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NATAL/RN, MARÇO/2024
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
PRIMEIRO ENCONTRO
O SURGIMENTO DA POLÍCIA
A estruturação dos sistemas policiais modernos, baseados no profissionalismo, na
administração burocrática e sob o controle do Estado, é a expressão mais marcante do
processo histórico de institucionalização da noção de segurança pública.
FRANÇA
A França tornou-se a principal referência de formação de sistema policial
profissionalizado, conforme análise de MONET (2001). Ela tinha dois pilares: a
Maréchaussée (O maréchaussée é o antepassado da gendarmeria francesa. Cavaleiro da
Maréchaussée em 1786. Em 1720, o marechal foi colocado simbolicamente sob a
autoridade administrativa da gendarmeria da França, o que explica por que em 1791 foi
renomeado como "Gendarmerie nationale") nas áreas rurais e a Tenência de polícia, em
Paris.
A primeira é intrinsecamente militarizada, sendo um regimento de elite do Exército,
e tem sua estrutura territorializada a partir do século XVI. Ela vigia as populações
itinerantes, prende bandidos, assegura regras concernentes ao comércio. Ela é rebatizada
de Gendarmerie (Uma gendarmaria, gendarmeria ou simplesmente guarda (em francês:
gendarmerie) é uma força militar, encarregada da realização de funções de polícia no
âmbito da população civil. Os seus membros são designados "gendarmes" em 1791,
perdendo gradualmente suas vinculações com o Exército.
Já a Tenência é criada em 1667, com atribuição de zelar pela repressão da
criminalidade bem como deve tomar as medidas necessárias para evitar incêndios e
epidemias além de inundações. Paris é dividida em setores e bairros à frente dos quais
atuam comissários assistidos por inspetores. Todo um sistema de patrulhas a pé e a cavalo
funciona durante todo o dia. A montagem de uma estrutura de informantes foi a
característica mais marcante desta polícia parisiense, preconizando a formação de policiais
exclusivamente destinados à investigação. Os tenentes gerais de polícia acabaram sendo
nomeados em todas as grandes cidades francesas.
Fator comum às duas formas de polícia na França é a direção do governo central. O
monarca absoluto comandava tanto a Gendarmerie quanto definia as indicações dos
tenentes de polícia, sendo concebidos como oficiais da realeza. Outros países europeus
em fins do século XVIII e início do século XIX implantam suas gendarmeries, todas
vinculadas à autoridade central, orientadas para o policiamento de estradas e campos.
BRASIL
O sistema policial brasileiro, por sua vez, se estruturou no século XIX. E a matriz foi
a dualidade policial francesa. Com a chegada da Coroa Portuguesa em 1808 no Rio de
Janeiro, foi criada a Intendência Geral de Polícia, com atribuições de controle do crime, de
urbanização, saneamento, saúde pública e iluminação pública seguindo o modelo policial
que vigorava em Portugal desde o século XVIII.
A vigilância cotidiana das ruas, por sua vez, coube a forças militarizadas. No Rio de
Janeiro, por exemplo, existia a Guarda Real de Polícia (GRP). Mesmo na segunda metade
do século XVIII já existiam forças militarizadas que realizavam a vigilância ostensiva das
vias públicas. É o caso de Minas Gerais com o Regimento Regular de Cavalaria de Minas,
criada em 1775, que posteriormente veio a ser o fundamento da Polícia Militar do Estado
de Minas Gerais.
INGLATERRA
A Inglaterra, a despeito de sua tradição de gestão descentralizada, também assistiu
a intervenção do governo central na questão policial. Em 1829 o Parlamento assume a
responsabilidade pelo policiamento de Londres. É criada uma organização policial
profissionalizada, trabalhando full-time e concebida em termos civis, diferenciando-se do
modelo francês da gendarmerie. É criada a Polícia Metropolitana de Londres.
A disseminação pelo restante do país deste modelo de policiamento eminentemente
comunitário, conforme propugnado por Robert Peel, ocorreu lentamente ao longo da
segunda metade do século XIX, abolindo os sistemas paroquiais até então prevalecentes.
ATRIBUIÇÕES DAS INSTITUIÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA
I - Polícia federal;
II - Polícia rodoviária federal;
III - Polícia ferroviária federal;
IV - Polícias civis;
V - Polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - Polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 104, de 2019).
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em carreira,
destina-se:
I - Apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas,
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II- Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando
e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas
respectivas áreas de competência;
III- Exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras;
IV- Exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-
se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-
se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares.
§ 5º Às polícias militares cabem à polícia ostensiva e a preservação da ordem pública;
aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a
execução de atividades de defesa civil.
§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal da
unidade federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos penais.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019).
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva
do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
PACTO FEDERATIVO
Um dos principais desafios brasileiros é a segurança pública. As autoridades estão
mais atentas aos problemas e elegem o combate à violência como uma das prioridades em
seus programas. A segurança pública caminha cada vez mais para a integração e
articulação entre as forças diversas presentes no território.
O tema tem tratamento específico na Constituição Federal de 1988 no artigo 144. O
texto dispõe que a segurança pública é “dever do Estado” e deve ser exercida pelas Polícias
Federal, Rodoviária Federal, civis, militares e Corpos de Bombeiros militares. Qualquer lei
precisa respeitar as estruturas previstas na Constituição.
O Supremo Tribunal Federal afirma que a segurança pública trata de “organização
administrativa”. Por isso, a gestão em cada ente da federação fica por conta do chefe do
executivo. No caso dos estados, fica sob a chefia do governador de Estado, a quem estão
subordinados as polícias militares e civis. Já o chefe do Poder Executivo Federal tem a
competência de organizar as polícias federais, dentre outros da administração federal.
No entanto, com o aumento da violência, o governo federal passou a repassar
recursos para a modernização das instituições de segurança pública dos estados e do
Distrito Federal. A articulação entre as administrações nesse quesito é crucial. Além desses
quesitos, a segurança pública deixou de se pautar unicamente pela de repressão e passou
a ser vista sob a ótica da prevenção e capacitação dos agentes com enfoque na cidadania.
Com o governo da presidente Dilma Vana Rousseff, o papel da União na Política Nacional
de Segurança Pública passou a ser maior, com maior integração institucional e as
instituições do sistema de justiça criminal e enfatizando o planejamento, a gestão e o
monitoramento.
UNIÃO
Compete à União a defesa dos seus interesses e dos seus órgãos, o policiamento
da faixa de fronteira e o combate ao tráfico internacional e interestadual de drogas, prevenir
e reprimir o contrabando e o descaminho, bem como realizar o patrulhamento das rodovias
federais.
A União assumiu ainda a função de articular a integração entre os órgãos de
segurança pública e de justiça criminal, que teve seu ponto alto na Copa do Mundo 2014, e
deixou como principal legado a atuação integrada entre os órgãos de segurança pública
nacionais e internacionais e as Forças Armadas nos 12 (doze) Centros Integrados de
Comando e Controle Regionais.
Os locais foram equipados pelo governo federal em todas as cidades-sede da Copa.
O governo tem realizado ações como o Brasil Integrado, operação que já atuou no Nordeste
e recentemente transferiu presos entre presídios federais.
ESTADOS
Os governos estaduais e do Distrito Federal realizam a segurança pública direta,
organizando e mantendo o policiamento ostensivo, que é realizado pela Polícia Militar,
formada por policiais uniformizados, facilmente identificados, de modo a criar na população
uma percepção de segurança. É de competência dos estados ainda manter e organizar a
Polícia Civil e os órgãos técnicos de investigação dos crimes comuns.
MUNICÍPIOS
Já os municípios têm a competência para desenvolver ações de prevenção à
violência, por meio da instalação dos equipamentos públicos, como iluminação e câmeras.
Os municípios também podem criar guardas municipais para a proteção de bens, serviços
e instalações.
Neste ano, a lei nº 13.022 regulamentou as atribuições das Guardas Municipais na
prevenção à violência, proteção dos direitos humanos fundamentais, exercício da cidadania
e das liberdades públicas, preservação da vida e patrulhamento preventivo, dentre outros
e o Distrito Federal possui as mesmas competências dos estados na gestão da segurança
pública.
A provisão da segurança pública no Brasil, até a década de 1990, era compreendida
como uma responsabilidade quase que exclusiva dos governos estaduais, sobretudo dos
órgãos policiais (COSTA E GROSSI, 2007).
O artigo 144 da Constituição Federal de 1988 contribuiu para embasar a falta de
comprometimento da União e dos municípios na adoção de políticas para a preservação da
ordem pública, uma vez que atribui ao governo estadual o encargo pelas polícias civis e
militares.
Nessa interpretação restrita de segurança pública, não haveria muito espaço para a
atuação dos governos federal e municipal, uma vez que a política de gestão policial, de
execução penal e a administração da justiça criminal são majoritariamente desenvolvidas
pelos poderes estaduais.
SEGUNDO ENCONTRO
A segurança pública tem sido uma das maiores preocupações dos brasileiros.
Excetuando-se os dias atuais em que a saúde tem ocupado os primeiros lugares com as
notícias de epidemias de dengue no Rio de Janeiro e bactérias diversas que começaram a
atacar os hospitais de Porto Alegre, é a segurança pública a maior reivindicação lembrada
pela população em geral.
O assunto, portanto, é atual, embora não lhe seja dada a devida relevância pelos
governos, ficando a questão muito mais ao dispor de discursos inócuos do que das
verdadeiras ações que urgem ser tomadas para que se evite que cheguemos a situações
incontroláveis como já ocorre no Rio de |Janeiro e cujos respingos já começam a se fazer
presentes em outros Estados. São Estados que de uma geral maneira, em função da
omissão dos governos e, também, dos recursos de que dispõem, descumprem suas
obrigações para com a segurança sonegando direitos ao seu povo e tratando
inadequadamente suas polícias, remunerando-as e equipando-as mal. Há, da mesma
forma, um deficiente trato para com presos tornando quase que impossível a sua
recuperação para a volta ao convívio social, além de desassistir crianças pobres que se
amontoam nas ruas como pedintes ou viciadas em drogas.
E assim, a segurança pública vai sendo tratada como algo que pode ser resolvido
pontualmente com legislações, medidas e decisões de emergência que, por não terem um
estudo mais aprofundado sobre as possibilidades de resultados positivos, acabam
agravando a situação e criando esse clima de maior insegurança com o qual a população
já vai se acostumando e entendendo que o fato é que todos os problemas, sejam de
segurança pública propriamente dita, sejam de atribuições de outros setores da
administração, acabam caindo nas mãos da polícia como se fossem todos de sua
responsabilidade e ela fosse capaz de tudo resolver.
O paradoxo é tão grande que até governantes que têm a obrigação de prover suas
instituições policiais dos devidos meios e recursos para bem desempenharem suas
funções, acabam num determinado momento jogando a culpa do seu fracasso a elas, como
se estas não fizessem parte da sua administração e não precisassem do necessário apoio
governamental para fazer o que a lei lhe determina. Em vez de prover as polícias dos meios
necessários ao seu desempenho, discursam animadamente batendo nas organizações
como se elas sejam independentes e do governante não precisem. Sem pretendermos tirar
das polícias as suas responsabilidades achando que elas não têm culpa de nada e nos
colocarmos na condição daqueles que acreditam que tudo é culpa dos governos que são
omissos quanto às suas obrigações, temos a intenção neste trabalho de analisar esse
complexo tema da segurança pública, que entendemos como um sistema que engloba
todos os segmentos sociais e não está afeto unicamente às instituições policiais que
compõem a segurança pública brasileira.
Embora seja um assunto por demais repetido, sempre é bom que referenciemos
sobre dispositivos constitucionais que tratam da segurança pública. É importante para que
se mostre que a segurança pública não é um trabalho unicamente das polícias, mas de um
conjunto de setores que forma um sistema que deve trabalhar harmonicamente sob pena
de nunca se chegar a soluções que satisfaçam a população em geral diz o caput do art.
144 da Constituição Federal.
Esta regra constitucional simples criou por assim dizer, um sistema de segurança
pública do qual não fazem parte apenas as polícias, mas todo um conjunto de órgãos
públicos e particulares e sociedade em geral, que se devem empenhar no trato da questão.
Ainda que não o diga explicitamente, a Constituição chama à lide todo e qualquer segmento
social como responsável.
Toda vez, pois, que se disser que a polícia está falhando na sua missão, deve-se
questionar até que ponto a sociedade contribui para com que tais falhas ocorram. E a
sociedade não pode fixar-se em conclusões simplistas de que, para fazer o trabalho
complementar à segurança pública, precisa armar-se e se desempenhar tal como tais
organizações, mas ter a consciência de que há um conjunto de fatores que influenciam a
segurança pública e que precisam ter o devido tratamento por parte de outros segmentos
públicos, cujas responsabilidades são fundamentais para que se superem os fatores que
contribuem para com os problemas de segurança. O complexo de segurança pública não
pressupõe unicamente a atividade policial em si, mas todo um conjunto de medidas que
desembocam na segurança pública.
A questão é que mesmo aqueles setores que não estão afetos às polícias acabam
sendo tratados por elas. Os problemas sociais ditados pela miséria em geral, pelo
desemprego, pelos salários insuficientes para a manutenção de uma família, pela falta ou
insuficiência de educação e outros fatores que implicam na criminalidade não são uma
responsabilidade da polícia, mas da sociedade como um todo que precisa envolver-se
nestes problemas pesquisando e encontrando soluções e trabalhando diretamente em
todos os setores.
Toda vez que se fala em polícia no Brasil idealiza-se a instituição. Tratam na como
se, de repente, vivêssemos num país onde tudo é maravilhoso e apenas a polícia destoa
desta regra. Age-se como se o policial seja um alienígena brutalizado e incapaz que acabou
de cair em um mundo perfeito onde ninguém comete erros. Só ele os comete. Caídos neste
mundo perfeito, os policiais e suas atitudes passam a ser questionados pelos idealistas do
sistema, que não entendem que razões levam a polícia a, em alguns casos, tratar com
violência determinada pessoa. É como se a violência não existisse e a polícia fosse a
responsável por trazê-la ao mundo, fosse causa dela e não sua consequência.
Pretende-se, desta forma, que a polícia brasileira seja diferente de qualquer outra e
não trate o criminoso como tal, mas como alguém que precise unicamente de educação e
seja ela o ente preparado exatamente para transmitir esta educação. Vê-se a polícia como
uma instituição destoante da realidade, uma polícia violenta em uma sociedade que não é
violenta, uma polícia corrupta em uma sociedade que não é corrupta, uma polícia
despreparada em uma sociedade cujo preparo é exemplo para o mundo.
Quer se uma polícia educada e prestativa como se ela não fizesse parte da mesma
sociedade que nada tem de educada e de prestativa. A polícia não só é um organismo mal
conhecido quanto ao seu desempenho, como as pessoas ignoram as suas missões e a sua
capacidade de desempenhá-las em razão dos diversos entraves que existem, sejam de
condições materiais, intelectuais ou humanas
Toda vez que a polícia é procurada por alguém, pretende esta pessoa que ela seja
capaz de resolver todos os seus problemas e não quer saber o interessado se isto está
dentro da sua competência ou não. Por não ser uma instituição conhecida, a sociedade
acaba mitificando a polícia e acreditando que ela é aquela instituição retratada em filmes
que dão notícia de uma incomum competência e capacidade em tudo resolver. Não
compreendem que a realidade não é aquela dos filmes em que tudo se resolve em cerca
de duas horas, terminando a história com um longo beijo entre o casal de mocinhos.
Diante disto, proliferam as cobranças como se o crime fosse uma atividade a ser
combatida unicamente pela polícia. É como se isto não dependesse de um sistema
judiciário ágil e eficiente, de um acompanhamento do preso que lhe permita ser recuperado
para a volta ao convívio social e de medidas preventivas em todos os setores. Nem tudo,
portanto, que diz respeito ao crime é problema que deve ser enfrentado unicamente pela
polícia.
O fato é que não existem fórmulas prontas para que se tenha no Brasil uma polícia
que atenda os reclamos da sociedade. Aliás, mesmo nas sociedades mais desenvolvidas
temos visto que polícia nenhuma os atende na totalidade. Esta idealização, a crença de
que uma polícia deve ser capaz de resolver tudo sem, em algum momento, usar a violência
e que deva ser imune a erros e a desvios de conduta, tem feito com que proliferem fórmulas
que, sem qualquer estudo, são apresentadas como milagrosas para que se crie uma polícia
ideal. Como modelo de polícia democrática já se apresentou até a idéia de desmilitarização
das polícias militares.
Desconhece-se que a mera adjetivação, seja ela de militar ou civil, não é responsável
pela maior ou menor competência policial. O que importa é a sua destinação. Se ela, apesar
da adjetivação militar não for destinada ou empregada nas atividades que pressuponham
combates e tratos com pessoas vistas como inimigas, mas preparada e empregada
efetivamente como polícia e voltada ao bem das comunidades, pouco importa que a sua
estrutura seja militar ou civil. Chega-se a tal contradição que, ao mesmo tempo em que se
invoca a necessidade de desmilitarização das polícias, clama-se pelo emprego das forças
armadas, que são militares por excelência. A formação dos seus efetivos e a visão de que
a sociedade deve sempre ser vista como amiga, mesmo naqueles casos em que precisam
ser coibidos crimes ou simples desvios de conduta, é que vão determinar a sua maior ou
menor eficiência e não a mera adjetivação que unicamente define a sua estrutura como
corpo.
Trata-se o Brasil como se o país fosse o único no mundo a ter uma polícia adjetivada
de militar. Desconhece-se que na Itália ainda existem os Carabinieri, a Espanha ainda conte
com a sua Guardia Civil (que apesar da adjetivação, é militar), a França ainda disponha da
Gendarmerie, o Chile possua uma das polícias mais respeitadas da América Latina, os
Carabineros, e a Holanda mantenha a Rijkspolitie, todas elas organizações militares
voltadas à atividade policial como o é a Polícia Militar brasileira. Uma polícia democrática,
independente da adjetivação de civil ou de militar, precisa deixar de ser conservadora, de
centralizar-se em conceitos e comandos apegados a tradições que fundamentaram sua
criação e abdicar de manter-se destoante das necessidades sociais como se a polícia não
fizesse parte da mesma sociedade que jura defender.
Não é preciso, portanto, macro mudanças nas instituições policiais para que elas
sejam democráticas. Basta que se mudem alguns comportamentos relacionados com o
trabalho e que o policial interprete que o crime e o criminoso são coisas excepcionais e não
a regra com que devem ser tratados os cidadãos.
Toda a pessoa que procura a polícia quer soluções imediatas para o seu problema.
Para ela pouco importa se o que se apresenta é um assunto de polícia ou não. Conforme
o encaminhamento do fato, a polícia se lhe parece, ora fraca e ineficaz, ora violenta e
autoritária. Tudo acaba sendo responsabilidade da polícia como se ela não dependesse de
um complexo sistema legal ao qual se submete como ocorre com qualquer órgão da
sociedade. Na idéia das pessoas o que importa é que o fato seja resolvido e, se isto não
ocorre logo, acaba culpando a polícia. É como se a polícia não fosse uma organização
como qualquer outra e não apresente, como estas, incertezas quanto a suas decisões e
encaminhamentos de questões.
Um corpo policial não deve seguir procedimentos imutáveis que contemplem todas
as questões como se tudo dependesse de uma fórmula matemática a ser aplicada a todos
os problemas indistintamente. Conforme o caso, a polícia deverá ser mais meticulosa, mais
desconfiada, mais impertinente e, em alguns pontos, até usar mais o mecanismo da força
e da pressão. É isto que não entende a pessoa que procura os serviços policiais, dado que
apresenta o seu problema como se ele fosse o único no mundo e o mais importante a
precisar da atenção exclusiva da polícia. Poderíamos pegar inúmeros exemplos, mas
vamos ficar com a questão da prostituição. Os moradores de regiões onde ocorre com mais
incidência a prostituição reclamam da ineficiência e do descaso policial que não coíbe a
prática.
Obrigada a envolver-se, assim, em assuntos que deveriam ser tratados por órgãos
de assistência social de Estados e municípios, a polícia acaba desviando seus serviços e
atenção de outros casos em que deveria se empenhar com mais afinco por se tratarem
estes das suas reais competências. Fazendo o que não lhe está afeto legalmente, acaba
sendo responsabilizada como ineficiente e omissa também por não tratar adequadamente
aquilo que lhe é afeto por competência legal. Convencionou-se desta forma, atribuir à
polícia a competência de resolver todo e qualquer problema. Ela se transformou no
desaguadouro de todas as mazelas sociais, independente de serem estas da sua
competência ou da de outros órgãos. Se o médico não atende no posto do SUS, chama-se
a polícia.
Diante destes fatores que já fazem parte da nossa cultura, é natural que a polícia,
sobrecarregada de tarefas enquanto outros órgãos descansam à noite, nos feriados e fins-
de-semana, seja tida como ineficiente, eis que, fazendo mal, apesar da boa vontade, o que
não é de sua competência, acaba deixando de fazer bem feito o que sabe e é da sua
atribuição
Desta forma, o artigo 61, do Código Penal, que trata disto, tem a seguinte redação
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime: (...) h) contra criança, velho, enfermo ou mulher grávida. Outra inovação
implementada é que, nos crimes patrimoniais de que são vítimas os idosos, serão seus
autores processados conforme ação pública incondicionada, ou seja, a ação é patrocinada
pelo Ministério Público sem qualquer condicionante, bastando que o fato chegue ao seu
conhecimento. O policial, assim, passa a ter mais exigências para o exercício da sua
atividade, quais sejam, o conhecimento legal requerido para o cumprimento daquilo que se
constitui como direito dos idosos e a necessária adequação para o trato de tais assuntos,
cumprindo ao idoso, da mesma forma, conhecer seus direitos para fazer as exigências
pertinentes a tais direitos
Já referimos antes que é normal que as pessoas procurem a polícia para qualquer
problema, independente deste ser ou não de sua competência, e que isto já está arraigado
no entendimento popular. No mundo inteiro as polícias se ressentem disto. É preciso que
as pessoas compreendam sobre atos criminosos e outros que meramente ofendem a moral.
Os primeiros são puníveis conforme as suas circunstâncias, ao passo que os segundos não
o são necessariamente.
Desta forma, qualquer que seja o crime, imprescindível se faz a atuação policial, quer
para preveni-lo, quer para reprimi-lo. Não pode a polícia furtar-se disto. Já quanto a atos
que unicamente afetam a moral e os costumes, estes não são necessariamente puníveis.
Sabiamente agem os legisladores ao não criminalizar tudo para que não se limite
demasiadamente a liberdade e para que não se torne intolerável a vida do cidadão. Como
o entendimento acerca de atos ditos imorais varia de pessoa para pessoa, há os que não
os toleram e os que, aceitando ou não, os toleram e não exigem repressão a eles.
O fato é que alguns atos, embora a polícia seja sempre acionada em caso de sua
ocorrência, não representam uma atribuição sua coibi-los por não serem eles
criminalizados. Não estão, pois, dentro dos limites de atuação policial, apesar de, na maioria
das vezes, veja-se a polícia na obrigação de atuar ainda que unicamente para dar
explicações, nem sempre bem recebidas, ao reclamante
Alguém, por exemplo, que ande bicicleta sobre a calçada prejudicando o trânsito de
pessoas, não comete delito algum. As Pessoas prejudicadas, no entanto, recorrem à polícia
e exigem providências. Na maioria dos casos o policial consegue convencer o ciclista a não
andar com o veículo sobre a calçada, mas se não o conseguir, pouco poderá fazer em
razão de que o fato não é punível. Difícil, no entanto, será convencer o reclamante de que
não pode fazer muito mais que isto. Relevante hoje é o fato que diz respeito a pessoas que
se espalham pelas sinaleiras de avenidas movimentadas para pedirem esmolas. Uma
realidade nacional diante da contradição dos anúncios de que não há mais fome no país.
Vimos, ainda que de forma simplificada, que a segurança pública não diz respeito
unicamente às polícias, mas a todo um conjunto de setores da sociedade que devem
empenhar-se conforme suas necessidades e condições no combate à violência. Quando
se fala em violência, no entanto, não se pode centralizar os estudos unicamente naquelas
ações e reações repressivas que estamos acostumados a ver se expandindo pelo Brasil
como se isto seja a solução para a criminalidade.
Só para citarmos o Rio de Janeiro como exemplo, está pacífico que o aumento da
criminalidade e da concentração de criminosos que traficam drogas e armas nas favelas se
expandiu exatamente pela ausência do Estado que não deu a devida atenção aos
moradores que reclamavam alguma atenção. Lá se optou por não desenvolver ações
preventivas de proteção da saúde, da educação, do emprego e de outros fatores sociais
deficientes da população e o crime viu esses locais como terra fértil para o desenvolvimento
das suas ações. Ausente o Estado, a situação chegou a tal ponto de descontrole que já se
fala em “estado paralelo” para definir como o comando das favelas se está desenvolvendo,
sendo disputado e ganhando corpo com a dominação de grupos que até já impõem normas
de como funcionar aquelas sociedades, criando “leis” e “justiças” através das quais impõem
punições aos que contrariam as “normas” que são impostas pelos que controlam as
diversas favelas.
Assim, quando se fala em sistema de segurança pública, não se deve ter em mente
unicamente os órgãos nominados que compõem o artigo 144 da Constituição Federal. A
segurança pública, como obrigação de todos, deve ser observada pelas pessoas em geral,
que podem fazer alguma coisa para diminuir a criminalidade e seus efeitos. É uma
conclusão simplista, no entanto, afirmar que alguém que gradeia sua casa para dificultar a
ação de ladrões já está fazendo a sua parte, quando existem medidas inúmeras que estão
ao dispor de qualquer um para serem adotadas, aqui se incluindo trabalhos voluntários e
doações em benefício de entidades assistenciais e educacionais que atuam com imensas
dificuldades nos seus respectivos objetivos. Imagine se o que representa para famílias
carentes a disponibilidade de maiores recursos permitindo uma melhor educação para uma
criança.
Tal como estes órgãos que trabalham indiretamente em atividades preventivas e que
têm influência na segurança pública, de vital importância colocam-se outras instituições
que, embora não façam parte dos entes relacionados no artigo 144 da Constituição Federal,
precisam acompanhar todos os seus trabalhos, como as instâncias judiciárias e o ministério
público. Não se pode falar em segurança pública se não estiverem compondo o seu
segmento estas duas instituições a quem compete dar o coroamento ao trabalho policial.
Este trabalho, no entanto, não pode ser pensado isoladamente, mas integrado de forma a
aperfeiçoá-lo até que todos os interesses das comunidades sejam atendidos, eis que tudo
deve ser desenvolvido em seu benefício.
Deixemos de ver a violência, portanto, como algo que tem sua origem na natureza
humana. Interpretemo-la como um fenômeno que faz parte da história e está presente na
sociedade debatendo as particularidades sociais que influenciam cada grupo
particularmente e no seu conjunto pelas influências cada vez mais atuantes em razão da
VIII – CONCLUSÕES
É preciso que a violência, como fenômeno biopsicosocial, não seja vista como algo
que acomete unicamente algumas sociedades em função de determinadas peculiaridades
que se fazem presentes, em especial nos locais de maiores carências sociais. Ela é um
fenômeno que faz parte da humanidade integrando a consciência histórica pessoal dos
indivíduos. Está presente em todo e qualquer setor da vida humana e não pode ser
combatida a partir de conceitos ideológicos, mas de ações que contemplem todos os
estudos necessários ao seu conhecimento e origens, quer no campo conceitual geral, quer
na particularização de determinados fenômenos que se acentuam em algumas sociedades.
As polícias não devem ser vistas como inimigas da sociedade, conforme muitas
vezes são postas publicamente. Ela não é causa da violência, mas conseqüência dela e,
por isto, precisa ser conhecida quanto às suas destinações e necessidades de atuar
conforme se deparam as situações que enfrenta e que precisam ser resolvidas por
imposição da lei e do interesse individual ou coletivo.
A violência policial deve ser encarada como algo que está sempre presente na vida
dos profissionais que atuam na área e que ela é, na maioria dos casos tal como se
apresenta, necessária pela sua legalidade que impõe a defesa da sociedade e do próprio
agente. Não deve ser confundida nem generalizada com atos de desvio de conduta que
acometem alguns profissionais, nem estes delitos devem ser considerados como regras a
ponto de acharmos que fatos isolados são a prática que norteia todas as corporações.
Nenhum policial nasce como tal. Ele é um ser humano como qualquer outro que
pertence à mesma sociedade e, assim, dotado dos mesmos defeitos e virtudes. Por fim, a
solução de problemas de segurança pública não está afeta unicamente às polícias, mas a
todos os segmentos da sociedade que precisam envolver-se nas questões tendo a
consciência da importância que seu trabalho representa na condução de cada ação que
desempenha.
TERCEIRO ENCONTRO
POLÍTICAS PÚBLICAS
Ela é tida como um recurso heurístico, sabe o que é isso? Um processo que
busca desvendar e compreender algo ou uma situação. No caso das políticas
públicas, é um modelo para compreender em que pé se encontra o país e o que pode
ser feito por ele.
Ciclos de Implementação
A Lei N° 13.675, de 11 de junho de 2018, estabelece que o Plano Nacional de
Segurança Pública e Defesa Social deve ter duração de dez anos. O Decreto N° 9.489, de
30 de agosto de 2018, por sua vez determina que o PNSP deve ser estruturado em ciclos
de implementação de dois anos (art. 4º, § 3º3 ).
A dinâmica de implementação do PNSP por meio de ciclos bianuais, permite que o
tema segurança pública possa ser abordado de acordo com o dinamismo que lhe é peculiar.
A governança do PNSP, aliada ao processo de monitoramento, acompanhamento e
avaliação permitirão os ajustes necessários e o aperfeiçoamento dos ciclos seguintes.
Vale destacar que são previstas avaliações anuais do Plano, que devem ocorrer até
o dia 31 de março do respectivo ano. Assim, considerando o horizonte do Plano, os Ciclos
de Implementação são:
• Ciclo I: 2020-2022;
• Ciclo II: 2023-2024;
• Ciclo III: 2025-2026;
• Ciclo IV: 2027-2028; e
• Ciclo V: 2029-2030
As metas do Grupo 3 visam à redução dos crimes contra o patrimônio, restrito aos
roubos e furtos de veículos. Esse recorte tem duas justificativas principais: a primeira delas
diz respeito à baixa subnotificação dos delitos dessa natureza, pela combinação entre o
alto preço do bem subtraído, a possibilidade de ressarcimento por seguro patrimonial e o
impacto administrativo da ausência de declaração.
Além desta, subjaz o entendimento de que os dois delitos são impulsionadores para
uma série de outros crimes, na medida que grande parte dos delitos se dá com o suporte
de veículos para o deslocamento dos criminosos. Ademais, destaca-se que o roubo de
veículo representa grande potencial ofensivo e possui relação direta com latrocínios.
Ao se combater esses dois delitos espera-se impactos na redução de mortes violentas e
sob o ponto de vista econômico, uma vez que lesam o patrimônio dos indivíduos. Dados
extraídos do Sinesp em dezembro de 2019, apontam que a tendência é de queda, conforme
Tabela 1 a seguir:
Tabela 1 - Ocorrências de roubo e furto de veículo (2015 a 2018) – Fonte: Sinesp
Variação Variação Variação Variação
Delito 2015 2016 2017 2018
(2015/2016) (2016/2017) (2017/2018) Média
Roubo de
237.115 271.592 14,54% 276.389 1,77% 242.914 -12,11% 1,40%
Veículo
Furto de
268.709 278.639 3,70% 262.805 -5,68% 238.164 -9,38% -3,79%
Veículo
Dados Prisionais
Esse medo do desconhecido fez com que o homem procurasse formas de diminuir
os possíveis danos às suas decisões, pois estas poderiam interferir diretamente nas vidas
das pessoas que estavam sob sua responsabilidade.
Desde o início da humanidade, o ser humano tem em sua natureza o interesse de
conhecer o futuro.
Outros exemplos similares entre os povos, por exemplo: os gregos que tinham seus
oráculos, os hebreus tinham os profetas.
CENÁRIOS
Godet (1993), define cenário como sendo “o conjunto formado pela descrição
coerente de uma situação futura e pelo encaminhamento dos acontecimentos que permitem
passar da situação de origem à situação futura”.
Já Schwartz (2003), afirma que, cenário é uma ferramenta para ajudar a adotar
uma visão de longo prazo num mundo de grande incerteza. Cenário é uma ferramenta para
ordenar as percepções de uma pessoa sobre ambientes futuros alternativos nos quais as
consequências de sua decisão vão acontecer. Ou ainda, um conjunto de formas
organizadas para sonharmos eficazmente sobre nosso futuro. De forma resumida, o autor
define cenário como sendo “histórias do futuro”, histórias capazes de nos ajudar a
reconhecer as mudanças de nosso ambiente e nos adaptar a elas.
O título é possuidor de uma carga tremenda, pois age como sua referência de um
cenário específico, ele deve dar a ideia da lógica dos cenários, além de ser vivos e de fácil
memorização. A filosofia sintetiza o movimento ou a direção fundamental do sistema
considerado. As variáveis representam aspectos ou elementos relevantes do sistema ou
contexto considerado, tendo em vista o objetivo do cenário. Os atores desempenham um
papel importante no sistema, influenciando o comportamento das variáveis, com o objetivo
de viabilizar seus projetos. A cena descreve como estão organizados ou vinculados entre
si os atores e as variáveis naquele instante. E por último a trajetória é o percurso ou caminho
seguido pelo sistema no horizonte de tempo considerado (SCHWARTZ, 2003).
De acordo com Stollenwerk (1998) cenários classificam como globais, focalizados
ou de projetos. Os cenários globais são desenvolvidos com o objetivo de definir estratégias
globais. Enfocam, em seu conteúdo, questões políticas, macroeconômicas, sociais e
tecnológicas tanto nacionais quanto mundiais. Já os focalizados servem para definir
estratégias regionais ou setoriais. E os cenários de projeto são desenvolvidos para tomada
de decisão referente a investimentos que envolvam grande incerteza ou que exijam longo
prazo de maturação.
ANÁLISE SWOT
Uma das formas de analisar um cenário com o intuito de encontrar soluções para
problemas é a Análise SWOT, não vamos aprofundar muito sobre esse tipo de análise pois
não é o propósito deste curso, mas os conceitos básicos são muito importantes para trazer
referencial teórico.
Esta ferramenta tem como objetivo focalizar a combinação das forças e fraquezas
da organização com as oportunidades e ameaças do mercado. Esta análise se divide em:
Forças (pontos fortes) e Fraquezas (pontos fracos) referem-se ao ambiente interno da
organização, passível de ser controlado. Por outro lado, Ameaças e Oportunidades tratam
dos aspectos externos e "incontroláveis" para a organização. Analisando o ambiente interno
e externo, leva-se em conta os pontos fortes e pontos fracos e as ameaças e oportunidades,
para basear para a formulação da Matriz SWOT (DAYCHOUW, 2010).
A intenção de apresentar essa forma de análise para cenários, é que temos uma
grande oportunidade de dar ao Aluno Soldado PM/RN CFP 2023, ferramentas para
resolução de problemas, sabendo que a análise é importante para a redução prejuízos e
uma maior assertividade nas ações.
Este material criará condições para que você possa compreender por que a
magnitude da violência urbana no Brasil é uma das mais elevadas no mundo. Além disso,
é importante que o aluno tenha em mente que não há tendência global de crescimento da
violência. O mundo como um todo não está sofrendo com o crescimento das taxas de
homicídios. Em diversos países importantes, ao contrário, o que se verifica é a redução da
violência urbana.
O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) é uma entidade da
ONU que sistematiza as estatísticas internacionais sobre homicídios. Periodicamente
publicaram o Estudo global sobre homicídios (Global Study on Homicide).
VIOLÊNCIA EM QUEDA
INCIDÊNCIA DE ROUBOS
Esse patamar de incidência dos roubos nos coloca em posição de destaque negativo
no âmbito internacional.
RELAÇÃO ENTRE O SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA E O SISTEMA DE JUSTIÇA
CRIMINAL
OBSERVATÓRIO CONSTITUCIONAL
Segurança Pública e Justiça Criminal - Por Gilmar Ferreira Mendes 11 (04 de abril de 2015)
1
Gilmar Ferreira Mendes (Diamantino, 30 de dezembro de 1955) é um jurista, magistrado e professor brasileiro. É
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 20 de junho de 2002, tendo presidido a corte entre 2008 e 2010.
Foi indicado pelo presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em cujo governo exercera o cargo de
advogado-geral da União desde janeiro de 2000.
Temos hoje, no país, 574 mil pessoas encarceradas em penitenciárias e cadeias
públicas, em condições sub-humanas, sem nenhuma perspectiva de recuperação. Isso,
contudo, não quer dizer que o sistema punitivo esteja funcionando a contento, já que cerca
de 40% da população carcerária é de presos provisórios aguardando julgamento, muitos
por longo tempo, às vezes anos, sem sequer condenação em primeira instância.
A questão prática que se coloca são indagações acerca de quantos inquéritos são
transformados em denúncia, quantas denúncias resultam efetivamente em condenação e
se as penas fixadas estão sendo adequadamente cumpridas. São indagações que dizem
respeito, em grande parte, ao funcionamento do sistema de Justiça. Seria mais
interessante, portanto, aproveitar momentos assim para um completo diagnóstico sobre a
Justiça Criminal, que tem graves problemas de funcionalidade, para que se possa identificar
e corrigir distorções.
A toda hora deparamos, no STF, com situações de prisão provisória que poderia ter
sido substituída por alguma medida alternativa. Há uma série de medidas cautelares
previstas na referida Lei, entre elas, o monitoramento eletrônico, medida, contudo, ainda
pouco utilizada e que, se adequadamente implantada, poderia reduzir, significativamente,
a superlotação carcerária.
Além disso, cumpre à União legislar privativamente sobre direito penal e processo
penal (art. 22, I), sobre requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo
de guerra (art. 22, III), sobre convocação e mobilização das polícias militares e corpos de
bombeiros militares (art. 22, XXI), sobre competência da polícia federal e das polícias
rodoviária e ferroviária federais (art. 22, XXII).
Todo esse quadro legitima o que aqui se propõe: é preciso uma estratégia global de
segurança pública que contemple, com especial prioridade, o inadiável aprimoramento da
Justiça Criminal. É preciso pensar, com urgência, em soluções que imprimam maior
celeridade no julgamento das ações penais e uma completa reestruturação do sistema
prisional.
Esse seria o caminho. O CNJ já vem fazendo isso, por exemplo, nas ações relativas
a atos de improbidade, dando prioridade ao acompanhamento desses processos. É preciso
verificar qual a estrutura adequada para as varas criminais, as condições de trabalho de
juízes e servidores, os recursos materiais disponíveis, entre outros temas relevantes para
um melhor funcionamento da Justiça Criminal. Os próprios juízes, a partir de suas
experiências e das dificuldades enfrentadas no exercício da jurisdição criminal, muito
poderiam contribuir com sugestões para melhoria do sistema.
É claro que ações dessa natureza, em âmbito nacional, devem contar com alguma
fonte de recursos específicos. Nesse sentido, poderíamos pensar, também, em algum
fundo de segurança pública que pudesse atender prontamente, por exemplo, a situações
mais sensíveis em Estados com notória carência de recursos.
INTEGRAÇÃO
Para montar um CONSEG, quais são os grupos que devem participar, para que
efetivamente se consiga resultados proveitosos para melhoria da segurança e
aumento da qualidade de vida?
O CONSEG é uma parceria que reúne seis grandes grupos para que juntos, com
suas experiências e capacidade criativa, colaborem para solucionar os problemas de
segurança, os quais são:
- As organizações de polícia que atuam no local;
- O cidadão comum que resida, estude ou trabalhe na comunidade;
- As autoridades públicas dos diversos órgãos e esferas de governo;
- A comunidade de negócios;
- As organizações não governamentais que atuam na comunidade;
- A mídia.
SÉTIMO ENCONTRO
• A base desta filosofia é a comunidade. Para direcionar seus esforços, a Polícia, ao invés de buscar
ideias pré-concebidas, deve buscar, junto às comunidades, os anseios e as preocupações das
mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de segurança.
• Dentro da comunidade, os cidadãos devem participar, como plenos parceiros da polícia, dos direitos
e das responsabilidades envolvidas na identificação, priorização e solução dos problemas.
• A ideia é que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência. Com isso,
o número de chamadas do COPOM deve diminuir.
• O Policiamento Comunitário pressupõe um novo contrato entre a polícia e os cidadãos aos quais
ela atende, com base no rigor do respeito à ética policial, da legalidade dos procedimentos, da
responsabilidade e da confiança mútua que devem existir.
6 – Extensão do Mandato Policial
• Cada policial passa a atuar como um chefe de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar
iniciativa, dentro de parâmetros rígidos de responsabilidade. O propósito, para que o Policial possua
o poder, é perguntar-se:
➢ Isto está correto para a comunidade?
➢ Isto está correto para a segurança da minha região?
➢ Isto é ético e legal?
➢ Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar?
➢ Isto é condizente com os valores da Corporação?
• Valorizar as vidas de pessoas mais vulneráveis: idosos, sem teto, pessoas com necessidades
especiais, etc.
• Ter confiança nas pessoas que estão na linha de frente da atuação policial, confiar no seu
discernimento, sabedoria, experiência e, sobretudo na formação que recebeu. Isso propiciará
abordagens mais criativas para os problemas contemporâneos da comunidade.
9 – Mudança interna
10 – Construção do futuro
• Objetivos:
➢ Fomentar a integração em ações estratégicas e operacionais, em atividades de
inteligência de segurança pública e em gerenciamento de crises e incidentes;
➢ Estimular e apoiar a realização de ações de prevenção à violência e à criminalidade,
com prioridade para aquelas relacionadas à letalidade da população jovem negra,
das mulheres e de outros grupos vulneráveis;
➢ Apoiar as ações de manutenção da ordem pública e da incolumidade das pessoas,
do patrimônio, do meio ambiente e de bens e direitos;
➢ Incentivar medidas para a modernização de equipamentos, da investigação e da
perícia e para a padronização de tecnologia dos órgãos e das instituições de
segurança pública, entre outros objetivos.
• A Política será estabelecida pela União e está prevista para valer por dez anos.
• Caberá aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios estabelecerem suas respectivas
políticas a partir das diretrizes do Plano Nacional.
Institui:
Dispõe:
• Propor a Política Estadual de Segurança Pública e de Defesa Social (PESPDS) e a Política Estadual
de Administração Penitenciária (PEAP), conjuntamente com a SESED SEAP e SEMJIDH;
• Estimular a modernização e o desenvolvimento institucional das forças estaduais de segurança
pública e de defesa social;
O FUNSEP
Dentre as finalidades:
• O aperfeiçoamento e a modernização da gestão, a elaboração de diagnósticos e estudos, a formulação, a
implementação, o desenvolvimento, o acompanhamento e o monitoramento das políticas e estratégias, dos
programas e projetos, da construção e reforma de infraestrutura física, do reaparelhamento, da tecnologia da
informação e da comunicação, da formação do capital humano, dentre outras.
Os recursos:
• Poderão ser utilizados para a realização de programas de ensino e aprendizagem, especialização,
aperfeiçoamento e requalificação dos agentes de segurança pública.
OITAVO ENCONTRO
O termo gestão pode ser definido como um conjunto de tarefas que procuram
garantir a utilização eficaz de todos os recursos disponibilizados pela organização, a fim de
serem atingidos os objetivos pré-determinados. Cabe à gestão a otimização do
funcionamento das organizações através da tomada de decisões racionais e
fundamentadas na recolha e tratamento de dados e informações relevantes.
Neste passo, a gestão pública pode ser vista como a utilização das práticas de
gestão voltadas à administração e emprego dos recursos disponíveis no planejamento,
execução e avaliação das funcionalidades dos serviços públicos.
Como instituições públicas, as Polícias precisam ser geridas com técnicas que
consigam extrair a máxima efetividade de sua atuação, mesmo diante das adversidades
comumente enfrentadas, como a falta de recursos humanos e de novas tecnologias.
É importante para as Polícias encontrarem modelos que lhes permitam atuar com
eficiência e transparência, alcançando índices aceitáveis de produtividade e de resolução
de casos, levando criminosos à Justiça, sem se afastar de sua missão de proteção de
direitos fundamentais.
Neste estudo serão abordados de forma simplificada os modelos de gestão policial
que consideramos os mais adequados à atividade Policial, sem excluir outros que também
podem ter utilização pela organização.
O primeiro modelo de gestão policial a ser abordado é o chamado policiamento
para a resolução de problemas, também conhecido como policiamento orientado para o
problema (POP), que se trata de uma estratégia, cujo objetivo principal é melhorar o
policiamento profissional, acrescentando reflexão e prevenção criminal.
O policiamento orientado para o problema pressupõe que os crimes podem estar
sendo causados por problemas específicos e talvez contínuos na mesma localidade, de
modo que a polícia deve identificar e atacar a causa do crime.
Deste modelo surgiu o método IARA, que significa identificar, analisar, responder e
avaliar. Identifica-se o problema, analisa-se o ambiente criminal e seus atores, implementa-
se resposta adequada à eliminação ou diminuição do problema, e, por fim, são avaliados
os resultados, com base em estatísticas criminais e outros modos de aferição.
A importância do policiamento orientado para o problema está em não se contentar
tão somente com o esclarecimento de um ou alguns crimes, preocupando-se em eliminar
a causa, evitando a repetição criminal.
Contudo, deve-se observar que o modelo de policiamento orientado para o
problema tem aplicação em áreas de pouca extensão, como bairros, por exemplo, não
sendo adequado para áreas maiores. Além disso, a causa a ser atacada, muitas vezes,
depende de políticas públicas que não podem ser implementadas pela polícia, mas sim pelo
governo.
Outro modelo de gestão de policiamento que interessa ao estudo é o orientado pela
inteligência, cujo foco está nos criminosos de maior reincidência e responsáveis pelos
crimes mais graves, sendo de suma importância para seu sucesso o compartilhamento de
informações, a fim de que o trabalho de inteligência leve à identificação dos responsáveis
pelo incremento da criminalidade.
A inteligência deve interpretar adequadamente o ambiente, produzindo
conhecimento capaz de influenciar o decisor e levá-lo a tomar decisões que efetivamente
impactem a estatística criminal.
Além dos dois modelos já mencionados, também é relevante falar no modelo de
policiamento preditivo, termo que vem da tradução da expressão em inglês predictive
policing, e se refere a ações policiais preventivas com base na capacidade de prever
possíveis crimes, locais de ocorrência e, algumas vezes, até seus autores.
O policiamento preditivo funciona através da análise de dados, informações e
estatísticas, de modo a projetar a ação criminosa em um determinado local, permitindo,
muitas vezes, que o crime seja antecipado e até evitado. Trata-se de importante método de
prevenção ao crime.
Contudo, não se trata de uma técnica que preveja com certeza onde o crime irá
ocorrer ou quem irá praticá-lo, como se fosse uma bola de cristal, mas sim de análise de
riscos, apontando locais onde há maior probabilidade de um evento criminoso acontecer,
tudo com base em informações e dados processados.
Como se percebe, a inteligência e a análise criminal ganham destaque nos modelos
de policiamento elencados, especialmente a partir das possibilidades apresentadas pelas
novas tecnologias da informação.
Nesse aspecto, vale ressaltar o Compstats (acrônimo de estatísticas
computadorizadas, em inglês), que se caracteriza pelo emprego intensivo de estatísticas
criminais, através da análise de dados oriundos de diversas fontes como forma de implantar
uma estrutura de accountability e de solução de problemas estratégicos.
No compstats há largo emprego da tecnologia para identificação dos problemas
relacionados à criminalidade e suas soluções, ajudando na gestão de recursos e escolha
das estratégias adequadas.
No modelo de gestão compstats são importantes às reuniões para verificação dos
resultados obtidos, contudo, uma das críticas é que nas reuniões, muitas vezes, dá-se mais
importância ao desempenho na apresentação que aos resultados realmente alcançados.
Pois bem, precisa ficar claro que os modelos aqui apresentados não são
excludentes, ao contrário, complementam-se e representam uma verdadeira mudança de
paradigma das polícias, aumentando a eficiência e eficácia, como vem sendo demonstrado
onde foram adotados.
Portanto, para as Polícias, cada um dos modelos propostos pode contribuir para
uma gestão inteligente e eficiente, com emprego adequado dos recursos humanos e
tecnologias, tornado a investigação criminal proativa e até preventiva.
O policiamento orientado para o problema permite uma maior aproximação das
Polícias à população, além da identificação da causa de crimes em certas regiões,
possibilitando a eliminação do problema na raiz.
Por outro lado, com o policiamento orientado pela inteligência, as Polícias podem
focar em criminosos mais perigosos, especialmente quando de investigações envolvendo
organizações criminosas, associações criminosas e milícias.
Já o policiamento preditivo ajuda na prevenção de delitos, possibilitando que a
Polícia Militar deixe de atuar apenas de forma reativa e procure se antecipar à ocorrência
do crime, minimizando os custos da repressão e diminuindo a incidência criminal.
Mas para a efetividade dos modelos de gestão, é preciso a verificação de
resultados, por isso a importância também do compstats, a fim de que as estratégias
empregadas sejam avaliadas e para que se possam apresentar os resultados dos trabalhos
à população.
Portanto, a conclusão a que se chega é de que não há um só modelo de gestão
policial que pode ser aplicado às Polícias. Na verdade, para uma gestão eficiente e eficaz,
as Polícias devem lançar mão de um conjunto de modelos de policiamento, um
complementando o outro naquilo que lhe é peculiar.
Destarte, pelo que foi apresentado, entende-se que o Policiamento Orientado para
o Problema, o Policiamento Orientado pela Inteligência, o Policiamento Preditivo e o
Compstats, juntos, possibilitam uma maior efetividade na gestão das Polícias, sem prejuízo
da utilização de outros modelos que se adéquem e venham a contribuir para o bom
funcionamento das instituições policiais no Brasil.