Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Alguns desses grupos, devido a questões ligadas a gênero, idade, condição social, deficiência e
orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de seus direitos, por isso são denominados
grupos vulneráveis.
Neste curso você estudará sobre eles e também sobre a importância do profissional da área de
segurança pública ter conhecimentos básicos sobre os dispositivos legais referentes a cada grupo.
Espera-se que as informações aqui contidas possam servir de subsídios para a prestação de um
atendimento de qualidade a estes grupos.
Bom estudo!
Objetivo do curso
2
Estrutura do curso
3
MÓDULO
INTRODUZINDO A QUESTÃO
1
Apresentação do módulo
Com certeza você deve estar se perguntando: O que é um grupo vulnerável? Quem são as pessoas que
o compõem? Onde pode ser encontrado? E no que consiste a vulnerabilidade destas pessoas?
Antes de buscar respostas para essas perguntas deve-se compreender alguns aspectos da nossa
sociedade.
Neste módulo você estudará sobre os grupos vulneráveis e o papel da segurança pública em proteger
e promover os Direitos Humanos, notadamente em relação a estes grupos.
Objetivo do módulo
• Compreender a relação existente entre grupos vulneráveis e o papel da Segurança Pública como
protetora e promotora dos Direitos Humanos;
• Reconhecer como é importante que o profissional da área de segurança pública saiba lidar com
as pessoas, sem discriminá-las, garantindo seus direitos e resolvendo conflitos de forma serena e igualitária.
Estrutura do Módulo
4
Os caracteres genéticos que compõem as nossas raízes são frutos de uma secular miscigenação de
etnias, gerando uma diversidade que proporciona ao Brasil, uma imensurável riqueza cultural e social. As
diferenças relacionadas à etnia, gênero, deficiência, idade, religião entre outros, também constituem esta
diversidade tornando-a ainda mais bela.
Porém, quando estas diferenças se convertem em desigualdade, criam um ambiente propício a toda
sorte de violações de direitos, tanto no espaço público quanto privado, tornando vulneráveis as pessoas que
estão na condição de diferentes. É possível citar como exemplo: as pessoas com deficiência, as pessoas idosas,
as mulheres, crianças e adolescentes e a população em situação de rua. Estes grupos são chamados, assim,
de grupos vulneráveis.
A busca destas pessoas pelo reconhecimento de seus direitos é hoje um fator democrático
preponderante, pois, somente através da igualdade é que se percebe a plena democracia. Foram muitos os
movimentos sociais e conquistas, no século XX, notadamente, dos setores mais vitimados pelo preconceito e a
discriminação. Porém, ainda hoje, a sociedade não está preparada para lidar com estas diferenças, o que gera o
preconceito e a indiferença tornando a vida destas pessoas, ainda mais difícil.
A precariedade de políticas públicas direcionadas a estes grupos e a desinformação da sociedade são
fatores que contribuem para a vitimização e por isso, existe atualmente um grande esforço nacional no sentido
de dar mais visibilidade a estes grupos e de proporcionar mais informação à sociedade estimulando, assim,
uma corresponsabilidade na formulação de leis e políticas garantidoras dos direitos dos grupos vulneráveis,
como a criação de conselhos temáticos como o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, o Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente, entre outros.
Os Direitos Humanos foram construídos através da história, no dinâmico embate dos oprimidos por
reconhecimento, como cidadãos, e pela liberdade. Com já sabemos, Direitos Humanos, são todos os direitos
que nós possuímos, (à vida, à família, aos filhos, ao trabalho, etc.), e que estão listados nos 30 artigos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948, e garantidos em nossa Constituição
Federal de 1988.
A defesa dos Direitos Humanos proporciona à sociedade e, notadamente, a estes grupos vulneráveis,
reconhecimento e a abertura de espaço político, para além do meramente formal, ou seja, traz a realização
concreta de seus anseios, faz cumprir efetivamente o que esteja escrito nas leis e nos estatutos.
Dentro deste contexto o policial na sua atividade cidadã e de proteção social deve conhecer a
dinâmica dos grupos humanos, ou seja, descobrir seus anseios, dificuldades, necessidades e se engajar, no
que for atinente à segurança pública, para na defesa e promoção dos direitos destes grupos. É como afirma
Balestreri:
5
vez mais, como promotores de direitos. E, é claro, como tal se portarem.
(BALESTRERI, 2004, p.49)
Por vezes, é necessário repensar as atitudes e valores que temos confrontando-os com a nova ordem
social e política. Por exemplo, pense:
• Como você agiria caso uma pessoa que usa cadeira de rodas lhe solicitasse ajuda para descer uma escada
ou sair de seu carro?
• Como agiria se uma pessoa surda e muda tivesse sido vítima de agressão?
• Qual seria sua atitude caso um cidadão cego lhe solicitasse ajuda, ou você se deparasse com uma
ocorrência de violência doméstica contra uma mulher ou abuso sexual de crianças e adolescentes?
Com certeza, estas seriam situações embaraçosas, por fugirem da rotina de seu trabalho, pois você está
habituado a lidar com pessoas que podem se locomover normalmente, que podem entender o que lhes é
solicitado, enfim, que não possuem características que dificultarão suas vidas em sociedade. Porém, quando se
depara com casos como os citados, surgem dúvidas de como atuar. Por outro lado, essas pessoas esperam ser
tratadas com respeito e dignidade, como cidadãos sujeitos de direitos, como todos os demais.
A atividade de segurança pública exige profissionais que saibam lidar com as pessoas, sem discriminá-
las, garantindo seus direitos e resolvendo conflitos de forma serena e igualitária. Por isso, é imprescindível que
o profissional de segurança pública conheça melhor as dificuldades de cada grupo e saiba como auxiliá-lo,
protegendo e promovendo seus direitos.
Você, como profissional da área de segurança pública, deve conhecer e se habituar aos procedimentos
que fogem aos padrões, que contemplam questões sobre Minorias e Grupos Vulneráveis, de forma a nortear a
sua atuação no trato adequado com aquelas pessoas. Deve lembrar que a Constituição Federal de 1988 concita
à todos a promoção dos direitos coletivos sem nenhuma discriminação:
Também, o Plano Nacional de Direitos Humanos III, é claro, com relação às políticas públicas para
enfrentamento, relativas aos grupos vulneráveis:
6
Os pactos e convenções que integram o sistema internacional de proteção dos
Direitos Humanos apontam para a necessidade de combinar estas medidas com
políticas compensatórias que aceleram a construção da igualdade, como forma
capaz de estimular a inclusão de grupos socialmente vulneráveis. Além disso, as
ações afirmativas constituem medidas especiais e temporárias que buscam remediar
um passado discriminatório. No rol de movimentos e grupos sociais que demandam
políticas de inclusão social encontram-se crianças, adolescentes, mulheres, pessoas
idosas, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, pessoas com deficiência,
povos indígenas, populações negras e quilombolas, ciganos, ribeirinhos, vazanteiros,
pescadores, entre outros. (PNBDH III)
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a
todos a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade.
Além dos dispositivos já citados, no ordenamento jurídico encontram-se outros garantidores de direitos
dos grupos vulneráveis mais específicos, como o Estatuto do Idoso, o Estatuto da Criança e do Adolescente,
o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a Política Nacional para a População em Situação de Rua, a Lei nº
11.340, Maria da Penha, dentre outros. Porém, a verdadeira efetividade destes dispositivos depende da
participação da sociedade civil organizada e de políticas públicas de atendimento em diversas áreas, inclusive
na segurança pública.
Nesse contexto, o profissional de segurança pública, não pode, de forma alguma, ser mais um a vitimar
e desrespeitar os direitos destas pessoas. Não deve, também, ser alguém somente disposto a ajudar. O aludido
profissional deve ter conhecimentos básicos sobre cada um dos dispositivos legais referentes a cada segmento,
a fim de prestar um atendimento de qualidade e dar os devidos encaminhamentos a cada caso.
Faz-se necessária a criação de redes, onde os vários órgãos ligados à proteção e promoção de direitos,
como conselhos temáticos, Polícias, Ministério Público e Judiciário, estejam integrados e formulando estratégias
de atendimento em conjunto.
Finalizando...
• A cultura brasileira é resultado de um grande sincretismo que uniu costumes de diversos povos.
• Quando as diferenças se convertem em desigualdade, criam um ambiente propício a toda sorte
de violações de direitos, tanto no espaço público quanto privado, tornando vulneráveis as pessoas que estão na
condição de diferentes.
7
• A precariedade de políticas públicas direcionadas a estes grupos vulneráveis e a desinformação
da sociedade são fatores que contribuem para a vitimização e por isso, existe atualmente um grande esforço
nacional no sentido de dar mais visibilidade a estes grupos e de proporcionar mais informação à sociedade
estimulando, assim, uma corresponsabilidade na formulação de leis e políticas garantidoras dos direitos dos
grupos vulneráveis.
• A atividade de segurança pública exige profissionais que saibam lidar com as pessoas, sem
discriminá-las, garantindo seus direitos e resolvendo conflitos de forma serena e igualitária. Por isso, é
imprescindível que o profissional de segurança pública conheça melhor as dificuldades de cada grupo e saiba
como pode auxiliá-lo, protegendo e promovendo seus direitos.
• O profissional de segurança pública, não pode, de forma alguma, ser mais um a vitimar e
desrespeitar os direitos destas pessoas. Não deve, também, ser alguém somente disposto a ajudar. O aludido
profissional deve ter conhecimentos básicos sobre cada um dos dispositivos legais referentes a cada segmento,
a fim de prestar um atendimento de qualidade e dar os devidos encaminhamentos a cada caso.
Exercícios
2. Estabeleça uma relação entre os grupos vulneráveis e o papel da Segurança Pública como
protetora e promotora dos Direitos Humanos.
8
Gabarito
9
MÓDULO
CONCEITUANDO O TEMA: GRUPOS VULNERÁVEIS
2 E MINORIAS.
Apresentação do módulo
Neste módulo você estudará a diferença entre grupos vulneráveis e minorias e poderá responder a esta
pergunta.
Porém, antes de entramos no assunto assista ao vídeo (disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=icXc2fGlfjg) que mostra uma iniciativa da SENASP no treinamento de
policiais para o atendimento aos grupos socialmente vulneráveis.
Objetivos do módulo
Estrutura do Módulo
Este módulo é composto pelas seguintes aulas:
1.1 Definição
10
1.2 Classificação
Claro que existem outros grupos na sociedade em situação de risco, porém, a vulnerabilidade aqui
está mais afeta à sujeição constante ao preconceito e à discriminação, independente de outros fatores.
Contudo, é extremamente relevante que você saiba diferenciar um grupo vulnerável de uma
minoria. Por isso, a seguir, você estudará sobre minorias.
Aula 2 – Minorias
A Organização das Nações Unidas não instituiu um conceito universal sobre minoria. O entendimento
da Corte Internacional de Justiça, é no sentido de que cada Estado tem discricionariedade, para arbitrar se o
grupo possui fatores característicos distintivos, e se incide no conceito de minoria. Resumindo, a identificação
de uma minoria envolve a apreciação de critérios objetivos e subjetivos. Em outras palavras caberá ao Estado
11
reconhecer determinados grupos como índios e demarcar terras para eles, ou remanescentes de quilombos,
e reconhecer aquele sítio como histórico dando-lhes titularização coletiva das terras; ou como ciganos etc.(id.
2001, p.21)
De acordo com o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em seu artigo 27, as minorias
protegidas são: étnicas, religiosas e linguísticas.
Art. 27 - Nos Estados em que existam minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, não
será negado o direito que assiste às pessoas que pertençam a essas minorias, em
conjunto com os restantes membros do seu grupo, a ter a sua própria vida cultural,
a professar e praticar a sua própria religião e a utilizar a sua própria língua.
Minorias étnicas
Exemplos: índios, comunidades negras remanescentes de quilombos, ciganos, judeus, dentre outros.
Minorias religiosas
São grupos que professam e praticam uma religião (não simplesmente outra crença,
como o ateísmo, e.g.), que se diferencia daquela praticada pela maioria da
população. (SABOIA 2001, p.23 apud Dienstein,1992, p.156).
Minorias linguísticas
São grupos que usam uma língua, quer entre os membros do grupo, quer em
público, que claramente se diferencia daquela utilizada pela maioria, bem como da
adotada oficialmente pelo Estado. Não há necessidade de ser uma língua escrita.
Entretanto, meros dialetos que se desviam ligeiramente da língua da maioria não
gozam do status de língua, de um grupo minoritário. (SABOIA 2001, p.23 apud
NOWAK, 1993, p.491).
12
2.2 Diferença entre grupos vulneráveis e minorias
Os Grupos Vulneráveis são pessoas que podem fazer parte de uma minoria étnica, mas, dentro dessa
minoria, têm uma característica que as difere das demais e as torna parte de outro grupo.
Por exemplo: uma pessoa que faz parte de um pequeno grupo islâmico, num país católico, e também
tem deficiência física. Ela pertence a uma minoria religiosa (islã) e integra outro grupo vulnerável por ter
deficiência. De igual forma, pode haver superposição dos tipos de minorias: o muçulmano, no Brasil, será
integrante tanto de minoria étnica, como religiosa e linguística.
Importante!
A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos étnicos, linguísticos e religiosos e os
grupos vulneráveis, por sua vez, estão relacionados com as características especiais que as pessoas
adquirem em razão da idade, gênero, orientação sexual, deficiência e condição social.
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
Grupo Vulnerável é um conjunto de pessoas que por questões ligadas a gênero, idade, condição
social, deficiência e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de seus direitos.
Segundo Sabóia (2001, p. 19 e 20 apud DESCHÊNES, 1985. p. 31), minorias são um grupo de
cidadãos de um Estado, constituindo minoria numérica e em posição não-dominante no Estado, dotada de
características étnicas, religiosas ou linguísticas que diferem daquelas da maioria da população, tendo um senso
de solidariedade um para com o outro, motivado, senão apenas implicitamente, por vontade coletiva de
sobreviver e cujo objetivo é conquistar igualdade com a maioria, nos fatos e na lei.
A Organização das Nações Unidas não instituiu um conceito universal sobre minoria. O
entendimento da Corte Internacional de Justiça, é no sentido de que cada Estado tem discricionariedade, para
arbitrar se o grupo possui fatores característicos distintivos, e se incide no conceito de minoria.
De acordo com o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos segundo o artigo 27, as
minorias protegidas são: étnicas, religiosas e linguísticas.
A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos étnicos, linguísticos e religiosos
e os grupos vulneráveis, por sua vez, estão relacionados com as características especiais que as pessoas
adquirem em razão da idade, gênero, orientação sexual, deficiência e condição social.
13
Exercícios
( ) São grupos que usam uma língua, quer entre os membros do grupo, quer em público, que
claramente se diferencia daquela utilizada pela maioria, bem como da adotada oficialmente pelo Estado.
( ) São grupos que apresentam fatores distinguíveis em termos de experiências históricas
compartilhadas e sua adesão a certas tradições e significantes tratos culturais, que são diferentes dos
apresentados pela maioria.
( ) São grupos que professam e praticam uma religião (não simplesmente uma outra crença, como o
ateísmo, etc.)
a. Sim, pois mesmo fazendo parte de uma minoria étnica João tem deficiência.
b. Não, pois já pertence a uma minoria.
14
Gabarito
1. Resposta correta: Letra C
2. Resposta correta: 3-1-2
3. Resposta correta: Letra A
15
MÓDULO
ATUAÇÃO POLICIAL E GRUPOS VULNERÁVEIS:
3 PESSOAS IDOSAS
Apresentação do Módulo
Chamar atenção para o nosso futuro é criar a possibilidade de melhorar as relações com a pessoa idosa
no presente.
Este módulo abordará os aspectos importantes relacionados a esta faixa etária, seus direitos e a
atuação policial frente a este grupo.
Objetivos do módulo
Estrutura do módulo
16
Aula 1 – Situação da população idosa no Brasil
O Estatuto do idoso, criado pela Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, define como:
Pessoa idosa, aquela com idade igual ou superior a 60 anos.
Você, com certeza, já conviveu ou convive com uma pessoa idosa em seu cotidiano, seja um parente
ou vizinho e já deve ter presenciado várias situações em que pode comprovar, que apesar de terem grande
experiência de vida, são muitas vezes discriminadas e vitimadas no espaço doméstico e público.
Informativo
Em dez anos, o número de pessoas idosas com 60 anos ou mais passou de 15,5 milhões (2001) para
23,5 milhões de pessoas (2011). A participação relativa deste grupo na estrutura etária populacional aumentou
de 9% para 12,1% no período, enquanto a de idosos com 80 anos ou mais chegava a 1,7% da população, em
2011.
A maior parte da população idosa é composta por mulheres (55,7%). Outras características marcantes:
• forte presença em áreas urbanas (84,1%);
• maioria branca (55%);
• inserção no domicílio como a pessoa de referência (63,7%);
• 4,4 anos de estudo em média (32% com menos de um ano de estudo);
• a maioria (76,8%) recebe algum benefício da Previdência Social;
• 48,1% têm rendimento de todas as fontes igual ou superior a um salário mínimo, enquanto
cerca de um em cada quatro idosos reside em domicílios com rendimento mensal per capita inferior a um
salário mínimo.
Perto de 3,4 milhões de idosos de 60 anos ou mais (14,4%) vivem sozinhos; 30,7% viviam com os filhos
(todos com mais de 25 anos de idade, com ou sem presença de outro parente ou agregado).
Na distribuição do rendimento mensal familiar per capita, os idosos têm uma situação relativamente
melhor do que o grupo de crianças, adolescentes e jovens: enquanto 53,6% das pessoas de menos de 25 anos
estão nos dois primeiros quintos da distribuição de renda, apenas 17,9% idosos de 60 anos ou mais de idade
encontra-se nesta situação.
Fonte:
http://saladeimprensa.ibge.gov.br/pt/noticias?view=noticia&id=1&idnoticia=2268&busca=1&t=sis-2012-
acceso-jovenes-negros-y-pardos-la-universidad-triplico-en-diez
No mundo, em 2050, um quinto da população mundial será de Pessoas idosas. Deve-se levar, em
consideração que, na melhor de nossas expectativas, todos nós um dia passaremos pela experiência de ser uma
pessoa idosa.
17
Saiba mais...
Você em sua rotina operacional já deve ter se deparado com inúmeros casos de violência praticados
contra pessoa idosa e deve ter percebido que, em muitos destes casos, os violadores e agressores são os
próprios parentes daquela pessoa.
Segundo a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violência do Ministério
da Saúde (2001), os maus tratos contra idosos dizem respeito a: “A ações únicas ou repetidas que causam
sofrimento ou angústia, ou, ainda, a ausência de ações que são devidas, que ocorrem numa relação em que haja
expectativa de confiança”.
Com base neste mesmo documento, a violência contra a população idosa se manifesta sobre vários
aspectos:
[…]a violência contra os idosos existe e manifesta-se sob diferentes formas: abuso
físico, psicológico, sexual, abandono e negligência. Some-se a essas formas de
violência, o abuso financeiro e a autonegligência.
Os idosos mais vulneráveis são os dependentes física ou mentalmente, sobretudo
quando apresentam déficits cognitivos, alterações de sono, incontinência e
dificuldades de locomoção, necessitando, assim, de cuidados intensivos em suas
atividades da vida diária. Uma situação de elevado risco é aquela em que o agressor
é seu dependente econômico. Aliam-se a esse outros fatores de risco: quando o
cuidador consome abusivamente álcool ou drogas, apresenta problemas de saúde
mental ou se encontra em estado de elevado estresse na vida cotidiana.
Cada uma dessas violências está assim classificada no documento da Política Nacional de Redução da
Morbimortalidade por Acidentes e Violências do Ministério da Saúde (2001):
18
Abandono: Ausência ou deserção, por parte do responsável, dos cuidados necessários às vítimas, ao
qual caberia prover custódia física ou cuidado.
Abuso financeiro aos idosos: Exploração imprópria ou ilegal e/ou uso não consentido de recursos
financeiros de um idoso.
Abuso físico ou maus-tratos físicos: Uso de força física que pode produzir uma injúria, ferida, dor ou
incapacidade.
Abuso psicológico ou maus-tratos psicológicos: Agressões verbais ou gestuais com o objetivo de
aterrorizar, rejeitar, humilhar a vítima, restringir a liberdade ou ainda isolá-la do convívio social.
Abuso sexual: Ato ou jogo sexual que ocorre em relação a hétero ou homossexual que visa estimular
a vítima ou utilizá-la para obter excitação sexual e práticas eróticas e sexuais impostas por meio de aliciamento,
violência física ou ameaças.
Acidentes ampliados: Em suma são grandes desastres industriais que geram danos ao meio ambiente
e as populações próximas ao evento. Nestes casos, idosos e crianças sofrem mais os impactos, devido ao seu
estado de fragilidade orgânica. O documento que trata sobre acidentes ampliados é a "DIRETIVA de SEVESO".
Autonegligência: Conduta de pessoa idosa que ameaça sua própria saúde ou segurança, com a recusa
ou o fracasso de prover a si mesmo um cuidado adequado.
Com frequência, pessoas idosas mais vitimadas são as que possuem alguma dependência, seja em
decorrência de uma doença ou deficiência física ou mental. A situação das pessoas idosas dependentes se agrava
quando seu responsável ou cuidador é usuário de drogas ou alcoólico ou possui algum problema de saúde
mental. Nestes casos, a pessoa idosa pode sofrer com a negligência e a violência praticada por aqueles que
deveriam protegê-los e garantir sua integridade física e mental.
No espaço público, principalmente, em áreas urbanas, as pessoas idosas sofrem vários tipos de
acidentes como atropelamentos, quedas com fratura do colo do fêmur, queimaduras, ferimento por bala
perdida, entre outras lesões, que na maioria das vezes levam à invalidez ou ao óbito. No ambiente doméstico o
descrédito dado às informações e relatos de maus-tratos, feitos por idosos, gera impunidade aos agressores, e
estimula o sigilo pelos próprios idosos que temem sofrer mais violência ou buscam, de alguma forma, proteger
o agressor.
Diante de tantos fatos, é possível perceber a importância de se ter um mecanismo moderno e eficiente
de proteção dos direitos destas pessoas. O Estatuto do Idoso foi criado justamente para atender a esta demanda
e você irá estudá-lo na próxima aula a partir de situações práticas.
Saiba mais...
19
favor do seu específico destinatário – o próprio idoso –, e não de quem lhe viole os direitos. Com isso, somente
se aplicam as normas estritamente processuais para que o processo termine mais rapidamente, em benefício do
idoso.
Fonte: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=249643
O Estatuto do Idoso foi aprovado em setembro de 2003 e sancionado pelo Presidente da República no
mês seguinte, após sete anos tramitando no Congresso. O Estatuto do Idoso amplia os direitos dos cidadãos
com idade igual ou superior a 60 anos.
Mais abrangente que a Política Nacional do Idoso (Lei de 1994 que dava garantias à terceira idade), o
Estatuto institui penas severas para quem desrespeitar ou abandonar pessoas idosas.
Você irá estudar os principais pontos do Estatuto do Idoso a partir de situações práticas relacionadas
às áreas de saúde, transporte e família.
3.1 Saúde
Situação Prática 1
Imagine que você está de serviço próximo a um hospital, e que, de repente, uma jovem lhe procura
acompanhada do pai dela, de 79 anos de idade, e lhe diz que seu pai está muito doente, e que precisa de sua
ajuda, pois a fila do Posto de Saúde está enorme e ninguém quer ceder lugar ao pai dela. Como você agiria?
Como iria orientar esta pessoa?
O que diz o Estatuto?
O Art. 15 do Estatuto do Idoso diz claramente que a pessoa idosa tem atendimento preferencial no
Sistema Único de Saúde, e o Artigo 114 alterou a redação do Art.1º da Lei 10.048, de 08 de novembro de 2000
e passando a ter a seguinte redação:
Sugestão de atendimento
Neste caso, o pai da jovem deve ser atendido com prioridade, (desde que não haja um caso mais grave
ou outra pessoa idosa na sua frente).
Situação prática 2
20
Uma senhora de 65 anos lhe procura e diz necessitar de remédios controlados para diabetes,
indagando-o quanto a orientação de como ela pode adquiri-los gratuitamente, pois não tem como comprá-los.
Como você poderia ajudá-la?
Sugestão de atendimento
No caso citado, você deve orientá-la a procurar um órgão de saúde da prefeitura local e fazer um
cadastro para o recebimento dos remédios.
Importante!
Procure saber qual órgão em seu município é responsável pelo cadastro e pela distribuição de
remédios gratuitamente para a população idosa.
3.2 Transporte
Situação Prática 1
Você está trabalhando próximo à rodoviária e é acionado por um homem de 65 anos de idade que
relata não poder viajar em um coletivo interestadual porque a empresa não autorizou a liberação de assento
gratuito para ele. Como você agiria neste caso?
Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos
transportes coletivos públicos urbanos e semiurbanos, exceto nos serviços seletivos
e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares.
§ 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento
pessoal que faça prova de sua idade.
§ 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados
10% (dez por cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a
placa de reservado preferencialmente para idosos.
§ 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65
(sessenta e cinco) anos, ficará a critério da a legislação local dispor sobre as
condições para exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos no caput
deste artigo.
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos
da legislação específica:
21
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou
inferior a 2 (dois) salários-mínimos;
II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para
os idosos que excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois)
salários-mínimos.
Sugestão de atendimento
Se a pessoa preenche os requisitos exigidos por lei, a empresa de transporte é obrigada a emitir as
passagens gratuitamente no caso do inciso I, do Art. 40 e com desconto de 50% no caso do inciso II. Em caso
de resistência por parte da empresa um boletim de ocorrência deverá ser lavrado.
3.3 Família
Situação prática 1
Uma pessoa lhe relata a seguinte situação: uma mulher de 79 anos está sem nenhuma assistência em
casa passando por dificuldade financeira e doente. Seus filhos recebem a pensão por ela, e gastam tudo com
despesas pessoais, negligenciando os devidos cuidados com a mãe. Existe também a informação, de que a
senhora está sofrendo maus-tratos e violência física. Como você, policial, agiria nesta situação?
Com relação à pensão da senhora que está sendo usada pelos filhos, constitui crime previsto nos
artigos. 102 e 104, do Estatuto do Idoso:
22
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro
rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos
ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de
assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Sugestão de atendimento
No caso citado, estão ocorrendo várias violações aos direitos da senhora, e todos são crimes previstos
no Estatuto do Idoso. Na sua atuação, porém, você deverá tomar alguns cuidados. Em primeiro lugar, procurar
constatar a veracidade dos fatos e levantar o maior número de informações possíveis. Informar-se sobre a
existência, no município, de Delegacia Especializada no atendimento à Pessoa Idosa. Existem hoje 79 delegacias
especializadas no Brasil.
Caso sejam confirmadas as denúncias, uma ação conjunta se faz necessária, pois, em muitos casos, a
própria vítima pode querer proteger os seus filhos, negando os fatos. O Conselho Municipal da Pessoa Idosa irá
notificar o Ministério Público e, na ausência daquele, o próprio Ministério Público, que adotará as medidas
previstas no Art. 74 do Estatuto do Idoso, no que for pertinente. Um Boletim de Ocorrência deve ser lavrado e
direcionado à Delegacia Especializada de Proteção ao Idoso, caso exista na localidade. Se não houver, o B.O
contrário, deve ser registrado em uma delegacia local.
Importante!
Os órgãos responsáveis pela fiscalização e proteção dos direitos da população idosa são: o Ministério
Público e os Conselhos Municipal, Estadual e Nacional do Idoso.
Algumas polícias, como a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), possui a Diretriz para Produção de
Segurança da PMMG nº 3.01.05/2010 e o Caderno Técnico- Profissional 3.04.02- CG) que tratam
respectivamente da “Filosofia de Direitos Humanos da Polícia Militar de Minas Gerais” e da “Abordagem a
pessoas” e que traz um capítulo exclusivo sobre atendimento aos grupos vulneráveis e, no caso dos idosos,
estão listados na próxima aula alguns procedimentos que o policial deve ter ao lidar com o idoso.
Saiba mais..
23
A pena será aumentada de 1/3 até a metade se for praticado: a) durante a gravidez ou nos 3 meses
posteriores ao parto; b) contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência; c) na presença
de ascendente ou descendente da vítima.
Fonte: http://aurineybrito.jusbrasil.com.br/artigos/172479028/lei-do-feminicidio-entenda-o-que-
mudou
Finalizando...
O Estatuto do idoso, criado pela Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, define como pessoa
idosa, aquela com idade igual ou superior a 60 anos.
Segundo a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violência do
Ministério da Saúde (2001), os maus tratos contra idosos dizem respeito a: “A ações únicas ou repetidas que
causam sofrimento ou angústia, ou, ainda, a ausência de ações que são devidas, que ocorrem numa relação em
que haja expectativa de confiança”.
O Estatuto do Idoso foi aprovado em setembro de 2003 e sancionado pelo Presidente da
República no mês seguinte, após sete anos tramitando no Congresso. O Estatuto do Idoso amplia os direitos
dos cidadãos com idade igual ou superior a 60 anos.
24
Os órgãos responsáveis pela fiscalização e proteção dos direitos da população idosa são: o
Ministério Público e os Conselhos Municipal, Estadual e Nacional do Idoso.
No desenvolvimento das suas ações, os profissionais da área de segurança pública poderão se
deparar com situações que envolvam pessoas idosas. Seja a pessoa idosa denunciante ou suspeito, deverá ter
sempre tratamento diferenciado.
Exercícios
1. Todas as afirmativas a seguir sobre a pessoa idosa abaixo estão corretas, exceto:
2. Imagine, que você tem que informar a uma mulher de 89 anos, que o filho dela acaba de ser
preso e que se encontra a caminho de uma delegacia. Quais os cuidados você deveria ter ao lidar com
esta idosa?
3. Agora, você é acionado para atender a um caso de um homem de 79 anos que foi surpreendido
furtando no interior de uma loja. Você percebe que ele está muito nervoso, e treme muito. Qual seria
seu procedimento para com ele?
25
Gabarito
26
MÓDULO
SEGURANÇA PÚBLICA E POPULAÇÃO EM
4 SITUAÇÃO DE RUA
Apresentação do módulo
Neste módulo você estudará sobre a relação da segurança pública e população em situação de rua
(população adulta maior de 18 anos).
A partir de alguns casos selecionados poderá compreender mais sobre estas pessoas.
Objetivos do módulo
Estrutura do Módulo
As pessoas que vivem nas ruas fazem de logradouros públicos (ruas, praças, jardins,
canteiros, marquises e baixos de viadutos) e das áreas degradadas (prédios
abandonados, ruínas, cemitérios e carcaças de veículos) espaço de moradia e
sustento, por contingência temporária ou de forma permanente , podendo utilizar
eventualmente albergues para pernoitar e abrigos , casa de acolhida temporária ou
provisórias.
Tal conceituação é uma das mais abrangentes e vem balizando uma série de ações e estudos. Os
moradores de rua se encontram num estágio de grande vulnerabilidade social e, muito comumente, possuem
um histórico de consecutivas perdas e uma série de rompimentos: com o trabalho, com a família e, por fim, com
a própria moradia. Normalmente, subsistem com pouca ou nenhuma renda. É comum trabalharem como
catadores de material reciclável nas ruas e lixões ou sobreviverem de pequenos trabalhos artesanais e outras
atividades, como lavar e vigiar carros, por exemplo. Existem também os trabalhadores sazonais e pessoas que
não se fixam numa cidade.
Estes últimos recebem a alcunha de trecheiros.
28
Assim como a conceituação da população em situação de rua não é tarefa fácil, o levantamento de
dados para traçar seu perfil também não é. Todas as pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, incluindo o Censo, são de caráter domiciliar. Conforme demonstra a Tabela 01
(Que você verá na próxima tela), foram desenvolvidas apenas duas pesquisas censitárias sobre população em
situação de rua em quatro capitais brasileiras.
1995 302
Porto Alegre
1999 427
1998 916
Belo Horizonte
2005 1.164
2000 8.706
São Paulo
2003 10.399
2004 653
Recife
2005 1.390
Tabela 01: Cidades onde já houve censos de população em situação de rua
Fonte: SILVA, 2006
29
24,8% das pessoas em situação de rua não possuem quaisquer documentos de identificação, o
que dificulta a obtenção de emprego formal e o acesso aos serviços e programas governamentais;
Como a maioria não é atingida pela cobertura dos programas governamentais, dos que
afirmaram receber algum benefício, se destacaram: - Aposentadoria (3,2%), Programa Bolsa Família (2,3%),
Benefício de Prestação Continuada (1,3%).
ESCOLARIDADE F %
Alguns dados coletados pela contagem são bastante elucidativos. Exemplo disso é o que tange à
migração. Durante muito tempo foi reforçada a ideia de que a pobreza urbana era decorrente, em grande parte,
do êxodo rural. Com a população em situação de rua, nos últimos anos percebe-se que esse fator tem cada vez
menor relevância.
No que tange ao trabalho, os dados da contagem também apresentam resultados interessantes: 70,9%
exercem alguma atividade remunerada. Há destaque para catador de materiais recicláveis (27,5%), flanelinha
30
(14,1%), construção civil (6,3%), limpeza (4,2%) e carregador/estivador (3,1%). Somente 15,7% das pessoas
declararam que pediam esmola como meio de obtenção de renda. Tal resultado mostra que a situação de
pedinte não é a mais comum entre os moradores e moradoras de rua.
Voltando-se aos resultados obtidos pelas pesquisas com população de rua anteriormente
mencionadas, nota-se que pesquisas mais recentes demonstraram que, ao contrário do estereótipo idealizado
pela sociedade, que geralmente retrata a figura do morador de rua como indivíduos pedintes e desocupados,
grande parte dos entrevistados exerce atividade remunerada como meio de subsistência (70,9 % na Pesquisa
Nacional conduzida pelo MDS, mais de 60% na Pesquisa de Porto Alegre (2011). Dentre as atividades exercidas,
destacam-se a coleta de recicláveis (catadores), reciclagem, atuação na construção civil (pedreiros, pintores) e
flanelinhas. Todavia, conforme demonstrado na Pesquisa Nacional e no Censo realizado na Cidade de Belo
Horizonte (2013), uma minoria dos indivíduos entrevistados exercia atividade remunerada com registro em
carteira no momento (1,9% com carteira assinada 47,7 % na Pesquisa Nacional). (Fonte:
http://www.conpes.ufscar.br ).
Ainda segundo a contagem, a maioria (88,5%) da população em situação de rua não é atingida por
nenhum programa governamental. Dos que recebem algum benefício, 3,2% recebem aposentadoria e o
Benefício de Prestação Continuada – BPC alcança 1,3% dessa população.
Destaca-se que ainda não há a inclusão oficial da população em situação de rua no censo demográfico
nacional. Assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) promoveu em novembro de 2013 na
cidade do Rio de Janeiro, uma pesquisa experimental com o supracitado grupo, na qual os pesquisadores do
instituto realizaram 100 entrevistas, sendo 80 nas ruas e 20 em abrigos e cujo relatório foi apresentado durante
o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para População em Situação
de Rua, na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) em julho de 2014. Observa-se
ainda que, o objetivo desta pesquisa experimental é preparar o IBGE para incluir essa parcela da população no
próximo censo. (SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2014b).
31
Aula 2 – Casos: A realidade do povo vivendo na rua
Os casos a seguir são reais, porém, por questão de ética, nomes de pessoas e locais foram omitidos ou
trocados. Estes casos não têm cunho depreciativo ou crítico, mas sim didático, uma vez que irão
remeter a questões, a reflexões e a sugestões de práticas que permitam a você estar mais preparado
diante das situações que porventura vier a enfrentar.
Anote as suas respostas, pois, na próxima aula, irá compará-las com o ordenamento jurídico sobre
estas questões.
Pergunta-se:
a. Neste caso o que você acha que faltou para que as senhoras fossem acolhidas?
b. Você faria o mesmo por elas?
Reflita!
Casos como estes são comuns em nossas cidades, mas será que não merecem atenção especial por
parte da segurança pública?
Pratique!
Procure localizar em sua cidade abrigos e albergues que recepcionem pessoas em situação de rua para
que, numa ocasião como essa você possa encaminhá-las.
32
PM é solicitada retirar moradores de rua de um casarão ocupado.
Um grupo de cerca de 20 pessoas, entre elas solteiros e famílias com crianças, moravam há cerca de 2
anos em um casarão abandonado. Durante esse período, os mesmos utilizavam os serviços de saúde e escola
da região. Os adultos trabalhavam como catadores ou flanelinhas nas proximidades. O imóvel é colocado à
venda, e a pessoa interessada em comprá-lo, tenta negociar com as famílias sua saída, sem êxito. Então o
comprador busca apoio no poder público, que, com laudo da defesa civil, monta operação para retirar as
pessoas.
Ao invés de ajuizar uma Ação de Reintegração de Posse ou uma Ação Reivindicatória, o proprietário
se utiliza de via de duvidosa legalidade: aciona a Defesa Civil e esta mobiliza a Polícia Militar, com o fim de
desalojar as famílias de sua posse, sem qualquer mandado judicial. Como estratégia, as famílias são avisadas
que seriam retiradas em um dia, quando, na verdade, a ação seria feita no dia anterior. Embora não tivesse
ordem judicial, a Gerência da Regional solicita apoio da PM para a retirada. Nesse caso, a presença da polícia
garantia a segurança dos servidores da prefeitura, mas também intimidava as famílias, forçando-as a aceitarem
a desocupação.
Pergunta-se:
a. Você julga que a ação da Prefeitura foi correta?
R. Não. Neste caso, a prefeitura dificultou, ao máximo, para as famílias, utilizando de uma estratégia
que visou enganar as pessoas. Este procedimento tornará ainda mais difícil uma mediação pacífica daquela
situação por parte da Polícia.
Reflita!
As pessoas em uma situação semelhante à estudada, são cidadãos como nós, em busca de melhoria de
vida e da conquista de seus direitos básicos. Por isto, ao atender uma ocorrência semelhante, vá com cautela,
busque certificar-se de todos os aspectos legais, trate as pessoas com polidez, ganhe a simpatia e a confiança
delas. Caso seja realmente necessário, cumpra o que a lei pede, dê apoio ao trabalho de retirada, porém, respeite
as pessoas e preserve seus pertences.
33
Pratique!
Procure se informar mais sobre os procedimentos legais nestes casos e as orientações institucionais
sobre sua atuação.
Pergunta-se:
a. Como você agiria numa situação assim?
R. Neste caso, calma e tranquilidade para resolver o problema são fundamentais. O diálogo é também
muito importante. Seja cauteloso, porém, trate as pessoas com cuidado procurando acalmá-las. Resolva o
problema de forma coerente e pacífica.
Reflita!
A situação de rua não retira de uma pessoa sua dignidade, a ponto de ser tratada como um infrator em
potencial. Por isso, devemos entender a situação de rua como um problema social que requer diálogo, resolução
pacífica de conflitos e encaminhamentos adequados. Assim, é necessária uma forma enérgica, mas cordial, de
falar, e é imprescindível que você jamais deixe de considerar a condição de cidadão destas pessoas.
Pratique!
Procure saber se em sua cidade existe algum órgão que lide diretamente com a melhoria das condições
das pessoas em situação de rua, como os Serviços tipificados no Sistema Único da Assistência Social (SUAS),
dependendo de sua demanda ou violação de direito sofrida, porém, aqui destacamos quatro serviços que tem
foco ou exclusividade no atendimento a este público:
• Serviço Especializado de Abordagem Social;
34
• Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua;
• Serviço de Acolhimento Institucional; e
• Serviço de Acolhimento em Repúblicas.
Pergunta-se:
a. Qual a sua opinião sobre o caso citado?
R. Neste caso, houve um desrespeito às pessoas e aos seus pertences, inclusive, com apreensão de
documentos.
Reflita!
Você, com certeza, orgulha-se de sua casa, de seu carro, enfim, de seus pertences e bens, não é mesmo?
Pois, as pessoas em situação de rua também têm seus pertences e documentos que devem ser preservados e
mantidos em sua posse, desde que não sejam ilícitos, é claro. Respeite sempre os direitos destas pessoas, e
pense neles como o único e precioso bem que elas possuem. É importante lembrar que morar na rua não é
35
crime! Habitar uma rua, uma praça ou demais espaços públicos não constitui, por si só, um delito ou infração
penal.
Saiba mais....
- A “mendicância” deixou de ser tipificada como contravenção penal a partir da Lei n° 11.983, de 16 de
julho de 2009.
- A Constituição Federal/88 assegura que é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
- Nos casos de situações conflitantes, cabe ressaltar que o cidadão em situação de rua tem o direito
de permanecer em local público, desde que não esteja infringindo a lei.
- Os procedimentos de segurança do policial não podem ser diferentes daqueles utilizados com
qualquer outro cidadão.
- O policial deve considerar e tratar a pessoa em situação de rua como cidadão de direitos, garantindo-
lhe proteção e segurança. O profissional de segurança pública deve reconhecer a vulnerabilidade da pessoa em
situação de rua e garantir a isonomia (igualdade e equidade) do tratamento.
- A verificação dos pertences (quando e se necessária) deve ser feita de forma cuidadosa. Estes objetos
têm grande importância para as pessoas em situação de rua.
- É interessante que a equipe esteja informada e possa orientar o cidadão sobre a existência de
instituições de acolhida que podem acolhê-lo de forma segura (lembrando que ele(a) não é obrigado(a) a deixar
o local onde se encontra).
Pratique!
Procure reunir-se com seus colegas de trabalho, para juntos poderem buscar uma solução para este
caso específico. Troque ideias sobre a melhor forma de solucionar a situação. Após isso, escreva a solução
construída pelo grupo.
Os casos citados anteriormente foram utilizados para ajudá-lo a refletir sobre algumas situações muito
frequentes em sua rotina operacional. Com a ajuda da próxima aula, faça um paralelo sobre suas
respostas e o que diz nosso ordenamento jurídico, sobre as pessoas em situação de rua.
36
1 – Princípio da dignidade da pessoa humana e da vedação à discriminação- Constituição Federal,
artigo 1º, nos seus incisos II e III: são fundamentos do nosso país a cidadania e a dignidade da pessoa humana.
Portanto, todos podem buscar os seus direitos (especialmente, o direito de viver, de estar e permanecer em um
lugar) e devem ser tratados com respeito à sua dignidade de pessoa, independentemente da aparência ou
qualquer outra condição física, psicológica ou social.
2 – Princípio da justiça social - Constituição Federal – artigo 3º, incisos I, III, IV, que diz que são
objetivos fundamentais do nosso país: construir uma sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais, e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Assim, quando uma pessoa estiver vivendo
em condições sociais extremamente precárias, deve ser atendida e encaminhada aos órgãos competentes para
que possa recuperar as condições de vida digna e para que, assim, o Estado possa cumprir um dos seus objetivos
fundamentais: o da justiça social.
3 – Princípio da igualdade ou isonomia: Constituição Federal – o artigo 5º diz que todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade. Isto significa que as pessoas em situação de rua são cidadãs como
qualquer outro cidadão que mora neste país, e, assim, devem ser tratadas pelas autoridades e por todos, e não
com menosprezo ou humilhações por parte de qualquer pessoa, seja particular, seja servidor público.
4 – Princípio da legalidade - Constituição Federal, artigo 5º, inciso II, diz que ninguém será obrigado
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, ou seja, as pessoas na rua não podem ser
obrigadas a fazer nada que não seja exigido por lei, e são livres para estar em qualquer local, sem que a sua
presença signifique desrespeito à lei, exceto se estiverem praticando um crime. Ao mesmo tempo, o servidor
público não pode aplicar nenhuma sanção ou penalidade que não esteja prevista em lei e que não tenha sido
definida por um Juiz, em sentença fundamentada e transitada em julgado.
5 – Princípio da vedação à tortura e tratamentos desumanos ou degradantes - Constituição
Federal, artigo 5º, inciso III, diz que ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante. Isto significa que, como qualquer cidadão do nosso país, a pessoa em situação de rua deve ser
tratada com respeito, sem agressões de qualquer natureza.
6 – Princípio da inviolabilidade do direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem -
Constituição Federal, artigo 5º, inciso X, diz que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, sendo assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
Quer dizer que os pertences (por mais humildes e precários que sejam), quando for necessária e justificada uma
revista, devem ser tratados como os pertences de qualquer cidadão, e devolvidos no mesmo estado em que se
encontravam, sendo abusiva qualquer exigência de taxa ou comprovante de propriedade.
7 – Princípio da função social da propriedade - Constituição Federal, artigo 5º, incisos XXII e XXIII,
diz que é assegurado o direito de propriedade, mas que esta propriedade deverá atender a sua função social.
Assim, quando qualquer morador da cidade estiver próximo ou nas dependências de uma propriedade privada
não ocupada ou não utilizada, sem praticar nenhum delito ou tumulto anormal, estará apenas dando a este
imóvel (ou bem) uma utilidade social, que é dar guarida (acolhida) a um de seus beneficiários, e poderá estar
aguardando o reconhecimento desse direito pelo Poder Judiciário.
37
Saiba mais...
- Política Nacional para a População em Situação de Rua, Decreto 7.053, de 23 de dezembro de
2009 - Institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de
Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências.
- Lei orgânica da assistência social (LOAS) Lei nº 12.435/11 - altera o parágrafo único do art. 23 das
LOAS (Lei nº 11.258, de 30 de dezembro de 2005) que destaca que “Na organização dos serviços da Assistência
Social serão criados programas de amparo (...) II - às pessoas que vivem em situação de rua.” Estabelece a
obrigatoriedade de criação de programas direcionados à população em situação de rua, no âmbito da
organização dos serviços de assistência social, numa perspectiva de ação Inter setorial;
- Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009 editada pelo Conselho Nacional de Assistência
Social – Estabelece a Tipificação Nacional de Serviços Sócio assistenciais.
A População em Situação de Rua pode ter seu atendimento realizado em vários serviços tipificados no
Sistema Único da Assistência Social (SUAS), dependendo de sua demanda ou violação de direito sofrida, porém,
aqui destacamos quatro serviços que tem foco ou exclusividade no atendimento a este público:
Serviço Especializado de Abordagem Social: Serviço ofertado de forma continuada e programada
com a finalidade de assegurar trabalho social de abordagem e busca ativa que identifique, nos territórios, a
incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes em situação de rua, dentre outras.
Alguns de seus objetivos são: construir o processo de saída das ruas e possibilitar condições de acesso à rede
de serviços e a benefícios assistenciais e promover ações para a reinserção familiar e comunitária.
Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua: Serviço ofertado para pessoas que utilizam
as ruas como espaço de moradia e/ou sobrevivência. Tem a finalidade de assegurar atendimento e atividades
direcionadas para o desenvolvimento de sociabilidades, na perspectiva de fortalecimento de vínculos
interpessoais e/ou familiares que oportunizem a construção de novos projetos de vida. Tem como unidade o
Centro Pop, que deve promover o acesso a espaços de guarda de pertences, de higiene pessoal, de alimentação
e provisão de documentação civil.
Serviço de Acolhimento Institucional (para adultos e famílias em situação de rua): Uma das
modalidades deste serviço é de acolhimento para adultos e famílias, que corresponde ao acolhimento provisório
com estrutura para acolher com privacidade pessoas do mesmo sexo ou grupo familiar. É previsto para pessoas
em situação de rua e desabrigo por abandono, migração e ausência de residência ou pessoas em trânsito e sem
condições de autossustento. Deve estar distribuído no espaço urbano de forma democrática, respeitando o
direito de permanência e usufruto da cidade com segurança, igualdade de condições e acesso aos serviços
38
públicos. Os Abrigos Institucionais devem apresentar espaço semelhante a uma residência, com o limite máximo
de 50 (cinquenta) pessoas por unidade e de 4 (quatro) pessoas por quarto.
Serviço de Acolhimento em Repúblicas (para adultos em processo de saída das ruas): O Serviço de
Acolhimento em Repúblicas destina-se ao acolhimento de adultos e pessoas idosas em processo de saída das
ruas, que oferece proteção, apoio e moradia subsidiada a grupos de pessoas maiores de 18 anos em estado de
abandono, situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, com vínculos familiares rompidos ou
extremamente fragilizados e sem condições de moradia e autossustentação. O serviço deve ser desenvolvido
em sistema de autogestão ou cogestão, possibilitando gradual autonomia e independência de seus moradores.
É destinado a pessoas adultas com vivência de rua em fase de reinserção social, que estejam em processo de
restabelecimento dos vínculos sociais e construção de autonomia. Possui tempo de permanência limitado,
podendo ser reavaliado e prorrogado em função do projeto individual formulado em conjunto com o
profissional de referência.
Vale lembrar que os servidores públicos que atuam nas ruas e que, no seu trabalho, lidam com as
pessoas em situação de rua, são operadores das normas legais. Nessa condição, em diversas situações, eles são
intérpretes dessas normas, e podem encontrar saídas e soluções ditadas pelo bom senso para as dificuldades
que lhes são trazidas pela população, em vez de aumentar o problema com uma nova violação de direitos. Ao
mesmo tempo, devem buscar aplicá-las da maneira mais adequada e humana possível, conforme estabelecem
os princípios, leis e diretrizes relacionadas à sua missão. Deste modo, em vez de provocar um aumento da
39
insegurança e da revolta na sociedade, contribuirão para recuperar nas pessoas o sentimento de confiança na
justiça e nas instituições.
Finalizando...
Exercícios
40
2. Analise o caso a seguir e responda:
Dois homens em situação de rua estavam dormindo em frente a uma loja no centro da cidade. O dono
da loja solicitou auxilio policial para a retirada daqueles homens do local. Os policiais, porém, surpreenderam o
dono da loja, tratando com polidez e respeito aqueles homens. O dono da loja criticou a ação dos policiais,
dizendo que se tratassem aqueles “vagabundos” com carinho, eles com certeza voltariam sempre.
Comente sobre a atitude dos policias.
41
Gabarito
42
MÓDULO
ATENDIMENTO POLICIAL ÀS PESSOAS COM
5 DEFICIÊNCIA
Neste módulo você estudará sobre as pessoas com deficiência. É importante que compreenda a
situação destas pessoas no Brasil e que aprenda como prestar um atendimento adequado.
A sociedade ainda não está preparada para uma convivência harmônica e consciente com estas pessoas.
O espaço público, na maioria das vezes, não está adequado às necessidades delas, e faltam políticas
públicas mais eficazes para o atendimento a elas, além de barreiras atitudinais que geram tratamento
desigual às pessoas com deficiência.
Porém, nos últimos anos, assistimos a grandes mobilizações do setor e diversas leis foram criadas,
visando à melhoria de sua qualidade de vida e condições de participação das pessoas com deficiência
em igualdade de condições com as demais pessoas.
É importante que o profissional de segurança pública tenha consciência destas leis para a promoção e
defesa das pessoas com deficiência.
Objetivos do módulo
Ao final desse módulo, você deverá ser capaz de:
Estrutura do Módulo
Este módulo é composto pelas seguintes aulas:
43
Aula 1 – Situação das Pessoas com Deficiência no Brasil
1.1 Definição
De acordo com a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência:
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdades de condições com as demais pessoas.
Para saber mais sobre o uso de conceitos relativos às pessoas com deficiência visite o site da Secretaria
Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
O censo demográfico do IBGE 2010 apurou que 45,6 milhões de pessoas declararam apresentar algum
grau de limitação, o correspondente a 23,9% da população das quais 38,4 milhões residiam em áreas urbanas e
7,1 milhões em áreas rurais. O Censo 2010 foi elaborado a partir dos novos conceitos introduzidos pela OMS
(Organização Mundial da Saúde), o qual considera a informação dos vários graus de incapacidade e sua relação
com contexto social e ambiental.
44
Tipos de deficiência
Total 45 220 745 36 964 660 35 606 169 29 608 907 9 638 276 7 281 134
Homens 19 600 953 15 871 348 14 883 098 12 249 824 4 864 949 3 727 827
Mulheres 25 619 792 21 093 312 20 773 071 17 359 083 4 773 327 3 553 30
Tabela 3 – Pessoas de 5 anos ou mais de idade, por tipo de deficiência e alfabetização, segundo o sexo
Fonte: Cartilha do Censo 2010: pessoa com deficiência- SDH/PR.2012.
Disponível em: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/cartilha-censo-2010-pessoas-
com-deficienciareduzido.pdf
45
Ano 2000 2010
Total (%) 14,5 23,9
População Urbana (%) 14,3 23,9
População Rural (%) 15,2 23,9
Tabela 5 – Proporção de pessoas com pelo menos uma deficiência vivendo nas zonas urbanas em 2010
Fonte: Cartilha do Censo 2010: pessoa com deficiência- SDH/PR.2012.
Disponível em: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/cartilha-censo-2010-pessoas-
com-deficienciareduzido.pdf
46
• centralização excessiva das decisões e das atividades nas áreas urbanas; violência no trânsito, nas
grandes aglomerações populacionais e no campo;
• acentuada desigualdade social por concentração dos meios de produção;
• mercado de trabalho estagnado e mão de obra não qualificada; alta taxa de acidentes nos locais
de trabalho;
• contaminação do meio ambiente e deterioração da condição de sobrevida;
• falta de controle no uso de medicamentos, drogas e agentes agrícolas;
• ausência de políticas sociais de médio e longo prazo.
Embora a pobreza e a marginalização social não sejam exclusivas das pessoas com deficiência, com
toda certeza agem mais cruelmente sobre elas. A realidade brasileira possui, em alto grau, as características
definidas pela ONU, acentuadas pelo alto índice de violência urbana e no campo.
47
deficiência sobre a vida diária de uma pessoa, quando lhe são negadas as oportunidades de acesso a tudo
que a comunidade disponibiliza aos cidadãos.
Essas oportunidades são necessárias para efetivar os aspectos fundamentais para a vida familiar, como
educação, emprego, proteção econômica e social, participação em grupos sociais e políticos, atividades
religiosas, atividades esportivas, acesso às instalações públicas, habitação, cultura e turismo. Daí, a importância
da inclusão.
A diversidade humana é representada por origem nacional, sexo, religião, gênero, cor e etnia, idade
e deficiência. Muitas vezes a sociedade vem usando esses atributos pessoais e sociais para separar as pessoas.
Essas particularidades não devem se constituir em barreiras para o relacionamento humano. Embora os
preconceitos existam, é bom lembrar que a sociedade constrói, de forma contraditória, o caminho inverso. O
reconhecimento da liberdade religiosa, o fim da escravidão, a aceitação das nacionalidades e da
autodeterminação dos povos são bons exemplos da luta contra o pensamento intolerante.
As políticas, os programas, os benefícios, os serviços e as práticas sociais não podem ser simplesmente
disponibilizadas a determinados segmentos populacionais, mas os mesmos devem participar do
desenvolvimento, da implementação, do monitoramento e da avaliação dessas iniciativas.
48
Outro aspecto relevante a ser tratado é a questão da inclusão da pessoa com deficiência no mercado
de trabalho, com a capacitação exigida. É clara a necessidade de se intensificarem políticas de qualificação
profissional e de empregabilidade para esse grupo.
Percebe-se que políticas desta natureza irão, a médio prazo, garantir cidadania e gerar mercado
consumidor dentre as pessoas com deficiência. Além disso, poderá haver uma diminuição de custos relevantes
para o Governo Federal. Tal medida poderá trazer benefícios econômicos para o conjunto da sociedade
brasileira.
A promoção de acesso adequado às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, por meio
da supressão de barreiras e obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e
reforma de edifícios, nos transportes e nos meios de comunicação e informação é parte indissociável dos direitos
humanos.
O texto constitucional dispõe sobre essa temática nos seus artigos 227 e 244. Ressalta-se, ainda, o
compromisso firmado pelo Governo brasileiro com a Organização dos Estados Americanos – OEA, no contexto
da Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas
Portadoras de Deficiência, em especial as medidas previstas no Artigo III. No texto, estão estabelecidos os
compromissos dos Países Membros para reafirmação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais da
pessoa humana, com fundamento no princípio de que justiça e seguranças sociais são bases para uma paz
duradoura.
Ainda no campo legal e no sentido de estabelecer normas gerais e critérios básicos para a promoção
da acessibilidade, foram promulgadas as Leis n° 10.098/00 e 10.048/00 e o Decreto nº 5.296/04, que as
regulamenta. Estes preceitos legais nos levam à essência maior dos direitos para todos.
A questão da acessibilidade é fator estruturante de desenvolvimento do país, uma vez que o direito de
ir e vir, de ter acesso à informação e à comunicação, de garantir patamares mais elevados de qualidade de vida,
são elementos dos direitos humanos e da cidadania.
Faz-se necessária a adequação do ambiente às exigências de toda a população, incluindo o grupo
dessas pessoas tão distintas que necessitam de soluções especiais que lhes garantam autonomia e segurança e
consequentemente, maior qualidade de vida.
Faz-se necessário, portanto, intensificar ações que impulsionem o desenvolvimento de políticas
integradas junto a todas as esferas de governo e com a sociedade civil, de forma a garantir os direitos desse
segmento e combater todas as formas de discriminação, possibilitando o acesso aos bens e serviços existentes
e buscando meios de sua inclusão qualificada no processo de desenvolvimento do país.
As políticas públicas para as pessoas com deficiência devem levar em conta as disparidades regionais
e a desigual distribuição de renda que, associadas, produzem sob a forma de pobreza, algumas das maiores
causas de deficiências. Tais políticas devem, ainda, integrar-se ao conjunto das ações executadas pelo sistema
básico de serviços sociais, levando em conta que as pessoas com deficiência são crianças, jovens, adultos e
idosos, homens e mulheres, negros, brancos e índios, pertencentes aos mais variados segmentos sociais e
econômicos.
49
Aula 2 – Legislações importantes relacionadas às pessoas com
Deficiência
O tema pessoas com deficiência reúne um conjunto de legislações bem amplo. Veja a seguir:
2.1 Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989: Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de
deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência (CORDE), institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a
atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências.
2.2 Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991: Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social
e dá outras providências.
2.3 Lei n° 8.686, de 20 junho de 1993: Dispõe sobre reajustamento da pensão especial aos deficientes
físicos portadores de Talidomida, instituída pela lei 7070 de 20 de dezembro de 1982.
2.4 Lei n° 8.687, de 20 de julho de 1993: Retira da incidência do Imposto de Renda benefícios
percebidos por deficientes mentais.
2.5 Lei n°. 9.533, de 10 de Dezembro de 1997: Autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro
aos Municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações socioeducativas.
2.6 Lei nº. 9.615, de 24 de março de 1988: Institui normas gerais sobre o desporto e dá outras
providências.
2.7 Decreto n° 3.298, de 20 de dezembro de 1999: Regulamenta a Lei n°. 7853, de 24 de outubro de
1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência, consolida as normas
de proteção e dá outras providências.
2.8 Decreto n°. 3.956, de 8 de outubro de 2001: Promulga a Convenção Interamericana para a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência.
2.9 Decreto n°. 5.296, de 02 de dezembro de 2004: Regulamenta as Leis nºs 10.048, de 8 de
novembro de 2000 que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro
de 2000 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.
50
2.10 Decreto n°. 5.622, de 19 de dezembro de 2005: Regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
2.11 Decreto n°. 5.626, de 22 de dezembro de 2005: Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de
2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de
2000.
2.12 Lei n°. 10.182, de 12 de janeiro de 2001: Restaura a vigência da Lei nº. 8989, de 24 de fevereiro
de 1995, que dispõe sobre a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na aquisição de
automóveis destinados ao transporte autônomo de passageiros e ao uso de pessoas com deficiência física, reduz
o imposto de importação para os produtos que especifica e dá outras providências.
2.15 Lei Nº 11.126, DE 27 DE JUNHO DE 2005: Dispõe sobre o direito do portador de deficiência
visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia.
2.16 Lei Nº 11.133, DE 14 DE JULHO DE 2005: Institui o Dia Nacional de Luta da Pessoa Portadora de
Deficiência.
2.17 Lei Nº 12.190, DE 13 DE JANEIRO DE 2010: Concede indenização por dano moral às pessoas
com deficiência física decorrente do uso da talidomida, altera a Lei nº 7.070, de 20 de dezembro de 1982, e dá
outras providências.
2.18 Lei Nº 12.587, DE 3 DE JANEIRO DE 2012: Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade
Urbana; revoga dispositivos dos Decretos-Leis n°s 3.326, de 3 de junho de 1941, e 5.405, de 13 de abril de 1943,
da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e das
Leis nºs 5.917, de 10 de setembro de 1973, e 6.261, de 14 de novembro de 1975; e dá outras providências.
2.19 Lei Nº 12.622, DE 8 DE MAIO DE 2012: Institui o Dia Nacional do Atleta Paraolímpico e dá outras
providências.
2.20 Lei Nº 12.764, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2012: Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos
da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de
1990.
51
2.21 Decreto 6.949/2009. Convenção sobre os Direitos da pessoa com deficiência: A Convenção
da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência foi incorporada à legislação brasileira em 2008. Após uma
atuação de liderança em seu processo de elaboração, o Brasil decidiu, soberanamente, ratificá-la com
equivalência de emenda constitucional, nos termos previstos no Artigo 5º, § 3º da Constituição brasileira, e,
quando o fez, reconheceu um instrumento que gera maior respeito aos Direitos Humanos.
Nota
A Convenção e seu Protocolo Facultativo são uma referência essencial para o País que queremos e já
começamos a construir: um Brasil com acessibilidade, no sentido mais amplo desse conceito. Estamos
conscientes, por exemplo, de que hoje não é o limite individual que determina a deficiência, mas sim as barreiras
existentes nos espaços, no meio físico, no transporte, na informação, na comunicação e nos serviços.
Fonte: Disponível em: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/
convencaopessoascomdeficiencia.pdf
2.22 Lei 13.104 de 9 de março de 2015: A nova lei alterou o Código Penal para incluir mais uma
modalidade de homicídio qualificado, o feminicídio: quando crime for praticado contra a mulher por razões da
condição de sexo feminino.
A lei acrescentou ainda o § 7º ao art. 121 do CP estabelecendo causas de aumento de pena para o crime
de feminicídio.
A pena será aumentada de 1/3 até a metade se for praticado: a) durante a gravidez ou nos 3 meses
posteriores ao parto; b) contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência; c) na presença
de ascendente ou descendente da vítima.
2.23 Lei 13.146/2015, a Lei Brasileira de Inclusão (estatuto da pessoa com Deficiência): Institui a
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Procure:
• Olhar diretamente para a pessoa ao dialogar com ela;
• Ser atencioso e paciente, especialmente se ela tiver dificuldade de fala ou de audição;
52
• Dirigir-se diretamente à pessoa com deficiência, mesmo que ela esteja acompanhada;
• Utilizar mais de uma forma de comunicação, se necessário.
Evite:
• Ser apressado no diálogo;
• Completar as frases ou falar pela pessoa que está sendo atendida;
• Ficar olhando de maneira fixa ou repetidamente para algo que lhe chame atenção na pessoa;
• Ajudar sem que seja pedido, salvo em caso de acidente ou de a pessoa passar mal.
Lembre-se:
• A pessoa atendida tem alguma deficiência, mas, como todo ser humano, possui habilidades,
talentos e potencialidades em áreas específicas;
• A pessoa atendida está exercendo sua independência. Faça sua parte, oferecendo soluções aos
problemas apresentados e receba sugestões.
Veja a seguir as orientações para atendimento para os tipos de deficiências mais facilmente
encontradas.
53
Nota
Na Rede EAD, da SENASP, existe o curso de LIBRAS, informe-se.
Fazendo-se entender:
• Procure verificar se a pessoa atendida consegue se comunicar e tem condição de compreender o
que foi dito;
• Repasse uma informação de cada vez, de forma clara e objetiva, certificando-se de que foi
entendido;
• Se possível utilize a LIBRAS.
Procurando entender:
• Fique atento aos lábios, gestos, movimentos e às expressões faciais e corporais da pessoa com
quem o diálogo está sendo mantido;
• solicite, quando necessário, que seja repetida a frase ou faça o comunicado de outra forma;
• utilize a escuta, quando necessário, para melhor compreensão da demanda da pessoa;
• ao transmitir, por telefone e em tempo real, mensagens de uma pessoa com deficiência auditiva,
repita o que ela disse na primeira pessoa do singular.
Evite:
• iniciar o diálogo sem possuir a atenção visual da pessoa, cuidando para não mudar
repentinamente a forma de comunicação;
• conversar com outras pessoas, atender telefone, ou trabalhar no computador;
• exagerar na articulação das palavras; fale no seu tom e ritmo normais;
• utilizar gestos com as mãos que possam cobrir a boca ou rosto.
Lembre-se...
Ao encaminhá-la para outros setores ou repartições, indique e oriente sobre as placas ou sinais
visuais do ambiente.
54
• encoste seu braço no braço dela (como cotovelo dobrado). Ela pode segurar perto do seu
cotovelo. Feito isso, fique normalmente, prevenindo quando for virar, parar, subir ou descer escadas ou rampas.
• ao atravessar uma rua, avise se tem mão única, assim como se existe faixa de proteção. Chegando
ao outro lado da rua, pergunte-lhe se necessita ainda de ajuda, só vá embora depois de despedir se dela.
Evite:
• deixar a pessoa sozinha sem avisá-la de sua saída. Caso você saia sem avisá-la, ela continuará
falando como se você ainda estivesse ali.
Procure:
• repassar as informações, solicitações e/ou orientações de forma clara e utilizando exemplos
concretos.
Evite
• ficar aborrecido se a pessoa que está sendo atendida se distrai. Não interprete como falta de
educação.
55
3.2.4 Pessoa com Deficiência Física
Algumas polícias, dentre elas a Polícia Militar de Minas Gerais, têm dado bons exemplos na elaboração
de diretrizes para atendimento às pessoas com deficiência. Antes de terminar a aula, leia parte do capítulo do
Manual Técnico Profissional n° 3.04.02/2013-CG da PMMG.
Não fique inibido em ajudar uma pessoa com necessidade por não saber como trata-la. Siga o que
aprendeu nesta aula, pergunte sempre à pessoa como você pode auxiliá-la, seja compreensivo e cordial e vá em
frente.
Importante!
A construção de uma corresponsabilidade social nas políticas públicas de atendimento e tratamento
digno para as pessoas com deficiência, perpassa também pela segurança pública. Nesse sentido, deve-
se fomentar a criação de mecanismos internos, principalmente nas instituições policiais, que
possibilitem a capacitação dos policiais, tornando, também, a segurança pública mais acessível a este
grupo.
Finalizando...
56
• As causas mais frequentes de deficiência identificadas nas áreas de maior carência estão ligadas,
fundamentalmente, às condições socioeconômicas do país, que se refletem diretamente sobre a população mais
vulnerável.
• As medidas governamentais destinadas a melhorar a situação das pessoas com deficiência
devem, necessariamente, estar ligadas à prevenção, reabilitação e equiparação de oportunidades, de acordo
com o Programa de Ação Mundial para Pessoa Portadora de Deficiência da ONU.
• O tema pessoas com deficiência reúne um conjunto de legislações bem amplo. Na aula 3 você
poderá consultá-las.
• Algumas polícias, dentre elas a Polícia Militar de Minas Gerais, têm dado bons exemplos na
elaboração de diretrizes para atendimento às pessoas com deficiência. Antes de terminar a aula, leia parte do
capítulo do Manual Técnico Profissional n° 3.04.02/2013-CG da PMMG, que trata sobre a forma correta de
abordagem às pessoas com deficiência.
• Não fique inibido em ajudar uma pessoa com necessidade por não saber como tratá-la. Siga o
que aprendeu nesta aula, pergunte sempre à pessoa como você pode auxiliá-la, seja compreensivo e cordial e
vá em frente.
Exercícios
Situação 1- Você está conversando com uma pessoa com deficiência visual. Quando sair de sua
presença como você deve proceder?
Situação 2 – Você irá ajudar um deficiente físico a entrar no carro. Como deve proceder?
57
Gabarito
1. a. Orientação de Resposta: O IBGE 2010 apurou que 45,6 milhões de pessoas declararam
apresentar algum grau de limitação.
b. Orientação de Resposta: Sudeste e Nordeste.
2. Situação 1. Orientação de Resposta: Deve avisá-la de que irá se retirar de sua presença, para que
ela possa interromper o diálogo.
Situação 2. Orientação de Resposta: Pergunte se a pessoa precisa de ajuda, para entrar e sair do carro,
para tirar e/ou guardar a cadeira de rodas etc.
58
MÓDULO
ATENDIMENTO POLICIAL A CRIANÇAS E
6 ADOLESCENTES
Apresentação do Módulo
Antes de iniciar o estudo desse módulo, leia o texto de Rubem Alves “...O melhor de tudo são as
crianças...”. Nele o renomado educador apresenta a Declaração dos Dez Direitos Naturais das Crianças.
Depois reflita: como pai, mãe, responsável ou servidor da área de segurança pública, o que vem
fazendo para ajudar a garantir esses direitos?
Neste módulo você estudará sobre algumas questões relacionadas a crianças e adolescentes presentes
na rotina dos profissionais da área de segurança pública.
Objetivos do módulo
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de:
Estrutura do Módulo
59
Aula 1 – Crianças e Adolescentes: definição dos termos
Criança e adolescente são sujeitos de direitos universalmente reconhecidos. Não é suficiente que
apenas os mesmos direitos humanos e liberdades de um adulto lhe sejam concedidos. Nesse sentido, vários
outros direitos especiais provenientes de sua condição peculiar de seres em desenvolvimento devem ser
assegurados pela família, pelo Estado e pela sociedade.
Você, com certeza, já ouviu falar ou já leu a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de
1948 . Até hoje este documento é considerado a principal norma de direitos humanos no mundo. Em seu artigo
XXV, consta que “a maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais (...)”
Importante!
Em nível internacional, além da DUDH, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou, por
unanimidade, em 20 de novembro de 1989, a Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC), que
reconhece em seu preâmbulo “A NECESSIDADE DE CUIDADOS E PROTEÇÃO ESPECIAIS, INCLUINDO A
PROTEÇÃO JURÍDICA ADEQUADA PARA A CRIANÇA.”
Tal Convenção foi ratificada por 192 países e é o instrumento de direitos humanos mais aceito na
história universal.
O Governo brasileiro ratificou a referida Convenção em 24 de setembro de 1990 e ela entrou em vigor
em 23 de outubro de 1990, passando a valer como norma aplicável no ordenamento jurídico brasileiro.
60
direitos e não mais como propriedade da família, do Estado ou da sociedade, como eram quando da vigência
do Código de Menores de 1927 e 1979.
A CDC, em seu artigo 1,º definiu criança como:
“Todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em
conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes”.
Seguindo o conceito da CDC, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Artigo 2º, definiu criança
como “a pessoa até doze anos de idade incompletos” e, adolescente como “aquele entre doze e dezoito anos
de idade”.
Conforme preceitua a Declaração dos Direitos da Criança, a criança, em virtude de sua condição de
pessoa em situação de desenvolvimento, necessitando de proteção integral e assistência prioritária,
resguardando-a de qualquer violação aos seus direitos fundamentais.
Importante!
Como princípios norteadores do ECA, tem-se que crianças e adolescentes são:
• prioridade absoluta na formulação de políticas, na destinação de recursos e na prestação de
socorro;
• sujeito em condição de desenvolvimento, aspecto que deve fundamentar ações e decisões no
âmbito individual e coletivo;
• sujeitos de direitos.
61
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
I - políticas sociais básicas;
II - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles
que deles necessitem;
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas
de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e
adolescentes desaparecidos;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do
adolescente.
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de
afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à
convivência familiar de crianças e adolescentes; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e
adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou
com deficiências e de grupos de irmãos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
As ações da política de atendimento devem ser orientadas pelas diretrizes do ECA, a saber:
62
comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei;
VII - mobilização da opinião pública no sentido da indispensável participação dos
diversos segmentos da sociedade.
Importante!
É Responsabilidade dos Conselhos a formulação das políticas públicas, conforme a demanda
existente.
2.3 Integração dos órgãos responsáveis pelo atendimento aos adolescentes em conflito com a
lei.
De acordo com o ECA, Artigo 131, “o Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo, não
jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente”.
Praticando
- Procure:
• Localizar o Conselho Tutelar de seu município ou da sua regional e suas condições de
funcionamento, pois algumas coisas são regidas por legislações municipais. Importante saber se o plantão do
conselho é regulamentado, se há estrutura boa para o trabalho, se ele está articulado com outros órgãos, e ter
no conselheiro um parceiro para identificação e encaminhamento de casos de violação de direitos contra
crianças e adolescentes;
63
• conhecer o Conselho dos Direitos de seu município, acompanhar seu trabalho, suas atribuições,
as prioridades e ações;
• conhecer mais sobre a Doutrina de Proteção Integral;
• ter em mãos o Estatuto da Criança e do Adolescente;
• participar de grupos de discussão existentes no seu município: fóruns dos direitos, frentes de
defesa.
1. Orientações Gerais
A Expressão: “menor infrator”, era usada na vigência do Código de Menores . Após a promulgação do
ECA, a expressão tornou-se errônea. A forma correta de se referir a uma criança ou adolescente que comete um
ato infracional é: criança ou adolescente em conflito com a lei ou adolescente infrator.
Importante!
Criança e o adolescente não cometem crime e sim ato infracional.
Segundo o Artigo 103, do ECA, “considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal”.
São inimputáveis todos os menores de dezoito anos, e não podendo, portanto, serem condenados a
nenhuma pena. Recebem, consequentemente, tratamento legal diferente dos réus imputáveis (maiores de
dezoito anos), a quem cabe a responsabilização.
A criança acusada de ato infracional deverá ser encaminhada à presença do Conselho Tutelar, que
aplicará medida protetiva direcionada a ela ou aos seus pais ou responsáveis legais. Não havendo
disponibilidade de nenhum dos dois, deverá ser encaminhada aos pais ou responsável legal, que dará recibo
no Boletim, sendo o registro junto ao Juizado da Infância e da Juventude. Se efetivamente praticou ato
infracional, ser-lhe-á aplicada medida especial de proteção como orientação, apoio e acompanhamento
temporário, frequência obrigatória a ensino fundamental, requisição de tratamento médico e psicológico, entre
outras medidas.
Já o adolescente em caso de flagrante de ato infracional será levado à autoridade policial
especializada. Não havendo esta opção, deverá ser encaminhado à delegacia local, ficando separado dos
64
adultos. Os adolescentes não são igualados a réus ou indiciados, nem são condenados a nenhuma pena
(reclusão e detenção), como ocorre com os maiores de dezoito anos. Recebem medidas socioeducativas, sem
caráter de apenação. É ilegal a apreensão do adolescente para averiguação. Fica apreendido, e não preso. A
apreensão somente ocorrerá quando for em flagrante ou por ordem judicial, e, em qualquer das hipóteses, será
comunicada, de imediato, ao juiz competente, bem como à família do adolescente.
O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado
acerca de seus direitos.
Importante!
Art. 178 do ECA - O adolescente apreendido pela prática de ato infracional não poderá ser conduzido
ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua
dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
65
Aula 3 – Violação dos Direitos Humanos em relação à criança e ao
adolescente.
Você, com certeza, já presenciou ou já ficou sabendo de vários fatos envolvendo crianças e
adolescentes. Crianças que estão nas ruas pedindo esmolas, fazendo malabarismos e até mesmo furtando,
roubando ou matando. São crianças e adolescentes que vivem em situações difíceis, sendo exploradas
sexualmente, violentadas, que trabalha em vez de estarem na escola. Muitas vezes, essas crianças e adolescentes
são exploradas até mesmo no espaço doméstico. Para que possa compreender melhor esta questão, veja alguns
dados estatísticos sobre algumas situações relacionadas a violações de direitos humanos:
66
Figura 1 – Mapa do trabalho infantil
Fonte: IBGE
Segundo Minayo (2004), apud Maria Luiza e Mônica Barcellos (2006, p.04), no Brasil:
Conforme Silva (2002), apud Maria Luiza e Mônica Barcellos (2006, p. 05), “três entre dez crianças de
zero a doze anos sofrem, diariamente, algum tipo de maus-tratos dentro da própria casa, perpetrados por pais,
padrastos ou parentes”.
67
3.4 Tipos mais comuns de violência contra crianças e adolescentes
Como mostra a figura 2, as formas de violência às quais crianças e adolescentes podem ser submetidos
são classificadas em:
Violência física;
Violência sexual;
Violência psicológica;
Negligência;
Síndrome de Münchausen por Transferência; e
bullying.
Violência Física
Uso da força física de forma intencional, não-acidental, por um agente agressor adulto (ou mais velho
que a criança ou o adolescente). Normalmente, esses agentes são os próprios pais ou responsáveis que muitas
vezes machucam a criança ou adolescente sem a intenção de fazê-lo. A violência física pode deixar ou não
marcas evidentes e nos casos extremos pode causar a morte.
68
Violência Psicológica
Conjunto de atitudes, palavras e ações para envergonhar, censurar e pressionar a criança de modo
permanente. Ela ocorre quando xingamos, rejeitamos, isolamos, aterrorizamos, exigimos demais das crianças e
dos adolescentes, ou mesmo, os utilizamos para atender a necessidades dos adultos.
Violência Sexual
É uma violação dos direitos sexuais porque abusa do corpo e da sexualidade, seja pela força ou outra
forma de coerção, ao envolver crianças e adolescentes em atividades sexuais impróprias à sua idade cronológica,
ou ao seu desenvolvimento psicossexual.
Trata-se de toda ação na qual uma pessoa, em situação de poder, obriga outra pessoa à realização de
práticas sexuais contra a vontade, por meio da força física, da influência psicológica (intimidação, aliciamento,
sedução) ou do uso de armas ou drogas.
69
Negligência
É o ato de omissão do responsável pela criança ou adolescente em prover as necessidades básicas para
o seu desenvolvimento físico, emocional e social. O abandono é considerado como a forma extrema de
negligência.
Pode caracterizar-se pela omissão de cuidados básicos como a privação de medicamentos, falta de
atendimento aos cuidados necessários com a saúde, descuido com a higiene, ausência de proteção contra as
condições adversas do meio ambiente (como frio ou calor), não provimento de estímulos e de condições para
a frequência a escola.
Devido à situação de miséria e de extrema pobreza em que muitas famílias vivem no Brasil, grande
parte delas chefiada por mulheres que precisam trabalhar fora de casa para garantir a sobrevivência dos filhos,
a identificação da negligência frequentemente é um ato de difícil discernimento. Tal dificuldade aumenta
quando o profissional ou a equipe de saúde depara-se com o questionamento da existência de intencionalidade
numa situação objetiva de negligência.
Alguns autores indicam que uma boa referência é comparar os recursos que aquela família dispõe para
suas crianças com os recursos oferecidos por outras famílias de mesmo nível social. Outros estudiosos sugerem
a comparação dos tratos dispensados a cada filho, buscando identificar algum tratamento especialmente
desigual. No entanto, independente da culpabilidade dos pais ou responsáveis pelos cuidados com os filhos, é
necessária a notificação e a tomada de decisão a favor da proteção da criança ou adolescente que está sofrendo
a situação de desamparo.
Bullying
É uma forma de violência que está sendo percebida com maior intensidade entre adolescentes,
praticada particularmente nas escolas e incrementada pelos meios virtuais de comunicação, como a internet,
principalmente por meio das redes sociais.
O termo bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que
ocorrem sem motivações evidentes, adotadas por um ou mais adolescentes contra outro(s), causando dor e
angústia, e executa- das dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais
(estudantes, por exemplo) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a
70
intimidação da vítima. (Fonte:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/crianca/Adolescente.pdf )
Saiba mais...
O Disque Direitos Humanos, ou Disque 100, é um serviço de proteção de crianças e adolescentes com
foco em violência sexual, vinculado ao Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças
e Adolescentes, da SPDCA/SDH. Trata-se de um canal de comunicação da sociedade civil com o poder público,
que possibilita conhecer e avaliar a dimensão da violência contra os direitos humanos e o sistema de proteção,
bem como orientar a elaboração de políticas públicas.
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) fez mudanças no Disque 100
que atendia exclusivamente denúncias de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes. O serviço
foi ampliado, passou a acolher denúncias que envolvam violações de direitos de toda a população,
especialmente os Grupos Sociais Vulneráveis, como crianças e adolescentes, pessoas em situação de rua, idosos,
pessoas com deficiência e população LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Fonte:
http://www.crianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=3
Você, em sua labuta operacional ou administrativa, já deve ter sido acionado ou deparado com
inúmeros casos de violência praticada contra crianças e adolescentes. A seguir, você terá acesso, por meio de
algumas situações, a sugestões de atendimento a crianças e adolescentes em casos de violação de seus direitos.
71
Sugestão de atendimento:
Neste caso, a criança deve ser encaminhada ao Conselho Tutelar para que sejam tomadas as
providências previstas no art. 101 do ECA.
Importante!
A Doutrina de Proteção Integral assegura os seguintes direitos da criança e do adolescente:
• Relacionados à sobrevivência (vida, saúde).
• Relacionados ao desenvolvimento social (educação, lazer, profissionalização, convivência familiar e
comunitária).
• Relacionados à integridade física, moral e psicológica (respeito, dignidade, liberdade).
72
O que diz a Lei?
A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 7º, inciso XXXIII, com nova redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 16/12/1998, prevê a “proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores
de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos.”
Importante!
ECA, Artigo 60, 65 e 67 e Lei nº 10.097/00 – Estes artigos falam sobre o direito à
profissionalização e à proteção no trabalho dos adolescentes.
Sugestão de atendimento:
Você deve tomar alguns cuidados, sendo um deles o de procurar verificar a veracidade do fato que lhe
foi repassado. Caso haja realmente suspeita de trabalho infantil faz-se necessária a lavratura de um Boletim de
Ocorrência com destino a um dos órgãos abaixo, que tomará as providências necessárias:
- Ministério Público do Trabalho.
- Ministério do Trabalho – Delegacia Regional do Trabalho.
- Ministério Público do Estado – Promotoria Pública.
- Conselhos Estaduais dos Direitos da Criança e do Adolescente.
- Conselho Tutelar.
- Rede sócio assistencial, CRAS ou CREAS.
A situação que é abordada aqui está relacionada a violência doméstica e sexual contra criança e
adolescente (ver texto complementar “Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes”).
Você trabalha próximo a uma escola e em um determinado dia a diretora lhe chama, tendo em vista
que suspeita de que uma aluna de 08 anos foi violentada sexualmente por seu padrasto. A suspeita da diretora
se deu após ela ter estabelecido um clima de confiança, o que viabilizou o relato. Como você, profissional
operador de segurança pública, agiria neste caso?
A Lei nº 12.015/ 2009 (Crimes contra a Dignidade Sexual) trouxe a seguinte modificação no Código
Penal:
Pela nova Lei nº 12.015/09, quem praticar ato libidinoso ou relações sexuais com menor de 18 anos e
maior de 14 anos, mesmo que essa pessoa já tenha se corrompido por meio da prostituição, incorre na mesma
pena de quem: “submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor
de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone”. A pena e varia de 04 a 10 anos de reclusão.
(Art. 218 – B § 2º inciso I).
Outra questão legal a ser observada é a que foi trazida pela Lei nº 13.104/15. A nova Lei alterou o
Código Penal para incluir mais uma modalidade de homicídio qualificado, o feminicídio: o que ocorre quando
o crime for praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
O § 2º-A foi acrescentado como norma explicativa do termo "razões da condição de sexo feminino",
esclarecendo que ocorrerá em duas hipóteses: a) violência doméstica e familiar; b) menosprezo ou discriminação
à condição de mulher; A Lei acrescentou ainda o § 7º ao Artigo 121 do CP estabelecendo causas de aumento de
pena para o crime de feminicídio. Assim a pena será aumentada de 1/3 até a metade se for praticado: a) durante
a gravidez ou nos 3 meses posteriores ao parto; b) contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com
deficiência; c) na presença de ascendente ou descendente da vítima.
Sugestão de atendimento:
Você não pode esquecer que o caso citado é considerado crime. Nesse sentido, é necessário procurar
obter o maior número de informações possíveis, como vimos a violência sexual é traumática e por isso mesmo,
a condução da ocorrência deve ser revestida de cuidados conforme o tipo de abuso sofrido, a saber: violência
sexual aguda (episódio único) e violência sexual crônica (episódios repetitivos). A primeira forma, na maioria das
vezes, demanda atendimento médico imediato, em caráter de urgência; enquanto que a segunda tende a exigir,
além do atendimento inicial, intervenção mais aprofundada por parte de uma equipe multidisciplinar ( psicóloga,
pediatra, hebiatra, assistente social, entre outros profissionais), em caráter ambulatorial
Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/crianca/Adolescente
.pdf
Importante!
A criança ou adolescente deve ser mantida protegida, sem risco de revitimização.
74
A primeira providência a ser tomada nos casos de suspeita ou confirmação de quaisquer tipos de maus-
tratos contra crianças e/ou adolescentes (entre eles, a violência sexual), é a notificação do fato ao Conselho
Tutelar. O ECA estabelece que é obrigatório comunicar ao Conselho Tutelar todos os casos de suspeita e de
maus-tratos contra crianças ou adolescentes – Art. 13 do ECA. A finalidade é promover cuidados voltados para
a proteção da criança e do adolescente, vítimas de violação de seus direitos fundamentais.
O ato da notificação inicia um processo que visa interromper as atitudes e comportamentos violentos,
no âmbito da família e/ou por parte de qualquer agressor.
Importante!
Quando não houver Conselho Tutelar, suas funções serão exercidas pela autoridade judiciária,
conforme previsto no art. 262 do ECA.
É necessária uma atuação conjunta entre os órgãos, Polícia, Conselhos, Ministério Público, serviços de
assistência social, saúde, Delegacia Especializada, dentre outros, para que hajam os encaminhamentos
necessários, a fim de garantir os direitos fundamentais da criança ou adolescente. O fato deve ser lavrado em
Boletim de Ocorrência, tendo em vista que é crime, e encaminhada à Delegacia Especializada de Proteção à
Criança e ao Adolescente. Caso não haja um unidade na localidade, deve-se encaminhar à Delegacia local.
O cuidado institucional e profissional é um direito que a criança e o adolescente têm. Para o
profissional, prover a assistência e notificar são deveres.
Faz-se necessário que, você, como operador de segurança pública, saiba que situações agudas de
violência sexual (ocorridas num prazo igual ou inferior a 72 horas), devem ser imediatamente encaminhadas a
um hospital de referência para esse tipo de atendimento. Neles, a vítima recebe atendimento médico e
psicossocial especializados, medicação preventiva de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e outras
orientações.
Praticando
Procure saber:
• Quais hospitais em seu município são considerados de referência para esse tipo de atendimento?
• Informe-se: o número do disque denúncia de violência sexual contra crianças e adolescentes é o
100.
Agora que você estudou sobre os direitos da criança e do adolescente procure pesquisar mais sobre o
assunto visitando os sites a seguir e leia as legislações internacionais sobre os direitos da criança e do
adolescente.
• Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil – Diretrizes de RIAD,
(1988) Dispõe sobre a prevenção do delito e tratamento do delinquente.
75
• Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Menores – Regras
de Beijing , Adotadas pela Assembleia Geral da ONU, Resolução 40/33, de 29 de novembro de 1985. Dispõe
sobre a defesa dos direitos das crianças e adolescentes que, por circunstâncias várias, tornam-se alvo da ação
da justiça.
• Declaração de Direitos da Criança – Res. 1386 da Assembleia Geral, de 20 de novembro de
1959.
Finalizando
Exercícios
76
c) Os jornais noticiaram recentemente, um fato no mínimo inusitado. Uma criança de quatro anos, que
atirou uma pedra em sua vizinha, também criança, foi detida por policias e levada até uma delegacia. Faça uma
análise deste caso e se possível cite os dispositivos do ECA, em que estariam enquadrados este caso?
77
Gabarito
1. Orientação de resposta:
a. Embora a situação de exploração envolva o abuso sexual, quando falamos na exploração estamos
nos referindo àquele tipo de violência que possui fins comerciais e tem como intermediário o
aliciador – pessoa que lucra com a venda do sexo com meninos e meninas.
b. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 2º, definiu criança como a pessoa até doze anos
de idade incompletos e, adolescente, aquele entre doze e dezoito anos de idade.
c. O fato em questão se trata de uma ação policial, onde os envolvidos desconheciam totalmente os
procedimentos a serem adotados neste caso. Uma criança de quatro anos ainda não tem noção do
que está fazendo. Assim bastaria aos policiais conversarem com os pais de ambas as crianças e
resolverem tudo de forma amistosa, ou seja, esclarecer que o fato não teve gravidade e foi resultado
de uma brincadeira entre duas crianças, caso houvesse ferimento na criança ofendida pela pedra, o
socorro a mesma deveria ser acionado, sem causar impacto às crianças envolvidas. Segundo o ECA,
em caso de ato infracional cometido por crianças, só cabem medidas de proteção. (Art. 105 e 101 do
ECA) como já vimos anteriormente. No entanto, no caso em tela, pelas circunstâncias do fato, não
cabe nem mesmo medidas protetivas, já que o fato poderia ter sido esclarecido e resolvido no
próprio local.
78
Concluindo o Curso
Neste curso entramos no universo dos grupos vulneráveis. Você pode perceber que as pessoas que
fazem parte destes grupos, são uma parcela significativa da população brasileira que sofre com preconceito
social e, muitas, com a falta de políticas públicas voltadas para a melhoria da sua qualidade.
Você estudou sobre como lidar com cada grupo em específico e atender a suas necessidades básicas.
Dentro desta nova visão, você terá agora condições de ajudar muito mais estas pessoas, lidando com elas de
forma mais adequada e dando as devidas orientações quando necessário.
Tenha sempre em mente que saber respeitar os grupos vulneráveis é sobre tudo um gesto de
humanidade. Conquistar a confiança e o reconhecimento destes grupos, é um indicativo de evolução para a
segurança pública no Brasil. Por isto, não perca tempo! Comece hoje mesmo a colocar em prática o que
aprendeu aqui. E bom trabalho!
79
Referências Bibliográficas
80
• ONU. Princípios Básicos Sobre o Uso Da Força e Armas de Fogo Pelos Funcionários
Responsáveis Pela Aplicação da Lei (adotados por consenso em 7/09/1990, no VIII Congresso das Nações
Unidas)
• ONU. Pacto Internacional de Direitos Individuais, Civis e Políticos e Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (ONU, 1966).
• ONU. Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes (ONU, 1984), e Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (OEA, 1985).
• PASTORAL DO POVO DA RUA. Pastoral do Povo da Rua: Vida e Missão. São Paulo: Loyola, 2003.
87 p.
• POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS (PMMG). Seção de Emprego Operacional. Diretriz Para a
Produção de Serviços de Segurança Pública Nº 08. Atuação da Polícia Militar de Minas Gerais Segundo a
Filosofia dos Direitos Humanos. Belo Horizonte, 2004. ONU. Convenção Sobre os Direitos da Criança (1989).
• REVISTA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS. Brasília: OAB, 2002 – Ano 2 – Nº 2.
• ROVER, Cees de. Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário para Forças Policiais e de
Segurança. 4ª Ed. Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Genebra: 2005.
• SILVA, Maria Lúcia Lopes da. Trabalho e População em Situação de Rua no Brasil. São Paulo:
Cortez, 2009.
• Sumário Executivo Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua - Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 2008. Contribuição: Pastoral do Povo da Rua, Fórum Mineiro de
Direitos Humanos.
81