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Sistema de Segurança

Instrutor:
ST PM RR Vantuil
2º Sgt PM Janildo
Sistema de Segurança Pública

1.2.3 ABORDAGEM SISTÊMICA DA SEGURANÇA


PÚBLICA.
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Sist. de Segur. Púb. e Gest. Integ. e
Comunitária

A segurança pública tem sido


uma das maiores preocupações dos
brasileiros. Excetuando-se os dias
atuais em que a saúde tem ocupado
os primeiros lugares com as
notícias de epidemias de dengue no
Rio de Janeiro e bactérias diversas
que começaram a atacar os
hospitais de Porto Alegre, é a
segurança pública a maior
reivindicação lembrada pela
população em geral.
ABORDAGEM SISTÊMICA DA
SEGURANÇA PÚBLICA.

Alberto Afonso Landa Camargo


Alberto Afonso Landa Camargo é Coronel da reserva remunerada da Brigada Militar
do Rio Grande do Sul, Professor graduado em Letras e em Filosofia, escritor com vários
trabalhos publicados, e pesquisa
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Toda vez que se fala em polícia no Brasil idealiza-se a instituição. Tratam-na como se, de
repente, vivêssemos num país onde tudo é maravilhoso e apenas a polícia destoa desta regra.
Age-se como se o policial seja um alienígena brutalizado e incapaz que acabou de cair em um
mundo perfeito onde ninguém comete erros. Só ele os cometem. Caídos neste mundo perfeito,
os policiais e suas atitudes passam a ser questionados pelos idealistas do sistema, que não
entendem que razões levam a polícia a, em alguns casos, tratar com violência determinada
pessoa. É como se a violência não existisse e a polícia fosse a responsável por trazê-la ao
mundo, fosse causa dela e não sua consequência.
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A formação dos seus efetivos e a visão de que a sociedade deve sempre ser vista como
amiga, mesmo naqueles casos em que precisam ser coibidos crimes ou simples desvios de
conduta, é que vão determinar a sua maior ou menor eficiência e não a mera adjetivação que
unicamente define a sua estrutura como corpo.
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Trata-se o Brasil como se o país fosse o único no mundo a ter uma polícia adjetivada de
militar. Desconhece-se que na Itália ainda existem os Carabinieri, a Espanha ainda conte com
a sua Guardia Civil (que apesar da adjetivação, é militar), a França ainda disponha da
Gendarmerie, o Chile possua uma das polícias mais respeitadas da América Latina, os
Carabineros, e a Holanda mantenha a Rijkspolitie, todas elas organizações militares voltadas à
atividade policial como o é a Polícia Militar brasileira.
Uma polícia democrática, independente da adjetivação de civil ou de militar, precisa
deixar de ser conservadora, de centralizar-se em conceitos e comandos apegados a tradições
que fundamentaram sua criação e abdicar de manter-se destoante das necessidades sociais
como se a polícia não fizesse parte da mesma sociedade que jura defender.
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1.2.3.1.A FORMAÇÃO DO POLICIAMENTO MODERNO NO BRASIL
No Brasil, as organizações policiais do tipo moderno, caracterizadas por seu
caráter público, especializado e profissional, surgiram no período de transição do
século XVIII para o século XIX.
No Brasil colonial, não havia a estrutura de uma polícia profissional separada do
sistema judicial e das unidades militares. A polícia como instituição à parte teve
início antes da independência formal do Brasil com a chegada da família real
portuguesa e posterior criação, em 10 de maio de 1808, da Intendência Geral da
Polícia da Corte e do Estado do Brasil.
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Em1809,foi criada no Rio de Janeiro a Guarda Real de Polícia. Subordinada à
Intendência Geral da Polícia, a Guarda Real se caracterizou por ser uma força policial
de tempo integral, organizada militarmente e com ampla autoridade para manter a
ordem e perseguir criminosos.
Durante a crise política instaurada no Rio de Janeiro no processo de transição
institucional de 1831/1832 –período regencial – foi criado, na estrutura estatal, um
corpo militarizado, permanente e profissional com a função de policiara cidade.

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Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil: responsável pelas


obras públicas, por garantir o abastecimento da cidade, a ordem pública,a vigilância
da população, a investigação de crimes e a captura de criminosos. O intendente
tinha status de MINISTRO DO ESTADO e representava a autoridade do monarca
absoluto englobando poderes legislativos, executivos (polícia) e judiciais.

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Guarda Real de Polícia - “A missão permanente da nova Guarda Real, era manter a
tranquilidade pública (…) e muitas outras obrigações relativas à ordem civil. Ficava
distribuída por diversos locais, na área do centro da cidade ou próximo dela, para
facilitar o patrulhamento e a pronta resposta aos distúrbios. Contava com 75 (setenta e
cinco) homens em 1818 e cerca de 90 (noventa) nofinaldadécadade1820,sua missão de
policiar em tempo integral tornava-a mais eficiente do que o antigo sistema de
vigilância esporádica por guardas civis. Seus oficiais e soldados provinham das fileiras
do Exército regular e, como as tropas militares, recebiam apenas estipêndio simbólico,
além de alojamento e comida nos quartéis e do uniforme.”
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Acompanhe agora as transformações que ocorreram ao longo do século XIX:
A partir de 1833 foram redefinidas suas atribuições funcionais e procedimentais da
polícia, que incluíam entre outros: registros de estrangeiros que entravam no porto ou
dele saíam, registros de prisões, procedimentos relativos a requerimentos e pedidos
de inquérito, coordenação de ataques a quilombos de escravos foragidos, coleta de
provas relacionadas aos crimes de roubo, de homicídio e prisões em flagrante.
A estrutura da Polícia Civil na década de 1830 englobava os juízes de paz que
tinham autoridade de polícia e ampla responsabilidade pela vigilância em seus
distritos para prevenir crimes e investigar os crimes cometidos.
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Polícia Militar foi instruída a estabelecer o patrulhamento na cidade e nos subúrbios.
No mesmo período outra instância do aparato repressivo do Estado tomava forma:
A secretariada Polícia. Esta Secretaria foi a semente a partir da qual se desenvolveu a
Polícia Civil que conhecemos.
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Tinham autorização para entrar em tavernas, armazéns e outros edifícios públicos a
qualquer momento para efetuar prisões ou desfazer ajuntamentos de
escravos.”(HOLLOWAY,1997:93-94).
Somenteem1841os juízes de paz foram substituídos por funcionários de polícia
nomeados, os quais adquiriram também autoridade para investigar, prender, julgar e
sentenciar os pequenos infratores no próprio distrito policial, sem a intervenção de
advogados, promotores ou autoridades judiciais superiores.
A reforma de 1841(Lei 3 de dezembro), confirmou o princípio da centralização da
autoridade nas mãos do chefe de polícia nomeado. A nova estrutura nacional previa
um chefe de polícia em cada província e, no Rio de Janeiro, o chefe de polícia
deveria prestar contas diretamente ao ministro da justiça.
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O efeito mais significativo da reforma de 1841 foi estender formalmente poderes
judiciais à polícia. A partir de então os chefes de polícia, delegados e subdelegados
tinham plena autoridade, sem a intervenção de nenhuma outra autoridade, para: expedir
mandados de busca e apreensão, efetuar prisões, incriminar formalmente, determinar
fiança, conduzir audiências judiciais sumárias, pronunciar sentenças e supervisionar a
punição.
Em 1871 novas mudanças no arcabouço legal e na estrutura institucional alteraram
o sistema judicial e as funções da Polícia Civil. A reforma de 1871 ampliou o sistema
judicial para que este assumisse as funções antes desempenhadas por chefes de
polícia, delegados e subdelegados.
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A reforma de 1871 possibilitou um grande avanço no processo de profissionalização do
sistema policial uma vez que houve a equiparação das funções policiais e judiciais
possibilitando assim a especialização das funções de polícia. Os delegados e subdelegados,
cargos para os quais nunca se exigiu formação superior em direito, passaram a dedicar-se com
exclusividade a funções estritamente policiais, além de supervisionar o pessoal e administrar as
delegacias.
As violações do código criminal no Rio de Janeiro e nas capitais de província mais
importantes só poderiam, daí por diante, ser julgadas por “juízes de direito” ou juízes do
Tribunal da Relação. Os cargos de chefe de polícia, delegado e subdelega do foram declarados
assim incompatíveis com o exercício de qualquer função judicial. Pela nova lei, os chefes de
polícia continuavam incumbidos de reunir provas para a formação de culpa do acusado, mas os
resultados desse inquérito eram entregues aos promotores públicos ou juízes para avaliação e
decisão final.
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O processo de profissionalização ainda não estava completo. Neste período os
delegados e subdelegados não recebiam um salário regular. Gratificações aliviavam
esporadicamente o ônus financeiro do exercício da função, mas somente quem tinha
uma outra fonte de renda podia aspirar a esses cargos.
Em 1890, após a Proclamação da República, como parte das mudanças
administrativas modernizadoras do novo sistema político,todos os funcionários do
sistema policial tornaram-se profissionais assalariados, trabalhando em tempo
integral. Uma etapa importante do processo de profissionalização da polícia civil
estava assim concluída.
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Portanto, o nascimento da polícia pública no Brasil e também o processo de
especialização dessas forças deve-se à introdução de modernas formas institucionais
advindas do processo de centralização do estado ao assumir certas funções de controle
antes confiadas à classe dos proprietários e seus agentes privados. Ao final do período
imperial o caráter público das forças policiais brasileiras já estava consolidado.
O processo de profissionalização policial, que é um atributo moderno da polícia mais
evidente do que o caráter público ou especialização, alcançou avanço considerável no
período imperial. No entanto, essa foi uma reforma progressiva que ganhou significativo
impulso nos primeiros anos do período republicano, impulsionada pelo contexto de
mudanças políticas, institucionais e sociais.
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Saiba mais sobre o histórico das forças policiais no Brasil:
“O crescimento da polícia pública pode ser atribuído a dois fatores: à consolidação
do poder estatal frente à resistência violenta e o abrangente desencanto público com
os habituais mecanismos de segurança privados (não estatais). O que acontece é que,
enquanto os Estados existirem, alguma polícia pública também existirá,
especialmente se o seu monopólio do poder político for ameaçado por violência. Ao
mesmo tempo,o desencantamento da população pode se virar contra qualquer tipo de
mecanismos de segurança, sejam eles públicos ou privados. É simplesmente um
acidente histórico que em nosso passado recente os mecanismos privados tenham
sido considerados inadequados.
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(…) Se as desagregadas necessidades de segurança da população não são satisfeitas
pelos Estados, então mecanismos de policiamento privados podem ser ressuscitados.
Este desenvolvimento é mais provável de acontecer sob as seguintes circunstâncias:
onde o poder estatal não é desafiado politicamente, onde a criminalidade dirigida a
indivíduos é considerada uma ameaça séria e crescente e onde a ideologia não exclui a
segurança privada. Estas condições podem ser encontradas hoje no Ocidente capitalista,
aí a polícia privada e os agentes de segurança às vezes são em maior número do que os
públicos. (BAYLEY,2001:230).
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1.2.3.2. Sist. de Segur. Púb. e Gest. Integ. e Comunitária NO BRASIL
Sistemas Policiais Conforme Almeida Júnior (1959, p.247-248) existem quatro
sistemas dos atos policiais.
O primeiro é o sistema político.
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O primeiro é o sistema político.
O fim da polícia é a Ordem Pública e a segurança individual; e, para isso, tem, não só de
prevenir os delitos, como de evitar que os delinquentes fujam à ação da justiça. Polícia é
sempre administrativa. É o sistema adotado pela Legislação e práticas inglesas. (SILVA,
2002). Segundo Vieira (1965) o sistema político apenas considerou a ordem social.
Para Furtado (1997, p.132): “Ordem Pública é a situação e o estado de legalidade normal,
em que as autoridades exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam e
acatam”.
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O segundo é o sistema jurídico.
Nele a polícia tem por fim, não só prevenir os delitos, não só evitar que os delinquentes
fujam à ação da justiça, mas, também, auxiliar a ação judiciária na investigação dos indícios
e provas do crime. Exercendo as funções da primeira espécie, a polícia é administrativa 35 e
exercendo as funções da segunda espécie, a polícia é judiciária. É o sistema francês. (SILVA,
2002). Vieira (1965) destaca que neste sistema, atende-se a liberdade individual.
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O terceiro sistema é o eclético.
A polícia tem, por finalidade, assegurar as vantagens e remediar os prejuízos da
coexistência e coabitação dos indivíduos na sociedade. A Polícia é sempre um ramo da
administração social. (SILVA, 2002). Em sua doutrina, ressalta Vieira (1965) que neste
sistema o criador buscou abranger a ambas (político e jurídico). O último sistema é o
histórico.
A polícia tem, por finalidade, também, garantir a ordem social e a segurança pública, mas,
para isso, a lei precisa de agentes, cujas funções não podem ser sempre completamente
separadas das funções judiciárias. (SILVA, 2002) Quanto à situação brasileira, à exceção do
eclético, a legislação aceitou esses sistemas, em fases distintas.
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O Político predominou no Código de Processo, em 1832. O Histórico, na Lei de 3 de
dezembro de 1841 e o Jurídico, cujos princípios temperaram o regulamento 120, de 31 de
janeiro de 1842, estiveram sensivelmente presente no decreto 4824, de 22 de novembro do
mesmo ano. (VIEIRA, 1965).
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Atualmente, o sistema adotado é o jurídico francês, que surgiu na França, no século
XVI. Em 1794, ocorreu a divisão da polícia em administrativa e judiciária. Os artigos 19 e 20
do Código de Brumaire, do ano IV (1794), assim fixaram a distinção: A polícia é administrativa
ou judiciária.
A Polícia administrativa tem por objeto a manutenção habitual da ordem pública em cada
lugar e em cada parte da administração geral. Ela tende principalmente a prevenir delitos. A
polícia judiciária investiga os delitos que a polícia administrativa não pode evitar que fossem
cometidos, colige as provas e entrega os autores aos tribunais incumbidos pela lei de puni-los.
(SILVA, 2002, p.33- 40).
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Em decorrência deste sistema, necessitou-se criar polícias direcionadas a cada segmento –
administrativo e judiciário. A sociedade brasileira, de um modo geral, costuma confundir as
atribuições dos diversos órgãos 36 responsáveis pela manutenção da Segurança Pública do país,
não sabendo definir quais funções caberiam a cada um deles.
Dentre as várias polícias existentes no Brasil − Polícia Militar (PM), Polícia Civil (PC),
Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Polícia Ferroviária Federal (PFF),
além das Guardas Municipais, criadas pelos municípios − quis o legislador constitucional
garantir um serviço essencial e eficiente de preservação da ordem pública e da segurança
pública e atribuiu a cada uma delas uma função diversificada, todas em busca da segurança
pública. À Polícia Militar, a função administrativa – à Polícia Civil, a judiciária.
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Resumindo: A polícia administrativa incide sobre bens, direitos e atividades, ao passo que,
a polícia judiciária atua sobre as pessoas, individualmente ou indiscriminadamente. Porém,
ambas exercem função administrativa, ou seja, atividade que buscam o interesse público.
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Objetivos:
Identificar as características estruturais do sistema de policiamento brasileiro;
Reconhecer os critérios de diferenciação entre as forças policiais brasileiras e
identificar as consequências da diferenciação funcional no campo institucional policial;
Identificar propostas referentes a uma reestruturação do campo institucional policial como
alternativa para a construção de um novo modelo do sistema policial;
Reconhecer o “papel” e a “função” das polícias brasileiras na sociedade democrática; e
Conscientizar-se da importância de uma polícia cidadã.
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Introdução
O que seria polícia?
A ação de policiamento e a definição funcional não permitem
distinguir claramente o que é polícia.
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O conceito moderno de polícia compreende três dimensões:
1) Caráter público.
2)Especialização
3)Profissionalização
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1) Caráter público.
A organização policial é uma agência pública, formada, paga e controlada pelo governo.
2)Especialização
O policiamento é direcionado, principalmente, à aplicação da força física.
3)Profissionalização
Preparação explícita para a realização de funções exclusivas da atividade policial. A
profissionalização envolve recrutamento por mérito, treinamento formal, evolução na carreira
estruturada, disciplina sistemática e trabalho em tempo integral.
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A partir dessas três dimensões, é possível definir Polícia como uma instituição
especializada e profissional, autorizada pelo Estado para manutenção da ordem social
através da aplicação da força física, cujo monopólio pertence ao Estado.
As características que definem a polícia moderna – caráter público, especialização e
profissionalização, não se constituem em requisitos únicos para a definição de uma força
policial.
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Afinal, o que define a polícia?.


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Percebe-se nessa distribuição das disciplinas, a concentração nas ementas de formação
jurídica tando do oficial coma da praça da Polícia Militar (que têm suas ações formativas
reguladas pela Matriz Curricular nacional - 2014) . Enfim, a priori, a função reguladora das
relações interpessoais na aplicação de sanções coercitivas do aparelho ideológico do Estado,
por meio da força física desnecessária ou ultrapassando o limite da lei, não absorve as origens
dos conflitos sociais, a violência e a leitura de um mundo complexo e dinâmico.
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Para Bayley, o termo Polícia se refere a pessoas autorizadas por um grupo para regular as
relações interpessoais dentro deste grupo através da aplicação de força física.
(BAYLEY,2001:20).
Tal definição contém necessariamente três elementos definidores para a existência da
polícia:
1)Força física;
2) Uso interno da Força
3)Autorização coletiva
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1)Força física;
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2) Uso interno da Força


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3)Autorização coletiva
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A polícia a serviço da comunidade é, portanto, condição definidora de sua própria
existência.
Os atributos de força física, uso interno e autorização coletiva definem o conceito de Polícia
e estão articulados ao formato contemporâneo das organizações policiais que remetem ao
caráter público, à especialização e à profissionalização, aspectos estruturais da organização
policial no Brasil, cuja constituição se processo um a formação do Estado Nacional Brasileiro
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1.2.3.3. A ESTRUTURA DO SISTEMA DE POLICIAMENTO BRASILEIRO.
O Estado Nacional Brasileiro apresenta um sistema de policiamento moderadamente
descentralizado e multiplamente descoordenado.
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SISTEMA DESCENTRALIZADO
Dentre os direitos sociais e individuais assegurados a todos os cidadãos brasileiros pela
Constituição de 1988 (*), destaca-se a preservação da ordem pública e a defesa das pessoas e
do patrimônio.
A preservação destes direitos é dever do Estado, exercida a partir das esferas Federal e
Estadual. O controle sobre o policiamento público é, portanto, exercido independentemente por
unidade federativa sobre suas respectivas forças policiais ,com competência prevista na
Constituição Federal, Constituição Estadual e Leis Orgânicas Estaduais, enquanto que a união
possui força policial própria (Polícia Federal) com competência prevista na Constituição.
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Organização e Funcionamento das Polícias Civis Estaduais e do Distrito Federal.
Constituição de1988(*)

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através
dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV- polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
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A direção operacional das forças policiais não parte de um único comando centralizado,
uma vez que a constituição de 1988 subordinou a polícia civil, polícia militar e o corpo de
bombeiros aos Governadores dos Estados e do Distrito Federal.
Dessa forma, o exercício da segurança pública nacional é realizado por intermédio dos
seguintes órgãos:
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Polícia Federal
Polícia Rodoviária Federal
Polícia Ferroviária Federal
Polícias Civis e
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares
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1.2.3.4. SISTEMA MULTIPLAMENTE DESCOORDENADO
O sistema brasileiro de policiamento caracteriza-se pela existência de forças múltiplas e
descoordenadas entre si. Um sistema é multiplamente descoordenado “quando mais de uma
força tem autoridade sobre a mesma área” (Bayley, 2001: 71), gerando na maioria das vezes
um processo de “concorrência” e “sobreposição” entre forças policiais distintas.
Esse processo de “concorrência” e “sobreposição” de poderes foi marcante na configuração
das forças policiais nos primórdios da República. Conforme demonstrou BRETÃS no início do
século XX, transitavam pelas ruas do Rio de Janeiro policiais civis e militares, guardas
nacionais e noturnos além de militares do exército e da armada, todos eles dotados de
autoridade sobre a população.
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A disputa de autoridade policial e de atribuições se dava também entre as polícias civil e
militar, cada qual objetivando fundar o princípio de sua autoridade sobre a outra. O controle e a
guarda de presos são ilustrativos desse processo.
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A Constituição Federal de 1988 destinou um capítulo específico para o tratamento da
matéria. No Título V, artigo 144, consagra o dever do Estado, bem como o direito e a
responsabilidade de todos nas questões relativas a essa garantia; destacando o exercício em prol
da preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, efetuado
pelas polícias federal, rodoviária federal, ferroviária federal, civil, militar e corpo de
bombeiros. Não obstante a ausência de considerações explícitas, suas atividades incluem a
participação do Poder Judiciário, do Ministério Público e do Sistema Penitenciário. Dessa
forma, objetivou-se através da interação de órgãos estatais e comunidade, a prevenção e o
controle das manifestações da violência, garantindo o exercício da cidadania, bem maior
tutelado pelo sistema democrático.
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Entretanto, a gestão independente de cada unidade federativa sobre suas respectivas forças
policiais e as atribuições específicas de cada órgão exige extremo equilíbrio na coordenação das
diversas políticas públicas implementadas, para concretizar a interação necessária prevista pela
abordagem eleita. A omissão da análise deste aspecto contribuiu para o fracasso dos projetos
implementados, bem como a fomentação de discursos demagógicos e na retórica vazia segundo
os quais a brutalidade policial significa, sobretudo, competência (SOARES, 2006). Com isso, o
policiamento brasileiro assumiu as características de um sistema moderadamente
descentralizado e multiplamente descoordenado, haja vista o exercício de mais de uma força
sobre a mesma área, enfatizando a competição e sobreposição de autoridades (JÚNIOR, 2008).
disponível em: <
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=51
57
>. acesso em 22 jun 2019.
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Polícia Militar - A polícia militar exercia o policiamento ostensivo e controlava aguardados
presos nas delegacias, funções que influíam diretamente no trabalho da polícia civil. As queixas
sobre prisões e solturas irregulares eram feitas de parte a parte a todo momento, acirrando o
processo de concorrência de forças. Com o resultado das reformas policiais levadas a efeito nos
primeiros anos do século XX, foi criada a Guarda Civil.
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A multiplicidade das forças repressivas atuando no mesmo espaço gerou inúmeros conflitos
entre os membros destas forças exigindo grande esforço por parte da organização policial
(polícias civil e militar) no sentido de afirmar o seu monopólio do exercício repressivo,
delimitando suas fronteiras com as demais instituições armadas, ou dotadas de poderes
coercitivos (Exército, Armada, guardas nacionais e noturnos–polícia municipal).
A disputa de autoridade policial e de atribuições se dava também entre as polícias civil e
militar, cada qual objetivando fundar o princípio de sua autoridade sobre a outra. O controle e
aguarda de presos são ilustrativos desse processo.
Guarda Civil - Corporação destinada a executar o policiamento ostensivo uniformizado
juntamente às Polícias Militares e que, até 1965, esteve abrigada na estrutura administrativa das
Polícias civis dos principais estados brasileiros.
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Essa conformação estrutural e administrativa da Guarda Civil reforçou o caráter
múltiplo/descoordenado do sistema policial brasileiro. Percebemos assim que o padrão
histórico do policiamento no Brasil – desde o Império (1822-1889) até os dias atuais, têm sido
o da existência de, no mínimo, duas polícias atuando no mesmo espaço geográfico (o âmbito
das províncias e, mais tarde, dos estados federados).
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Autoridade concorrente - No Brasil essa unidade é a Polícia Federal criada em 1967 com
poderes para lidar com as responsabilidades que transcendem às das unidades governamentais
subordinadas, tem atuação ampla e ativa nos estados federados não necessitando de obter
permissão local para agir. Ocorre assim, uma sobreposição de autoridade entre a Polícia Federal
e as Polícias Civis e Militar, todas com autoridade conjunta de ação em território comum.
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Caráter Descoordenado - Exemplo típico desta situação está no enfrentamento e apuração
dos crimes de tráfico de drogas, que embora seja da competência da Polícia Federal,é apurado
de forma contumaz pelas polícias estaduais, através de convênios firmados entre Estados e a
União.
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1.2.3.5 - PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS DO SISTEMA BRASILEIRO DE
POLICIAMENTO
A estrutura do sistema de policiamento brasileiro, multiplamente descoordenado e
moderadamente descentralizado, não se alterou ao longo do tempo. Atualmente no Brasil há
duas polícias por estado, três polícias da União, mais uma série de Guardas Municipais (ou
civis metropolitanas).
No Brasil, distinguimos as forças policiais pelo critério funcional, identificado por
Medeiros como especialização “extra-organizacional”. Neste sentido, no mesmo espaço
geográfico, uma polícias e ocupa da investigação (Polícia Civil) e a outra executa as tarefas
paramilitares e de patrulhamento (Polícia Militar).
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Divisão funcional, ou especialização extra-organizacional das Polícias Civil e Militar é
resultado, segundo Medeiros, da formação incompleta do Campo Institucional Policial e
consequente adesão das Polícias Militar e Civil aos campos da Defesa e da Justiça
respetivamente. As trocas institucionais entre as polícias militar e civil privilegiaram, ao longo
dos anos – em diferentes contextos políticos, as organizações de Defesa – Exército, e da Justiça
– Poder Judiciário, e não as próprias polícias que mantiveram-se afastadas uma da outra.
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O Brasil não é exceção em termos de números de força policial. Na Alemanha, até 1975,
cada unidade federada organizava sua (s) polícia (s). Na França e Itália, são duas as
organizações nacionais, além de forças paramilitares especiais e forças das comunas ou
cidades. Nos Estados Unidos, em 1980, havia 19.691 forças registradas no Departamento de
Justiça. (MEDEIROS,2004:278). No entanto, o que nos diferenciados países citados é o critério
funcional e não geográfico das forças policiais.
Saiba mais...Nos países mencionados (Alemanha, Itália, França, Estados Unidos) a
diferenciação entre as forças policiais ocorre pelo critério geográfico. Em regra cada
organização realiza as três tarefas policiais: polícia de ordem, polícia criminal, polícia urbana.
Por exemplo, nos Estados Unidos na mesma organização policial há officers patrulhando as
ruas e detectives investigando crimes.
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O campo institucional é definido por um processo de isomorfismo entre determinadas
organizações, que compartilham mitos e fontes de legitimidade e que tendem a adotar as
mesmas “regras do jogo” devido à intensa troca de recursos (técnicos e institucionais) que
estabelecem entre si.
No Brasil, o campo institucional policial foi definido por um processo de isomorfismo entre
a Polícia Civil e o Sistema Judiciário e entre a Polícia Militar e o Exército
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De acordo com Medeiros, o processo de isomorfismo pode ocorrer
por:
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Força mimética (mimetismo): consiste na imitação
organizacional, ou seja, na adoção – intencional ou não, de uma
organização preexistente como modelo para a criação de uma nova.
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Força normativa: é aquela do padrão profissional – membros de diferentes
organizações, oriundos da mesma “profissão”, tendem a reivindicar os mesmos direitos e
rotinas.
A institucionalização do campo policial no Brasil ainda não se completou, uma vez que as
polícias se inseriram na periferia do campo institucional da Justiça e do Exército em detrimento
ao fortalecimento de um campo institucional próprio.
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Força coercitiva: é o exercício direto – formal ou informal – de
controle de uma organização sobre outra.
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Dissecando os conceitos:
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O isomorfismo coercivo é o resultado de pressões formais e informais exercidas nas
organizações por outras organizações, das quais as primeiras dependem, bem como por
expectativas culturais da sociedade na qual atuam (POWELL & DIMAGGIO, 1991, p. 67).
Essas pressões podem ser diretas, por meio da força ou persuasão, ou pelo convite para
participarem de coalizões ou associações. Podem também ser indiretas, de forma mais sutil,
como os ajustes na estrutura de uma organização para satisfazer os doadores (MILOFSKY,
1981; in POWELL & DIMAGGIO,1991, p. 68). Com relação à polícia, um exemplo claro de
isomorfismo coercivo é quando ocorre uma mudança na lei. A polícia responde e atua a partir
de um marco legal, o cumprimento da lei. Portanto, as alterações nesse ambiente podem afetar
diversos aspectos do comportamento e cultura dessa instituição.
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Por sua vez, o isomorfismo mimético ocorre quando as organizações replicam outras
organizações, consideradas mais legítimas ou adequadas. Dizendo de outra forma, representa a
imitação das práticas de outra organização para enfrentar a falta de segurança do meio “quando
as tecnologias organizacionais são mal compreendidas” (MARCH & OLSEN, 1976; in
POWELL & DIMAGGIO, 1991, p. 69), “quando os objetivos são ambíguos; ou quando o
ambiente cria incertezas simbólicas” (POWELL & DIMAGGIO, 1991, p. 69) Nas entrevistas
deste artigo, realizadas junto ao alto escalão da PMESP, afirmou-se que, após investigar os
sistemas policiais de muitos países, os brasileiros escolheram o sistema japonês por perceber
que o modelo koban era o mais legítimo e adequado para diminuir a taxa de criminalidade e
criar vínculos mais fortes entre a polícia e a comunidade. Suas palavras sugerem, até certo
ponto, que a adoção de práticas baseadas no koban japonês foi o resultado de forças
isomórficas miméticas.
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Finalmente, a terceira força isomórfica é a normativa. O isomorfismo normativo deriva
principalmente dos processos de profissionalização. Por profissionalização o autor entende a
“batalha coletiva dos membros de uma profissão pela definição das condições e métodos de
trabalho e pelo estabelecimento de uma base cognitiva e pela legitimação de sua autonomia
profissional” (POWELL & DIMAGGIO, 1991, p. 70). Nesse sentido, a adoção do
policiamento comunitário por parte da PMESP representa uma força isomórfica normativa,
afetando seu processo de profissionalização não apenas pela incorporação de módulos didáticos
a seu currículo, mas também porque esse treinamento é atualmente um requisito para aqueles
que querem tornar-se agentes policiais em São Paulo.

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