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SEGURANÇA PÚBLICA

Autoria: Me. Iverson Kech Ferreira

1ª Edição
Indaial - 2021

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2021


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

F383s

Ferreira, Iverson Kech

Segurança pública. / Iverson Kech Ferreira. – Indaial: UNIAS-


SELVI, 2021.

165 p.; il.

ISBN 978-65-5646-299-8
ISBN Digital 978-65-5646-298-1
1. Segurança pública. - Brasil. II. Centro Universitário
Leonardo da Vinci.

CDD 341.37
Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA
E PARADIGMAS...............................................................................7

CAPÍTULO 2
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA.....................................59

CAPÍTULO 3
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA
DA SEGURANÇA PÚBLICA..........................................................109
APRESENTAÇÃO
Diariamente, o tema segurança pública está em pauta na imprensa nacional,
por motivos que demonstram tanto sua importância quanto suas mazelas e
dificuldades de acompanhar o exponencial crescimento dos grandes centros
urbanos, com as enormes distâncias que separam e dividem o quinto maior país
do mundo em extensão.

Diante dessas situações que envolvem dimensões distintas, a segurança


pública possui a árdua tarefa de estar em todos os lugares, tanto na ostensiva
participação da vida social quanto em investigações diversas. É com essa
imensa responsabilidade que iniciamos o estudo referente às diversas relações
da segurança com a sociedade, com a democracia e com o bem-estar social.

Entretanto, muitos são os desafios para se fazer uma política de segurança


que consiga atender a todos os anseios e repreender todas as afrontas contrárias
ao bem-estar geral. É nesse sentido que as discussões sobre o tema aumentaram
consideravelmente nos últimos anos, evidenciando a importância de profissionais
que entendam e discutam a segurança pública a partir de novas ferramentas,
fontes de uma interpretação atual e responsável das políticas a serem aplicadas
para uma exitosa campanha em benefício da defesa de todos.

Problemas relacionados ao aumento exponencial da taxa de criminalidade,


a ineficiência do sistema preventivo de proteção, a violência policial, a corrupção
generalizada crescente nos órgãos públicos, a superlotação carcerária, o
sucateamento das instituições e a falta de investimentos em novas tecnologias
acarretam enormes impasses para o fortalecimento da organização democrática
no país, sobretudo, quando se trata da dualidade segurança/sociedade. A
discussão acerca da segurança pública deve ser respaldada por um Estado
capaz de gerenciar as políticas públicas de segurança estimulando a atuação da
sociedade civil.

Com a extensão dos temas agravantes de segurança, há a necessidade


de qualificar o debate a partir da inclusão de novos personagens e atores que
possam distinguir, pela vivência prática, os novos paradigmas e possibilidades
para as modernas políticas públicas. A partir daí, a necessidade de se entender
a problemática da segurança pública só é possível através do entendimento de
que ela não deve estar restrita somente ao direito e às instituições de justiça, mas
passa pelo fortalecimento da competência do Estado na retomada das ações,
bem como na ampliação do debate de uma parceria entre as instituições públicas
e a sociedade ao redor na busca pela qualidade de vida.
C APÍTULO 1
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL:
HISTÓRIA E PARADIGMAS

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Conhecer, por intermédio da História, o nascimento da segurança pública no


Brasil, considerando os seus diversos padrões e referencias legais.
• Analisar o surgimento dos sistemas policiais no País.
• Apresentar as diversas normas formais que originaram a legitimidade do
monopólio da segurança pública pelo Estado.
• Identificar nos ditames constitucionais a interpretação magna da segurança
pública atual.
• Apresentar os diversos padrões de segurança pública.
• Interpretar a origem do monopólio Estatal da segurança do cidadão, respaldado
pela legalidade temporal até os dias hodiernos.
Articular os diferentes paradigmas frente aos problemas e situações sociais
enfrentadas pela população brasileira.
Articular o pensamento crítico em prol da humanização da segurança pública,
lastreado pela Constituição de 1988.
SEGurANÇA PÚBLiCA

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Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O estudo da segurança pública está constantemente relacionado à evolução
histórica e social de determinada coletividade, o que inclui a sua evolução e
desenvolvimento, sempre em contínua transformação. Desde que as pessoas se
uniram para a vida em coletivo em uma experiência de convivência que altera as
percepções de coabitação, a harmonia entre os conviveres dessa sociedade deve
se pautar por virtudes essenciais para a melhor sobrevivência do trato social.
Ocorre que, historicamente, em todas as coletividades mundo afora, os problemas
sociais enfrentados se pautam por variantes que não podem ser definidas por
meros estudos estatísticos, mas pelas próprias raízes que estruturam essa
sociedade (ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 64).

Por esse motivo, a importância de se entender os primeiros passos, a


segurança pública no Brasil se consolida com o ideal primordial de conhecer as
bases que alicerçaram o sistema vigente e como este pode ser melhorado diante
das imensas dificuldades e diferenças, tanto territoriais quanto culturais que
envolvem o Brasil.

Numa visão geral, neste capítulo, devemos viajar até as Ordenações Filipinas,
entendendo os primeiros passos da polícia no país e como a Constituição do
Império foi capaz de moldar, naquela época, a essência do Exército e da Guarda
Nacional. Com o passar dos anos e a evolução social brasileira, principalmente
decorrente dos grandes centros urbanos em constante expansão, as mudanças
na maneira que a segurança pública é percebida pelos cidadãos e pelo Estado
são moldadas pela transição de determinados padrões e modelos de se enxergar
a proteção estatal. Determinados paradigmas e referencias surgem para indicar
as mudanças e quais os próximos passos que a política de segurança deve tomar
para buscar um melhor e mais efetivo resultado.

Entender a genealogia das instituições de segurança pública significa


reescrever o próprio conhecimento, inflar-se de informações que podem vir a ser
diferenciais no momento de compreender para onde estamos indo e realizar a
crítica se o caminho a ser tomado é o mais correto. Somente pela história podemos
interpretar os caminhos da passeidade e refletir seus erros e discórdias, para que,
quando oportuno e preciso, possamos nos posicionar diante das mudanças, das
dificuldades e, até mesmo, nas tomadas de decisões tão importantes para a vida
em coletivo.

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SEGurANÇA PÚBLiCA

2 HISTÓRIA DA SEGURANÇA
PÚBLICA NO BRASIL
Prezado aluno! Faremos uma breve análise do essencial desenvolvimento
histórico da segurança pública em nosso país. Observaremos que a criação
das polícias não atentava para a interpretação que hoje temos do que significa
segurança de todos, mas pautada somente na proteção dos grandes latifúndios,
lutando contra invasões e protegendo as capitanias hereditárias que estavam em
formação. O conceito polícia tomou uma semelhança ao que hoje conhecemos
somente a partir da Independência do Brasil e com as Constituições Republicanas
que foram escritas, com grande ênfase para a Constituição da República de 1988.
Ainda assim, você verá que a real importância desse setor, tão ativo em nossa
sociedade, era mitigada e atenta apenas ao poderio dos mais ricos e influentes
do Estado.

Para a época do descobrimento, o décimo quinto rei de Portugal, D. João III,


teve a incumbência de manter a colonização e proteger o reino recém-descoberto
na América Latina. Lembre-se de que Portugal era uma potência militar marítima e
seu império se estendia pelo Oriente, África e Américas. Em 1530, estabeleceu a
ocupação do litoral brasileiro, autorizando Martin Afonso de Souza, capitão-mor e
governador das terras do Brasil, a outorgar sesmarias para a agricultura na então
Vila de São Vicente, criando uma das mais importantes capitanias do território
brasileiro (HERMANN, 2000, p. 76).

Você se lembra das sesmarias e das capitanias hereditárias?


Pois bem, as sesmarias eram terras pertencentes ao governo de
Portugal, divididas aos que poderiam cultivar a agricultura, teve seu
início em 1530 até 1822. Sesmaria significa dividir, sesmar, fracionar.
Daí a origem das capitanias hereditárias, divididas em 14 grandes
lotes de terra e doadas aos importantes figurões da Corte, para
que as protegessem contra os invasores inimigos e cultivassem as
riquezas do solo.

Com a divisão das terras para pessoas influentes na Corte Portuguesa, muitas
foram as etnias indígenas absorvidas pelos novos donos de territórios, bem como
inúmeras as normas criadas para a proteção tantos dos bens quanto das pessoas
que faziam parte de uma sesmaria. Com diferentes tipos de pessoas, como
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Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

índios, escravos (o primeiro navio escravo chegou ao Brasil em 1535) e nobres,


um código de leis e normas deveria ser seguido para a busca da segurança de
todos. Ficou combinado junto a D. João III, que cada dirigente possuidor de terras
ficaria responsável pela segurança dos seus, facilitando a compra de armas para
a proteção. Assim, cada donatário de cada capitania organizava a sua defesa e a
proteção do território por suas próprias forças.

Nessa época, era comum a distribuição e trocas de armas de fogo e munição


entre os donos de sesmarias. Assim, a administração pública não apenas sugeria,
mas também dirigia um amplo domínio dos grandes donos de terras nas vidas e
nas sociedades que se formavam a partir das capitanias. Note que, no início, a
segurança de todos e o seu sistema vigente era, acima de tudo, privado, uma vez
que não havia a participação do Estado. Havia então uma descentralização da
responsabilidade estatal, que transferia aos particulares seus afazeres no sentido
da segurança.

Imagine a situação cuja segurança pública seja controlada,


organizada e gerenciada pelos particulares, proprietários de grandes
porções de terra, como na época das sesmarias. Daí, podemos
lembrar as grandes obras escritas por Graciliano Ramos (Grande
sertão veredas, de 1956) e de João Cabral de Melo Neto (Morte e
vida severina, de 1955), em que, quem comanda tudo e todos são
os grandes latifundiários, conhecidos como “Coronéis”. Foi o que
aconteceu naquele período e que, curiosamente, vinha acontecendo
até bem pouco tempo, como relatam os escritores das modernas
obras citadas anteriormente. Há uma imortal passagem em Morte e
vida severina, cujo personagem principal se depara com um cortejo
de um defunto, que soube ter sido assassinado por um grande
proprietário de terras que desejava as posses do moribundo, para,
assim, ter mais terras para plantar (MELO NETO, 2000, p. 64).
Existe, então, a desforra e a justiça com as próprias mãos, em que os
fins são justificados pelos meios na falta de um controle do Estado. É
possível, ainda, termos, nos dias de hoje, resquícios desse sistema
patriarcal e colonial de controle das resoluções políticas acerca das
tomadas de decisões que envolvam a Segurança Pública?

FONTE: MELO NETO, J. C. de. Morte e vida severina. 4. ed. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

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SEGurANÇA PÚBLiCA

Entretanto, foi com as Ordenações Filipinas e seu texto legal que as normas
para a proteção, prisão e segurança começaram a ter um rumo, levando o Brasil
Colônia a aderir às normas que já se faziam presentes na Europa.

2.1 BRASIL COLÔNIA E AS


ORDENAÇÕES FILIPINAS
As forças que regiam a Europa do período da colonização do Brasil
influenciaram os primeiros passos das normas e leis que passaram a vigorar
em território latino-americano. As Ordenações Filipinas, em seu Livro V, são de
grande valia aos nossos estudos, pois regulamenta o Direito Penal da época.
Vemos, então, que com intuito de unir os aparatos legais, tanto portugueses
quanto os de seus súditos no além-mar, o Rei de Portugal, Filipe I, em 1603,
promulgou as Ordenações. Suas leis e normas, sejam penais ou civis, seguiam
os costumes da época. Como o império vigorava em Portugal e em muitos outros
países europeus, é natural o monarca instituir sua influência para instrumentalizar
sua ação política e suas vontades por intermédio legal. Da mesma forma, lembre-
se de que havia outro poder, além do monarca e que contribuiu, com a escrita das
Ordenações, a Igreja Católica.

É correto dizer que as Ordenações Filipinas marcaram a história do


nosso Direito Penal, asseverando as disposições dos preceitos medievais que
suportavam a tirania dos monarcas e da igreja numa época em que os direitos
humanos inexistiam e o próprio homem poderia ser considerado sem nenhum
direito devido a sua posição ou etnia (PEREIRA, 1980 apud SOUZA, 1872, p. 80).

Para entender melhor a abrangência sinistra das Ordenações


Filipinas, que apregoava o poder do monarca e da igreja em primeiro
lugar, contra tudo e contra todos, Pereira (1980 apud SOUZA, 1872,
p. 94) trouxe sua influente interpretação:

[...] eram espelhos onde se refletiva, com inteira


fidelidade, a dureza das codificações contemporâneas,
era misto de despotismo e de beatice, uma legislação
híbrida e feroz, inspiradas em falsas ideias religiosas
e políticas, que invadindo as fronteiras da jurisdição
divina, confundia o crime com o pecado, absorvia o
indivíduo no Estado fazendo dele um instrumento. Na
previsão de conter o mau pelo terror, a lei não media a

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Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

pena pela gravidade da culpa; na graduação do castigo,


obedecia, só, o critério da utilidade.

FONTE: SOUZA, B. H. de. Lições de direito criminal. 2. ed. Recife:


Livraria Econômica de José Nogueira de Souza: 1872.

Isso trouxe uma influência significativa para o direito da época, quando


o dever de punir externalizava ditames que não poderiam ser julgados ou
observados pelas provas legais, mas sim pela fé e pelas normas tratadas por
tribunais eclesiásticos numa mistura entre pecados e crimes. Isso confirma que a
real motivação das Ordenações seria a manutenção do poder, tanto do soberano
quanto da igreja, na conservação da ordem social e da escravidão. Perceba que
esse período pós-medieval ainda é arraigado pela violência, tão característica
daquela época. No Brasil que se colonizava, com seus personagens tidos como
selvagens pela Coroa, somente a violência poderia pacificar os corpos
daqueles que poderiam se rebelar. Ocorre que a
segurança pública
Essa foi uma marca da segurança pública daqueles dias, a caça e passou a ser mais
um instrumento
a destruição do mal e do bandido, seja ele quem for, que incomode as
de viabilização
pretensões da Coroa ou as propensões dos grandes proprietários de terra. dos poderes
O grande número de escravos e uma possível revolta, os desajustados institucionalizados,
sociais que se faziam presentes, precisavam de uma repressão por parte bem como de
do poder legal. Ocorre que a segurança pública passou a ser mais um manutenção das
instrumento de viabilização dos poderes institucionalizados, bem como de coisas como elas
estavam.
manutenção das coisas como elas estavam.

O medo na cidade do Rio de Janeiro, escrito por Vera Malaguti


Batista, explica como o medo pode ser o carro-chefe para a caça e
esteriotipação de atores no trato social. Com intuito de demonstrar
como a revolta dos escravos Malês na Bahia, em 1835, conseguiu
unir todo o aparato do sistema de segurança contra todos os
escravos e como esse medo perdurou até os dias da modernidade,
trazendo um mal-estar na sociedade carioca. A influência do medo
do outro pode contagiar órgãos de repressão e controle do Estado
contra qualquer pessoa/cidadão que possua o estereótipo a ser
considerado causador desse medo.

FONTE: BATISTA, V. M. O medo na cidade do Rio de Janeiro. Rio


de Janeiro: Editora Revan, 2014.

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SEGurANÇA PÚBLiCA

Nesse contexto, as polícias não eram profissionais, mas cidadãos escolhidos


por determinados períodos para garantir a segurança. Estabelecida pelo Livro I
das Ordenações, os inquéritos ou as investigações criminais eram conduzidas por
juízes de fora que eram nomeados pelo próprio rei. Na falta dessa ordenação,
os juízes poderiam ser eleitos pelos próprios moradores locais, e isso somente
viria a mudar com a promulgação do Código Criminal de 1830, sob a égide da
Constituição do Império.

Todavia, os primeiros passos da polícia no Brasil são destacados no Período


Imperial e, como vimos, seguem uma tendência escravocrata, autoritária e
continuamente interligados às forças da igreja.

2.2 OS PRIMEIROS PASSOS DA


POLÍCIA
Você sabia que a origem da palavra polícia é grega? Politeia! Com o passar
do tempo, passou ao latim como politia, mas sem alterar o sentido da palavra,
entretanto, assumindo a interpretação de proteção da segurança pública por
intermédio do governo. Note que, desde 1500, no Brasil, já havia uma organização
criada por D. João III, quando estabeleceu as capitanias hereditárias. Os relatos
podem ser comprovados a partir de 1530 (HERMANN, 2000, p. 85). Veja também
que as primeiras polícias no país foram criadas antes mesmo da Independência.

Os documentos guardados no Museu Nacional do Rio de Janeiro e datados


de 1530 indicam que, com a chegada de Martin Afonso de Souza (1530-1532),
primeiro governador e colonizador do Brasil, criou-se a primeira guarda militar,
no início do século XVI (FAORO, 1997). Entretanto, alguns estudiosos entendem
que não se caracterizava a função policial naquele corpo militar, pois não havia a
pretensão de segurança a toda a comunidade, atividade exemplar e característica
da polícia.

Somente com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, é que se intentou


repetir aqui as instituições que já existiam no país português, objetivando a
característica da atividade policial.

A partir desse ponto, foi criada a primeira Intendência Geral da Polícia


da Corte e do Estado do Brasil, situada no Rio de Janeiro. A função a ser
desempenhada por esses policiais tinha a missão de estabelecer e fiscalizar as
punições, bem como diversos serviços urbanos da cidade, entre eles a iluminação
pública e o abastecimento de água. O intendente geral era o desembargador que
atuava com poderes de juiz, julgando pessoas que eram acusadas por pequenos
delitos, atuando, assim, como Polícia Judiciária.
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Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

Polícia Judiciária – Trata-se da polícia investigativa que realiza


atos do inquérito criminal, como diligências de investigação, tomada
de testemunhos etc. Enquanto a Polícia Militar tem a função ostensiva
e a preservação da Ordem Pública (Art. 144 da Constituição de 1988,
§ 5º), as polícias federal e civil possuem a incumbência de polícia
investigativa da União e dos Estados, respectivamente (Art. 144 da
Constituição de 1988, § 1 º, I e 144, § 4º da CF de 1988). Voltaremos
a esses assuntos em breve!

FONTE: BRASIL. Constituição da República Federativa do


Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 3 jun. 2021.

A Intendência Geral de Polícia da Corte deu origem ao que se conhece como


Polícia Civil hoje em dia ou Polícia Judiciária. Veremos mais sobre a sua atuação
e sua previsão legal nas próximas páginas, no decorrer de nossos estudos.
Nessa época, a chefia da intendência era desempenhada por um desembargador,
chamado de Intendente Geral de Polícia. A ele era dada a possibilidade de escolher
pessoas para que representem o seu poder nas províncias distantes umas das
outras. Esse escolhido ficou conhecido como delegado e exercia as funções de
autoridade policial, seja investigativa, administrativa ou judicial (ZACCARIOTTO,
2005).

Foi somente em 1841, com a Lei nº 261, que iniciou a previsão pelo
ordenamento pátrio das atribuições policiais, incluindo, de forma oficial, o cargo
de delegado de polícia.

Ao continuarmos nossa viagem pela história, deparamo-nos com a criação de


outra importante instituição, que viria a ser a origem da Polícia Militar no país. Vale
destacar para nossos estudos que, em 1809, foi criada e organizada de forma
militar, a Guarda Real de Polícia, que tinha amplos poderes para a manutenção
da ordem. Essa guarda respondia diretamente ao intendente geral de polícia
ou, como vimos, o desembargador. Essa fase ainda estava sobre o domínio das
Ordenações Filipinas, ou seja, todo o direito penal, bem como seu processo, ainda
amargava os ditames autoritários de tal preceito de normas.

Ocorre que, em 17 de julho de 1831, a Guarda Real foi extinta, 20 anos


depois de sua criação, para o seu lugar, foi criado o Corpo de Guardas Municipais,
logo após o término de seus trabalhos. Alguns de seus soldados se juntaram ao
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SEGurANÇA PÚBLiCA

exército criado em 1648, formado para travar batalhas locais contra invasores
e índios. Foi com a Independência do Brasil que começa a ganhar corpo a
Constituição do Império, e, a partir dela, algumas influências que vemos até os
dias de hoje perduram.

A Guarda Real Militar de Polícia foi criada em maio de 1809


com intuito de auxiliar o Intendente Geral de Polícia da Corte e
Estado do Brasil. Ficou sendo responsável, também, por diversas
atividades, desde atribuições relacionadas diretamente à segurança
pública, bem como outras não tão interligadas à segurança, como o
embelezamento da cidade, salubridade e a urbanização. Sua principal
função era a manutenção da ordem e o patrulhamento ostensivo em
determinadas áreas da cidade do Rio de Janeiro, sede do Império
(CABRAL, 2011). Extinta em julho de 1831, foi substituída pelo Corpo
de Guardas Municipais. A extinção da Guarda Real se deu devido a
uma importante rebelião ocorrida logo após a abdicação de D. Pedro
I ao trono, em abril de 1831, quando a guarda reivindicava, de forma
veemente, o fim dos castigos físicos aplicados nas forças armadas.

FONTE: CABRAL, D. Intendente/Intendência de Polícia da Corte e do


Estado do Brasil. In: Dicionário on-line da administração pública
brasileira do Período Colonial (1500-1822). 2011. Disponível em:
https://goo.gl/JiygwJ. Acesso em: 9 jun. 2021.

2.3 A CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO,


A ORIGEM DO EXÉRCITO E DA
GUARDA NACIONAL
A Independência do Brasil, em setembro de 1822, estabeleceu o novo status
para o reino, que deixaria de ser colônia de Portugal, mas seria reconhecido como
Reino Integrante e Soberano. Entretanto, ainda mantinha o sistema da Monarquia
em sua configuração política mais importante. Acontece que, logo após Dom
Pedro I imortalizar o Dia do Fico, o país teria que demonstrar os novos caminhos a
serem seguidos em busca de sua hegemonia. Assim, uma nova Carta de Direitos
foi estabelecida: A Constituição do Império do Brasil.

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Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

Em 25 de março de 1824, Dom Pedro I outorgou a Constituição Brasileira


do Império, confirmando-se imperador. Como você sabe, essa foi a primeira
Carta Magna nacional, que garantia autonomia às províncias, criava os poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como um poder moderador, exercido
pelo próprio imperador. Veja que é a partir dessas divisões que se começa a
esquematizar a Constituição atual. Um importante passo para a época foi a
criação do Código Criminal de 1830, que veio a substituir o defasado Livro V das
Ordenações Filipinas, uma vez que a Constituição determinou a organização de
um Código Civil e Criminal, “fundado nas sólidas bases da justiça e da equidade”,
abolindo “os açoites, a tortura, a marca de ferro quente e todas as mais penas
cruéis” (Art. 179, Parágrafos 18 e 19) (LARA, 1999, p. 38).

Foi a partir daí que as normas passaram a dispor de uma organização política
e administrativa, com o intuito de instruir todo o poder das leis por intermédio de
uma Constituição única e, exclusivamente, nacional. Por certo, você lembra do
que conversamos algumas páginas atrás, a respeito dos grandes latifundiários e
sua proteção pela lei devido ao seu poder e riqueza. Isso, entretanto, continuou.
Ficou conhecida como uma Constituição que prezava pelos mais abastados, tanto
que, somente teriam direito ao voto, homens livres e com uma renda anual de
mais de 100 mil réis (voto censitário). Da mesma forma, para participação política
em uma eleição como candidato, essa soma subia para 200 mil réis a 400 mil
réis, dependendo o cargo que se iria concorrer. Da mesma forma, para fazer parte
da Guarda Real, somente cidadãos com renda mínima seriam escolhidos. Esse
tipo de divisão acentuava cada vez mais as desigualdades sociais que já existiam
naquela época no país, e, quanto maior o desequilíbrio, maiores são os problemas
para a segurança pública.

Como sabemos, o exército existe desde 1648, para a proteção da Colônia,


principalmente contra invasores estrangeiros. A Guarda Nacional, criada sob
a égide da Nova Constituição, tratava-se de uma organização paramilitar
independente do exército, que possuía a importante atribuição de defender a
Constituição e a integridade do Império, bem como na manutenção da ordem
interna. A importância da criação da Guarda Nacional para a história do país é
simbólica, pois, é a partir dela que surge o personagem do coronelismo. Sua
criação veio com intuito de aumentar a autonomia das províncias dentro do
país e, dessa forma, contrabalançar a força do exército, que tinha suas próprias
convicções políticas e de vontades.

Assim, note que o Imperador Dom Pedro I cercava-se de uma força que não
poderia ser considerada milícia, uma vez que possuía seu aparato legal para
travar suas batalhas se preciso fosse. Essa Guarda Nacional de Elite, como ficou
conhecida, era formada por civis e distribuída aos grandes proprietários de cada
região. Cada grande latifundiário poderia alcançar o cargo máximo de coronel, por

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SEGurANÇA PÚBLiCA

isso, o fenômeno do coronelismo, prática que tanto influenciou a política brasileira


e os seus famosos autores de livros e grandes histórias, como a indicada logo a
seguir!

Escrito por João Guimarães Rosa em 1946, o livro é Sagarana.


Sagarana é uma obra dividida em nove contos, mas a
desventura de Nhô Matraga é a que mais chama a atenção, em
uma luta contra o Coronel Joãozinho Bem Bem e tudo o que seu
poderio representava. O conto em questão é intitulado A hora e a
vez de Augusto Matraga, (lançado no cinema em 1966 pelo diretor
Roberto Santos e regravado, em 2012, por Vinícius Coimbra), trata
de um mundo cercado por jagunços, cangaceiros, vaqueiros e
coronéis do mato. Nesse universo real do sertão esquecido, mas
latente do Nordeste e Centro Oeste do Brasil, a ordem é a valentia
e a bravura em desafiar o sol a pino todos os dias das semanas e
de manter-se vivo todas as horas do dia. Não se pode vacilar em
lugar de leis criadas e mandadas pelos coronéis e fanfarrões do lugar
(FERREIRA, 2019, p. 142).

FONTE: FERREIRA, I. K. Crime, arte e literatura. Porto Alegre: Ed.


Canal Ciências Criminais, 2019.

Percebeu a jogada de Dom Pedro I com a criação da Guarda Nacional? Não


podendo confiar no Exército, que possuía alguns desgarrados da influência do
imperador e até contrários a ele, uniu forças aos fiéis súditos da Coroa, aqueles
que receberam as terras do Império, tempos atrás. As capitanias hereditárias,
mesmo após sua extinção, ainda geravam frutos ao imperador. Adeptos da
Monarquia que os havia enriquecido, era comum os coronéis da Guarda Nacional
fazer uso da força, para a defesa do sistema.

Imagine só a situação! O governante não deveria utilizar da


força de proteção nacional, de segurança pública, para garantir os
seus desejos e vontades, ou deveria? Em Utopia, livro publicado em
1516, Thomas Morus indicava uma sociedade igualitária e tolerante,

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Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

iluminada pelas luzes do conhecimento e das liberdades, governada


pela razão, rechaçando qualquer possibilidade de absolutismo.

FONTE: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/utopia.pdf>. Acesso


em: 9 jun. 2021.

A Guarda Nacional foi extinta em 1922 pelo presidente Artur Bernardes, após
a Proclamação da República.

2.4 AS CONSTITUIÇÕES
REPUBLICANAS
Prezado aluno! Nessa última parte histórica de nossos estudos acerca da
segurança pública no Brasil, vamos nos debruçar sobre as Constituições que o
país teve ao longo de sua história.

Como já visto, a Constituição de 1824 teve um importante papel para a


história da segurança pública, uma vez que ordenava determinados padrões para
a ascensão social, para ocupar cargos políticos e, principalmente, pertencentes
à segurança da nação. Entretanto, como tratava-se de uma Carta Imperialista,
apesar de abrir possibilidades como a divisão dos poderes e o direito ao voto,
ainda que censitário, sua função primordial era a manutenção do Império. Foi
a constituição que maior vigência teve, durando 66 anos. Esse período ficou
conhecido como Período Imperial, que teve seu término com a Proclamação da
República em 15 de novembro de 1889. Dentre os períodos perpassados pela
Monarquia brasileira (Brasil Império entre 1822-1889, Período Regencial 1831-
1840 e Segundo Reinado 1840-1889), a instituição das Forças Armadas perdura
até os dias atuais, com mudanças pontuais.

Cerca de 4,8 milhões de africanos foram trazidos ao Brasil como


escravos entre 1550 e 1888, quando se deu o fim da escravidão no
país (ALENCASTRO, 2018). Ao serem libertos, não foram conferidos
direitos, nenhuma medida de suporte ao liberto foi realizada pelo
governo, sendo jogados ao meio de uma sociedade patriarcal,
dominada por elites e que teria que conviver com os diferentes. A

19
SEGurANÇA PÚBLiCA

forma de coexistência escolhida foi o preconceito, a estigmatização,


segregação e violência contra os alforriados. Sofrendo com a falta
de oportunidades e acesso ao estudo ou à saúde, essa violação de
direitos e anulação do povo africano seguiu seu curso e, infelizmente,
pode ser vista até os dias de hoje. Negros, pobres e indígenas (os
índios que não foram massacrados na colonização/invasão sofrem
estigmatização até hoje também), perfazem o objeto de marcação
serrada das forças de repressão do Estado, historicamente.

FONTE: ALENCASTRO, F. África, números do tráfico atlântico. In:


BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

Com a queda do sistema monárquico, a primeira Constituição do Brasil pós-


império nasceu em fevereiro de 1891, dois anos após a Proclamação da República
pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Essa constituição foi influenciada pelo
positivismo francês, portanto, defendia o federalismo do governo republicano. Isso
retirava o poder moderador, dado a uma pessoa apenas, o imperador, e aprovava
o Presidencialismo.

A importância da mudança de ares foi sublime para a legalização,


concretização e profissionalização das polícias no Brasil. Entre os anos de 1902
a 1916 ocorreu uma reformulação organizacional na área da segurança pública e
entre seus agentes. Após a constituição e a federalização, os Estados passaram
a ter maior autonomia, uma vez que abandonavam a alcunha de província. Isso
fez com que pudessem organizar os seus efetivos, padronizando as polícias
(COSTA, 1989 apud FERNANDES; COSTA, 1998, p. 315). A Polícia Militar, por
exemplo, já teve a alcunha de Regimento de Segurança e Brigada Militar, sendo
convencionada Polícia Militar apenas em 1946, com a Constituição do Estado
Novo.

Já a Constituição de 1934 ficou conhecida pelos primeiros anos da Era


Getulista, vigorando até 1937, mas trouxe algumas peculiaridades e direitos,
como o direito ao voto para as mulheres, de caráter obrigatório a partir dos 18
anos, trazendo como pauta questões trabalhistas como o salário-mínimo e a
jornada mínima de trabalho, férias remuneradas e o repouso semanal. Toda essa
mudança na estrutura mexia com a segurança pública, que se transformava com
o passar dos tempos, precisando evoluir junto às leis que eram criadas.

Notou que a República e o Presidencialismo passavam por essas


Constituições que acabamos de ver? Observe agora que a próxima Carta Magna
do Brasil trouxe a Ditadura, mudando tudo o que estava sendo organizado e, com

20
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

isso, a maneira de agir e de pensar a segurança pública. Em novembro de 1937, a


nova Constituição fundava a Ditadura, dissolvendo o Congresso Nacional, Getúlio
Vargas apresentava uma carta de direitos de cunho autoritário e centralizador,
suprimindo partidos políticos e concentrando todo o poder nas mãos do mandatário
do país, o presidente. O Estado Novo durou até a Constituição de 1946.

Com a deposição de Getúlio Vargas, seu antigo ministro de guerra e


agora presidente, Eurico Gaspar Dutra, retomava a possibilidade de uma
redemocratização no país. O importante da Carta Magna de 1946 foi o
estabelecer das atribuições, bem como a independência dos três poderes:
Executivo, Legislativo e Judiciário. De cunho presidencialista, retornava os direitos
trabalhistas de greve e acabava com a possibilidade da pena de morte, restaurada
pela Constituição anterior. Reforçava alguns direitos do cidadão, principalmente
os direitos de liberdade e os direitos do voto. Novamente, alterava-se a maneira
de pensar e estruturar a segurança pública, agora retornando aos ares de uma
democracia.

Como você já deve ter notado, isso durou pouco. Com o golpe militar de
1964, que depôs o Presidente da República João Goulart, foi escrita e promulgada
a sexta Constituição que tivemos no país. Veja que essa tratava-se de uma carta
de direitos escrita exclusivamente pela censura militar, abdicando os direitos
coletivos e individuais mais prementes. O autoritarismo e a centralização política
dos poderes (como na época da Monarquia, quando apenas a ele era dado o
poder moderador, aqui seria apenas ao líder militar) trouxeram novamente a
pena de morte, a caça aos inimigos políticos apelidados de inimigos da nação ou
contrários ao governo que se formava, a limitação dos direitos trabalhistas, num
retrocesso dos direitos já conquistados pelo cidadão através das cartas anteriores.
O fechamento do Congresso Nacional, a censura dos meios de comunicação e
a centralização do poder nas mãos dos militares, possuíam, segundo eles, uma
importância extrema para o Brasil, que era a defesa do território contra os ataques
dos inimigos, que seriam os opositores do governo e, assim, da Nação. Perceba
que, mais uma vez, a segurança pública, em meio a todo esse redemoinho que
se formava, teria que se reinventar aos mandos e desmandos de novos regimes e
novas ordens que se formavam.

21
SEGurANÇA PÚBLiCA

Se você achou interessante o tema acerca do inimigo que


deveria ser combatido pelas instituições do governo, como a polícia e
o direito penal, sugerimos o livro O inimigo no Direito Penal.

Boa leitura!

FONTE: ZAFFARONI, E. R. O inimigo no Direito Penal. 3. ed. Rio


de Janeiro: Revan, 2013.

Com a queda do Regime Militar, a Nova República chegava com a


Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã. É certo que, com os
últimos governos militares, já se acenava um período de redemocratização no país,
reconhecido como abertura. Foi a partir desse processo que se começou a pensar
em uma Carta de Direitos que estabelece os direitos da pessoa, as garantias
individuais e novos direitos trabalhistas. Em outubro de 1988, foi promulgada
a Constituição que temos até os dias de hoje, apresentando ao país uma nova
realidade, democrática e inclusiva. Para isso, determinantes movimentos de ação
da sociedade civil já se solidificavam e lutavam por uma ordem que elevasse
os ideais de evolução social, contidos nos princípios iluminados pela liberdade
e pelos ideais democráticos. Movimentos contrários ao militarismo e às ações
ditatoriais tiveram extrema importância na garantia dos direitos fundamentais que
foram acolhidos pela nova constituinte.

Foi através dessa Carta Magna que as instituições passaram por uma
permanente organização e a segurança pública teve, pela primeira vez, a real
possibilidade de publicização, ou seja, seus atos e ordens se tornaram públicos,
ordenados e planejados.

Veja que o Art. 6º da Constituição já abriga a segurança pública como direito


fundamental aos cidadãos e a sociedade: “São direitos sociais a educação,
a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição” (SARLET, 2012, p. 66). O autor ainda afirma que:

A acolhida dos direitos fundamentais sociais em capítulo


próprio no catálogo dos direitos fundamentais, ressalta, por
sua vez, de forma incontestável sua condição de autênticos
direitos fundamentais, já que nas cartas anteriores os direitos
sociais encontravam-se positivados no capítulo da ordem

22
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

econômica e social, sendo-lhes, ao menos em princípio


e ressalvadas algumas exceções, reconhecido caráter
meramente programático (SARLET, 2012, p. 66).

Prezado aluno! Vimos, nesse primeiro momento, a importância


dos acontecimentos históricos para a formação da cultura brasileira,
e com esse conhecimento, podemos identificar as raízes que
estabeleceram a maneira de pensar, agir e de determinar a segurança
pública no Brasil contemporâneo.

Entendemos que o país, desde o momento de sua primeira


colonização, teve um aspecto patriarcal e de dominação, interligados
a um líder ou conquistador. Isso demonstra a rigidez e a obediência
de determinadas instituições que são formadas historicamente.

O Período Colonial foi uma época de violentos conflitos, e até meados da


Nova República, com a Constituição de 1988, esses conflitos se avolumaram,
intercambiando seus personagens vez ou outra. A segurança pública no Brasil
perpassa todos os períodos na história, não como mera coadjuvante, mas como
personagem essencial para a manutenção ou para a substituição entre um ou
outro sistema. Você percebeu quantas vezes no decorrer da linha de tempo
trazida aqui, nesse breve texto cronológico, os atores da segurança pública
surgiram como subterfúgio para um ou outro governo ou administração? Sendo
usada como estratagema para diversas vontades, inclusive, os desejos pessoais
do imperador ou de algum premente golpe de Estado?

A segurança pública não existe para esse fim. Como sua própria
nomenclatura já sugestiona, serve para preservar e manter ordem e paz onde
há caos e guerra. Com as Constituições sendo alteradas, algumas vezes em
tom de vanguarda, outras de retrocesso, a necessidade era constante de uma
legalização e ordenamento que fizesse prevalecer os reais intuitos da instituição.
A partir de 1988, com a Nova República e os princípios de uma norma geral que
norteiam as entidades, regulamentando-as e, ao mesmo, apoiando-as, o sistema
de segurança passou a ficar mais claro.

Para que isso ocorresse, você aprendeu que passamos por várias fases,
desde a Monarquia, Republicanismo e Presidencialismo até a Ditadura. Isso acaba
moldando a argamassa que constitui um povo e forma uma nação. Da mesma

23
SEGurANÇA PÚBLiCA

forma, as idiossincrasias se repetem dentro das instituições, replicando, em geral,


o discurso do comando e dos detentores do poder, mesmo que seja um discurso
de segregação e caça aos inimigos, como em épocas de Ditadura. Portanto, a
maneira que se constitui uma nação, constitui também as suas instituições, como
a segurança pública. Com o processo evolutivo da nossa sociedade e de suas
normas, entendemos que o processo de profissionalização e normatização dos
agentes e das organizações de segurança transformam não apenas o instituto
em si, mas também todo o entendimento da sociedade sobre a sua importância
e sobre os seus anseios em meio à vida social. Quebrar toda a rigidez desumana
de sistemas monárquicos e ditatoriais, bem como dispor de normas que enfatizem
a necessidade e a importância das instituições, significa realocar o conceito da
segurança pública elevando-a em prol da sociedade ao redor, que deve ter sua
busca social pautada no respeito ao próximo e na promoção humana.

Muito bem! Finalizamos as Constituições Republicanas, bem como


realizamos um breve estudo acerca daquilo que afeta a construção da identidade
da nossa segurança pública, ajudando a entender como enxergamos a instituição
atualmente. É sempre importante lembrar as palavras da historiadora Emília
Viotti da Costa (2012, p. 1), que disse, certa vez: “Um povo sem memória é um
povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente
e no futuro, os mesmos erros do passado”. É com esse intuito de obtenção do
conhecimento e sensibilidade para acertamos cada vez mais os passos futuros,
observando erros e acertos do passado, que você deve ter notado a importância
das normas que regiam, cada qual a seu tempo, a segurança pública.

Ocorre que, como se trata de instituições que tem por finalidade a saudável
convivência social, é comum a alteração de suas próprias perspectivas, ao passar
dos tempos e da história. Isso acontece porque as mudanças de pensamento e
atitudes são essenciais no ciclo evolutivo social, quando novas nuances, antes
não imaginadas, por exemplo, a tecnologia e a globalização surgem como
inovações que também se alteram constantemente, mudando a sociedade
ao redor. No próximo subtópico, vamos entrar na discussão das mudanças de
modelos e dos padrões que se alteram, mudando as perspectivas, tanto sociais
quanto das próprias instituições que estamos estudando agora.

3 PARADIGMAS DA SEGURANÇA
PÚBLICA
Prezado aluno! Como conversamos no subtópico anterior, você viu que as
mudanças ocorrem e são, na maioria das vezes, essenciais para o desenvolvimento
tanto da sociedade quanto de suas próprias instituições. Imagine, você, se não

24
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

tivéssemos alterações na maneira de pensar e nenhum desenvolvimento nos


institutos políticos. Estaríamos, agora, conversando, muito provavelmente, a
respeito do direito hierárquico do próximo monarca ou sobre a possibilidade da
pena perpétua para aqueles que possuem o pensamento diferente do imperador.
Por certo, a evolução nos trouxe uma maneira de passarmos pelos obstáculos de
forma mais democrática. Isso condiz com a Constituição da República de 1988,
considerada uma Carta Cidadã, devido aos direitos que observa como essenciais.
Direitos de liberdade de expressão e de igualdade são prezados pela Carta Magna
e essenciais para a busca da justiça.

Como vimos, para chegarmos até esse ponto, as mudanças vieram de forma
paulatina, devagar e se moldando com o passar dos tempos. Ainda assim, elas
chegaram. Motivadas pela nova maneira de enxergar a sociedade e o trato social,
pela nova ordem social pautada na globalização, seja econômica ou social, na
tecnologia e em novos conhecimentos, tivemos que nos transformar para nossa
sobrevivência. Assim também ocorreu com as instituições.

Um dos filmes mais envolventes sobre as mudanças de


paradigmas e que consegue explicar bem as alterações dos padrões,
é o famoso 2001, uma odisseia no espaço, com direção de Stanley
Kubrik, baseado no livro homônimo de Arthur C. Clarke. A cena em
que o primata reconhece um osso como arma, e não apenas mais
como objeto inanimado, altera a sua percepção de poder sobre os
outros, subjugando-os com sua nova descoberta. Isso também pode
ser considerado uma mudança de paradigmas.

FIGURA – FILME 2001, UMA ODISSEIA NO ESPAÇO

FONTE: <HTTPS://F.I.UOL.COM.BR/
FOTOGRAFIA/2018/04/01/15225919375AC0E8C1BD73D_1522591937_3X2_
MD.JPG>. Acesso em: 3 jun. 2021.

25
SEGurANÇA PÚBLiCA

“Uma mudança de paradigma significa o dispensar das formas usuais


que foram estimadas como uma verdade globalizada e o refazer dessas
formas perante o novo ciclo que se apresenta à frente” (KUHN, 2006, p. 23).
Então, podemos considerar que quando há uma crise na maneira de pensar e
realizar determinados atos, deve haver uma alteração, uma transformação que
chamamos mudança de paradigma. Vamos apresentar um exemplo da mudança
de paradigma que hoje estamos acostumados: uma influente mudança de padrões
surgiu da insustentável maneira a qual utilizávamos a natureza ao redor. Para
atenuar essa crise, surgiu o sistema do desenvolvimento sustentável. Entretanto,
nem sempre a mudança significa que o paradigma anterior deixou de existir por
completo, podendo ainda sobreviver resquícios de sua forma anterior mesmo no
novo paradigma. Veja que em nosso exemplo as indústrias mais poluentes nunca
deixaram de existir. Isso comprova que até mesmo na mudança dos padrões,
costumes e idiossincrasias possuem o elo de conexão com o antigo, podendo
influenciar tanto para o bem quanto para o mal o paradigma porvir.

Mudança de paradigma – Termo criado por Thomas Kuhn,


filósofo norte-americano que conceitua o paradigma de forma
objetiva. Ele explica que “o conhecimento não se desenvolve de
maneira uniforme e cumulativa, estabelece as situações difusas da
existência, ou seja, a experiência humana pode transformar novos
modelos para substituição e a entrada de novas regras” (KUHN,
2006, p. 218).

Os três paradigmas que serão apresentados a você, a seguir, demonstram a


maneira que se enxerga a segurança pública em seus determinados momentos
de existência. Afinal, qual a importância maior da definição do paradigma ou
padrão? Os padrões, ou paradigmas, servem para determinar a agenda de uma
política criminal e definir alternativas de políticas públicas contra a violência e o
crescimento da criminalidade.

26
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

Política Criminal – É o “conjunto sistemático de princípios e


regras através dos quais o Estado promove a luta de prevenção e
repressão das infrações penais. Compreende também os meios
e métodos aplicados na execução das penas e das medidas de
segurança, visando o interesse social e a reinserção do infrator”
(DOTTI, 1999, s.p.).

FONTE: DOTTI, R. A. A crise do sistema penal. Revista dos Tribunais,


n. 768, out. 1999.

Os paradigmas apresentados representam as constantes mudanças na área


de segurança. Isso nos demonstra que os objetivos e estratégias ao longo dos
anos também são variáveis, conforme o paradigma que conceitua determinada
época e que estimula cada iniciativa e cada estratégia. Veja que essas três
maneiras de se enxergar a segurança pública retratam os mais importantes e
contemporâneos modelos. Vamos estudar, aqui, as suas principais características.
São eles:

• Paradigma da Segurança Nacional – que compreende o período da


Ditadura Militar.
• Paradigma da Segurança Pública – consolidado com a promulgação da
Constituição Federal de 1988.
• Paradigma da Segurança Cidadã – perspectiva que influência a América
Latina e o Brasil a partir do ano 2000.

Vamos estudá-los?

3.1 PARADIGMAS DA SEGURANÇA


NACIONAL
Esse conceito existia no Brasil durante o período da Ditadura Militar, que
vigorou entre 1964 até 1985. Nessa ótica, priorizava-se a defesa do Estado e
a ordem política e social. Como vimos, a Ditadura freou os ímpetos e ideais
iluministas de liberdade e igualdade, brecando também os direitos constitucionais.
Não à toa, foi uma época de supressão, censura e perseguição política. Essas
características influenciaram a maneira qual o Estado brasileiro conceituava a

27
SEGurANÇA PÚBLiCA

área da segurança pública, que tinha seus fundamentos formada pela Doutrina
de Segurança Nacional, formada pela Escola Superior de Guerra. Assim, você
percebe que qualquer política de segurança pública passaria, então, pelo crivo
de uma instituição que possui, em sua característica mais originária, a
Centros de guerra, o combate e o conflito (OLIVEIRA, 1976).
inteligência e de
informação, como A primeira Constituição do Regime Militar de 1967 previa o
o serviço Nacional
princípio da defesa do Estado expressamente, incluindo as Forças
de Informação
prestavam a função Nacionais como preponderantes e essenciais para a execução da
de informar qualquer segurança pública. Centros de inteligência e de informação, como
intenção de ameaça o serviço Nacional de Informação prestavam a função de informar
ou, até mesmo, qualquer intenção de ameaça ou, até mesmo, opiniões contrárias ao
opiniões contrárias Estado de Segurança Nacional. Isso recrudesceu a política de caça aos
ao Estado de
considerados inimigos do Estado, que os interligava principalmente à
Segurança Nacional.
corrente do comunismo (BORGES, 2003, p. 33).

Nessa época que moldou o paradigma, a repressão por meio das


As pessoas físicas e
Forças Armadas e dos órgãos de controle e repressão eram o foco
jurídicas (empresas)
são consideradas principal do governo, a prioridade para o sistema de segurança pública.
corresponsáveis Esse padrão da supremacia do interesse nacional conseguiu justificar
pela segurança, o uso da força excedente quando houvesse qualquer tipo de risco à
porém nunca suas segurança e à ordem do sistema de governo então empregado. Agora
beneficiárias veja, a Constituição de 1967, não define o que é a segurança pública
nem quem são os seus agentes. Consegue trazer um relevante aspecto
interpretativo quando realça, em seu Art. 89 que “toda pessoa natural ou jurídica
é responsável pela Segurança Nacional, nos limites definidos em lei” (BRASIL,
1967). Notou que a frase descreve, de fato, o real propósito da segurança pública?
E qual seria ela? Seria a defesa do Estado, mas não a defesa da sociedade, uma
vez que não há analogia alguma que indique no texto a coletividade social. Assim,
as pessoas físicas e jurídicas (empresas) são consideradas corresponsáveis pela
segurança, porém nunca suas beneficiárias, e isso não nos lembra a posição dos
Coronéis e seus comandados nas capitanias hereditárias? Nos dias atuais, as
próprias atuações das Forças Armadas no cenário da segurança pública nacional,
vez ou outra, recebendo chamados para reforçar a proteção de um ou outro
ambiente, é um resquício deste paradigma nas políticas modernas.

3.2 PARADIGMA DA SEGURANÇA


PÚBLICA
O segundo paradigma que conhecemos destaca-se pela nomeação
das instituições de segurança pública, bem como de seus afazeres e tarefas

28
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

principais, realizada pela nova Carta Magna, que abria essa mudança de padrões.
Essa alteração se deve à promulgação da Constituição de 1988 como um marco
legal na construção de uma redemocratização no Estado nacional. Mesmo não
estabelecendo um conceito básico do que seja segurança pública, definiu seus
afazeres diferentemente de sua antecessora quando “a segurança pública,
dever do Estado, direito e responsabilidade de todos” (BRASIL, 1988, Art. 144,
caput). Da mesma forma, prevê a funcionalidade do instituto quando celebra “a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”
(BRASIL, 1988). A partir daí, a Constituição nomeia e respalda legalmente todas
as instituições que perfazem o sistema, demarcando, dividindo e determinando
suas funções, competências e jurisdições. Isso significa segurança jurídica, tanto
ao cidadão quanto aos agentes que laboram na segurança pública, uma vez que
estão respaldados por uma lei suprema, que os dota de direitos, mas também de
deveres.

Você percebeu a importância do novo paradigma que se abria com a Nova


República? Além disso, padronizou a atuação das polícias judiciárias, seja a Polícia
Federal ou Polícia Civil, bem como definiu estruturalmente os órgãos ostensivos,
que patrulham preventivamente na prevenção da sociedade e na prevenção de
delitos da Polícia Militar e Corpo De Bombeiros. Através dos órgãos elencados
no Art. 144, a CF/1988, expressou-os e determinou-os como responsáveis pela
manutenção da segurança interna, são eles:

• Polícia Federal.
• Polícia Rodoviária Federal.
• Polícia Ferroviária Federal.
• Polícias Civis.
• Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.

O Art. 142 definiu o papel das Forças Armadas como responsáveis pela
manutenção da Segurança Nacional e sua soberania, na defesa da Pátria e na
garantia dos poderes constitucionais. Isso demonstra um conceito diferente para
as duas instituições, tendo cada uma âmbitos diferentes, enquanto a Segurança
Pública volta-se para a preservação da harmonia interna, a Segurança Nacional,
por intermédio das Forças Armadas, é atribuída ao exercício da soberania
nacional e da defesa do território. Nessa nova perspectiva e seus atuais padrões,
podemos notar que houve uma descentralização administrativa, e o novo princípio
conferia, então, aos Estados e Municípios uma maior participação na execução da
segurança pública, que passam a ter responsabilidades pelo gerenciamento de
suas polícias civil e militar.

Isso proveu aos Estados uma autonomia frente à implementação da


segurança, podendo, assim, trabalhar com suas estatísticas próprias e com

29
SEGurANÇA PÚBLiCA

seus mapas de criminalidade elaborados a partir das coletas de dados. Para


minimizar um possível rompimento entre Estados e Nação, o Governo Federal
criou secretarias nacionais que pudessem quantificar o controle da violência e
da criminalidade, com intuito de implementar uma política nacional de segurança
pública. O Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), aprovado recentemente,
e o Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) são duas importantes
formas de secretariar o instituto. A primeira tem a função de articular a troca de
informações entre as secretarias federais, estaduais e municipais, com intuito de
aperfeiçoamento das estratégias de combate ao crime, respeitando a autotomia
das instituições. Já a SENASP compete assessorar o Ministério de Estado da
Justiça no desenvolvimento de políticas, estudos e campanhas para implementar
a política nacional de segurança pública no país, coordenada pelos órgãos
respectivos de segurança de cada região, estado e município. A realização desse
feito somente pode ser possível com a análise dos dados estatísticos de violência
de cada localidade.

Prezado aluno! Percebeu que a perspectiva aqui é outra? Agora, transfere a


missão de controle da violência e da segurança das mãos das Forças Armadas,
que passam direto para as polícias responsáveis, cada uma em sua área. Não
se preocupe, pois mais para frente esmiuçaremos os artigos da Constituição de
1988 que tratam da segurança pública, principalmente de suas competências e
jurisdição. Por ora, é importante que você entenda que o paradigma da segurança
pública surgiu para alterar uma visão ultrapassada e arcaica de controle das
Forças Armadas. Agora a perspectiva é outra, como bem enfatizou Freire (2009,
p. 52):

[...] a perspectiva da Segurança Pública desloca o papel de


prevenção e controle da violência das Forças Armadas para
as instituições policiais. Nesse sentido, no paradigma da
Segurança Pública, cabe primordialmente às instituições
policiais a responsabilidade pelo controle e prevenção da
violência. No entanto, enquanto na perspectiva da Segurança
Nacional a violência era representada como as ameaças aos
interesses nacionais, no arcabouço da segurança pública está
é caracterizada como ameaça à integridade das pessoas e do
patrimônio.

Acontece que, com a constante globalização e as novas tecnologias que


surgiam, outra forma de se enxergar as sociedades, a partir de suas próprias
carências, analisadas a partir de estudos locais, um novo paradigma ou modelo
surgia. Vamos conhecê-lo?

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Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

Se quiser pesquisar a respeito das secretarias, fica a dica dos


sites respectivos! A SUSP pode ser encontrada aqui: https://legado.
justica.gov.br/seus-direitos/elaboracao-legislativa/projetos/susp.

Enquanto a SENASP, pode ser encontrada aqui:: https://www.novo.


justica.gov.br/sua-seguranca-2/seguranca-publica/senasp-1/a-senasp.

Boa Leitura!!

3.3 PARADIGMA DA SEGURANÇA


CIDADÃ
A perspectiva desse paradigma realça o panorama local, destacando as
experiências vividas nas comunidades da América Latina, desenvolvendo suas
análises a partir do cotidiano das sociedades que se deseja interpretar. Para isso,
prezado aluno, uma quebra de vínculo perante as análises estrangeiras, que não
conhecessem das mazelas e intempéries das comunidades latinas, precisou ser
imposta. A mais significativa mudança ocorrida nesse paradigma, além de utilizar-
se de pesquisas caseiras, foi a alteração dos sujeitos tutelados, ou protegidos,
pela Segurança Pública do Estado. Como vimos, é dever estatal a proteção e
segurança de seus citadinos. Agora, o núcleo central deve reger a ampla cidadania.
Em uma época de globalização e modernidade, o indivíduo somente consegue
atingir os seus ideais sociais a partir da cidadania. Considerar-se e ser visto como
cidadão, dotado de direitos, igualdade, mas também de responsabilidades sociais,
significa fazer parte da cidade, pertencer a uma comunidade. Para isso, políticas
públicas de segurança devem caminhar em conjunto às outras essenciais áreas,
como lazer, cultura, esporte, saúde, educação etc. Esse envolvimento de várias
instituições prevê a efetivação de ações planejadas em nível social, permitindo
que na sociedade possa participar de suas realizações e programações, com
intuito de focar para o envolvimento comunitário, diminuindo os índices de
violência social.

O chamado Paradigma da Segurança Cidadã surgiu na década de 1990


e passou a implementar em alguns países da América Latina, em especial a
Colômbia, a integração de políticas em setores diversos, alcançando êxito na
diminuição da criminalidade. Assim, você notou que é preciso o envolvimento de
várias instituições em conjunto para que o conceito desse paradigma possa vir

31
SEGurANÇA PÚBLiCA

a se realizar? Podemos definir que isso não seria possível sem a participação
das pessoas que fazem parte da comunidade. Dessa forma, entendemos que a
participação popular, o engajamento social, possui um papel preponderante para
a saúde da vida comunitária. Esse participar, expressa o sentido de cidadania.
Devido às enormes distâncias entre os Estados e pelas próprias características
da divisão federativa no Brasil, esse modelo está presente com maior veemência
em determinados locais do que em outros. Ainda assim, a Secretaria Nacional de
Segurança Pública iniciou o programa Segurança Cidadã.

Nesse padrão, enfatiza-se a importância da gestão local, dos estados


e municípios, pois a implementação de políticas locais aproxima o cidadão
das atividades, ocasionando um maior envolvimento e até mesmo uma maior
legitimidade às ações, uma vez que são realizadas em seu próprio local, em sua
própria comunidade. Uma importante caraterística desse arquétipo incentiva que
as ações comunitárias participem da construção da cidadania, na convivência e
na resolução pacífica dos conflitos que existam, sendo um dos princípios para a
prevenção de atos de violência (FREIRE, 2009).

A participação das polícias também possui um aspecto diferencial. Com a


formação da polícia comunitária, com agentes aptos para atender casos diversos,
na sua localidade de guarda, criou-se um vínculo entre os operadores da
segurança e os moradores. Só que o paradigma da Segurança Cidadã possui
outras determinações que diferem o conceito das responsabilidades do agente de
segurança dos tempos de outrora. Aqui, devemos entender que não se trata apenas
do serviço policial em sua participação ostensiva e preventiva, mas também em
identificar as raízes de conflitos diversos que existam nas comunidades. Dessa
forma, não atua perante as consequências das divergências e contendas apenas,
mas procura absorver as causas motivadoras em cada interação social realizada.
Em um desafogo do poder judiciário, sempre em elevados e crescentes números
de causas a serem julgadas, a polícia do paradigma atual deve tentar pela
conciliação, num primeiro momento ao identificar essa possibilidade, podendo
atuar de forma extrajudicial ao resolver os problemas da comunidade nos locais
onde eles ocorrem.

O conceito que determina a Segurança Cidadã envolve outras dimensões


que não apenas a policial, mas outras instituições civis e de estudos acadêmicos e
estatísticos, reconhecendo, então, uma diversidade das causas da violência, bem
como a heterogeneidade de suas ações. Por esse prisma, você pode perceber
que políticas públicas locais integradas à segurança pública, por intermédio
das instituições públicas e da sociedade civil, podem ser implementadas a
partir de ações planejadas e que são identificadas como essenciais para a
redução da violência e do crime. Para isso, o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento – Brasil (PNUD), criou o Guia do Marco Conceitual

32
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

da Convivência e Segurança Cidadã, em que aponta cinco principais formas


de intervenção das políticas de segurança públicas que devem mecanizar o
paradigma (PNUD, 2016). São consideradas maneiras de intervenção para o
sucesso da aplicação do paradigma da Segurança Cidadã:

• As dirigidas ao cumprimento voluntário de normas (minimizando, assim,


a persecução penal).
• As que buscam a inclusão social e a diminuição de fatores de risco
(álcool, drogas, armas etc.).
• As que têm como propósito a melhoria dos contextos urbanos associados
ao medo e ao perigo real (recuperação de espaços públicos).
• As que facilitam o acesso dos cidadãos a mecanismos institucionais e/ou
alternativos de resolução de conflitos.
• As que possuem foco na construção de capacidades institucionais,
melhoria da eficácia policial e das autoridades executivas ou judiciais e
da confiança dos cidadãos em tais instituições.

Policiamento comunitário – “É uma filosofia de policiamento que


ganhou força nas décadas de 1970 e 1980, quando as organizações
policiais em diversos países da América do Norte e da Europa
Ocidental começaram a promover uma série de inovações na sua
estrutura e funcionamento e na forma de lidar com o problema da
criminalidade. Em países diferentes, as organizações policiais
promoveram experiências e inovações com características
diferentes. Algumas dessas experiências e inovações são geralmente
reconhecidas como a base de um novo modelo de polícia, orientada
para um novo tipo de policiamento, mais voltado para a comunidade,
que ficou conhecido como policiamento comunitário” (BAYLEY;
SKOLNICK, 2001). Surgiu com força nos anos 1990 na América
Latina, após o Paradigma da Segurança Cidadã, por envolver a
comunidade em seus planejamentos.

É pelo termo comunitário que se abre a possibilidade de mudanças,


ocasionadas pela diversificação das comunidades em sua própria convivência.
Você pode notar, então, que uma política de segurança pública envolvente e de
qualidade precisa, pelo que vimos dos três padrões apresentados, da participação
dos atores mais importantes no contexto: o próprio povo e as instituições civis.

33
SEGurANÇA PÚBLiCA

Vamos treinar um pouco o que vimos aqui?

1 Várias são as atividades que se modulam e se alteram, como


os padrões antes aceitos, que são substituídos por novos
paradigmas, por inúmeras situações. Isso molda também a
maneira que enxergamos a Segurança Nacional, as Políticas
Públicas e a Política Criminal. Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Mudanças de paradigmas envolvem uma transformação total


do antigo padrão, sendo incompatível à manutenção de qualquer
resquício do anterior.
b) ( ) Não pode ser considerado mudança de paradigma da
Segurança Pública para a Segurança Cidadã, uma vez que
o próprio cidadão é personagem principal das atividades de
segurança pelo Estado, nos dois modelos.
c) ( ) A proteção dos interesses nacionais oportunizou um amplo
crescimento da soberania nacional quando a Segurança Nacional
idealizou o cidadão como personagem essencial a ser tutelado.
d) ( ) Política criminal é o conjunto sistemático de princípios e
regras através dos quais o Estado promove a luta de prevenção e
repressão das infrações penais.

2 A maneira de se fazer o policiamento é, por si só, considerado


através da forma que fazemos políticas criminais. Nesse sentido,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

a) ( ) Policiamento comunitário não se envolve com as mazelas da


comunidade.
b) ( ) Policiamento comunitário é definido pela política criminal.
c) ( ) O paradigma da Segurança Pública surgiu para alterar uma
visão ultrapassada e arcaica, de controle das Forças Armadas.
d) ( ) O paradigma da Segurança Cidadã compreende a
participação dos profissionais de diversas instituições, o que não
envolve a atividade da comunidade.

Assinale a alternativa que apresenta a sentença CORRETA:


a) ( ) F – V – V – F.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) F – F – V – F.
d) ( ) V – F – F – V.

34
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

Vamos visualizar os diferentes aspectos entre os três paradigmas?

QUADRO 1 – DIFERENTES ASPECTOS ENTRE OS TRÊS PARADIGMAS


Itens analisados Segurança Nacional Segurança Pública Segurança Cidadã
Proteger os interesses Preservação da ordem Oportunizar e oferecer
nacionais que são pública e incolumidade a cidadania e a convi-
Objetivos principais relacionados à manu- das pessoas e patrimô- vência comunitária, na
tenção do poder nio (Art. 144, CF/ 88) busca da prevenção
de crimes
Ditadura Militar Redemocratização Com o crescimento da
Quando ocorreu? com a CF de 1988 – violência, paradigma
Estado Novo atual
Elimina ameaças con- Providencia a seguran-
Concretiza políticas
trárias aos interesses ça às pessoas e seusetoriais visando o
nacionais e às Forças patrimônio âmbito local, com
O que faz o Estado?
Armadas participação das insti-
tuições policiais e das
políticas sociais
Submisso à elite que Direitos restabeleci- Sua participação
compreende o poder, dos. São favorecidos auxilia na redemocrati-
sem direitos individuais pela segurança, que é zação e na prevenção
Como fica o cidadão?
dever do Estado da violência. É o
personagem central
desse paradigma
Serviço de inteligência Estratégias de controle Políticas setoriais
para caçar os inimigos da criminalidade, po- integradas, prevenção
Como é a Política dos interesses nacio- líticas de segurança por ações focalizadas
Pública? nais. Instituições são estaduais na comunidade. Parti-
elaboradas unicamen- cipação
te para a repressão
Sem direitos não há Possibilidade de uma Possibilidades de
perspectiva/expectati- política pública central diminuição da crimina-
Expectativas
va alguma lidade pela convivência
social e policial
FONTE: O autor

Você percebeu as diferenças? Entre uma e outra existem grandes saltos de


perspectivas e de possibilidades. As expectativas são grandes para o paradigma
que experenciamos hoje em dia. Todavia, vivemos em uma sociedade muito
complexa. As articulações entre os institutos e entre esses e as pessoas devem
ser comuns, ocasionadas no dia a dia. Se isso não ocorrer, perde-se o amálgama

35
SEGurANÇA PÚBLiCA

que une a coletividade, que é a própria convivência, tão complicada atualmente.


Essas análises nos permitem observar de onde vieram as políticas públicas e
qual caminho devemos tomar de agora em diante. Notamos que a Segurança
Cidadã possui um grande aporte de grandes virtudes. Ocorre que, para que possa
existir, ela depende do envolvimento da sociedade, que vive épocas difíceis. É
responsabilidade do poder público, por intermédio das políticas sociais, trazer de
volta os desgarrados para o discurso e para a vida social, incrementar políticas
saudáveis de educação, lazer, saúde e trabalho, para que a vida comunitária siga
o paradigma proposto. Quais são as concepções para o futuro da Segurança
Pública em nosso país? Vamos ver a mais à frente!

Se você se interessou ou deseja entender mais sobre a


complexidade da sociedade que vive o período conhecido como
Pós-Modernidade, indicamos os livros do sociólogo polonês Zygmunt
Bauman. Como são mais de 30 obras, recomendamos as seguintes:

BAUMAN, Z. O mal-estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro,


Ed. Zahar, 1998.

BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

Uma excelente leitura para você!

3.4 AS NOVAS PERSPECTIVAS


PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE
SEGURANÇA NO BRASIL
Todas as perspectivas e fichas para o futuro da segurança pública no Brasil
são jogadas nas possibilidades trazidas e abertas pelo Paradigma da Segurança
Cidadã. Sua experiência de envolvimento com a comunidade, por intermédio da
abrangência das políticas públicas para o fim de participação comunal e de todos,
é um apelo ao sentido de convivência e auxílio mútuo, que parte não somente
entre as pessoas em si, mas entre os cidadãos e as instituições. A partir daí,
o sentido de democracia somente pode ser entendido com a cidadania total,
fazendo parte de uma sociedade de forma intensa e satisfatória.

36
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

A busca pela diminuição da violência, por intermédio dos padrões aceitos


atualmente, prevê a educação e o comprometimento da política local com medidas
de suporte ao seu cidadão com possibilidades de oportunidades diversas para
o seu crescimento. A segurança pública também agradece e faz parte de atos
que valorizam a pessoa ao invés de estigmatizá-la. A falta de oportunidades e
possibilidades, bem como o afastamento das comunidades dos setores públicos
da vida cotidiana, realça a segregação de comunidades inteiras, de pessoas e
famílias. As perspectivas para a segurança pública para o futuro somente podem
vir com o olhar atento para o passado, ao não cometermos os erros anteriores de
deixar uma parte da população que vive em uma grande vulnerabilidade social
a sua sorte e desgarrados de qualquer atividade pelo Estado, que proporcione
convivência e alteridade.

“O Paradigma da Segurança Cidadã vem sendo discutido desde


meados da década de 1990 e tem forte influência de organismos
internacionais. Na América Latina, destaca-se o exemplo da cidade
de Bogotá que, em pouco mais de dez anos, alcançou efetivos
resultados na redução de homicídios e crimes patrimoniais,
articulando ações preventivas e repressivas com forte participação
dos entes locais. No Brasil, o paradigma vem sendo instrumentalizado
por sucessivos planos e programas de segurança pública desde o
ano 2000. Sinteticamente, o objetivo deste novo paradigma consiste
na promoção da convivência e cidadania, prevenindo e controlando
a violência. Ademais, reconhece-se a criminalidade como um
fenômeno multicausal, genericamente dividido em violência incidental
e crime organizado. Na segurança cidadã, busca-se não somente a
preservação da incolumidade e do patrimônio dos cidadãos, mas a
consolidação dos direitos, da cidadania, da participação social e da
maior atuação da sociedade civil.

Dentre os instrumentos que buscam implementar esse novo


conceito nas políticas públicas de segurança, foram destacados os
I e II PNSP e o Programa Nacional de Segurança com Cidadania
(Pronasci) que, apesar dos poucos avanços práticos, demonstram
o interesse do Estado em repensar o tema, desvinculando-se das
medidas exclusivamente repressivas e reativas que marcam as
ações estatais nessa área. A evolução paradigmática da segurança
pública no Brasil não está alheia aos fatos históricos, ao contrário, é
guiada por eles e concentra-se principalmente no reconhecimento e

37
SEGurANÇA PÚBLiCA

ampliação dos direitos sociais, bem como na busca da democracia


plena, em que o monopólio do uso da força pelo Estado seja ao
mesmo tempo eficaz e guiado pela razoabilidade e proporcionalidade.

Os desafios que envolvem essa evolução e, especialmente,


a consolidação do paradigma atual são imensos. Trata-se de uma
mudança cultural, em que se busca redefinir o que é e quem deve
participar da formulação e implementação das políticas de segurança
pública. Nesse sentido, as resistências intelectual e acadêmica são
fundamentais, assim como o entrosamento com os órgãos e agentes
da área de segurança visando não somente avançar na consolidação
do paradigma, mas principalmente evitar o retrocesso das conquistas
já alcançadas” (LIMA; COLVERO, 2017).

FONTE: LIMA, A. R. A. de; COLVERO, R. B. Os Paradigmas e as


novas perspectivas para as políticas públicas de segurança no Brasil.
REBESP, v. 10, n. 2, 2017. Disponível em: https://revista.ssp.go.gov.
br/index.php/rebesp/article/view/284. Acesso em: 3 jun. 2021.

A seguir, que tal analisarmos o que a nossa atual Constituição expressa


sobre a Segurança Pública no Brasil?

4 A CONSITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


E A SEGURANÇA PÚBLICA
Prezado aluno! Após termos passado tanto pela parte histórica quanto
pelos paradigmas que influenciaram os modelos de segurança pública, devemos
nos ater a sua disposição legal a partir da Constituição de 1988. Como você já
sabe, tivemos um total de sete Constituições no país, cada uma possuía a sua
peculiaridade a partir dos movimentos políticos que se apresentavam no cenário
nacional. Entretanto, em questão de segurança pública, notamos que essa área
era utilizada de forma genérica e sem alguma serventia ao real significado de
proteção pública. Vimos que chegou, inclusive, a ser retratada como uma força
das elites que controlavam o poder para dar garantias e suporte ao seu controle.
Entretanto, a Constituição Federal de 1988, promulgada em outubro daquele
ano, contribuiu para solidificar legalmente a segurança pública dentro das bases
que estruturam a política e a regulamentação do serviço. Para o processo de
redemocratização que se realizava, todas as áreas envolvendo os serviços
públicos, que são prestados à população, deveriam possuir clareza a partir da
publicização de seus atos, exercida por sua definição constitucional.
38
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

O texto constitucional inicia a partir do Título V, intitulado Da Defesa do


Estado e das Instituições Democráticas, a delinear os serviços de segurança
pública, pelos Arts. 142 e 144. Respectivamente, Exércitos e demais policiais
são sancionados legalmente a respeito de sua jurisdição e competência. Ainda
assim, a Carta Magna não especifica o significado de Segurança Pública, mas
aponta o titular da obrigação da incolumidade geral, bem como os beneficiados
por sua proteção, o que a torna muito diferente de suas outras antecessoras. Vale
destacar o que você certamente já deve ter percebido: que a Constituição é a
principal diretriz das estruturas dos profissionais de Segurança Pública, devendo
ela apontar a jurisdição de cada organização que componha a segurança, bem
como a competência. Nesse sentido, o Art. 22, transcrito a seguir, declara:

Art. 22. Compete privativamente à União o legislar sobre:


[...] XXI - normas gerais de organização, efetivos, material
bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias
militares e corpos de bombeiros militares;
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária
e ferroviária federais (BRASIL, 1988).

Percebeu que somente a União, por intermédio do Poder Legislativo, pode


legislar a respeito dos institutos elencados no artigo anterior, não possuindo
os Estados capacidade legislativa sobre esses entes? Isso é decorrente da
capacidade de competência que é atribuída a cada entidade, no caso, a União.
Competência significa o exercício da função jurisdicional, o que legitima a sua
autoridade. A seguir, veremos a função de cada instituto de segurança, bem como
a quem elas são diretamente vinculadas.

Vamos nos aprofundar nos estudos do Art. 144, que elenca as


polícias em seu ordenamento:

Capítulo III
Da Segurança Pública

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares;

39
SEGurANÇA PÚBLiCA

VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.


§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-
se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou
em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e
de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da
União.
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma
da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma
da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação
da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das
atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de
defesa civil.
§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do
sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a
segurança dos estabelecimentos penais.
§ 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares,
forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente
com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças
auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as
polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios.
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos
responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a
eficiência de suas atividades.

40
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas


à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser
a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos
relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do Art. 39.
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias
públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito,
além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao
cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e
seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei
(BRASIL, 1988).

Algumas considerações devem ser feitas ao artigo que você leu. Você
reparou o que Art. 144, em seu início ou caput, traz a questão responsabilidade.
Aqui, é dever do Estado a Segurança Pública, mas não se limita apenas a ele.
Ao escrever a norma, quis o legislador original incluir toda a sociedade, ou seja,
a questão segurança não é apenas referenciada para as polícias, mas a todos
os cidadãos. Isso significa que todos, a partir de sua conduta e de suas ações,
são responsáveis por uma convivência saudável e pela minimalização de atos
criminosos a partir dela. A partir daí, você pode perceber que, como dever de todos,
a responsabilidade pela segurança é compartilhada entre os poderes, e cada
esfera de governo possui a sua incumbência para o aperfeiçoamento do setor.
Assim, estados e municípios também estão incluídos nessa responsabilidade.

Quanto à ordem pública, citada no texto constitucional, você deve se


familiarizar a ela quando consegue exercer todas as suas atividades do cotidiano,
sem interferências causadas por qualquer tipo de desordem. A preservação da
ordem pública parte dos entes de segurança do Estado, evitando o caos ou o
desarranjo social, que como você sabe, pode ser causado por inúmeras situações,
por exemplo, enchentes, alta taxa de criminalidade, incêndios etc.

A Polícia Federal é um órgão autônomo, e mesmo sendo subordinado ao


Ministério da Justiça e ao Poder Executivo, esse órgão não deve sofrer as
suas interferências. Ela exerce atividades administrativas quando visa prevenir
o tráfico de drogas e contrabando por exemplo, e atividades judiciárias, quando
executa a função de auxiliar a Justiça Federal em crimes contra a ordem política
e social.
41
SEGurANÇA PÚBLiCA

À União cabe, como você viu no Art. 144, realizar o policiamento e segurança
das fronteiras da Nação e, ainda, o combate ao tráfico de drogas, seja internacional
ou interestadual, desempenhado pela Polícia Federal. Já as estradas e rodovias
federais são asseguradas pela Polícia Rodoviária Federal, da mesma forma que
as ferrovias são fiscalizadas pela Polícia Ferroviária Federal.

A Polícia Rodoviária Federal e a Ferroviária Federal são mantidas e


organizadas pela União, ou seja, pelo Governo Federal, e possuem características
de polícia ostensiva. Já os policiais civis, policiais militares e bombeiros, são
condicionados pelos Estado, esses últimos, prestam suas forças de defesa
como forças auxiliares e reservas do Exército. As Polícias Militares e Civis têm
designação diferente uma da outra, a saber: presta a Polícia Militar o serviço de
policiamento ostensivo, preventivo e repressivo, no patrulhamento e na garantia
da segurança pública. Segundo confirma o Art. 42 da nossa Constituição, “os
membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios” (BRASIL, 1988).

Já a Polícia Civil possui a característica da Polícia Judiciária, auxiliando a


justiça nas investigações de crimes, por intermédio de ações controladas pelo
delegado de polícia. Cabe a ela a apuração dos desvios criminais, mas não a
investigação de crimes causados por militares, pois a esses, existe o Direito Penal
Militar e a repreensão do próprio instituto. Você sabia que cada ente da federação
possui o seu Estatuto próprio da Polícia Civil? É só você entrar no site da Polícia
Civil de seu estado para conferir o seu Estatuto!

Assim, podemos considerar o seguinte: se a Polícia Civil possui a competência


para exercer a função de Polícia Judiciária dos Estados, por consequência, a
Polícia Federal tem a competência para exercer, exclusivamente, as funções de
Polícia Judiciária da União!

Quando se trata de interpretação das normas constitucionais, devemos


entender que o constituinte original, aquele que escreveu a lei primeiro, preencheu-a
com dispositivos que considerassem a futura possibilidade de disposições legais
sobre determinados assuntos, seja pelos estado e municípios, seja pela efetiva
passagem do tempo e pelas situações que não podiam ser previstas à época da
escrita. Assim, quando a norma diz, no § 8º, que os municípios poderão constituir
Guardas Municipais destinadas à proteção de seus bens e serviços, é essencial
que uma instituição dessa importância possua também sua regulamentação. Essa
é a Lei Federal nº 13.022/2014, o Estatuto das Guardas Municipais. Não tem
problema que ela tenha sido escrita somente em 2014, 26 anos após a CF/1988,
desde que siga estritamente os preceitos e princípios constitucionais. Assim, a

42
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

lei posterior disciplina nesse caso, o § 8º, constituindo as atribuições da Guarda


Municipal. Então, você pode entender que qualquer município pode criar, por lei, a
sua Guarda Municipal, que fica subordinada diretamente ao prefeito.

A Guarda Municipal possui competências muito específicas,


como a proteção de bens, serviços, logradouros públicos
municipais e instalações do município. Entretanto, ela também
atua preventivamente para a proteção da população que utiliza dos
bens e das instalações municipais. Ainda, colabora com os órgãos
de segurança pública na pacificação de conflitos e cooperação
nas atividades comunitárias das políticas públicas. Como todas as
outras instituições, as contratações são realizadas por intermédio de
concurso público.

Você notou que abaixo do Parágrafo 5° existe o 5-A°? Funciona


As Polícias
do mesmo jeito. Aqui, havia a necessidade da criação de outro tipo de Penitenciárias,
serviço de segurança pública. Assim, o § 5º-A cria a figura da Polícia ou Polícia Penal,
Penal. A inovação legislativa se deu pela necessidade em equiparar os contam, também,
agentes de segurança penitenciaria à categoria de segurança pública e com o Departamento
policial, possuindo, assim, unificação na carreira no que diz respeito a Penitenciário
Nacional (DEPEN),
treinamento, estrutura, remuneração, direitos e garantias etc. A Emenda
órgão que controla
Constitucional nº 104/2019, que foi realizada para esse fim, ressalta a aplicação da
que a Polícia Penal será vinculada ao órgão administrador do sistema Lei de Execuções
penal do Estado a que pertencer. As Polícias Penitenciárias, ou Polícia Penais, sendo
Penal, contam, também, com o Departamento Penitenciário Nacional responsável pelo
(DEPEN), órgão que controla a aplicação da Lei de Execuções Penais, sistema penitenciário
nacional.
sendo responsável pelo sistema penitenciário nacional. Como você viu,
foi somente a partir da emenda que “completou” a Constituição que a
Polícia Penal teve sua real legalização e reconhecimento de carreira.

Que tal você entender um pouco do serviço do DEPEN? Vamos


ver o que a Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/1984, também
conhecida por LEP) discorre sobre o DEPEN? Vamos lá!

43
SEGurANÇA PÚBLiCA

Art. 71. O Departamento Penitenciário Nacional, subordinado ao


Ministério da Justiça, é órgão executivo da Política Penitenciária
Nacional e de apoio administrativo e financeiro do Conselho Nacional
de Política Criminal e Penitenciária.
Art. 72. São atribuições do Departamento Penitenciário Nacional:
I - acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em
todo o Território Nacional;
II - inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e
serviços penais;
III - assistir tecnicamente as Unidades Federativas na implementação
dos princípios e regras estabelecidos nesta Lei;
IV - colaborar com as Unidades Federativas mediante convênios, na
implantação de estabelecimentos e serviços penais;
V - colaborar com as Unidades Federativas para a realização
de cursos de formação de pessoal penitenciário e de ensino
profissionalizante do condenado e do internado.
VI – estabelecer, mediante convênios com as unidades federativas,
o cadastro nacional das vagas existentes em estabelecimentos
locais destinadas ao cumprimento de penas privativas de liberdade
aplicadas pela justiça de outra unidade federativa, em especial para
presos sujeitos a regime disciplinar. (Incluído pela Lei nº 10.792, de
2003)
Parágrafo único. Incumbem também ao Departamento a coordenação
e supervisão dos estabelecimentos penais e de internamento
federais.

Esses artigos estão previstos na LEP, que é a lei utilizada após a


sentença, transitada em julgado, que condena o réu, sentenciando-o
à uma pena privativa de liberdade. Nesses casos, a Lei de Execuções
Penais é a aplicação legal dos direitos do detento, dos seus deveres
e das condições a que deve se realizar a pena (BRASIL, 1984).

FONTE: BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a


Lei de Execução Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 3 jun. 2021.

A seguir, na Figura 1, você pode visualizar o resumo das funções policiais.

44
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

FIGURA 1 – FUNÇÕES POLICIAIS

FONTE: <https://www.politize.com.br/wp-content/uploads/2018/06/u00f3rg_u00e3os-
de-seguran_u00e7a-p_u00fablica_Prancheta-1.jpg>. Acesso em: 9 jun. 2021.

45
SEGurANÇA PÚBLiCA

Você deve estar se perguntando, mas e as Forças Armadas?


Elas foram elaboradas pelo legislador no Título V, que trata da
Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, pois, segundo a
Constituição (1988), a eles também é dado esse papel de defesa.
Vamos ao seu ordenamento?

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo


Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes
e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina,
sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-
se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem
adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças
Armadas.
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares
militares.
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares,
aplicando-se lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as
seguintes disposições:
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes,
são conferidas pelo Presidente da República e asseguradas em
plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sendo-lhes
privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os demais
membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas;
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego
público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista no Art. 37,
Inciso XVI, alínea c, será transferido para a reserva, nos termos da
lei;
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo,
emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ainda que
da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista no Art. 37,
Inciso XVI, alínea c, ficará agregado ao respectivo quadro e somente
poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por
antiguidade, contando-se lhe o tempo de serviço apenas para aquela
promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos
de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos
termos da lei;
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a
partidos políticos;

46
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do


oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de
caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em
tempo de guerra;
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar à pena privativa
de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em
julgado, será submetido ao julgamento previsto no Inciso anterior;
VIII - aplica-se aos militares o disposto no Art. 7º, Incisos VIII, XII,
XVII, XVIII, XIX e XXV, e no Art. 37, Incisos XI, XIII, XIV e XV, bem
como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no Art.
37, Inciso XVI, alínea c;
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites
de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do
militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as
prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideradas
as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas
por força de compromissos internacionais e de guerra.

FONTE: BRASIL. Constituição da República Federativa do


Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 12 jun. 2021.

Você viu quantas diferenças? Uma delas é que ao militar não é dada
a liberdade sindical, nem de greve, diferente dos agentes da Polícia Civil e do
DEPEN que você viu anteriormente. Sendo forças auxiliares e reservas das
Forças Armadas, e por sua própria natureza militar, isso também é vedado
aos bombeiros e aos policiais militares! Outro ponto importante é que, para os
crimes militares, a investigação fica sob a competência do Código Penal Militar,
o Decreto-Lei nº 1001/1969. Também não pode, o militar que estiver na ativa, ser
filiado a nenhum partido político. Aqui surgiu uma dúvida! A lei, como essa que é
de 1969, não difere dos preceitos da Constituição, uma vez ter sido ela escrita em
1988? Vamos ver esse tema agora!

4.1 A CONSTITUCIONALIZAÇÃO PELA


CARTA MAGNA DE 1988
Você já viu que a Constituição traz o rol das polícias, delineadas a partir
de sua competência e jurisdição. É a partir da atribuição legal, realizada pela
norma maior, que são determinados os valores que delineiam todos os outros
47
SEGurANÇA PÚBLiCA

regulamentos. As leis que você conhece como Código Civil, que estabelece os
contratos entre os particulares; o Código Tributário, que controla os impostos
cobrados e a forma de arrecadação diversa; e o Direito Penal, por exemplo, são
consideradas normas infraconstitucionais. Elas são reconhecidas assim por não
estarem escritas no texto original da Constituição. Todas as leis escritas, após ou
antes da CF/1988, que não sejam parte de uma emenda constitucional, ou seja,
que não se insiram no próprio texto constitucional, são leis infraconstitucionais.

A Constituição possui uma força muito grande, trazendo o norteamento para


toda a regulação nacional. Então, é importante entender que, uma vez sendo ela
a norma fundamental, todas as outras normas devem seguir os seus preceitos
basilares. Princípios constitucionais devem ser considerados por qualquer diretriz
legal escrita, seja por Estados, Municípios, Câmara dos Deputados ou Senado
Federal. Constitucionalização, então, significa que todo o ordenamento jurídico
nacional deve ser entendido através do entendimento e da expectativa da
Constituição. Isso ocorre para que novas normas não colidam aos princípios e aos
valores reconhecidos como fundamentais. E até mesmo as leis infraconstitucionais
que foram escritas antes da própria Constituição devem ser norteadas a partir
dela. Veja que nosso Código Penal foi escrito em 1940. Faz-se, dessa forma, uma
reinterpretação das normas anteriores sob o crivo da Carta Magna.

O que é um princípio, afinal de contas? Nas palavras de Luís


Roberto Barroso (1999, p. 147), “são o conjunto de normas que
espelham a ideologia da Constituição, seus postulados básicos e
seus fins. Dito de forma sumária, os princípios constitucionais são as
normas eleitas pelo constituinte como fundamentos ou qualificações
essenciais da ordem jurídica que institui”. Celso Antônio Bandeira
de Mello (2000, p. 747) adverte que: “violar um princípio é muito
mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao
princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento
obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave
forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade [...]”.

Os princípios adotados da separação de poderes (não pode haver


intervenção entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, mas harmonia
e independência), a indissolubilidade do vínculo federativo (Estados e Municípios
não podem se separar da Nação), o pluralismo político e a dignidade da pessoa

48
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

humana não podem ser menosprezados por qualquer outra norma que venha
a ser escrita. Também não devem ser ignorados os princípios da soberania, da
cidadania, dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. A Constituição
traz, em seu Parágrafo 1º, o princípio da soberania popular, conferindo ao País
o sistema democrático de direito, quando diz que “todo o poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente” nos termos da
Constituição (BRASIL, 1988).

Vamos ver o que o Art. 3° da Constituição considera objetivos fundamentais


a serem seguidos? Veja que esses são apontados como essenciais, assim,
nenhuma norma, lei ou, até mesmo, Política Pública (como de Segurança Pública)
pode trazer qualquer ponto contrário a eles. Vejamos o que nos conta o artigo:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação (BRASIL, 1988).

A redução das desigualdades, por exemplo, segue os mais basilares


princípios de direitos humanos. Você já conhece a política de aplicação desses
princípios no país, reconhecidamente pelas Cotas Raciais, Bolsa Família e Luz
Fraterna. Não se trata aqui de preconceito ou subjugo, mas uma ação afirmativa
do Estado. O Estado, através de ações afirmativas e que buscam assegurar o
progresso e a promoção humana, de grupos e indivíduos que necessitam da
atenção estatal, para garantia de seus direitos fundamentais, deve combater à
vulnerabilidade de pessoas e grupos considerados de risco. Você conseguiu notar
que esse é um dos requisitos do Paradigma da Segurança Cidadã, estudado
anteriormente?

Você sabe o que acontece caso alguma norma vá contra o que manda a
Constituição e seus princípios atribuídos? Ocorre a inconstitucionalidade da
norma, ou seja, a lei é inconstitucional. A importância da constitucionalização do
direito vai de encontro à finalidade política, de promoção humana e até ideológica
do país. Para nós, nossos estudos revelam que se os institutos de segurança
pública não tiverem um marco legal, nem mesmo sua publicidade perante os
cidadãos e perante o próprio sistema, não há formas de controle e nem mesmo
haveria qualquer política de segurança pública.

Você notou como o sistema legal faz prevalecer os princípios nele


estabelecidos? Então, significa que nenhuma política de segurança pública

49
SEGurANÇA PÚBLiCA

pode, da mesma forma que as leis infraconstitucionais, ser contrária a qualquer


princípio. Isso nos demonstra que: a política pública, nos moldes tradicionais
utilizados desde a CF/1988, não deve fazer prevalecer o uso intenso da força
desproporcional, da tortura, dos meios insidiosos, do desrespeito à dignidade da
pessoa. Da mesma forma, não deve pressupor que todos não são iguais perante
a lei, sem um julgamento determinado pela ampla defesa e pelo contraditório.
A política pública que será a base do sistema brasileiro necessita contemplar
a construção de uma “sociedade justa e solidária”, entender as desigualdades
sociais e regionais, e, enfim, “promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Você se lembra dos padrões estudados no ponto anterior, certo? De todos os


paradigmas que você estudou, o paradigma da Segurança Cidadã é um marco e
o que mais se assemelha aos princípios da nossa Constituição. Isso porque ele
foi escrito sob sua égide, e por esse mesmo motivo é considerado o precursor
de novos ares e novos modelos que, consequentemente, virão a ser instalados
no futuro. Ainda que surjam inovações, os princípios que evoluíram em prol de
sentidos mais humanitários devem ser respeitados e seguidos para que não haja
retrocessos nos avanços que já obtivemos.

4.2 SEGURANÇA PÚBLICA: DEVER


DO ESTADO
O Art.144 da CF/1988, como você já sabe, inicia-se com a seguinte frase:
“A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio [...]”. Assim, você já percebeu que é dever do Estado a segurança
pública, por intermédio do rol descrito no próprio artigo, das instituições de
segurança responsáveis por essa atividade.

Entretanto, você estudou que nem sempre foi assim e a partir da nova
Constituição e dos novos paradigmas, as possibilidades e responsabilidades
foram destacadas. Dessa maneira, de nada vale ter uma Constituição Cidadã se
você não conseguir transformar suas belas palavras em atitude, em uma política
pública que defenda o que preza a própria CF. Assim, é necessário um Estado
forte, que se faz por intermédio de uma democracia forte, que se fortalece a
medida da participação de todos. Um Estado fraco se forma ao realizar os desejos
do mercado globalizado e não mais que isso (BAUMAN, 2000).

Ao atentar apenas os desejos do mercado e do lucro, que se concretizam a


partir das grandes empresas e do sonho consumidor de uma sociedade complexa,

50
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

o Estado aposta suas fichas na segurança contra qualquer situação que possa vir
a interferir na arte do consumir e nas atuações dos conglomerados comerciais,
geralmente estrangeiros (FERREIRA, 2020).

Você já entendeu o que isso pode acarretar, não é mesmo? Isso pode
fazer com que o Estado se torne fraco, deixando de lado as políticas públicas
de inclusão, de educação e saúde, de ressocialização etc., acarretando um
distanciamento social, contrário a tudo o que previu a Constituição e, até mesmo, o
paradigma da segurança cidadã, em prol da segurança dos locais de consumismo
e dos interesses das grandes empresas.

Assim, caro aluno, é preciso cada vez mais a participação popular na


democracia, a sua e a nossa participação, cobrando de nossos governantes
políticas públicas que tenham a real participação do povo, que respeitem as
instituições, não as sucateando, mas inflando-as com a real importância que
elas possuem, pois sua principal missão é a defesa do cidadão. As políticas
públicas de inclusão, educação e de ordem comunitária, como você viu, afastam
a criminalidade e possuem a intenção de unir a comunidade e as instituições.
Você notou que, se isso tudo for deixado de lado, pode haver uma involução das
conquistas já realizadas?

É dever do Estado a Segurança Pública. Portanto, somente seus institutos


podem garanti-la a partir de seus efetivos. Não pode o Estado transferir essa
obrigação para o particular, o que nos difere dos tempos e políticas das capitanias
hereditárias, que vimos num primeiro momento. Você já deve ter visto nos últimos
anos o crescimento da procura das pessoas por segurança privada. Todavia, isso
não retira a responsabilidade estatal. Mesmo que exista um grande efetivo de
segurança privada, sempre será dever do Estado a Segurança Pública e a criação
de políticas públicas, e mesmo os agentes de segurança privada, não possuem
os mesmos deveres e direitos dos agentes de segurança pública, e não são vistos
pela norma legal como agentes de segurança popular. Nesse sentido, você deve
estar se perguntando: quando um cidadão comum poderia efetuar uma prisão?

Você já deve ter ouvido falar na prisão realizada por cidadão, não é mesmo?
Vamos esclarecer esse ponto? Uma vez que a segurança de todos é dever do
Estado, poderia a pessoa comum (que não faz parte dos quadros das instituições
de segurança) agir por conta própria? O Art. 301 do Código de Processo Penal
diz assim: “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes
deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito” (BRASIL,
1941).

Essa previsão legal diz respeito à prisão em flagrante, de alguém que esteja
cometendo algum ato criminoso e que, ofereça capacidade do cidadão normal

51
SEGurANÇA PÚBLiCA

(não policial) de realizar a prisão. Não confunda esse dever legal com dever de
fato. O que o texto legal quer dizer, é que, se a pessoa, mesmo a vítima, tomar
atitudes contra o malfeitor, essa estará diante do exercício regular de direito,
em sua proteção ou mesmo na proteção de outrem. Assim, exclui a ilicitude de
qualquer ato de defesa própria ou de defesa de terceiro que esteja em perigo.

Os atos praticados para que fique caracterizada a exclusão da ilicitude, ou


seja, o comportamento que passa a ser considerado lícito, devem ser comedidos
e moderados, com intuito de frear a injusta agressão recebida. Para que isso
ocorra, deve existir o que conhecemos por flagrante delito, descrito no Art. 302 do
Código de Processo Penal (1941):

Considera-se em flagrante delito quem:


I- está cometendo a infração penal;
II- acaba de cometê-la;
III- é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor
da infração;
IV- é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas,
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

Nesse caso, a prisão pode ser realizada, se possível for, por qualquer um
do povo. Até mesmo a vítima pode realizar a prisão se conseguir, durante o ato
criminoso. De outra forma, fica caracterizado a vingança e, com isso, o nosso
ordenamento jurídico não concorda.

Assim, somente para a segurança pública cabe a responsabilidade da


incolumidade, das pessoas, dos bens públicos e particulares, do Estado-Nação
e de suas fronteiras, mas também é nossa responsabilidade, a partir de nossos
atos, a manutenção da segurança de todos!

Agora, acerca de tudo o que vimos nesse primeiro capítulo, que tal
se você revisar realizando algumas atividades? Vamos lá!

1 Importante uma norma maior, definida como Constituição, para


que, através dela, exista segurança jurídica. Tendo em vista as
normas legais, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As Constituições são responsáveis pela maneira que


determinamos as políticas de segurança pública no Brasil.
b) ( ) O patrulhamento ostensivo é adequado conforme o paradigma
de segurança adotado pela política de segurança pública, aos
agentes da Polícia Militar, Bombeiros e Polícia Civil.
52
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

c) ( ) A norma inconstitucional é assim considerada ao declarar


válidos os princípios abarcados pela Carta Magna.
d) ( ) O Paradigma da Segurança Cidadã se destaca pela
capacidade de centralizar os poderes das políticas públicas e
suas ações aos profissionais competentes para a realização da
segurança pública.
e) ( ) A Constituição não gera obrigações quanto às leis anteriores
a ela.

2 Como entidade maior, o Estado possui sua função bem definida


quanto à realização e aplicação das políticas públicas.
Considerando as suas atribuições e competências, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as Falsas:

a) ( ) Consideramos Estado fraco aquele que não atende aos


âmbitos constitucionais de promoção humana e progresso social,
atentando-se apenas ao mercado, lucro e ao consumismo.
b) ( ) Ao Estado cabe a incumbência de realizar as políticas de
segurança pública conforme os padrões evidenciados pela
Constituição.
c) ( ) É dever do Estado a Segurança Pública, entretanto, ela pode
ser terceirizada as agências de segurança privada que atuam na
área a ser repassada.
d) ( ) O Estado deve promover a segurança de todos, porém ações
afirmativas não significam, no contexto do paradigma atual, a
promoção da seguridade geral.
e) ( ) É função do Estado atentar para uma política de redução
de desigualdades e acesso a oportunidades para todos, e isso
pode ser definido como um aspecto dos padrões e modelos de
segurança pública.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


( ) V – V – F – V – F.
( ) F – F – V – V – V.
( ) V – V – F – F – V.
( ) V – V – F – V – V.

3 Quanto á competência na segurança pública, analise as sentenças


a seguir:

I- Compete à Polícia Civil as apurações dos crimes administrativas


e de tráfico de drogas internacionais.
II- Compete à Polícia Civil a atribuição de Polícia Judiciária dos
Estados.
53
SEGurANÇA PÚBLiCA

III- É de competência dos Estados e Distrito Federal a criação e


manutenção das Guardas Municipais
IV- A Polícia Federal tem a competência para exercer com
exclusividade a função de Polícia Judiciária da União.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença IV está correta.
e) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Você viajou até o período do Império, das Ordenações Filipinas e
compreendeu os primeiros passos das polícias no Brasil. Até aqui, você viu
a criação do instituto que tratava da segurança pública que abrangia, desde o
início, diversas formas e maneiras de operações. Podemos identificar que em
algum período, desde muito antigos como mais modernos, a segurança pública
foi estipulada e utilizada a partir de ideologias que não contemplam o seu intuito.
Vimos que ela serviu para apoiar tanto o monarca quanto o sistema do militarismo.
Da mesma forma, você refletiu a respeito do real significado de segurança, que se
diz pública. Aqui, no início do seu estudo, você conseguiu identificar a influência
de uma lei, como as Ordenações, e a ingerência de comandos que preveem
apenas a manutenção do poder e, para isso, utilizam-se de toda força possível.

Com o passar dos tempos e as mudanças influenciadas por um crescente


iluminismo, pela economia mundo afora e pela passagem do tempo rumo ao
desenvolvimento, você deve ter percebido uma mudança muito atuante. Essas
passagens da forma de governar, necessidade de uma evolução política, as
novas nuances e possibilidades que se abriam, alteraram também a forma de se
enxergar o mundo. Os padrões foram se remodelando.

Aqui você conheceu os três paradigmas da segurança pública, entendendo


as diferenças entre eles, que são compelidas tanto pelo tempo em que se vive
quanto pela maneira de enxergar a sociedade ao redor, política e culturalmente.
A mudança de paradigma significa que não se fica parado, em lugar algum, e
era necessário, preciso e importante termos uma norma maior que definisse
os padrões que se quer seguir, para alcançar os rumos determinados para a
sociedade. Por esse motivo, a Constituição de 1988 conferiu, a partir de princípios

54
Capítulo 1 A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS

norteadores e basilares, não apenas de direito, mas de convivência, o padrão a


seguir.

Mesmo com imensos ganhos legais a partir da Carta de 1988, ainda temos
muito o que trilhar. Como você pôde notar, é preciso mais. O envolvimento do
povo e da comunidade somente será possível com políticas que envolvam as
necessidades mais prementes de toda a população, ou seja, saúde, educação,
lazer, cultura, trabalho e a ampla cidadania. Sem isso, não há novo paradigma ou
arquétipos modernos que atendam aos anseios de qualquer Política De Segurança
Pública. Note que, na história, os modelos trazidos até aqui conseguem demonstrar
que as piores mazelas ocorrem quando a população não é considerada pelo seu
governo. As possibilidades de diminuição da criminalidade são maiores a partir
da vida comunitária e da convivência. Não se combate criminalidade com mais
crimes, mas com educação e possibilidades.

Você percebeu, prezado aluno, que foi a legalização, a publicidade e a


transparência trazida pela Carta Magna de 1988 que conseguiu determinar
não apenas a importância das polícias, mas também conferiu a elas direitos,
oportunidades e deveres específicos. Da mesma forma que outorgou as suas
capacidades, também trouxe sua jurisdição e sua competência. Veja que tudo isso
deve ser realizado a partir dos princípios que modernizam a lei geral brasileira.

Terminamos esse primeiro momento da nossa viagem pela matéria,


identificando que a segurança pública, da mesma forma que é dever da União, dos
Estados e dos Municípios, depende de todos nós, na maneira a qual convivemos
em sociedade e do jeito que tratamos um ao outro.

REFERÊNCIAS
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uma dogmática constitucional transformadora. São Paulo, Saraiva, 1999.

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BAYLEY, D. H.; SKOLNICK, J. H. Nova polícia: inovações nas polícias de seis


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SEGurANÇA PÚBLiCA

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del1001.htm.
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível


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BRASIL. Lei nº 13.022, de 8 de agosto de 2014. Dispõe sobre o Estatuto Geral


das Guardas Municipais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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BRASIL. Emenda Constitucional nº 104, de 4 de dezembro de 2019. Altera


o Inciso XIV do caput do Art. 21, o § 4º do Art. 32 e o Art. 144 da Constituição
Federal, para criar as polícias penais federal, estaduais e distrital. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc104.htm.
Acesso em: 9 jun. 2021.

COSTA, A. T. M. Entre a lei e a ordem: violência e reforma nas Polícias do Rio


de Janeiro e Nova York. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

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ELIAS, N.; SCOTSON, J. L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das


relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Zahar,
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FERNANDES, J. A. da C.; COSTA, J. C. Polícia interativa: a democratização e


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FERREIRA, I. K. O papel do judiciário na construção do desviante: a


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FREIRE, M. D. Paradigmas de segurança no Brasil: da Ditadura aos nossos dias.


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57
SEGurANÇA PÚBLiCA

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ZACCARIOTTO, J. P. A polícia judiciária no estado democrático de direito.


São Paulo: Brazilian Books, 2005.

58
C APÍTULO 2
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Favorecer a compreensão do exercício da atividade de Segurança Pública


sendo a prática da cidadania, de participação profissional, social e política sob
a perspectiva de um Estado Democrático de Direito.
• Conhecer a Segurança Pública como ramificação constitucional.
• Definir os conceitos do sistema de Defesa Social de maneira crítica,
fundamentado pela Criminologia Crítica e Sociologia Criminal.
• Apresentar os conceitos de Polícia Comunitária e seus desafios.
• Analisar a forma e a essência do policiamento no Brasil.
• Propiciar um estudo da formação da esfera pública e do sistema político
moderno, considerando a relação entre cidadania, Estado e direitos.
• Examinar e definir o conceito de Defesa Social em uma análise crítica, tendo
como contraponto as enormes mazelas sociais.
• Estimar os conceitos da Polícia Comunitária.
• Avaliar o Estado Democrático e a participação das polícias frente às Garantias
dos Direitos Fundamentais.
SEGurANÇA PÚBLiCA

60
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Prezado aluno! Você percorreu pela passagem do tempo e identificou a
formação das estruturas que balizaram todo o entendimento e a identidade dos
órgãos de segurança púbica no Brasil. As normas foram se alterando e, como
você viu, nem sempre em busca de uma evolução. Tivemos também retrocessos,
percalços que precisavam ser corrigidos. A partir da Constituição de 1988, você
percebeu que a lei evidenciava a segurança pública a partir de suas próprias
responsabilidades e deveres com o povo. Daquele ponto até os dias de hoje,
a democracia fundou-se como principal e única forma de governo no Estado
Nacional em que prevalece o poder do povo, que elege os seus representantes
por intermédio de uma eleição. Ainda assim, é importante um Estado que esteja
realmente comprometido aos ideais democráticos, da mais autêntica interpretação
do que significa democracia.

Democracia só se faz com a participação popular. Lembra das restrições


históricas quanto ao voto, trabalho e liberdade de algumas classes e minorias?
Isso, de fato, não representa evolução democrática. Por esse motivo, dizemos
democracia quando se respeita a pessoa, pela sua evidente qualidade de cidadão
dentro da sociedade, dotado de direitos e deveres. A ordem democrática alcança
seu valor com a ampla cidadania. Isso só se faz reconhecendo as semelhanças
e respeitando as diferenças, mas acima de tudo, convivendo em harmonia dentro
de uma sociedade plural como a nossa. Esse participar é direito de todos.

A participação da segurança pública, que foi se alterando com o tempo,


destaca a proteção da sociedade como um todo, de seus bens, das novas
configurações do Estado e dos valores que passou a abarcar. Sabemos que as
mudanças ocorrem vagarosamente, e mesmo assim, resquícios dos vícios antigos
podem sobreviver, como você estudou nos paradigmas da segurança. Com
as alterações na forma de governo e na maneira de socialização, a sociedade
também evoluiu, tanto em números quanto em conhecimento. O crescimento
populacional, as imensas diferenças sociais que criam um abismo fenomenal
entre mais ricos e mais pobres, a falta de uma política pública de qualidade de
vida, os grandes problemas da distribuição de renda, a alta taxa tributaria, a
escassez em oportunidades de educação, trabalho e saúde, tornam o país um
dos mais desiguais no mundo.

As políticas sociais não conseguem atingir seus compromissos e se tornam


cada vez mais raras. Pessoas que fazem parte de uma comunidade de risco,
seja pela pobreza, seja pelo local de moradia, envolto em violências, ficam
abandonadas por qualquer sistema de inclusão social competente, pela falta de
políticas inclusivas que atendam aos reais problemas de fato. Não bastasse isso,

61
SEGurANÇA PÚBLiCA

a crescente criminalidade e a violência policial fazem entender que somente a


segurança pública é a solução para todos os problemas da população, sendo
realçada pelos governos como uma guerra contra o crime. Você notou que deixar
uma população de lado, sem estrutura e sem respaldo, não acarreta cidadania,
mas em exclusão? Por esse motivo, o paradigma da Segurança Cidadã, como
você viu, é o mais aplicável em um país democrático. Através dele, há a tentativa
de inclusão, em um realçar da ampla cidadania.

Cidadania expressa “um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade


de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem
cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões,
ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social” (DALLARI, 1998,
p. 14). Dessa forma, para que exista a ampla cidadania, deve haver políticas
públicas de inclusão. Para definir o paradigma da Segurança Cidadã e as demais
perspectivas de segurança que surgem, todos os setores (de segurança pública)
devem fazer parte dessa busca pela cidadania inclusiva, que é realizado a partir
das políticas públicas. Essas políticas precisam estar alinhadas à resolução dos
problemas sociais imensos existentes no país, principalmente nas comunidades
mais carentes.

Nesse segundo capítulo, traremos um objeto pautado nos estudos e ensaios


da criminologia, essencial para definirmos os motivos e ações dos atores sociais
diversos espalhados em nossa sociedade. A definição de crime e criminoso foi,
com o passar dos tempos, interpretada de inúmeras formas, partindo desde as
diferenças físicas entre as pessoas até diferenças sociais. Essa compreensão
ultrapassada ainda toma forma, principalmente quando o sistema de segurança
pública de defesa social privilegia apenas o seu olhar, que determina o direito
penal e toda sua força persecutória como o modelo essencial a ser utilizado, em
detrimento de outros, como as políticas de inclusão.

No entanto, essa forma de olhar e identificar os problemas sociais diversos,


que também são causas da criminalidade, bem como o poder penal como única
solução, não age em conformidade com os padrões aludidos pelo conceito de
Polícia Cidadã, atuante em um Estado Democrático de Direito.

Assim, vamos estudar quais são os principais sistemas de defesa social no


país, e, a partir de suas bases, veremos as funções e as atribuições das polícias
em um Estado Democrático, quando os próprios agentes de segurança e atores
envolvidos nessa atividade possuem grande responsabilidade em defender
e proteger os direitos fundamentais garantidos da pessoa, como você já viu,
constitucionalmente. Essa incumbência significa a quebra de uma idiossincrasia
presente historicamente nas polícias, a partir de suas próprias estruturas. Vamos
passar um olhar atento à estratégia e filosofia da polícia cidadã, que é criada

62
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

através da visão comunitária, ou seja, pela consciente vivência e participação em


sociedade, assim como quais os seus desafios e possibilidades no atual cenário
nacional. Vamos lá?!

2 SISTEMAS DE DEFESA SOCIAL NO


BRASIL CONTEMPORÂNEO
Chegamos até aqui por intermédio da história e dos estudos
As políticas de
que fizemos acerca dos importantes padrões de segurança pública
segurança criadas
conhecidos em nosso país. Você já deve ter ouvido falar do sistema de pelo Estado
defesa social, seja nas mídias ou em seus estudos sobre segurança precisam, pelo prisma
pública. Precisamos conversar sobre seus aspectos práticos, políticos e do atual paradigma
jurídicos, e qual a sua importância e influência para os sistemas atuais da Segurança
de compreensão da segurança de todos. Veja que o Art. 144 da CF Cidadã, estar sempre
em harmonização
trata a segurança como direito e dever de todos, e, por esse prisma,
às políticas públicas
a interpretação que se faz é que cabe tanto aos estados, municípios, diversas, que devem
governo federal e até mesmo aos cidadãos a segurança pública. Vimos almejar a inclusão e a
que, para o cidadão, a sua participação é efetivamente importante na participação popular.
vida comunitária, seja apoiando ou mesmo criticando, mas que possa
levar a sua experiência de vida comunitária para as pesquisas do setor segurança,
bem como auxiliar na produção de políticas públicas a partir de suas próprias
carências. Aos entes públicos, cabem a produção de políticas de segurança e a
sua eficaz aplicação. Entretanto, como você já estudou, as políticas de segurança
criadas pelo Estado precisam, pelo prisma do atual paradigma da Segurança
Cidadã, estar sempre em harmonização às políticas públicas diversas, que devem
almejar a inclusão e a participação popular.

É aí que você verá que encontramos alguns grandes desafios do nosso


sistema de segurança pública. A partir de conceitos e exemplos considerados
ultrapassados e que se tornam obsoletos com o passar do tempo, sempre em
constante evolução, é que interpretamos como a atual organização deve agir em
busca da consonância aos sistemas mais modernos de segurança no mundo.
Mudanças são, muitas vezes, difíceis de serem realizadas. Alterar o aspecto
histórico cultural das organizações é uma tarefa árdua, que somente se faz
possível rompendo os grilhões que nos une às vicissitudes passadas.

Você pode perceber, no capítulo anterior, de onde vieram os sentidos de


domínio, patriarcalismo e violência que permeiam o processo histórico e o ciclo
evolutivo do país e da sua segurança pública. Fazer brotar um novo paradigma sem
resquícios viciosos dos padrões passados é uma custosa, mas benéfica causa.

63
SEGurANÇA PÚBLiCA

Como nós estudamos no capítulo anterior, foi a partir da Constitucionalização


do Direito, das Políticas Públicas e das normas gerais, que passaram a ser
denominados todos os objetivos e planejamentos diversos, em busca dos
princípios constitucionais. Até mesmo as atribuições da própria polícia e de suas
diversas atividades para a garantia da ordem pública passam por esse mesmo
crivo, pela interpretação das premissas que consideram os direitos humanos e os
direitos fundamentais.

No próximo subtópico, será essencial discutirmos acerca do significado de


defesa social, tanto de sua ideologia quanto da aplicação seu sistema.

2.1 CONCEITO DE DEFESA SOCIAL


Representante de concepções iluministas, a Escola Clássica do Direito Penal
trazia conceitos acerca do que significava a defesa social. Para seus componentes,
como Cesare Beccaria, Francesco Carrara e Ludwig Feuerbach, a defesa social
teria imensa participação na garantia dos indivíduos, contra o poder punitivo do
Estado (BARATTA, 2011). Para essa escola, a teoria da defesa social era a proteção
que as pessoas tinham contra o poder arbitrário de punir do agente estatal, grosso
modo, servia como um freio às intenções punitivas do direito penal, que somente
poderia agir quando as outras instâncias do direito fossem ineficientes para atender
o caso concreto. Então, para eles, a defesa social significava de fato a defesa das
pessoas da sociedade, contra as ações do Estado, que para iniciar sua persecução
penal, teria que demonstrar os motivos e causas de tal litígio. Foi com a Escola
Positiva Italiana que o direito e a segurança pública receberam a função de defesa
da sociedade contra os criminosos, que a nomenclatura sofreu significativas
alterações em sua concepção (BARATTA, 2011).

A ideologia da defesa social ganhou robustez nos últimos anos quando as


forças de segurança norte-americanas passaram a agir contra os problemas
causados pelos ataques terroristas nas torres gêmeas do Word Trade Center
em setembro de 2001. Incentivados pelo medo e pela busca de uma segurança
efetiva, reafirmaram e modelaram o seu sistema interno de segurança a partir
dessa ideologia. Ela existe há muito mais tempo, sendo trazida pelas iniciais
análises da Escola Positiva do Direito Penal. Tendo em Lombroso, Ferri e Garofalo
seus principais exponenciais, a Escola Penal Positiva ocupou-se com o composto
fisiológico do homem (BARATTA, 2011).A partir de seus estudos iniciais, que se
basearem biopsicologicamente, esses autores criaram, pelas suas experiências
de vida e estudos científicos, uma determinação própria para o que seja crime e
criminoso. Veja que eles vão além quando designam quais os sujeitos viventes
na sociedade seriam capazes de praticar crimes, por intermédio das análises de
mensuração biológica e predisposições psicológicas (BARATTA, 2011).

64
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

A Escola Positiva pôs na discussão central a ideologia da defesa social no Direito


Penal, que trará consequências analisadas pelo estudo da Criminologia. Adeptos à
teoria da evolução de Charles Darwin, os pensadores dessa escola acreditavam
que a responsabilidade das pessoas não está inserida em um livre arbítrio, mas em
um determinismo biológico ou sociológico que define a periculosidade do sujeito
criminoso. Assim, o sujeito está predisposto a ser um criminoso, pois evoluiu a
isso. Cesare Lombroso (1835-1909), como médico que era, acreditava que existem
pessoas fisiologicamente determinadas a cometer crimes mais que outras, e no fim
do século XIX, realizou uma pesquisa nos centros penitenciários do norte da Itália,
medindo os cativos em busca de algo que conectasse aqueles que ele considerava
como homem defeituoso (BARATTA, 2011).

Nessa mesma escola, Enrico Ferri (1856-1929) acreditava na comprovação


da ciência para suas análises criminológicas, quando estudou determinados
padrões que considerava marcantes para a maldade do criminoso. Esses padrões
indicam, para Ferri, que algumas pessoas, mais que outras, são adversas ao
bem-estar comum por determinações genéticas e causas patológicas (BARATTA,
2011). Na mesma mão, Raffaele Garofalo (1851-1934) afirmava que o crime era
um delito normal, existente independentemente da existência de qualquer tipo de
lei, declarando que nascia com o homem e de acordo com a degeneração de
seus valores, torna-se perigoso para o convívio em sociedade (BARATTA, 2011).
Essa perigosidade do sujeito, impulsiva da delinquência e de toda a maldade
humana, faz menção ao determinismo psicológico que pode ser hereditariamente
repassado de pai para filho. Dessa forma, para ele, a violação das normas postas
era como uma violação aos sentimentos de piedade e de probidade, presentes
em todos os seres humanos normais e ausentes naqueles definidos criminosos
(FERREIRA, 2020).

O alienista, de Machado de Assis, escrito em 1882, demonstra


o exemplo da influência de uns sobre os outros, quando determinado
psicólogo se muda para uma pequena cidade, passando a estudar
os problemas psicológicos dos moradores. Para se aprofundar
no assunto loucura, começa a trancafiar todos em seu hospício,
acusando-os de alienação, tomando, assim, a liberdade das
pessoas. No conceito que estamos estudando, quem teria o poder de
decidir quem é o inimigo e por quais razões escolhe um inimigo em
particular?

FONTE: ASSIS, M. O alienista. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.


(Volume II).

65
SEGurANÇA PÚBLiCA

Para os integrantes dessa escola que transformou a ideologia da defesa


social, você notou que há um pensamento em comum, carregado por suas
doutrinas? Essa concepção é que o homem é um ser em evolução e que se não
é capaz de evoluir ao ponto de conviver em sociedade, esse personagem pode
ser tirado de circulação. Definem também que os homens ditos criminosos trazem
consigo, numa herança hereditária, grosso modo, a predisposição para a violação
de normas, e contra esse a força do Estado deve agir retirando sua liberdade.
Como os pensamentos da Escola Positiva do Direito Penal são analisados a partir
de características físicas e psicológicas das pessoas, você reparou que pode
haver uns mais criminosos que outros a partir da formação de seu biotipo?

O que é Criminologia?

Seguidor dos princípios construídos por Lombroso, o magistrado


Raffaele Garofalo (1851-1934) foi dentre os que fizeram parte da
Escola Positiva em sua fase inicial, aquele que trouxe aos estudos a
palavra Criminologia em sua obra de 1855, intitulada com o próprio
termo que havia inventado. Criminologia, para o entendimento de
Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli (2015, p. 37),
“é a disciplina que estuda a questão criminal do ponto de vista
biopsicossocial, ou seja, integra-se com as ciências da conduta
aplicadas às condutas criminais”. Para Edwin H. Sutherland (2015),
a criminologia é como um conjunto de conhecimentos que estudam
o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do
delinquente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocialização.

Alessandro Baratta (2011) ensina a ideologia da defesa social por meio de


alguns princípios que constroem as matrizes constitutivas dessa doutrina penal. A
defesa social surgiu na época da Revolução Burguesa, sendo herdada pela escola
clássica positivista, afirmando a práxis penal utilizada nos dias modernos. Em seus
preceitos essenciais, a teoria confirma a legitimidade do Estado, como “expressão
da sociedade”, para a repreensão da criminalidade por meio de suas instâncias
oficiais de prevenção e controle social. Afirma também que o delinquente é um
ser danoso para a sociedade, “um elemento negativo” e disfuncional em ação no
trato social e que deve ser imobilizado, contido, pois figura o mal. De toda forma,
a reação contra o ato desviante reafirma os valores e as normas impostas pela
sociedade e pelo Estado. Assim, o desviante e o desvio (criminoso e o crime)
são atitudes reprováveis, pois contrariam os preceitos tidos como valorosos pela

66
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

coletividade. Dessa forma, a pena possui ampla finalidade em seu sentido dualista
de retribuir o injusto causado ao delinquente e a de prevenção de futuros crimes,
servindo também em sua função pedagógica. A ressocialização é um de seus
intuitos. Possui também o caráter de igualdade entre todos, pois afirma serem
todos iguais perante a lei, ao julgar qualquer criminoso que atente contra os
valores difundidos pelo interesse de proteção penal, que são os valores comuns a
todos os cidadãos (BARATTA, 2011).

Todas as teorias anteriores afirmam o direito penal e o direito de punição do


Estado, o que justificam uma ampliação do poder punitivo, confirmando o sistema
de Defesa Social. Os princípios da ideologia da defesa social são:

• Princípio da legitimidade: cabe ao Estado reprimir a


criminalidade a partir de seus diversos meios de repressão que
representam a legítima reação da sociedade na reprovação de
condutas criminosas e na reafirmação dos bons valores e das
normas sociais.
• Princípio do bem e do mal: “o delito é um dano para
a sociedade. O delinquente é um elemento negativo e
disfuncional do sistema social”. Assim, o crime é o mal que
ocorre na sociedade que representa o bem.
• Princípio da culpabilidade: o delito é a pura demonstração de
uma atitude reprovável do sujeito criminoso, que é contrária aos
valores e normas que estão presentes no âmbito social como
princípios de boa convivência que não devem ser atacados.
• Princípio da finalidade ou da prevenção: indica a pena em
uma função dualista – a de retribuir ao criminoso o mal por ele
causado por intermédio da penalização, e, em segundo plano,
em sua natureza de prevenção de novos crimes. Aqui há a
função de ressocializar o indivíduo através da pena.
• Princípio da igualdade: há a igualdade entre todos quanto à
lei penal, quando a penalização deve ser aplicada de modo
igual aos infratores.
• Princípio do interesse social e do delito natural: “o direito
penal, em sua persecução, deve agir em casos em que o
interesse social seja realmente fundamental para a boa
coexistência social. Assim, devem ser interesses comum a
todos” (BARATTA, 2011, p. 42).

O sistema de defesa social é o sistema que vivemos hoje e que condiciona


as atividades policiais e de persecução penal. A crítica que se faz ao sistema cabe
diretamente no olhar que ele faz da sociedade. Nesse ponto, ele apenas destaca a
importância do direito penal e de seus mecanismos, mas não interpreta as diversas
mazelas sociais, estudo esse realizado pela Sociologia Criminal, Criminologia e
Criminologia Crítica. Essas áreas trouxeram para o debate a análise da Reação
Social, em contrapartida ao sistema de Defesa Social. Os estudos da Reação
Social demonstram que o crime não é uma qualidade intrínseca ao criminoso,
mas composto por variantes diversas, entre elas, os complexos processos de
interação social.

67
SEGurANÇA PÚBLiCA

No texto Estado, polícias e segurança pública no Brasil, Renato


Sérgio de Lima, Samira Bueno e Guaracy Mingardi (2016) trazem
uma análise acerca da influência que teria no âmbito da segurança
pública, as reformas institucionais que observem a modernização
dos estudos da criminalidade, da criminologia e dos novos conceitos
sociais latentes em nossa sociedade, como a reação social. O texto
indicado para você pode ser encontrado no site: https://www.scielo.
br/pdf/rdgv/v12n1/1808-2432-rdgv-12-1-0049.pdf.

O paradigma da reação social desloca as causas do comportamento tido


como criminoso para as condições definidas pela sociedade a certos grupos de
pessoas selecionáveis para o uso da etiqueta e do rótulo constante no crescente
processo de criminalização. Tais conflitos partem da definição de desvio e crime,
e como é realizado este entendimento, questionando a rotulação constante e a
estigmatização desnecessária, muitas vezes, imposta em algum ato inerte ou
insignificante para o direito (FERREIRA, 2020).

Algumas nomenclaturas foram utilizadas em nossas reflexões.


Dessa forma, vamos analisar algumas, sempre com a indicação do
livro ou obra que originou sua formação intelectual, assim, você pode
buscar a leitura apontada para acrescentar conhecimento aos seus
estudos:

• Sociologia criminal: formulada no século XX pelo sociólogo


francês Émile Durkheim, em seu livro As regas do método
sociológico, apresenta a definição do que seja crime. Para
o pensador gaulês, o crime se trata de uma funcionalidade
social, presente em toda sociedade, mas não uma patologia
como era antes considerado. Em seus estudos, o delito seria
parte da vida em coletividade, um elemento fisiológico, mas
não patológico. O crime reforça os valores da sociedade e suas
tradições, provocando uma reação social que coletivamente
sustenta os valores e normas atacadas pelo desvio.
• Criminologia crítica: também conhecida como Criminologia
Radical, enfoca a dualidade criminalidade/sociedade a partir de

68
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

análises marxistas. Seu marco teórico é o italiano Alessandro


Baratta e sua obra Criminologia crítica e Crítica do direito
penal: introdução à sociologia do direito penal, observa as
ideologias e as teorias do controle social e do crime, fundando
a Criminologia crítica e a sociologia penal.
• Reação social ou Labeling Approach: é um estudo derivado
da Criminologia crítica que altera os padrões de interpretação
da criminalidade e criminoso, a partir das relações sociais
diversas como a interação social e a estigmatização social.
Essa teoria também é chamada de Labeling Approach
ou Etiquetamento Social, foi desenvolvida pelo sociólogo
americano Howard Becker em seu livro Outsiders, estudos da
sociologia do desvio, de 1963.

A grande importância dos estudos de criminologia se revela na


seguinte ordem: Criminologia → Realidade Social = Política Criminal

2.2 OS PROTAGONISTAS DO
SISTEMA DE DEFESA SOCIAL
Como vimos, pela ordem estabelecida na Constituição de 1988, todos, desde
cidadãos, estados, municípios e nação devem realizar sua parte no acordo em
prol da segurança pública. Entretanto, como você já percebeu, isso somente seria
possível a partir de uma norma de procedimentos, avaliados a partir dos desígnios
que convalidem a vontade coletiva. Esse mecanismo é realizado pela política de
segurança pública nacional.

O último plano escrito em 2018 com validade até o ano de 2028, define a
Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social. A partir dele, a disposição
de uma ordenação que visa o combate contra a criminalidade prevê a importância
de um plano único e centralizado, mas que ao mesmo tempo descentralize as
tomadas de decisões que devem ser realizadas pelas bases e dados estatísticos
de cada região.

69
SEGurANÇA PÚBLiCA

Se quiser aprender mais sobre o atual Plano Nacional de


Segurança Pública e Defesa Social, você pode acessá-lo neste site:
https://www.justica.gov.br/news/copy_of_PlanoePolticaNacional
deSeguranaPblicaeDefesaSocial.pdf.

Nele, você pode ter acesso aos últimos estudos acerca dos
grupos criminosos atuantes em cada estado do país e quais os
planejamentos estruturais de combate ao crime organizado.

Assim, temos os protagonistas do sistema de defesa social, trazidos pelo


Plano Nacional de Segurança Pública, visto a seguir:

FIGURA 1 – SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PÚBLICA (SUSP)

FONTE: Marcondes (2021, s.p)

Veja que o sistema de defesa social atende a uma ideologia formulada


antes mesmo de sua aplicação pelas instituições de segurança pública, as
quais conhecemos hoje. Então, é a partir da análise inicial acerca do que trata
a ideologia que podemos entender o sistema em si. Existem diferenças entre a
terminologia sistema e ideologia de defesa social. Entretanto, o sistema se traduz
em um conjunto de elementos que têm a sua produção realizada de maneira
intelectual, ou seja, gerado pela intelecção do homem. O sistema da defesa social,

70
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

ainda que utilizado em um paradigma considerado moderno, como o paradigma


da segurança cidadã, pode, como você sabe, trazer resquícios da ideologia que
primeiro trouxe essa compreensão para o mundo, determinando polêmicas acerca
do próprio sistema adotado pelas políticas de segurança pública. Então veja as
definições desses conceitos trazidas pelo dicionário Aurélio (2021, s.p.).

• “Ideologia: origem das ideias humanas às percepções sensoriais do


mundo externo.
• Sistema: “conjunto de elementos, concretos ou abstratos, intelectualmente
organizados”, que podem sofrer influências das diversas ideologias
existentes.

Assim, você pode definir que todos os institutos de segurança pública são
protagonistas do sistema de defesa social, pois tanto ideologicamente quanto na
prática é o sistema utilizado. Por mais que estejamos vivenciando uma mudança
de paradigma e padrões para a realização das políticas públicas de segurança,
o modelo utilizado ainda é o da Defesa Social. Esse sistema também sofre com
algumas deficiências próprias de modelos originados em situações distantes da
democracia.

Aqui, trazemos como sugestão de leitura o livro de Bartira


Macedo de Miranda Santos, Defesa social: uma visão crítica. A
seguir, um trecho do livro:

“A defesa social constitui uma armadilha discursiva acerca


dos fundamentos do poder punitivo. O Direito Penal e o Processo
Penal servem para defender a sociedade contra o crime e os
criminosos? Juristas e população, em geral, acreditam que sim,
que ambos são instrumentos de defesa social. Este livro ambiciona
mostrar os perigos dos discursos de defesa social, tomando-os em
sua perspectiva histórica e relações de poder, desde a chamada
Escola Clássica do Direito Penal, em que a defesa social era a
proteção do indivíduo contra o poder punitivo arbitrário, até a Escola
Positiva Italiana, em que o Direito Penal ganhou a função concreta
de defender a sociedade contra os indivíduos criminosos. Aborda-
se, ainda, a reconfiguração das ciências penais da Escola Técnico-
Jurídica, que expulsa a defesa social do Direito Penal e a acomoda na
Política Criminal, elaborando o modelo de ciência penal mais apto à
realização concreta dos ideais dos estados autoritários. Essa Escola
extraía dos juristas a função de questionar o ordenamento jurídico

71
SEGurANÇA PÚBLiCA

que aplicavam, dando-lhes a função de proteger a sociedade de uma


forma mais ampla: eliminando não apenas os criminosos, mas todo
indivíduo considerado perigoso para a manutenção da ordem social.
Muito mais que simples alterações semânticas, as várias concepções
de defesa social e seu ajustamento discursivo às novas relações de
poder e respectivas formas de controle social repressivo, de cada
momento histórico, apresentam-se como um conjunto de ideias”
(MIRANDA, 2015, p. 12).

FONTE: Adaptado de SANTOS, B. M. de M. Defesa social: uma


visão crítica. São Paulo: Estúdio Editores, 2015.

2.3 A PROBLEMÁTICA DO SISTEMA


DE DEFESA SOCIAL
Existem grandes problemas para a ideologia e consequente sistema de
Defesa Social, quando, desde seu nascimento, indica que as pessoas podem ser
diferenciadas pelas suas qualidades físicas, que são carregadas hereditariamente.
Com o passar dos tempos, essas diferenças foram se avolumando na sociedade,
quando se estuda e interpreta um grupo considerado como criminoso. Veja
que nos Estados Unidos, após o fatídico 11 de setembro de 2001, as políticas
de segurança incluíram, a partir de táticas de guerra, o vigoroso combate
contra determinados grupos do Oriente Médio, considerados terroristas. Para o
imaginário comum e para o fundamento da ideologia da defesa social, traços e
caracteres originários das arábias e Ásia poderiam indicar um provável terrorista.
Nesse sistema, é comum a verificação antes do indivíduo e de sua genealogia,
sem mesmo ele ter cometido qualquer crime.

Aqui há a definição de direito penal do inimigo, que deve ser cassado pelas
suas diferenças.

Para Baratta (2011), a ideologia da defesa social perpetua as diferenças e


ressalta as desigualdades, pois não interage com as transformações da realidade.
Para o autor italiano, é necessária uma visão crítica aos operadores do direito
e segurança pública, ao julgar os casos conforme a visão do que há de real na
sociedade e sua complexidade, para não perpetuar as desigualdades sociais e
não preservar a atuação seletiva do sistema. O mito é de que a lei protege a
todos, igualando-os, trazendo o direito penal como um epiteto da igualdade, que
infelizmente não prevê as diferenças sociais e econômicas (BARATTA, 2011).

72
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

A prática policial ligada a essa teoria afirma a seletividade do sistema em sua


atividade de prevenção, sempre contra os pobres e os estigmatizados que vivem
na sociedade. O discurso do sistema da defesa social está diretamente vinculado
numa concepção de direito penal do autor, transformando os etiquetados de
criminosos e os estigmatizados por qualquer situação como inimigos sociais.
Esses, então, precisam ser combatidos pela defesa social e seu aparato de
segurança pública e:

Em nome desta defesa social, justificam-se toda sorte de


violações dos direitos humanos que marcam a segurança
pública no Brasil. Não raro, as violações dos direitos humanos
estão acompanhadas de um discurso justificador que invoca a
necessidade de defesa social no combate ao crime (SANTOS;
CARDOSO, 2020, p. 6).

Isso pode acarretar políticas públicas que atentem para estereótipos e


estigmas que carregam determinados grupos e pessoas e, por esse motivo, há
a mobilização da força de proteção social contra alguns personagens tidos como
criminosos, sem mesmo terem cometido algum crime.

O sistema penal baseado na defesa social, possui suas bases fundadas nos
estudos do que seja crime, em um plano que não considera as evoluções sociais
e as diferenças gritantes que ocorrem na sociedade, principalmente no âmbito
econômico. Entretanto, o sistema confirma o direito penal e seus institutos de
repressão.

É nesse sentido que há o distanciamento das políticas públicas para com o


paradigma da Segurança Cidadã, que manifesta a democratização aos órgãos de
segurança, com planejamento direcionado às garantias e direitos fundamentais. O
medo da violência crescente e a incapacidade das agências de segurança pública
em lidar com a criminalidade confirma o crescimento da ideologia da Defesa
Social, que não considera em seus estudos as enormes diferenças sociais no
país, bem como as desigualdades e faltas de oportunidades. Pelo mesmo prisma,
faz vigorar o direito penal do autor, considerado quando apenas o autor do fato
criminoso é estudado, mas não os motivos para a composição do crime. Isso nos
leva a interpretar o crime apenas pela pessoa que o comete, não interessando
situações justificantes ou a própria interação social da pessoa em meio ao
ambiente em que vive.

73
SEGurANÇA PÚBLiCA

O que é o Direito Penal do Inimigo?

Criado em 1985 pelo alemão Ghunter Jacobs, o Direito Penal do


Inimigo, também reconhecido como direito penal do autor, trouxe à
discussão os indesejáveis em sociedade, que deveriam ser extirpados
sem as garantias de um cidadão comum. Nessa perspectiva, o
inimigo não recebe garantias nem benefícios do Direito. Para ele,
terroristas, mafiosos, integrantes de crime organizado, entre outros,
fazem parte do inimigo a ser combatido. Dessa forma, a repressão do
Estado pode vir contra o inimigo se baseando em condutas futuras
que ele possa realizar contra o Estado, ou seja, é preventiva quanto
ao delito que possa vir a ser cometido. É, então, uma alternativa que
previne a ocorrência de crimes, demonstrando o caráter punitivo
da justiça penal ao determinar a ruptura dos direitos individuais do
cidadão tido como inimigo. A crítica a essa ideologia é oportuna
quando questiona quem deve dizer quem é inimigo, quem teria esse
poder. Outro argumento válido diz respeito ao uso do direito penal
como instrumento preventivo, atuando contra determinadas minorias,
muitas vezes, já estigmatizadas como pobres e negros. A ascensão
das normas de higienização nazista contra o povo judeu encontrou
uma forma de identificá-los como inimigos do Estado, cerceando
seus direitos de todas as maneiras. Esse exemplo é um passo
fundamental para a teoria que viria em seguida.

No próximo subtópico, faremos uma análise de fundamental importância para


a segurança pública e os meios de garanti-la em uma sociedade democrática.
Democracia, acima de tudo, traduz-se pela afirmação dos direitos fundamentais
que deve ser realizada por todos os institutos, inclusive os de segurança pública.

3 AS FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES
DA POLÍCIA NUMA SOCIEDADE
DEMOCRÁTICA
Prezado aluno, vimos que, historicamente, a polícia ostensiva possui qualidades
inerentes à prática e estrutura militar. A militarização nas polícias preventivas da
segurança pública partiu, a princípio, para a proteção do monarca ou dos grupos
74
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

controladores da sociedade, até chegar aos dias de Constituição e democratização


de toda a política brasileira. Entretanto, são comuns a permanência do pensamento
e a doutrina patriarcal e rígida da organização, movida tradicionalmente pelas
matrizes constitutivas do próprio exército e da cultura social. Daí tiramos a influente
questão de como fazer funcionar os valores da soberania popular no interior dessas
matrizes, para que possam responder à altura da evolução ocorrida. Aqui, temos
mais um paradigma que precisa ser vencido.

Para que se altere um padrão, deve haver uma crise nos modelos utilizados
até que esse passe a ser questionável ao ponto de uma ruptura. Nesse caso, a
ruptura precisa partir de dentro para fora, ou seja, do interior da instituição que
se pretende alterar. Para isso, os valores devem ser dispostos como meta a
ser atingida. As atribuições da polícia, órgão da segurança pública, devem ser
manejadas a partir da garantia dos direitos fundamentais e dos direitos humanos.
É certo que isso somente pode ocorrer em uma ordem democrática.

A transição do regime autoritário para o democrático ficou conhecida


por diversas denúncias de abuso policial (ADORNO, 1998). Isso significa o
distanciamento de uma incorporação válida dos princípios que regem a vida social
em prol dos direitos da pessoa, que muitas vezes não se fazem presentes nas
atividades práticas da polícia. Isso se deve a uma ausência de “mecanismos de
controle democrático sobre as polícias” e a presença de um “padrão cultural muito
difundido e incontestado que identifica a ordem e a autoridade ao uso da violência”
(CALDEIRA, 2003, p. 136). Nesse sentido, as violações de direitos humanos
cometidas pelos agentes estatais se relacionam a um autoritarismo socialmente
implantado que tem como prisma central o uso da violência para a resolução dos
conflitos diversos (PINHEIRO, 1991). Esse padrão de ação não se relaciona com
o sistema de Polícia Comunitária nem com o paradigma da Segurança Cidadã.

Todavia, como você pode observar, o crescimento exponencial da população,


das cidades e da criminalidade evidenciam ainda mais as responsabilidades dos
agentes estatais de segurança. Assim, tem-se a ideia de que o agente policial
tem a determinação e eficiência ao impor determinados valores morais que fazem
parte do ideal de ordem e, por outro lado, que suas ações sejam realizadas de
acordo com as regras formais que limitam a atuação policial dentro da legalidade.
Nesse sentido, caro aluno, existem elementos inerentes ao próprio ambiente do
trabalho policial e que são determinantes para suas ações: o perigo, a autoridade
e as pressões por eficiência (SKOLNICK, 2002).

Verifica-se que a exposição constante ao risco, bem como a premência de


efetivar a autoridade do Estado por intermédio de suas ações podem estimular
reflexos conservadores e comportamentos reacionários, confirmando a
estereotipação, assim como o isolamento social do agente policial e uma forte
solidariedade interna com os seus iguais. Nesse sentido, segundo Skolnick
75
SEGurANÇA PÚBLiCA

(2002), policiais podem desenvolver algumas atitudes estigmatizadoras para sua


defesa própria perante pessoas desconhecidas e perante incertezas que encontra
em sua lide. Esse estigma parte do profissional contra pessoas que ele interpreta
ser um risco para si próprio.

O isolamento social se deve pela sua própria função, que evita contato com
determinados grupos da sociedade considerados pelos próprios policiais como
perigosos e que podem realçar atitudes hostis contra eles. Esse afastamento do
convívio público e social é a causa do desenvolvimento de uma solidariedade
interna, desenvolvedora do pragmatismo e do conservadorismo da instituição
(SKOLNICK, 2002).

Nesse sentido pragmático do serviço policial, as pressões por eficiência,


que partem tanto da sociedade e seus meios de comunicação quanto de seus
superiores, induziriam os policiais à ideia de valorização às prisões efetuadas e à
resolução de crimes, em detrimento às regras que impõem limites no desemprenho
de suas funções.

Para o cientista Reiner (2004), essas pressões diversas por resultados,


aliadas aos perigos certos da profissão, podem causar a desvalorização de
princípios legalistas e normas que visam à proteção dos direitos humanos, pois a
garantia da defesa social é a ação a ser laureada.

Entretanto, regras, atitudes e vícios da função devem ser percebidos também


através de diferentes contextos. Reiner (2004, p. 135) afirmou que as forças policiais
presentes nas democracias modernas mundo afora “veem-se frente a frente com as
mesmas pressões básicas similares que modelam uma cultura distinta e característica
em muitas partes do mundo, mesmo tendo ênfases diferentes no tempo e no espaço,
e variações subculturais internas”. Isso significa que as características das culturas
policiais necessitam de uma interpretação que considere todo o contexto político
e social ao seu entorno e como as organizações de segurança pública podem ser
influenciadas por acontecimentos externos a ela, a ponto de desvalorizar a proteção
aos direitos humanos para a garantia da ordem e da defesa social.

No atual paradigma, como você viu, é mister a inclusão da comunidade, de


seus anseios e dificuldades na escala a ser analisada pelos órgãos de segurança
pública. Dessa forma, uma mudança precisou e ainda precisa ser realizada
dentro de instituições tão antigas e tradicionais como a Polícia Militar e sua
ordem miliciana. Veja que a Segurança Cidadã não apenas presta o habitual
sistema repressivo e ostensivo, mas precisa saber resolver problemas e conflitos
diversos, de uma maneira extrajudicial, se possível for; identificando a origem
dos antagonismos que venham a causar o crime. Para isso, mudanças precisam
ser realizadas, tanto na cultura interna das instituições quanto na maneira de se
enxergar policial, isso também parte da comunidade.
76
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

Você já deve ter visto em sites de notícias e jornais televisivos o


número crescente de suicídio entre policiais de todas as instituições.
A pressão da função, o encontro iminente com a violência, o perigo
e a preocupação com sua própria segurança e de seus familiares
causam uma agressão psicológica, muitas vezes, irreversível aos
policiais. Para combater essa taxa de suicídio alargada no Brasil,
as Secretarias de Segurança Pública de cada Estado informam, a
partir de cursos e palestras, as possibilidades de auxílio dentro da
corporação contra casos de depressão e ansiedade causados pelo
ambiente de labor policial e que podem levar ao suicídio. Auxílios
como esses ainda são poucos no Brasil. Veja a importante análise
feita por Cleber Souza e Luís Adorno, publicada no site de notícias
da UOL em setembro de 2019:

“Em 2017 e 2018, 17 policiais civis do estado de São Paulo


tiraram a própria vida. Segundo a ouvidoria da corporação, trata-se
de uma taxa média de 30,3 suicídios a cada 100 mil policiais, por ano
– três vezes o índice aceitável pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), que considera situação de epidemia a partir de 10 suicídios
a cada 100 mil. A polícia civil tem 28 mil homens e mulheres. Sem
auxílio psicológico, policiais civis morrem mais por suicídio em SP:
a taxa de suicídios entre policiais civis é seis vezes maior do que
a taxa dos mortos em serviço (5 a cada 100 mil). Os dados foram
divulgados pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo na manhã de
hoje, com o objetivo de apresentar ao estado, com recomendações,
para que haja políticas de segurança pública que reduzam o índice.
Apesar de o índice ser alto, a Polícia Civil não tem programa nem
suporte para a saúde mental, segundo o ouvidor Benedito Mariano.
“Precisa começar do zero na Polícia Civil. O sucateamento dialoga
com o estresse do policial, porque tem que fazer o serviço de dois
ou três. Existe uma negligência com relação à saúde mental dos
policiais civis de São Paulo”.

FONTE: Adaptado de <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-


noticias/2019/09/25/suicidio-e-principal-causa-de-morte-de-policiais-
civis-em-sao-paulo.htm#:~:text=Segundo%20a%20ouvidoria%20
da%20corpora%C3%A7%C3%A3o,28%20mil%20homens%20e%20
mulheres.>. Acesso em: 20 jun. 2021.

77
SEGurANÇA PÚBLiCA

3.1 O POLÍCIAMENTO DEMOCRÁTICO


Quando se pensa em policiamento, a ideia de repressão e uso da força física
surgem logo à mente. O problema está no uso da força excessiva, que gera uma
violência, muitas vezes, desproporcional. Em um sistema político democrático,
podemos entender que há uma limitação ao uso de uma força agressiva e
extrema, pois a ação policial está limitada às normas que regem tanto o estatuto
interno policial quanto a composição da lei e ordem. Note que o uso excessivo
da força nunca foi uma característica apenas de regimes autoritários, mas de
democráticos também (PINHEIRO, 1991).

O que se observa é que o discurso da democracia não garante por si só


o estímulo para um policiamento democrático. Isso ocorre principalmente nos
países como o Brasil, que passaram uma transição entre regime autoritário e
democrático marcada por graves conflitos sociais, cujas forças de segurança
pública possuíam a função da manutenção da ordem adotando os padrões
dos governos autoritários, que se faziam presentes nas instituições policiais
(ZACCONE, 2016).

Em uma democracia, o policiamento democrático tem uma importância muito


bem definida na produção da viabilidade da ordem e dos valores que determinam
a lógica democrata (BAYLEY; SKOLNICK, 2001). Nesse objetivo, a polícia não
necessariamente deixa de usar a força em suas atividades quando necessário,
mas se utiliza desse mecanismo no sentido de afirmar o exercício da ampla
cidadania e no fortalecimento das premissas democráticas.

Entretanto, como nós vimos, existem concepções que definem a segurança


pública no Brasil por intermédio de ações formuladas pela própria política de
segurança. Uma dessas concepções é idealizada no combate direto, em que os
órgãos de segurança pública se percebem em meio a uma missão bélica contra
os inimigos, conforme apresenta Souza Neto (2008, p. 3):

• A Primeira Concepção:
Seu papel é “combater” os criminosos, que são convertidos
em “inimigos internos”. As favelas são “territórios hostis”,
que precisam ser “ocupados” através da utilização do “poder
militar”. A política de segurança é formulada como “estratégia
de guerra”. E, na “guerra”, medidas excepcionais se justificam.
Instaura-se, então “uma política de segurança de emergência”
e um “direito penal do inimigo”. O “inimigo interno” anterior –
o comunista – é substituído pelo “traficante”, como elemento
de justificação do recrudescimento das estratégias bélicas de
controle social.

78
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

Como você pôde perceber, esse é um padrão reminiscente do paradigma da


Segurança Nacional, que evidenciava o Regime Militar. Esse modelo passou a
ser internalizado pelas instituições de segurança pública, a partir da ideologia da
defesa social, aceita em grande parte do mundo como essencial. O que o torna tão
prestigiado faz parte de um discurso influente dos meios de comunicação social,
que afirma o populismo penal em que qualquer situação contra a lei e ordem deve
ser repreendida pelo uso da força física, ainda que excessiva. Você pode notar
que se trata de um resquício do paradigma anterior que ainda vive latente em
nosso sistema, seguindo os trejeitos do autoritarismo e patriarcalismo calçados
em nossa história, residente na cultura policial (SOUZA NETO, 2008).

Ainda há uma segunda concepção do pensamento a respeito da segurança


pública, que mais se assemelha ao policiamento numa construção democrática,
definindo a segurança como um serviço público prestado pelo Estado, mas
não uma aventura bélica a ser travada em que os fins podem ser justificados pelos
meios. Nesse sentido, veja:

• A Segunda Concepção:
O cidadão é o destinatário desse serviço. Não
há mais “inimigo” a combater, mas cidadãos para A concepção
servir. A polícia democrática, prestadora de serviço democrática
público, em regra, é uma polícia civil, embora possa estimula a
atuar uniformizada, sobretudo no policiamento participação popular
ostensivo. A polícia democrática não discrimina, na gestão da
não faz distinções arbitrárias: trata os barracos segurança pública;
nas favelas como “domicílios invioláveis”, respeita valoriza arranjos.
os direitos individuais, independentemente de
classe, etnia ou orientação sexual; não só se atém
aos limites inerentes ao Estado democrático de direito, como
entende que seu principal papel é promovê-lo. A concepção
democrática estimula a participação popular na gestão da
segurança pública; valoriza arranjos participativos e incrementa
a transparência das instituições policiais (SOUZA NETO, 2008,
p. 6).

A segunda concepção substitui o combate pela prevenção e expõe a inserção


de políticas sociais por intermédio de “medidas administrativas de redução
de riscos”, enfatizando a investigação criminal e sua importância no resguardo
do crime (SOUZA NETO, 2008, p. 6-7). Note que aqui há a demonstração dos
padrões aceitos pelo paradigma da Segurança Cidadã, que você estudou no
capítulo anterior.

De fato, em nenhum momento o constituinte original optou por um ou outro


modelo, todavia, devemos ter em mente que exista a harmonização entre os
institutos diversos, ao princípio democrático de direito, aos direitos fundamentais e
à dignidade da pessoa. Nesses termos, o que se apresenta é que o policiamento
democrático somente pode vir a existir no fortalecimento do próprio regime

79
SEGurANÇA PÚBLiCA

democrático e de seus princípios. O resultado disso é a mudança na própria


ideologia e lógica policial, bem como na maneira a qual os institutos de segurança
pública se relacionam com a sociedade ao redor. Essa forma de relacionamento,
a partir da base estrutural do paradigma da segurança cidadã, não se sustenta
pelo uso de violência desmedida, pelas dificuldades ao acesso à justiça ou de
políticas públicas ineficientes.

Para complementar os nossos estudos, indicamos a você um


texto muito influente de Vera Regina Pereira de Andrade (2013),
em que a pesquisadora demonstra os passos a serem tomados na
consolidação das formas democráticas e de seus valores em diversos
setores, em especial, na segurança pública. Em suas palavras:

Para que a própria mudança preconizada ocorra, o


princípio vertebral a sustentar todos os demais deve ser
o princípio de proteção integral de direitos humanos,
erigido como o objeto e limite do poder de punir e no
qual o direito à segurança (sobretudo a segurança da
pessoa, da vida e dos corpos, antes que dos bens) seja
um deles, libertando-se do paradigma da segurança
“contra” a criminalidade. Isso faz a passagem do
modelo de segurança pública focado na ordem e em
nome da ordem, violando seletivamente direitos da
pessoa, para um modelo de segurança pública focado
no sujeito – Segurança Cidadã; faz ainda a passagem
do paradigma repressivo (negativo e desconstrutor) de
luta contra a criminalidade para uma cultura positiva e
construtora de uma nova concepção de segurança e
controle democrático dos problemas e conflitos sociais
(ANDRADE, 2013, p. 349).

FONTE: <http://www.scielo.br/pdf/seq/n67/13.pdf>. Acesso em: 13


jun. 2021.

Você deve ter percebido uma questão influente em nossos estudos


acerca das possibilidades de um policiamento democrático. Essa questão está
diretamente ligada à interpretação do conceito de defesa social.

O entendimento que se faz desse conceito é o de que a defesa do Estado,


de determinadas classes sociais ou de grupos de pessoas mais selecionáveis que
outros, presente tanto na ideologia da defesa social quanto em seu sistema de
segurança, deve sofrer severas alterações interpretativas e de análises. A partir

80
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

de sua base, a defesa social deve servir como a defesa de todas as pessoas e
de todas as classes, isso será possível através de normas de procedimentos e
regras técnicas, lançadas aos modernos padrões operacionais que possibilitem
uma atual cultura organizacional e de governança da atividade da polícia através
dos novos modelos de conduta na interação social (BARATTA, 2011).

Então, a proposta inicial da Escola Clássica do Direito Penal e sua tendência


iluminista em usar o conceito de defesa social como uma garantia do cidadão
contra o poder de punir do Estado, passou a ser visto por intermédio da Escola
Positivista como a defesa da sociedade contra o criminoso. Esse infrator começou
a ser visto pelas suas diferenças, sendo rotulado e taxado como transgressor
ou futuro transgressor. Foi a partir desse ponto que se iniciou os estudos acerca
da pessoa criminosa, e não dos atos causados por ela ou, até mesmo, da
sociedade ao redor e de sua convivência social, como motivos socioculturais e
socioeconômicos. Como você viu, até medição dos corpos dos criminosos foram
realizados por Lombroso (2013), caracterizando aqueles propensos ao crime por
uma simples medida fisiológica. Na concepção que estudamos anteriormente,
em que o belicismo toma as rédeas da segurança pública numa guerra contra o
inimigo, pode ocorrer a mesma marcação, só que de forma distinta, contra grupos,
pessoas diferentes e minorias. É essa concepção que o policiamento democrático
tenta mudar.

3.2 AS POLÍCIAS E AS GARANTIAS


DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Como você estudou, o panorama acerca do objeto de proteção da segurança
pública se alterou com a redemocratização do Brasil e com a Constituição de
1988. Quando antes era o Estado a ser veementemente protegido, agora são os
seus cidadãos, seus bens e uma ordem que se baseia na convivência.

Sob a égide dos direitos fundamentais e do princípio da dignidade da pessoa,


as polícias do paradigma que se intenta cumprir, devem executar determinadas
ações com intuito de promover esses direitos. No fim, o novo padrão sempre
seguirá as bases que o estabeleceu, cabe aos profissionais envolvidos levarem a
cabo seus sentidos. Para que isso ocorra de forma positiva e reconhecida, alguns
instrumentos podem ser usados a seu favor, e um dos mais importantes em um
Estado Democrático de Direitos é a legalização normativa desses preceitos.
Nesse intento, o Decreto nº 1.904 de 13 de maio de 1996 é o principal arcabouço
regulamentário desse tema. O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH)
objetiva:

81
SEGurANÇA PÚBLiCA

• A identificação dos principais obstáculos à promoção e defesa


dos diretos humanos no país.
• A execução, a curto, médio e longo prazos, de medidas de
promoção e defesa desses direitos.
• A implementação de atos e declarações internacionais, com a
adesão brasileira, relacionados com direitos humanos.
• A redução de condutas e atos de violência, intolerância e
discriminação, com reflexos na diminuição das desigualdades
sociais.
• A observância dos direitos e deveres previstos na Constituição,
especialmente os dispostos em seu Art. 5°.
• A plena realização da cidadania (BRASIL, 1996).

Todas essas medidas elencadas destacam a promoção humana,


principalmente no que diz respeito ao indivíduo, suas liberdades e a busca por
uma isonomia social ao intentar a diminuição das desigualdades sociais em um
sentido de equidade.

Direitos fundamentais – São considerados direitos enunciados


constitucionalmente, ou seja, fazem parte de uma ordem jurídica que
declara uma prerrogativa que é fundamental para o cidadão viver em
sociedade. Por esse motivo, diferenciam-se de direitos humanos,
que são direitos de todas as pessoas, de todos os povos e em todos
os tempos, em caráter universal, inviolável e perdurável. A CF/1988
elenca, em seu Título II, os Direitos e Garantias Fundamentais
referentes à educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer,
segurança, proteção à maternidade e assistência aos desamparados.
Estão dispostos assim:

• Direitos e deveres individuais e coletivos (Art. 5º, CF).


• Direitos sociais (Art. 6º ao art. 11, CF).
• Direitos da nacionalidade (Art. 12 e art. 13, CF).
• Direitos políticos (Art. 14 ao art. 16, CF).

O PNDH fica ao encargo do Ministério da Justiça, mas com a participação


da Administração Pública Federal. Isso desenvolve uma descentralização
nas atribuições de cada ente, principalmente no que diz respeito na coleta de
informações para a produção de uma política criminal de qualidade. Elaborado por
várias entidades, o PNDH propõe políticas públicas que enfatizem a proteção dos
direitos humanos e dos direitos fundamentais da CF/1988, bem como a criação

82
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

de engrenagens jurídicas para a diminuição do tempo dos processos penais.


Entretanto, uma segunda edição foi elaborada em maio de 2002, ampliando o
alcance de proteção dos direitos que urgiam na sociedade, como os direitos dos
povos ciganos, dos povos indígenas, da livre orientação sexual e identidade de
gênero.

Em dezembro de 2009, foi elaborado um novo PDNH, instituído através do


Decreto nº 7.037, o terceiro e último até então, que se baseia nos princípios e
atribuições elaborados pelo primeiro PDNH, que estudamos anteriormente. Para
nossos estudos, o importante é que as políticas criminais para segurança pública
são baseadas no Plano Nacional de Direitos Humanos e seus conceitos. Em uma
de suas diretrizes (12), a “transparência e participação popular no sistema de
segurança pública e justiça criminal” enfoca a democratização (BRASIL, 2009).
Ainda, dá a devida atenção ao Programa Nacional de Segurança Pública com
Cidadania (Pronasci) aduzindo aos:

Investimentos já realizados pelo Governo Federal na


montagem de rede nacional de altos estudos em segurança
pública, que têm beneficiado milhares de policiais em cada
Estado, simbolizam, ao lado do processo de debates da
1ª Conferência Nacional de Segurança Pública, acúmulos
históricos significativos, que apontam para novas e mais
importantes mudanças (BRASIL, 2009).

Esse mecanismo legal enfoca os direitos humanos e a atuação da segurança


pública ao atentar pela realização de seus preceitos, como a plena cidadania,
entre outros.

O que é o PRONASCI?

“Desenvolvido pelo Ministério da Justiça, o Programa Nacional


de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) marca uma
iniciativa inédita no enfrentamento à criminalidade no país. O
projeto articula políticas de segurança com ações sociais, prioriza
a prevenção e busca atingir as causas que levam à violência, sem
renunciar às estratégias de ordenamento social e segurança pública.
Entre os principais eixos do Pronasci, destacam-se a valorização
dos profissionais de segurança pública; a reestruturação do sistema
penitenciário; o combate à corrupção policial; e o envolvimento da
comunidade na prevenção da violência. Além dos profissionais de
segurança pública, o Pronasci tem, também, como público-alvo
jovens de 15 a 29 anos à beira da criminalidade, que se encontram

83
SEGurANÇA PÚBLiCA

ou já estiveram em conflito com a lei; presos ou egressos do sistema


prisional; e, ainda, os reservistas, passíveis de serem atraídos pelo
crime organizado em função do aprendizado em manejo de armas
adquirido durante o serviço militar. O Programa está instituído nas
11 regiões metropolitanas brasileiras mais violentas, identificadas
em pesquisa elaborada pelos ministérios da Justiça e da Saúde.
São elas: Belém, Belo Horizonte, Brasília (entorno), Curitiba, Maceió,
Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Vitória,
Fortaleza e Santa Catarina. A execução do Pronasci se dará por
meio de mobilizações policiais e comunitárias. A articulação entre
os representantes da sociedade civil e as diferentes forças de
segurança – Polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, Guarda
Municipal, Secretaria de Segurança Pública – será realizada pelo
Gabinete de Gestão Integrada Municipais (GGIM). O Pronasci
será coordenado por uma secretaria-executiva em nível federal e
regionalmente dirigido por uma equipe que atuará junto aos GGIM e
tratará da implementação das ações nos municípios. Para garantir a
realização das ações no país, serão celebrados convênios, contratos,
acordos e consórcios com estados, municípios, organizações
não governamentais e organismos internacionais. A instituição
responsável pela avaliação e acompanhamento do Programa
será a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além da verificação dos
indicadores, ainda será feita a avaliação do contexto econômico
e social. O controle mais abrangente do Programa contará com a
participação da sociedade”.

O Pronasci é composto por 94 ações que envolvem a União,


estados, municípios e a própria comunidade, sendo exemplos de ações
relevantes como as Mulheres da Paz, a Formação Policial (qualificação
das polícias nas práticas de segurança cidadã), entre outros.

FONTE: Adaptado de <https://carceraria.org.br/wp-content/


uploads/2012/07/PRONASCI.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2021.

Claro que de nada adianta toda essa estrutura normativa sem antes
qualificar os profissionais de segurança pública para o novo paradigma, que deve
partir de dentro da instituição. Para isso, o discurso deve ser utilizado tanto em
treinamentos quanto na atuação em conjunto dos policiais. O PNDH desenvolve
o treinamento e a capacitação para os profissionais. Veja que a importância vai
desde a polícia ostensiva em sua abordagem e patrulhamento até o delegado que
recebe e coordena o inquérito policial, bem como nas investigações realizadas
84
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

por investigadores da polícia civil, que devem estar calcadas em valores balizados
pelos direitos humanos. Assim nasce o real intento para a Polícia Comunitária,
ou também conhecida por Polícia Cidadã, já destacada no paradigma que você
estudou no capítulo anterior.

1 De acordo com a Escola Clássica do Direito Penal, a Defesa


Social teria amplo sentido de proteção ao indivíduo, frente ao
poder punitivo do monarca, do Estado ou das forças controladoras
do poder. Nesse sentido, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Num contexto democrático de direito, o encargo de garantir


os direitos fundamentais partem da premissa de que o Estado
não deve se assegurar das forças de segurança pública para
assegurar os privilégios sociais adquiridos.
b) ( ) O sistema de Defesa Social difere daquele contextualizado
pela ideologia da Defesa Social, uma vez que representa valores
adotados pela Carta Magna de 1988.
c) ( ) A inexistência de diferente interpretação entre as
terminologias de sistema e ideologia de defesa social fez com que
a defesa social se traduzisse apenas na proteção da sociedade e
seus valores comuns.
d) ( ) É da teoria da evolução das espécies de Charles Darwin o
pensamento da criminologia da Escola Positiva do Direito Penal,
ao desenvolver o determinismo biológico ou psicológico em
detrimento do livre arbítrio.

2 Quanto ao policiamento democrático, enfatizado no Estado


moderno e seus novos padrões, classifique V para as sentenças
Verdadeiras e F para as Falsas:
( ) A democracia por si só é capaz de engendrar o estímulo suficiente
para o policiamento democrático, alterando os alicerces culturais
presentes nas instituições policiais.
( ) Entre as duas concepções analisadas dos modelos de segurança
pública, o legislador original optou expressamente pelo modelo
da segurança democrática na Carta Magna de 1988.
( ) A primeira concepção adota o direito penal do inimigo, em uma
defesa social pautada no submetimento e domínio de um inimigo
em comum.
( ) Uma das críticas ao PDNH é que ele está submetido diretamente
ao Ministério da Justiça, havendo uma centralização inócua que
inibe a possibilidade de análises estatísticas do crime in loco.
85
SEGurANÇA PÚBLiCA

( ) A Segurança Cidadã não sugere apenas o conhecido sistema


ostensivo e repressivo, mas também está apta para a resolução
de conflitos de forma extrajudicial se possível.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – F – V – F – V.
b) ( ) V – V – F – F – V.
c) ( ) F – V – F – V – F.
d) ( ) V – V – V – F – F.

3 Quanto aos direitos fundamentais, descritos na Constituição de


1988, analise as sentenças:

I- A democratização dos direitos fundamentais, que são direitos de


todas as pessoas, em caráter universal, inviolável e perdurável,
alterou a noção dos aspectos policiais aceitos até então,
iniciando uma mudança de paradigma na maneira de se pensar a
segurança pública.
II- Os direitos fundamentais que estão declarados no Título II da
CF/1988 destacam a segurança e demais direitos do cidadão,
que tornam o paradigma da segurança nacional ultrapassado.
III- Os direitos fundamentais e seus enunciados constitucionais fazem
parte de uma ordem jurídica declarante de uma prerrogativa do
cidadão essencial para a vida social e sua cidadania.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

4 POLÍCIA COMUNITÁRIA
Reconhecida como uma filosofia, a Polícia Comunitária, ou Cidadã, é uma
nova interação entre as estratégias policiais que se redefinem e os diversos
problemas oriundos da criminalidade na sociedade e no Estado moderno. A
prática das ações e a interação com a sociedade deve ser concretizada visando
a vivência cotidiana e a partir dela definir os problemas de segurança mais
prementes na sociedade.

86
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

Nesse capítulo, prezado aluno, entenderemos a filosofia da Polícia


Comunitária e qual é a base para sua organização operacional. Para esse intuito,
o Plano Nacional de Polícia Comunitária e os desafios da polícia cidadã em uma
crescente criminalidade serão analisados. Como você já deve ter percebido, as
mudanças de padrões e de ações são estabelecidas por um sincronismo com a
CF/1988, em que a segurança pública passou a ser evidenciada de fato como
protetora do cidadão.

Para alguns estudiosos e especialistas de segurança pública, como


Zaccone (2016) e Mendes (2012), a cultura da polícia militarizada não está
aberta aos sentidos e ensinamentos do padrão da Polícia Comunitária, e esse é
considerado o maior desafio para a prática do paradigma atual com o crescimento
das desigualdades sociais e o ritmo acelerado da violência em centros urbanos
(MENDES, 2012). O simples fato de as ações militares policiais estarem
historicamente ligadas aos conflitos mais militares do que policiais, são motivos
de uma rígida cultura de militarização baseada na violência (MENDES, 2012).

É necessária uma mudança na cultura organizacional das instituições de


segurança pública para o necessário desenvolvimento de uma polícia cidadã,
intentadas nas democracias da América Latina, como no Brasil, geralmente
oriundas de ditaduras e uso da força para manutenção do poder.

O modelo da segurança comunitária ainda parte de uma via de mão dupla,


quando se intenta o vínculo interativo entre instituições, a partir das pessoas que
fazem parte dessa vivência, de um lado os agentes de segurança e de outro a
população.

Nesse sentido, essa dualidade deve se transformar em um único consenso


em busca da melhor maneira de ação, almejando encontrar não somente “a
forma dos policiais se relacionarem com a sociedade, é necessário também que a
sociedade saiba se relacionar com os policiais” (ZACKSESKI; DUARTE, 2012, p.
78), sendo fundamental o desenvolvimento da interação social entre ambos.

4.1 POLÍCIA COMUNITÁRIA E


CIDADÃ: FILOSOFIA E ESTRATÉGIA
ORGANIZACIONAL
Agora que você já se familiarizou para a construção do padrão da Polícia
Comunitária, e como chegamos a essa reinterpretação das ações policiais,
importante destacar a definição mais usual utilizada em conceitos acadêmicos do
que realmente significa Polícia Comunitária:
87
SEGurANÇA PÚBLiCA

A Polícia Comunitária é uma filosofia de policiamento


personalizado de serviço completo, onde o mesmo policial
patrulha e trabalha na mesma área numa base permanente,
a partir de um local descentralizado, trabalhando numa
parceria preventiva dos cidadãos para identificar e resolver os
problemas (TROJANOWICZ; BUCQUEROX, 1994, p. 10).

Veja que a definição dada anteriormente inclui toda importância na parceria


preventiva (no plano filosófico que serve como base de ensino) e na interatividade
com os cidadãos, que labora com o poder legitimador da entidade e sua base
ideológica. Para Fernandes (1994, p. 10), trata-se de um:

[...] serviço policial que se aproxime das pessoas, com nome


e cara bem definidos, com um comportamento regulado pela
frequência pública cotidiana, submetido, portanto, às regras de
convivência cidadã, pode parecer um ovo de Colombo (algo
difícil, mas não é). A proposta de Polícia Comunitária oferece
uma resposta tão simples que parece irreal: personalize a
polícia, faça dela uma presença também comum.

Entretanto, o autor supracitado enfatiza que a filosofia para o labor policial


do novo paradigma encontra certas dificuldades, justamente na “cultura instalada
nas corporações policiais e legitimada pelo cidadão em decorrência do estímulo
da imprensa sensacionalista, do uso abusivo da força na coação à prática da
desordem, da violência e do crime” (FERNANDES, 1994, p. 10).

Essa alternativa ao modelo tradicional de segurança pública altera todo o


entendimento do que sejam os sintomas do crime, quando a posição da polícia
não se isola, mas integra parte da população que intenta defender. Nesse sentido,
prezado aluno, veja que a polícia cidadã apresenta, em suas formas, a importante
função multidisciplinar, que acentua a resolução de conflitos da comunidade em
sua raiz, ou seja, no próprio local conflituoso. Muitas vezes, o desvio, ou crime,
pode ser solucionado pelo próprio agente policial, de maneira extrajudicial, mas
junto à própria coletividade.

Se Deus quiser que venha armado, filme dirigido por Luís Dantas
em 2015, demonstra a participação de duas forças antagônicas,
que se colidem no cotidiano, em meio à vida social. A influência do
Primeiro Comando da Capital (PCC) nas vidas dos detentos, bem
como a violência policial sem limites, demonstrada na película e
aplicada nas comunidades, é totalmente o inverso do intentado
paradigma da Segurança Cidadã.

88
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

Após a segunda grande guerra, o Japão do século XX implantou diversos


postos de polícia conhecidos como Koban, que possuíam uma vigilância voltada
aos ideais democráticos. A Polícia Comunitária nipônica era muito assídua
em seu trabalho e mantinha um consistente convívio com os cidadãos. Visitas
comunitárias nos lares japoneses eram frequentes e denominavam-se junkai
renraku, que tinham a finalidade de levantar dados e informações que revelassem
distúrbios nos bairros, bem como suas motivações de ocorrerem na comunidade
(BAYLEY; SKOLNICK, 2001). Foi apenas no final da década de 1970 e início
nos anos 1980, que se tornou internacionalmente conhecida, sendo adotada
em diversos países da América do Norte e Europa Ocidental. Com intuito de
apresentar novos valores nas práticas policiais e uma mudança na cultura
organizacional, diversas inovações na maneira de se lidar com a criminalidade
surgiram (BAYLEY; SKOLNICK, 2001). Assim, foram traçados quatro elementos
inovadores que desencadeiam o policiamento comunitário e que devem estar
sempre presentes, são eles:

• Organização da prevenção do crime tendo como base a


comunidade: em uma inclusão com a sociedade da qual faz
parte o policial e seu labor, prestando serviço que se orienta
pelas bases comunicativas.
• Reorientação das atividades de policiamento para
enfatizar os serviços não emergenciais e para organizar
e mobilizar a comunidade para participar da prevenção do
crime: identificar os problemas a partir de análises realizadas
pela própria comunidade, objetivando diminuir a incidência
dos crimes, muitas vezes enfatizando um serviço público mais
operante para determinadas situações que o próprio direito
penal.
• Descentralização do comando da polícia por áreas: o que
favorece tanto a comunicabilidade entre os cidadãos e a polícia
quanto as análises estatísticas de crimes e desvios por local.
• Participação de pessoas civis, não policiais, no
planejamento, execução, monitoramento e/ou avaliação das
atividades de policiamento: significa engendrar mecanismos
que demonstrem as prioridades de determinada população, a
partir da participação popular. A parceria entre comunidade e
segurança pública deve tratar em conjunto dos problemas de
segurança, bem como avaliar e melhorar a qualidade de vida
social do local. Significa os ideais de democratização, dando
voz a própria comunidade que se intenta proteger (BAYLEY;
SKOLNICK, 2001, p. 224-232, grifo nosso).

Entretanto, esses quatro essenciais e primordiais elementos são bases para


a fundação do policiamento comunitário. Ainda é preciso mais. Como você viu,
para que um novo paradigma surja, além da crise no sistema usual, é necessário
que a real vontade ou pulsão para a mudança seja estabelecida, motivada pelos
próprios personagens que fazem parte do sistema que se intenta mudar (KUHN,
2006, p. 32). Assim, para consolidar a implantação desse tipo de policiamento,

89
SEGurANÇA PÚBLiCA

os estudiosos Bayley e Skolnick (2001, p. 233-236) nos apontam quatro fatores


essenciais. São eles:

• Envolvimento enérgico e permanente do chefe com os


valores e implicações de uma polícia voltada para a prevenção
do crime.
• Motivação dos profissionais de polícia por parte do chefe de
polícia.
• Defesa e consolidação das inovações realizadas.
• Apoio público, da sociedade, do governo e da mídia.

O envolvimento daqueles que estão no topo da hierarquia deve ser evidente


para que seus exemplos sejam seguidos e motivem a equipe profissional para
esse intuito. De nada adianta se não se verificar a defesa das inovações, uma
vez que a partir daí teremos a consolidação dos mecanismos projetados. Você
viu que um dos destaques dado pelos estudiosos citados anteriormente é o
apoio público de toda a sociedade e dos seus governantes, bem como da mídia.
Uma grande adversidade nos tempos atuais é o jornalismo de espetáculo e o
grande sensacionalismo que aciona um populismo penal, criando um sentido
de que apenas a penalização, a violência e as penas capitais seriam ideais
contra a crescente criminalidade. O espetáculo da mídia está presente “em toda
a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção”
(DEBORD, 1997, p. 34), que são apresentadas como uma enorme atração. Tal
representação é capaz de formular os gostos e de converter os valores antes
tidos como essenciais por intermédio da teatralidade e da ilusão, que o espetáculo
desenvolve.

4.2 AS CARACTERISTICAS DA
POLÍCIA COMUNITÁRIA
Originariamente, o Decreto Federal nº 88.777, de 30 de setembro de 1983
regulamenta as funções das Polícias Militares e dos Bombeiros. O patrulhamento
de maneira ostensiva também foi expresso como uma das funções policiais que
passou, com a forma comunitária de ação, a atentar para determinados princípios.
Não apenas a constitucionalização do direito que você já conhece, mas com o
advento de normas e regras que intensificaram a formação da Polícia Comunitária,
passaram a moldar a nova filosofia nas organizações policiais. São princípios que
caracterizam e padronizam a Polícia Comunitária:

•Reciprocidade entre polícia e população: a legitimidade


do Estado em produzir ordem por intermédio de seus
mecanismos de defesa e proteção é incontestável, mas a sua
capacidade ainda sofre inúmeras carências, precisamente
com o crescimento do crime organizado, da corrupção, e dos

90
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

novos modelos de crimes apresentados pelas crescentes


tecnologias, como a internet. A reciprocidade entre os
atores é um processo lento, de extrema necessidade para o
policiamento comunitário, uma vez que apresenta caminhos
não tão longos para o reconhecimento dos problemas sociais
das dinâmicas apresentadas por determinadas comunidades.
Nesse sentido, prezado aluno, aqui pode haver um aumento
da capacidade de proteção, por intermédio de um serviço de
inteligência chamado convivência social.
• Ação com diferentes órgãos: a integração com os órgãos
que compõe o sistema de segurança pública, num objetivo
comum com o Sistema de Segurança Pública, atende à
principal missão desse novo padrão, que é o atendimento
qualificado do cidadão. Para isso, você percebe a importância
da união não apenas desses objetivos, que são validados
por lei. De nada adianta se não os levar em frente. Para isso,
o desenvolvimento de ações com grupos organizados da
sociedade civil, como ONGS, órgãos menores de auxílio às
comunidades carentes e até mesmo envolvimento com as
atividades ecumênicas da região, são ações de integração. Só
que essas ações devem ser realizadas no próprio ambiente
policial, entre as polícias que precisam agir de forma integrada
para o sucesso do paradigma.
• Transparência e controle das atividades: a transparência
é a base para a confiança, não apenas entre os envolvidos
diretamente, mas também para indicar a importância da polícia
comunitária e suas alterações nas comunidades, com seu
novo pensar. De fato, é com a interação que se consegue essa
limpidez das ações de todos, desenvolvidas aqui em conjunto.
• Valorização do profissional em segurança pública: ao
realizar ações de formação continuada em treinamentos e
capacitação do profissional de segurança pública, este torna-
se pronto para o novo padrão, desempenhando sua função
em comunidade. É compromisso latente da Corporação
a promoção da defesa dos direitos dos policiais militares,
firmando convênios e parcerias com as defensorias públicas
e outros órgãos de importância, com intuito de facilitar a
assistência aos policiais (BAYLEY; SKOLNICK, 2001, p. 234).

Esses princípios apresentados por David Bayley e Jerome Skolnick (2001)


aos estudos de ações coletivas dos policiais nesse novo padrão apresentado,
juntam-se aos ideais da gestão participativa e de definições mais amplas
do que antes se considerava o trabalho policial, apontadas por Rosenbaum
(2002, p. 31-32):

a) uma definição mais ampla de ‘trabalho policial’;


b) um reordenamento das prioridades da polícia, dando maior
atenção ao crime ‘leve’ e a desordem;
c) um enfoque na solução de problemas e prevenção, mais do
que no policiamento direcionado ao incidente;
d) o reconhecimento de que a ‘comunidade’, qualquer que
seja sua definição, executa um papel crítico na solução dos
problemas da vizinhança;

91
SEGurANÇA PÚBLiCA

e) o reconhecimento de que as organizações policiais devem


ser reestruturadas e reorganizadas para serem responsáveis
pelas reivindicações deste novo enfoque e para encorajar um
novo tipo de comportamento policial.

As características apresentadas nos demonstram que o principal caractere da


filosofia policial do novo padrão é a que ressalta ser incomum aos órgãos policiais
até então, ser reconhecida pelo cidadão, mas fazendo parte da comunidade e,
ainda, reconhecendo-se como prestador de serviços. Esse envolvimento se
perfaz notoriamente além do estrito cumprimento do determinado em lei, mas
contribui para orientar as mudanças de comportamentos nas sociedades perante
as patrulhas policiais (ROLIM, 2006). Age, assim, preventivamente, ao entender
a cultura e as idiossincrasias inerentes ao bairro que está sob sua proteção,
podendo causar maiores impactos aos pequenos incidentes, como a desordem,
dirigindo suas ações às raízes motivacionais daquele problema, naquela região.
Prestando o serviço de auxiliador da comunidade, não apenas como o policial
ostensivo e patrulheiro do local, o profissional recebe importante atenção e passa
a ser um controlador das ações sociais ao redor.

Os pensadores aqui transcritos, como Bayley, Skolnick (2001) e Rosenbaum


(2002) são assertivos em definir que a participação social é o fator de sucesso ou
não do policiamento comunitário:

O amplo papel do Policial Comunitário exige um contato


contínuo e sustentado com as pessoas da comunidade,
respeitadoras da lei, de modo que possam, em conjunto,
explorar novas soluções criativas para as preocupações
locais, servindo os cidadãos como auxiliares e voluntários
(TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 1994, p. 11).

Prezado aluno, trazemos o exemplo das patrulhas escolares que devem,


na prática, estar presentes em todas as comunidades. Suas rondas ostensivas
amplificam o contato com as famílias e preservam os locais de grande intensidade
de trânsito dos cidadãos, que são as escolas. Esse é um planejamento e uma das
diretrizes primordiais do Plano Nacional de Polícia Comunitária, o qual trazemos
seus apontamentos mais importantes a seguir. Vamos lá!

4.3 O PLANO NACIONAL DE POLÍCIA


COMUNITÁRIA
A Portaria nº 43, de 12 de maio de 2019, institui a Diretriz Nacional de Polícia
Comunitária e cria o Sistema Nacional de Polícia Comunitária, determinando o
Manual da Polícia Comunitária no país. Veja que em suas principais diretrizes o

92
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

conceito de visão sistêmica da polícia se estende à filosofia desse novo modelo,


que inspira toda a instituição policial por meio de uma estratégia organizacional
moderna.

É importante, prezado aluno, entender as diretrizes que enfocam


as características dessa filosofia que se estende por todo o conceito
de polícia, alterando a maneira qual o entendíamos. Então, vamos às
principais instruções de procedimento organizacional. São diretrizes
nacionais para o novo padrão:

Diretriz 1 – Visão sistêmica da Polícia Comunitária: entendida


como filosofia e estratégia organizacional que deve permear
toda a instituição policial e não apenas constituir um programa de
policiamento ou fração de efetivo.

Diretriz 2 – Conteúdo obrigatório nas malhas programáticas dos


cursos de formação e aperfeiçoamento: conteúdo obrigatório nas
malhas programáticas dos cursos de formação e aperfeiçoamento
com aulas a serem ministradas por multiplicadores formados nas
capacitações estaduais, nacionais ou internacionais.

Diretriz 3 – Preferência pelo emprego de todos os policiais


recém-formados na atividade de Policiamento Comunitário: fixação
de seu emprego por período que propicie o estabelecimento de laços
de confiança com a comunidade local.

Diretriz 4 – Utilização de ações policiais sociais como meio de


aproximação comunitária, de forma a contribuir com o policiamento
comunitário e não como fim: utilização de ações policiais sociais
como meio de aproximação comunitária, de forma a contribuir com o
policiamento comunitário e não como fim, e por prazo certo, dentro da
dinâmica operacional de cada instituição, tendo em vista que estas
oneram efetivo profissional imprescindível para a atividade policial
e devem ter sua continuidade preferencialmente empreendida por
voluntários oriundos da comunidade, prática que deve ser incentivada
e valorizada na sociedade. Entende-se ação policial social aquela
empreendida em prol da comunidade local, mas que não demande
para sua implementação de profissional com formação e experiência
na área de segurança pública, por exemplo, o ministério de aulas de
música ou esportes. Não estão inclusas nesta classificação as ações

93
SEGurANÇA PÚBLiCA

de policiais em escolas quanto à conscientização da prevenção do


uso de drogas (PROERD) e outras similares, as quais requerem
expertise em segurança pública por parte do agente, a fim de que
seja propiciado ao público-alvo um completo panorama do problema
sob perspectiva institucional. Destaca-se que, neste programa,
os policiais atuam realizando, concomitantemente, policiamento
comunitário escolar, aplicação de lições em salas de aula e constante
interação junto às comunidades locais atendidas, sendo, portanto,
considerado atividade de policiamento comunitário.

Diretriz 5 – Estruturação e normatização dos Conselhos


Comunitários de Segurança: importância da estruturação e
normatização dos Conselhos Comunitários de Segurança, ou
organismo congênere, para a integral implementação do Sistema,
por meio de fórum de comunicação presencial entre os gestores de
segurança pública, municipalidade e a comunidade, de forma que
seus anseios sejam ouvidos e levados em consideração quando do
planejamento e ação operacional das instituições, bem como seja
incentivada a consciência de corresponsabilidade na construção de
uma sociedade segura, meta a ser alcançada pela ação sinérgica de
todos os atores envolvidos.

Diretriz 6 – Colaboração federativa: implementação de


mecanismos de inter-relação e colaboração federativa para
multiplicação de boas práticas e aperfeiçoamento do Sistema, por
intermédio de mecanismos como as visitas técnicas e os seminários.

Diretriz 7 – Disseminação e uniformização da filosofia de polícia


comunitária: disseminação e uniformização da filosofia de polícia
comunitária entre todos os atores do Sistema de Segurança Pública
brasileiro, preferencialmente a partir de profissionais multiplicadores
capacitados. Devem as unidades da federação primar por manter
uma identidade mínima de policiamento comunitário que mantenha,
como princípio básico de atuação norteadora de toda estrutura,
a fixação do efetivo na área de atuação, a realização de visitas
comunitárias e solidárias, a realização de reuniões comunitárias,
a mobilização comunitária e, sobretudo, que se dê autonomia de
ação ao policial comunitário dentro de sua esfera de atribuições.
Cabe destacar que a presente diretriz deve ser entendida como uma
meta a ser alcançada por meio de esforços institucionais de todos
os atores envolvidos na área de segurança pública, não constituindo
obrigação exclusiva de uma instituição.

94
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

Diretriz 8 – Mobilização e ação sinérgica com os atores


responsáveis pela implementação de Políticas Sociais: participação
de Organizações Sociais, Instituições Públicas e/ou Privadas de
todas as esferas para criar e fortalecer, de forma transversal, o
sistema com foco no cidadão.

Diretriz 9 – Mensuração das ações de Polícia Comunitária:


sistematizar modelos de mensuração das ações de Polícia
Comunitária, proporcionando a valorização de ações preventivas e
melhorando a motivação do profissional de segurança pública, com
reconhecimento e/ou premiação periódica.

Diretriz 10 – Comunicação ágil entre as esferas federal, estadual


e municipal: comunicação ágil das esferas de poder, propiciando
o fluxo de informações pelo canal técnico, devendo ser mantido
atualizado o nome do Coordenador Estadual de Polícia Comunitária
junto à SENASP.

Diretriz 11 – Eficácia da polícia é medida pela percepção de


segurança e ausência de crime e de desordem: eficácia da polícia
é medida pela percepção de segurança e ausência de crime e de
desordem e não, tão somente, por meio de quantificações de prisões,
apreensões de produtos ilícitos, operações, dentre outras.

Diretriz 12 – Retroalimentação da gestão operacional:


avaliações periódicas alicerçadas não só em dados estatísticos
criminais, mas também com as contribuições advindas da interação
com a comunidade.

Diretriz 13 – Cidadão cliente: o cidadão é o “cliente” por


excelência das instituições de segurança pública, que devem manter
seu esforço e foco em prol da sociedade, materializando o conceito
de que a Segurança Pública é um bem imaterial.

Diretriz 14 – Prestação de contas: o policial presta contas de


seu trabalho aos respectivos superiores hierárquicos e a instituição
policial à comunidade por meio de reuniões comunitárias.

Diretriz 15 – Manutenção permanente de desafios: visão


interacionista deve ser enfatizada como mudança de foco dos
conflitos, encorajando-os com vistas a estabelecer grupos
harmoniosos, pacíficos e cooperativos, controlando comportamentos
estáticos e apáticos.

95
SEGurANÇA PÚBLiCA

Diretriz 16 – Respeito mútuo: o relacionamento institucional


junto às comunidades deverá pautar-se por meio de características
fundamentais que permeiam o processo de comunicação e mútuo
respeito devidos, por meio da empatia, alteridade, bom senso,
cooperação, probidade, dentre outros aspectos que agreguem
valores positivos necessários às instituições policiais envolvidas.

Diretriz 17 – Responsabilidade territorial: o policiamento


comunitário, no âmbito das instituições policiais envolvidas, será
implementado aproveitando-se quaisquer processos de policiamento
desenvolvidos in loco de forma a garantir a fixação do efetivo e a
responsabilidade territorial, adaptável a cada realidade local no
âmbito das Unidades da Federação.

Diretriz 18 – Engajamento dos mais altos níveis: as altas


direções deverão primar pela continuidade dos serviços prestados
com foco voltado à aproximação institucional com a sociedade, por
meio de tecnologias administrativas e operacionais sustentáveis.
Bem como incentivar seus subordinados ao desenvolvimento
contínuo de práticas de polícia comunitária.

FONTE: BRASIL. Portaria nº 43, de 12 de maio de 2019. Institui a


Diretriz Nacional de Polícia Comunitária e cria o Sistema Nacional de
Polícia Comunitária. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/
portaria-n-43-de-12-de-abril-de-2019-72119348. Acesso em: 6 jun.
2021.

A partir desse planejamento legalizado por lei, surge a Diretriz Nacional


de Polícia Comunitária, que traz o enfoque principal do modelo a ser utilizado,
em três principais objetivos: a padronização dos fundamentos e dos conceitos
de Polícia Comunitária; a divulgação das diretrizes gerais do Plano Nacional
de Polícia Comunitária; e inspirar e basear a institucionalização de políticas e
estratégias organizacionais de Polícia Comunitária no âmbito das instituições de
Segurança Pública.

Para a implantação de um policiamento como o intentado, as funções precisam


ser analisadas antes, com a utilização de pesquisas elaboradas que propiciem
o real cenário em que será pavimentado a organização do policiamento social.
Nesse conjunto de diretrizes existem alguns passos iniciais do planejamento que
não podem passar em branco. Imagine a instalação de uma polícia nos moldes
comunitários em locais de amplo risco social, controlado pelas facções do tráfico
96
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

de drogas com violência e hostilidade. A ameaça seria maior para os profissionais


e para as famílias que se pretende proteger. Por isso, as análises evidenciam qual
a melhor estratégia a ser tomada, para uma mais benéfica experiência dos novos
modelos policiais. São passos iniciais e essenciais:

QUADRO 1 – PASSOS INICIAIS PARA O PLANEJAMENTO


Primeiro passo Identificação do problema
Segundo passo Análise do problema
Terceiro passo Planejamento das ações
Quarto passo Implementação das ações
Quinto passo Avaliação das ações implementadas
FONTE: Adaptado de <https://https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/
Kujrw0TZC2Mb/content/id/72119545>. Acesso em: 21 jun. 2021.

Você pode acessar todo o conteúdo da Diretriz Nacional de


Polícia Comunitária pelo endereço: https://www.in.gov.br/materia/-/
asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/72119545

Entretanto, diversos são os desafios dos profissionais da segurança pública


na aplicação da polícia comunitária na sociedade. Veja que algumas adversidades
podem partir, tanto de dentro da corporação como da própria comunidade que se
projeta a proteção pelos novos modelos.

4.4 DESAFIOS E PROBLEMAS DA


POLÍCIA COMUNITÁRIA NO BRASIL
Prezado aluno! Como você notou, uma mudança de paradigma não é algo
considerado fácil, mesmo os padrões anteriores estando sufocados em crises e
conceitos superados, ainda assim há resiliência. Isso, por si só já gera um desafio
imenso ao novo modelo que se instala. Um modelo de segurança pública implica
em alterações mais severas em todo o contexto, principalmente na participação
do Estado na vida das pessoas. A maneira que o ente maior participa no percurso
da sociedade é por intermédio das políticas públicas. O jeito com o qual se faz
políticas públicas é a forma que o novo padrão se molda nos alicerces estruturais
das comunidades. Para esse intento, padronizar os modelos em conjunto ainda
parece carecer de muitas coisas.
97
SEGurANÇA PÚBLiCA

Convidamos você, caro aluno, a apreciar o artigo Tensões


e desafios de um policiamento comunitário em favelas do Rio de
Janeiro: o caso do grupamento de policiamento em áreas especiais.
As autoras Albernaz, Caruso e Patrício (2007) apresentam a
dimensão das tensões e dos desafios na implantação do policiamento
comunitário em favelas do Rio de Janeiro, trazendo casos concretos,
importantes para o estudo. Vamos lá!

FONTE: <http://produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v21n02/
v21n02_04.pdf>. acesso em: 20 jun 2021.

Como já vimos, as gritantes diferenças sociais e o abismo que existe entre


as classes estruturam um tipo de sociedade em constante desigualdade. Esse
contraste implica em diversas características espalhadas cidades afora, que
devem ser pensadas antes de se produzir uma política pública. Por exemplo,
diversos são os locais dentro de uma cidade grande que não há água encanada,
saneamento básico ou energia elétrica. Dessa forma, é impossível uma
padronização do serviço policial comunitário, quando as mazelas que explodem
em comunidades carentes são ligadas às mais intrínsecas condições de
sobrevivência. Assim, percebemos que o sucesso desse sistema de segurança
pública está intimamente conectado aos órgãos públicos externos ao serviço
policial.

Os serviços de infraestrutura básicas no país são prestados de maneira


precária em algumas comunidades, desde o transporte público à ausência de
escolas de educação básica, tornam o ambiente com características mais hostis,
o que sugere um maior descontentamento com qualquer atividade de polícia que
venha a ser instalada. A maneira precária que são prestados os serviços públicos
mais básicos à comunidade, especialmente a mais carente, danifica o potencial
de atuação do policiamento comunitário (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX,
1994). Nesse ponto:

Vale lembrar que o policiamento comunitário tem como objetivo


a resolução de problemas e que a noção de ‘’problema’’ se
amplia consideravelmente quando são levados em conta,
além de crimes e delitos, outros sintomas de desordem numa
comunidade, ou quando se passa de uma atuação meramente
reativa e repressiva a outra que enfatiza a prevenção de
distúrbios e a negociação de conflitos. Logo, os propósitos
desse policiamento necessariamente ultrapassam o estoque
de recursos das instituições policiais, por melhor equipadas e
98
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

eficientes que elas possam ser. Para incrementar a ‘’qualidade


de vida’’ e para prevenir o crime num ambiente de médio
ou longo prazo, quase sempre requer-se a mobilização de
serviços externos à polícia, devendo-se presumir que os
órgãos responsáveis não se recusarão a fornecê-los (MUNIZ
et al., 1997, p. 201).

Além disso, outros são os problemas que enfrenta o novo padrão e as


dificuldades de transpor o pensamento de polícia clássica para consolidação do
modelo por nós analisado.

Bayley e Skolnick (2001) ampliaram os estudos das principais dificuldades


para implantar o policiamento comunitário, os problemas vão de estruturais e
corporativos até os conflitos externos a ele, como o próprio apoio da sociedade
em geral:

• Deve haver uma reestrutura cultural no comportamento


tradicional policial, acostumado numa pronta resposta ao crime
mediante o uso da força.
• Reestrutura do próprio pensamento da sociedade em sua
expectativa da pronta resposta policial pelo uso da força para
manutenção da lei e ordem para garantir assim a segurança
pública.
• Há limitação dos recursos disponibilizados aos profissionais
de segurança pública para o atendimento das ocorrências e
nas investigações policiais.
• Há o corporativismo dos policiais, expresso principalmente
através das suas associações profissionais que temem a
erosão do monopólio da polícia na área da segurança pública
e, consequentemente, a redução do emprego, do salário e
dos benefícios dos policiais, além daquele decorrente do
crescimento da segurança privada, e também o aumento
de responsabilização dos profissionais de polícia perante a
sociedade.
• Há a incapacidade de monitoramento e avaliação do trabalho
policial realizada por suas organizações, levando em conta
eficácia, legitimidade e eficiência.
• Existem as divisões e conflitos entre os policiais da direção e
os da ponta da linha, entre policiais experientes e os policiais
novos – e, no caso do Brasil, uma dificuldade adicional
seria a divisão e conflito entre os policiais responsáveis pelo
policiamento ostensivo na polícia militar e aqueles responsáveis
pela investigação criminal na polícia civil.
• Existem as divisões e conflitos entre a polícia e outros setores
da administração pública.
• Existem as divisões e conflitos entre grupos e classes sociais
no interior da comunidade (BAYLEY; SKOLNICK, 2001, p. 238-
239).

Além desses problemas que devem ser solucionados, alterar valores e


princípios pré-constituídos é outra árdua missão. Bayley e Skolnick (2001, p. 202)

99
SEGurANÇA PÚBLiCA

afirmam que “o policiamento comunitário deve antecipar e facilitar uma mudança


de valores. Isso não é fácil de ser realizado. Para aqueles que de fato tentarem
fazer tal mudança é quase certo que vão encontrar limitações identificáveis e
persistentes que resistirão a ela”. Nesse sentido, o papel a ser desempenhado
pelas lideranças policiais é primordial para afetar a ordem estabelecida com as
inovações e experiências do policiamento social ou comunitário.

Outro enfoque desencadeador de problemas é referente às dificuldades


observadas aos aspectos legais envolvidos. O modelo de gestão proposto
tende a descentralizar. Entretanto, à proporção que se descentraliza o poder,
mais complicada é a forma da manutenção do controle gerencial das atividades
policiais. Para isso, Skogan (2004, p. 48) afirma que os “sistemas de registro
de ocorrências devem ser melhorados e aprimorados, fiscalizações periódicas
e inopinadas devem ser implantadas e mecanismos de punição devem ser
aperfeiçoados para permitir rapidez, eficiência e respostas à comunidade”.

Tudo isso ainda se inicia no treinamento e na capacitação do profissional


de segurança pública. A reestruturação da polícia deve ter seu início a partir da
primeira formação profissional, com o desenvolvimento dos ideais da polícia
comunitária e de promoção humana já no principiar do treinamento policial.

Prezado aluno! Vamos revisar as importantes normas básicas


para uma melhor experiência do policiamento comunitário? São elas:
organizar a prevenção do crime com base na comunidade; enfatizar
os serviços não emergenciais nas atividades de patrulhamento;
aumentar a responsabilidade das comunidades locais; descentralizar
as estruturas de comando e controle (BAYLEY; SKOLNICK, 2001).

1 Dentre as concepções que definem a segurança pública no


Brasil, formuladas por ações balizadas pela política de segurança
pública, existe uma compreensão mais atenta aos direitos sociais
e que contempla medidas administrativas de redução de riscos.
Sobre esse tema, assinale a alternativa CORRETA:

100
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

a) ( ) O padrão reminiscente do paradigma da Segurança Nacional


possui pretensões que jazem internalizadas nas instituições
de segurança pública, como os princípios mais comuns do
policiamento comunitário, portanto, é o padrão a ser adotado.
b) ( ) O sentido descentralizador do controle do policiamento
comunitário carece de normatizações acerca de seus institutos,
pois à proporção que se descentraliza o poder, mais complicada
é a forma da manutenção do controle gerencial das atividades
policiais.
c) ( ) As concepções definidoras do interpretar da segurança no
Brasil são condizentes às políticas públicas implantadas no país,
independente do paradigma que se vivencie.
d) ( ) Os direitos fundamentais são aqueles implementados pelo
constituinte para contemplar a ampla cidadania da pessoa,
estando à disposição de mudança em prol da segurança pública,
conforme a concepção adotada pelo paradigma usual.

2 Quanto ao fluxo das análises para uma melhor estratégia


que deve ser tomada para a proteção comunitária, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Análise do Problema -> Identificação do Problema ->


Implementação das ações -> Avaliação das Ações -> Planejamento.
b) ( ) Planejamento inicial -> Identificação do problema -> Análise do
Problema -> Implementação das ações -> Avaliação.
c) ( ) Identificação do problema -> Análise do Problema ->
Planejamento das ações.
d) ( ) Implementação das ações -> Avaliação -> Análise.

3 A padronização do policiamento se dá por treinamento específico


e por normas que se definam através de princípios, e os
mandamentos que se segue no paradigma da Polícia Comunitária
são aqueles apregoados pela CF/1988. Nesse sentido, classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

a) ( ) As diretrizes para a Polícia Comunitária são essenciais


para a confecção do plano que moderniza o novo padrão, não
evidenciando, entretanto, novas interpretações para o sistema do
policiamento.
b) ( ) Direitos Fundamentais são primordiais para o sucesso da
polícia comunitária, pois dependem das políticas públicas para ter
sua realização no plano concreto.

101
SEGurANÇA PÚBLiCA

c) ( ) O uso da força deve ser sempre comedido, porém deve


também ser priorizado para o sucesso da polícia cidadã.
d) ( ) Políticas públicas tendem a padronizar o policiamento
comunitário e a respaldar sua filosofia, alicerçando seus motivos
e princípios.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – F – V – F.
b) ( ) F – V – F – V.
c) ( ) F – V – V – F.
d) ( ) V – F – V – V.

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Prezado aluno! Determinamos, nesse capítulo, que o sistema de Defesa
Social somente pode ser capaz de protagonizar o novo paradigma da Segurança
Cidadã se cumprir sua funcionalidade original. A interpretação da Escola Clássica
do Direito Penal (século XVIII, movimento iluminista) acerca da definição e
aplicação do conceito, busca por garantias que defendem o cidadão dos poderes
dos governantes, tão elevados naquelas épocas de mudanças na Europa.

Você estudou que a ideologia da defesa social empresta seus conceitos


mais intrínsecos ao sistema de defesa social, que é utilizado em grande parte
das organizações da segurança pública no mundo. Esses princípios surgiram
maculados a partir da Escola Positivista do Direito Penal (século XIX), que
assegurou maior importância de teses biológicas e psicológicas, em detrimento
de um estudo mais analítico do que seja crime. Analisar e afirmar o criminoso
por marcas, medições físicas ou por problemas que possam ser hereditários
é alterar a motivação do estudo do que é crime e quais seus motivos para a
pessoa do criminoso. Nesse sentido, estuda-se então a pessoa e seus trejeitos.
Isso pode ser perigoso, pois além de abrir possibilidades de marcação daqueles
considerados hostis, pode servir para propósitos higienistas, que venham a ser
balizados pelo sistema que se adota, criando e desenvolvendo concepções de
inimigos ideologicamente. Essa estigmatização perdura até hoje, cada vez mais
descomedida, seja exercida pela diferença da cor da pele, pelo nível social e
econômico, pelo credo e até mesmo pelas diferenças culturais.

A perspectiva após a redemocratização do país é a de respaldo ao direito da


dignidade da pessoa, acentuada pelos direitos humanos e descritos pelos direitos
fundamentais. Nesse sentido, para impulsionar o conceito de Polícia Cidadã ou

102
Capítulo 2 SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA

Comunitária, não há conteúdo jurídico de leis melhor. Só que fazer valer as normas
legais pelos princípios corretos é o mais urgente. As premissas que destacam o
poder democrático ainda engatinham quando as políticas públicas estão longe de
atingir seu potencial e seus mais necessitados personagens.

Caro aluno, nesse capítulo, você estudou que, para a real transformação
do paradigma da segurança social, as políticas públicas de qualidade são
importantes. Sem elas, qualquer manejo diferente por parte de adventos da
segurança pública será visto como mais uma intervenção legal à base da força,
do controle e da marcação dos órgãos penais do Estado. Por esse motivo, é
importante a promoção e efetivação das políticas públicas, em principal destaque
nas comunidades mais carentes do olhar e do cuido estatal, para se ir alterando
as concepções históricas já moldadas nas mentes e na experiência de todos.

Ao aplicar a Polícia Comunitária, após o primordial passo citado anteriormente,


é preciso envolvimento. Nenhum grande projeto sai do papel e ganha destaques
positivos se não tiver comprometimento dos atores principais. Para isso, todos
os personagens precisam estar a par de seus papéis: os comandantes devem
obedecer às normas do novo modelo, repassando e transmitindo confiança no
inédito padrão a ser utilizado; os treinamentos ao policial deve se iniciar desde
cedo, enfatizando os direitos de cidadania e direitos humanos e a sua ação
perante isso tudo; os governantes precisam divulgar o novo olhar da segurança
para a comunidade abrindo os caminhos por intermédio das políticas públicas,
os sindicatos e organizações de proteção ao policial devem valorizar sobretudo o
profissional e seus anseios; e aos policiais cabe se aprofundar no modelo utilizado,
entendendo-se como essencial parte da sociedade que pretende defender.

Todos os passos que você viu para a tomada das ações do policiamento
comunitário envolvem diversas organizações, o que, por sua vez, abrangem
muitas pessoas. A importância do agente policial é fundamental para o sucesso
da missão comunitária. É a partir dele que haverá ou não aceitação e sucesso.
Portanto, assim como a população, o profissional é peça essencial nesse tabuleiro
contra o crime. Sua presença nas comunidades altera a rotina, mas sua aceitação
capacita a sociabilidade. Entretanto, inúmeros são os problemas sociais e diversas
as adversidades causadas pelo crime, principalmente o crime que se organiza.
Para o policiamento comunitário, deve-se dar um passo de cada vez, e o principal
movimento em um país com tantas desigualdades sociais e dificuldades inúmeras
das populações mais carentes deve ser dado pelos nossos governantes.

Lembre-se de que a corrupção é crime que se organiza em benefício de


poucos e em detrimento de muitos. Num país em que uma criança de comunidade
carente vai à escola para ter sua primeira refeição do dia, quem sabe a única, a
Polícia Comunitária é muito bem-vinda, pois se faz parte da comunidade, sente

103
SEGurANÇA PÚBLiCA

como as pessoas comunais, degusta seus problemas e por que não auxilia na
remoção desses mesmos obstáculos.

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107
SEGurANÇA PÚBLiCA

108
C APÍTULO 3
PLANEJAMENTO E GESTÃO:
A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Identificar as estratégias de segurança pública que permitem uma análise dos


sistemas de gestão.
• Conhecer os processos de gestão relacionados aos direitos humanos.
• Criticar modelos de gestão dissonantes dos mandamentos constitucionais.
• Descrever uma visão estratégica de administração na definição de projetos
e políticas orientadas ao atendimento dos interesses do cidadão e das
organizações de segurança pública.
• Refletir sobre os diversos planejamentos estratégicos possíveis e adotar um
modelo de governança comum a uma política de segurança pública eficiente e
humanizada, organizando os saberes desenvolvidos pelas normas legais.
• Articular a construção de conhecimentos e domínio na utilização dos diferentes
instrumentos e técnicas de gestão de segurança pública.
• Organizar o modelo de gestão orientado pela capacidade de informação por
sistemas interligados de análises de dados, quantitativos e qualitativos.
• Mapear pontos críticos de anomia e violência.
SEGurANÇA PÚBLiCA

110
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Prezado aluno! Você viu que garantir a segurança de todos é uma
árdua missão que implica diversas dificuldades específicas das imensas
responsabilidades que são colocadas nas mãos de pessoas, que, como nós,
possuem seus próprios dilemas e medos pessoais, anseios e desejos. O agente
profissional de segurança pública passa por treinamentos específicos em sua
carreira, para atender à essencialidade de sua atividade, que é proteger. Com o
novo modelo de polícia comunitária, essa capacitação foi alterada e reiniciada a
partir dos padrões que se deseja seguir. A preparação do profissional passou a
ser mirada para a sociabilidade e o encontro comunitário, não sendo mais uma
preparação para a guerra contra o inimigo. Isso somente é possível por intermédio
de diversas estratégias de organização do tempo, estudo e da qualificação dos
atores responsáveis pela proteção de todos.

Não se refere apenas a uma estratégia de treinamento. A mudança de um


paradigma, fundado em suas crises intermináveis e em vícios inexauríveis para
um novo conceito norteador dos valores a serem aplicados, exige que a crise seja
superada. Ainda assim, é constante a batalha contra os resquícios do passado,
remanescentes de uma era que suprimia direitos e liberdades. Como você viu
no capítulo anterior, a segurança pública vem se direcionando na defesa desses
ideais, ao alavancar as convicções mais características da cidadania. Ao mudar
o foco de proteção do Estado para as pessoas, há uma alteração derivada das
normas legais que antes eram carentes na identificação do labor e importância
policial, não há como o instituto de segurança ter outro enfoque de proteção que
não sejam os direitos fundamentais e os direitos humanos.

Contudo, você verificou que os problemas do nosso país, tais quais a


estereotipação do outro e o desprezo do Estado pelos direitos fundamentais são
grandes vilões para a segurança pública, uma vez que ela não depende apenas
das suas próprias mudanças de conceitos, padrões ou paradigmas. Depende
também de ações externas a ela, como aquelas que competem ao Estado na
proteção dos direitos fundamentais. Não há nada que a polícia e seus padrões,
que se tornam novos, possam fazer contra o afastamento do Estado às políticas
públicas inclusivas para as populações mais carentes de nossa sociedade. Isso
porque segurança pública e políticas públicas estão intermitentemente ligadas.
Dessa forma, você percebeu que a mudança não parte apenas de um lado do
tabuleiro, mas de todas as peças, de todos os lados.

Não se trata apenas de uma transição de pensamento, o que por si só se


esvai com o tempo. É uma mutação na forma com a qual se governa e se aplica
a estratégia ao planejamento para o novo sentido, em busca da excelência. Essa

111
SEGurANÇA PÚBLiCA

estratégia deve ser planejada em virtude do paradigma da Segurança Cidadã. Por


esse motivo, também é novo o modelo que atualiza a governança da segurança
pública, tendo os seus exemplos retirados das grandes companhias e empresas
de sucesso no mundo dos negócios, de uma robusta obediência às analises
estatísticas qualitativas, e uma imersão na busca pelo êxito dos princípios do novo
padrão, como se fosse uma empresa no mundo capital em busca de seu sucesso
econômico. Esses sentidos alteraram não apenas a maneira de se estruturar
as básicas funções atribuídas aos nossos policiais, mas também a forma pela
qual suas ações devem ser realizadas para refletir a aspiração da administração.
Esses números a ser atingidos devem ser vistos com responsabilidades inerentes
ao padrão que se vive.

Fazer segurança pública, então, passou a ser um encontro entre a


reestruturação e o antigo. Cabe aos agentes profissionais demonstrar por suas
atitudes a nova administração dessa instituição que não busca lucro, mas deve
estar sempre à procura de certificar a cidadania de todos.

Nesse derradeiro capítulo de nossa saga nos estudos da segurança do


Estado ao seu cidadão, analisaremos como o planejamento estratégico passou
a ser aplicado à luz dos conceitos de uma governança corporativa no sentido de
buscar a melhor estratégia que atente aos ideais do novo padrão. Dessa forma,
veremos como os planos nacionais de segurança públicas, seja ele Estadual ou
Nacional, assistem essa nova visão e se eles alcançam os modelos de gestão
atuais. Alguns modelos de gestão policial podem ser utilizados para afastar os
conceitos do novo paradigma, como o famoso modelo da Tolerância Zero e qual
seria a forma de combater esses ideais em relação à polícia comunitária, por
intermédio de uma gestão de qualidade, orientada pela inteligência.

Vamos lá!

2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
APLICADO À SEGURANÇA PÚBLICA
Prezado aluno, você verá que o conceito de estratégia e planejamento,
apesar de serem ambos expressos nos dicionários e terem seus conceitos
descritos a partir de adjetificações similares, para a segurança pública essas
palavras possuem significados ímpares. A princípio, planejamento se define
como a “ação de preparar um trabalho, ou um objetivo, de forma sistemática” ou
a “ação de planejar e elaborar um plano” (DICIO, 2021, s.p.). Ainda, seu conceito
mais desenvolvido invoca a “determinação das etapas, procedimentos ou meios
que devem ser usados no desenvolvimento de um trabalho, festa, evento” (DICIO,

112
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

2021, s.p.). Já estratégia traz a ideia de “meios desenvolvidos para conseguir


alguma coisa, forma ardilosa que se utiliza quando se quer obter algo” ou
“habilidade e astúcia na coordenação militar, política econômica e moral feita com
intuito de defender uma nação de seus possíveis invasores” (DICIO, 2021, s.p.).

Planejamento significa todo um processo decisório que determina “o que


deve ser feito e como deve ser feito” (ACKOFF, 1976, p. 103). Porter e Kramer
(2006) desenvolvem o conceito de estratégia para qualquer organização que
dela se utilize, como a busca pelas melhores práticas, realizando atividades de
forma diferentes que os seus competidores, colocando-se em uma posição única
e exclusiva.

Foi com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) que cinco básicas definições
de estratégias passaram a reinterpretar o sentido, englobando seu significado a
partir de planos elaborados:

Estratégia como plano: direção, guia, curso de ação ou planos


para se atingir resultados consistentes com as missões e
objetivos da organização.
Estratégia como padrão de comportamento: consistência de
comportamento ao longo do tempo.
Estratégia como posição: localização de determinados
produtos em determinados mercados.
Estratégia como perspectiva: a maneira fundamental de uma
organização fazer as coisas.
Estratégia como truque: uma manobra específica para enganar
um oponente ou concorrente (MINTZBERG; AHLSTRAND;
LAMPEL, 2000, p. 392).

Para a segurança pública, a diferença entre os significados se apresenta


justamente quando planejamento e estratégia são colocados na questão ou
no planejamento do que é público. Nesse sentido, prezado aluno, a clareza,
publicidade dos atos e a transparência possuem influências no conceito dessas
palavras.

A partir dessas definições, o planejamento estratégico, para a área da


segurança pública, não se confunde com planejamentos de empresas diversas
oriundas do sistema capitalista de produção. Entretanto, diversas são as
influências que se destacam, como o padrão de comportamento dos profissionais
que se alteram e buscam consistência ao longo das etapas históricas definidas
pelo paradigma que se utiliza. A estratégia empresarial não pode ser aplicada
por completo na segurança pública, se seus atores possuírem diferenças bem
realçadas, como alerta Huertas (2016). Um exemplo de dessemelhança é a
busca pelos lucros das empresas, que especificam determinadas estratégias,
incentivando seus protagonistas somente para esse fim.

113
SEGurANÇA PÚBLiCA

Ainda, por mais diferenças que existam, uma qualidade que pode
O principal propósito
para uma política ser aplicada ao planejamento público advém dos planos estratégicos
pública fundamenta- corporativos. Aqui, a diferença está nos atores ligados diretamente
se na promoção do à política. Assim, as estratégias se definem a partir de métodos
bem-estar social ao complacentes à questão pública. Para Pfeiffer (2000), o planejamento
sanar problemas estratégico para o setor público serve como um “instrumento de
que, fincados na
gerenciamento”, capaz de tornar mais eficiente o propósito específico
sociedade, causam
algum distúrbio. acentuado pela gestão. Nesse setor, valorizar a assistência às
necessidades da população é o principal foco a ser atendido. Para isso,
instituir a missão, a visão, a organização, a clientela, o propósito de atuação e a
forma de atuação são condições imprescindíveis (PFEIFFER, 2000). O principal
propósito para uma política pública fundamenta-se na promoção do bem-estar
social ao sanar problemas que, fincados na sociedade, causam algum distúrbio.

Você já sabe que quando se fala em segurança pública, essas políticas


devem estar coadunadas para a diminuição dos índices de criminalidade, em
busca de ambientes seguros. Assim, o planejamento necessita estar balizado por
decisões técnicas, na escolha de objetivos “bem determinados e que determine
os meios mais apropriados para atingi-los” (CAMARGOS; DIAS, 2003, p. 133).

Quando consideramos os níveis hierárquicos para as tomadas de decisão,


bem como para a realização do que foi decidido, pensamos em uma pirâmide
organizacional. Essa deve estar estabelecida em um patamar que possa distinguir
os três principais níveis do planejamento, são eles:

• Nível estratégico: na organização, seria o nível institucional,


em que os gestores avaliam, em todos os sentidos, as
possibilidades de um planejamento.
• Nível tático: aqui, no planejamento tático, há a interpretação
da missão repassada pelo nível acima, transformando-os em
planos de ação concreta.
• Nível operacional: a condução do plano traçado pelos
departamentos acima, deve ser certa e precisa (CAMARGOS;
DIAS, 2003, p. 133).

Prezado aluno, vamos nos ater às pesquisas de Chiavenato e Sapiro (2003),


quando eles definem o planejamento estratégico como o mais amplo e abrangente
a ser utilizado por qualquer organização, tendo características bem definidas:

• Horizonte temporal: o plano deve ser projetado para o longo prazo


obtendo respostas, efeitos e consequências que se estendam por vários
anos à frente.
• Abrangência: envolve cada tarefa ou atividade preocupando-se com o
alcance das metas específicas, repassadas pelos níveis hierárquicos
superiores.
• Conteúdo: deve ser claro e preciso nesse ponto, detalhado, específico e
114
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

analítico.
• Definição: é estabelecida em cada nível operacional, focada em cada
tarefa e em cada atividade.

Por possuir planos a longo prazo e efeitos estendidos por vários anos, o
planejamento estratégico é o melhor a ser utilizado pelas políticas públicas,
quando seus efeitos e consequências permanecem. Na pirâmide apontada por
Chiavenato (2004), conseguimos distinguir os três níveis, sua importância e
missão específica:

FIGURA 1 – INTERLIGAÇÃO ENTRE PLANEJAMENTO


ESTRATÉGICO, TÁTICO E OPERACIONAL

FONTE: Chiavenato (2004, p. 312)

O planejamento evidencia o caminho a ser tomado pela organização, ao


coordenar todas as suas unidades potenciais em busca dos objetivos através
de sinergia. O planejamento se faz pelo intermédio de um plano, ou seja, metas
traçadas a longo prazo. A governança da segurança pública ainda é um tema
muito discutido e um dos grandes desafios, uma vez tratar-se de assegurar os
direitos e deveres tanto de profissionais de segurança quanto dos cidadãos.

As enormes mudanças sociais advindas ao longo da história fizeram com


que a administração pública se capacitasse a fim de atender às novas demandas
115
SEGurANÇA PÚBLiCA

produzidas. Essa necessidade revelou que a modernização na gestão pública,


por intermédio de doutrinas, práticas e conceitos que superassem os problemas
causados pela burocratização dos órgãos do governo, partissem de princípios
advindos da nova gestão pública (JONES; KETTEL, 2003). Como você viu, esse
novo pensar da governança modificou determinadas ideias de gerenciamento
estratégico, tanto de empresas particulares quanto de uma estratégia situacional.
O Policiamento Comunitário é considerado uma dessas mudanças, na gestão
pública da segurança, a partir do desenvolvimento de seus princípios. A
atividade somente pode ser considerada validada a partir do seu ensinamento
e encorajamento, mas, ainda, da exteriorização desses preceitos que ocorre na
ação dos agentes responsáveis pela segurança, ou seja, os próprios policiais,
considerados extremamente importantes, senão a parte mais elementar para toda
a mudança.

Como estamos estudando sobre a estratégia, queremos indicar


dois livros. O primeiro é o nosso marco teórico nesse capítulo,
Idalberto Chiavenato (2004). Sua obra Teoria geral da administração
foi muito importante por apresentar uma postura inovadora,
flexível e sustentável. A obra indicada é Planejamento estratégico:
fundamentos e aplicações, um importante marco para os estudos
sobre estratégia, seja ela voltada para as empresas privadas ou para
a área da administração pública. Inclusive, é indicada para novos e
futuros empreendedores. A segunda obra indicada é um clássico da
literatura. Quem nunca ouviu por aí a famosa frase “a suprema arte
da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”? Ela é de Sun Tzu, em sua
obra A arte da guerra, que pode não atingir os gostos de todos, mas
consegue definir o nível de competição numa guerra pautada pela
melhor estratégia: A arte da guerra, de Sun Tzu, foi escrita por volta
de 500 a.C.

2.1 A BUSCA PELA MELHOR


ESTRATÉGIA
Seja ela como for, a estratégia é a arte de formular artifícios que encaminhem o
seu plano ao caminho pretendido, passando por atalhos mais benéficos para seus
objetivos. De todos os conceitos de estratégia, seja para empresas capitalistas

116
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

que, em busca de lucro, deparam-se com a competividade e problemas pessoais


internos ou em modelos públicos de gestão sempre em busca de aprimorar a
qualidade e a celeridade de seus serviços, aquele plano que considera pontos
específicos para a delineação de um objetivo é o mais apropriado (CHIAVENATO,
2004). O planejamento pode ser visto a partir de uma visão mais espacial quanto
situacional, uma vez que é realizado de uma maneira macro, atendendo a todos
de forma igualitária. Por esse motivo, existem dois planejamentos: o Nacional e o
Estadual. Podemos, então, a partir de já deduzir que o Plano Nacional considera
o macroambiente numa visão espacial, enquanto o Estadual leva em conta o
microambiente em uma visão situacional.

O economista chileno Carlos Matus (1931-1998) criou uma fórmula para


o pensamento estratégico que ficou conhecida por Planejamento estratégico
situacional. Em seu artigo intitulado O Plano como aposta, o economista disse:
“Os jogadores escolhem seu plano de jogo, mas não as circunstâncias em que
devem realizá-lo” (MATUS, 1991, p. 2).

Leia o artigo completo de Carlos Matus sobre o Plano


estratégico situacional aqui: https://docs.google.com/file/d/0Bxlq-
EuCzSofd1pPV0xqXzA0UDg/edit.

FONTE: MATUS, C. O plano como aposta. São Paulo em perspectiva,


v. 5, n. 4, p. 28-42, out./dez. 1991.

Matus (1991) explica que a diferença entre o plano estratégico convencional


e o plano situacional é elaborada a partir dos diferentes cenários encontrados
e que podem fazer parte da nova estratégia. Assim, não há determinismo para
Matus (1991), ou seja, os atores do plano não possuem condições para controlar
ou dominar as situações que são colocadas pela realidade quando o plano está
sendo efetivado. No caso da segurança pública, a sociedade, assim como seus
problemas, está sempre em constante evolução e desenvolvimento, alterando,
muitas vezes, de forma e de contexto. Com o paradigma da tecnologia, por
exemplo, inúmeros são os crimes impensados anos atrás, quando da realização
do planejamento anterior ao atual. Por esse motivo, para Matus (1991), a
improvisação subordinada faz parte do plano traçado. Assim, deve existir
uma margem de manobra para o uso de atitudes não programadas nas ações
propostas pelo plano inicial. O planejamento tradicional impede a possibilidade

117
SEGurANÇA PÚBLiCA

de improviso e o delineamento de novas estratégias (MATUS, 1991). O plano,


nesse sentido, deve se ater ao intuito original e às bases que estruturam seus
princípios. Contudo, deve estar aberto à possibilidade de um improviso em seu
desenvolvimento.

Entretanto, prezado aluno, a formação do planejamento, ao se pensar na


melhor estratégia a ser definida, deve refletir nos grandes desafios de nosso
tempo, mas ainda considerar os personagens que fazem parte desses problemas
e por qual motivo estão envolvidos (MATUS, 2005).

A estratégia definida pelo Plano de Segurança Pública Nacional segue a


partir do planejamento estratégico, quando esboça seu programa a longo prazo,
tendo consequências a curto prazo em nível operacional. Significa dizer que a
competência originária da criação do plano, que é a Secretária Nacional de
Segurança Pública, planeja a partir do macroambiente para o microambiente,
oportunizando aos Estados que delimitem o seu plano dentro de suas fronteiras.
Através de suas diretrizes especiais e que desenvolvem uma programação espacial
e uniforme a todos os entes federados, também propõe a descentralização de
ações e tomada de ações, o que proporciona segurança, tanto normativa quanto
operacional, para qualquer escolha de decisões no decorrer do jogo, desde que
siga os basilares princípios abrigados pelo plano. Isso oportuniza que os Estados,
a partir de seu planejamento ambientado em seus domínios, crie um plano
estratégico situacional, conforme Matus (1991) identificou.

No próximo ponto, você estudará o essencial dos planos de segurança,


tanto nacional quanto estadual, percebendo a importância que se dá ao plano
estratégico na tomada das decisões das inúmeras operações policiais espalhadas
Estados afora, como de qualquer ação a ser tomada. Os princípios da segurança
cidadã e da polícia comunitária já estão apregoados em sua doutrina e devem ser
respeitados.

Na indicação de livro que fazemos aqui, indicamos para você


também o filme que faz referência à obra escrita. Tropa de Elite
(2007) e sua continuação de 2010, ambas sob a direção de José
Padilha, baseado nos livros homônimos escritos por dois ex-policiais
civis, demonstram uma polícia militar abandonada por qualquer
comando e controle estatal, tomada de uma corrupção latente e
usada por membros de altos cargos políticos no país para realizar
os seus atos corruptivos. Aqui, podemos ver o tipo de instituição sem

118
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

nenhuma estratégia, sem nenhum objetivo ou planejamento tático ou


operacional e sem qualquer controle ou comando.

FONTE: SOARES, L. E. et al. Elite da tropa. Rio de Janeiro:


Nova Fronteira, 2006.

FONTE: SOARES, L. E. et al. Elite da tropa II. Rio de Janeiro:


Nova Fronteira, 2010.

É com a famosa frase de Sun Tzu (2006, p. 34) que demonstramos a


importância do planejamento: “Com planejamento cuidadoso e detalhado, pode-
se vencer; com planejamento descuidado e menos detalhado, não se pode
vencer. A derrota é mais do que certa se não se planeja nada. Pela maneira como
o planejamento antecipado é feito, podemos predizer a vitória ou a derrota”.

A seguir, vamos analisar os Planos Nacionais e Estaduais de Segurança


Pública e suas estratégias, sua organização e metas!

2.2 PLANO NACIONAL DE


SEGURANÇA PÚBLICA
Em seu caput, o Art. 144 da CF, que nós vimos algumas páginas atrás, trouxe
a finalidade que deve ser a mesma em qualquer Plano Nacional de Segurança
Pública que venha ser elaborado: “Art. 144. A segurança pública, dever do
Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio [...]” (BRASIL,
1988, p. 134, grifo nosso). É nesse sentido que cada um dos planos realizados
até hoje teve especificidades próprias de seu tempo, mas pautados na norma
constitucional. Veja que o plano escrito no ano 2000 possuía intuito claro de
afirmar uma interação entre as políticas de segurança, as políticas sociais e as
ações comunitária. Previa também, em sua redação e planejamento, a repressão
e prevenção da criminalidade, bem como a redução da impunidade e aumento
da segurança dos cidadãos e dos espaços públicos (NATAL, 2016). Assim como
os direitos fundamentais prescritos, o Plano Nacional de Segurança não deve
retroceder. Os próximos planos, por mais que tragam outras possibilidades de
organização, não devem menosprezar aqueles pontos considerados inovadores
no âmbito dos direitos fundamentais e humanos, nem deixar de seguir políticas
públicas de inclusão.

119
SEGurANÇA PÚBLiCA

Em 2003, o plano escrito então visava o fortalecimento institucional da


segurança pública, que apresentou o projeto de lei que criava o Sistema Único de
Segurança Pública (SUSP), instituído somente em 2018 pela Lei nº 13.675 em junho
de 2018. Foi com o plano de 2007 que o Programa Nacional de Segurança Pública
(PRONASCI) foi fundado, cujo intuito consistia na prevenção, controle e repressão
da violência crescente, como vimos nos capítulos anteriores. Seu plano sucessor
veio em 2012, quando o Ministério da Justiça lançou o novo Plano Nacional de
Segurança Pública, instituindo os seguintes passos (IPEA, 2017, p. 22):

• Um Plano Estratégico de Fronteiras;


• O programa Crack, é possível vencer;
• Ações de combate às organizações criminosas;
• Um Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional;
• Um Plano Nacional de Segurança para Grandes Eventos;
• Um Programa de Enfrentamento à Violência.

Todos esses foram planejados para intuitos específicos e, em 2017, o plano


até então tinha a finalidade de integrar e coordenar as ações entre o Governo
Federal, os Estados e a sociedade em geral, propondo a modernização do
sistema penitenciário e o combate às organizações criminosas. O crescimento da
violência contra a mulher e o aumento do número de homicídios dolosos junto ao
intenso tráfico de drogas e armas, fez com que os planos do Ministério da Justiça
recrudescessem a força das investigações para esses tipos de delitos.

Ao analisarmos o Plano de 2017, logo substituído pelas ações do


planejamento de 2018, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertava, em suas
análises, sobre diversos pontos específicos e importantes que devem constar em
um Plano Nacional, repreendendo o plano em vigor e advertindo o plano porvir.
Ao verificar as irregularidades, o TCU (2017, s.p.) apontou que é incumbência do
plano evidenciar:

• Prazo de vigência do plano: no último plano, esse prazo é dilatado e


incumbe o período de 2018-2028, não ficando, assim, comprometido a
um só mandato político.
• Indicadores e metas para as ações a serem implementadas.
• Critérios de priorização de ações.
• Instrumentos jurídicos para formalizar a cooperação entre os entes
envolvidos na implementação do PNSP que contenham, claramente,
obrigações e responsabilidades dos atores envolvidos.
• Processo de gestão dos riscos envolvidos na implementação do plano.
• Sistema de avaliação e monitoramento do plano.
• Definição das instâncias responsáveis por seu acompanhamento
contínuo.

120
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

O Plano Nacional deve ser aprovado por lei para atestar a segurança jurídica,
gerar responsabilidade pública dos entes envolvidos e para que seja, em qualquer
caso, possível de se exigir o implementar das ações previstas.

Em 2018, o Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS)


foi instaurado, e pelo princípio estratégico em suas ações, já se inicia pelo longo
prazo da tomada e aplicação das suas intervenções, quando seu planejamento
possui um período mais estendido de tempo: de 2018 a 2028.

Na apresentação do novo plano, em junho de 2018, o então Ministro da


Segurança, Raul Jungmann, em sua apresentação, declara a criação do Sistema
Único de Segurança Pública:

A Política Nacional de Segurança Pública que ora se inicia com


a implantação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP),
para ser submetida à sociedade e aos órgãos envolvidos na sua
implementação, nasce para se consolidar como instrumento de
Estado. Aprovado pelo Congresso Nacional depois de anos de
estudo, o SUSP é um primeiro e largo passo para o resgate do
imenso passivo que o país construiu por mais de um século na
segurança pública (BRASIL, 2018a, p. 7).

Ainda, em suas palavras, esclarece os ideais específicos para o planejamento


que se idealiza contra o crime organizado, como uma das principais atribuições
do plano apresentado: “Nossas extensas fronteiras com dez países incluem
quatro produtores mundiais de drogas, que têm, no Brasil, o segundo mercado
consumidor mundial. O crime organizado tornou-se, assim, um flagelo insuportável
para toda a sociedade” (BRASIL, 2018a, p. 7).

Por se tratar de um plano realizado em pleno ápice do paradigma tecnológico,


sua estrutura é especificada a partir do conceito de uma polícia moldada pelos
novos aparatos da engenharia digital:

O SUSP tem capacidade de desenvolver essa governança


através da padronização de dados, integração tecnológica, de
inteligência e operacional, 8 encontrando no Conselho Nacional
de Segurança Pública um colegiado com competência para
debater e validar uma política nacional para o setor e promover
o acompanhamento social das atividades de segurança
pública e defesa social, respeitadas as instâncias decisórias e
as normas de organização da administração pública (BRASIL,
2018, p. 7-8).

Segundo relatado, no plano, eram estimados, para o ano de 2018, recursos


na ordem de 1 bilhão de reais para a segurança pública. Para o ano de 2022,
ficou projetado a quantia de 4,3 bilhões “para investimento e custeio destinados
aos estados e municípios – preferencialmente mediante indicadores objetivos,
públicos e verificáveis” (BRASIL, 2018a, p. 8).
121
SEGurANÇA PÚBLiCA

Um dos principais intuitos do plano é a produção de estatísticas criminais que


sejam confiáveis, na responsável “produção de dados, informações e análises
indispensáveis à formulação de uma política pública setorial e seu monitoramento
por parte da sociedade e do Parlamento” (BRASIL, 2018a, p. 8).

O modelo de governança proposto, e em uso atualmente, visa à criação da


Escola Nacional de Segurança Pública com intenção de formação de gestores
para o setor. Ao analisarmos o projeto e sua proposta, notamos a presença de um
forte federalismo compartilhado contra, nas palavras do então ministro da justiça
“um federalismo acéfalo” (BRASIL, 2018a, p. 9). Note que aqui, prezado aluno,
deve haver o vínculo aos ideais de união dos entes situados no âmbito da justiça
e da segurança pública.

Quer saber mais sobre o SUSP?

A criação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP)


é um marco divisório na história do país. Implantado pela Lei nº
13.675/2018, o SUSP dá arquitetura uniforme ao setor em âmbito
nacional e prevê, além do compartilhamento de dados, operações
e colaborações nas estruturas federal, estadual e municipal. Com
as novas regras, os órgãos de segurança pública, como as Polícias
Civis, Militares e Federal, as Secretarias de Segurança e as Guardas
Municipais serão integrados para atuar de forma cooperativa,
sistêmica e harmônica.

Como já acontece na área de saúde, os órgãos de segurança


do SUSP já realizam operações combinadas. Elas podem ser
ostensivas, investigativas, de inteligência ou mistas e contar com
a participação de outros órgãos, não necessariamente vinculados
diretamente aos órgãos de segurança pública e defesa social –
especialmente quando se tratar de enfrentamento a organizações
criminosas.

O Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) tem como órgão


central o Ministério da Segurança Pública e é integrado pelas polícias
Federal, Rodoviária Federal; Civis, Militares, Força Nacional de
Segurança Pública e Corpos de Bombeiros Militares. Além desses,
também farão parte do SUSP: Agentes Penitenciários, Guardas
Municipais e demais integrantes estratégicos e operacionais do
segmento da Segurança Pública.

122
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

A lei do SUSP cria também a Política Nacional de Segurança


Pública e Defesa Social (PNSPDS) para fortalecer “as ações de
prevenção e resolução pacífica de conflitos, priorizando políticas
de redução da letalidade violenta, com ênfase para os grupos
vulneráveis”. A Política será estabelecida pela União e está prevista
para valer por dez anos. Caberá aos estados, ao Distrito Federal e
aos municípios estabelecerem suas respectivas políticas a partir das
diretrizes do Plano Nacional. A segurança pública continua atribuição
de estados e municípios.

A partir de agora, a União criará as diretrizes que serão


compartilhadas em todo o país. As unidades da Federação assinarão
contratos de gestão com a União, que obrigará o cumprimento das
metas como a redução dos índices de homicídio e a melhoria na
formação de policiais.

FONTE: < h t t p s : / / w w w. j u s t i c a . g o v. b r / n e w s / c o l l e c t i v e - n i t f -
content-1544705396.44>. Acesso em: 21 jun. 2021.

O Plano atual instituiu o Sistema Único de Segurança Pública e a Política


Nacional de Segurança Pública e Defesa Nacional, promovendo, em suas
diretrizes, a Polícia Comunitária, enfatizando determinados princípios importantes,
que são essenciais para o atual Plano e que devem ser seguidos pelo próximo
plano. São eles:

• respeito ao ordenamento jurídico e aos direitos e garantias


individuais e coletivos;
• proteção, valorização e reconhecimento dos profissionais
de segurança pública;
• proteção dos direitos humanos, respeito aos direitos
fundamentais e promoção da cidadania e da dignidade da
pessoa humana;
• eficiência na prevenção e repressão das infrações penais;
• redução de riscos em situações de emergência e desastres;
• participação e controle social;
• resolução pacífica de conflitos;
• uso comedido e proporcional da força;
• publicidade das informações não sigilosas;
• simplicidade, informalidade, economia procedimental e
celeridade no serviço prestado (BRASIL, 2018b, grifo nosso).

Prezado aluno, você se lembra das essenciais diretrizes e princípios


apontados pelos pesquisadores como primordiais para a possibilidade da atividade

123
SEGurANÇA PÚBLiCA

da Polícia Comunitária? São os princípios em destaque na citação anterior. Entre


suas diretrizes, as linhas do Plano nos trazem como uma importante definição até
então inédita dentro dos planos da segurança pública anteriores, que é a atuação
de todos os entes federativos no combate efetivo à destruição do meio ambiente.
Notamos também a ênfase ao policiamento de proximidade, que realça uma
forma de gestão traçada na resolução dos problemas em suas raízes, não apenas
na repressão, mas na identificação junto à comunidade das mazelas sociais do
local. Assegura, ainda, a cultura da paz, a segurança comunitária e a integração
das políticas de segurança com as políticas sociais.

O incentivo ao crescimento profissional dentro das corporações também é


reafirmado quando enfoca os planos de carreira para os agentes de segurança
pública, seja qual for a sua instituição, a fomentar a designação desses
profissionais para cargos de responsabilidade e chefia. Entretanto, uma de suas
diretrizes engloba parcerias com agências de segurança privada, respeitada a lei
de licitações sempre que for necessário o ato. Tais parcerias servem ao intento
de preencher dados estatísticos, a princípio, das localidades e comunidades onde
atua a criminalidade. Essas estatísticas poderão influenciar a forma de gestão
para aquela localidade no que diz respeito ao planejamento das ações, que
também é um ponto importante para a realização da Polícia Cidadã.

Seus principais objetivos, segundo a Lei nº 13.675, de 11 de junho de 2018


(Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social) são:

• ações estratégicas e operacionais, em atividades de


inteligência e em gerenciamento de crises e incidentes;
• ações de manutenção da ordem pública e da incolumidade
das pessoas, do patrimônio, do meio ambiente e de bens e
direitos;
• incentivar medidas para a modernização de equipamentos, da
investigação e da perícia e para a padronização de tecnologia
dos órgãos e das instituições de segurança pública;
• estimular e apoiar a realização de ações de prevenção à
violência e à criminalidade, com prioridade para aquelas
relacionadas à letalidade da população jovem negra, das
mulheres e de outros grupos vulneráveis;
• promover a interoperabilidade dos sistemas de segurança
pública;
• estimular o intercâmbio de informações de inteligência de
segurança pública com instituições estrangeiras congêneres;
• fomentar medidas restritivas de direito e penas alternativas
à prisão;
• estimular a criação de mecanismos de proteção dos agentes
públicos que compõem o sistema nacional de segurança
pública e de seus familiares;
• priorizar políticas de redução da letalidade violenta;
• fortalecer as ações de prevenção e repressão aos crimes
cibernéticos (BRASIL, 2018b).

124
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Uma importante característica que não apenas se manteve, mas foi estendida,
é a capacitação e valorização do profissional de segurança pública, com o intuito
de aprimorar a educação gerencial, técnica e operacional. Os estudos pautados no
princípio educacional da andragogia fornece uma grade curricular evidenciada nos
direitos humanos e fundamentais, validando as diretrizes da polícia comunitária,
que o tipo de ação que intenta. Também há o Programa Pró-vida, que se levado
a sério, servirá para os propósitos mais carentes das nossas instituições policiais,
que são a atenção psicológica e de saúde no trabalho ao desenvolver projetos
competentes no setor (BRASIL, 2018a, p. 74).

Criado em 2010, o Programa Nacional de Qualidade de Vida dos


Profissionais da Segurança Pública, reconhecido como Pró-vida, tem
como objetivo a valorização do profissional da área de segurança,
reduzindo os riscos de morte como também atuar na prevenção da
saúde durante o exercício de suas relevantes funções.

Importante destacar a sua transparência e seu controle, realizado pelas


corregedorias (órgãos internos) e pelo acompanhamento público (ouvidorias).
Para que possam laborar de maneira independente na adoção de suas ações, as
corregedorias são dotadas de autonomia, possuindo competência para apurar a
responsabilidade funcional pelo intermédio de processos administrativo disciplinar
e sindicâncias: “Fomentar a criação e o fortalecimento das Corregedorias de
Polícia, Corpos de Bombeiros Militares, das Guardas Municipais e do Sistema
Penitenciário, dotando-as dos equipamentos necessários ao seu funcionamento e
capacitando seu corpo de profissionais” (BRASIL, 2018a, p. 65).

Já o acompanhamento público se faz por intermédio das ouvidorias,


também dotadas de autonomia e independência para realizar as suas funções. É
através dela que são feitas as representações contra os agentes de segurança,
as sugestões e elogios: “Fomentar a criação e o funcionamento de Ouvidorias
de Polícia, de Bombeiros Militares e de Ouvidorias Penitenciárias autônomas e
conduzidas por Ouvidores com mandato” (BRASIL, 2018a, p. 65).

Quais seriam as diretrizes para os planos estaduais de segurança


pública? Podemos afirmar, prezado aluno, que o plano que confirma as diretrizes
estaduais deve seguir o planejamento estruturado pelo estudo nacional. Há
a conformação da norma maior e o acompanhamento dos princípios que

125
SEGurANÇA PÚBLiCA

dão a essência à estratégia. A descentralização é importante numa análise


do planejamento estratégico, uma vez certificadora e afirmadora dos dados
empíricos retirados da região que se pretende analisar, para, assim, aplicar as
ações de segurança pública em âmbito estadual. As análises estatísticas que
são desenvolvidas em microrregiões demonstram as diferenças entre os diversos
distritos e localidades espalhadas em um país de imensas dimensões.

Prezado aluno, a matéria a seguir foi escrita um ano após do


lançamento do Plano de Segurança Nacional de 2017, e tem o intuito
de demonstrar quais os objetivos traçados pelo planejamento foram
cumpridos após esse período. O plano destacado na entrevista se
iniciou em 2017, tendo por escopo a grande violência nos presídios
nacionais. Após esse plano, surgiu o Plano Nacional de Segurança
Pública e Defesa Social, com prazo entre 2018/2028. Entretanto,
vale conhecermos o que havia sido produzido um ano após sua
efetivação. Note que o Plano de 2017 foi um plano de segurança
nacional elaborado a curto prazo, mas foi somente com o Plano de
2018 que houve o envolvimento estratégico a longo prazo.

Um ano após lançar Plano Nacional de Segurança,


confira o que o governo cumpriu e o que não cumpriu

Guilherme Mazui

Apresentado há um ano pelo governo federal, durante uma crise


que se instalou em diversos presídios do país, o Plano Nacional de
Segurança tinha como objetivo reduzir homicídios, combater o crime
organizado e modernizar o sistema prisional. Descrito como “realista”
pelo então ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, o plano foi
considerado à época genérico por especialistas. O conjunto de ações
completa seu primeiro aniversário com avanços tímidos em relação
ao anunciado pelo governo. A meta de reduzir em 7,5% os homicídios
dolosos nas capitais aguarda o envio dos dados dos estados para
ser checada, por exemplo. A construção de cinco presídios federais
também não saiu do papel.

Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública, órgão


do Ministério da Justiça, o plano deveria ter alcançado 17 estados
no ano passado, mas, em razão de restrição orçamentária, ficou em
quatro: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Sergipe e Rio Grande do
Norte.
126
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

À reportagem, o ministro da Justiça, Torquato Jardim,


reconheceu que o plano foi lançado no “calor” da “convulsão”
provocada por chacinas em presídios de Amazonas e Roraima. No
momento, o governo trabalha na definição de uma política nacional
de segurança pública, com foco no longo prazo. “Estamos tentando,
agora, concluir uma política nacional, que vem antes do plano.
O plano foi concebido no calor daquela convulsão toda, aquelas
tragédias todas, mas agora vamos ter uma política em mais largo
prazo”, disse Torquato. Conforme o secretário-adjunto da Senasp,
almirante Alexandre Mota, o Plano Nacional passa por uma revisão, a
fim de ser adequado a futura política nacional, que deve ser lançada
ainda em 2018. De acordo com Torquato, a “grande lição” do plano
até o momento está nas ações inteligência e na integração entre
órgãos federais e as polícias militares e civis dos estados. Para ele, o
plano teve “os resultados que foram possíveis”. Veja abaixo o que foi
feito em um ano de plano:

Efetivo da Força Nacional (avançou): o plano previu ampliar


de forma “gradativa” o efetivo da Força Nacional de Segurança
para realização de operações conjuntas com as policiais Federal,
Rodoviária Federal e estaduais. De acordo com o Ministério da
Justiça, a força dispunha de 934 homens em janeiro de 2017 e
passou a contar com 2.492 em maio.

Ampliação de radares (em andamento): o plano definiu a


ampliação do número de radares, com mais 837 câmeras da PRF
nas rodovias, totalizando 935 unidades. Segundo o MJ, o sistema já
tem 35 pontos em funcionamento e, no final de 2017, a PRF assinou
contrato para instalar mais 274 pontos, totalizado 309 pelo país. A
previsão do governo é ter o sistema em “funcionamento pleno” no
segundo semestre de 2018.

Polícia Rodoviária Federal (não foi feito): o plano estabeleceu


que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) deveria firmar acordos de
cooperação com as polícias militares rodoviárias para otimizar a
fiscalização em rodovias e principais rotas viárias. O governo está
reavaliando a medida.

Radiocomunicação digital (em andamento): em janeiro de


2017, o governo anunciou que pretendia ampliar a área de cobertura
para a comunicação via rádio digital. O plano ainda indicou ampliar
a cobertura e a intercomunicação com os órgãos de segurança
dos estados. Segundo o governo, os sistemas estão em fase de

127
SEGurANÇA PÚBLiCA

implementação. Estão em fase de execução convênios com estados


de áreas de fronteira (Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Rio Grande
do Sul, Rondônia e Roraima.

Ampliação do banco de DNA (em andamento): o governo


estabeleceu como meta ampliar a inclusão de perfis genéticos no
banco de dados de DNA do governo federal. Conforme o MJ, em
novembro de 2016 o banco nacional de perfis genéticos tinha 7.523
amostras e, em maio de 2017, passou para 8.916. O plano ainda
indicou o compartilhamento nacional desse banco de impressões
digitais com IMLs do país. A Secretaria Nacional de Segurança
Pública discute com a Polícia Federal um acordo de cooperação
técnica para viabilizar a ação.

Laboratórios de perícias (em andamento): outra ação do plano


foi a instalação de laboratório central de perícia criminal, para apoio
aos estados, além de ampliação de laboratórios da Polícia Federal.
De acordo com o governo, as ações estão sendo reavaliadas.
Também havia previsão de fortalecimento de laboratórios estaduais,
que passariam a exercer papel regional em perícias. O “centro de
excelência” do Rio Grande do Sul está em fase de execução e o do
Distrito Federal em processo de licitação. Há previsão de centros no
Nordeste, Sudeste e Norte.

Informações do sistema penitenciário (em andamento):


o plano colocou entre suas metas ter informações completas e
detalhadas em tempo real de todo o sistema penitenciário. Conforme
o ministério, os dados estão sendo coletados, mas as informações
do cadastro nacional da área dependem de integração com os
sistemas estaduais. Três estados iniciaram os testes com o Sistema
de Informações do Departamento Penitenciário Nacional (Sisdepen).
A intenção é concluir a integração no país todo até o final de 2018.

Combate ao tráfico e segurança nas fronteiras (em andamento):


em janeiro de 2017, o ministério indicou como meta o combate ao
crime organizado com foco no tráfico internacional de drogas e
de armas. O plano trabalhou com a cooperação entre políticas e,
conforme o ministério, essa parceria ocorre, bem como intercâmbio
de policiais. O plano previu ampliar acordos países vizinhos para
tornar mais rígido o controle das fronteiras, mas a medida está sendo
reavaliada.

128
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Mapeamento de homicídios (não foi feito): o Ministério da


Justiça anunciou há um ano que seria feito um mapeamento dos
locais onde ocorrem homicídios dolosos e violência contra a mulher,
levantamento que começaria pelas capitais e depois seria expandido
para as regiões metropolitanas. Segundo a pasta, a medida está
sendo “repactuada”. Também será reavaliada a previsão de identificar
locais com “desordens físicas e social”, com falta de iluminação e
veículos abandonados, bem como o controle de estabelecimento
irregulares e da venda indiscriminada de bebidas alcoólicas.

Patrulha Maria da Penha (em andamento): o governo


anunciou a instalação de grupos da “Patrulha Maria da Penha”, que
deveriam fazer visitas periódicas a mulheres em situação de violência
doméstica. A promoção de cursos de capacitação profissional
também era prevista. Segundo o governo, a ação contempla criação
de diretrizes para implementar o projeto, capacitação de agentes
e equipamentos. Em 2017, foram criados materiais teóricos. Em
outubro foi concluída a construção do “Curso Nacional de Patrulha
Maria da Penha”. A primeira edição do curso ocorreu no Rio Grande
do Sul e contou com a formação de 17 profissionais multiplicadores.
O governo também pretendia estabelecer um procedimento padrão
de atendimento à mulher vítima de homicídios dolosos. A medida foi
implementada para ações na patrulha, segundo o ministério.

Apreensão e controle de armas (em andamento): entre as


metas do plano para 2017 estava aumentar em 10% a quantidade de
armas e drogas apreendidas. O ministério aguarda o envio dos dados
pelos estados para verificar se a meta foi cumprida. O governo ainda
informou que implantaria normais mais rigorosas para segurança da
guarda e depósito de armas de fogo das empresas de segurança
privada. A medida está sendo reavaliada. Também havia previsão
de avanço no projeto DNA das Armas, voltado para identificação
de armas de fogo e munição. Segundo o MJ, um grupo de trabalho
“definirá as diretrizes, os padrões e as especificações técnicas,
a fim de viabilizar a aquisição dos equipamentos, capacitação
e implementação” do sistema. Já a PF, por meio do centro de
rastreamento de armas, cataloga apreensões de armas de fogo mais
relevantes realizadas.

Construção de presídios (não foi feito): o governo anunciou


cinco presídios federais, voltados para lideranças de “alta
periculosidade”. Um ano depois, nenhuma obra começou. Uma
unidade será em Charqueadas (RS) e o Ministério da Justiça negocia

129
SEGurANÇA PÚBLiCA

com o governo de Pernambuco para assumir a conclusão de um


presídio, que seria administrado pelo estado. Depois de concluída, a
unidade será gerida pela União.

Investimentos no sistema penitenciário (avançou): o plano


previu a liberação de recursos para os estados a fim de criar vagas
no sistema prisional e permitir a compra de equipamentos, como
scanners, raio X, tornozeleiras eletrônicas e armamentos. Por meio
do Fundo Penitenciário Nacional, foram repassados em 2016, para
uso até 2018, R$ 1,2 bilhão aos estados. Conforme o Ministério da
Justiça, o percentual de execução dos recursos chega a 4% do total
repassado pelo fundo. Cada estado recebeu R$ 31,9 milhões para
ampliação, conclusão ou construção de unidades prisionais, R$ 4
milhões para custeio e R$ 8,8 milhões para compra de equipamentos.

Núcleos de inteligência (em andamento): o plano previu a


instalação de núcleos de inteligência que reuniriam forças policiais
e de investigação nos 26 estados e no Distrito Federal. Os núcleos
contariam com a participação conjunta da Polícia Rodoviária Federal,
da Polícia Federal, das polícias militar e civil dos estados, da Abin e
de agentes penitenciários. O objetivo era integrar as forças e agilizar
a circulação e a troca constante de informações entre as autoridades.
Segundo o Ministério da Justiça, os núcleos estão estruturados nos
estados. Contudo, no Rio Grande do Sul, por exemplo, a Secretaria
de Segurança informou que o núcleo está parado, no aguardo do
“estabelecimento de uma estratégia, por parte da União”.

Cursos de capacitação (avançou): o governo definiu uma


série de cursos de capacitação, entre os quais, o de “mediador
de conflitos”. Conforme o ministério da Justiça, o curso mediador
pacificador social capacitou cerca de 3 mil pessoas em 11 estados
da federação.

Registros de ocorrências (avançou): o governo apontou no


plano a padronização nacional dos principais tópicos de Registros
de Ocorrências (PPe) e informatização de todos os dados, com
atualização constante dos locais com maior incidência criminal. As
padronizações dos campos mínimos e obrigatórios dos sistemas de
registros de ocorrências e atendimentos, estabelecidas pelo governo
em conjunto com os Estados, foram implementadas e se encontram
à disposição dos estados.

130
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Presos provisórios (em andamento): no lançamento do plano,


foi indicado o desejo da realização de força tarefa com as defensorias
públicas para analisar a situação de presos provisórios por crimes
sem violência. O Ministério da Justiça assinou termo de cooperação
em janeiro de 2017 com o Colégio Nacional de Defensores Públicos
Gerais, a Defensoria Pública Da União, a Associação Nacional dos
Defensores Públicos e a Associação Nacional Dos Defensores
Públicos Federais.

Estatísticas de atividade de polícia judiciária (não foi feito): o


governo pretendia elaborar estatísticas de mensuração de eficácia da
atividade de polícia judiciária. De acordo com o Ministério da Justiça,
a ferramenta responsável pela produção de estatísticas dispõe dados
dos Boletins Eletrônicos de Ocorrências estaduais atualmente e não
tem informações dos Procedimentos de Polícia Judiciária, que são as
fontes primárias para a mensuração da eficácia da atividade policial.

FONTE: <https://g1.globo.com/politica/noticia/um-ano-apos-lancar-
plano-nacional-de-seguranca-confira-o-que-o-governo-cumpriu-e-
o-que-nao-cumpriu.ghtml>. Acesso em: 25 jun. 2021.

2.3 PLANO ESTADUAL DE


SEGURANÇA PÚBLICA
Para qualquer Plano Estadual, prezado aluno, tudo aquilo que foi tratado no
Plano Nacional, vale. O que traz a diferença entre eles é o âmbito da atuação,
enquanto o primeiro possui seu âmbito nacional, o segundo é estadual. Mesmo
percebendo e recebendo influências do Plano Nacional, o Plano Estadual possui
determinadas particularidades, e essas você já sabe que podem ser percebidas
através das diversas características de cada região.

A criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) em


1997, demonstra a preocupação com os estudos acerca da segurança pública,
percebendo que, com o crescimento da criminalidade, a abordagem deveria ser
realizada de forma sistêmica e holística. A Secretaria Nacional de Segurança
Pública assevera a autonomia dos entes federativos, mas assume o importante
papel de condução do plano elaborado nacionalmente, induzindo as políticas
públicas de segurança aos planos estaduais, bem como ressaltando o princípio
da cooperação entre os governos federais e estaduais. De acordo com a Senasp
em seu Relatório Final, sua relação com os Estados a partir do Plano Nacional de

131
SEGurANÇA PÚBLiCA

Segurança Pública deve se pautar não apenas pelo “mero financiamento passivo
de projetos específicos, mas passa a propor uma dinâmica de maior parceria
e cooperação em torno da elaboração e implantação de planos estaduais de
segurança pública sistêmicos, isto é, abrangentes e integrados” (BRASIL, 2005,
p. 4).

A Senasp realiza uma orientação geral que se adeque ao amplo universo


de cada realidade cujas ações estratégicas venham a ser utilizadas. No âmbito
estadual, relaciona quais são os objetivos estratégicos a serem atingidos pelas
secretarias estaduais de segurança, são eles (BRASIL, 2005, p. 6-8):

• Direitos humanos e eficiência policial são compatíveis entre si


e mutuamente necessários.
• Ação social preventiva e ação policial são complementares e
devem combinar-se na política de segurança.
• Polícias são instituições destinadas a servir os cidadãos,
protegendo direitos e liberdades, inibindo e reprimindo,
portanto, suas violações.
• Às Polícias compete fazer cumprir as leis, cumprindo-as.
• Policiais são seres humanos, trabalhadores e cidadãos,
titulares, portanto, dos direitos humanos e das prerrogativas
constitucionais correspondentes as suas funções.
• O Sistema de Justiça Criminal deve ser democrático e justo,
isto é, orientado pela equidade, acessível a todos e refratário
ao exercício violento e discriminatório do controle social.

Os objetivos estratégicos são os alvos ou situações concretas que se


pretende atingir, para alcançar os objetivos de uma organização. No presente
caso, os objetivos estratégicos a atingir com a implementação dos Planos
Estaduais de Segurança são:

• Reduzir a criminalidade e a insegurança pública, em


especial os crimes contra a vida.
• Controlar o crime organizado.
• Reduzir a corrupção e a violência policiais.
• Promover a expansão do respeito às leis e aos direitos
humanos.
• Bloquear a dinâmica de recrutamento pelo tráfico de
crianças e adolescentes.
• Eliminar o poder armado de criminosos que impõem
sua tirania territorial a comunidades vulneráveis e
a expandem sobre crescentes extensões de áreas
públicas.
• Valorizar as polícias e os policiais, reformando-as e
requalificando-os, levando-os a recuperar a confiança
popular e reduzindo o risco de vida a que estão
submetidos;
• Ampliar a eficiência da organização policial.

132
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

• Aplicar com rigor e equilíbrio as leis no sistema


penitenciário, respeitando os direitos dos apenados e
eliminando suas relações com o crime organizado.
• Contribuir para a democratização do Sistema de Justiça
Criminal (BRASIL, 2005, p. 5).

Você quer saber mais sobre a Senasp? Então vamos lá! No site
do governo federal, você encontra a Senasp e seus institutos desde
diretrizes aos planos estaduais de segurança pública: https://www.
gov.br/mj/pt-br/acesso-a-informacao/agenda-de-autoridades/senasp.

Como a Senasp possui importante presença na validação dos planos


estaduais e na confirmação de sua estrutura a partir de financiamento federal aos
Estados para que eles implantem os programas de segurança recomendados por
ela, é ela quem define os novos convênios. Entretanto, Estados que não implantem
as recomendações ou planejamentos do Senasp não são desqualificados pela
secretária para novos futuros convênios, mas advertidos sobre a utilização da
verba no emprego de tais estratégias.

Cada Estado, portanto, possui seu próprio plano de Segurança Pública,


que pode ser estudado e analisado a partir de seus sites de informação. É
imprescindível que o plano de segurança estadual, além de seguir os preceitos
do Plano Nacional para ser considerado, deve possuir um planejamento com
ações firmadas aos propósitos elencados nos princípios do paradigma que se
experimenta, ou seja, o paradigma da Segurança Cidadã.

Agora que você já estudou acerca dos Planos Nacionais e


Estaduais de Segurança Pública, que tal se praticarmos nosso
conhecimento?

1 - Os significados de estratégia e planejamento se alteram em sua


concepção quando tratados e apresentados no manejar das
situações públicas. Você viu que alguns princípios são cruciais
para a efetivação das políticas públicas. Quanto a essa afirmação,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

133
SEGurANÇA PÚBLiCA

( ) No delimitar das ações públicas entre Estados e União, os


planos de segurança devem seguir primordiais princípios como
a transparência e publicidade a fim de demonstrar o seu real
objetivo em todos os setores e localidades.
( ) A transparência não é um conceito permitido ao Plano de
Segurança, uma vez concebido para combater a criminalidade,
e por esse prisma, qualquer informação a respeito dos passos
do plano devem ser publicizadas apenas aos integrantes da
segurança pública.
( ) Os direitos humanos são relativos quando se trata de combate
à criminalidade, por esse prisma, o princípio da transparência
deve ser abrandado em prol da diminuição do crime.
( ) Um plano de segurança pública se realiza após limitação da
atuação da segurança pública e de seus agentes, respeitando,
assim, os princípios da Segurança Cidadã quanto ao exercício da
persecução policial somente em caso estritamente necessário.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – F – F.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) F – F – V – V.

2 - Os planos estratégicos são importantes para definir objetivos


a longo prazo e assegurar seus propósitos a curto prazo
por intermédio de ações organizadas. A respeito dos Planos
Nacionais e Estaduais de Segurança Pública, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Ao Plano Estadual de Segurança Pública cumpre desenvolver


os objetivos do Plano Nacional, mas a partir de suas análises
estatísticas regionais.
b) ( ) O Planejamento Estratégico Situacional é aquele em que se
considera o macroambiente, análise esta que carece de mais
estudos planejados ao microambiente.
c) ( ) O Planejamento Estratégico deve ser pensado em um curto
período de tempo, efetivando um prazo dentro de um determinado
mandato para cumprir seus objetivos.
d) ( ) O Plano Nacional de Segurança Pública realça as estruturas
principiológicas do paradigma da Segurança Cidadã e da Polícia
Comunitária.

134
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

3 - A Secretária Nacional de Segurança Pública, órgão subordinado


ao Ministério da Justiça, possui sua relação direta com os Estados
anunciando o Plano Nacional e suas bases a serem seguidas.
Sobre uma de suas putas, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O objetivo é financiar ações em âmbito estadual para diminuir


a incidência da violência em determinados setores da sociedade.
b) ( ) O objetivo não é apenas financiar projetos específicos, mas
também abranger os padrões do Plano Estadual, que devem
seguir estritamente o Plano Maior.
c) ( ) O objetivo é não apenas financiar os projetos específicos do
Estado em âmbito de segurança, mas também redigir o Plano
Estadual mais benéfico.
d ( ) O objetivo não preza apenas pelo mero financiamento,
mas assume uma parceria mais dinâmica, propondo parceria e
cooperação na implantação dos planos estaduais.

3 MODELOS DE GESTÃO E
POLÍTICAS DE SEGURANÇA
PÚBLICA
A consolidação da segurança pública no país, a partir dos critérios
que adota o novo paradigma, necessita do envolvimento de todos os Evitar conflitos
organizacionais é
agentes presentes na sociedade civil e nas instituições de proteção e
o ideal de qualquer
defesa. O sentido do ideal comunitário reconhece a centralidade da instituição que
comunidade em detrimento do conceito usual de Estado/Mercado pretende atingir as
(SCHMIDT, 2006). Para a governança de um modelo que se amplia na metas traçadas.
medida em que é utilizado, envolvendo cada vez mais protagonistas em
suas engrenagens, é preciso conservar a sua forma de ação e de filosofia. As
inúmeras metodologias que estrategicamente complementam a gestão devem
estar em conformidade aos seus ditames estruturais, pois sistemas antagônicos
entre si, se colocados juntos, podem causar mais danos que acertos. Evitar
conflitos organizacionais é o ideal de qualquer instituição que pretende atingir as
metas traçadas.

Uma das grandes dificuldades que causam até hoje adversidades para
o sucesso da gestão da segurança pública e sua padronização ao modelo
comunitário, pode vir de setores da sociedade e até mesmo da própria organização

135
SEGurANÇA PÚBLiCA

policial, que afirmam ser o novo paradigma incompleto à real função da polícia.
Veja, prezado aluno, que o lançamento do primeiro Plano Nacional de Segurança
Pública no ano 2000 era considerado mais como um documento político do que
mesmo estratégico, quando ficou caracterizado pela sua “elevada capacidade de
formulação de políticas e baixa capacidade de implementação”, deixando à deriva
projetos que o próprio poder público se mostra incapaz de aplicar (ADORNO,
2003, p. 130). Isso ocorre pelo fato de que, para a instauração de um novo modelo
ou paradigma, a ruptura com as viciantes incongruências do anterior devem ser
superadas, mas ainda estamos presenciando essa parte da mudança, o momento
da superação do antigo. A lógica e o discurso de que a segurança pública deve ser
pautada pelo uso da força e pela penalização, em um recrudescimento do direito
penal, ainda é latente em nossa sociedade e em grupos que perfazem a própria
segurança pública que se pretende alterar (ADORNO, 2003). Não fosse apenas
isso, o poder público apresenta incapacidade em instaurar algumas importantes
concepções do novo modelo, por exemplo, o policiamento comunitário nas
escolas.

Os programas de gestão precisam, para o saudável fluxo de sua


operacionalidade, ter uma centralização para que outros braços do instituto se
adequem aos seus comandos. No que se refere à segurança, muitas organizações
espalhadas Brasil afora possuem suas próprias lógicas de desenvolvimento
e performance, intervindo na composição da política pública ao estruturar uma
cultura autônoma de difícil articulação com o planejamento centralizado (ROLIM,
2007).

Por esse prisma, caro aluno, você percebe que planejamentos estratégicos
diversos ou planos de gestão, mesmo os mais elaborados como aqueles exemplos
retirados de grandes conglomerados que visam os resultados positivos, não se
adequam a um plano nacional enquanto velhas ideologias e antigos modelos não
forem superados.

3.1 O COMPSAT
Considerada uma influente metodologia de gestão estratégica, Compsat,
sigla para análises estatísticas computadorizadas, tem a intenção de integrar um
banco de dados inteligente capaz de impulsionar a transparência e a prestação
de contas das instituições policiais desenvolvidas por metas que devem ser
atingidas pelos administradores regionais e pela disseminação dos resultados que
se atinge. Esse tipo de estratégia foi iniciado pelo Departamento de Polícia de
Nova Iorque, quando o uso de dados estatísticos de crimes diversos ajudou ao
implantar de solução de problemas que se faziam presentes (BOBA, 2009).

136
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Entretanto, para uma técnica de gestão que evidencia a estratégia, seja ela
qual for, é importante determinados sentidos que Compsat não considerou.

A promoção de mudanças não pode ser meramente enfatizada pela severa


análise de dados estatísticos, que não influenciam nem possuem força para a
realização de um novo sistema de gestão que se intenta implantar (BECKER,
2008). Nesse sentido, o que se busca é a organização das ações policiais que
devem ser desligadas de sua forma mais tradicional.

É certo que o serviço de qualquer polícia no globo está fortemente ligado aos
indicadores de análises estatísticas. O diferencial deste tipo de análise é o seu
propósito inicial. Temos aqui uma ferramenta que demonstra quais números devem
ser melhorados dentro da segurança pública, atento às metas e tendências. Esse
sistema possui a pretensão de que se siga à risca todos os seus números a fim de
atingir as metas estabelecidas, alertando sobre melhorias e sobre pioras também.

O grande problema de um sistema fechado em seus resultados, gerados por


análises estatísticas e focado no sucesso que deve ser compartilhado por e para
todos, é que os números positivos devem continuar crescendo, não importando
como. Isso abre determinados precedentes à atividade policial, como um possível
retorno à polícia tradicional que o policiamento comunitário e a segurança cidadã
pretende mudar, pois agora age em busca de melhores números (BOBA, 2009).

Em vias de estabelecer uma visão clara dos dados, todas as informações


devem ser repassadas em sua forma mais fiel, para toda a comunidade, assim
como é transmitida aos institutos diversos, atendendo ao princípio da publicidade.
Nesse ponto específico, quando uma empresa particular busca o Compsat,
toda a sua base filosófica é estruturada para as metas e números que pretende
melhorar. Ao atender os apelos combinados por números que buscam o sucesso,
a empresa efetiva real possibilidade de obter o triunfo pretendido inicialmente. E
todos estão vendo seu crescimento e afirmando o sistema. Na área da segurança
pública, entretanto, os números são um tanto diferentes. Cada caso de violência
registrado, bem como cada análise estatística da criminalidade levaria apenas a
uma solução propícia para a ação policial determinar o seu sucesso e asseverar
o sistema. Essa ação não é planejada pelo Compsat, mas por pessoas, que,
como o sistema, pretendem demonstrar em números e em dados estatísticos o
sucesso da ação tomada. Esse foi o passo inicial para a tomada de atitudes que

137
SEGurANÇA PÚBLiCA

desencadearam o modelo de segurança conhecido como Tolerância Zero.

3.2 A TOLERÂNCIA ZERO COMO


MODELO DE GESTÃO POLICIAL
Iniciado em Nova Iorque nos anos 1990 pelo então prefeito Rudolph Giuliani,
tinha a intenção de conter o que ficou conhecido como epidemia de crimes na
cidade. O prefeito apresentou uma proposta inflexível contra qualquer desvio
ou conduta delitiva, e fez isso aumentando o policiamento e a repressão. Não
seriam tolerados nenhum tipo de crime, até mesmo infrações mais leves seriam
consideradas pelos órgãos de segurança pública que pretendiam diminuir os
números da criminalidade. O ditado “quem furta um osso furta um boi” indicava a
intolerância mesmo aos pequenos desvios, que seria zero.

As medidas extremas e enérgicas tomadas pelos policiais e atestadas pela


prefeitura fizeram suas primeiras vítimas. Como a estratégia aqui tomada era a
diminuição pela força dos casos de crimes, e a gestão utilizada seria a liberdade
aos organismos punitivos do estado para atingir o sucesso, a busca por esses
números somente poderia ser maior em lugares desprovidos, como os bairros
mais carentes. Pobres, negros, imigrantes e usuários de drogas foram os primeiros
a serem cooptados pela força de punição e, assim, aumentavam o número do
sucesso policial de Giuliani.

O modelo conhecido como Tolerância Zero, para Wacquant (2001, p. 29),


significa o “processo de criminalização da pobreza, iniciados nos Estados Unidos
e que avança para a Europa com força, surgiu com intuito de vigilância aos pobres
e miseráveis que agora convivem no novo Estado, que se ocupa de um aumento
de seus recursos ao sistema penal e de segurança”.

Pretendendo atingir um sucesso que saltasse aos olhos, a gestão escolheu


os números que preencheriam as estatísticas ao informar a diminuição de
crimes. De fato, houve uma exponencial atenuação dos delitos, entretanto, um
crescimento massivo do número de encarcerados. Muitos presos eram provisórios,
ou seja, aguardavam seu primeiro julgamento, outros eram réus primários em
delitos conceituados como de menor potencial lesivo. O grande problema do
encarceramento em massa ordenado pelo conceito de tolerância zero, além do
espaço prisional ser utilizado ao extremo, é evidenciar um programa de segurança
pública que acentua a penalização acima de tudo, e de colocar em risco a vida de
pessoas que cometeram um pequeno delito, sendo que existem possibilidades de
não cometerem um segundo desvio em toda a sua vida (BECKER, 2008).

O conceito tolerância zero partiu de outro fenômeno anterior, que realça a

138
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

teoria de George Kelling, criminalista norte-americano que em anos anteriores


concebeu a Teoria das Janelas Quebradas, dissertando sobre os exemplos e atos
sociais que fazem com que os níveis de criminalidade aumentem (WACQUANT,
2001). Sua tese consiste no simples exemplo de que se uma janela quebrada
não for trocada, no dia posterior outras amanheceram quebradas por conta do
vandalismo. Na teoria, trocar esse objeto trincado é essencial para assegurar
a segurança das outras janelas. Numa adaptação ao nível social, para Kelling,
interpretado pelo sociólogo francês Louic Wacquant (2001), os pequenos atos de
vandalismo, encorajados pelo abandono do local podem incentivar que crimes
maiores ocorram. Assim, a presença policial constante e os sistemas de limpeza
e organização da cidade podem ser essenciais para a diminuição tanto dos
pequenos quanto dos crimes considerados maiores.

Ao levar esse conceito ao pé da letra, contra os criminosos que tenham


cometido crimes de menor potencial lesivo, por exemplo, atravessar fora da faixa
ou, até mesmo, crimes de maior potencial ofensivo, afirmando um sistema que
pretende observar suas melhoras produzidas em números estatísticos, confirma
a gestão do modelo de Tolerância Zero. Seu principal ponto, então, como você
pode notar, é garantir que os números de prisões para a manutenção da defesa
social e da ordem estejam em constante crescimento. Isso não vai de encontro
com o paradigma de segurança pública que vivemos ou com as condições mais
estruturais da Polícia Comunitária ou Cidadã.

Esse tipo de policiamento tem sua orientação a partir do crime ocorrido e


no sucesso da empreitada, além de afirmar o direito penal e a persecução penal
como única garantidora de uma lei e ordem. Se o planejamento modificar o método
com o qual se entende as situações ao redor, será que ele não poderia ser melhor
aproveitado na questão segurança de todos? A partir desse questionamento, o
policiamento orientado aos problemas, servindo-se de métodos assertivos na
identificação dos obstáculos a serem enfrentados, passou a ser utilizado pela
inteligência policial como estruturante de suas ações. Isso confirma a Polícia
Comunitária, uma vez que pretende resolver as situações antes mesmo que elas
ocorram.

3.3 POLICIAMENTO ORIENTADO AO


PROBLEMA: O MÉTODO IARA
A Polícia Comunitária ou Cidadã entendeu que seu trabalho não se perfaz
somente na abrangência do crime, mas também em comportamentos diversos
que não se envolvem imperiosamente com o desvio ou com o direito penal, sendo
possível outras táticas de operação que não a repressão (BRODEUR, 2000). As

139
SEGurANÇA PÚBLiCA

soluções para esses casos podem ser diversas, mas somente são tomadas a partir
de uma gestão que estabeleça esse tipo de ação, menos invasiva (MARCINEIRO,
2009). O patrulhamento preventivo e agressivo, comumente operado por policiais,
precisava, a partir dos novos moldes de integração que se formavam, ser extinto,
dando espaço a uma teoria de solução de problemas junto à comunidade.

No sentido de se antecipar aos acontecimentos, o policiamento orientado ao


problema complementa o modelo de Polícia Cidadã, em ações que orientam a
prática do convívio policial meio às comunidades, numa ação proativa e preventiva.
Guiada pela identificação e análises robustas dos problemas identificados na
sociedade, o policiamento possui maiores chances de efetivar uma resposta
positiva (OLIVEIRA, 2006).

Em congruência ao desenvolvido pelo policiamento comunitário e contra


ações agressivas, o policiamento orientado ao problema é uma forma de gestão
estratégica para a evolução do policiamento. Sendo assim, o seu foco é atuar em
parceria com a comunidade, gerenciando as informações de maneira inteligente,
estando nos locais considerados bruscos para o crime, empregando medidas
preventivas e, se preciso, medidas repressivas para minimizar qualquer contenda.
O foco inicial é agir com antecedência: “é preciso procurar o que está acontecendo
antes daquele ponto da correnteza” (ROLIM, 2009, p. 84).

Em 1987, John e William Spelman implementaram um novo modelo


determinando uma orientação guiada ao problema e aplicada no departamento de
polícia de Newport News, EUA. Batizada por Model Scanning, Analysis, Response
e Assentment (SARA), passou a ser utilizado naquela jurisdição, espalhando-se
logo mais em outras partes do país (GOLDSTEIN, 1990). No Brasil, o método foi
denominado IARA, referindo-se a cada uma de suas etapas: Identificar, Analisar,
Responder e Avaliar.

Começou então a ser desenvolvida e disseminada pela Secretaria Nacional


de Segurança Pública, que reconfigura a inteligência de seus atos a partir de
normas programadas. Veja que a etapa inicial do método é identificação do
problema, que geralmente são interpretados por ações repetitivas em um local
em comum e devem constituir um obstáculo para a comunidade ao redor. Tipos
de infração reiteradamente praticadas nas análises estatísticas da identificação,
como o furto e roubo, possuem uma forma de comportamento idiossincrático, um
modus operandi de sua operação, tal qual, horário de maior incidência, vítimas
preferidas, locais de risco para essas incidências ocorrerem (GOLDSTEIN,
1990). Esse tipo de estudo estatístico é válido para uma ação de prevenção dos
crimes diversos ao antecipar suas ações. A mudança das atividades policiais,
movimentadas pelas análises de informações das mais variadas sobre o crime
e o comportamento desviante em determinada área ou local, incentivou ações
preventivas realizadas por rondas ostensivas e a constante presença do policial
140
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

nessas regiões. Essa modificação metodológica surte efeito na prevenção da


ocorrência de crimes locais.
Veja que o personagem essencial para a prática dessa identificação não
poderia ser mais bem escolhido que a própria polícia comunitária, uma vez que
sua tarefa consiste em uma associação à comunidade. Da mesma forma que a
identificação, faz-se a análise, importante para que se entenda o problema com
intuito de determinar sua causa. Essa análise pode ser concebida de várias formas
inclusive, segundo Goldstein (1990), por pesquisas científicas e acadêmicas,
registros policiais, agência não governamentais, ONGS, entre outros, ou seja,
com a participação de um maior número de instituições civis espalhadas pela
coletividade.

A partir desses estudos iniciais, o método IARA é complementado com as


soluções que melhor se adequam aos problemas interpretados, respondendo as
suas causas com respostas mais abrangentes do que aquelas antes praticadas
pelo padrão anterior. Entretanto, note que essas respostas, ao evitar o antigo
modelo, devem se estruturar pela prevenção ao crime de uma forma inteligente,
pela vigilância constante, inclusive de habitantes do local nas informações
repassadas à central policial, a visualização do ambiente e a padronização de
rondas ostensivas pelos agentes policiais (BONDARUK, 2007). Observe o ciclo
do método IARA:

FIGURA 2 – CICLO DO MÉTODO IARA

FONTE: Silva (2015, p. 123)

141
SEGurANÇA PÚBLiCA

Como as respostas necessitam de um planejamento estruturado no que


diz respeito à viabilidade econômica do projeto, a elaboração de ações criativas
de baixo custo e a flexibilização das rondas, realizadas de forma a abranger
determinada localidade apenas, uma ferramenta conhecida por “5W2H”
consegue responder algumas questões iniciais (CAMARGO, 2014). Para Silva
(2015, p. 123, esse método representa uma evolução:

Este modelo de gestão, ao mesmo tempo que busca resgatar


a confiança da comunidade em sua polícia, através da
participação da população na identificação dos problemas a
serem enfrentados, ao agregar outras fontes de informação,
inclusive estatísticas, bem como por se preocupar em avaliar os
resultados obtidos, representa, quando analisado sob o prisma
das duas principais correntes modernas de administração
pública, uma tentativa de conciliar a busca pela eficiência
característica da Nova Gestão Pública com a importância da
participação da comunidade reconhecida pelo Novo Serviço
Público.

A seguir, apresentaremos a você a tabela que caracteriza a ferramenta


“5W2H”, utilizada pela Polícia Cidadã, e que pode ser manejado também em
empresas particulares ou instituições públicas diversas:

TABELA 1 – O USO DA FERRAMENTA 5W2H

FONTE: Camargo (2014, p. 27)

142
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

As questões “quando fazer”? “Por que fazer”? “Quem fará”? podem ser
esclarecidas através do método anterior ao adotar uma solução propícia a cada
problema ao invés de não se ter uma ação prática planejada. E isso se perfaz em
gestão e em governança, não apenas do ambiente policial, mas também de toda
sua estrutura, seguindo os padrões do modelo que se pretende efetivar.

Nesse sentido, trazemos no quadro a seguir as diferenças entre as polícias


comunitária e tradicional dentro da governança do método IARA, utilizando-se dos
questionamentos do modelo 5W2H. Esse é um exemplo de como se utilizar os
métodos propostos pelo artifício.

QUADRO 1– O MÉTODO IARA E O MODELO 5W2H:


ANALISANDO OS MODELOS DE POLÍCIA
Questão no Modelo de Polícia Modelo de Polícia
modelo 5W2H Tradicional Comunitária
Segue o informado pelos sistemas Intensifica abordagens que visam
de informações que dispõe, como solucionar problemas, em coopera-
O que faz o agente a radiopatrulha. Atende com tempo ção com os líderes comunitários. É
policial? minimizado de resposta; é eficaz e eficaz pois procura evitar a ocorrên-
procura atender crimes de maior cia de crimes.
potencial.
Representa sua agência governa- A atenção é para a comunidade, e a
Quem é o agente mental aplicando a lei. É anônimo ela cede atenção integral, reconhe-
policial? e desconhece a sua comunidade cida como sua e conhecido por ela.
atendida.
Quando age o agen- Age logo após a ocorrência do de- Age proativamente, de maneira pre-
te? lito tendo uma resposta repressiva. ventiva.
Há um alto investimento no siste- O investimento público realizado é
ma da segurança pública e suas baixo, onde se atende as Compa-
Quanto custa o servi-
atividades repressivas, prisionais e nhias, delegacias distritais, postos
ço policial
de investigação. policiais e locais de atendimento
comunitário.
Age para a resolução de crimes Onde estiver o problema que per-
Por que o agente
violentos e desvios com alto valor turbe a paz de uma comunidade, o
assim age?
social de reprovabilidade. policial age.
Com sua gestão concentrada, é Toda a estrutura organizacional é
realizado a partir das próprias es- base para a realização do serviço,
Onde se realiza o truturas da instituição; tais quais desde suas bases institucionais, até
serviço? seus quartéis e delegacias que co- postos de Policiamento Comunitá-
ordenam as normas e as diretrizes. rio espalhados pela comunidade.
Sua gestão é descentralizada.

143
SEGurANÇA PÚBLiCA

O agente sempre prioriza o con- O agente procura identificar o que


flito, depois de ser chamado; seu causa os problemas com o intui-
Como é realizado o
foco é na resolução dos crimes. to de evitá-los, para que não mais
serviço?
ocorram e em uma resolução con-
junta com os protagonistas.
FONTE: Adaptado de Peak e Glensor (1999, p. 85)

Por certo, o modelo pode ser adaptado pela governança ao conferir a forma
de administração a ser utilizada, ou melhor, os questionamentos realizados dentro
do sistema IARA podem ser estruturados a partir do objeto que se pesquisa.

Após a aplicação da fase estratégica de solução dos problemas, temos o


estágio da avaliação, que se propõe a conferir os efeitos que a estratégia apontada
produziu na resolução dos problemas (OLIVEIRA, 2006). Essa fase é muito
importante para o acompanhamento de tudo o que foi realizado, reconhecendo
a efetividade das estratégias policiais desenvolvidas, servindo como um fator
benéfico identificando o que pode ser melhorado e o que deve ser descartado
(HIPÓLITO; TASCA, 2012). Para a excelência da análise, é imperiosa a límpida
percepção do problema, a transparência do efetivo trabalho policial realizado nas
bases empregadas pelo padrão utilizado e a convicção de que a atividade foi
realizada de forma prudente, legal e conforme os objetivos estabelecidos.

4 - Caro aluno, você viu até aqui um sistema de gestão que conflita
com o modelo utilizado atualmente e outro que reafirma o
paradigma. Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O modelo de planejamento 5W2H não incide no método IARA,


uma vez que seus questionamentos podem ser estruturados a
partir de qualquer ideologia.
b) ( ) A tolerância zero foi uma ideologia e um modelo de trabalho
policial que assegura a paz social por intermédio da resolução
dos conflitos, desde pequenos ou daqueles considerados de
maior potencial ofensivo.
c) ( ) A teoria das janelas quebradas foi precursora do pensamento
da tolerância zero, pois eleva o pensamento de que toda
desordem, seja ela qual for, deve ser combatida pela força de
penalização para que sirva como exemplo pedagógico.
d) ( ) A publicidade não é saudável para o método IARA, uma vez
que tende a aplicar um combate intenso contra o crime.

144
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

5 - Verificando os modelos de gestão pública, assinale a alternativa


CORRETA:

a) ( ) Evitar conflitos organizacionais molda o interesse maior da


instituição de segurança pública.
b) ( ) Conflitos organizacionais são evitados para que se atinja com
maior rapidez as metas traçadas.
c) ( ) O método Compsat é capaz de articular através de números e
por eles mostrar na realidade que deve ser feito pelas polícias.
d) ( ) O método Compsat é eficiente em demonstrar uma realidade
social em uma forma inovadora, para a aplicação da polícia
comunitária.

6 - A respeito dos procedimentos policiais e suas ações, analise as


sentenças a seguir:

I- ( ) Numa ação policial qualquer, a publicização dos atos não se


perfaz em importante causa, podendo inclusive o agente policial
advertir se houver alguém do povo gravando à ação.
II- ( ) Publicidade das ações policiais significa incentivar a gravação
dos atos dos agentes profissionais de segurança, sempre que
ocorrerem.
III- ( ) O princípio da publicidade é um princípio constitucional que
significa que os atos da administração pública devem ser também
públicos, para que não haja arbítrio. Assim, é correto dizer por
analogia que os planejamentos policiais para a tomada das ações
contra o crime também devem ser publicizados.
IV- ( ) O princípio da economia é respeitado pela gestão do método
IARA, pois suas ações são planejadas obtendo auxílio do modelo
de polícia comunitária para realizá-las.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.

145
SEGurANÇA PÚBLiCA

4 O POLICIAMENTO ORIENTADO
PELA INTELIGÊNCIA (POI)
A partir dos modelos de gestão mais eficientes, você viu que a governança
ou administração da segurança pública não se realiza sem uma estratégia.

Variadas técnicas são utilizadas com intuitos diferentes, mas seguindo a


ideologia que se pretende, no caso, a Polícia Comunitária. O paradigma da
Segurança Cidadã trouxe com ele outra forma de se olhar a comunidade, feita
agora pela segurança como sendo parte dela.

Entretanto, você também verificou que se há estratégia, há uma inteligência


que une o sucesso das pesquisas relacionadas ao efetivo trabalho policial
de qualidade. E se orientar pela inteligência nos dias de crescente tecnologia,
significa obter todos os dados que estão aí disponíveis para nós, dentro do
universo digital e tecnológico.

Dirigido por José Eduardo Belmonte e lançado em 2014, o


filme Alemão significa o interpretar de uma inteligência policial,
por intermédio de ações de infiltragem no ambiente inóspito para
assegurar a investigação. Será que a inteligência realizada por
pesquisas e análises sobre o local funcionou bem com a estratégia
escolhida para a ação? Assista e descubra!

A segurança, ao manejar uma ordem estabelecida pela inteligência consegue


enxergar adiante, e mais à frente percebe os melhores atos a serem tomados em
determinadas regiões.

Tendo seu início nos anos 1990 no Reino Unido, e ampliando-se logo após
os atentados das Torres do Gêmeas nos Estados Unidos em 11 de setembro de
2001, o POI efetivava uma estratégia diferente das demais, pois gerenciava a
inteligência investigativa em prol de um impacto mais assertivo nas ações contra
o crime, diminuindo problemas nas comunidades. A identificação de crimes e seus
autores, dos personagens que se envolvem em crimes típicos de cada região,
agora fazem parte dos estudos da inteligência policial, pois seus esforços estão
dirigidos para onde apontar a inteligência e, geralmente, acaba encontrando
autores específicos em lugares de atuação constante (RATCLIFFE, 2011).
146
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Vale destacar, prezado aluno, que a metodologia desse trabalho desenvolvido


pelas agências de inteligência, visa coletar o maior número possível de informação
sobre determinado local ou área considerada volátil ao crime e ao criminoso.
Nesse sentido, você notou que podemos interpretar as ações da POI pelo objetivo
da prevenção dos crimes ao invés de entrar em combate contra ele. Importante a
declaração do cientista a seguir, enfatizando a melhoria nas tomadas de decisão
do policiamento quando se baseia no conhecimento:

O policiamento liderado pela inteligência enfatiza a análise


e a inteligência como essenciais para uma estrutura de
tomada de decisão objetiva que priorize zonas quentes de
criminalidade, vítimas recorrentes, infratores contumazes
e grupos criminosos. Facilita o crime e a redução de danos,
a interrupção e a prevenção por meio de gerenciamento,
implantação e fiscalização estratégica e tática (RATCLIFFE,
2011, p. 66).

Dessa forma, o gestor pode fazer prevalecer as ações de seus policiais


através de decisões que demonstram onde essas atividades devem ser realizadas,
fundamentadas por pesquisas e investigações. Assim, o POI otimiza a tomada de
decisão do gestor, que consegue antecipar ações por intermédio das pesquisas
qualitativas trazidas por seu serviço de informações. Esse modelo proativo de
análise das situações pela inteligência, que toma decisões mais qualificadas,
proporciona aos mecanismos de gestão policial um planejamento calculado, e isso
é importante para a economia perante os recursos que são utilizados pelo instituto
policial. Por certo, é mais barato prevenir do que remediar. E a prevenção aqui se
faz pela inteligência. Através de uma abordagem moderna para o reconhecimento
dos atos desviantes e criminosos, o POI sugere que tanto o controle do crime
comum (furtos, roubos) quanto o do crime organizado são possíveis, pois sua
ação independe dos mecanismos usuais utilizados pelo crime, sejam eles quais
forem (RATCLIFFE, 2011).

O modelo sugere a redução da criminalidade baseando-se em análises


interpretativas do ambiente criminal e de sua formação. Para Ratcliffe (2011,
p. 10), a base central para esse tipo de inteligência observa-se pelos “três Is:
Interpretação, Influência, Impacto”.

Podemos determinar, através da especificação do autor, que as funções


de análise da criminalidade e seus trejeitos, o conhecimento acerca o ambiente
criminal na comunidade e as decisões tomadas são funções do sistema POI,
definidas pela interpretação das informações coletadas.

Aqui há uma perspectiva ampliada do que é crime e quais os problemas e


possibilidades da comunidade ao redor. Para sua aplicação numa unidade de
polícia, é preciso a interação aos ambientes de inteligência e mecanismos de

147
SEGurANÇA PÚBLiCA

coleta de informações. Isso faz priorizar a pesquisa e seus dados analíticos e


estatísticos, mas se faz imprescindível todo apoio possível dos órgãos federais
para a instalação de modernos equipamentos de comunicação e pesquisa, para
que o efeito determine maiores chances de sucesso. O paradigma da informação
e da tecnologia que vivemos agora, como a internet e suas possibilidades, abrem
um panorama favorável para esse tipo de policiamento, mas é preciso investir.

Entretanto, para implementar o POI, há a necessidade de etapas que


evidenciam o projeto: um plano de gerenciamento e o material necessário para
a coleta dos dados, criar uma estrutura para o serviço e a implementação do
sistema (CARTER, 2009).

Nesse sentido, a orientação para um plano gerencial foi realizada pelo


professor californiano David Carter (2009, p. 101-103), a partir de alguns passos
essenciais:

a) Definição das estratégias prioritárias: aqui deve-se pensar


em quais problemas deve a segurança pública priorizar, em
cada região.
b) Definição dos requisitos de inteligência: como interpretar da
melhor forma as informações que chegam, quais as causas
dos problemas vividos na região?
c) Plano de coleta: qual local é o melhor para coletar meus
dados? Onde consigo informações e pormenores dos
problemas?
d) Análise: essas informações têm qual significado? Elas
podem ser utilizadas?
e) Produto de inteligência: dessas informações, devo escolher
quais devem ser repassadas para o agente policial em
atividade de rotina e qual delas indica que devemos combater
ou prevenir uma situação problema?
f) Resposta operacional: que recursos são necessários para
minimizar os problemas através da inteligência? Há atividade
policial que possa ser aqui implantada para essa melhora?
Qual?
g) Revisão do processo: o pragmatismo da própria ação da
inteligência, as ações serviram ao contexto prevenção ou
combate ao crime? Será que podemos ter melhorias no
processo de obtenção das informações, caso a resposta para
a questão anterior seja negativa?

Veja que essas informações devem se realizar a partir da realidade de


cada comunidade. Nesse prisma, Carter (2009) intervém ao unir o policiamento
comunitário às práticas do POI, quando um é potencializado pelo outro:

Como o policiamento comunitário, o POI requer um investimento


de esforço de todos os componentes da organização, bem
como da comunidade. Já se foram os dias em que as unidades
de inteligência operavam em anonimato. [...] inteligência policial

148
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

é uma responsabilidade de toda a organização que depende


de uma relação simbiótica com os residentes (CARTER, 2009,
p. 88).

E é assim que o Secretária Nacional de Segurança Pública (SENASP) define


a atividade da inteligência no Brasil, como um mecanismo primordial para a
tomada de decisões engenhosas:

A atividade de inteligência, no campo da segurança pública,


é importante ferramenta de resposta e apoio ao combate ao
crime em geral, sobretudo aqueles de alta complexidade,
procurando identificar, entender e revelar os aspectos ocultos
da atuação criminosa que seriam de difícil constatação
pelos meios clássicos de investigação policial, servindo,
concomitantemente, no assessoramento das autoridades
governamentais e na elaboração de Planos de Segurança
Pública (BRASIL, 2005, p. 10).

Para termos uma ideia de sua importância, o serviço de inteligência conhecido


por Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), criado pela Lei nº 9.883 de setembro
de 1999, planeja a agência especial nas atividades de coordenação, planejamento
e execução dos procedimentos envoltos em serviços de informações, pautados na
defesa coletiva. Ao ser estruturado pelo novo Estado de Direito, que se formava a
partir da Constituição de 1988, seu objetivo se diferenciava das demais agências
criadas no Regime Militar, como o Serviço Nacional de Informação, que visava a
repressão e execução de opositores ao regime ditatorial (FIGUEIREDO, 2005). A
criação das agências de inteligência, historicamente movimentou o interessante
mercado de tecnologias de informação a partir das novas sensações tecnológicas
que surgiam. Veja que, a partir da internet, todos estão. de alguma forma,
conectados, seja pela vigilância constante que esse mecanismo capacita, seja
pelas informações repassadas em velocidades insuperáveis.

Prezado aluno! No site da ABIN, você encontra importantes


informações sobre as atividades de inteligência da Secretaria de
Segurança Pública. Há também a Revista Brasileira de Inteligência,
trazendo artigos interessantes de conceituados pesquisadores e
cientistas brasileiros! Veja: https://www.gov.br/abin/pt-br/centrais-de-
conteudo/revista-brasileira-de-inteligencia.

149
SEGurANÇA PÚBLiCA

4.1 A TECNOLOGIA EM PROL DA


SEGURANÇA PÚBLICA
Quando se entende a tecnologia e sua utilização na área de segurança,
percebemos que o seu motivo maior é a prevenção. Câmeras de segurança
espalhadas enfocam a atitude preventiva contra a criminalidade, que justificam a
quebra do ditado famoso que diz: “a ocasião faz o ladrão”. Para prevenir, a Polícia
Comunitária encontra na tecnologia um poderoso parceiro. E não é para menos,
como você percebeu ao analisar as situações em que o policiamento orientado
pela inteligência são adotadas, são necessárias tecnologias diversas que facilitam
a interação entre os agentes em busca da prevenção.

Como seria evidente desde o início da era tecnológica, a cada dia que passa
estamos cada vez mais munidos de aparatos tecnológicos diversos. Veja que,
nos EUA, um dos primeiros auxiliares nesse aspecto que fizeram sucesso foi o
drone. Várias ações contra o tráfico de drogas nos últimos anos foram realizadas
em fazendas e em fronteiras, auxiliando a segurança pública na identificação do
crime. A discussão a respeito do uso de drones nos leva ao direito de privacidade,
gerando conflitos. Com os drones, ainda há a possibilidade de buscas em
territórios particulares que não possuam um mandado judicial para tal ação.
Entretanto, são discussões que devem ser realizadas para o completo uso da
tecnologia na defesa do cidadão, mas preservando seus direitos.

FIGURA 4 – OS DRONES POLICIAIS

FONTE: <https://img.ibxk.com.br/2017/03/21/21134224858126.
jpg>. Acesso em: 25 jun. 2021.

150
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Veja o exemplo, na prática, do uso da tecnologia na segurança


utilizada pela segurança pública do Estado do Ceará:

Ferramenta que mapeia manchas criminais encorpa


rol de tecnologias da Segurança Pública no Ceará

A “Era da Tecnologia” na Segurança Pública do Ceará começou


em 2017, com Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia)

O futuro da Segurança Pública no Ceará também passa pela


tecnologia. O último lançamento da Secretaria da Segurança Pública
e Defesa Social (SSPDS), com o intuito de sufocar o crime organizado
e melhorar os índices de violência, foi o Sistema Tecnológico para
Acompanhamento de Unidades de Segurança (STATUS).

A ferramenta passou a encorpar o rol de tecnologias da


Segurança Pública no início deste mês de fevereiro. Policiais civis e
militares ainda passam por treinamento, mas o aplicativo já está em
uso. A tecnologia foi desenvolvida no projeto Inteligência Científica e
Tecnológica Aplicada à Segurança Pública, que é parte do Programa
Cientista Chefe, fomentado pela Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), em parceria
com a Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança
Pública (SUPESP), da SSPDS.

O secretário da Segurança Pública do Ceará, Sandro Caron,


explica que a ferramenta Status “permite aos dirigentes da Polícia
Civil e da Polícia Militar terem, em tempo real, as chamadas manchas
criminais. Ou seja, são apontados os locais que há maior incidência
de crimes graves no Estado, chamados microterritórios, já com a
indicação de dias e horários que costumam ocorrer. Para que, com
base nesses dados científicos, direcionem melhor a estrutura de
policiais e equipamentos”.

Segundo a SSPDS, as principais funções do Sistema consistem


no uso de estatísticas qualitativas das ocorrências importadas
por semana, mês e ano; uso de cenários a partir de cadastros de
indicadores criminais; apresentação visual do ambiente por meio
da realização das análises de mapas; e análise de estatísticas por
principais tipos criminais.

151
SEGurANÇA PÚBLiCA

A agilidade promovida pelo Status, com o uso de dados


atualizados, tenta combater o deslocamento do crime. Especialistas
em Segurança Pública já afirmaram que a instalação de bases
policiais fixas, por exemplo, diminui a ação de uma facção criminosa
naquele ponto, mas a leva para outra área. Desta vez, a tentativa é
acompanhar e sufocá-la.

Inovação

A “Era da Tecnologia” na Segurança Pública do Ceará começou


em 2017, com Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia),
desenvolvido em uma parceria da Polícia Rodoviária Federal
(PRF) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) com a SSPDS. A
ferramenta virou destaque nacional e atraiu o interesse do governo
de outros estados e Federal, pela inovação.

O Spia é uma Inteligência Artificial que, aplicada ao Sistema


de Videomonitoramento do Estado – com mais de 3 mil câmeras
– consegue realizar a leitura de placas de veículos e identificar
se um automóvel possui restrição de roubo ou furto ou se existe
uma suspeita de clonagem. A ferramenta ampliou e acelerou a
recuperação de veículos roubados e furtados e, consequentemente,
a captura de suspeitos, no Estado.

Uma das últimas ações do Spia foi a prisão de um motorista de


aplicativo e outro homem por suspeita de roubar um carro modelo
Chevrolet Onix, no bairro Parquelândia, no dia 2 de fevereiro último.
Pouco tempo depois, o Sistema de Videomonitoramento da SSPDS
localizou o veículo, e a Polícia Militar foi acionada para realizar a
abordagem e a detenção da dupla.

Em 2018, a SSPDS ampliou o combate à “mobilidade do crime”


com o Portal do Comando Avançado (PCA), um aplicativo presente
nos dispositivos móveis dos agentes de segurança, que permite a
consulta do nome de suspeitos, da identificação facial e de placas
veiculares, no banco de dados do Estado. A ferramenta permite
ainda acesso ao Botão do Pânico, que pode ser acionado pela
população em situações de risco iminente. Segundo a Secretaria
da Segurança Pública, a tecnologia “passa por melhorias contínuas
para atualização de sua funcionalidade visando aperfeiçoamento do
algoritmo”.

152
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Em 2019, foi a vez do Cerebrum, um painel analítico para acesso


a diversos sistemas e bases de dados de órgãos de segurança do
Ceará e instituições parceiras. Por meio do cruzamento de dados,
o sistema fornece informações em tempo real e facilita o processo
de investigação, inteligência e tomada de decisão. De acordo com a
Pasta, é possível analisar e processar milhares de dados diferentes,
em um curto intervalo de tempo.

No ano seguinte, a tecnologia se voltou para a atuação do Corpo


de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), com a criação do Sistema
de Georreferenciamento Operacional (Sigo). A ferramenta permite
os bombeiros militares localizarem as ocorrências de incêndio e as
unidades do próprio Corpo de Bombeiros e de hidrantes próximos do
sinistro.

Também no ano passado, a SSPDS ampliou a utilização da


Delegacia Eletrônica (Deletron) para registrar ocorrências não
delituosas - como o extravio de documentos; e mais oito tipos de
crimes, passando de 11 tipificações para 19. As medidas tiveram os
objetivos de diminuir a procura da população pelas delegacias físicas
e, consequentemente, evitar a propagação da Covid-19, além de
otimizar o trabalho do policial civil.

Questionado sobre a importância das tecnologias, Caron afirma


que “o mais importante, para ter resultado, é o fator humano. Nós
termos homens e mulheres da Segurança Pública bem selecionados,
capacitados, motivados e valorizados, com boas condições de
trabalho. As tecnologias vêm para somar a isso”.

Futuro

Outras tecnologias devem ser encorpadas ao rol da Segurança


Pública do Ceará nos próximos meses e anos. Pelo menos duas
ferramentas estão em desenvolvimento, na parceria da SSPDS
com o Programa Cientista Chefe: o ID Ceará, que pretende permitir
visualizar a identidade em formato digital, em dispositivos móveis,
com facilidade; e o Human Nerd, que tem o objetivo de realizar o
reconhecimento automatizado de informações em Boletins de
Ocorrências (BOs).

“Você desenvolve uma tecnologia e, depois de um tempo, o


mundo do crime acaba buscando alternativas para tentar escapar
da utilização dela. Portanto, o nosso trabalho é o permanente
desenvolvimento de tecnologias. Temos outras ferramentas para
153
SEGurANÇA PÚBLiCA

serem lançadas e nosso trabalho é estar sempre aprimorando”,


conclui Caron.

FONTE: Adaptado de <https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/


seguranca/ferramenta-que-mapeia-manchas-criminais-encorpa-rol-
de-tecnologias-da-seguranca-publica-no-ceara-1.3052819>. acesso
em: 25 jun. 2021.

As discussões acerca do uso de tecnologias consideradas mais invasivas,


como os drones, são importantes para definir qual a sua função na segurança
pública e quando podem ser utilizados. Imaginem equipar drones com armas
não letais para que possam, a partir dos comandos do controlador, combater a
criminalidade. O que se discute é a segurança dos envolvidos e, nesse caso, a
percepção da real situação que o agente tem quando a observa por telas que
transmitem imagens captadas pelos drones. Segundo Cava (2015), isso já vem
sendo utilizado no Estado norte-americano da Dakota do Norte, que teve o uso
regularizado por uma lei local. A questão do mandado judicial também é influente,
uma vez que o mandado significa também a proteção do agente policial e da
própria comunidade ao redor. Expedido por juiz competente, o mandado realça o
olhar da segurança para aquela ação, tornando-a mais segura para os envolvidos,
e impede que todo o procedimento depois de realizado seja considerado ilegal
pelo processo penal, pois foi pedido pelo próprio magistrado.

No Brasil, o uso dessa tecnologia é defendido pela Força Aérea Brasileira,


que incentiva a discussão conjunta de entidades diversas a respeito do assunto:

Com tantos atrativos e facilidades, está justificado o crescente


número de aeronaves remotamente pilotadas. Surgiu daí a
necessidade de regular o uso de forma conjunta com outros
órgãos públicos. No Brasil, as primeiras discussões voltadas
para regulação do uso dos drones originaram-se em 2011,
após demanda do Departamento da Polícia Federal que tinha
interesse em usar uma aeronave não tripulada de grande porte
em suas operações (FAB, 2017, p. 1).

O projeto de Lei nº 9.425, de 2017, autoriza e disciplina o uso dos Veículos


Aéreos não Tripulados (VANTs), ou drones, sob o nº 167, que prevê também a
habilitação dos profissionais para manejar o equipamento, que foi aprovado
recentemente. Nele, está inserido a possibilidade de cada Estado fazer uso ou
não da tecnologia.

154
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Claro que a película de Steven Spielberg Minority Report,


a nova lei, de 2002, se passa em um futuro não tão distante e
utiliza alguns métodos de prevenção de crime que fomentam
discussões acaloradas. Repare as tecnologias que são usadas
no filme, estrelado por Tom Cruise: aranhas espiãs, o pré-crime, o
reconhecimento da íris, os jetpacks utilizados pelos policiais para
alçarem voos, os e-papéis, que se movem conforme a notícia ocorre,
o colar paralisante, são todas criações da mente sagaz de Spielberg.
Ou não estão tão longe assim, conforme a ciência vai evoluindo dia
a dia?

Já aproveitando que estamos falando do uso dos drones,


imagine uma rede de satélites que pode encontrar você em qualquer
lugar do mundo! Esse fato é retratado no excelente filme do diretor
Tony Scott, de 1998, Inimigo do estado. Com atuação de Gene
Hackman e Will Smith, o enredo potencializa o uso indiscriminado
da tecnologia e abre uma influente questão: Quais os limites para o
uso das parafernálias tecnológicas que devem ser impostos? Pegue
a pipoca e responda à questão assistindo aos filmes!

Existem outras possibilidades que estão sendo estudadas. Veja, por exemplo,
o aparelho conhecido por Gunshot Detection System (GDS), implantado em
várias cidades norte-americanas. O sistema em questão possui a característica
de identificar sons de tiros. Quando ativado, envia um sinal para os módulos
policiais que tendem a realizar a patrulha no local. Esse sistema intensifica a ação
policial, que não precisa esperar pelas informações da radiopatrulha, normalmente
repassadas por reclamações de moradores locais. Então, ao agir e indicar os
sons de armas de fogo em uso, indica à central policial a possível ocorrência de
um crime. De fato, não estrutura na prevenção, mas cede aos agentes uma maior
autonomia, pois não precisam aguardar o chamado do cidadão para vasculhar a
área. Muitas vezes, motivados pelo medo da criminalidade em locais considerado
de risco, não há nem mesmo o registro da ocorrência,que é realizada pelo cidadão.

155
SEGurANÇA PÚBLiCA

FIGURA 5 – O GUNSHOT DETECTION SYSTEM (GDS)

FONTE: <https://en.wikipedia.org/wiki/Gunfire_locator#/media/File:Boomerang_3_
Gunfire_Acoustic_Detection_System_MOD_45153048.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2021.

De fato, devem ser consideradas as polícias em suas atividades mais


essenciais. A Polícia Militar, por exemplo, em seu enfrentamento e em sua
prevenção com o crime, deve estar munida de armamentos tecnológicos, que
ativem a facilidade de comunicação, movimentação e controle da criminalidade
in loco. Já aos Policiais Civis, que preparam e condicionam toda a persecução
penal, por via de seus atos investigativos, devem ser municiados por instrumentos
que efetivem essa função tão importante para a polícia judiciária. Só que de nada
adianta se não existir a coesão entre os institutos policiais. É imprescindível que
estejam conectados Polícia Militar e Polícia Civil para evitar qualquer situação que
onere danos ao planejado.

Mesmo com todas as novas possibilidades, prezado aluno, no Brasil, ainda


engatinhamos no sentido de assegurarmos aos nossos agentes policiais, a
inteligência das tecnologias. Um importante passo para isso, seriam programas
do governo federal em comum com os governos dos estados, viabilizando a verba
necessária para armar os policiais com essas novas artilharias. Desde pequenos
tablets, computadores de mão e celulares, até os mais modernos auxiliadores da
segurança pública na elucidação e investigação de crimes, devem ser pensados
e utilizados em benefício de uma segurança modernizada e que precisa de toda
ajuda possível para efetivar seus planejamentos.

156
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

7 - As tecnologias trouxeram inúmeras possibilidades, entre elas,


a facilidade com a qual as investigações podem ser realizadas
através de aparelhos antes inexistentes, mas também, é capaz
de trazer o vilipêndio de determinados direitos da pessoa, como a
privacidade. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir:

I- A tecnologia pode ser utilizada de indistintamente, quando a luta


contra o crime organizado é essencial.
II- Os direitos das pessoas não são feridos pelo uso indiscriminado
pela tecnologia, pois a segurança de todos é um bem mais
precioso que qualquer direito individual.
III- Devem ser respeitados os direitos de privacidade e para a entrada
de policiais em ambiente particular o mandado judicial serve
também como proteção da sociedade e do policial
IV- O mandado judicial significa que o procedimento realizado é
determinado, correto e legal.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

8 - Como vimos, o Policiamento Orientado pela Inteligência (POI) é


fundamental para traçar qualquer plano na segurança pública,
pois define estratégias engenhosas. Sobre o exposto, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) O POI não aplica pesquisas nas zonas consideradas quentes


para a criminalidade, pois não age para combater, mas para
prevenir.
b) ( ) É uma essencialidade do POI a prevenção por intermédio
do gerenciamento e fiscalização estratégica da tática que se
pretende tomar.
c) ( ) Para a inteligência policial, as análises estatísticas de grupos
desviantes não desvendam os problemas a serem solucionados
pelos policiais em suas ações.
d) ( ) O POI facilita o gerenciamento de dados de crimes, mas não
consegue provocar a tomada de decisões para o planejamento
das atividades policiais.

157
SEGurANÇA PÚBLiCA

9 - A orientação para um plano gerencial de inteligência para


implementação do POI depende de alguns passos primordiais.
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A análise significa o passo em que as informações podem ser


utilizadas.
b) ( ) Definir os requisitos de inteligência não se orienta na
interpretação dos dados, mas da estrutura policial a ser utilizada.
c) ( ) O produto de inteligência negligencia opções como a escolha
das informações que precisam ser passadas aos agentes.
d) ( ) Se define, pela estratégia do POI, priorizar uma macrorregião
para se iniciar toda a operação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado aluno! Encaramos juntos a missão de conhecer como a Segurança
Pública se concretiza no Brasil. Desde o início de nossa conversa, você identificou
os caminhos tomados historicamente pela segurança pública, antes não tão
participativa assim na proteção coletiva, fato que se alterou conforme a mudança
de paradigma se tornou necessária.

A partir da história, você viu os primordiais passos da segurança no


país, identificando que se tratava de uma força para a proteção do imperador,
seu governo e sua elite. As capitanias hereditárias, com o passar do tempo,
absorveram a questão da segurança, tomando para si a atividade de proteção de
seu território. Nessa época de coronéis e grandes latifundiários – donos das terras
mais propensas à riqueza, herdadas e doadas pelo trono –, o comando e controle
das comunidades viventes dentro das margens das capitanias eram realizados
ao mando e desmando das elites. Com o surgimento de uma restauração do
Estado e os pensamentos mais iluministas de Estado Moderno e com o fim do
Império, pensava-se em uma segurança pública de todos, que ficou apenas no
papel. As dificuldades para a manutenção da ordem no próprio ambiente político
nacional, cenário de antagonismos diversos mesmo entre as instituições policiais
e de segurança, formou uma seguridade da paz que confirmava apenas proteger
o Estado. Nisso se encontrava, como você viu, a proteção do sistema político que
vigorava então. Com o militarismo em ascensão a partir de 1964, a segurança
tomou moldes ditatoriais até meados de 1985, quando uma abertura para a
redemocratização no Brasil passou a ser vista como necessária, abrindo-se aí
mais um novo padrão.

158
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

Esse modelo se confirmou com a ordem democrática no país, reafirmada


pela Constituição de 1988, que realçava os direitos fundamentais e a necessária
harmonia aos direitos humanos e aos tratados internacionais sobre o tema.

A partir desse prisma, você viu que uma mudança de paradigma é


necessária quando o vício no sistema, ou quando a crise é tão intensa, que
não há mais formas de convivência saudável com o padrão em desequilíbrio.
Com a constitucionalização do direito, em que todas as normas passam a ser
interpretadas pelos princípios constitucionais, o paradigma, para a segurança
pública somente poderia ser interpretado pelos modelos da Polícia Cidadã e da
Segurança Comunitária, padronização essa que foi representada pela CF/1988.
A partir de sua regulação no Brasil, realizada pelos institutos políticos, pela
Secretária de Segurança Pública e pelo Ministério da Justiça e Defesa, o novo
modelo passou a ser incentivado.

Claro que mudanças necessárias custam e levam um tempo para serem


realmente implementadas ao ponto de se tornarem parte da normalidade. Para
isso, você viu que ainda há a necessidade de um maior envolvimento do poder
público, principalmente nas políticas de qualidade que determinem o novo padrão.
E é nesse sentido que estudamos que políticas públicas são necessárias para
evitar a criminalidade e oferecer oportunidades às comunidades. Políticas de
educação, inclusão social ao invés de exclusão são fomentadoras do próprio
conceito de cidadania. Esse método de administrar com bases nos direitos
fundamentais elencados constitucionalmente, a partir de um Estado mais dialógico
e pautado pelos princípios da cidadania, é capaz de contribuir para a essencial
busca da real cidadania pelo cidadão. Definimos, então, que as políticas públicas
sociais de inclusão e integração social e política são fundamentos para a nova
polícia que se deseja ter nas ruas protegendo toda a sociedade.

A polícia comunitária, através do padrão da Segurança Cidadã, apresenta


diferenças entre a polícia tradicional, pois entende que defesa social e todo o seu
conceito deve ser definida como a busca pela pacificação em prol da convivência
e da presença policial, ao invés das ações violentas e invasivas do modelo policial
tradicional. Também, como você estudou, a prevenção é constituída como fonte
primordial para o novo estilo policial, nesse sentido, até economicamente se
percebe que não há necessidade de gastos excessivos para a implantação de
programas que tem a função de evitar e precaver em detrimento de estratégias
que apenas coíbem e surgem depois, somente para aparar as arestas do
crime ocorrido. É dever, conforme estudamos, da Polícia Comunitária agir com
veemência, se preciso, mas também deve estar preparada para interagir com os
conflitos, auxiliar a sua comunidade a dirimi-los, perceber que o direito penal e
toda a força de sua persecução devem ser chamados ao problema somente em
último caso e se realmente necessário.

159
SEGurANÇA PÚBLiCA

É aqui que o planejamento estratégico se solidifica na polícia comunitária. A


partir dele, se consegue o essencial contato com a comunidade. O conceito de
Polícia Cidadã já trouxe, em seu âmago, a convivência e a inserção do policial
na comunidade que se pretende proteger. Nesse sentido, a estratégia também
diz que o policial bem informado pela própria comunidade sobre as suas mazelas
poderá tomar atitudes de defesa contra o crime e contra o desvio, fazendo parte
dela, sendo parte da sociedade.

Para que o policiamento democrático, que reconhece os direitos diversos do


cidadão e que labora como ampla defensora dos direitos humanos e fundamentais,
possa realizar suas atividades com maior assertividade, é preciso uma gestão que
entenda e saiba administrar.

Você viu que a busca pela melhor estratégia é como um jogo de xadrez,
cujas peças devem ser mexidas com segurança e conhecimento. Cada peça
movimentada errada ou mesmo deixada omissa no tabuleiro vai gerar alguma
inconstância. Para que isso não ocorra, o planejamento precisa da segurança
que somente uma gestão de qualidade pode conferir. Essa gestão, como você
identificou, é realizada de forma centralizada, mas ainda assim, respeitando as
decisões de cada local, de cada comunidade espalhada por esse país continente.
Para definir o plano, possuir uma Estratégia de longo prazo é essencial para que o
planejamento possa ser cumprido. O Plano Estratégico Situacional para ambientes
sociais e comunidades é interessante no sentido de se vincular ao modelo social
vivido naquele ambiente, bem como em suas mazelas mais características, que
são formadoras da criminalidade.

Nos dias atuais, pensar em segurança pública é entender o conjunto de ações


e planos tomados utilizando-se do artificio da tecnologia. Nesse prisma, caro
aluno, você viu que a busca por uma tecnologia interessante para a segurança
pública, às vezes esbarra nos direitos das pessoas, como o direito à privacidade.
Para isso, discussões, conversas entre a administração pública e a sociedade civil
devem ser realizadas para definir o melhor para a segurança de todos.

Só que segurança pública se faz também com boa vontade política. É


obrigação das políticas públicas de segurança, mas, muitas vezes, a situação
apolítica do país faz com que não nos preocupemos, e isso é um sinal vermelho
para a sociedade, que deixa de se preocupar e de manter seu senso crítico
aguçado. Isso significa que devemos cobrar cada vez mais de nossos políticos,
buscando fomentar e incentivar as políticas públicas de inclusão social no
país e de segurança pública comunitária. O policial que está nas ruas precisa
desse nosso apoio, da luta que devemos travar por todos, necessita de todo o
treinamento, aparato técnico e especializado para manter sua lide diária, muitas
vezes dolorosa perante as ações do crime que se organiza. Enquanto políticas

160
Capítulo 3 PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA

públicas sociais de qualidade como educação e saúde não estiverem na agenda


de discussões dos nossos governantes, haverá o abandono gradativo de todas as
conquistas realizadas pela Carta Constitucional e pelas lutas travadas em prol da
dignidade.

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