.6 PROGRAMA EDUCACIONAL DE RESISTÊNCIA ÀS DROGAS (PROERD)

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O Programa Educacional de Resistência às Drogas (D.A.R.E./Proerd) tem por
base o programa Drug Abuse Resistance Education (D.A.R.E.), o qual foi
desenvolvido na cidade de Los Angeles, Califórnia/EUA, no ano de 1983, por um
grupo composto por psicólogos, psiquiatras, policiais e pedagogos, sendo aplicado,
então, pelo Departamento de Polícia de Los Angeles (L.A.P.D.), em parceria com o
Distrito Unificado Escolar daquela cidade, obtendo grande sucesso e aceitação, o que
fez com que rapidamente se estendesse para todos os Estados norte-americanos e
para diversos países do mundo.

Visando preparar crianças e adolescentes para fazerem escolhas seguras e 152

responsáveis na condução de suas próprias vidas, a partir de um modelo de tomada


de decisão. Por meio de atividades educacionais em sala de aula, fornece aos jovens
as estratégias adequadas para tornarem-se bons cidadãos, resistir à oferta de drogas,
ao apelo da violência e à prática de ações antissociais, de forma que desenvolvam
suas próprias respostas às situações da vida real. Com ações direcionadas a toda a
comunidade escolar e aos pais/responsáveis, o Proerd também promove a inclusão
da família no processo educacional e de prevenção.

O Programa é aplicado por policiais militares voluntários devidamente treinados


para esta atividade que são recebidos nas escolas de forma muito carinhosa, fazendo
do D.A.R.E./Proerd uma das mais importantes atividades de prevenção primária
desenvolvidas pela Polícia Militar junto às instituições de ensino.

Figura 63 - PROERD - PMES

Fonte: Adaptado do Acervo da Diretoria de Comunicação Social da PMES.

No Brasil, o D.A.R.E. se iniciou a partir de 1992, por meio da Polícia Militar do

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Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) e, em 1993 pela Polícia Militar do Estado de São
Paulo (PMESP), tendo, então, recebido o nome em português de Proerd (Programa
Educacional de Resistência às Drogas), no que foram efetuadas adaptações
metodológicas com o escopo de alinhar o programa à realidade cultural brasileira.

Figura 64 - Formatura de aproximadamente 1000 alunos no PROERD

153

Fonte: Adaptado do site da PMES2.

Assim, reconhecendo o importante papel desenvolvido pelo programa, o


Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD), por meio da Resolução
Ministerial nº 25/2002, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República, considerou o D.A.R.E./Proerd como ferramenta estratégica para o
desenvolvimento de ações primárias de prevenção ao uso e ao tráfico de drogas no
âmbito do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas (SISNAD).

Cotidianamente, o D.A.R.E./Proerd está sendo aplicado em todos os Estados


da Federação pelas respectivas Polícias Militares, sendo que no Espírito Santo sua
implantação teve início no ano 2000, com a formação do primeiro grupo de instrutores
do programa. A aplicação do programa na rede de ensino ocorreu no ano seguinte,
com a formação de 11.346 crianças e adolescentes.

No ano de 2003, o D.A.R.E./Proerd foi regulamentado na Polícia Militar do


Espírito Santo através da Portaria nº 346-R, de 16 de abril de 2003, atualmente

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revogada pela portaria nº 803-R de 08 de janeiro de 2020, que previu a criação da
nova Norma Reguladora do D.A.R.E./Proerd Espírito Santo onde estão normatizadas
as ações do programa como medida proativa para o controle da violência, da
criminalidade e ação complementar as ações preventivas e repressivas às drogas.

5.7 PATRULHA ESCOLAR

A Patrulha Escolar está inserida no Plano Estratégico 2020-2023 da PMES.


Inicialmente a parceria foi firmada entre a Secretaria de Estado da Educação - SEDU
e a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social - SESP, por meio da 154

Polícia Militar do Espírito Santo – PMES.

O Decreto Estadual nº 7.437-E, de 25/06/1999, que instituiu o Sistema de


Segurança Escolar – SISE, no âmbito da Secretaria de Estado da Educação, órgão
de assessoramento normativo, deliberativo e executivo das ações permanentes e
emergenciais de segurança nas escolas, visa reforçar a segurança por meio da
atuação diária de policiais capacitados, dentro do ambiente escolar, com foco
prioritário em ações preventivas.

Segundo informações coletadas da Companhia Especial de Policiamento


Escolar (CEPE), a Patrulha Escolar tem como objetivo à promoção junto com a
comunidade escolar de um ambiente propício para o ensino e a aprendizagem,
preservando os profissionais da educação e auxiliando no processo de cultura da paz,
na busca de uma parceria eficaz para solucionar os problemas nas unidades de
ensino.

A CEPE também informou que as visitas às escolas são realizadas pela mesma
dupla de policiais durante o ano letivo, sendo, um policial do sexo masculino e outro
feminino para facilitar a aproximação com os alunos, que ao se sentirem confortáveis
e seguros, passam a compartilhar suas dúvidas e questionamentos sobre os aspectos
da vida, o que proporciona maior conhecimento do seu contexto e suas prioridades.

Nos atendimentos são confeccionados Boletim de Atendimento da Patrulha


Escolar - BAPE que são repassados para as Superintendências Regionais de
Educação e as Gerências da SEDU, para adoção das providências necessárias, como
também Boletins de Ocorrência Policial- BOP’s.

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Os policiais da Patrulha Escolar participam de reuniões com as famílias,
eventos no âmbito escolar, desenvolvimento de projetos e outras propostas
apresentadas, objetivando a compreensão dos aspectos que envolvem os alunos e
também a diversidade do cotidiano escolar, trabalhando para ampliar o
comprometimento das famílias com propósito de reforçar a importância do
acompanhamento da vida de seus filhos.

Os profissionais participam de capacitação sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente, o Regimento Comum das Escolas da Rede Estadual de Ensino, com
vistas à atuação na rotina escolar interagindo com os alunos, por meio da realização 155

de visitas diárias buscando a participação no cotidiano das escolas e de suas relações


com a comunidade.

O atendimento às escolas teve início no ano letivo de 2010, quando foram


realizados 854 (oitocentos e cinquenta e quatro) atendimentos, sendo 76% (setenta e
seis por cento) preventivos. As visitas às unidades de ensino foram ampliadas e, no
ano letivo de 2013 foram realizados 5.700 (cinco mil e setecentos) atendimentos,
sendo 98% (noventa e oito) por cento preventivos.

A participação no protagonismo infanto-juvenil, o resgate dos laços entre a


família e a escola, trouxeram grandes resultados no desenvolvimento de um ambiente
tranquilo nas 151 (cento e cinquenta e uma) escolas atendidas da Região
Metropolitana da Grande Vitória. Atualmente a Patrulha Escolar atende
aproximadamente 160 (cento e sessenta mil) alunos da rede estadual de ensino.

5.8 MATERIAIS DE DIVULGAÇÃO EM POLÍCIA COMUNITÁRIA NO ÂMBITO DA PMES

Política Institucional de Polícia Comunitária da PMES

A Diretoria de Direitos Humanos ao longo do ano de 2019 e submeteu a


apreciação e análise do Estado Maior Geral da PMES relevantes materiais dentro da
temática voltada para a filosofia e prática de polícia comunitária com o objetivo de sua
institucionalização e posterior disseminação.

A Política Institucional de Polícia Comunitária foi instituída por meio da Portaria


nº 772-R, de 06 de maio de 2019se destinou a atualizar os conhecimentos
institucionais da trajetória da Polícia Interativa do Espírito Santo.

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informativos acerca das principais atividades de prevenção desenvolvidas no âmbito
da disseminação da filosofia de polícia comunitária por parte da DDHPC, conforme
figura abaixo.

Figura 73 - Folders de programas da DDHPC

163

Fonte: Adaptado do Acervo da DDHPC.

5.9 EXPERIÊNCIAS LOCAIS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA E AÇÕES SOCIAIS NO


ÂMBITO DA PMES

As ações abaixo descritas compreendem experiências adotadas em


localidades diferentes como meios de tomadas de providências mais adequadas por
parte de comandos locais em atenção aos seus mais diferenciados problemas. A
intenção é a de compartilhar alguns dos mais variados trabalhos desenvolvidos que
possam aproximar as comunidades locais atendidas da PMES.

5.9.1 Rede “Comunidade Segura”

O Projeto“REDE COMUNIDADE SEGURA” (Condomínio Monitorado e


Comércio Monitorado) teve início em agosto de 2018 no âmbito da 2ª Cia do 6º BPM.
Seu funcionamento visa o fomento, a criação e manutenção de redes de proteção
(uso de aplicativos de conversa instantânea para troca de informações acerca de
segurança pública entre os membros da comunidade, com foco na prevenção),
sensibilizando a comunidade para que ela saiba buscar soluções criativas e efetivas
para os problemas do seu bairro, motivando a participação comunitária e a interação

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junto a polícia militar.

Segundo informações do comando da 2ª Cia do 6º BPM, os objetivos da Rede


“Comunidade Segura” são:

a. Fomentar a interação e organização dos membros da comunidade


(moradores, comerciantes e outros).

b. Montar estratégias de comunicação entre os membros da comunidade


(grupos de WhatsApp, ligação telefônica e outros).
164
c. Incentivar a atuação da comunidade em rede.

d. Disseminar dicas de segurança junto à comunidade.

e. Orientar a comunidade quanto a adoção de práticas preventivas,


dificultando a ação de criminosos.

f. Estimular os moradores a trabalharem em parceria com a polícia, em


especial no tocante às informações que possibilitem a atuação preventiva.

g. Envolver os representantes dos serviços públicos, nas suas respectivas


esferas de responsabilidade no programa, visando reduzir os ambientes favoráveis
aos delitos.

h. Reduzir os índices de criminalidade nos locais onde serão


implementadas as ações do projeto.

i. Recuperar gradativamente a sensação de segurança, aumentando a


confiança da população na PMES.

A área de atuação atualmente do projeto está localizada nos condomínios dos


bairros Morada de Laranjeiras, Colina de Laranjeiras, Valparaíso e Santa Luzia e nos
comércios de Colina de Laranjeiras e P.R. Laranjeiras. E as áreas a serem
contempladas no ano de 2020 serão as residências e escolas. A seguir encontram-se
fotos ilustrativas das atividades desenvolvidas pelo projeto:

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Figura 74 - Placas de monitoramento do projeto Rede Comunidade Segura

165

Fonte: Adaptado do Acervo da 2ª Cia do 6º BPM.

Figura 75 - Rede Comunidade Segura (PMES)

Fonte: Adaptado do Acervo da 2ª Cia do 6º BPM.

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