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Onde há aglomeração de pessoas, seja no campo

ou na cidade, haverá a presença do crime e da

INTRODUÇÃO A SEGURANÇA PÚBLICA


violência que o acompanha, em maior ou menor
intensidade. Nesse sentido, os olhos treinados dos
profissionais de segurança pública são essenciais
para identificar esses problemas e apontar soluções
adequadas e eficientes para cada uma das formas
pelas quais o crime pode se manifestar.

A segurança pública tem sido tema recorrente e


abordado em muitos debates. Neste livro, busca-
-se trazer informações úteis e inaugurais que
permitirão ao leitor um maior aprofundamento
nesse tema. Certamente, esse é um campo fértil
para aquele que busca o extraordinário e deseja
compreender a vida em sociedade.

MARCELO TREVISAN KARPINSKI

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6525-7

58851 9 788538 765257


Introdução à
Segurança Pública

Marcelo Trevisan Karpinski

IESDE
2019
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
K28i
Karpinski, Marcelo Trevisan
Introdução à segurança pública / Marcelo Trevisan Karpinski. - 1. ed. - Curitiba
[PR] : IESDE Brasil, 2019.
102 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6525-7
1. Segurança pública - Brasil. I. Título.
CDD: 363.106981
19-59919
CDU: 351.74(81)

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Marcelo Trevisan Karpinski
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em
Administração Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Especialista
em Administração com ênfase em Segurança Pública pela Faculdade Educacional Araucária
(Facear). Especialista em Políticas Públicas pela Faculdade São Braz. Graduado em Direito pela
Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Bacharel em Segurança Pública pela Academia Policial
Militar do Guatupê, Escola Superior de Segurança Pública da Polícia Militar do Estado do Paraná
(APMG/Esusep/PMPR). Instrutor dos cursos de formação de oficiais e demais cursos de formação,
atualização e aperfeiçoamento da Academia Policial Militar do Guatupê. Instrutor da Secretaria
Nacional de Segurança Pública (Senasp) e do Programa Educacional de Resistência às Drogas e
à Violência (Proerd). Oficial da Polícia Militar do Estado do Paraná. Membro da Academia de
Letras dos Militares Estaduais do Paraná (Almepar – Patrono Capitão PM João Alves da Rosa
Filho), ocupante da cadeira n. 14 “Coronel PM José Scheleder”. Palestrante de temas que envolvem
Segurança Pública e privada.
Sumário

Apresentação 7

1 Evolução da Segurança Pública 9


1.1 O que se entende por Segurança Pública 9
1.2 Segurança Pública – tema multidisciplinar 12
1.3 Violência 14
1.4 Segurança Pública – conceito em construção 16
1.5 História da Segurança Pública 17

2 O direito fundamental à Segurança Pública 27


2.1 Direitos do Homem, Direitos Humanos e Direitos Fundamentais 28
2.2 Tratados internacionais sobre Direitos Humanos 30
2.3 Classificação Legal dos Direitos Fundamentais 30
2.4 Classificação Temporal dos Direitos Fundamentais 32
2.5 Características dos Direitos Fundamentais 33
2.6 O Direito Fundamental à Segurança Pública na Constituição brasileira 33

3 Segurança Pública na Administração Pública 41


3.1 Princípios orientadores 41
3.2 Serviço público 50

4 Órgãos de Segurança Pública 57


4.1 Ordem e Segurança Pública na Constituição brasileira 57
4.2 As atividades policiais de Segurança Pública no Brasil 59
4.3 Ciclo da persecução criminal e o ciclo de polícia 70

5 Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 77


5.1 Segurança Pública como política pública 77
5.2 Da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social 80
5.3 Origem e integrantes do Susp 81
5.4 Composição formal e do funcionamento do Susp 95

Gabarito 99
Apresentação

A Segurança Pública tem sido tema recorrente e abordado em muitos debates. Especialistas e
profissionais da área se revelam a todo momento, opinando e discutindo a melhor configuração do
Sistema de Segurança Pública Nacional. Neste livro, procuramos trazer a esse debate informações
úteis e inaugurais que lhe permitirão um maior aprofundamento nesse tema.

Faz-se necessário ter muita disposição para se debruçar sobre esse assunto, pois, como você
constatará, a Segurança Pública é um tema multidisciplinar, que envolve saberes dos mais diversos,
perpassando pela história, geografia, sociologia etc. Certamente, é um campo fértil para aquele que
busca o extraordinário e deseja compreender a vida em sociedade.

Onde há aglomeração de pessoas, seja no campo ou na cidade, haverá a presença do crime e da


violência que o acompanha, em maior ou menor intensidade. Nesse sentido, os olhos treinados dos
profissionais de Segurança Pública são essenciais para identificar esses problemas e apontar soluções
adequadas e eficientes para cada uma das formas pelas quais o crime pode se manifestar.

Este livro é dividido em cinco capítulos, e você encontrará os seguintes pontos para dar
início à sua jornada de estudos e muito trabalho: no Capítulo 1, conduzimos à reflexão sobre o
que realmente é a Segurança Pública e o quão equivocados podem ser os conceitos em relação a
esse tema tão amplo. Com base em uma abordagem multidisciplinar, chegamos aos vários tipos
de violência que surgem na sociedade, o que nos mostra como é imprescindível aprofundarmos o
conceito de Segurança Pública, que continua mudando ao longo da história.

No Capítulo 2, é discutida a questão do direito fundamental à Segurança Pública, em que


demarcamos, no campo do ordenamento jurídico, a Segurança Pública como direito fundamental,
compreendendo-a à luz da Constituição Federal e de documentos internacionais.

Na sequência, no Capítulo 3, abordamos a Administração Pública, elucidando que todos


os membros do Estado e seus administrados, em maior ou menor proporção, estão sujeitos aos
princípios que regem a Administração. Nesse capítulo, buscamos possibilitar que você compreenda
ao máximo os princípios que regem o Estado, para reconhecer que a vocação do ente estatal é o
serviço público destinado ao cidadão.

No Capítulo 4, já conhecendo sobre Segurança Pública, os deveres e as prerrogativas do


Estado, vamos abordar o Sistema de Segurança Pública – previsto na Constituição Federal de
1988 –, saber sobre os órgãos que o compõem e abordar as competências específicas de cada um.
Além disso, aprenderemos que segurança pública não é trabalho apenas da polícia, pois envolve
muito mais.

Por fim, no Capítulo 5, trataremos do Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Instituído
legalmente, ele somou à Segurança Pública órgãos que já atuavam na causa, porém, com a
edição de legislação adequada, tais órgãos passaram a compor um projeto de unificação de forças
empreendedoras no combate ao crime e à violência, valorizando os profissionais da área, investindo
recursos de maneira assertiva e fiscalizando passo a passo cada uma das ações desenvolvidas. Essas
medidas inovadoras são fruto de uma Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social que
passou a vigorar no Brasil.

Boa leitura!
1
Evolução da Segurança Pública

Falar sobre Segurança Pública é sempre um grande desafio, até mesmo para os profissionais
que se dedicam ao tema há anos. Tal dificuldade ocorre devido à pertinência dessa temática, pois
Segurança Pública se trata de um anseio nacional e global.
Quando pensamos nos milhares de pessoas que circulam pelas ruas das cidades ao redor do
mundo, levando consigo a esperança de uma vida feliz e próspera, podemos imaginar que essas
pessoas almejam estar e ter seus entes queridos em segurança antes de qualquer coisa.
A segurança física, psicológica e emocional garante ao ser humano vontade de prosseguir
com sua caminhada diária em busca da felicidade.
Ao nos referimos à segurança psicológica e emocional, é importante refletirmos sobre o seu
oposto, ou seja, a insegurança. Esse sentimento, devastador em todas as suas formas, permeia a
discussão da Segurança Pública no que tange à violência social e ao crime. Você já imaginou que
o medo do crime pode ser tão ou ainda mais perverso que o próprio crime? Se não, saiba que há
estudos que comprovam isso1.
É neste contexto que convidamos você para iniciar os estudos em Segurança Pública, a fim
de lhe proporcionar um sólido alicerce para transitar pelos temas mais complexos que envolvem
essa temática. Acredite, o mundo precisa de você e de seus estudos!
Então, vamos ao primeiro capítulo do nosso trabalho, iniciando no aprofundamento do
conceito de Segurança Pública, sua importância e historicidade. Para começar a compreender o
tema, já lançamos a primeira questão: o que você entende por Segurança Pública?

1.1 O que se entende por Segurança Pública


Ao pensar em Segurança Pública, quais são as primeiras imagens que vêm à sua cabeça?
Podemos presumir que algumas sejam imagens como estas:
• Viaturas policiais em perseguição.
• Locais de crime com pessoas vitimadas, feridas ou mortas.
• Cenas de confronto entre supostos bandidos e policiais.
• Comunidades pobres sendo patrulhadas por policiais.
• Roubos à mão armada.
• Arrastão nas praias; pessoas sendo roubadas.

1 Para mais informações, acesse: http://www.assor.org.br/wp-content/uploads/2017/06/O-Medo-do-Crime.pdf


e http://www.researchgate.net/profile/Braulio_Silva/publication/274855460_Ecologia_social_do_medo_avaliando_a_
associacao_entre_contexto_de_bairro_e_medo_de_crime/links/569e6afe08ae2c638eb55560/Ecologia-social-do-
medo-avaliando-a-associacao-entre-contexto-de-bairro-e-medo-de-crime.pdf.
10 Introdução à Segurança Pública

• Acidentes de automóveis e pessoas exaltadas com os engarrafamentos.


• Pessoas com medo, prisioneiras em suas casas, e ruas vazias.
Figura 1 – Segurança Pública: o que se entende

Perceba que a pergunta foi: “ao pensar em Segurança Pública, quais são as primeiras imagens Getmilitaryphotos/A.PAES/spotters/Photo Spirit/Shutterstock

que vêm à sua cabeça?”.


A resposta que induzimos você a ter, a partir das imagens, provavelmente foi de cenários de
violência urbana, imagens com tudo girando em torno de uma possível catástrofe, do caos que se
torna a vida quando há uma perturbação da ordem, da rotina.
Esses pensamentos e emoções acerca deste assunto são criados pela Síndrome da Violência
Urbana2, que já está impregnada em nossas mentes, fazendo, inclusive, com que muitas pessoas
sucumbam adoecidas pela sensação de desamparo frente aos problemas da violência urbana.
De fato, gostaríamos de estar enganados a respeito do que presumimos que você responderia
ao questionarmos o que vem à sua mente sobre Segurança Pública. Compreensível seria que

2 Expressão que se refere ao medo do crime, medo que surge devido à exploração inadequada e sensacionalista,
principalmente pelos meios de comunicação.
Evolução da Segurança Pública 11

assumíssemos o oposto como o correto e, ao pensarmos em Segurança Pública, tivéssemos as


seguintes imagens, que conduzem a emoções prazerosas:
• Viaturas policiais estacionadas ao lado de praças e policiais conversando com as pessoas.
• Pessoas brincando em parques, com carrinhos de bebês, ou conversando; jovens e idosos,
com animais de estimação etc. Todos em fraternidade, aproveitando uma tarde de sol.
• Pessoas caminhando pelas ruas, integração entre carros, ônibus, bicicletas e pedestres.
• Casas, prédios e comércios; tudo bem distribuído e limpo.
• Praias com pessoas felizes, sorveteiros etc.
• Trânsito calmo e pessoas tranquilas.
• Pessoas colaborando umas com as outras; jovens ajudando cadeirantes, idosos etc.
• Pessoas confiantes no futuro.
Figura 2 – Segurança Pública: o que se deveria entender

Monkey Business Images/jayk67/Andrey_Popov/Shutterstock

No entanto, a partir dessa reflexão, podemos constatar que tudo está associado à violência,
ao crime, à interação entre as pessoas e o Estado organizado, à realidade com a qual, na maioria das
vezes, convivemos, e não àquilo que idealizamos do conceito Segurança Pública.
Até aqui pretendemos refletir sobre o nosso entendimento primário de Segurança Pública
Continuemos nossos estudos pontuando, em cada uma das seções, aquilo que irá nos conduzir ao
maior entendimento da temática.
12 Introdução à Segurança Pública

1.2 Segurança Pública – tema multidisciplinar


O entendimento primário que podemos ter sobre Segurança Pública certamente está ligado
à violência, à criminalidade e a tudo o que orbita em torno deste elemento social que chamaremos
de abstrato. É abstrato devido à característica do sentimento que temos quando o assunto é o
crime. Assim como os demais sentimentos humanos, quando falamos em crime, sabemos o que
estamos sentindo, mas para explicar é preciso divagar um pouco e/ou recorrer a outros conceitos.
Assim, tratar do crime necessita de explicações que não são terminativas em uma única
palavra. Talvez, por vezes, as imagens nos ajudem mais.
A Segurança Pública, que está diretamente ligada à prevenção e ao combate ao crime, é um
assunto complexo, que envolve ciências ligadas à história, à geografia, à sociologia, ao direito, ao
jornalismo e muitas outras áreas, por isso a consideramos um tema multidisciplinar.
A Segurança Pública é um tema multidisciplinar, que não se esgota em si mesmo,
mas flui mediante o estudo de outros temas, categorias, como controle social,
ordem pública, participação, descentralização, cidadania, direitos humanos,
dignidade da pessoa humana, violência, criminalidade, dentre outros. (SOUSA,
2013, p. 29)

Dialogando com Sousa (2013), percebemos que o raciocínio que construímos aqui é por ele
ratificado. O autor ainda contribui com nosso estudo apresentando conceitos como controle social,
ordem pública, cidadania, direitos humanos e dignidade da pessoa humana, definições que, por si
só, elevam a condição da temática Segurança Pública a patamares de interesse incomensuráveis.
Como exemplos dessa multidisciplinaridade, podemos relacionar a Segurança Pública à
sociologia. Isso fica claro quando verificamos que a sociologia se dedica ao estudo das relações
sociais, da organização e do funcionamento das sociedades. Estando os seres humanos inseridos
em contextos sociais e sabendo que a Segurança Pública tem como objetivo manter a ordem social,
não podemos dissociar o interesse dessa ciência da Segurança Pública.
Outro ponto a se refletir é em relação à violência urbana, tema atinente à sociologia que
é também alvo de interesse daqueles que labutam com a segurança da população. O combate à
vitimização e à repetição da vitimização faz com que profissionais da sociologia, junto com os de
Segurança Pública, discutam aspectos de comportamento pessoal nos grandes e pequenos centros,
assim como no campo.
Acrescentamos que há ramos do Direito que regram de maneira especial o serviço de
Segurança Pública: Direito Constitucional, Direito Administrativo e Processual Penal, entre outros.
Sendo o Direito uma ciência também multidisciplinar, traz em seu bojo uma gama
de conhecimentos em relação à formação e administração do Estado, bem como a atuação de
cada órgão da administração pública, conhecimentos que são indispensáveis ao profissional de
Segurança Pública.
Evolução da Segurança Pública 13

Ainda podemos somar a tudo isso a preocupação das ciências jurídicas com os administrados
do Estado, a proteção do indivíduo e da coletividade, garantindo direitos e cobrando deveres –
onde atua o profissional de Segurança Pública como o mais próximo do cidadão.
Já quando nos referimos ao jornalismo como integrante interessado nas questões
relacionadas à Segurança Pública, remetemos à importância dos órgãos de comunicação, que levam
a informação para a população. Assim como o policial, na sua missão-fim, deve levar sensação de
segurança, com sua presença, nas atividades de Segurança Pública, os meios de comunicação têm
tarefa semelhante quando informam ao cidadão as boas práticas comportamentais em seus jornais
e/ou telejornais ou quando divulgam casos concretos de criminalidade.
Contudo, quando o trabalho de comunicação e informação é malconduzido, pode levar ao
aumento da sensação de insegurança, trazendo prejuízos à Segurança Pública e levando o cidadão
a ter medo exagerado.
O modo como vemos cada segmento da ciência, assim como cada segmento social, podemos
relacionar às questões de segurança, pois segurança é algo que nós sentimos. O principal produto
dos agentes de Segurança Pública é a sensação de segurança, que é construída em conjunto com a
sociedade e demais profissionais. Todos somos responsáveis.
Mas você, como aluno, deve buscar uma definição concreta de Segurança Pública para
simplificar seu entendimento do assunto. É compreensível, mas acreditamos que o processo de
aprendizagem se torna mais proveitoso se formos construindo juntos e comentando os pormenores
do assunto. Garantimos que seu entendimento da questão será macro ao final da leitura. Vamos
juntos!
Falando em macro, ou seja, aquilo que dá visão geral, no início do capítulo, perguntamos a
você quais eram as imagens que vinham à sua cabeça ao falar em Segurança Pública, certo? Não
questionamos os conceitos que você sabia, mas as ideias pré-concebidas, as quais estimulamos por
meio de imagens, porque, segundo o ditado popular, uma imagem vale por mil palavras e dela já
começamos a extrair muita coisa boa.
Agora é preciso nos perguntarmos: em relação às imagens que foram apresentadas no início
da leitura, quais são os conceitos que derivam delas e que podemos relacionar à Segurança Pública?
Vejamos alguns a seguir.
14 Introdução à Segurança Pública

Figura 3 – Segurança Pública: alguns conceitos

IESDE
Crime

Direitos humanos
Comunidade

Até agora, temos 14 conceitos. Pode ter escapado algum em meio a tantos, mas isso não é o
mais importante, o que importa é que nós possamos, juntos, refletir como realmente é complexo o
assunto, como ele é rico, quantos temas paralelos ele envolve... multidisciplinar, lembra?
É importante frisar nesse início de conversa que, além de denso, rico e até mesmo intrigante,
o assunto é revestido de muita responsabilidade, pois abarca dimensões que vão além do alcance
dos olhos daqueles que não se dedicam ao tema.

1.3 Violência
Nas palavras de Sousa (2013), na primeira citação deste capítulo, surgiu a menção à violência,
um dos mais temidos conceitos envolvendo Segurança Pública e que está contido naquele elemento
social abstrato: o crime. Não há como falar em crime e sua prevenção ou em Segurança Pública
sem entrar nessa discussão.
Há muitas maneiras de definir violência, mas, segundo a Organização Mundial da Saúde
(KRUG et al., 2002, p. 5), violência pode ser definida como:
o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si
próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade,
que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano
psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.

No conceito da OMS está presente a intencionalidade diretamente associada ao ato praticado,


às motivações que conduziram a tal atitude, independente do resultado alcançado (KRUG et al.,
2002).
Ainda, vamos acrescentar que a violência se apresenta de vários tipos; todos cruéis, concorda?
Em sua forma física ou psicológica, qualquer violência é terrível. No site do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ, 2019), encontramos os tipos de violência e suas respectivas definições; dentre elas
Evolução da Segurança Pública 15

está a violência contra a mulher, que está entre as mais urgentes a serem debatidas e combatidas.
Com as informações, construímos o Quadro 1, a seguir. Estes tipos de violência simbolizam todos
os demais que estão relacionados com as possíveis crueldades que assolam o meio social.
Quadro 1 – Tipos de violência, segundo o CNJ

Tipos de violência Definições

Ação ou omissão de discriminação, agressão ou coerção ocasionada pelo fato de a


vítima ser mulher e que cause danos, morte, constrangimento, limitação, sofrimento
Violência contra a mulher
físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico, ou perda patrimonial.
Pode acontecer tanto em espaços públicos como privados.

Sofrida pelo fato de se ser mulher, sem distinção de raça, classe social, religião, idade
Violência de gênero ou qualquer outra condição; produto de um sistema social que subordina o sexo
feminino.

Ocorre em casa, no ambiente doméstico, ou em uma relação de familiaridade,


Violência doméstica
afetividade ou coabitação.

Acontece dentro da família, formada por vínculos de parentesco natural ou civil, por
Violência familiar
afinidade ou afetividade.

Ação ou omissão que coloque em risco ou cause danos à integridade física de uma
Violência física
pessoa.

Motivada por desigualdades predominantes em diferentes sociedades. Essas


Violência institucional desigualdades se formalizam e institucionalizam nas diferentes organizações
privadas e estatais.

Acontece dentro de casa ou unidade doméstica e geralmente é praticada por um


Violência intrafamiliar/
membro da família que viva com a vítima. As agressões domésticas incluem abuso
violência doméstica
físico, sexual e psicológico, negligência e abandono.

Violência moral Ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação.

Implica dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, documentos


Violência patrimonial
pessoais, bens e valores.

Destinada a degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões


de outra pessoa por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta,
Violência psicológica
humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde
psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal.

Obrigar uma pessoa a manter contato sexual, físico ou verbal, ou a participar de outras
relações sexuais com o uso da força, intimidação, coerção, chantagem, suborno,
Violência sexual manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite a vontade
pessoal. Também considera-se como violência sexual o fato de o agressor obrigar a
vítima a realizar alguns desses atos com terceiros.

Fonte: Adaptado de CNJ, 2019.


16 Introdução à Segurança Pública

Não poderíamos ter deixado de comentar a questão da violência, que certamente tem estreita
relação com todo o nosso debate, mas, para aprofundar o assunto, sugerimos que você visite os sites
da Organização Mundial da Saúde3 e do Conselho Nacional de Justiça4.

1.4 Segurança Pública – conceito em construção


Estudiosos da violência têm discutido o assunto e, de maneira especial, defendido a tese
de que devemos adotar um novo modelo de Segurança Pública, integrando órgãos do governo
e da sociedade civil organizada. Sousa (2013, p. 23) diz que, assim, “a Segurança deixa de ser um
assunto exclusivamente policial, passando a envolver diversas áreas da administração pública, nos
três níveis de governo – Federal, Estadual e Municipal – e a sociedade civil”.
Sobre a importância, complexidade e profundidade da temática, agora adicionaremos o
conceito de democracia, que é o sistema político em que o povo exerce a soberania por meio da
escolha de seus representantes. Eis que, ao falar em democracia, escolha do povo e representantes
eleitos, chegaremos à responsabilidade que é prevista constitucionalmente. Veremos isso à frente.
A responsabilidade é de todos nós, inclusive por força constitucional, e principalmente
dos que se apoderam desse conhecimento. Ela pertence, sobretudo, a nós porque somos pessoas
privilegiadas por podermos ler, estudar, debater ideias. Somos cidadãos de plenos direitos e
também de deveres.
Mas é preciso simplificar. Qual é a nossa responsabilidade?
A resposta é simples, mas não é fácil, pois simplificar algo tão complexo não é fácil. Nossa
responsabilidade é transformar esse tema em algo acessível às pessoas e difundir o conhecimento,
a informação àqueles que estiverem dispostos, para que o mundo possa ser um lugar ainda melhor
e mais seguro para todos.
Até aqui, é possível dizer que obtivemos êxito em nosso intento de refletir sobre o quão
importante é a seara da Segurança Pública e como sabemos tão pouco ainda.
Sobre isso, é importante frisar que estudar Segurança Pública é estudar o mundo de modo
geral, global, sabendo que os acontecimentos do outro extremo do Planeta podem ser familiares ao
nosso cotidiano, em nosso bairro, e que todos somos suscetíveis a tais acontecimentos. Pense nisso!
Ah, sim! Precisamos de um conceito para trabalhar. Bem, citamos democracia, direitos
humanos, e estudaremos a Segurança Pública como um direito fundamental, garantidor da cidadania.
Como propõe Sousa (2013, p. 24), “segurança pública é um conceito em construção, porém,
pode-se afirmar que é um processo sistêmico [...]”. Sistêmico porque envolve muitos segmentos
públicos e da sociedade. Ainda podemos acrescentar que “a segurança pública corresponde,
pois, a um estado que possibilita (viabiliza) o livre exercício dos direitos, liberdades e garantias
consagrados na Constituição e na lei” (SOUSA, 2009, p. 30).
Agora mais uma questão para respondermos juntos: de onde surgiu essa tal Segurança Pública?
Vejamos a próxima seção, que vai nos remeter aos primórdios do tema.

3 Disponível em: https://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/; https://www.paho.org/hq/index.php?lang=es.


4 Disponível em: http://www.cnj.jus.br.
Evolução da Segurança Pública 17

1.5 História da Segurança Pública


Para falarmos da história da Segurança Pública, temos que falar da história da polícia e como
ela surgiu. Parece óbvio, mas é necessário dizer que são assuntos que caminham juntos. Vamos
compreender isso ao longo desta seção.
Também é importante lembrarmos que Segurança Pública se faz para o cidadão. Sem os
indivíduos, não há por que nos preocuparmos com segurança. O conceito de cidadão, tão caro para
nós, vamos aprofundar em momento oportuno.
Por ora, fazemos um passeio pela história e retornamos ao Império Romano, a fim de
compreender o conceito de cidadão. Com base no conceito romano, Brito (2005, p. 5) traz que
cidadão é “aquele a quem é dado o direito de influir na gestão da coisa pública, da civita, no sentido
primitivo, os que se domiciliavam na cidade, os civis”.
Naquela época, havia um grupo de homens romanos que não viviam na civita, ou seja, na
cidade, e ficavam acampados nos arredores para garantir a segurança de quem gozava o status de
cidadão. A esse grupo de romanos dava-se o nome de militares e – pasmem! – eles não detinham
o status de cidadãos, isto é, seus direitos eram mais restritos. Até mesmo para entrarem na cidade,
quando retornavam dos acampamentos, tinham de pedir permissão aos governantes. A missão
diuturna dessas legiões romanas era proteger os cidadãos e seus direitos contra possíveis invasores,
garantindo segurança à cidade (KARPINSKI, 2013).
Karpinski (2013, p. 23) comenta que, “no final do Império Romano, surge o fenômeno
denominado ‘pretorianismo’, a militarização provisória das funções estatais ligadas à Segurança
Pública, que ocorria em casos excepcionais de anormalidade, quando o poder estatal estava
ameaçado”.
Cabe destacar, do parágrafo anterior, o trecho “militarização provisória das funções estatais
ligadas à segurança pública”; isso denota que as funções de segurança pública, já no Império
Romano, eram administradas pelo Estado. E mais: elas já existiam, tanto é que eram militarizadas
provisoriamente para a proteção do próprio Estado, isso, inclusive, em detrimento do cidadão e de
seus direitos.
Quando falamos da Segurança Pública e sua trajetória paralela ao surgimento da Polícia,
atentamos para o fato de que não há uma data exata para o surgimento de ambas. Corroboram com
nossas pesquisas os escritores Hipólito e Tasca (2012, p. 33), acrescentando que:
o surgimento da polícia não encontra nos relatos dos diversos autores uma data
certa, ou mesmo um determinado período bem delimitado, pois ao longo da
história das civilizações a tarefa de manter a ordem na cidade, aldeia, clã, esteve
afeta a uma variedade de autoridades, ou mesmo ao sobrenatural.

Os autores comentam que manter a ordem na cidade, aldeia ou clã estava “afeta a uma
variedade de autoridades”, até mesmo ao sobrenatural. A partir disso, vamos desde já enaltecer
a importância do conceito de ordem pública, ressaltando que ele é o objeto central da Segurança
Pública e, como comentam Hipólito e Tasca (2012, p. 33), para manter tal ordem “houve época,
18 Introdução à Segurança Pública

inclusive, que magistrados acumulavam funções policiais e mesmo aos Deuses foram atribuídas
funções policiais”.
Do que vamos consolidando em nosso estudo, o caráter multidisciplinar vai se firmando,
e o multissetorial da administração da Segurança Pública vai se evidenciando passo a passo. Isso
fica claro ao vermos que até mesmo aos deuses, segundo Hipólito e Tasca (2012), eram atribuídas
funções policiais. Reflita, então, sobre a dificuldade que houve, no decorrer da história, em se tratar
do tema Segurança Pública em um âmbito específico.
Agora, aproveitando os profícuos estudos de Souza e Albuquerque (2017), vamos entender
que a Segurança Pública como a conhecemos teve sua evolução por meio da formação política da
urbe: cidade
sociedade, seguindo com a organização urbana de quem habitava a urbe.
Nesse sentido, a Polícia se transformou na ferramenta da Segurança Pública, sendo necessário
seu emprego para a manutenção da ordem pública, próximo conceito que aprofundaremos.
Ainda contando com os autores (2017), tomamos posse da informação de que os povos
antigos tinham normas simples e por vezes rudimentares, com as quais buscavam alcançar o bem
social. Além disso, queriam também atingir “a defesa, a ordem e a segurança de suas comunidades,
das autoridades e dos poderes instituídos que se referiam ao seu grupamento social” (SOUZA;
ALBUQUERQUE, 2017, p. 24).
Constatamos que a normatização das sociedades começava a ocorrer desde os tempos antigos.
Relembrando as lições de direito, temos que um sistema normativo pode ser consuetudinário, ou
seja, fundamentado nos costumes de uma sociedade até que se transforme, ou não, em direito
positivo, no sentido de positivado, escrito em documentos ou códigos mais elaborados.
Com o comentário de Souza e Albuquerque (2017, p. 24), reafirmamos o entendimento que
já temos de que a falta de regramento social, estabelecido por meio de normas, por mais simples
que possam ter sido, teria causado um atraso na evolução da humanidade. Eles esclarecem:
Os primeiros agrupamentos humanos necessitavam de um código de convivência
e de alguém que garantisse o cumprimento desse código. Na tradição africana,
os responsáveis eram os anciões; na greco-romana, os sacerdotes e, mais tarde,
os governantes e magistrados, os quais, para realizar seu mister, se valiam de
forças policiais.

No que tange à atuação das autoridades, garantindo o cumprimento dos códigos e normas
e também exercendo o papel de forças policiais, encontramos em Souza e Albuquerque (2017) a
ratificação do que já foi explanado por Hipólito e Tasca (2012), quando envolvem nas atividades
policiais os magistrados. Contudo, Souza e Albuquerque falam do magistrado valendo-se de forças
policiais, enquanto Hipólito e Tasca (2012) fazem referência a tais autoridades acumulando funções
policiais, o que tomamos por igual importância.
inócua:
inofensivo, que Ainda é possível constatar que as normas, por si só, são inócuas, de nada servem, pois
não provoca
é necessário um agente capaz para fazer valer os direitos e deveres que estão normatizados de
prejuízo.
acordo com a vontade do legislador, que se espera estar de acordo com a vontade dos membros da
sociedade.
Evolução da Segurança Pública 19

Também já fizemos referência ao Império Romano, aos militares e aos pretorianos, agindo
como forças de segurança para proteger ora o cidadão, ora o cidadão e a cidade e, por vezes, somente
o governo. Segundo Bayley (apud SOUZA; ALBUQUERQUE, 2017, p. 24), “não foi apenas no
Império Romano, mas também na Índia e na China que surgiram as forças policiais, principal fator
de segurança pública”.
Para complementar a informação, Souza e Albuquerque (2017) apresentam John Roberts.
Em seu livro, History of China (2006), Roberts relata que, na China, os primeiros registros de
policiais datam de 771 a 403 a. C., período em que a aplicação da lei ficava a cargo dos “prefeitos”,
que eram como senhores feudais, nomeados pelo Imperador para cuidar das cidades conquistadas.
Este sistema chinês estava envolto em filosofias como confucionismo e taoísmo. Outro dado
interessante que os autores apresentam é o surgimento das guardas imperiais, responsáveis pela
segurança do Imperador, que atuaram como sua polícia secreta durante toda a Dinastia Ming
(1368-1644).
De tudo o quanto vamos estudando, algo que fica latente, você perceberá, é que não existe
uma lógica estabelecida, planejada para a criação de um sistema de Segurança Pública, o que vai
ocorrendo é o improviso ao acaso das necessidades do momento. Segundo Monet (2006, p. 31), “não
há uma história ‘natural’ da polícia: a função policial como hoje é compreendida nem sempre existiu.
Ela é mais o produto de uma sucessão de rupturas do que a consequência de um desenvolvimento”.
O autor traz exemplos de sociedades antigas, como a dos esquimós, que resolviam problemas
sociais e delituosos, como roubo, adultério e outras quebras das normas, de maneira privada; assim,
cabia à vítima e a seus parentes todo o processo do julgamento até o castigo do culpado.
No tocante às sociedades antigas, os nueres, pastores e criadores de gado do Sudão, com
o aperfeiçoamento da organização social entre eles, passou a contar com a presença de um
mediador para os conflitos. Pessoas com prestígio e independência socioeconômica entre os
nueres eram responsáveis por ajustar as demandas relativas ao roubo de gado, sem poder impor
suas decisões. Em caso de permanecer a discordância entre as partes, poderia acontecer disputa
privada entre elas.
Os nueres são um dos exemplos de sociedades que foram se aperfeiçoando e contando com
mediadores. Nesta senda, ocorre o surgimento concreto da função policial, que vem também do
citado aperfeiçoamento da sociedade, quando o controle social passa a ocorrer e, conforme já
sabemos, estabelece-se por várias formas.
A presença de uma função policial só é detectada a partir do momento em que a
divisão do trabalho se acentua e estruturas diferenciadas de dominação política,
religiosa e militar aparecem. Assim, entre os cheienes, os crimes mais graves –
assassinatos, caça e pesca clandestina – dependem de um conselho judiciário que
pode infligir as mais severas penas, como o banimento. A execução das decisões
é atribuída às sociedades de guerreiros, grupos de homens organizados para a
guerra, mas encarregados, em tempo de paz, de manter a ordem nas cerimônias
rituais e de fazer respeitar – pela aplicação de uma sanção imediata – as decisões
do conselho tribal em matéria de caça aos búfalos. (MONET, 2006, p. 32)
20 Introdução à Segurança Pública

Extrai-se do trecho que a divisão do trabalho e a dominação política, religiosa e militar são
preponderantes para o surgimento da função policial. Às sociedades de guerreiros foi atribuída
a execução de penalidades para aqueles que infringissem as normas da sociedade e, sobretudo, a
manutenção da ordem em tempos de paz.
No modelo grego de polícia, filósofos, como Aristóteles, e dramaturgos helênicos
reivindicavam ordem pública aos governantes, deixando claro que na Grécia surgiram especialistas
em fazer respeitar as leis, muitas vezes, utilizando a força física, a intimidação psicológica e o temor
de sanções penais (SOUZA; ALBUQUERQUE, 2017).
Mas como eram essas polícias helênicas da Antiguidade? Segundo Monet (2006, p. 32),“eram
múltiplas e pouco profissionalizadas, provavelmente pouco coordenadas entre si”. Havia uma
polícia para cada interesse:
1. Polícia do mercado.
2. Polícia das águas.
3. Polícia dos reservatórios de cereais.
4. Polícia dos portos, entre outras.

Depreendemos dos estudos que, na época, século V a.C., o exercício das atividades de
polícia conferia prestígio a quem por elas fosse responsável. Personalidades como Temístocles5 e
Demóstenes6 assumiram, respectivamente, a polícia das águas e dos cereais.
Tentar dar uma sequência cronológica ou atribuir a uma personagem as ideias
correspondentes à criação da polícia é um equívoco, pois não há precisão nessa empreitada.
Em Atenas, a especialização de agentes pela autoridade pública, em tarefas referentes à
ordem e à segurança, tornou-se imprescindível. A consulta aos oráculos, a exemplo de Delfos, tido
como um centro de espionagem, era algo de suma importância para a tomada de decisões. Esse
dado nos remete a Hipólito e Tasca (2012), quando se referiram aos deuses e ao sobrenatural no
cuidado com a Segurança Pública.
Saindo da Grécia Antiga e adentrando o Império Romano, temos o édito de Caracala
(211 a.C.), que marca a perda da autonomia das cidades gregas. Passa a prevalecer, então, o modelo
de organização policial romana, que tem em sua essência muito do modelo grego.
Ao contrário do que possamos imaginar, a organização policial grega estava à disposição
dos governantes, não dos simples cidadãos, a quem era permitida a defesa de seus interesses de
maneira privada. Concluímos que apenas aos governantes era dado o poder de instaurar processos
criminais que poderiam culminar na prisão de quem os tivesse lesado.
No modelo romano de polícia, havia a distinção entre o público e o privado. Cabia ao cidadão
levar as queixas aos magistrados, que pronunciavam a condenação; contudo, a execução caberia às
vítimas. Esse momento da história está entre 450 a.C., que tem como marco a publicação da Lei das
12 Tábuas, a primeira legislação escrita dos romanos, em meados do século III a.C.

5 Temístocles foi um político e general ateniense.


6 Demóstenes foi um orador e político grego.
Evolução da Segurança Pública 21

A violência fazia parte do cotidiano de Roma, assim como a desorganização social. Sabemos,
atualmente, que desorganização social conduz a mais violência, ao crime e também ao medo
do crime. Nessa fase, Roma atravessa profundas divisões religiosas, culturais, étnicas, pois atrai
pessoas vindas de todas as províncias e sua população chega próximo a um milhão de habitantes.
Contudo, a tradição de agitação popular e violência e, agora, a necessidade de lidar com a multidão
faz o governo organizar a distribuição de trigo mensalmente para cerca de 200 mil deserdados, no
intuito de minorar os problemas e manter os ânimos tranquilos.
É nesse cenário que, com Augusto, relata Monet (2006, p. 34), “aparece uma verdadeira
administração policial pública, profissional e especializada. [...] o prefeito encarregado de comandar
os vigiles7 que patrulham as ruas a serviço da polícia noturna e da luta contra os incêndios”. Os
stationarii8 ficavam em postos fixos, que Monet compara a departamentos de polícia.
A organização policial de Augusto continua com seus sucessores, inclusive com Trajano,
mas tem sua derrocada com a queda do Império Romano, desaparecendo da Europa por muito
tempo. Depois da queda do Império Romano, organizou-se a sociedade feudal, seguindo
o Período Merovíngio e após o Período Carolíngio9 (742-814 d.C.), como ficou conhecido o
reinado de Carlos Magno.
Com o fracasso do projeto unificador de Carlos Magno, “a divisão da autoridade política é
acompanhada de um desmembramento das funções de justiça e de segurança” (MONET, 2006, p. 35).
Tamanho é o problema social, que insegurança e violência são as marcas da Europa durante
séculos.
Na prática, a fragmentação do poder político e a subdivisão das funções
policiais e judiciárias assumem um grau então desconhecido na França ou na
Inglaterra. Embora teoricamente protetor do direito e submetido à obrigação
moral e religiosa de garantir a justiça a todos os súditos do Império, o monarca,
cujos magros recursos financeiros e militares são inteiramente dedicados à
defesa de suas próprias terras, é incapaz de assegurar a paz pública e limitar a
arbitrariedade de múltiplos potentados locais. (MONET, 2006, p. 36)

Do que extraímos, é notório que a Segurança Pública era inexistente na época, restando a
cada um a sua própria defesa, inclusive o rei buscava apenas os seus interesses. Os poderes judiciais
são ainda mais estratificados, e
cada senhor em suas terras se torna o verdadeiro detentor dos poderes
judiciários e dos meios de coação necessários para tornar quase efetivas as
sentenças proferidas. Mas, por falta de órgãos de polícia especializada, essas
funções judiciárias são exercidas com o concurso dos habitantes. (MONET,
2006, p. 37)

7 Os vigiles (vigias) eram os bombeiros e policiais da Roma Antiga. Eram responsáveis por patrulhar as ruas, sobretudo
durante a noite.
8 Postos fixos, onde os policiais da Roma Antiga ficavam para atender às demandas da segurança. Eram como os
antigos módulos policiais ou as nossas delegacias de hoje.
9 Impérios do reino Franco, que se expandiu na Europa central, atual França, Bélgica e parte da Alemanha, após a
queda do Império Romano.
22 Introdução à Segurança Pública

Conforme o pesquisador esclarece, a justiça era aplicada em nome do rei, por aquele que
possuía terras. Do nome do rei e, em nome dele, emanava toda a justiça.
Com essa cultura instalada, há o reconhecimento da vingança privada, de fazer justiça com
as próprias mãos; assim, a violência se potencializa mais e mais, e a ordem e a segurança se tornam
um negócio particular.

1.5.1 Tithings, Hundreds e os Sheriffs


Partindo para a Inglaterra, temos o sistema romano de organização, principalmente policial,
elaborado por Augusto, que não teve grande aceitação. Lá, surgiram os conhecidos Tithings, grupos
de dez famílias reunidas em Hundreds, ou seja, em cem famílias, cada uma é responsável pela
segurança e pelos delitos cometidos pelos outros membros; uma espécie de polícia privada.
O termo Tithings desapareceu do texto do Estatuto Winchester10, de 1285. Esse
desaparecimento marcou o início do processo que, na Inglaterra, substituiu progressivamente as
formas privadas de polícia por formas públicas.
Com isso, é possivelmente na Inglaterra que nascem as primeiras formas de polícia pública.
“O Sheriff aparece, assim, como o representante da Coroa em nível local. Exerce ao mesmo tempo
funções policiais e judiciárias, pois pode infligir multas àqueles que contravenham certas leis. Mas
também é responsável pelo bom andamento dos Tithings e dos Hundreds” (MONET, 2006, p. 42).
Porém, o sistema proporcionou que abusos passassem a ocorrer por parte dos Sheriff. As multas,
aplicadas por irregularidades praticadas pelos particulares, eram aplicadas pelos homens das leis,
e, em parte, destinadas a pagar seus salários, o que fez com que se perdesse o controle do que era
justo e o que viria a ser interesse dos Sheriffs.
Na França, também no fim do século XIII, surgem os “guardas de feiras”, que podiam usar a
força física para manter a ordem e a segurança local. Paris do século XIII tem as ruas patrulhadas dia
e noite, seja pela cavalaria ou por vigias. Com isso, surgem os primeiros comissários-examinadores,
auxiliados pelos sargentos, que acumulam as funções de investigadores e de juízes (MONET, 2006).

1.5.2 Polícias modernas da Europa


Segundo Monet (2006, p. 47), encontramos a informação de que “entre 1650 e 1850, grosso
modo, todos os países europeus se munem de formas de polícia que podem ser qualificadas
como modernas”. Abaixo elencamos algumas das datas de criação das polícias organizadas em
países da Europa.
• Dinamarca: em Copenhague, final do século XVI, o primeiro embrião de polícia
profissional se firma.
• Suécia-Finlândia: em Estocolmo, em 1776, é instituída a primeira polícia organizada.
• Alemanha (Monet chama de espaço germânico): em Mogúncia, um diretor de polícia é
mencionado pela primeira vez em 1732.

10 O Estatuto de Winchester foi um diploma legal que instituía, entre outras obrigações, que cada homem válido, entre 15
e 60 anos, possuísse em sua casa, para se defender, uma arma em bom estado de funcionamento.
Evolução da Segurança Pública 23

• Espanha: na Catalunha, em 1690, são criados os Los Mozos de Escuadra, oficialmente


reconhecidos em 1721.
• Áustria: em Viena, a partir do século XVI, surge a “Guarda da Cidade” um dos primeiros
órgãos de polícia pública especializada.
• Irlanda: pelo Dublin Police Act, de 1786, é criada uma polícia moderna.
• Inglaterra: em 1829, com Robert Peel, Ministro do interior, é instituída uma polícia
moderna em Londres.

Até aqui falamos sobre Segurança Pública e polícia, mas o contexto apresentado não falou
nada do nosso país, o Brasil. Vamos, então, trazer algumas informações sobre o início da Segurança
Pública e da polícia brasileira.

1.5.3 Início da Segurança Pública e polícia no Brasil


Vamos pousar nossos estudos sobre terras brasileiras para falar um pouco sobre o surgimento
da polícia no Brasil.
De acordo com Hipólito e Tasca (2012, p. 48), é necessário “esclarecer que a leitura histórica
da origem de um corpo policial profissionalizado no Brasil surgiu em meio a um Estado Unitário
Monárquico, que vai se transformar em República Federativa somente em 1889”.
Como os autores colocam, a família real chega ao Brasil em 1808 e, em 10 de maio do
mesmo ano, é criada a Intendência Geral da Polícia e da Corte, no Estado do Rio de Janeiro. Esta
é considerada por muitos como a primeira instituição policial brasileira (HIPÓLITO; TASCA,
2012).
Holloway (apud HIPÓLITO; TASCA, 2012, p. 50) nos esclarece que o modelo de Polícia
em nosso país seguiu os moldes franceses.
A nova instituição baseava-se no modelo francês introduzido em Portugal em
1760. Era responsável pelas obras públicas e por garantir o abastecimento da
cidade, além da segurança pessoal e coletiva, o que incluía a ordem pública, a
vigilância da população, a investigação dos crimes e a captura dos criminosos.

Como já foi dito por muitos pesquisadores, a Intendência Geral da Polícia de 1808 é
considerada a primeira instituição policial brasileira. Para a maioria deles, ela “é o marco do início
da formação de um modelo profissional de Polícia no Brasil” (HIPÓLITO; TASCA, 2012, p. 50).
Como é de se concluir, a Polícia no Brasil se formou com a configuração da Polícia portuguesa,
inclusive com o mesmo molde de hierarquia, trazendo junto consigo toda a herança cultural da
época, que foi difundida em nosso território.
Foi o Decreto de 13 de maio de 1809, baixado pelo príncipe regente após a vinda da família
real para o Brasil, um dos primeiros documentos que dispôs sobre a Guarda Real da Polícia
da Corte.
24 Introdução à Segurança Pública

Para Valla (2012), os pontos essenciais do Decreto de 13 de maio de 1809 são:


a. A subordinação do comandante da Guarda Real era dada ao Governador das Armas da
Corte e ao Intendente Geral de Polícia.
b. A missão era manter a boa ordem e o sossego, sendo esta a preocupação principal.
c. Os fatos marcantes à época: tráfico e contrabando, crescimento populacional, crescimento
da economia. O Rio de Janeiro passa a ser capital de Portugal e do Brasil.
d. A Companhia de Dragões vinda de Portugal, formada pelos melhores homens, forneceria
o efetivo para formar a Guarda.
e. Cuidados na escolha do efetivo, pessoas de vida exemplar, boa conduta, moralidade e
robustez para aguentar o serviço policial que é penoso e aturado.

Ainda com Valla (2012), podemos aprender os principais momentos das polícias no Brasil,
bem como da Segurança Pública, conforme elencado a seguir:
• No Brasil-Colônia, as Companhias de Ordenanças mantinham a segurança nas cidades.
Como não se mostraram eficientes, foram substituídas pelas Companhias de Dragões,
constituídas por soldados profissionais, treinados de acordo com os padrões portugueses.
• Já em 1775, havia sido criada, em 09 de julho, o Regimento Regular de Cavalaria. Desde
então tinha uma dupla função: a) civil para prevenir e reprimir o crime, como força
policial; b) para enfrentamento das insurreições e defesa da Pátria, como força militar.
• No Brasil-Império, as forças públicas desgastadas mantinham-se para dar sustentação à
Independência, originando o Exército Brasileiro. Em 10 de outubro de 1831, assinado pelo
regente Padre Feijó, surgem os Corpos de Guardas Municipais Permanentes (VALLA,
2012).
• Com o Brasil-República vêm as Brigadas Policiais. A partir de 1934, as polícias militares
passam a figurar no texto constitucional, e a União passa a ter o controle sobre essas forças.
Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro criam a estrutura básica de suas organizações
policiais: a) Polícia civil, com delegados, escrivães, médicos legistas e guardas civis;
b) Polícia militar, com estrutura, estética, hierarquia e disciplina militar.

Assim seguiram as instituições policiais até alcançarem a atual configuração, fazendo-


-se presentes nos textos constitucionais até a promulgação da Constituição Federal de 1988,
acompanhando sempre o desenvolvimento histórico do Brasil.
Em capítulo específico de nosso livro, falaremos um pouco mais sobre a Polícia brasileira no
contexto da Segurança Pública. Por ora, vamos encerrando esse ponto do aprendizado.
Passamos, no próximo capítulo, a analisar a Segurança Pública como um direito fundamental.
Entenderemos, inclusive, o que é direito e direito fundamental.
Evolução da Segurança Pública 25

Considerações finais
A Segurança Pública tem relação direta com os problemas sociais e com as questões culturais
e econômicas. O desenvolvimento de uma nação, em todos os aspectos, contribui para que a
sensação de segurança seja potencializada e para que as pessoas vivam em harmonia. Esse sistema
de crescimento se retroalimenta.
Durante a construção do texto, buscamos ofertar o máximo de informações possíveis, a fim
de conduzir uma reflexão sobre as bases da Segurança Pública e aquilo que com ela se relaciona.
Um aspecto que ressaltamos neste capítulo que introduz nossos estudos é a importância de
se ter um olhar global sobre o tema, pois, ao contrário do que possa ter ficado aparente aos olhos
menos atentos, a questão da Segurança Pública não se limita à Polícia, vai muito além dela.
Segurança Pública, frisamos, é uma temática multidisciplinar que afeta toda a administração
pública, a comunidade, e é responsabilidade de todos, conforme previsto constitucionalmente.
Segurança Pública é uma questão que engloba vários segmentos da sociedade não sendo
apenas uma temática policial. Precisamos entender que a Polícia foi se desenvolvendo em paralelo
com a evolução das questões relacionadas à Segurança Pública.
Então, seguimos até aqui com o amparo de pesquisadores consagrados e fizemos um
apanhado do que seria o mais importante em relação ao surgimento formal das polícias.
Deixamos para o momento oportuno tratar das características específicas de cada uma das
polícias que compõe o Sistema de Segurança Brasileiro. Pensamos, então, na polícia como todo o
sistema que se desenvolveu ao longo da história.

Ampliando seus conhecimentos


• FÓRUM Brasileiro de Segurança Pública. 2019. Disponível em: http://www.
forumseguranca.org.br/. Acesso em: 6 ago. 2019.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública apresenta vasto material sobre o tema
estudado, e o conteúdo pode ser encontrado no endereço eletrônico indicado. O processo
de aprendizado será complementado de maneira eficaz com a leitura deste material,
principalmente o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

• TERRADOIS. Terradois – Tolerância Zero. 05/06/2017. Disponível em: https://www.


youtube.com/watch?v=V2Lfcpa3Ujc. Acesso em: 06 ago. 2019.
O debate em torno das questões que tratam da Segurança Pública, de seus dramas
individuais, coletivos e dos anseios da comunidade são mais densos ao ponto de se
tornarem filosóficos. As artes, o cinema e o teatro se apoderam de temáticas como
violência, crime e falta de segurança justamente para conduzir a reflexão em torno do
assunto. No vídeo indicado, você poderá assistir e observar todos esses aspectos e refletir
sobre o impacto da falta de segurança no cotidiano das pessoas.
26 Introdução à Segurança Pública

Atividades
1. Conceitue Segurança Pública de acordo com o texto estudado.

2. Explique por que Segurança Pública não pode ser limitada ao entendimento equivocado de
ser um assunto exclusivo de Polícia.

3. Qual a definição de violência, segundo a Organização Mundial da Saúde?

4. Apresentamos o site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2019) e os tipos de violência e


suas respectivas definições que lá podem ser encontradas. É possível associar a Síndrome da
Violência Urbana, que é o medo concreto ou difuso do crime, com a violência, principalmente
psicológica. Segundo nossos estudos, como é esse tipo de violência?

Referências
BRITO, F. de A. T. de. Direitos humanos e cidadania em foco: percepções sobre a formação do policial militar
da Paraíba. 101 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social), Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,
2005.
CNJ. Conselho Nacional de Justiça. Formas de violência. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-
acoes/lei-maria-da-penha/formas-de-violencia. Acesso em: 5 de jun. 2019.
DANTAS, G. F. L, PERSIN, A., SILVA JUNIOR, A. P. O medo do crime. 2006. Disponível em: http://www.
assor.org.br/wp-content/uploads/2017/06/O-Medo-do-Crime.pdf. Acesso em: 8 ago. 2019.
GIRALDI, N. Segurança pública e polícia. Disponível em: http://www.pmpr.pr.gov.br/modules/conteudo/
conteudo.php?conteudo=725. Acesso em: 10 jun. 2019.
HIPÓLITO, M. M; TASCA, J. E. Superando o mito do espantalho: uma polícia orientada para a resolução dos
problemas de segurança pública. Florianópolis: Insular, 2012.
KARPINSKI, M. T. Formação do oficial da polícia militar do Paraná. 127 p. Dissertação (Mestrado em
Educação). Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, 2013. Disponível em: https://acervodigital.
ufpr.br/handle/1884/33832. Acesso em: 6 jun. 2019.
KRUG E.G, et al., eds. World report on violence and health. Geneva, World Health Organization, 2002.
Disponível em: https://www.cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201706/14142032-relatorio-mundial-sobre-
violencia-e-saude.pdf. Acesso em: 9 jun. 2019.
MONET, Jean-Claude. Polícias e sociedade na Europa. Trad. de Mary Amazonas Leite de Barros. 2. ed.
1 reimpr. (Série Polícia e Sociedade, n 3). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
SILVA, B. F. A.; BEATO FILHO, C. C. Ecologia social do medo: avaliando a associação entre contexto de
bairro e medo de crime. Revista Brasileira de Estudos da População. Rio de Janeiro, v. 30, p. 155 – 170, 2013.
SOUSA, A. F. de. A polícia no estado de direito. São Paulo: Saraiva, 2009.
SOUSA, R. C. de. Introdução à segurança pública reflexões sobre polícia, sociedade e cidadania. Teresina:
Edição do Autor, 2013.
SOUZA, C. A; ALBUQUERQUE, M. L. Segurança Pública: histórico, realidade e desafios. Curitiba:
Intersaberes, 2017.
VALLA, W. O. Doutrina de emprego de Polícia Militar e Bombeiro Militar. 3. ed. Curitiba: Associação da Vila
Militar - Publicações Técnicas, 2012.
2
O direito fundamental à Segurança Pública

No início da história das civilizações humanas, as pessoas colocavam suas vidas nas mãos dos
mais fortes, dos soberanos, ou a entregavam à sorte dos deuses, pois não havia quem as defendesse.
Conforme Souza (2017, p. 28):
na Antiguidade, com os povos submetidos aos mitos, aos deuses ou aos
representantes dos deuses, não havia a necessidade de polícia: os guardiões
impunham a vontade dos soberanos e cobravam os tributos e vida dos povos
que era regulada pela vontade do soberano e pelas guerras, que revezavam os
tiranos com a promessa de proteger esses povos.

Naquela época, conforme menciona Souza (2017), “não havia justiça, apenas a vontade de
quem governava, o representante dos deuses, ungido para guiar os povos. Se a vida não pertencia
às pessoas, como teríamos direitos humanos?” (SOUZA, 2017, p. 28).
Mas tudo tem seu limite. Como não existiam direitos e a tirania era aceita, a vida foi se
tornando insuportável, e as pessoas acordaram diante de tanto sofrimento. Os tiranos, fazendo-se
por governantes, viram-se obrigados a atender aos reclames do povo.
Figura 1 – A Liberdade guiando o povo

Eugène Delacroix - This page from 1st-art-gallery.com

A Liberdade guiando o povo, do francês Eugène Delacroix, foi inspirada na Revolução


de 1830 (Revolução de julho) e se tornou um dos símbolos da Revolução e República
francesas ao trazer a bandeira tricolor que representa os valores de “Liberdade, Igualdade
e Fraternidade”. A mulher ao centro representa a Liberdade que guia seu povo na luta por
direitos.

Fonte: DELACROIX, Eugène. La Liberté guidant le peuple. 1830. Óleo sobre tela: 260 x 325 cm. Museu do Louvre, Paris.
28 Introdução à Segurança Pública

A segurança existente até então era contra as invasões e voltada à submissão dos povos,
divididos em conquistadores e conquistados. Neste contexto, como tratado no Capítulo 1, as forças
policiais e a Segurança Pública foram desenvolvendo-se em paralelo.
Dessa maneira, afirmamos neste capítulo que Segurança Pública, polícia e direitos – sejam
direitos do homem, direitos humanos ou direitos fundamentais – são indissociáveis, e que a luta dos
povos por tais direitos firmaram toda a gama de normas que conhecemos atualmente. Lembrando
que muito sangue foi derramado para conquistá-los e a luta dos nossos antepassados não pode ser
em vão, por isso, devemos conhecer, respeitar e continuar lutando pelo exercício da cidadania, que
se trata do exercício dos direitos conquistados.
O cidadão é livre em pensamento e atitudes e está apto a exercer tais direitos, com uma única
ressalva: deve lembrar que os demais cidadãos também têm direitos que devem ser respeitados e
que o direito coletivo se sobrepõe ao individual. Sendo a Polícia, conforme já sabemos, a principal
ferramenta utilizada pela Segurança Pública na defesa desses direitos, pois é o esteio maior da
Justiça e o único órgão do Estado que diuturnamente está nas ruas dos municípios trabalhando em
prol da cidadania.
Trazendo a reflexão máxima de que a Segurança Pública faz parte do rol de direitos
fundamentais, consideraremos as palavras de Moraes (2010, p. 116, grifo nosso): “o direito
à Segurança Pública não pode ser estudado como um direito a ser objetivado, pois não
representa um fim em si mesmo, deve ser considerado um direito meio para a realização de
outros direitos fundamentais”.
Assim, pretendemos acentuar a necessidade de se estudar os Direitos Humanos e refletir que
eles estão entre as maiores razões para a existência da Segurança Pública.

2.1 Direitos do Homem, Direitos Humanos


e Direitos Fundamentais
Morais (2015) nos apresenta o seguinte questionamento: “Afinal, direitos do homem, direitos
humanos e direitos fundamentais são expressões sinônimas?”. A resposta que a autora nos dá é uma
negativa, deixando claro que eles se aproximam, mas não tratam da mesma coisa. Pontuando
também que “não é correto afirmar que os direitos fundamentais são, na mesma proporção,
direitos humanos, ou que ambos não representam outro instituto que não os direitos do homem”
(MORAIS, 2015, p. 70).
Sinteticamente, contando com a experiência dos pesquisadores e para somar com a resposta
de Morais (2015), apresentamos a seguir o quadro com as diferenças básicas entre os três conceitos:
O direito fundamental à Segurança Pública 29

Quadro 1 – Diferença entre direito dos homens, direitos humanos e direitos fundamentais

Direitos Conceito
São direitos que se aplicam para os povos, de todas as épocas, de uma forma geral.
Direitos do Homem
Estão ligados à noção de direitos naturais, inerentes a cada indivíduo.

São os direitos que foram recepcionados pelas cartas constitucionais ou ordenamento


Direitos Fundamentais jurídico de cada país ou Estado. Estando positivados e protegidos até mesmo das
ações do Estado.

Estão consignados, positivados em documentos que dão legitimidade internacional


Direitos Humanos
pública aos direitos, como, por exemplo, a convenção americana de direitos humanos.

Fonte: Adaptado de Gonçalves, 2019.

Porém, para este estudo, é interessante tratarmos dos direitos fundamentais com maior
profundidade, pois são eles que nos conduzirão em nosso aprendizado sobre Segurança Pública
enquanto Direito Fundamental.
Contudo, Silva (2000) alerta para a dificuldade de sintetizar o conceito Direitos Humanos devido
às várias expressões que, na opinião do autor, servem para designá-lo. São exemplos de tais expressões:
Quadro 2 – Expressões que se referem a direitos fundamentais

Direitos Conceitos
Direitos Naturais Direitos próprios da natureza do ser humano, pelo simples fato de ser.

Direitos Humanos É a expressão mais usada internacionalmente nos documentos.

Direitos Individuais Próprios do ser individualmente, único.

No Estado liberal, está sujeito à ideia individual do ser humano, como titular de
Direitos Públicos Subjetivos direitos, trata-se de um conceito técnico-jurídico que resta insuficiente para
expressar o verdadeiro significado de direitos fundamentais.

Liberdades Fundamentais e
De pouca significância no contexto desejado.
Liberdades Públicas

Direitos Fundamentais do
São os direitos fundamentais do ser humano, expressos na Constituição Federal.
Homem

Fonte: Adaptado de Silva, 2000.

Para reforçar o entendimento sobre direitos humanos e direitos fundamentais, que serão os
dois conceitos mais utilizados neste capítulo, Gomes (2017, p. 16, grifos nossos) acrescenta que:
na doutrina brasileira, a expressão direitos fundamentais é reservada a direitos
positivados, enquanto direitos humanos se referem a tais direitos proclamados
no plano da comunidade internacional, tais como aqueles direitos consagrados
nos tratados e convenções internacionais [...].

Segundo Gomes (2017), Direitos Fundamentais são aqueles “direitos positivados”,


ou seja, que foram escritos, estão nas leis, por exemplo, na Constituição Federal – essa é a
definição mais compreendida.
Já os Direitos Humanos, nos valendo da explicação de Gomes (2017), são aqueles que estão
consagrados nos tratados e convenções. Contudo, podem não ter sido recepcionados pelas leis de
determinado país, até mesmo o nosso.
30 Introdução à Segurança Pública

2.2 Tratados internacionais sobre Direitos Humanos


A questão da Segurança Pública está diretamente ancorada, e somente é requisitada, devido
à necessidade de preservar direitos, principalmente aqueles ditos humanos e fundamentais, sempre
com os olhos voltados para o seu foco principal: os seres humanos.
Nesse sentido, conforme Moraes (2010, p. 84), “o aspecto pessoal (físico) da segurança
pessoal é amplamente regrado em diversos tratados internacionais sobre Direitos Humanos”,
dentre eles os que apresentamos no Quadro 3, a seguir, juntamente com os seus respectivos artigos
diretamente ligados à segurança:
Quadro 3 – Direito à segurança na legislação internacional

Declaração Universal dos Direitos do Homem (art. 3º)


“Artigo 3º Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança
pessoal.” (UNIC/Rio/ONU, 2009)
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (arts. 1º e 28)
“Artigo 1º Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança de
sua pessoa.”
“Artigo 28 Os direitos do homem estão limitados pelos direitos do próximo,
pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem-estar geral e do
desenvolvimento democrático.” (COMISSÃO..., 1948)
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 9)
“Artigo 9
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém
poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado
de liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os
procedimentos nela estabelecidos.
(...)” (BRASIL, 1992a)
Convenção Americana de Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º)
“Artigo 7º Direito à Liberdade Pessoal
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.
(...)” (BRASIL, 1992b)

Fonte: Elaborado pelo autor com base em documentos oficiais.

A documentação, mostrada anteriormente, mantém estreita relação com as cartas maiores


de cada Estado, ou seja, suas constituições, que são ferramentas legais de salvaguarda dos direitos,
bem como proteção contra possível descontrole ou abuso de poder por parte do Estado.

2.3 Classificação Legal dos Direitos Fundamentais


A ideia de que todo Estado deve ter uma Constituição parte do pressuposto de que os textos
destas constituições devem conter regras de limitação do poder autoritário e de prevalência dos
direitos fundamentais, buscando afastar-se da opressão dos regimes antigos (LENZA, 2015).
O surgimento do Estado marca a origem do constitucionalismo, conforme menciona Gomes
(2017, p. 13):
O direito fundamental à Segurança Pública 31

o constitucionalismo é marcado pelo surgimento do Estado em sua concepção


moderna, surgido no século XVIII, caracterizado pela autolimitação do poder
estatal por meio de uma Constituição, regulamentadora da estrutura do ente
estatal, com a previsão de separação entre os Poderes, e com a consagração e
garantia de um rol de direitos individuais conferidos aos seus cidadãos.

De acordo com os autores citados e verificando a Constituição Brasileira, constatamos a busca


pela limitação do poder por meio da tripartição do poder em: Legislativo, Executivo e Judiciário. Tal
medida visa o equilíbrio entre os citados poderes no intuito de garantir direitos.
Para facilitar nossos estudos, criamos o Quadro 4, o qual nos indica de maneira rápida onde
estão consignados os direitos fundamentais na Constituição Federal Brasileira. Cabe destacar que
a primeira classificação com a qual estamos entrando em contato em nosso estudo é a classificação
legal dos direitos fundamentais, que estão positivados na Carta Magna do Brasil.
Quadro 4 – Localização na Constituição Federal de 1988 dos direitos e garantias fundamentais –
classificação legal

Título II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais

Capítulo I
Art. 5º
Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos

Capítulo II
Art. 6º ao art. 11
Dos Direitos Sociais

Capítulo III
Art. 12
Da Nacionalidade

Capítulo IV
Art. 14 ao art. 16
Dos Direitos Políticos

Capítulo V
Art. 17
Dos Partidos Políticos

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1998.

Do quadro evidenciado anteriormente temos um Título1, cinco Capítulos2 e treze Artigos3


da Constituição Federal para tratar dos direitos e garantias fundamentais4.
Cabe ainda, a título de enriquecimento do conteúdo, destacar que os Direitos Fundamentais,
são cláusulas constitucionais pétreas. Mas o que são Cláusulas Pétreas?
Cláusula pétrea
Dispositivo constitucional que não pode ser alterado nem mesmo por Proposta
de Emenda à Constituição (PEC). As cláusulas pétreas inseridas na Constituição
do Brasil de 1988 estão dispostas em seu artigo 60, § 4º. São elas: a forma
federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação
dos Poderes; e os direitos e garantias individuais. (SENADO FEDERAL, 2019,
grifos nossos)

1 Título é um conjunto de Capítulos.


2 Capítulo é um conjunto de Seções.
3 Artigos podem ser agrupados em Seções.
4 Para mais informações sobre a elaboração de leis procurar por Legística ou Teoria da Legislação.
32 Introdução à Segurança Pública

Note que, como nos alertou Silva (2000), são várias as expressões possíveis para se falar
em direitos fundamentais. Na citação anterior encontramos a expressão direitos individuais e nos
deparamos com um conceito diferente, o de garantias fundamentais.
Contudo, Lenza (2015, p. 1144, grifos do original) nos ajuda a esclarecer que “os direitos são
bens e vantagens prescritos na norma constitucional, enquanto as garantias são os instrumentos
através dos quais se assegura o exercício dos aludidos direitos (previamente) ou prontamente os
repara, caso violados”.
Fica a dica sobre o assunto garantias fundamentais, para você poder pesquisar a respeito.

2.4 Classificação Temporal dos Direitos Fundamentais


De acordo com Moraes (2012, p. 29, grifos nossos), “modernamente, a doutrina apresenta-nos
a classificação de direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira gerações, baseando-se na
ordem histórica cronológica em que passaram a ser constitucionalmente reconhecidos”.
Aqui cabe fazer a justa referência ao jurista tcheco, naturalizado francês, Karel Vasak, que
foi quem desenvolveu a teoria das gerações de direitos (OLIVEIRA, 2010). A referência histórica
às três gerações é a mais aceita pela comunidade acadêmica, contudo, há autores que consideram a
existência de quatro ou mais gerações.
Quadro 5 – Classificação temporal dos Direito Humanos

Gerações 1ª Geração CF Arts. 5º e 14 Liberdade

ou 2ª Geração CF Arts. 6º, 7º, 205 Igualdade


dimensões 3ª Geração CF Art. 225 Fraternidade

Fonte: Adaptado de Moraes, 2012.

Temos que “os direitos fundamentais de primeira geração são os direitos e garantias
individuais e políticos clássicos (liberdades públicas), surgidos institucionalmente a partir da
Magna Charta” (MORAES, 2012, p. 29).
Aos direitos fundamentais de segunda geração, ou seja, direitos sociais, econômicos e
culturais, Themistocles Bransão Cavalcanti (apud MORAES, 2012, p. 29) diz que:
o começo do nosso século viu a inclusão de uma nova categoria de direitos
nas declarações e, ainda mais recentemente, nos princípios garantidores das
liberdades das nações e das normas da convivência internacional. Entre os
direitos chamados sociais, incluem-se aqueles relacionados com o trabalho, o
seguro social, a subsistência, o amparo à doença, à velhice etc.

Para concluir, Moraes (2012, p. 29) acrescenta sobre as gerações clássicas que:
modernamente, protege-se, constitucionalmente, como direito de terceira geração
os chamados direitos de solidariedade ou fraternidade, que englobam o direito a
um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, ao progresso, à
paz, à autodeterminação dos povos e a outros direitos difusos, que são, no dizer
de José Marcelo Vigliar, os interesses de grupos menos determinados de pessoas,
sendo que entre elas não há vínculo jurídico ou fático muito preciso.
O direito fundamental à Segurança Pública 33

Manoel Gonçalves Ferreira Filho (apud MORAES, 2012, p. 30) ensina que “a primeira
geração seria a dos direitos de liberdade, a segunda, dos direitos de igualdade, e a terceira
complementaria, assim, o lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade”.
Como já expusemos, há autores que consideram a existência de outras gerações, mas,
por ora, para nosso estudo, bastam essas. No entanto, continua o convite para você buscar mais
informação e aprendizado.

2.5 Características dos Direitos Fundamentais


Estudiosos tomam como norteadoras as características dos direitos fundamentais, dizendo
que estas antecedem o ordenamento jurídico. O Quadro 6, a seguir, nos mostra como podemos
organizar essas características:
Quadro 6 – Características dos Direitos Fundamentais

Há o consenso na comunidade internacional de que todos os Estados devem reconhecer e


Universais positivar um rol de direitos fundamentais, de maneira que estes se caracterizem como
universais.

Os direitos fundamentais são destituídos de conteúdo econômico-patrimonial, e, por esta razão,


Inalienáveis
são intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis, pelo que se caracterizam como inalienáveis.

Admite-se, no entanto, em alguns casos e sob específicas condições, a limitação voluntária


ao gozo de certos direitos, desde que não implique a aniquilação do direito fundamental, como
Irrenunciabilidade
ocorre nas hipóteses de não exercício de determinado direito a que seu titular voluntariamente
se compromete.

Significa que nenhum direito fundamental é absoluto, no sentido de seu gozo não admitir
restrições, uma vez que em casos concretos em que outros direitos também consagrados na
Relatividade
Constituição, como os fundamentais, se apresentem em colisão com os primeiros deverá haver
a ponderação dos interesses em conflito.

Revela-se na circunstância de que estes direitos surgem e se desenvolvem de acordo com os


valores e concepções vigentes em cada momento histórico da sociedade a que se destinam,
Historicidade
o que possibilita a modificação de seus respectivos sentidos e conteúdos para a adaptação à
dinâmica social.

Fonte: Adaptado de Gomes, 2017.

Das pesquisas que desenvolvemos, percebemos que as características acima estão entre as
mais aceitas, bastando por ora para o propósito de introduzir o estudo do direito fundamental à
Segurança Pública na Constituição, conforme segue na próxima seção.

2.6 O Direito Fundamental à Segurança Pública na Constituição


brasileira
Dada a importância da preservação da Ordem Pública, da integridade física e patrimonial
de todos os cidadãos, nada mais óbvio esperar que o tema Segurança Pública esteja inserido na
Constituição Federal de nosso país.
Por esse motivo, vamos fazer uma análise do texto constitucional, desde o seu preâmbulo,
para que possamos aprofundar nosso entendimento da matéria.
34 Introdução à Segurança Pública

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988


Preâmbulo
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar
o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,
o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos,
sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL. (BRASIL, 1988, grifos nossos)

Transcrevemos acima o preâmbulo da Carta Magna, também conhecida como Carta Maior,
Constituição Cidadã, Constituição Primavera, entre outras denominações, no intuito de refletirmos
sobretudo o que nele consta, mas em especial sobre a segurança.
Podemos ainda extrair do texto que “a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento,
a igualdade e a justiça” são tidos como valores supremos de uma sociedade. Logo, podemos
deduzir que a Segurança Pública é um valor supremo.
Foureaux (2019) corrobora com nosso entendimento quando, em análise do texto
preambular, complementa que, além do valor supremo, a segurança se funda na harmonia social, e
acrescenta: “a harmonia social, no âmbito do Brasil (ordem interna), relaciona-se diretamente com
a pacificação social, preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
que constituem a Segurança Pública” (FOUREAUX, 2019, p. 16).
O art. 5º traz o rol de direitos e garantias fundamentais e trata da segurança, referindo-se à
proteção contra possíveis arbitrariedades do Estado em desfavor do cidadão.
Genericamente, a segurança aparece no art. 6º da Carta Maior. Neste artigo, constam os
direitos sociais, além de referir-se à equidade na aplicação desses direitos. Segundo Foureaux
(2019, p. 16), tendo
em vista do rol de direitos e garantias fundamentais, bem como os direitos
sociais, é possível afirmar que a Constituição traz um plexo de direitos voltados
para a segurança pública e individual, de forma que seja possível ao estado
preservar a ordem pública, sem, no entanto, massacrar aqueles que a violam
quando praticam crimes. Busca-se um ponto de equilíbrio entre o direito à
segurança pública e os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos de bem
e daqueles que praticam crimes e venham a responder criminalmente e serem
presos, em vista da dignidade da pessoa humana.

Nas palavras do autor, o conceito que surge e merece destaque é o de “dignidade da pessoa
humana” contida no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal:
TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:
(...)
III - a dignidade da pessoa humana. (BRASIL, 1988, grifos nossos)
O direito fundamental à Segurança Pública 35

De acordo com Moraes (2010), a Constituição Federal adota o princípio da dignidade da


pessoa humana partindo do pressuposto de que é somente pela condição biológica humana que o
ser humano é titular de direitos, não há outro motivo.
Ainda, o pesquisador, corroborando com o nosso entendimento, acrescenta que os direitos
fundamentais são inerentes ao princípio da dignidade da pessoa humana, ou seja, estão a eles
unidos, presos.
Assim, toda a gama de movimentos libertários em prol da humanidade, nos sentidos físicos,
intelectuais, religiosos e nos demais sentidos ligados aos direitos humanos fundamentais, está
atrelada à nossa condição de seres humanos, bem como ao nosso direito de termos nossa dignidade
respeitada e preservada.
Para Moraes (2010, p. 8), “o entendimento dominante é de que não há como se garantir o
respeito à dignidade humana quando a estabilidade jurídica não for manifestamente aproveitada
na realidade social”.
Porém, devemos ter em mente que a nossa condição suprema de seres humanos, juridicamente
entendida, aumenta quando se refere ao coletivo de pessoas, isto é , à sociedade. Com isso, queremos
enfatizar que os direitos coletivos se sobrepõem aos direitos individuais, resguardado o que é moral
e eticamente plausível.
Em Moraes (2010), encontramos a ideia de que o Estado tem como fundamento a
sobreposição do interesse geral aos individuais, podendo, inclusive, restringir direitos em prol da
Segurança Pública.
Dessa forma, podemos concluir que em prol da coletividade pode-se aceitar como justo que
algum direito individual, em determinado momento, seja cerceado em benefício da segurança de todos.
Ou seja, direitos positivados podem ser restringidos para o bem geral, desde que presentes os
preceitos éticos e morais adequados. É para a garantia do funcionamento do Estado Democrático
de Direito que a Segurança Pública se manifesta por meio de seus órgãos e membros.
Seriam estes órgãos e membros as Polícias? A resposta está em Foureaux (2019).
Como já comentamos, a Segurança Pública não é um problema exclusivo da Polícia, mas,
sim, um reflexo do desenvolvimento do Estado e da condição da estrutura social. Devemos nos
questionar como está a educação, moradia, trabalho e estrutura familiar – tudo isso e mais resultam
em uma Segurança Pública melhor ou pior. “A segurança pública depende, ao mesmo tempo, de
uma atuação positiva do estado, que assegure plenas e efetivas condições do exercício dos direitos
sociais, bem como de uma atuação negativa, consistente em não violar o direito à vida, à liberdade
e à propriedade” (FOUREAUX, 2019, p. 20).
A atuação positiva do Estado assegura ao cidadão condições dignas dos exercícios sociais
que já vimos constar no art. 6º da Constituição, os quais são “a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência aos desamparados”.
36 Introdução à Segurança Pública

A atuação negativa vem no sentido de não violar o direito à vida, à liberdade e à propriedade.
Importante destacar a linha tênue em que se encontram os profissionais da Segurança Pública,
legitimamente autorizados e incumbidos em nome do Estado de manter a paz social, que representa
a vontade do povo, ou seja, devem agir em nome do ente estatal positiva e negativamente sempre
de maneira a cumprir a legislação.
Nesse sentido, falando em desenvolvimento, mais de um dos autores aqui citados apontam
que os maiores freios para a falta de desenvolvimento de um povo são os crimes de tráfico de
drogas e de corrupção.
O tráfico, por motivos óbvios, leva seres humanos às mais degradantes condições de vida,
sujeitando-lhes a todas as formas abomináveis de humilhação, tanto de maneira direta pela
necessidade do vício, quanto de forma indireta no caso dos pais, principalmente mães, que sofrem
diuturnamente com e pelas vítimas das drogas.
Mas ainda resta o mais terrível de todos os crimes: a corrupção. A corrupção que rouba a
alimentação das escolas, o remédio dos postos de saúde e o sonho de uma vida digna de milhões
de pessoas, tudo para saciar a ganância. Financiando o seu bem-estar com dinheiro público,
geralmente dos mais carentes, o corrupto mantém a nação na miséria, abrindo portas para o tráfico,
para a prostituição infantil e tudo o que há de perverso na sociedade.
Esses dois crimes certamente são os maiores opressores e depressores da dignidade da pessoa
humana e os que mais devem ser combatidos, pois são a gênese dos demais.
E, assim, fica, conforme afirma Foureaux (2019, p. 19), cada vez mais claro que “a segurança
pública, além de ser um valor supremo, é um direito fundamental” (FOUREAUX, 2019, p. 19).
A Segurança Pública está ligada à proteção de todos os direitos, garantias e conceitos
presentes na Constituição Federal de 1988. O Estado, por meio de seus representantes, tem
o dever de garantir a Segurança Pública a seu povo, em contra partida o povo tem o dever e a
responsabilidade de exercer a sua cidadania, ou seja, direitos em plenitude, inclusive sob pena de
perdê-los por inércia.
Mas como um povo que não está gozando de pleno desenvolvimento e que está sendo
vilipendiado em seus direitos e garantias irá exercer a sua cidadania? Aqui, todos nós que
trabalhamos muito, estudamos e participamos da sociedade, entramos em ação. Nossa contribuição
para orientar, instruir e incentivar os demais é essencial.
Sobre isso, Foureaux (2019) segue lembrando que a Segurança Pública está diretamente
relacionada à terceira dimensão dos direitos fundamentais, pois trata do direito à paz, por ser esse
o fim buscado pela Segurança Pública.
Conduzindo em raciocínio apurado, Foureaux (2019, p. 21) nos revela que, “portanto, a
segurança pública, além de ser um valor supremo é um ‘supremo direito da humanidade’ e um
direito fundamental de terceira dimensão”.
Findamos o capítulo com o entendimento de que a Segurança Pública deve ser tida como um
conceito a ser refletido, difundido e ampliado. Ampliado no sentido de ser debatido nos diversos
O direito fundamental à Segurança Pública 37

espaços de formação de opinião, onde pessoas da comunidade e representantes do Estado possam,


juntos, atribuir a devida importância ao tema.

Considerações finais
As noções de direitos dos homens, antes conhecidos apenas de forma prática e de maneira
imposta pela moral dominante, que nos dizia o que era certo ou errado, foram, como vimos,
positivadas em documentos, tratados e convenções. Muitos desses direitos foram recepcionados
pela nossa Carta Magna, tornando-se Direitos Fundamentais.
Um dos alertas que nos foi dado pelos autores que conhecemos em nossos estudos foi em
relação à dificuldade para esclarecer o conceito direitos humanos, devido às várias expressões que
podem ser usadas para designá-lo.
Mas agora que temos conhecimento suficiente, estes direitos fundamentais estão para nós
como o norte de nossa dignidade, de nós todos. Sabemos que eles abarcam conceitos maiores e
que ao Estado cabe a atuação positiva protegendo estes direitos e, também, atuação negativa, não
cerceando direitos como a própria vida.
Descobrimos que a Segurança Pública é um direito que não tem fim em si mesmo, pois se
trata de um direito meio para a realização de outros, inclusive fundamentais, como o nosso direito
à Segurança Pública é. E este foi o objetivo neste capítulo, ou seja, refletir com você sobre a própria
Segurança Pública como um direito fundamental.
E acreditamos que, sim, obtivemos sucesso, mas a reflexão deve ser potencializada, tendo
em vista que lendo e buscando nos pesquisadores apresentados sabemos agora que a Segurança
Pública é mais do que fundamental, é direito supremo.

Ampliando seus conhecimentos


• NAÇÕES Unidas Brasil. 2019. Disponível em: https://nacoesunidas.org. Acesso em: 26
ago. 2019.
Como conteúdo complementar para enriquecer o estudo, convido você a visitar o site
das Nações Unidas e explorar todo o seu conteúdo e aprofundar o entendimento sobre
“Direitos Humanos”.
• SUPREMO Tribunal Federal. 2019. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/. Acesso em: 26
ago. 2019.
Sugerimos a você que conheça um pouco mais sobre o Superior Tribunal Federal (STF),
conhecido com o Guardião da Constituição. Acessando o site do STF, você poderá saber
mais sobre as questões que envolvem a Suprema Corte do País e tudo o que diz respeito a
direitos fundamentais aplicados ao cotidiano da Nação Brasileira.
• BALESTRERI, B. R. Direitos humanos: coisa de polícia. Passo Fundo/RS: CAPEC,
Paster Editora, 1998. Disponível em: http://dhnet.org.br/dados/livros/edh/a_pdf/livro_
balestreri_dh_coisa_policia.pdf. Acesso em: 26 ago. 2019.
38 Introdução à Segurança Pública

Para ampliar ainda mais os seus conhecimentos em relação à Segurança Pública , sugere-
se a você que leia o livro Direitos humanos: coisa de polícia. O autor Ricardo Brisolla
Balestreri tem vasta experiência como promotor dos direitos humanos relacionados à
Segurança Pública. A obra foi produzida pela Secretaria Especial de Direitos Humanos,
da Presidência da República. O autor cedeu os direitos e a reprodução foi autorizada
desde que seja citada a fonte.

Atividades
1. Dê as definições das expressões abaixo:

• Direitos do homem.
• Os direitos fundamentais.
• Direitos humanos.
2. Aprendemos que os Direitos Fundamentais são cláusulas constitucionais pétreas. Explique o
que são Cláusulas Pétreas.

3. Quais são e como se definem as características dos direitos fundamentais estudados?

Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União. Poder Legislativo,
Brasília, DF, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 23 ago. 2019.

BRASIL. Decreto n. 592. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 6 jul. 1992a. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm. Acesso em: 23 ago. 2019.

BRASIL. Decreto n. 678. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 6 nov. 1992b. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm. Acesso em: 23 ago. 2019.

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Organização dos Estados Americanos.


Bogotá, 1948. Disponível em: http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/b.Declaracao_Americana.htm.
Acesso em: 26 ago. 2019.

FOUREAUX, R. Segurança pública. Salvador: JusPodivm, 2019.

GOMES, A. R. Teoria dos direitos fundamentais e suas dimensões. In: GORCZEVSKI, C; JAQUES, M. D;
MOUSQUER, J. V. M. (org.). Direitos fundamentais, democracia e políticas públicas: desafios de sociedade e
justiça na contemporaneidade. Curitiba: Prismas, 2017.

GONÇALVES, F. Diferenças entre Direito dos Homens, Direitos Humanos e Direitos Fundamentais.
2019. Disponível em: https://linkconcursos.com.br/diferencas-entre-direito-dos-homens-humanos-e-
fundamentais/. Acesso em 13 de jun. 2019.

LENZA, P. Direito constitucional esquematizado. 19. ed. ver. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2015.

MORAES, A. de. Direito Constitucional. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
O direito fundamental à Segurança Pública 39

MORAES, F. T. Direito fundamental à segurança e políticas públicas. 178 f. Dissertação (Mestrado em Direito)
– Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Santo Ângelo, 2010. Disponível em: http://
www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp146905.pdf. Acesso em: 16 jun. 2019.

MORAIS, F. S. de; SANTOS J. P. S. dos. Direitos Fundamentais: características histórico-conceituais. Revista


Direitos Humanos Fundamentais, Osasco, ano 15, n. 2, p. 67- 83, jul./dez. 2015. Disponível em: http://www.
mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/
bibli_boletim/bibli_bol_2006/fieo03.pdf. Acesso em: 14 jun. 2019.

OLIVEIRA, S. A. M. A teoria geracional dos direitos do homem. Theoria – Revista eletrônica de filosofia, v.
2, n. 3, 2010. Disponível em: http://www.theoria.com.br/edicao0310/a_teoria_geracional_dos_direitos_do_
homem.pdf. Acesso em: 16 jun. 2019.

SENADO FEDERAL. Senado notícias: Cláusula pétrea, 2019. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/
noticias/glossario-legislativo/clausula-petrea. Acesso em: 23 ago. 2019.

SILVA, J. A. da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros Editores, 2000.

SOUZA, C. A. Polícia Comunitária e gestão integrada. Curitiba: InterSaberes, 2017.

UNIC/RIO/ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 2009. Disponível em: https://nacoesunidas.
org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf. Acesso em: 26 ago. 2019.
3
Segurança Pública na Administração Pública

A Administração Pública se confunde com o próprio Estado, este ente que criamos para nos
auxiliar a resolver problemas, principalmente os coletivos – que se sobrepõem a qualquer interesse.
A Segurança Pública prestada como serviço deve ser regrada e seguir as normas do Estado,
o qual atua balizado também em princípios que devem ser respeitados e conhecidos por todos,
principalmente por quem trabalha em seu nome.
Nesse viés, vamos estudar neste capítulo os princípios da Administração Pública dos quais
a própria Segurança Pública não pode prescindir para executar sua missão de modo eficiente e
eficaz, inclusive, sem lesar os direitos individuais e coletivos.
A temática do serviço público também é abordada neste capítulo no intuito de
refletirmos a Segurança Pública enquanto serviço. Será que pode ser assim classificada? É o
que pretendemos discutir.
A Polícia, ou melhor, os órgãos policiais são dotados de poderes conferidos pelo Estado para
que possam atuar. Vamos conhecer especialmente o chamado poder de polícia, que garante a esses
órgãos a legitimidade e o dever de agir em nome do Estado. Mas será que somente as polícias são
detentoras desse Poder? Veremos que não. Ainda no mesmo viés – sobre Polícia –, falaremos do
Poder da Polícia, que, este sim, é apenas das polícias, não como benefício, mas como obrigação de
executar suas atividades de proteção ao cidadão.

3.1 Princípios orientadores


Apresentaremos, nesta seção, princípios que devem balizar a atuação da Administração
Pública e que também se relacionam com a temática que estamos estudando, a Segurança Pública.
Conforme estabelece o art. 37, VII da Constituição Federal:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência. (BRASIL, 1988, grifos nossos)

O anagrama L.I.M.P.E. ficou famoso entre os estudantes de direito e aqueles que estudam
a Administração Pública de modo geral. Refere-se, respectivamente, aos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência – e conforme consta no caput1 do supracitado art.
37 da CF, a Administração Pública deve obedecer a esses princípios. Contudo, além dos princípios
L.I.M.P.E., veremos outros, igualmente importantes, que auxiliarão no entendimento de tudo que a
Administração Pública representa.

1 Do latim, caput significa cabeça e refere-se à “cabeça” do artigo, seu enunciado principal.
42 Introdução à Segurança Pública

Vamos lá, para você que já os conhece relembrar e para quem ainda não teve a oportunidade
de começar a estudar este assunto tão importante para todos os cidadãos brasileiros.

3.1.1 Princípio da supremacia do interesse público


Di Pietro (2016, p. 97) menciona que é no Direito Público2, “em especial no Direito
Constitucional3 e Administrativo4, que o princípio da supremacia do interesse público tem a sua
sede principal”.
Entendemos por este princípio que o interesse da coletividade se sobrepõe ao interesse
privado, ao interesse individual. Assim, podemos dizer que é um princípio geral do Direito,
inerente a qualquer sociedade; podemos dizer, inclusive, que é a exigência para a existência de
qualquer sociedade.
E corrobora conosco Mello (2009, p. 96), ao afirmar que “o princípio da supremacia do
interesse público sobre o interesse privado é o princípio geral de Direito5 inerente a qualquer
sociedade. É a própria condição de sua existência”.
O autor nos orienta que o princípio da supremacia do interesse público não está radicado ou
localizado em nenhum dispositivo específico da Constituição. Entendemos então que ele não está
explícito, contudo, subentendido em todos os dispositivos que dizem respeito aos direitos.
Os princípios explícitos são aqueles que estão escritos expressamente em normas, leis ou
códigos, entretanto, há também princípios que não são encontrados em nenhuma legislação e
mesmo assim não podem ser desrespeitados (BORTOLETO, 2015).
Por sua vez, Di Pietro (2016) mostra que o princípio do interesse público pode ser encontrado
expressamente no art. 2º, caput, da Lei n. 9.784/1999, e especificado no parágrafo único.
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros,
os critérios de:
[...]
II – atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou
parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei. (BRASIL,
1999, grifos nossos)

A autora nos orienta que no dispositivo legal acima está consignado que o interesse público,
além de se sobrepor ao privado, é irrenunciável.

2 O Direito Público em Gusmão (1999, p. 143) pode ser dividido em interno e externo, o interno que a nós interessa,
por ora, “tem por matéria o Estado, suas funções e organização, bem como a ordem e segurança internas, os serviços
públicos e os recursos indispensáveis à sua execução. Tutela assim o interesse público e o interesse do Estado”.
3 O Direito Constitucional em Gusmão (1999, p. 165, grifos nossos) “é superior a todos os demais, por ser manifestação
da soberania nacional. [...] podemos defini-lo como o direito organizador dos poderes do Estado, de seu governo, disciplinador
das relações jurídicas entre governantes e governados, garantidor dos direitos fundamentais do homem”.
4 O Direito Administrativo em Gusmão (1999, p. 167) “organiza e disciplina a Administração Pública e os serviços
públicos”.
5 O Direito é, para Gusmão (1999, p. 52), um “conjunto de normas executáveis coercitivamente, reconhecidas ou
estabelecidas e aplicadas por órgãos institucionalizados [...]”.
Segurança Pública na Administração Pública 43

3.1.2 Princípio da legalidade


Este princípio nasce com o Estado de Direito e constitui uma das principais garantias de
respeito aos direitos individuais. “Isto porque a lei, ao mesmo tempo em que os define, estabelece
também os limites da atuação administrativa que tenha por objeto a restrição ao exercício de tais
direitos em benefício da coletividade” (DI PIETRO, 2016, p. 94).
A esse respeito, cabe ressaltar que a vontade da Administração Pública está totalmente
atrelada à lei, ou seja, nada pode ser feito senão em decorrência da legislação.
Meirelles (apud DI PIETRO, 2016) leciona que o princípio que prevalece entre os particulares
é o da autonomia da vontade, que diz que aos particulares é permitido fazer tudo que a lei não
proíba. Essa ideia foi previamente concebida e conta do art. 4º da Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão (1789): “a liberdade consiste em fazer tudo aquilo que não prejudique a
outrem; assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem outros limites que os
que asseguram aos membros da sociedade o gozo desses mesmos direitos. Esses limites somente
podem ser estabelecidos em lei”.
O Princípio da Legalidade pode ser encontrado no art. 5º da Constituição Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei. (BRASIL, 1988, grifos nossos)

Nas palavras de Bortoleto (2015, p. 41), “é o princípio que de maneira mais íntima,
representa o Estado de Direito, revelando a supremacia da lei e, dessa maneira, ainda, constitui-se
em importantíssima forma de tutela dos direitos fundamentais”.
Vamos verificar também na Carta Magna que o supracitado princípio consta em seu
art. 37: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade [...]”
(BRASIL, 1988, grifo nosso).
Frisamos que esse princípio vem em prol do cidadão, buscando a garantia de que será
cumprido em seu favor, seja como direito ou dever, as obrigações dos entes estatais: União,
Estados/Distrito Federal e Municípios.

3.1.3 Princípio da impessoalidade


Neste princípio, verificamos que a Administração Pública deve tratar a todos, sem
discriminação. Quando falamos em discriminação, devemos entender que não deve haver,
segundo esse princípio, a possibilidade de quaisquer pessoas serem prejudicadas ou beneficiadas
por qualquer ato da administração.
As amizades, inimizades e as preferências por este ou por aquele indivíduo devem ser
deixadas de lado, e tampouco os grupos devem ser favorecidos ou prejudicados.
44 Introdução à Segurança Pública

Esse princípio pode ser confundido com o próprio princípio da isonomia ou da igualdade,
que nos diz que todos os administrados devem ser tratados de igual maneira (MELLO, 2009).
A referência a “administrados” se faz a todos nós que dependemos do Estado e, por
consequência, da Administração Pública para reger muitos de nossos interesses.
E fica claro que a todos deve ser reservado o mesmo tratamento sem nenhuma forma de
diferenciação. Cabe ainda, neste ponto, destacar que o princípio da impessoalidade está consagrado
explicitamente no art. 5º caput e no art. 37, caput:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
[...]
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade [...]. (BRASIL, 1988, grifos nossos)

Todos, no que tange a prestação destinada pelo Estado, são sujeitos de direito, fazendo jus a
receberem o devido tratamento igualitário, sem discriminação de qualquer natureza, este é um dos
motivos da criação do ente Federal.

3.1.4 Princípio da presunção da legitimidade ou de veracidade


O princípio da presunção da legitimidade ou veracidade, para Di Pietro (2016) abrange
dois aspectos:
1. Presunção de verdade.
2. Presunção da legalidade.
Assim sendo, se a Administração Pública deve observar fielmente a lei, a presunção é de
que ela está sempre agindo pautada na legalidade e, até que se prove em contrário, presume-se que
todos os seus atos são legítimos e verdadeiros.

3.1.5 Princípio da autotutela


Este princípio, também chamado de poder da autotutela, possibilita à Administração
Pública controlar seus próprios atos, apreciando-os quanto ao mérito e legalidade
(ALEXANDRINO; PAULO, 2010).
Além disso, decorre da atividade administrativa e principalmente do princípio da legalidade.
O controle que ocorre em relação à legalidade, pela administração, sobre atos que ela mesma
pratica, não a livra de tê-los apreciados pelo Poder Judiciário para verificação da legalidade de tais
atos. (ALEXANDRINO; PAULO, 2010).
Di Pietro (2016, p. 1001) refere-se à autotutela, afirmando que este “poder da Administração
está consagrado em duas súmulas do STF”. Pela súmula 346, “a administração pública pode declarar
a nulidade dos seus próprios atos”; e pela súmula 473, “a administração pode anular seus próprios
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e
ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial” (BRASIL, 2019).
Segurança Pública na Administração Pública 45

Ainda serve a “autotutela também para designar o poder que tem a Administração Pública
de zelar pelos bens que integram o seu patrimônio, sem necessitar de título fornecido pelo Poder
judiciário” (DI PIETRO, 2016, p. 101).
E para salvaguardar seus bens, segundo a autora (2016, p. 101), “ela pode, por meio de
medidas de polícia administrativa, impedir quaisquer atos que ponham em risco a conservação
desses bens”.
Nesse viés, é notório que a Administração Pública cria e deve criar mecanismos,
administrativos e jurídicos, para prestar o melhor serviço ao cidadão e assim conclui-se que
medidas de polícia administrativa são necessárias e se tornam ferramentas imprescindíveis à
administração do Estado.

3.1.6 Princípio da hierarquia


A estrutura da Administração Pública foi organizada de modo a criar um sistema de
coordenação e subordinação entre uns e outros órgãos. Estes órgãos, por sua vez, têm suas
atribuições definidas em lei, criando assim uma hierarquia entre todo o sistema, incidindo sobre
os subordinados o controle da administração sobre os atos por eles praticados, portanto, devemos
frisar: atos que são praticados em nome da administração.
Do princípio da hierarquia decorrem várias prerrogativas para a administração, dentre elas:
• a de rever os atos dos subordinados;
• a de delegar e avocar atribuições;
• a de punir.

No caso dos subordinados, surge o dever de obediência, ou seja, deve-se submeter a legislação
vigente ao cargo que assumiram, cumprindo com as obrigações atinentes.

3.1.7 Princípio da continuidade do serviço público


O serviço público volta-se a atender às demandas básicas e essenciais da sociedade, e, pelo
entendimento direto de “Princípio da continuidade do serviço público”, deduzimos que ele não
pode parar. Isso justifica-se por se tratar de atividade de primeira necessidade.
Serviço Público é a forma pela qual o Estado desempenha suas atividades essenciais para a
coletividade, ou seja, para fazer jus à sua criação e vocação que é de atender ao administrado.
Em Carvalho (2014, p. 76) aprendemos que o aludido princípio “trata-se, portanto,
de exigência no sentido de que a atividade do Estado seja contínua, não podendo parar a
prestação dos serviços”.
Para exemplificar, podemos elencar serviços como os de fornecimento de água e energia
elétrica, que são atividades até mesmo estratégicas e que não podem parar nunca, pois hospitais,
escolas e locais de armazenamento de alimentos necessitam de tais serviços diuturnamente.
O princípio da continuidade do serviço público, segundo Carvalho (2014), está expresso
no art. 6º, § 1º, da Lei n. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que “dispõe sobre o regime de concessão
46 Introdução à Segurança Pública

e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá


outras providências.” De acordo com o § 1o desse mesmo artigo:
§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade,
continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua
prestação e modicidade das tarifas. (BRASIL, 1995, grifo nosso)

Tendo em vista o princípio exposto, Carvalho (2014) nos lança o seguinte questionamento:
“O servidor público tem direito à greve?”.
A pergunta é válida, pois, se refletirmos, vamos concordar que a greve de funcionários
públicos pode comprometer o princípio da continuidade do serviço público. Vejamos.
A resposta de Carvalho (2014, p. 77) é: “o servidor público, em sentido estrito, tem direito à
greve e à sindicalização”. Conforme estabelece o art. 37, VII, da Constituição Federal:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:
[...]
VII – o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica. (BRASIL, 1988)

Porém esse direito, assim como outros, não é extensivo aos militares, que não são funcionários
públicos, e não têm direito à greve nem de sindicalização. Isto é expressamente previsto na
Constituição Federal no art. 42 e art. 142, § 3º, IV:
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,
instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
Art. 142.
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares,
aplicando-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes
disposições:
[...]
IV – ao militar são proibidas a sindicalização e a greve. (BRASIL, 1988, grifos
nossos)

Ainda falaremos um pouco mais sobre os militares, por interesse de nossos estudos em
seção específica, mas concordaremos desde já que a greve de qualquer profissional é prejudicial à
população, contudo, tanto os profissionais do serviço público quanto os do privado devem ter seus
direitos assegurados e protegidos contra o próprio Estado, se assim for necessário.

3.1.8 Princípio da publicidade


Certamente o Estado e a Administração Pública estão diretamente ligados, coexistindo
necessariamente. Como ambos são importantes somente na medida em que atendem ao interesse
da coletividade formada pelos cidadãos, nada mais lógico do que o interessado, o cidadão, ser
informado e ter acesso a tudo que a ele diz respeito. Nesse sentido, para Carvalho (2014, p. 69), o
princípio da publicidade:
Segurança Pública na Administração Pública 47

trata-se de premissa que proíbe a edição de atos secretos pelo poder público,
definindo a ideia de que a Administração deve atuar de forma plena e
transparente. A administração não age em nome próprio e por isso nada mais
justo que o maior interessado, o cidadão, tenha acesso ao que acontece com seus
direitos.

Di Pietro (2016, p. 103) assevera que “o princípio da publicidade, que vem agora inserido no
art. 37 da Constituição, exige ampla divulgação dos atos praticados pela Administração Pública,
ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas em lei”.
O princípio da publicidade se materializa pela publicação dos atos administrativos. Como
regra, temos que todos os atos praticados pela administração devem ser publicados, há, porém,
uma exceção no que diz respeito ao art. 5º, XXXIII, da Constituição Federal, em caso que o “sigilo
seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado” (BRASIL, 1988).
O princípio da publicidade ganhou mais força a partir da edição da Lei n. 12.257, de 2011 –
Lei de Acesso à Informação. A lei busca regular:
1. Artigo 5º, XXXIII da Constituição Federal.
2. Artigo 37, § 3º, II da Constituição Federal.
3. Artigo 216, § 2º, II da Constituição Federal.
Esses dispositivos, para Bortoleto (2015), apontam as três dimensões a que a Lei de
Acesso à Informação se propõe:
1. Direito fundamental.
2. Direito do usuário da Administração.
3. Patrimônio cultural brasileiro.
Utilizando as palavras de Mello (2009, p. 114): “não pode haver em um Estado Democrático
de Direito, no qual o poder reside no povo (art. 1º, parágrafo único, da Constituição) ocultamento
aos administrados dos assuntos que a todos interessam, e muito menos em relação aos sujeitos
individualmente afetados por alguma medida”.
O administrado é detentor de diretos e o maior interessado nas atividades do ente estatal, a
única justificativa para qualquer tipo de sigilo é a própria segurança das pessoas, no caso a doutrina
refere-se ao Estado e à sociedade.

3.1.9 Princípio da moralidade administrativa


O princípio da moralidade está vinculado à boa-fé, honestidade e lealdade na atuação dos
agentes da administração, pois estes tratam com bens que são de todos, então:
trata-se de princípio que exige honestidade, lealdade, boa fé de conduta no
exercício da função administrativa, ou seja, a atuação não corrupta dos agentes
públicos, ao tratar com a coisa de titularidade do Estado. Esta norma estabelece
a obrigatoriedade de observância a padrões éticos de conduta, para que se
assegure o exercício da função pública de forma a atender às necessidades
coletivas. (CARVALHO, 2014, p. 68)
48 Introdução à Segurança Pública

Há autores que acreditam que este princípio é absorvido pelo princípio da legalidade, pois o
conceito de moral administrativo seria, em suas opiniões, vago e impreciso.
brocardo: aforismo,
máxima ou texto Contudo o antigo brocardo que diz que “nem tudo que é legal é honesto”, e estando a moral
breve que explica
intimamente ligada à honestidade, deduzimos que esta se sobrepõe, ao menos filosoficamente, ao
uma regra ou
princípio moral. direito e à legalidade, contrariando, pois, o entendimento de alguns autores, conforme acima citado
– e esse também é nosso entendimento: a moral se sobrepõe à legalidade (DI PIETRO, 2016).

3.1.10 Princípios da razoabilidade e proporcionalidade


Em relação ao princípio da razoabilidade, temos que aquele que está submetido a cumprir
e fazer cumprir a legislação deve em seu cargo ou função pública agir de acordo com os padrões
éticos de conduta no mínimo do senso comum. Assim, o princípio da razoabilidade:
visa impedir uma atuação desarrazoada ou despropositada do Administrador,
definindo que o agente não pode se valer de seu cargo ou função, com a falsa
intenção de cumprir a lei, para agir de forma ilegal e arbitrária fora dos padrões
éticos e adequados ao senso comum. Este princípio demonstra certo limite para
discricionariedade do administrador, uma vez que, mesmo diante de situações
sem que a lei defina mais de uma possibilidade de atuação, a interpretação do
agente estatal deve-se pautar pelos padrões de escolha efetivados pelo homem
médio da sociedade, sem o cometimento de excessos. (CARVALHO, 2014, p. 84)
Quanto ao princípio da proporcionalidade, “espera-se uma atuação proporcional do agente
público, ou seja, um equilíbrio entre os motivos que deram ensejo à prática do ato e a consequência
jurídica da conduta” (CARVALHO, 2014, p. 85).
Com o autor, entendemos que as finalidades desse princípio são:
• Evitar abusos na atuação de agentes públicos.
• Buscar equilíbrio entre o ato praticado e os fins a serem alcançados pela Administração
Pública – aqui está a essência desse princípio.
Razoável e proporcional deve ser a conduta do administrador público. Di Pietro (2016,
p. 111) assevera que “o princípio da razoabilidade, entre outras coisas, exige proporcionalidade
entre os meios de que se utiliza a administração e os fins que ela tem que alcançar”.

3.1.11 Princípio da motivação


O princípio da motivação nos informa que todos os atos da Administração Pública devem
apresentar uma justificativa para serem colocados em prática. Ainda, esses atos devem estar de
acordo com a lei, sob pena de não prosperarem.
Dito princípio implica para a Administração o dever de justificar seus atos,
apontando-lhes os fundamentos de direito e de fato, assim como a correlação
lógica entre os eventos e situações que deu por existentes e a providência
tomada, nos casos em que este último aclaramento seja necessário para aferir-
-se a consonância da conduta administrativa com a lei que lhe serviu de arrimo.
(MELLO, 2009, p. 112)
Segurança Pública na Administração Pública 49

O princípio da motivação, de acordo com Carvalho (2004, p. 86), “demonstra à sociedade


as razões pelas quais o poder público atuou de determinada forma, tornando possível a análise dos
cidadãos acerca da legitimidade e adequação de seus motivos”.

3.1.12 Princípio da eficiência


A ação desejada por qualquer pessoa ou instituição é a que atinja resultados positivos. O
fazer pelo fazer não tem valor algum, exemplos claros são as inúmeras obras públicas iniciadas e
não terminadas que vemos nos noticiários diariamente, um verdadeiro desperdício do dinheiro
público, seja pela falta de planejamento, ou pela tão temida corrupção que assola nações. No
princípio da eficiência verificamos que não basta a ação, mas esta ação tem que ser acertada, assim
como é evidenciado por Bortoleto (2015, p. 45):
pelo princípio da eficiência, a Administração Pública deve atuar de maneira
a buscar resultados e não simplesmente agir. Isto é, a atuação administrativa
deve buscar a melhor relação custo-benefício, deve ser feita a otimização dos
recursos, o devido planejamento e estabelecimento de metas e a fiscalização do
efetivo cumprimento do que fora planejado.

Mello (2009) leciona que o princípio da eficiência é apenas uma faceta do princípio da
boa administração, que a nós parece tratar-se de igual essência, o que importa realmente é a boa
utilização de recursos, incluindo entre eles o tempo, o dinheiro e a esperança depositada pelo
cidadão na Administração.

3.1.13 Princípio da segurança jurídica


Em relação ao princípio da segurança jurídica, em Carvalho (2014), temos que o cidadão
não pode estar à mercê de alterações jurídicas repentinas. Deve ele, sim, seguir com a certeza de
que a administração está agindo coerentemente em prol da sociedade, e que está sendo respeitado.
“Assim sendo, as modificações supervenientes de normas jurídicas não devem retroagir para
atingir situações pretéritas, sob pena de se tornar instável o sistema de regras imposto pelo Poder
Público, causando instabilidade social” (CARVALHO, 2014, p. 91).
Ainda é importante ressaltar que o princípio da segurança jurídica tem base na boa-fé dos
que se valiam anteriormente do benefício, trata-se do princípio de proteção à confiança. Sendo
assim, se a administração praticou atos que beneficiaram determinados beneficiários, ela não
pode, com a alegação de nova norma, retirar tal benefício.
No entanto, isso não significa que a administração não possa reavaliar novas interpretações,
mas, não pode fazer retroagir interpretações de maneira a prejudicar o que previamente estava
consolidado (CARVALHO, 2014).
Com o princípio da segurança jurídica encerramos nosso estudo sobre os princípios
norteadores da Administração Pública.
Concluímos que não há Segurança Pública sem a observância desses princípios, sem a
legalidade, moralidade, proporcionalidade, continuidade e todos os demais que norteiam as
atividades estatais.
50 Introdução à Segurança Pública

Mesmo que saibamos que Segurança Pública envolve todos os segmentos sociais, inclusive
os privados, ela é “responsabilidade do Estado”.

3.2 Serviço público


A partir das explicações de Bortoleto (2015, p. 589), aprendemos que “por meio do serviço
público a Administração Pública provê a satisfação das necessidades coletivas como, por exemplo,
no caso do transporte público, da telefonia, da energia elétrica, da saúde, da educação, cabendo a
regulação ao direito público”.
Di Pietro (2016, p. 139) nos apresenta a seguinte definição para serviço público: “toda a
atividade material que a lei atribui ao Estado para que exerça diretamente ou por meio de seus
delegados, com objetivo de satisfazer concretamente às necessidades coletivas sobre regime jurídico
total ou parcialmente público”.
Apesar de apresentar uma definição consistente, a autora esclarece que não é tarefa fácil
definir serviço público. A definição sofreu muitas mudanças ao longo do tempo. Alguns autores
adotam a definição em sentido amplo, enquanto outros em sentido restrito, mas para ambos há três
elementos para a definição que devem estar presentes.
Em relação aos três elementos, Alexandrino e Paulo (2010), corroborando com Di Pietro
(2016), dizem que para ser considerado serviço público, seguindo os critérios da “escola francesa
de serviço público”, conforme o Quadro 1, a seguir, uma atividade tem, necessariamente, que
atender aos três.
Quadro 1 – Critérios necessários para o serviço público segundo a Escola Francesa

Critérios Descrição
Segundo esse critério, apenas os serviços prestados pela Administração Pública, por meio
Subjetivo ou orgânico de seus órgãos e entidades estatais, podem ser considerados públicos. O foco está no
prestador do serviço.

O que se leva em conta nesse princípio é que o serviço sirva à coletividade e, além disso,
Material que seja indispensável ao grupo, configurando-se assim em serviço fundamental. O foco
está na atividade.

Está fundamentado nos princípios da supremacia e na indisponibilidade do interesse


Formal público, sendo então prestado sob a égide do direito público, e asseguradas as prerrogativas
especiais ao serviço. O foco está no regime jurídico.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Alexandrino; Paulo, 2010.

Di Pietro (2016), de modo conciso, enumera, no Quadro 2 a seguir, os critérios e os explica


da seguinte maneira:
Segurança Pública na Administração Pública 51

Quadro 2 – Critérios para o serviço público

Critérios Descrição
Subjetivo Presença do Estado

Formal Procedimento de direito público

Material Atividades de interesse coletivo

Fonte: Adaptado de Di Pietro, 2016.

Outra importante contribuição para a definição de serviço público encontramos em Carvalho


Filho (apud CARVALHO, 2014, p. 588): “como toda a atividade prestada pelo Estado ou por seus
delegados, basicamente sob regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades
essenciais e secundárias da coletividade”.
Contudo precisamos chamar a atenção para a seguinte questão:
Atualmente, a doutrina vem considerando fundamental diferenciar as
atividades do Estado, traçando as distinções entre serviços públicos, exploração
de atividades econômicas pelo Estado, execução de obras públicas e exercício
do poder de polícia, mesmo sendo todas as atividades orientadas de forma a
garantir o interesse da coletividade. (CARVALHO, 2014, p. 587)

As orientações do autor são que as principais distinções entre a prestação de serviço


público propriamente dito e as demais atividades desenvolvidas pelo Estado devem ser
analisadas, conforme é explicado no Quadro 3, a seguir.
Quadro 3 – Distinções entre serviço público e demais atividades do Estado

A obra pública segue um padrão fixo que tem um começo e fim exatos. O serviço é
diferente da execução da obra. A obra é indispensável à prestação do serviço, mas com
Obra Pública ela não se confunde. Exemplo: a obra de um hospital ou a construção do prédio é diferente
do serviço de saúde que vai ser prestado no hospital; outro exemplo é a construção de um
metrô, cuja obra em si não se confunde com o serviço de transporte que será prestado.

É uma medida restritiva de direitos. O Estado restringe direitos com o emprego do Poder
de Polícia. Difere da prestação de serviço que é uma medida ampliativa e que oferece
Poder de Polícia comodidade. Mesmo quando o Estado fornece autorização para construir, ou para porte
de armas, estas são medidas restritivas e não ampliativas. Assim não se confunde com
serviço público.

Ao atuar no mercado, o ente estatal submete-se às regras de Direito Privado, com isso,
não tem prerrogativas como as de isenção tributária. As normas constitucionais pregam
Exploração de Atividade
que o Estado deve atuar explorando atividades econômicas somente quando no interesse
Econômica
coletivo ou em casos de segurança nacional. Estando afastado do Direito Público perde
uma de suas características de serviço público.

Fonte: Adaptado de Carvalho, 2014.

Nem toda a atividade desenvolvida pela Administração Pública é serviço público, podendo
ser atividades de: exploração de atividades econômicas, execução de obras públicas e exercício do
poder de polícia.
52 Introdução à Segurança Pública

Em relação à doutrina, os serviços públicos ainda podem ser classificados conforme o


quadro a seguir:
Quadro 4 – Classificação dos serviços públicos

O Estado tem a titularidade do serviço e o executa diretamente


Próprios
ou por terceiros.

Impróprios A titularidade não pertence exclusivamente ao Estado.

Delegáveis O Estado pode prestar diretamente ou por terceiros.

Indelegáveis A prestação não pode ser repassada pelo Estado a terceiros.

Uti singuli (específicos ou


Atendem direta e individualmente ao administrado.
individuais)

Serviços Públicos Uti universi (gerais) Não possuem usuários determinados.

Administrativos Atendem as necessidades de funcionamento da administração.

São serviços de ordem econômica, que envolvem atividades


Comerciais (ou industriais)
materiais.

Sociais Satisfazem necessidades de cunho social ou assistencial.

Exclusivos Atribuídos exclusivamente ao Estado (titularidade).

O ordenamento permite a titularidade, tanto pelo Poder Público


Não exclusivos
quanto pelo setor privado.

Fonte: Adaptado de Neto; Torres, 2012.

Contudo, acima estão os considerados mais importantes para o nosso interesse, a


doutrina ainda apresenta outras classificações, as quais você pode pesquisar e assim aprofundar
seus conhecimentos.

3.2.1 Serviço público de Segurança Pública


Tendo visto neste capítulo os princípios que se aplicam à Administração Pública, os critérios
que definem o serviço público, bem como suas características, entre outros conhecimentos que já
adquirimos com nossos estudos, podemos concordar com Silva (2010, p. 9) que “não há dúvidas,
portanto, quanto à natureza de serviço público da segurança pública”.
O autor, parafraseando o próprio texto da Carta Maior do Brasil, leciona que:
quando a Constituição Federal informa que segurança pública “é dever
do Estado” está com isto a dizer que a segurança pública é um serviço
público, não só porque pretende atender aos interesses e às necessidades
da coletividade (sentido material), mas também porque é uma atividade
prestada pelo Estado (sentido orgânico), bem como em razão de ser uma
tarefa exercida sob a égide das normas de direito público (sentido formal).
(SILVA, 2010, p. 9, grifos nossos)

Vemos então que a nossa Carta Constitucional estabelece que Segurança Pública é serviço
público. Na interpretação do texto constitucional fica demonstrado que as características de
serviço público estão presentes, ou seja, a) destinada à coletividade, b) prestada pelo Estado, e
c) regida pelo direito público.
Segurança Pública na Administração Pública 53

Sobre o serviço de segurança, ainda podemos chamá-lo público quando analisado sob a ótica
dos direitos fundamentais. Primeira geração (liberdade), lembramos que são os direitos individuais;
segunda geração (igualdade), a necessidade da atuação positiva do Estado na preservação dos
direitos coletivos que se sobrepõem aos interesses individuais; terceira geração, direitos sociais
(art. 6º da CF), estes se estendem a todos, são difusos; e aqui temos que a necessidade e proteção do
Estado também devem ser difusas, para todos. (MERTENS, 2007).

3.2.2 Poder de polícia e poder da polícia


Para Lazzarini (1987), poder de polícia é um poder instrumental da Administração Pública.
Mas, segundo Cretella Júnior (apud Lazzarini, 1987, p. 20):
Ao passo que a polícia é algo em concreto, é um conjunto de atividades
coercitivas exercidas na prática dentro de um grupo social, o poder de polícia
é uma facultas, faculdade, uma possibilidade, um direito que o Estado tem de,
através da polícia, que é uma força organizada, limitar as atividades nefastas
dos cidadãos.

Nos diz o autor que a polícia é uma realidade, presente em vários lugares em qualquer
momento, porém o poder de polícia é uma potencialidade do Estado, além disso, o poder de polícia
legitima a ação da polícia quando esta necessita agir e, também, a sua própria existência.
A definição acima nos introduz à reflexão sobre esse poder do Estado, ressalte-se do
Estado, e estabelece uma primeira diferença entre poder de polícia, poder da polícia e a própria
instituição policial.
O texto de Lazzarini (1987) antecede a nossa Constituição Federal de 1988, quando vivíamos
em um período de governo militar, o que poderia gerar polêmica quanto à doutrina adotada pelos
autores acima. Contudo, o que nos interessa é verificar a definição, muito bem elaborada, que
ainda mantém-se atual. Vejamos outra autora consagrada:
Pelo conceito clássico, ligado à concepção de liberal do século XVIII, o poder de
polícia compreendia a atividade estatal que limitava o exercício dos direitos
individuais em benefício da segurança. Pelo conceito moderno, adotado no
direito brasileiro, o poder de polícia é a atividade do Estado consistente em
limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público
(DI PIETRO, 2016, p. 155, grifos nossos).

Devemos observar que, ao contrário do senso comum, o poder de polícia não se restringe
à ideia de Polícia, ou órgão pertencente ao sistema de Segurança Pública, é sim uma atividade
administrativa do Estado que está ligada ao órgão legitimado a utilizar o poder de polícia, que pode
não ser um órgão policial.
No Código Tributário Nacional, encontraremos o conceito atual de poder de polícia para
o direito brasileiro, pois é um poder da Administração Pública que pode gerar cobrança de taxa,
conforme o art. 77 do mesmo código e ainda do art. 145, II da Constituição Federal.
54 Introdução à Segurança Pública

Mas vejamos a definição legal de poder de polícia que está no art. 78 do Código Tributário
Nacional, contido na Lei n. 5.172/1966:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato
ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização
do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos
direitos individuais ou coletivos. (BRASIL, 1966)

O poder de polícia é facilmente identificado no cotidiano e em nossas atividades, como nas


atuações da vigilância sanitária, nas inspeções e vistorias em obras de edificações, no controle do
trânsito e nas diversas atividades de fiscalização que a Administração Pública promove.
Importante para o nosso estudo é apresentar também os atributos do poder de polícia
dispostos no Quadro 5, a seguir.
Quadro 5 – Atributos do Poder de Polícia

Atributos do Poder de Polícia Definição


Cabe à administração discernir qual o momento de agir. Exemplo: autorização
para porte de arma.
Discricionariedade Há situações em que o legislador prevê qual deve ser a conduta do
administrador, o que faz dele poder de polícia vinculado. Exemplo: licença para
dirigir veículos automotores.

É a faculdade da Administração Pública de tomar sua decisão e fazer cumprir


sua vontade com seus próprios recursos, sem necessitar recorrer ao Poder
Autoexecutoriedade
Judiciário para tanto.
Tem como requisitos: 1) previsão legal expressa; e 2) urgência.

Significa que a Administração poderá utilizar de força para remover os


Coercibilidade
obstáculos à efetivação de suas decisões.

Fonte: Adaptado de Neto; Torres, 2012.

E quanto ao poder da polícia?


Não há como se pensar em Estado sem pensar em Polícia, e, em relação ao Poder de Polícia, este
é fundamental para que a Polícia possa exercer sua função por meio de ações legítimas (LAZZARINI,
1987). Segundo Lazzarini (1987, p. 20) “no estudar a Polícia, não se pode prescindir do estudo do
Poder de Polícia e do Poder da Polícia, pois os estudos, obrigatoriamente, entrelaçam-se, tudo tendo
origem nesse poder instrumental da administração Pública, que é o Poder de Polícia”.
Ainda recorrendo a Cretella Júnior (apud LAZZARINI, 1987, p. 21), “poder da polícia é a
possibilidade atuante da polícia, é a polícia quando age. Numa expressão maior, que abrigasse as
designações que estamos esclarecendo, diríamos: em virtude do poder de polícia o poder da polícia
é empregado pela polícia a fim de assegurar o bem-estar público ameaçado”.
Por fim, o poder de polícia é conceito maior que o conceito de poder da polícia, sendo que
este último depende do primeiro, e podemos dizer que além de todos os princípios que balizam a
atuação administrativa do Estado, as polícias estão sujeitas e legitimadas por esse poder.
Segurança Pública na Administração Pública 55

Considerações finais
Observamos neste capítulo que a Segurança Pública está imersa nas atribuições do Estado,
como consta na Constituição Federal de 1988, mais precisamente no art. 144, caput, dizendo que
Segurança Pública é dever do Estado.
Sabendo que a Administração Pública se confunde com o Estado, não há como dissociar
este direito fundamental – Segurança – das obrigações dos governos, que devem cumprir com seus
deveres mediante a observação de todos os princípios legais.
As atividades desenvolvidas por todos os agentes da Administração Pública estão vinculadas
aos princípios apresentados, bem como toda a atividade de Segurança Pública que deles não pode
prescindir em momento algum.
Sendo dever do Estado e estando vinculada aos princípios legais preestabelecidos, inclusive,
não há como negar a definição de Segurança Pública como serviço público.
Retornando a nossa Carta Maior de 1988, que deve ser consultada sempre, pois dela emanam
todos os nossos direitos e deveres, temos que lembrar também que Segurança Pública é nossa
responsabilidade enquanto cidadãos.
Por fim, vamos chegando ao Capítulo 4, e nele vamos continuar os estudos conhecendo os
órgãos que são apresentados nos incisos do art. 144 da Constituição e aprender um pouco mais
sobre suas atribuições.

Ampliando seus conhecimentos


• AGU Explica – Serviço Público. Publicado pelo canal Advocacia-Geral da União. 1 vídeo
(2 min.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SQUdnjjOyxQ. Acesso em:
29 ago. 2019.
Já sabemos a diferença entre Serviço Público, Obra Pública e Poder de Polícia. O vídeo
indicado é uma sugestão para você poder fixar e aprender um pouco mais sobre o conceito
de Serviço Público.
• AGU Explica – Classificação Constitucional. Publicado pelo canal Advocacia-Geral da
União. 1 vídeo (4 min.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xFHhfzpaiK0.
Acesso em: 29 ago. 2019.
Você sabe como pode ser classificada a Constituição Federal brasileira? Aproveite esse
vídeo para ampliar seus conhecimentos em relação à nossa Lei Maior.

Atividades
1. Entre os Princípios da Administração Pública apresentados, está o Princípio da
Supremacia do Interesse Público. Disserte sobre esse Princípio que, a nosso entender,
está entre os mais importantes.
56 Introdução à Segurança Pública

2. Discorra sobre as principais distinções, segundo Carvalho (2014), entre a prestação de


serviço público propriamente dito e as demais atividades executadas pelo Estado.

3. Segundo Silva (2010), ao interpretar nossa Constituição Federal, quais características da


Segurança Pública podem ser elencadas para que possamos afirmar que Segurança Pública
é um serviço público?

Referências
ALEXANDRINO, M; PAULO, V. Direito administrativo descomplicado. 18. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2010.

BORTOLETO, L. Direito administrativo: para os concursos de analista. 4. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015.

BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 29 ago.
2019.

BRASIL. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27
out. 1966. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm. Acesso em: 9 set. 2019.

BRASIL. Lei n. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
14 fev. 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8987cons.htm. Acesso em: 29 ago.
2019.

BRASIL. Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 1 ago.
1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm. Acesso em: 30 ago. 2019.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n. 346. Diário Eletrônico da Justiça, Brasília, DF, 13 dez. 1963.
Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=1576.
Acesso em: 9 set. 2019.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n. 473. Diário Eletrônico da Justiça, Brasília, DF, 10 dez. 1969.
Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=1602.
Acesso em: 9 set. 2019.

CARVALHO, M. Manual de direito administrativo. Salvador: JusPODIVM, 2014.

DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 29. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

GUSMÃO, P. D. Introdução ao estudo do direito. 25. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

LAZZARINI, Á; TÁCITO, C; MOREIRA NETO, D. de F. M; CRETELLA JÚNIOR, J; FERREIRA, S. de A.


Direito administrativo da ordem pública. 2. ed. Rio de Janeiro, FORENSE, 1987.

MELLO, C. B. de. Curso de direito administrativo. 26. ed. rev., atual. São Paulo: Malheiros, 2009.

MERTENS, F. A. O direito fundamental à segurança pública e o serviço público de segurança pública no


ordenamento jurídico nacional. 2007. 117 f. Dissertação (Mestrado em Direito). Universidade do Vale do
Itajaí, Itajaí. Disponível em: http://siaibib01.univali.br/pdf/Fabio%20Alceu%20Mertens.pdf. Acesso em: 24
jun. 2019.

NETO, F. F. B; TORRES, R. C. L. Direito administrativo. 2 ed. Coleção sinopses para concursos. Salvador:
JusPODIVM, 2012.
4
Órgãos de Segurança Pública

Iniciamos este capítulo esclarecendo que não há hierarquia entre as polícias no Brasil,
portanto a ordem de apresentação do conteúdo abordado na sequência é meramente didática,
seguindo a que foi estabelecida na Constituição Federal de 1988, a qual, por sua vez, também não
estabelece hierarquia entre os órgãos policiais.
O conteúdo que apresentamos a seguir, principalmente no que tange aos órgãos policiais, é
referente ao Sistema de Segurança Pública (SSP) apresentado no art. 144 da Constituição Federal
de 1988. Cabe esclarecer esse ponto desde já, pois, no Capítulo 5 deste livro, falaremos sobre o
Sistema Único de Segurança Pública (Susp), que engloba outros órgãos, tão importantes quanto os
apresentados neste capítulo.
Contudo, por ora, vamos abordar cada órgão do Sistema de Segurança Pública, além de
desenvolvermos estudo específico sobre a atuação das polícias administrativa e judiciária que
culmina com o serviço prestado pelo sistema penitenciário.

4.1 Ordem e Segurança Pública na Constituição brasileira


Ordem pública é assunto muito extenso que merece aprofundamento e estudo detalhado.
Contudo, vamos abordar o que traz a Constituição Federal de 1988, o que por si só já é bastante
amplo, tendo em vista que da Carta Magna emanam todos os demais ordenamentos legais.
Foureaux (2019) aponta que, no texto constitucional, a expressão ordem pública aparece
cinco vezes. Analisando a Carta Magna, confirmamos o que nos orienta o autor e, assim, criamos
o Quadro 1 a seguir para melhor localizarmos ordem pública no texto constitucional brasileiro.
Quadro 1 – Expressão ordem pública na Constituição Federal de 1988

Artigo Texto Constitucional


A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
34, III
pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;

O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,


decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados,
136
a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas
por calamidades de grandes proporções na natureza.

A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
144
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

(Continua)
58 Introdução à Segurança Pública

Artigo Texto Constitucional


Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de
144, § 5º bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de
defesa civil.

A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
144, § 10
seu patrimônio nas vias públicas:

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1988.

O texto constitucional é autoexplicativo e não carece de maiores digressões, contudo cabe


destacar que a preservação da ordem pública, em termos de Segurança Pública, é responsabilidade
constitucional das polícias militares, conforme leitura do quadro anterior. A ordem pública é
objeto da Segurança Pública “na medida em que esta constitui um dos instrumentos para se buscar
a ordem pública” (FOUREAUX, 2019, p. 28).
O Decreto n. 88.777, de 30 de setembro de 1983, que aprova o regulamento para as polícias
militares e os corpos de bombeiros militares, traz em seu art. 2º, item 21, a definição de ordem
pública, conforme segue:
21) Ordem Pública - Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento
jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os
níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa
e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou
condição que conduza ao bem comum. (BRASIL, 1983)

Na doutrina, verificamos que a ordem pública se divide em segurança, salubridade e


tranquilidade pública. Quanto à chamada Segurança Pública, vale destacar:
É o conjunto de processos políticos e jurídicos destinados a garantir a ordem
pública na convivência de homens em sociedade. Está implícito no referido
conceito:
1) o valor garantido: O QUÊ, no caso, a convivência pacífica;
2) o autor da garantia: QUEM, é o Estado, detendo o monopólio do uso
da força;
3) o risco: CONTRA O QUÊ, como sendo o antivalor, isto é, a perturbação
potencial ou efetiva da ordem pública;
4) a modalidade de poder como fator de garantia: COM O QUÊ, pelo
exercício do poder de polícia em quatro modalidades ou fases: a ordem de
polícia; consentimento de polícia; a fiscalização de polícia e a sanção de polícia.
(VALLA, 2012, p. 7)
A denominada tranquilidade pública nada mais é do que aquele momento de equilíbrio e
sossego em que a comunidade está em paz e vivendo em espírito de cordialidade, as pessoas se
respeitam mutuamente (VALLA, 2012).
Já a expressão salubridade pública tem relação direta com a manutenção da saúde.
Assim, medidas de ordem pública, no sentido de manter o estado de saúde pública equilibrado,
devem ser contínuas. São as campanhas de vacinação, as fiscalizações de estabelecimentos
que trabalham com gêneros alimentícios e tudo o que tem ligação direta ou não com a saúde
pública (FOUREAUX, 2019).
Órgãos de Segurança Pública 59

Para concluir, é importante frisar que a ordem pública está presente no ordenamento jurídico
brasileiro em diversos diplomas legais, a exemplo do Código Civil, do Código de Processo Penal,
entre outros. Contudo, a ordem pública que se revela na Constituição Federal é mais ampla ainda,
pois expande-se em sua aplicação conceitual.

4.2 As atividades policiais de Segurança Pública no Brasil


Passamos agora à análise de cada um dos órgãos de Segurança Pública previstos no artigo
144 da Constituição Federal de 1988, conforme segue em seu Título V (Da Defesa do Estado e das
Instituições Democráticas), capítulo III (Da Segurança Pública):
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser
em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das rodovias federais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998)
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das ferrovias federais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração
de infrações penais, exceto as militares.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem
pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em
lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
60 Introdução à Segurança Pública

§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares


e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis
pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção
de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados
neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 82, de 2014)
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras
atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade
urbana eficiente; e (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014)
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito,
estruturados em Carreira, na forma da lei. (BRASIL, 1988)
Cada um dos órgãos tem suas competências esclarecidas nos parágrafos que integram o
art. 144 e seus incisos; contudo, é necessário que dediquemos um pouco mais de espaço e tempo
para que possamos conhecer os órgãos que compõem o Sistema de Segurança Pública. A seguir,
trataremos de cada um deles.

4.2.1 Polícia Federal


O desembargador Paulo Fernandes Viana foi designado para o cargo de intendente-geral da
Polícia da Corte e do Estado do Brasil quando ela foi criada por D. João VI, em 10 de maio de 1808,
a qual deu origem à Polícia Federal.
A Polícia Civil da capital do Rio de Janeiro, que era também capital do Brasil, no governo
de Getúlio Vargas, passou a ser o Departamento Federal de Segurança Pública, subordinada ao
Ministro da Justiça e Negócios Interiores (Decreto-Lei n. 6.378, de 28 de março de 1944).
A essa nova polícia eram delegados os serviços de polícia e Segurança Pública no Distrito
Federal e no território nacional, também de polícia marítima, aérea e segurança de fronteiras. Nos
estados, estabeleceram-se as secretarias ou os departamentos de segurança e chefaturas de polícia.
Com a Constituição Federal de 1988, a denominação da instituição passou a ser apenas
Polícia Federal, compondo, a partir de então, o sistema de segurança com os demais órgãos previstos
no art. 144, no inciso I, com suas atribuições previstas no § 1º.
Conforme o dispositivo constitucional mencionado, a destinação da Polícia Federal é
ampla, e dentro das atividades por ela desenvolvidas estão aquelas ligadas a questões interestaduais
e internacionais.
A atividade de prevenção está presente no texto quando se refere ao tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas, contrabando e descaminho, sempre respeitando a competência dos demais
órgãos. Ainda trabalha como polícia judiciária da União, polícia marinha e aérea.
Órgãos de Segurança Pública 61

A Lei Federal n. 10.446, de 8 de maio de 2002, tem como ementa: “Dispõe sobre infrações
penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, para os fins
do disposto no inciso I, do § 1º do art. 144 da Constituição” (BRASIL, 2002). Em seu primeiro
artigo, ela regulamenta o mencionado parágrafo 1º, trazendo uma relação explicativa de
crimes sobre os quais a Polícia Federal poderá – quando houver repercussão interestadual ou
internacional – exigir repressão uniforme. Isso sem prejuízo à responsabilidade dos demais órgãos,
principalmente as polícias militares e civis dos estados. Nesse sentido, pode-se investigar, de
modo uniforme, as seguintes infrações penais listadas, entre outras:
I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro (arts. 148 e 159
do Código Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou quando
praticado em razão da função pública exercida pela vítima;
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei nº 8.137, de 27
de dezembro de 1990); e
III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do
Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de
que seja parte;
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas
em operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação
de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação;
V – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a
fins terapêuticos ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou
distribuição do produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal) (Incluído
pela Lei nº 12.894, de 2013);
VI – furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências
bancárias ou caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de
associação criminosa em mais de um Estado da Federação (Incluído pela Lei
nº 13.124, de 2015);
VII – quaisquer crimes praticados por meio da rede mundial de computadores
que difundam conteúdo misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio
ou a aversão às mulheres (Incluído pela Lei nº 13.642, de 2018). (BRASIL, 1988)

Por fim, como visto no art. 144, § 1º, a Polícia Federal é estruturada em carreira, composta
pelos seguintes cargos: delegado de Polícia Federal, que é o dirigente da instituição; perito criminal
federal; escrivão de Polícia Federal; papiloscopista policial federal; e agente de Polícia Federal.

4.2.2 Polícia Rodoviária Federal


Criada em 1928, sofreu muitas mudanças durante os anos. É responsável pelo policiamento
ostensivo em aproximadamente 65 mil quilômetros de rodovias federais do Brasil.
A Polícia Rodoviária Federal foi criada no dia 24 de julho de 1928, pelo presidente
Washington Luís. O Decreto n. 18.323 deu legitimidade à instituição, que teve o seu primeiro
nome como Polícia das Estradas, sendo instituído em 23 de julho de 1935 o quadro de servidores.
Com a Constituição Federal de 1988, a Polícia Rodoviária Federal passou a compor o Sistema
de Segurança Pública com os demais órgãos previstos no art. 144, no inciso II, e suas atribuições
estão previstas no § 2º.
62 Introdução à Segurança Pública

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[...]
II - polícia rodoviária federal;
[...]
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das rodovias federais. (BRASIL, 1988)

De acordo com o art. 7º, inciso V, do Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503, de 23
de setembro de 1997), a Polícia Rodoviária Federal compõe o Sistema Nacional de Trânsito, que,
conforme art. 5º do mesmo Código:
é o conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios que têm por finalidade o exercício das atividades de
planejamento, administração, normatização, pesquisa, registro e licenciamento
de veículos, formação, habilitação e reciclagem de condutores, educação,
engenharia, operação do sistema viário, policiamento, fiscalização, julgamento
de infrações e de recursos e aplicação de penalidades. (BRASIL, 1997)

As competências da Polícia Rodoviária Federal estão previstas no art. 20 do Código de


Trânsito Brasileiro.
Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das rodovias e estradas
federais:
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de
suas atribuições;
II - realizar o patrulhamento ostensivo, executando operações relacionadas com
a segurança pública, com o objetivo de preservar a ordem, incolumidade das
pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros;
III - aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações de trânsito, as medidas
administrativas decorrentes e os valores provenientes de estada e remoção de
veículos, objetos, animais e escolta de veículos de cargas superdimensionadas
ou perigosas;
IV - efetuar levantamento dos locais de acidentes de trânsito e dos serviços de
atendimento, socorro e salvamento de vítimas;
V - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar medidas de segurança
relativas aos serviços de remoção de veículos, escolta e transporte de carga
indivisível;
VI - assegurar a livre circulação nas rodovias federais, podendo solicitar ao
órgão rodoviário a adoção de medidas emergenciais, e zelar pelo cumprimento
das normas legais relativas ao direito de vizinhança, promovendo a interdição
de construções e instalações não autorizadas;
VII - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre acidentes de trânsito
e suas causas, adotando ou indicando medidas operacionais preventivas e
encaminhando-os ao órgão rodoviário federal;
VIII - implementar as medidas da Política Nacional de Segurança e Educação
de Trânsito;
Órgãos de Segurança Pública 63

IX - promover e participar de projetos e programas de educação e segurança, de


acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN;
X - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito
para fins de arrecadação e compensação de multas impostas na área de sua
competência, com vistas à unificação do licenciamento, à simplificação e à
celeridade das transferências de veículos e de prontuários de condutores de
uma para outra unidade da Federação;
XI - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos veículos
automotores ou pela sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além
de dar apoio, quando solicitado, às ações específicas dos órgãos ambientais.
(BRASIL, 1997)

O Decreto n. 1.655, de 3 de outubro de 1995, no art. 1º, também enumera competências


da Polícia Rodoviária Federal. Aqui, vamos nos concentrar apenas no constante do Código de
Trânsito Brasileiro, norma mais recente.
Na Polícia Rodoviária Federal, existem duas carreiras:
• A de policial rodoviário federal, que trabalha nas atividades-fim da instituição, como:
planejamento, fiscalizações, operações de trânsito, combate à criminalidade;
• A de agente administrativo, que atua nas atividades-meio da instituição, como: pagamento
dos servidores, elaboração e confecção de documentos e atividades atinentes a processos.
(BRASIL, 2019)

4.2.3 Polícia Ferroviária Federal


“A Polícia Ferroviária Federal, órgão permanente organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias
federais” (art. 144, § 3º, da Constituição Federal) (BRASIL, 1988). A atribuição da Polícia Ferroviária
Federal consiste em patrulhar as ferrovias federais, de modo a prevenir a ocorrência de crimes e
garantir a segurança do transporte ferroviário.
Dada a similaridade, pode-se dizer que as funções da Polícia Ferroviária Federal aproximam-
-se daquelas atribuídas à Polícia Rodoviária Federal, mas com campos de atuação distintos. O Brasil
possui cerca de 26 mil quilômetros de trilhos e um efetivo de aproximadamente mil policiais em
todo o país, o que é insuficiente para o cumprimento do comando constitucional (FOUREAUX,
2019, p. 61).
Pesquisando a história da Polícia Ferroviária Federal, encontramos o Decreto n. 641, de
26 de junho de 1852. Ele autorizava a construção do denominado caminho de ferro partindo do
Município da Corte e indo até as Províncias de Minas Gerais e São Paulo. Em seu art. 1°, consta:
Art. 1º O Governo fica autorisado para conceder á huma ou mais Companhias
a construcção total ou parcial de hum caminho de ferro que, partindo do
Municipio da Côrte, vá terminar nos pontos das Provincias de Minas Geraes
e S. Paulo, que mais convenientes forem. Esta concessão comprehenderá o
privilegio do caminho de ferro por hum prazo que não excederá a noventa
annos, contados da incorporação da Companhia, tendo-se em vista o plano e
orçamento da obra projectada debaixo das condições seguintes. (BRASIL, 1852,
grafia da época)
64 Introdução à Segurança Pública

O decreto ainda fala sobre a chamada Polícia do Caminho do Ferro, primeira designação da
Polícia Ferroviária Federal, conforme art. 1º, § 14º:
§ 14º Por meio dos necessarios Regulamentos, e de intelligencia com a
Companhia, providenciará o Governo sobre os meios de fiscalisação, segurança
e policia do caminho de ferro, bem como estatuirá quaesquer outras medidas
relativas á construcção, uso, conservação e costeio do caminho de ferro, podendo
impor aos infractores penas de multa até duzentos mil réis, e de prisão até tres
mezes, e solicitando do Corpo Legislativo providencias ácerca de penas mais
graves e proporcionadas aos crimes que possão affectar a sorte da empresa, as
garantias do publico, e os interesses do Estado. (BRASIL, 1852, grafia da época)

Do que a história nos mostra, por meio do documento supracitado, é possível pensar no
auge da Polícia Rodoviária Federal e tudo o que representou e representa o trabalho de muitas
polícias que auxiliaram na construção do Brasil garantindo segurança desde o seu início.

4.2.4 Polícias civis


Conforme a Constituição Federal de 1988, a Polícia Civil compõe o Sistema de Segurança Pública
com os demais órgãos previstos no art. 144, no inciso IV. Suas atribuições estão previstas no § 4º.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[...]
IV - polícias civis;
[...]
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração
de infrações penais, exceto as militares. (BRASIL, 1988)

Do dispositivo constitucional, observamos que as polícias civis são dirigidas por delegados
de Polícia Civil de carreira, bacharéis em direito aprovados em concurso público. A Lei n. 12.830,
de 20 de junho de 2013, “dispõe sobre a investigação criminal conduzida por delegado de polícia”
(BRASIL, 2013) e estabelece que as funções de delegado são de natureza jurídica, essenciais e
exclusivas do Estado, sendo elas: as funções de polícia judiciária e de apuração de infrações penais.
A lei também estabelece que a investigação criminal é conduzida por meio de inquérito
policial, ou outro procedimento previsto em lei, e que durante as investigações cabe a requisição de
perícias, informações, dados e o que mais couber ao caso.
Ainda quanto a essa lei, ela apresenta no § 3º uma mensagem de veto presidencial
encaminhado ao Senado Federal, a qual apresentamos a seguir:
Razões do veto
Da forma como o dispositivo foi redigido, a referência ao convencimento
técnico-jurídico poderia sugerir um conflito com as atribuições investigativas de
outras instituições, previstas na Constituição Federal e no Código de Processo
Penal. Desta forma, é preciso buscar uma solução redacional que assegure as
prerrogativas funcionais dos delegados de polícias e a convivência harmoniosa
entre as instituições responsáveis pela persecução penal. (BRASIL, 2013)
Órgãos de Segurança Pública 65

Importante destacar que há limitação constitucional expressa no que tange à investigação


de infrações penais militares, conforme constante no art. 144, § 4º, uma das razões que justifica o
equívoco redacional.
No Distrito Federal, exclusivamente, a Polícia Civil é organizada e mantida pela União,
enquanto nos demais estados isso é feito pelo Poder Executivo Estadual (art. 21, XIV, da
Constituição Federal). O ponto idêntico em relação à Polícia Civil do Distrito Federal e a dos
estados é que todas são subordinadas aos governadores (art. 144, § 6º, da Constituição Federal).
Então, concluímos que a competência para legislar sobre os direitos, as garantias, a
organização e os deveres da Polícia Civil ocorre de maneira concorrente entre a União, os estados
e o Distrito Federal (art. 24, XVI, da Constituição Federal), mas a subordinação sempre se dará aos
governadores dos respectivos estados e ao Distrito Federal.
Segundo Foureaux (2019), não há uma Lei Orgânica das Polícias Civis, sendo que tramita
na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n. 1.949/2007, que prevê em seu texto inicial o quadro
básico de pessoal, conforme art. 25.
Art. 25. O quadro básico de pessoal da Polícia Civil será integrado, no mínimo,
pelos seguintes cargos, como essenciais para o seu funcionamento:
I - delegado de polícia;
II - perito de polícia, quando couber; e
III - agente de polícia. (BRASIL, 2007)

Podemos evidenciar que um trabalho investigativo bem-feito, que conduza os criminosos


à prisão, traz para a sociedade a tão desejada sensação de segurança. Esse sentimento leva, então,
os possíveis delinquentes a desistirem, ou no mínimo resistirem ao ato criminoso. Entretanto, se,
ao contrário, não acontecerem prisões e condenações desejadas, a sensação de impunidade poderá
aumentar e com ela o contingente de delinquentes.

4.2.5 Polícias militares e corpos de bombeiros militares


Extraímos da Constituição Federal de 1988, art. 42, que “Os membros das Polícias Militares
e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina,
são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios” (BRASIL, 1988). De acordo com
Foureaux, os militares estaduais, policiais e bombeiros militares pertencem a “uma categoria
própria, cuja organização, previdência, carreira, direito e deveres possui legislação específica,
dadas as especificidades das instituições militares e da vida militar” (FOUREAUX, 2019, p. 70).
Assim como ocorre com a Polícia Civil do Distrito Federal, a Polícia Militar e o Corpo
de Bombeiros Militar do Distrito Federal também são organizados e mantidos pela União, e da
mesma maneira são subordinados administrativamente ao governador do Distrito Federal.
Ainda cabe destacar que, como a Polícia Civil, a organização e manutenção das polícias
militares e dos corpos de bombeiros militares dos demais estados são de competência do
estado-membro, e a subordinação, da mesma forma, é ao chefe do Poder Executivo Estadual,
o governador.
66 Introdução à Segurança Pública

Na Constituição Federal, o legislador constituinte, dadas as peculiaridades da vida


militar, criou uma seção específica aos militares estaduais, separando-os dos servidores públicos
(FOUREAUX, 2019).
A Polícia Militar tem duas atribuições designadas constitucionalmente, previstas no art. 144,
§ 5º: “Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública” (BRASIL,
1988).
O Decreto n. 88.777, de 30 de setembro de 1983, que “Aprova o regulamento para as polícias
militares e corpos de bombeiros militares (R-200)”, em seu artigo 2º apresenta os seguintes conceitos:
19) Manutenção da Ordem Pública - É o exercício dinâmico do poder de polícia,
no campo da segurança pública, manifestado por atuações predominantemente
ostensivas, visando a prevenir, dissuadir, coibir ou reprimir eventos que violem
a ordem pública.
[...]
21) Ordem Pública - Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento
jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os
níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa
e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou
condição que conduza ao bem comum.
[...]
25) Perturbação da Ordem - Abrange todos os tipos de ação, inclusive as
decorrentes de calamidade pública que, por sua natureza, origem, amplitude e
potencial possam vir a comprometer, na esfera estadual, o exercício dos poderes
constituídos, o cumprimento das leis e a manutenção da ordem pública,
ameaçando a população e propriedades públicas e privadas.
[...]
27) Policiamento Ostensivo - Ação policial, exclusiva das Polícias Militares
em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados sejam identificados
de relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a
manutenção da ordem pública. (BRASIL, 1983)

Os conceitos expostos, entre outros, estão relacionados à missão constitucional das polícias
militares, em especial ao art. 144, § 5º, supracitado. Entendendo esses conceitos, podemos mensurar
o quão importante e abrangente é o serviço policial militar.
Podemos acrescentar ainda que, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, Lei n. 9.503, de
23 de setembro de 1997, as polícias militares também compõem o Sistema Nacional de Trânsito,
conforme seu art. 7º, VI:
Art. 7º Compõem o Sistema Nacional de Trânsito os seguintes órgãos e
entidades:
I - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coordenador do Sistema e
órgão máximo normativo e consultivo;
II - os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho de Trânsito
do Distrito Federal - CONTRANDIFE, órgãos normativos, consultivos e
coordenadores;
III - os órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios;
Órgãos de Segurança Pública 67

IV - os órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios;
V - a Polícia Rodoviária Federal;
VI - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e
VII - as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações - JARI. (BRASIL, 1997,
grifos nossos)

No tocante à missão constitucional dos corpos de bombeiros militares, a parte final do


§ 5º, do art. 144 da Constituição Federal de 1988, expressa que “aos corpos de bombeiros militares,
além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil” (BRASIL,
1988).
A legislação que atribui missões aos corpos de bombeiros militares é ampla. Os conhecidos
heróis do fogo, historicamente reconhecidos por atuarem no combate a incêndios em meio urbano,
rural e nas florestas, não se limitam apenas a essa atividade (FOUREAUX, 2019).
O Corpo de Bombeiros está constantemente trabalhando como guarda-vidas nas praias,
bem como atuando na vistoria de prédios comerciais, visando à prevenção contra problemas
estruturais, desmoronamentos, além de fazer buscas e salvamento de uma forma geral. São militares
dos estados e do Distrito Federal, especializados em socorros de urgências, atuando de inúmeras
maneiras em todos os meios.
Foureuax (2019, p. 93) sustenta que “o Corpo de Bombeiros Militar é uma instituição que
atua nos três ramos da ordem pública”. Relembrando os três ramos a que se refere o autor, estes são:
segurança, tranquilidade e salubridade públicas.
Continuando o texto constitucional, o § 6º, do art. 144, externa que as “polícias militares
e corpos de bombeiros militares são forças auxiliares e reserva do Exército Brasileiro”. Mas o que
significa isso? Quer dizer que, por se tratar de instituições híbridas, policiais militares e bombeiros
militares podem assessorar as atividades do Exército e até mesmo substituí-lo em necessidade de defesa
da Pátria.
Os postos que correspondem ao grau hierárquico dos oficiais das polícias militares e dos
bombeiros militares são usados de maneira idêntica, inclusive com as mesmas prerrogativas dos
postos dos oficiais do Exército Brasileiro. Seguem a ordem da carreira dos oficiais, começando em
segundo-tenente até coronel – inclusive, no Exército ainda há o posto de general.
As graduações, que correspondem ao grau hierárquico das Praças das polícias militares e dos
bombeiros militares, são realizadas de maneira idêntica, inclusive com as mesmas prerrogativas das
graduações das Praças do Exército Brasileiro. Seguem a ordem da carreira das Praças, começando
em soldado e seguindo até subtenente, respeitando as peculiaridades da carreira.
O comando das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares é exercido por oficiais
do último posto, ou seja, coronéis da Polícia Militar e coronéis do Corpo de Bombeiros.
Cabe ainda esclarecer que, na maioria dos estados, o Corpo de Bombeiros Militar está
desvinculado da Polícia Militar, isso porque, inicialmente, o Corpo de Bombeiros era unidade da
Polícia Militar, ou seja, uma só instituição.
68 Introdução à Segurança Pública

4.2.6 Guardas municipais


A criação de guardas municipais é uma faculdade dos municípios, conforme preceitua o art.
144, § 8º, da Constituição Federal, disciplinado pela Lei n. 13.022, de 08 de agosto de 2014, Estatuto
Geral das Guardas Municipais. Segundo a Constituição Federal: “§ 8º Os Municípios poderão
constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme
dispuser a lei” (BRASIL, 1988).
Como explicitado, o Estatuto Geral das Guardas Municipais institui as normas gerais e
disciplina o art. 144, § 8º, da Constituição Federal. Em relação à criação das guardas municipais, o
art. 6º da referida lei prevê o seguinte:
Art. 6º O Município pode criar, por lei, sua guarda municipal.
Parágrafo único. A guarda municipal é subordinada ao chefe do Poder Executivo
municipal. (BRASIL, 1988)

Do artigo anteriormente apresentado, verificamos a discricionariedade do município em


criar, por lei, uma guarda municipal ou não, e que, se criada, será subordinada ao chefe do Poder
Executivo Municipal, ou seja, ao prefeito.
As guardas municipais são instituições de caráter civil, trabalham uniformizadas e armadas,
têm como função a proteção preventiva no município onde atuam, sempre ressalvadas as
competências da União, dos estados e do Distrito Federal.
De acordo com a Lei n. 13.022, a competência geral das guardas municipais é a proteção
aos bens, serviços, logradouros públicos municipais e instalações do município (BRASIL, 2014).
Conforme previsto no Estatuto Geral:
Art. 4º É competência geral das guardas municipais a proteção de bens, serviços,
logradouros públicos municipais e instalações do Município.
Parágrafo único. Os bens mencionados no caput abrangem os de uso comum, os
de uso especial e os dominiais. (BRASIL, 2014)

O Quadro 2, a seguir, apresenta o tripé constitucional da destinação das guardas municipais


(art. 144, § 8º, da Constituição Federal), que o art. 4º do Estatuto Geral denominou competência
geral das guardas municipais.
Quadro 2 – Competência geral das guardas municipais

Proteção Conceito Exemplos


Bens públicos, coisas, móveis ou imóveis, corpóreos
ou incorpóreos, semoventes e tudo aquilo que
pertence à pessoa jurídica de direito público
Bens Materiais (ou objetos) dos órgãos públicos.
municipal. Incluem-se nesse conceito os bens das
pessoas de direito privado que estejam afetados ao
interesse da coletividade.

Consiste na atividade administrativa desempenhada Coleta de lixo; iluminação pública nas ruas;
pelo município, com o fim de satisfazer as tratamento de água potável; construção de
Serviços necessidades coletivas e individuais dos munícipes, postos de saúde e de hospitais; serviço de
sob a incidência total ou parcial de um regime de transporte coletivo (ônibus, trem, metrô);
direito público. loteamento; calçamento de ruas e praças.

(Continua)
Órgãos de Segurança Pública 69

Proteção Conceito Exemplos


Instalações Estrutura física e os logradouros do município. Prédio do município em que fica a prefeitura.

Fonte: Adaptado de Foureaux, 2019.

A previsão da destinação geral contida na Constituição Federal foi expandida e classificada


como competências específicas das guardas municipais, sendo listadas no art. 5º do Estatuto Geral,
conforme a seguir:
Art. 5º São competências específicas das guardas municipais, respeitadas as
competências dos órgãos federais e estaduais:
I - zelar pelos bens, equipamentos e prédios públicos do Município;
II - prevenir e inibir, pela presença e vigilância, bem como coibir, infrações
penais ou administrativas e atos infracionais que atentem contra os bens,
serviços e instalações municipais;
III - atuar, preventiva e permanentemente, no território do Município, para
a proteção sistêmica da população que utiliza os bens, serviços e instalações
municipais;
IV - colaborar, de forma integrada com os órgãos de segurança pública, em
ações conjuntas que contribuam com a paz social;
V - colaborar com a pacificação de conflitos que seus integrantes presenciarem,
atentando para o respeito aos direitos fundamentais das pessoas;
VI - exercer as competências de trânsito que lhes forem conferidas, nas vias e
logradouros municipais, nos termos da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
(Código de Trânsito Brasileiro), ou de forma concorrente, mediante convênio
celebrado com órgão de trânsito estadual ou municipal;
VII - proteger o patrimônio ecológico, histórico, cultural, arquitetônico e
ambiental do Município, inclusive adotando medidas educativas e preventivas;
VIII - cooperar com os demais órgãos de defesa civil em suas atividades;
IX - interagir com a sociedade civil para discussão de soluções de problemas e
projetos locais voltados à melhoria das condições de segurança das comunidades;
X - estabelecer parcerias com os órgãos estaduais e da União, ou de Municípios
vizinhos, por meio da celebração de convênios ou consórcios, com vistas ao
desenvolvimento de ações preventivas integradas;
XI - articular-se com os órgãos municipais de políticas sociais, visando à adoção
de ações interdisciplinares de segurança no Município;
XII - integrar-se com os demais órgãos de poder de polícia administrativa,
visando a contribuir para a normatização e a fiscalização das posturas e
ordenamento urbano municipal;
XIII - garantir o atendimento de ocorrências emergenciais, ou prestá-lo direta e
imediatamente quando deparar-se com elas;
XIV - encaminhar ao delegado de polícia, diante de flagrante delito, o autor da
infração, preservando o local do crime, quando possível e sempre que necessário;
XV - contribuir no estudo de impacto na segurança local, conforme plano
diretor municipal, por ocasião da construção de empreendimentos de grande
porte;
XVI - desenvolver ações de prevenção primária à violência, isoladamente ou
em conjunto com os demais órgãos da própria municipalidade, de outros
Municípios ou das esferas estadual e federal;
70 Introdução à Segurança Pública

XVII - auxiliar na segurança de grandes eventos e na proteção de autoridades e


dignatários; e
XVIII - atuar mediante ações preventivas na segurança escolar, zelando pelo
entorno e participando de ações educativas com o corpo discente e docente
das unidades de ensino municipal, de forma a colaborar com a implantação da
cultura de paz na comunidade local.

Parágrafo único. No exercício de suas competências, a guarda municipal


poderá colaborar ou atuar conjuntamente com órgãos de segurança pública
da União, dos Estados e do Distrito Federal ou de congêneres de Municípios
vizinhos e, nas hipóteses previstas nos incisos XIII e XIV deste artigo, diante
do comparecimento de órgão descrito nos  incisos do  caput  do art. 144 da
Constituição Federal, deverá a guarda municipal prestar todo o apoio à
continuidade do atendimento. (BRASIL, 2014)

Segundo Foureaux (2019), ao ampliar o rol de atribuições das guardas municipais em seu
art. 5º – para mais do que a proteção de bens dos serviços e instalações dos municípios –, o Estatuto
Geral das Guardas Municipais, Lei n. 13.022, de 2014, não incorreu em inconstitucionalidade.
O autor explica que as guardas, naquilo que vai além da proteção de bens, dos serviços e
instalações dos municípios, deverão sempre atuar em apoio, parceria ou em conjunto com a Polícia
Militar, Civil ou Federal.
Cabe destacar que as guardas municipais constituem, juntamente com outros órgãos,
o Sistema de Segurança Pública brasileiro, em que pese divergências doutrinárias, mas não são
órgãos policiais.
Apesar de verificarmos em municípios a semelhança entre os uniformes das guardas e as
fardas das polícias militares, há a vedação expressa pelo art. 19 da Lei n. 13.022 de que “A estrutura
hierárquica da guarda municipal não pode utilizar denominação idêntica à das forças militares,
quanto aos postos e graduações, títulos, uniformes, distintivos e condecorações” (BRASIL, 2014).
A direção das guardas municipais deve ser conduzida por profissionais de carreira. A exceção
a esta regra existe apenas nos quatro primeiros anos de funcionamento da Guarda Municipal,
período em que um profissional estranho à carreira poderá dirigi-la e, preferencialmente, será
ligado à área da segurança ou defesa social (art. 15, § 1º).
De acordo com o Estatuto Geral das Guardas Municipais, a denominação das guardas
pode ser adequada e consagrada pelo uso, como Guarda Civil, Guarda Civil Municipal, Guarda
Metropolitana e Guarda Civil Metropolitana (art. 22).

4.3 Ciclo da persecução criminal e o ciclo de polícia


Por ciclo, vamos adotar a ideia de um fato que se desenvolve ao longo do tempo; uma série de
eventos, ações, acontecimentos que têm início, meio e terminam em um ponto exato, novamente
no início, um recomeço.
Para esclarecer essa questão aplicada ao ciclo da persecução criminal e ao ciclo de
polícia, vamos estudá-los em conjunto e também em separado. Isso devido ao fato de que eles
Órgãos de Segurança Pública 71

se encontram em dado momento e se completam, e suas ações sempre estão em conjunto com
o Judiciário, Ministério Público e Sistema Penitenciário.

4.3.1 Visão geral dos dois ciclos


Para entendimento, vamos recorrer a Lazzarini (1998 apud VALLA, 2012). Segundo o autor,
ciclo de polícia é aquele no qual ocorre a maior parte dos atos de polícia, e decompõe-se nos
seguintes estágios:
1. Situação de ordem pública normal;
2. Momento da quebra da ordem pública e sua restauração;
3. Fase investigatória.
O ciclo de persecução criminal é composto de quatro estágios:
4. Momento da quebra da ordem pública ocorrendo o ilícito penal;
5. Fase investigatória;
6. Fase processual;
7. Fase das penas;
8. Ciclo de polícia (início).

É preciso entender que, quando a situação é de ordem pública, esse estágio pertence ao ciclo
de polícia, pois está acontecendo por parte dela, principalmente pela Polícia Militar, por meio do
patrulhamento ostensivo, da manutenção ou da preservação da ordem pública. E é nesse ponto de
equilíbrio social que, após o ciclo ser todo percorrido, a sociedade deve novamente desfrutar da
paz e tranquilidade social; fecha-se o ciclo na sua totalidade.
Outro ponto a se destacar é que há uma interseção entre os dois ciclos, um ponto de encontro,
no qual o ciclo de polícia encontra o ciclo da persecução criminal: no chamado momento da quebra
da ordem pública. Nesse estágio, as polícias buscam restaurar a ordem pública. O ilícito provavelmente
aconteceu e então as demais autoridades entram na fase processual, que deve culminar com a fase das
penas, quando o delinquente será ressocializado (LAZZARINI, 1998 apud VALLA, 2012).

4.3.2 Ciclo de polícia – início


Situação de ordem pública normal. Nesse estágio, a segurança, tranquilidade e salubridade
pública estão garantidas. Incorpora o serviço de polícia preventiva, a presença do policial fardado,
patrulhamento com viaturas caracterizadas, medidas de polícia ostensiva para afastar tentativas de
ilícitos etc. Há presença da polícia administrativa da ordem pública, ou Polícia Militar.
Também está em evidência o Direito Administrativo com ações do Poder Executivo, sendo
desnecessária a participação do Poder Judiciário, salvo se provocado para analisar algum ato
administrativo (LAZZARINI, 1998 apud VALLA, 2012).
72 Introdução à Segurança Pública

4.3.3 Ciclo da persecução criminal – início


Aqui começa o ciclo da persecução criminal, mas não termina o ciclo de polícia. Ocorre
entre a quebra da ordem pública e sua restauração, é o mais rápido e acontece quando um dos
elementos da ordem pública for prejudicado, ou seja, a segurança, a tranquilidade e a salubridade.
Nesse ponto, as ações de polícia administrativa terminam.
Caso a quebra da ordem pública resulte de ação humana que viole o ordenamento penal, pode
configurar-se um ilícito, quando tem início a atuação da polícia judiciária, também chamada de
polícia repressiva. Esta tem o papel de auxiliar na repressão criminal, privativa do Poder Judiciário,
destinatário final da ocorrência que atua juntamente com o Ministério Público e seu controle das
ações praticadas.
Caso o evento de anormalidade motivado por ação humana não configure ilícito penal,
poderá ser tomada uma medida de polícia administrativa da ordem pública – no caso, uma sanção
de polícia administrativa.
A linha tênue entre a atuação da polícia administrativa e da polícia repressiva está no
acontecimento ou não do ilícito penal. Em ambos os casos, as polícias vão ser regidas pelas normas
do Direito Processual Penal, agora no controle do Poder Judiciário.
Ocorrendo o ilícito penal, há a repressão imediata pela polícia, por meio de atos que não
necessitam de autorização superior, ocorrem de ofício visando a restabelecer a ordem perturbada,
as chamadas ações de contenção. Inicia-se o estágio da investigação com as características próprias,
ou seja, prisão em flagrante; instauração do inquérito policial, comum ou militar, e com o relatório
do inquérito se finda o ciclo de polícia (LAZZARINI, 1998 apud VALLA, 2012).

4.3.4 Fim do ciclo de polícia, continua o ciclo da persecução criminal


Com o inquérito, o Ministério Público oferecerá a denúncia com base no trabalho policial,
ou por iniciativa própria. O processo seguirá as normas do Direito Processual, com contraditória
e ampla defesa, em que o juiz de direito, promotor de justiça e advogados atuarão na medida de
suas competências e deveres profissionais – no caso do advogado, na defesa e garantia dos direitos
dos acusados.
Por fim, vem o estágio das penas, no qual após a sentença efetiva-se a repressão com a
aplicação da pena, visando a punir, intimidar e recuperar o condenado para voltar ao convívio
social. Nessa fase, entra o sistema penitenciário, que é o ponto final de todo o ciclo policial e da
persecução criminal (LAZZARINI, 1998 apud VALLA, 2012).

Considerações finais
Como já frisado, a Segurança Pública é multidisciplinar e está em constante movimento,
sempre buscando reinventar-se. A luta diária dos profissionais de Segurança Pública é contra um
inimigo que podemos chamar de abstrato: o crime. E o crime também se reinventa a cada dia,
muitas vezes em uma velocidade maior que as possibilidades que têm aqueles que o combatem de
o acompanhar.
Órgãos de Segurança Pública 73

Tendo isso em vista, conhecemos os órgãos de Segurança Pública elencados no art. 144 da
Constituição Federal de 1988, percebendo que entre eles não há hierarquia, mas sim a execução
das suas competências singulares.
A missão dos órgãos de Segurança Pública, atuando em conjunto, é vencer a sensação de
insegurança que assola o cidadão – e nós, como cidadãos, devemos valorizar cada um dos órgãos
de Segurança Pública e incentivar os governos para que seja cumprido o preceito constitucional de
que Segurança Pública é dever do Estado.
Culpar as instituições policiais pela sensação de insegurança é um erro que não cabe mais a
nós, pois temos a informação correta. Isso se aplica às demais e necessárias políticas públicas que
devem estar em sintonia com as de Segurança Pública, como educação e saúde.

Ampliando seus conhecimentos


Para ampliar os conhecimentos sobre Segurança Pública e, principalmente, sobre os órgãos
que compõem o Sistema de Segurança Pública, sugerimos a você que visite os sites dos próprios
órgãos. Seguem, a seguir, alguns endereços eletrônicos:
• BRASIL. Polícia Federal. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Disponível em: http://
www.pf.gov.br/. Acesso em: 2 set. 2019.
No site da Polícia Federal, você poderá encontrar todas as atividades desenvolvidas por
esse órgão, bem como se informar sobre legislação, carreira e muito mais.

• BRASIL. Polícia Rodoviária Federal. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Disponível


em: https://www.prf.gov.br/portal. Acesso em: 2 set. 2019.
No site da Polícia Rodoviária Federal, você poderá aprender mais sobre trânsito, legislação
específica, serviços prestados pelo órgão, entre outros assuntos de relevância.

• ANNAPFF.BRASIL. Substituídos Processuais. Disponível em: http://anapff.simplesite.


com.br/336867186. Acesso em: 2 set. 2019.
No site da Associação Nacional dos Policiais Ferroviários, você encontrará vídeos, textos
e informações sobre a história, carreira e atualidades da Polícia do Caminho de Ferro.

• BRASIL. Escola Superior de Polícia. Disponível em: http://www.escolasuperiorpoliciacivil.


pr.gov.br/. Acesso em: 2 set. 2019.
As polícias civis, presentes no Distrito Federal e nos estados, têm relevante atuação no
ciclo da persecução criminal. Você pode aprender mais sobre esse órgão visitando os sites
das Secretarias de Segurança Pública de cada estado brasileiro, como o da Escola Superior
de Polícia Civil do Paraná.

• BRASIL. Academia Policial Militar do Guatupê. Escola Superior de Segurança Pública.


Disponível em: http://www.apmg.pr.gov.br/. Acesso em: 2 set. 2019.
74 Introdução à Segurança Pública

• BRASIL. Polícia Federal do Paraná. Disponível em: http://www.pmpr.pr.gov.br/. Acesso


em: 2 set. 2019.
As polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos estados e do Distrito Federal,
como estudamos, estão presentes em todo o território brasileiro, então sugerimos a você
que visite o site das Secretarias Públicas dos estados para aprender mais sobre cada um dos
órgãos. Por ora, indicamos dois endereços eletrônicos: da Escola Superior de Segurança
Pública da Polícia Militar do Paraná – Academia Policial Militar do Guatupê – e da própria
Polícia Militar do Paraná.

• ASSIS, J. D.; GENRO, Â. S.; RIBAS, R. Análise da significação dos termos “forças
auxiliares” e “reserva”, constantes no artigo 144, § 6º, da constituição federal de 1988.
Jusbrasil. Disponível em: https://jorgecesarassis.jusbrasil.com.br/artigos/121940517/
analise-da-significacao-dos-termos-forcas-auxiliares-e-reserva-constantes-no-artigo-
144-6-da-constituicao-federal-de-1988. Acesso em: 2 set. 2019.
No material sugerido, você vai aprender um pouco mais sobre as Forças Auxiliares e
Reserva do Exército, bem como conhecer o desenvolvimento do tema nas Constituições
que antecederam a de 1988 e encontrar ampla terminologia que acrescentará muito ao seu
saber jurídico e ao relacionado à segurança.

Atividades
1. De acordo com o texto estudado, qual é o objeto da Segurança Pública? E quais os elementos
e os respectivos conceitos que você estudou em relação a ele?

2. Quantos e quais são os órgãos que constituem o Sistema de Segurança Pública, segundo
a Constituição Federal de 1988? E quais são as suas competências constitucionais? Há
hierarquia entre os órgãos de Segurança Pública?

3. Em qual estágio ocorre o encontro entre o ciclo de polícia e o ciclo da persecução criminal?

Referências
BRASIL. Decreto n. 641, de 26 de junho de 1852. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Rio de Janeiro,
RJ, 1852. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dpl/DPL641-1852.htm.
Acesso em: 2 set. 2019.

BRASIL. Decreto n. 88.777, de 30 de setembro de 1983. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília,
DF, 1983. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D88777.htm. Acesso em: 30 ago.
2019.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 set. 2019.
Órgãos de Segurança Pública 75

BRASIL. Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF,
1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm. Acesso em: 20 ago. 2019.

BRASIL. Lei n. 10.446, de 8 de maio de 2002. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 2002.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10446.htm. Acesso em: 30 ago. 2019.

BRASIL. PL 1.949/2007. Câmara dos Deputados. Brasília, DF, 2007. Disponível em: https://www.camara.leg.
br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=365881. Acesso em: 9 set. 2019.

BRASIL. Lei n. 12.830, de 20 de junho de 2013. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF,
2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/L12830.htm. Acesso
em: 2 set. 2019.

BRASIL. Lei n. 13.022, de 8 de agosto de 2014. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF,
2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13022.htm. Acesso
em: 2 set. 2019.

BRASIL. Departamento de Polícia Rodoviária Federal, 2019. Disponível em: https://portal.prf.gov.br/portal.


Acesso em: 16 set. 2019.

FOUREAUX, R. Segurança pública. Salvador: JusPodivm, 2019.

VALLA, W. O. Doutrina de emprego de Polícia Militar e Bombeiro Militar. 3. ed. Curitiba: Associação da Vila
Militar – Publicações Técnicas, 2012.
5
Sistema Único de Segurança Pública (Susp)

Aprendemos em nossos estudos que o Sistema de Segurança Pública está expresso no art. 144
da Constituição Federal de 1988, sendo composto pelos seguintes órgãos policiais: Polícia Federal;
Polícia Rodoviária Federal; Polícia Ferroviária Federal; Polícia Civil; Polícia Militar e Corpo de
Bombeiros Militar.
Os órgãos que constam no art. 144 da Constituição Federal de 1988 Foureaux (2019) chamou
de órgãos policiais próprios, que podem também ser chamados de órgãos policiais de Segurança
Pública, os quais têm por atribuição principal a preservação da ordem pública, da incolumidade
das pessoas e do patrimônio.
Contudo, há no ordenamento jurídico nacional outros órgãos que colaboram com a
Segurança Pública, inclusive com poder de polícia para as atividades que desenvolvem. No entanto,
estas não são precipuamente as de preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e
do patrimônio, além de se tratar de órgãos que não estão elencados no art. 144 da Constituição
Federal de 1988, sendo classificados como órgãos policiais impróprios (FOUREAUX, 2019).
Neste capítulo, vamos estudar o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Ele surgiu
com a intenção de promover a integração entre os órgãos de segurança pública e a sociedade, de
maneira que dados, experiências e recursos possam ser compartilhados e otimizados no combate à
violência. Essa integração, por sua vez, envolve os órgãos policiais próprios e impróprios.
Veremos que a busca pela integração, o compartilhamento de dados e a troca de experiências
entre os órgãos policiais e a sociedade visa a atender algo maior: a Política Nacional de Segurança
Pública e Defesa Social (PNSPDS), sendo que ambos, PNSPDS e Susp, constam na mesma legislação.
E a pergunta que fazemos é a seguinte: o que levou as autoridades a pensarem em uma
Política Nacional de Segurança Pública e em um Sistema Único de Segurança Pública?

5.1 Segurança Pública como política pública


A escalada vertiginosa da violência no Brasil, que pode ser comprovada por meio dos dados
fornecidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública1, leva-nos a constatar que medidas urgentes
devem ser tomadas para melhorar a qualidade de vida do cidadão brasileiro.
A sensação de insegurança que invade a intimidade das pessoas no seu dia a dia, impedindo-
-as inclusive de saírem livremente de suas casas sem o medo constante que as acompanha, é devido
a muitas terem sido vítimas, presenciado ou terem tomado conhecimento de crimes bárbaros como
mortes violentas; homicídios dolosos; latrocínios; vitimização policial; mortes de mulheres; cargas

1 Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/. Acesso em: 12 ago. 2019.


78 Introdução à Segurança Pública

roubadas; crescimento alarmante do número de encarcerados; violência sexual; lesão corporal


seguida de morte; atuação de facções criminosas etc.
Todos esses exemplos foram determinantes para que o Poder Público procurasse alternativas
para a solução de um dos piores problemas que atualmente assola a população brasileira, a
insegurança.
É nesse contexto que as políticas públicas voltadas à Segurança Pública tomam força.
Acreditamos não ser necessário rever os conceitos até aqui estudados, contudo apresentar um de
política pública torna-se interessante para o prosseguimento do trabalho. Segundo Souza (2006,
p. 24), “A definição mais conhecida continua sendo a de Laswell, ou seja, decisões e análises sobre
política pública implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê? Por quê? E que
diferença faz?”.
A autora afirma que políticas públicas estão relacionadas à solução de problemas, porém se
atribui essa solução apenas à prestação de serviço do Estado, deixando-se de lado a possibilidade
de participação de outras instituições. Nesse sentido, temos que observar que:
As políticas públicas repercutem na economia e nas sociedades, daí por que
qualquer teoria da política pública precisa também explicar as inter-relações
entre Estado, política, economia e sociedade. Tal é também a razão pela qual
pesquisadores de tantas disciplinas – economia, ciência política, sociologia,
antropologia, geografia, planejamento, gestão e ciências sociais aplicadas –
partilham um interesse comum na área e têm contribuído para avanços teóricos
e empíricos. (SOUZA, 2006, p. 25)

Com base nisso, firmamos ainda mais o entendimento de que os interesses do Estado, entre
os quais está a Segurança Pública, é interesse de todos, inclusive dever e responsabilidade, como a
Carta Magna já prega.
Assim, podemos concluir que política pública é o campo do conhecimento que procura,
simultaneamente, analisar a ação do governo e cultivar mudanças para as ações. As políticas
públicas se consubstanciam quando as propostas de campanhas eleitorais se transformam em
resultados (SOUZA, 2006).
A autora (2006, p. 26) orienta que “políticas públicas, após desenhadas e formuladas,
desdobra-se em planos, programas, projetos, bases de dados ou sistemas de informação e pesquisas”.
Ela ainda complementa que, em alguns casos, as políticas públicas necessitam de legislação que,
previamente aprovada, dê suporte a elas.
Vamos lembrar que o § 7º do art. 144 da Constituição Federal de 1988 carecia de
regulamentação:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[...]
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis
pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
(BRASIL, 1988)
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 79

Com essa necessidade de regulamentação, foi proposto o Projeto de Lei2 n. 3.734/2012, que
deu ensejo à Lei n. 13.675, de 11 de junho de 2018, a qual tem por ementa3:
Disciplina a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da Constituição Federal; cria
a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS); institui
o Sistema Único de Segurança Pública (Susp); altera a Lei Complementar
nº 79, de 7 de janeiro de 1994, a Lei nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, e a Lei
nº 11.530, de 24 de outubro de 2007; e revoga dispositivos da Lei nº 12.681, de 4
de julho de 2012. (BRASIL, 2018)

Podemos extrair três verbos do texto da ementa da supracitada Lei n. 13.675, de 2018,
conforme abaixo:
1. Disciplina a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da Constituição Federal [...].
(BRASIL, 2018)

Nesse primeiro ponto da ementa, ou resumo da lei, temos a organização e o funcionamento


dos órgãos responsáveis pela segurança pública sendo disciplinados, esse é o ponto a se destacar.
2. [...] cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS)

3. [...] altera a Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro de 1994, a Lei nº 10.201,


de 14 de fevereiro de 2001, e a Lei nº 11.530, de 24 de outubro de 2007; e revoga
dispositivos da Lei nº 12.681, de 4 de julho de 2012. (BRASIL, 2018)

Toda a legislação acima alterada é referente ou tem alguma ligação com Segurança Pública.
Quando da criação ou alteração de alguma legislação correlata, outras podem ser afetadas – esse é
mais um cuidado que o legislador deve ter na edição de novas leis.
Não necessariamente políticas públicas dependerão de novas leis, mas, com a necessidade
revelada, há que se imprimir ainda mais seriedade ao processo de fomento dessas políticas, bem
como com todo o processo legislativo.
No caso concreto que abordamos em relação à PNSPDS e ao Susp, o trabalho legislativo
é posto em prática pelo Poder Executivo, que tem o dever de fazer cumprir o estipulado pela
legislação em vigor. Em nossos estudos, aprenderemos que a União, os estados, o Distrito Federal
e os municípios devem, com a edição da Lei n. 13.675, de 2018, trabalhar de maneira sistêmica e
harmônica para que as políticas de Segurança Pública se concretizem. Conforme consta no art. 1º
da Lei n. 13.675:
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e cria a
Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), com a
finalidade de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, por meio de atuação conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos
órgãos de segurança pública e defesa social da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, em articulação com a sociedade. (BRASIL, 2018)

2 “Um projeto de lei ou uma proposta de lei é um conjunto de  normas  que deve submeter-se à tramitação num
órgão legislativo com o objetivo de efetivar-se através de uma lei” (BRASIL, 2019a).
3 “Em termos jurídicos, é o sumário ou resumo do conteúdo da lei ou do projeto de lei, que aparece na parte inicial do
texto; rubrica. Significa também texto reduzido aos pontos essenciais; resumo, síntese, sinopse” (BRASIL, 2019a).
80 Introdução à Segurança Pública

Tendo isso em vista, vamos, na próxima seção, abordar especificamente a PNSPDS de acordo
com a legislação que a apresentou para nós.

5.2 Da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social


A expressão Política Nacional de Segurança Pública, na sua forma de sigla, aparece no texto
da Lei n. 13.675, de 2018, por nove vezes. A primeira na ementa, conforme já vimos, que é onde se
anuncia resumidamente a que se propõe a lei – no caso da PNSPDS, a sua criação.
Depois, o art. 1º é mais abrangente, salientando que a PNSPDS tem a finalidade de
preservar a ordem pública, a incolumidade das pessoas e do patrimônio. Também destaca que
tudo ocorrerá de maneira conjunta, coordenada e sistemicamente integrada na atuação dos
órgãos envolvidos legalmente dos três entes da federação, juntamente com a sociedade.
O Capítulo II, com suas seis Seções, destina-se exclusivamente à PNSPDS. À União
compete estabelecer a PNSPDS, sendo que os estados, o Distrito Federal e os municípios têm
a incumbência de, observando as diretrizes nacionais, estabelecer as suas próprias políticas,
conforme art. 3º da Lei n. 13.675/2018.
No art. 4º da norma federal, encontramos os 16 princípios que devem ser respeitados na
execução da PNSPDS, a começar pelo inciso I: “respeito ao ordenamento jurídico e aos direitos e
garantias individuais e coletivos” (BRASIL, 2018). Conforme estudamos, a Administração Pública
em toda a sua extensão está atrelada à norma e aos direitos e às garantias fundamentais, a todo o
ordenamento jurídico, sem exceção.
Finda os princípios, atendendo também ao da publicidade, o inciso XVI: “transparência,
responsabilização e prestação de contas”. Afinal, aqueles que recebem o serviço prestado pelo
Estado, ressalvados casos de sigilo, por medidas de segurança, devem ser informados dos atos
praticados pela Administração Pública, inclusive como forma de estabelecer a confiança entre a
administração e o administrado.
Enquanto os princípios são as bases, os padrões de conduta a serem adotados, as diretrizes
ditam o caminho, são instruções de como o agente do Estado deve agir em suas funções.
As diretrizes da PNSPDS são claras quando colocam o cidadão em primeiro plano de
atendimento. Depende, para isso, de planejamento sistêmico em suas ações de prevenção, visando
à baixa letalidade e resolução pacífica de conflitos, sempre fomentando a parceria e atuação
integrada entre órgãos públicos e a sociedade.
As diretrizes, anteriormente resumidas, estão dispostas no art. 5º e em seus 21 incisos.
Traçados os princípios, estabelecidas as diretrizes, a Lei n. 13.675/2018 nos apresenta os objetivos
a serem alcançados com a PNSPDS. Eles estão previstos no art. 6º, composto de 26 incisos, e finda
com o parágrafo único, o qual revela que “Os objetivos estabelecidos direcionarão a formulação do
Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, documento que estabelecerá as estratégias,
as metas, os indicadores e as ações para o alcance desses objetivos” (BRASIL, 2018).
As estratégias supracitadas devem garantir, conforme o art. 7º da referida lei, a:
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 81

integração, coordenação e cooperação federativa, interoperabilidade, liderança


situacional, modernização da gestão das instituições de segurança pública,
valorização e proteção dos profissionais; complementaridade, dotação de
recursos humanos; diagnóstico dos problemas a serem enfrentados; excelência
técnica; avaliação continuada dos resultados; e garantia da regularidade
orçamentária para execução de planos e programas de segurança pública.
(BRASIL, 2018)

Anteriormente, elencamos o que consta da lei no artigo específico para tornar a leitura mais
agradável. Podemos perceber que a questão de valorização do profissional está presente, assim como
deve ser na educação, saúde e em todas as demais áreas; e nenhuma delas será prestigiada se não
passar por um processo de formação adequado para que práticas antigas não sejam perpetuadas.
Outro ponto a se destacar é o orçamento. Quando bem aplicado às verbas públicas, ele
alcança maior eficácia em seu investimento, gerando economia e reinvestimento em outros setores.
No tocante específico da Segurança Pública, já destacamos que prevenção é um investimento
melhor do que repressão.
Estes elos estratégicos – educação, saúde e segurança – formam uma corrente social sem
possibilidade de rompimento quando blindados com boa formação e investimento adequado,
revertendo-se, potencialmente, em mais economia para o sistema social.
Por fim, no art. 8º, a legislação fala dos meios e instrumentos para a implementação da
PNSPDS. Tal artigo é dividido em cinco incisos (o terceiro vetado), porém vamos destacar, no
inciso II, composto por seis alíneas (a “b” vetada), o seguinte:
c) o Sistema Integrado de Educação e Valorização Profissional (Sievap);
d) a Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública (Renaesp);
e) o Programa Nacional de Qualidade de Vida para Profissionais de Segurança
Pública (Pró-Vida). (BRASIL, 2018)

Apresentamos essas alíneas – sabendo que todas as demais gozam da mesma importância –,
mas a valorização do ser humano-profissional, por meio da educação e da dignificação originárias
da melhor qualidade de vida antes, durante e depois da jornada de trabalho, parece-nos ser fator
primordial para o destinatário do serviço, para que o cidadão também seja dignificado com o
melhor atendimento.

5.3 Origem e integrantes do Susp


Adiantamos que a PNSPDS e o Susp tiveram sua origem no Projeto de Lei n. 3.734/2012,
que culminou na Lei n. 13.675, de 2018. Todo projeto de lei traz junto da proposta um texto que
normalmente é denominado Justificativa4 – que, como o próprio termo sugere, busca justificar,
dar motivação àquela proposta de lei que está sendo apresentada, tenta levar ao convencimento da
importância da matéria. Tais argumentos ficam claros no texto da nova legislação e buscaremos
assinalar o que for de mais importante para o nosso estudo.

4 Veja a Justificativa na íntegra, disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_


mostrarintegra?codteor=984833&filename=PL+3734/2012. Acesso em: 16 ago. 2019.
82 Introdução à Segurança Pública

A sigla Susp aparece 31 vezes no texto da Lei n. 13.675, de 2018, enquanto a expressão
completa Sistema Único de Segurança Pública, apenas 4 vezes. E o primeiro ponto relevante a se
tratar é que, no Capítulo III da legislação em análise, são dedicadas duas seções e dez artigos com
os respectivos incisos para tratar do Sistema Único de Segurança Pública (Susp).
Tendo em vista a importância do assunto, bem como sua complexidade e extensão, vamos
dividir em seções específicas para o melhor entendimento.

5.3.1 Dos integrantes do Susp


Começamos a abordagem relativa aos integrantes do Sistema Único de Segurança Pública
destacando que ele tem como órgão central o Ministério Extraordinário da Segurança Pública. Por
sua vez, este é integrado pelos:
• órgãos do Sistema de Segurança Pública;
• agentes penitenciários;
• guardas municipais; e
• demais integrantes estratégicos e operacionais.

Na sequência, temos um organograma criado para esclarecer a constituição do Susp de


maneira didática.
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 83

Figura 1 – Organograma Susp

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Guimarães citado por Foureaux, 2019.

No organograma da Figura 1, temos uma visão geral dos integrantes do Susp, os estratégicos
e os operacionais. Assim como já comentamos anteriormente, não há hierarquia entre os órgãos
policiais que constam no art. 144 da Constituição Federal de 1988, e da mesma forma não há entre
84 Introdução à Segurança Pública

os órgãos do Susp, restando a cada um atuar dentro de suas competências de maneira cooperativa,
sistêmica e harmônica, conforme a lei.
Nas próximas seções, vamos estudar cada um dos integrantes do Susp, apresentando a
divisão, assim como na legislação, entre os estratégicos e os operacionais.

5.3.2 Dos integrantes estratégicos do Susp


Por estratégicos vamos entender aqueles que devem pensar, planejar as ações que serão
desencadeadas em todo o Sistema de Segurança Pública. E quem tem essa responsabilidade são
exatamente os chamados, no § 1º, do art. 9º da Lei do Susp, como integrantes estratégicos. São eles:
União; estados e Distrito Federal; municípios e Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social
que devem estar presentes nos três entes federados.
Tais integrantes estratégicos atuam sempre por intermédio de seus respectivos Poderes
Executivos, que têm como representantes:
• União: o Presidente da República;
• Estados e Distrito Federal: governadores;
• Municípios: os prefeitos.

Em relação aos Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social, como integrantes


estratégicos temos a destacar, além da sua presença nos três entes federados, que a estrutura do
Susp é fundamentada nos Conselhos, permanentes e propostos pelos chefes do Poder Executivo, e
encaminhada ao Poder Legislativo.
A Lei n. 13.675/2018 nos orienta que os Conselhos possuem representatividade e poder de
decisão dentro de suas estruturas governamentais, atuando como colegiado, fazendo a supervisão
dos trabalhos referentes à Segurança Pública e, até mesmo, apresentando medidas às autoridades
competentes no que tange aos órgãos operacionais do Susp. Podemos, então, verificar que constitui-
-se em um órgão de fiscalização.
Cabe aos Conselhos propor diretrizes para as políticas públicas na área de Segurança Pública
e defesa social. Em âmbito estadual e distrital, bem como nos municípios, a representação da
sociedade civil organizada é imprescindível, assim como a dos trabalhadores, para promover o
intercâmbio cultural.
Comporão os Conselhos, além dos conselheiros que representam cada órgão ou entidade do
Susp, representantes do: Poder Judiciário; Ministério Público; da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB); Defensoria Pública; de entidades e organizações da sociedade; de entidades de profissionais
de Segurança Pública. Todos com direito a suplente e permanência de dois anos como conselheiros.

5.3.3 Dos integrantes operacionais do Susp


Os órgãos do Sistema de Segurança Pública – órgãos policiais próprios, como vimos –,
juntamente com os órgãos policiais impróprios e demais entidades (a exemplo das Secretarias),
formam um conjunto que a Lei n. 13.675, de 2018, denominou integrantes operacionais do Susp.
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 85

Como o nome já sugere, operacionais são os integrantes responsáveis pelas ações que
resultaram na execução das Políticas Nacionais de Segurança Pública e Defesa Social, em que
pese toda a estrutura administrativa, com atividades-meio para dar sustentação ao trabalho. É na
comunidade, nas ruas e em parceria com o cidadão que as soluções serão implementadas.
Com os profissionais de Segurança Pública que estão sujeitos às intempéries (sol, chuva)
durante o dia, à noite e de madrugada, e com os perigos do cotidiano é que se efetiva todo o
processo, desde o Projeto de Lei, a própria lei, até a garantia dos direitos fundamentais. Vale ressaltar
que a Lei do Susp, como é também chamada a nova legislação, traz em seu texto a valorização dos
profissionais que atuam na área que estamos estudando.
A seguir, temos algumas informações em relação aos integrantes operacionais do Susp. Já
estudamos sobre os membros do Sistema de Segurança Pública, conforme o art. 144 da Constituição
Federal de 1988, então agora vamos nos concentrar naqueles ainda não abordados e que compõem
o Susp. Na sequência, há uma observação em relação à Polícia Ferroviária Federal (PFF).
A PFF foi deixada de fora do Susp por meio de veto do Presidente da República. A Mensagem
de Veto5 n. 321, de 11 junho de 2018, comunicou ao Senado Federal o veto da participação da Polícia
Ferroviária Federal no Sistema Único de Segurança Pública (Susp), sob o fundamento de que:
Razão do veto
O dispositivo insere a Polícia Ferroviária Federal como órgão operacional do
SUSP. Ocorre que, apesar do órgão constar como integrante da segurança pública,
conforme art. 144 da Constituição, entende-se que a norma constitucional possui
eficácia limitada e atualmente não existe lei específica que regulamente a criação
do referido órgão. Por estas razões recomenda-se o veto. (BRASIL, 2018)

Com essa justificativa, a PFF foi excluída do Sistema Único de Segurança Pública. Da mesma
forma, os órgãos do sistema socioeducativo foram afastados do Susp, com a mesma Mensagem de
Veto n. 321, de 11 junho de 2018, porém com as razões abaixo:
Razões dos vetos
Os dispositivos referem-se a matérias já tratadas na legislação de forma
sistêmica, integradas ao Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(SINASE), vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos, constituído por
políticas públicas diferenciadas com base na natureza pedagógica e peculiar dos
indivíduos aos quais se destinam e por leis específicas, que atendem inclusive a
princípios e normativas internacionais que abordam a temática. Assim, não se
justifica sua vinculação a outro sistema ora instituído pelo Projeto. (BRASIL,
2018)

Resumidamente, os órgãos do sistema socioeducativo foram retirados do Susp, conforme


constavam do projeto de lei inicial, com a justificativa de já estarem integrados ao Sinase, vinculado
ao Ministério dos Direitos Humanos com natureza pedagógica, como mostrado anteriormente.
Seguimos agora tratando dos demais órgãos operacionais do Susp com informações que
buscam esclarecer a atuação de cada um dentro desse sistema complexo e multidisciplinar, como
estamos frisando.

5 Comunicação escrita por meio da qual o chefe do Poder Executivo dá ciência ao Legislativo de que vetou, total ou
parcialmente, um projeto de lei, e expõe a fundamentação do veto (BRASIL, 2019b).
86 Introdução à Segurança Pública

5.3.3.1 Órgãos do sistema penitenciário


Com a inclusão no Susp, os órgãos do sistema penitenciário passaram a compor a categoria dos
profissionais de Segurança Pública, contudo houve o veto do § 3º do art. 9º, o qual previa inicialmente:
“§ 3º Considera-se de natureza policial a atividade exercida pelos agentes penitenciários”.
Razões do veto
Nos termos de decisão do Supremo Tribunal Federal (ADI 236, julgada em
7-5-1992, plenário, DJ de 1-6-2001), a atividade de vigilância intramuros
nos estabelecimentos penais não possui natureza policial. Assim, qualquer
alteração infraconstitucional tendente a configurar o exercício das atribuições
de agente penitenciário como atividade policial estará eivada de vício de
constitucionalidade, em conformidade com o art. 144 da Constituição. Além
disso, os serviços penais de atenção à pessoa privada de liberdade exigem
políticas e instrumentos que não se confundem com a segurança estrita.
(BRASIL, 2018)

O veto ao § 3º do art. 9º é justificado pela decisão do Supremo Tribunal Federal, o qual


diz que as atividades de vigilância intramuros nos presídios não possuem natureza policial.
Alega-se, nas razões de veto, que qualquer alteração infraconstitucional nas atribuições do agente
penitenciário, como atividade policial, será inconstitucional. Isso leva a concluir que somente por
Emenda Constitucional poderá ser adequada a situação, dando status de atividade policial aos
agentes penitenciários.
Tramita na Câmara dos Deputados a Proposta de Emenda Constitucional (PEC6) n. 372/2017,
cuja ementa é: “Altera o inciso XIV do art. 21, o § 4º do art. 32 e o art. 144 da Constituição Federal
para criar as polícias penais federal, estaduais e distrital” (BRASIL, 2017).
Contudo, justifica-se a presença dos órgãos do sistema penitenciário no Susp pelo importante
papel dos profissionais (os agentes penitenciários) dentro do ciclo da persecução criminal. Vale
apresentar o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), responsável pelo Sistema Penitenciário
Federal, cujos principais objetivos são:
1. Isolamento das lideranças do crime organizado;
2. Cumprimento rigoroso da Lei de Execução Penal; e
3. Custódia de:
3.1 presos condenados e provisórios sujeitos ao regime disciplinar diferenciado;
3.2 líderes de organizações criminosas;
3.3 presos responsáveis pela prática reiterada de crimes violentos;
3.4 presos responsáveis por ato de fuga ou grave indisciplina no sistema prisional
de origem;

6 “A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pode ser apresentada pelo presidente da República, por um terço dos
deputados federais ou dos senadores ou por mais da metade das assembleias legislativas, desde que cada uma delas
se manifeste pela maioria relativa de seus componentes. Não podem ser apresentadas PECs para suprimir as chamadas
cláusulas pétreas da Constituição (forma federativa de Estado; voto direto, secreto, universal e periódico; separação dos
poderes e direitos e garantias individuais). A PEC é discutida e votada em dois turnos, em cada Casa do Congresso, e
será aprovada se obtiver, na Câmara e no Senado, três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49)”
(BRASIL, 2019a).
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 87

3.5 presos de alta periculosidade e que possam comprometer a ordem e


segurança pública;
3.6 réus colaboradores presos ou delatores premiados. (DEPEN, 2019)

5.3.3.2 Institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identificação


Também integrantes do Susp, os Institutos de Criminalística, de Medicina-Legal e de
Identificação têm papel primordial no sistema e, com os investimentos adequados, podem realizar
ainda mais para a evolução da Segurança Pública.
Os Institutos de Criminalística7 têm como atribuição auxiliar a Justiça, obtendo provas
técnicas para instruir processos criminais. Possuem a competência de realizar exames periciais,
pesquisas e experiências no campo da criminalística que podem envolver: informática, engenharia,
reconstituições, balística, documentoscopia, disparo, ambiental, fonética, entre outros. O
profissional dessa área é o perito criminal (BRASIL, 2019).
O Instituto de Medicina Legal tem como atribuição auxiliar nos interesses da Justiça que
demandem a opinião de especialistas em medicina legal. Como competência, esses profissionais
precisam realizar necrópsias, laudos cadavéricos, autópsias e outros exames de corpo de delito e
demais perícias. O profissional dessa área é o perito médico-legista.
O Instituto de Identificação (II) tem suas atribuições voltadas a auxiliar a Justiça em casos
especiais que demandem a opinião de especialista em identificação humana por impressões
papilares. A competência dos Institutos de Identificação é processar a identificação civil e
criminal, elaborar e expedir as carteiras de identidade, além de executar perícias papiloscópicas,
necropapiloscópicas, exames periciais de prosopografia, projeções de envelhecimento e
rejuvenescimento, entre outras. O profissional dessa área é o perito papiloscopista.

5.3.4 Secretaria Nacional de Segurança Pública


A Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) foi criada pelo Decreto n. 2.315, de
4 de setembro de 1997. De acordo com Costa e Grossi (2007, p. 10): “A criação dessa secretaria
se destinou a articular iniciativas relacionadas à área da Segurança Pública, possibilitando o
incremento da cooperação intergovernamental”.
À Secretaria Nacional de Segurança Pública compete:
I - assessorar  o Ministro de Estado na definição, na implementação e no
acompanhamento de políticas, programas e projetos de segurança pública,
prevenção social e controle da violência e da criminalidade;
II - coordenar e promover  a integração da segurança pública no território
nacional em cooperação com os demais entes federativos;
III - estimular, propor e efetivar a cooperação federativa no âmbito da segurança
pública;

7 Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/especiais/54a-


legislatura/pec-325-09-pericia-oficial-de-natureza-criminal/audiencias-publicas/PauloAyranaudinciapblica.pdf. Acesso
em: 14 ago. 2019.
88 Introdução à Segurança Pública

IV - estimular e propor aos órgãos federais, estaduais, distrital e municipais a


elaboração de planos e programas integrados de segurança pública e de ações
sociais de prevenção da violência e da criminalidade;
V - implementar, manter e modernizar redes de integração e de sistemas
nacionais de informações de segurança pública, em conformidade com disposto
na Lei nº 12.681, de 4 de julho de 2012;
VI - promover a articulação e a integração dos órgãos de segurança pública,
incluídas as organizações governamentais e não governamentais;
VII - coordenar as atividades da Força Nacional de Segurança Pública;
VIII - promover e fomentar a modernização e o reaparelhamento dos órgãos de
segurança pública;
IX - promover  a valorização, o ensino e a capacitação dos profissionais de
segurança pública;
X - representar o Ministério no Comitê Gestor do Fundo Nacional de Segurança
Pública;
XI - participar da elaboração de propostas de legislação em assuntos de
segurança pública;
XII - elaborar e fomentar estudos e pesquisas destinados à redução da violência
e da criminalidade;
XIII - gerir os processos relativos aos eventos de segurança pública, no âmbito
da Secretaria Nacional de Segurança Pública; e
XIV - gerir os riscos corporativos no âmbito da Secretaria Nacional de Segurança
Pública. (BRASIL, 2019c)

Na Lei do Susp, a Senasp está prevista no art. 9º, inciso XI, com importante atuação a nível
nacional em parceria com os órgãos e instituições de Segurança Pública. A seguir, temos o estudo
das Secretarias Estaduais de Segurança Pública e sua atuação a nível estadual e distrital.

5.3.5 Secretarias Estaduais de Segurança Pública


As Secretarias de Segurança Pública são as responsáveis pela administração das polícias
nos estados e no Distrito Federal. As políticas de Segurança Pública também estão sob a sua
responsabilidade dos estados, devendo seguir as diretrizes da Política Nacional de Segurança e
Defesa Social.
Os secretários são nomeados pelos respectivos governadores de cada estado e são a maior
autoridade policial, estando sob a sua subordinação a Polícia Civil, a Polícia Militar, o Corpo de
Bombeiros Militar, a Polícia Científica e o Detran.
Compete às Secretarias de Estado de Segurança Pública:
• Formular, coordenar, executar e monitorar a Política Estadual de Preservação
da Ordem Pública e Segurança no Estado, que será norteada pelos princípios
fundamentais da integração e da regionalização.
• Planejar, coordenar e monitorar as atividades de: Polícia ostensiva, de
Polícia Judiciária do Estado, compreendendo toda a atividade investigativa
de apuração de infrações penais; de Perícia Oficial e Identificação Técnica e
de Prevenção e Combate a Incêndios, de Busca e Salvamento, promovendo
avaliações periódicas de desempenho, produtividade e eficiência,
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 89

executando as correções necessárias para o alinhamento à Política Estadual


de Segurança Pública.
• Controlar, registrar e fiscalizar o fabrico, comércio, transporte e uso de armas,
munições, explosivos, combustíveis e inflamáveis; oferecer auxílio e executar
ação complementar às autoridades da segurança nacional.
• Exercer a segurança de trânsito e controle e fiscalização nas rodovias
estaduais.
• Planejar, executar e monitorar a segurança pública na zona de fronteira, no
âmbito de sua atribuição, promovendo gestão, acordos e parcerias junto ao
Governo Federal para potencializar a segurança na região. (BRASIL, 2019d)

Como integrantes do Susp, as Secretarias Estaduais de Segurança Pública estão subordinadas


ao Ministério Extraordinário de Segurança Pública, e a nível nacional há a Secretaria Nacional de
Segurança Pública (Senasp). Conforme vimos anteriormente, elas seguem se complementando,
assim como os demais órgãos e instituições.

5.3.6 Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil


Os países envolvidos com a Segunda Guerra Mundial foram os primeiros a desenvolverem
ações dirigidas à população, com estruturas e estratégias de proteção e segurança. O primeiro deles
foi a Inglaterra, que instituiu a Defesa Civil após ataques sofridos.
Em 1942, no Brasil, começaram a ser implementadas medidas semelhantes após o
afundamento de nossos navios no litoral do Sergipe e da Bahia, que culminou com a declaração de
guerra contra a Alemanha e Itália.
O Serviço de Defesa Civil surge em 1943, com a mudança de denominação da Defesa Passiva
Antiaérea, sob a supervisão da Diretoria Nacional do Serviço de Defesa Civil. Atualmente, em todo
o mundo, os órgãos de Defesa Civil, com a participação dos governos e da população, atuam em
ações preventivas em combate aos desastres (BRASIL, 2019c).
O Decreto n. 97.274, de 16 de dezembro de 1988, organizou o Sistema Nacional de Defesa
Civil (Sindec). Em 1989, a Organização das Nações Unidas, com Assembleia Geral realizada em
22 de dezembro, aprovou a Resolução 44/236, que em 1990 deu início à chamada Década
Internacional para Redução dos Desastres Naturais.
Atendendo à Resolução 44/236, o Brasil criou a Política Nacional de Defesa Civil (PNDC),
estruturada nos seguintes pilares: prevenção, preparação, resposta e reconstrução.
Além das metas contidas na PNDC o plano previa ainda:
• A reestruturação da SEDEC como Secretaria Especial de Defesa Civil.
• A classificação, tipificação e codificação de desastres, ameaças e riscos,
embasados na realidade brasileira.
• A organização dos Manuais de Planejamento em Defesa Civil.
• A criação de um programa de capacitação em desastres, com o enfoque na
preparação de gestores nacionais, estaduais, municipais e de áreas setoriais
para atuarem em todo o território nacional.
[...]
A segunda dezena do século XXI caracteriza-se pela retomada dos princípios
de redução de desastres, destacando as seguintes ações:
90 Introdução à Segurança Pública

• Implantação do Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil.


• Construção do Banco de Dados de Registros de Desastres.
• Mapeamento dos riscos de desastres no Brasil.
• Confecção do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais.
• Aprovação da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNDEC.
• Implantação do sistema de informações e monitoramento de desastres.
• Organização do Sistema Nacional de Proteção Civil - SINPDEC, entre outras
ações de gestão de riscos e desastres.
• Realização da 2ª Conferência Nacional de Proteção e Defesa Civil. (BRASIL,
2019e)

À Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil compete:


I - formular, orientar e conduzir a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil
- PNPDEC em articulação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - coordenar o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC;
III - participar da formulação da Política Nacional de Desenvolvimento Regional
- PNDR e da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano - PNDU;
IV - promover o planejamento das ações de Proteção e Defesa Civil, gestão de
riscos e de desastres e sua aplicação por meio de planos diretores, preventivos,
de contingência e de operação;
V - estabelecer estratégias e diretrizes das ações de Proteção e Defesa Civil,
gestão de riscos e de desastres;
VI - apoiar, de forma complementar, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios em ações de prevenção em áreas de risco de desastres e em situação
de emergência ou estado de calamidade pública provocados por desastres;
VII - promover a implementação de normas, instrumentos, programas e ações
relacionadas à Proteção e Defesa Civil, gestão de riscos e de desastres;
VIII - promover a capacitação e o treinamento de recursos humanos para ações
de Proteção e Defesa Civil, gestão de riscos e de desastres;
IX - coordenar e promover, em articulação com os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios, a realização de ações conjuntas dos órgãos integrantes do
SINPDEC;
X - promover, em articulação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
a organização e a implementação de órgãos de proteção e defesa civil;
XI - apreciar as solicitações dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
para reconhecimento federal de situação de emergência ou de estado de
calamidade pública;
XII - manter equipe técnica multidisciplinar, mobilizável a qualquer tempo,
para atuar nas ações de proteção e defesa civil;
XIII - promover o intercâmbio técnico entre organismos governamentais
internacionais de proteção e defesa civil e participar como membro representante
da Proteção e Defesa Civil brasileira;
XIV - exercer as atividades de Secretaria-Executiva do Conselho Nacional de
Proteção e Defesa Civil - CONPDEC;
XV - presidir o Conselho Diretor do Fundo Nacional para Calamidades
Públicas, Proteção e Defesa Civil - Funcap; e
XVI - coordenar os projetos de cooperação técnica celebrados com organismos
internacionais em sua área de atuação. (BRASIL, 2019e)
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 91

A inserção da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil no Susp marca a importância


dada à proteção na área de defesa cível integrada a todo o Sistema Único, que vem expressa no art.
9º, inciso XIII, da Lei n. 13.675, de 2018.

5.3.7 Secretaria Nacional de Política sobre Drogas


A Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) faz parte do Ministério Extraordinário
da Segurança Pública e, consequentemente, do Susp. Integra com os demais órgãos federais,
estaduais e municipais o Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas (Sisnad), instituído pela Lei
n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Conforme o § 2º, art. 3º, da referida lei:
Entende-se por SISNAD o conjunto ordenado de princípios, regras, critérios
e recursos materiais e humanos que envolvem as políticas, planos, programas,
ações e projetos sobre drogas, incluindo-se nele, por adesão, os Sistemas de
Políticas Públicas sobre Drogas dos Estados, Distrito Federal e Municípios.
(BRASIL, 2006)

Ainda sobre o Sisnad, consta da supracitada Lei n. 11.343, de 2006, que “o SISNAD atuará
em articulação com o Sistema Único de Saúde (SUS), e com o Sistema Único de Assistência Social
(SUAS)” (BRASIL, 2006). E, conforme vamos verificando, Segurança Pública está interligada a
todos os outros sistemas, sendo, portanto, um conjunto bem mais complexo do que se pode tentar
conceber.
E também, ao citar o SUS e o Suas, percebemos que o Susp teve, sim, sua essência vinda
desses órgãos, que trazem a integração entre elementos que coadunam dos mesmos interesses e
que devem contribuir para uma mesma causa ou interesse.
Atualmente, a Senad tem como missão8 responsabilizar-se pela fiscalização dos bens
apreendidos oriundos de crimes, garantindo que a justiça os aplique em políticas sobre drogas,
com o objetivo de reduzir a oferta de entorpecentes no Brasil, atuando em dois eixos principais:
redução da oferta de drogas, combate ao tráfico de drogas e crimes conexos; e gestão dos recursos
apreendidos em decorrência de atividades criminosas relacionadas às drogas e crimes conexos.
À Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas compete:
I - assessorar e assistir o Ministro de Estado quanto às políticas sobre drogas
relacionadas com a redução da oferta e a repressão da produção não autorizada
e do tráfico ilícito de drogas;
II - supervisionar e articular as atividades de capacitação e treinamento no
âmbito de suas competências;
III - subsidiar e supervisionar, de acordo com a Política Nacional sobre Drogas e
no âmbito de suas competências, as atividades relativas à definição, à elaboração,
ao planejamento, ao acompanhamento, à avaliação e à atualização das políticas
públicas sobre drogas;
IV - gerir o Fundo Nacional Antidrogas e fiscalizar a aplicação dos recursos
repassados pelo Fundo aos órgãos e às entidades conveniadas, exceto se
transferidos a outros Ministérios, hipótese em que serão fiscalizados pela
respectiva Pasta, que será a responsável pela prestação de contas junto aos
órgãos de controle;

8 Disponível: www.justica.gov.br/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/conheca-a-senad. Acesso em: 17 ago. 2019.


92 Introdução à Segurança Pública

V - firmar contratos, convênios, acordos, ajustes e instrumentos congêneres


com entes federativos, entidades, instituições e organismos nacionais e propor
acordos internacionais, no âmbito de suas competências;
VI - indicar bens apreendidos e não alienados em caráter cautelar, a serem
colocados sob custódia de autoridade ou de órgão competente para desenvolver
ações de redução da demanda e da oferta de drogas, para uso em tais ações ou
em apoio a elas;
VII - desempenhar as atividades de secretaria-executiva do Conselho Nacional
de Políticas sobre Drogas;
VIII - analisar e propor atualização da legislação pertinente à sua área de atuação;
IX - executar as ações relativas à gestão de ativos no âmbito da Política Nacional
sobre Drogas e aos programas federais de políticas sobre drogas;
X - organizar informações, acompanhar fóruns internacionais e promover
atividades de cooperação técnica, científica, tecnológica e financeira com outros
países e organismos internacionais, mecanismos de integração regional e sub-
-regional que tratem de políticas sobre drogas na sua área de atuação; e
XI - promover a construção do conhecimento sobre drogas no País, estimulando
estudos, pesquisas e avaliações sobre violência, aspectos socioeconômicos e
culturais, e ações de redução de oferta. (BRASIL, 2019c)

É notório o problema internacional que envolve as drogas, principalmente as ilícitas, mas


não podemos nos esquecer das drogas lícitas, que acabam conduzindo às primeiras. Contudo, o
enfoque é dado às drogas ilegais, que levam milhares de seres humanos a situações precárias de
vida. Dessa forma, não poderia deixar de constar na PNSPDS, bem como no Susp, tão preocupante
temática, que carece de estudos e medidas urgentes e aprofundadas.

5.3.8 Agentes de trânsito


A Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997, institui o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). E
consta do Código, em seu art. 1º, que:
§ 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos
e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no
âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar
esse direito.
[...]
§ 5º Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao Sistema Nacional de
Trânsito darão prioridade em suas ações à defesa da vida, nela incluída a
preservação da saúde e do meio-ambiente. (BRASIL, 1997)
A importância dada ao transporte e à locomoção levaram o legislador a instituir o Código de
Trânsito Brasileiro, criando inclusive a figura do agente de trânsito e alocando os órgãos de trânsito
dentro de um sistema nacional.
E segundo o art. 5º do CTB:
O Sistema Nacional de Trânsito é o conjunto de órgãos e entidades da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios que tem por finalidade
o exercício das atividades de planejamento, administração, normatização,
pesquisa, registro e licenciamento de veículos, formação, habilitação e
reciclagem de condutores, educação, engenharia, operação do sistema viário,
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 93

policiamento, fiscalização, julgamento de infrações e de recursos e aplicação


de penalidades. (BRASIL, 1997)

Do art. 7º do CTB de 1997, extraímos que o Sistema Nacional de Trânsito é composto pelos
seguintes órgãos e entidades:
I - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coordenador do Sistema e
órgão máximo normativo e consultivo;
II - os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho de Trânsito
do Distrito Federal - CONTRANDIFE, órgãos normativos, consultivos e
coordenadores;
III - órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
IV - órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios;
V - a Polícia Rodoviária Federal;
VI - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e
VII - as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações - JARI. (BRASIL, 1997)

Podemos acrescentar que a entidade concessionária ou autoridade portuária terá a


discricionariedade de celebrar convênios com os órgãos previstos no art. 7º, sendo necessária a
interveniência dos municípios e estados, para o fim de autuação por descumprimento das leis
de trânsito. Com base nisso, entendemos que as guardas portuárias podem também atuar como
agentes de trânsito desde que seja feito o devido convênio para tal.
Nesse tocante, vale o aprofundamento dos estudos com a leitura do CTB, para
conhecimento da importante área do trânsito, que certamente é uma das grandes preocupações
da Segurança Pública, bem como a questão da locomoção urbana, que tem despertado interesse
de estudiosos da área.
Assim, a temática também é contemplada dentro do Susp e da PNSPDS, pelos números
alarmantes de vítimas fatais, ou não, do caótico trânsito brasileiro.

5.3.9 Guarda Portuária


O registro mais antigo que encontramos sobre a Guarda Portuária é o Decreto n. 1.286, de
17 de fevereiro de 1893, que aprova o regulamento da Companhia das Docas de Santos. Consta do
art. 18, do histórico documento, a referência à polícia interna do porto (BRASIL, 1893).
Contudo, em que pese o Decreto n. 1.286 ser datado de 17 de fevereiro de 1893, a data
comemorativa da criação da Guarda Portuária é o dia 20 de novembro de 1913, pois, como
consta no Jornal do Porto, foi nessa data que ocorreu a publicação, no Diário Oficial da União
(DOU), do “regulamento para o serviço interno da administração e polícia portuária” (JORNAL
DO PORTO, 2018).
Em relação à organização da Guarda Portuária, foi editada pela Secretaria Especial de
Portos a Portaria n. 121, de 13 de maio de 2009, que dispôs sobre as diretrizes para a organização
dessa guarda.
94 Introdução à Segurança Pública

Na supracitada portaria, consta que a Guarda Portuária terá seus serviços organizados e
regulamentados pela administração dos respectivos portos, a fim de promover a segurança e a
vigilância na área portuária.
Ainda de acordo com a portaria, art. 2º, toda a área portuária será compreendida pelo
espaço destinado aos ancoradouros, docas, cais, pontes e píeres de atracação e acostagem, terrenos,
armazéns, edificações e vias de circulação interna pertencentes ao porto. Também entram nesse
contexto a infraestrutura de proteção e o acesso aquaviário ao porto (BRASIL, 2009).
As competências da Guarda Portuária estão no art. 5º da portaria e são as seguintes:
I - Elaborar os procedimentos a serem adotados em casos de sinistro, crime,
contravenção penal ou ocorrência anormal.
II - Exercer a vigilância na área do porto organizado, para garantir o
cumprimento da legislação vigente, em especial no tocante ao controle da
entrada, permanência, movimentação e saída de pessoas, veículos, unidades de
carga e mercadorias;
III - Prestar auxílio, sempre que requisitada, às autoridades que exerçam
atribuições no porto, para a manutenção da ordem e a prevenção de ilícitos;
IV - Auxiliar na apuração de ilícitos e outras ocorrências nas áreas sob
responsabilidade da Administração Portuária;
V - Elaborar, implementar e manter atualizado o Plano de Segurança Pública
Portuária;
VI - Prover meios, mecanismos, pessoal e aparelhamento necessários à plena
segurança e proteção das instalações portuárias, funcionários, mercadorias,
tripulantes e demais pessoas. (BRASIL, 2009)

Conforme vimos, cada porto é responsável pela administração de sua Guarda Portuária,
mas, segundo a Lei n. 12.815, de 5 de junho de 2013, que “Dispõe sobre a exploração direta e
indireta pela União de portos e instalações portuárias e sobre as atividades desempenhadas pelos
operadores portuários [...] Art. 17. A administração do porto é exercida diretamente pela União,
pela delegatária ou pela concessionária do porto organizado” (BRASIL, 2013).
A administração do porto é denominada autoridade portuária, e a ela compete “organizar a
guarda portuária, em conformidade com a regulamentação pelo poder concedente” (BRASIL, 2013).
Para ilustrar nosso estudo, trazemos como exemplo o Porto de Santos, que é o maior porto
da América Latina, e sua movimentação é de quase um terço das trocas comerciais brasileiras. A
autoridade portuária da cidade de Santos, vinculada à Companhia das Docas do Estado de São
Paulo, cuida do patrimônio do porto, e sua atuação se estende a missões de Segurança Pública
portuária. A Guarda Portuária ainda faz o controle de acesso de pessoas, de trânsito de cargas e
veículos, além de outras atividades referentes à repressão.
No Porto de Santos, a Guarda Portuária conta com 400 profissionais. São duas gerências: a
de Inteligência e Segurança, que promove o monitoramento e controle de acesso, além da coleta
de informações e dados; e a de Operação e Segurança, que é responsável pela logística de armas,
equipamentos, munição, viaturas, bem como pela circulação de veículos pelo porto. São 37 portões
para serem vigiados, sendo que o controle de acesso ao longo do cais é feito por eles e ainda há
pontos de vigilância em mais 16 locais.
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 95

Assim, a exemplo da Guarda Portuária de Santos, percebemos a importância desse efetivo


no controle de acessos e na segurança das importações e exportações de nosso país, o que justifica
a presença desses profissionais no Susp e na lei (no art. 9º, § 2º, XVI) como integrantes operacionais
desse sistema.

5.4 Composição formal e do funcionamento do Susp


Conforme vem seguindo nosso estudo, é perceptível que o Susp atua de modo integrado e há
uma formalidade a ser seguida, ditada pela Lei n. 13.675, de 2018. Essa legislação se desdobra em
outra também importante, tendo em vista a sua origem na Constituição Federal e os seus detalhes
que vêm sendo esclarecidos.
A se destacar, temos que o Susp é composto formalmente, como explicitado, pelos Conselhos
de Segurança Pública e Defesa Social, que se estabelecem no âmbito da União, dos estados e do
Distrito Federal, bem como dos municípios.
A PNSPDS desdobra-se a partir do Plano Nacional de Segurança Pública (arts. 22 e 23), a
ser observado por meio de suas diretrizes (art. 24) pelos agentes públicos. As metas estabelecidas
anualmente pelos integrantes do Susp (art. 25) são avaliadas periodicamente para se mensurar a
eficiência dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos, inclusive com apoio à educação qualificada,
continuada e integrada dos profissionais – frisando que tal prática é imprescindível para o sucesso
do Susp e das práticas da PNSPDS (BRASIL, 2018).
A avaliação necessária – que deve ser constante – é desenvolvida pelo Sistema Nacional
de Acompanhamento e Avaliação das Políticas de Segurança Pública e Defesa Social (Sinaped)
(BRASIL, 2018, art. 26) e tem, entre outros objetivos, o adequado diagnóstico dos trabalhos e da
eficácia da utilização dos recursos públicos.
Passando por rigoroso controle interno e externo, um ponto sempre a se destacar é a previsão
legal, na própria Lei do Susp, da capacitação e da valorização do profissional em Segurança Pública e
defesa social. Para tanto, foi instituído o Sistema Integrado de Educação e Valorização Profissional
(Sievap), que deve, entre outras coisas, buscar novas metodologias e técnicas de educação voltadas
ao aprimoramento dos profissionais.
São programas do Sievap, entre outros (art. 39, § 1º):
Art. 39. A matriz curricular nacional constitui-se em referencial teórico,
metodológico e avaliativo para as ações de educação aos profissionais de
segurança pública e defesa social e deverá ser observada nas atividades formativas
de ingresso, aperfeiçoamento, atualização, capacitação e especialização na área
de segurança pública e defesa social, nas modalidades presencial e a distância,
respeitados o regime jurídico e as peculiaridades de cada instituição. (BRASIL,
2018, grifos nossos)

A Renaesp, integrada por instituições de ensino superior, observadas as normas de licitação


e contratos, tem como objetivo, conforme art. 40:
96 Introdução à Segurança Pública

I - promover cursos de graduação, extensão e pós-graduação em segurança


pública e defesa social;
II - fomentar a integração entre as ações dos profissionais, em conformidade
com as políticas nacionais de segurança pública e defesa social;
III - promover a compreensão do fenômeno da violência;
IV - difundir a cidadania, os direitos humanos e a educação para a paz;
V - articular o conhecimento prático dos profissionais de segurança pública e
defesa social com os conhecimentos acadêmicos;
VI - difundir e reforçar a construção de cultura de segurança pública e defesa
social fundada nos paradigmas da contemporaneidade, da inteligência, da
informação e do exercício de atribuições estratégicas, técnicas e científicas;
VII - incentivar produção técnico-científica que contribua para as atividades
desenvolvidas pelo Susp. (BRASIL, 2018)

Já o Programa Nacional de Qualidade de Vida (Pró-Vida): “tem por objetivo elaborar,


implementar, apoiar, monitorar e avaliar, entre outros, os projetos de programas de atenção
psicossocial e de saúde no trabalho dos profissionais de Segurança Pública e defesa social, bem como
a integração sistêmica das unidades de saúde dos órgãos que compõem o Susp” (BRASIL, 2018)
Desde a composição ao emprego do profissional que atua no Susp, foi pensada a
articulação sistêmica, integrada e harmoniosa, inclusive tendo como preparação ferramentas
de formação, a exemplo da Matriz Curricular. Um ponto a ser lembrado constantemente é que
os profissionais que atuam nessa área estão sob constante estresse e, por isso, sabiamente, o
legislador previu em texto legal a atenção psicossocial e de saúde das mulheres e dos homens que
atuam diuturnamente, revezando-se em escalas na busca da paz social.
Legislação, ferramentas e previsão política há, o que se necessita agora é de implementação
e efetivamente cobrar resultados para que o cidadão sinta a desejada sensação de segurança.

Considerações finais
Destacamos, mais uma vez, a importância de políticas públicas bem elaboradas (com efeito
direto sobre a qualidade de vida do cidadão) e de como são aplicados os recursos públicos.
Saúde, transporte, habitação e, principalmente, educação são questões que devem ser
melhoradas a cada instante pelo governo e pela Administração Pública, que é formada por
profissionais que devem trabalhar para o bem-estar do cidadão, e não ao contrário – o que,
infelizmente, muitas vezes ocorre com aqueles com menos informação e condições econômicas,
situação causada pela falta de adequação da verba pública para o seu desenvolvimento.
Um passo importante se dá quando se busca a informação, quando se abre a mente para
novos conhecimentos e desafios. Nosso desafio, vencido juntos, foi o de estudar a temática da
Segurança Pública de maneira introdutória, porém entendendo que se trata de uma área que
necessita de políticas públicas de excelência.
Com a edição da lei n. 13.675, de 11 de junho de 2018, criou-se a Política Nacional de
Segurança Pública e também o Sistema Único de Segurança Pública, e, com a nova lei, surgiu
Sistema Único de Segurança Pública (Susp) 97

também o regramento das atividades que devem ser desenvolvidas por todos os envolvidos no
novo sistema.
Este capítulo destinou-se a destacar alguns pontos que servem de início para uma análise
mais aprofundada de todo o contexto que se espera alcançar. Somando-se isso ao conteúdo
apresentado nos outros capítulos, é possível verificar que o ganho de conhecimento pode ser
exponencial, desde que se aproveite tudo o que foi ofertado e que, dentro da filosofia da formação
integral e continuada, você continue a buscar mais.

Ampliando seus conhecimentos


• BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Plano e Política Nacional de Segurança
Pública e Defesa Social, 2018. Disponível em: https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/
seguranca-publica/plano-e-politica-nacional-de-seguranca-publica-e-defesa-social.pdf/
view. Acesso em: 6 set. 2019.
Como sugestão para seus estudos, indicamos a leitura do Plano e Política Nacional de
Segurança Pública e Defesa Social. Com ele, você poderá entender um pouco mais sobre os
conceitos envolvidos na temática e também compreender a profundidade e importância
da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social.

• BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. CorSUSP. 2019. Disponível em:


https://www.justica.gov.br/seus-direitos/elaboracao-legislativa/projetos/susp/corsusp.
Acesso em: 6 set. 2019.
Como segunda sugestão para seus estudos, indicamos que você conheça o CorSUSP,
órgão de correição com autonomia de suas competências. A ele cabe apurar a
responsabilidade funcional, entre outras demandas provenientes com base no art. 33
da Lei do Susp.

Atividades
1. Qual a diferença entre os órgãos policiais próprios e os impróprios, na definição de Foureaux
(2019)?

2. Na PNSPDS, estudamos sobre o Sievap, o Renaesp e o Pró-vida, medidas que buscam


valorizar os profissionais de Segurança Pública. A que se referem esses programas?

3. Qual é a finalidade da criação da Lei n. 13.675, de 11 de junho de 2018?

Referências
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 set. 2019.
98 Introdução à Segurança Pública

BRASIL. Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF,
1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm. Acesso em: 6 set. 2019.

BRASIL. Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 2006.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 6 set.
2019.

BRASIL. Portaria n. 121, de 13 de maio de 2009. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 2009. Disponível em:
http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=3&data=14/05/2009. Acesso
em: 10 set. 2009.

BRASIL. Lei n. 12.815, de 5 de junho de 2013. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 2013.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12815.htm. Acesso em: 6
set. 2019.

BRASIL. PEC 372/2017. Proposta de Emenda à Constituição. Câmara dos Deputados, 2017. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2158716. Acesso em: 6 set.
2019.

BRASIL. Lei n. 13.675, de 11 de junho de 2018. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 2018.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13675.htm. Acesso em: 4 set.
2019.

BRASIL. Glossário. Senado Federal, 2019a. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/orcamento/


glossario/. Acesso em: 10 set. 2019.

BRASIL. Glossário de Termos Legislativos: Mensagem de Veto. Congresso Nacional, 2019b. Disponível em:
https://www.congressonacional.leg.br/legislacao-e-publicacoes/glossario/-/definicoes/termo/mensagem_
de_veto. Acesso em: 10 set. 2019.

BRASIL. Decreto n. 9.662, de 1º de janeiro de 2019. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília,
DF, 2019c. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9662.
htm#anexo1. Acesso em: 6 set. 2019.

BRASIL. Secretaria de Estado de Segurança Pública. Portal Transparência. 2019d. Disponível em: http://
www.transparencia.mt.gov.br/-/secretaria-de-estado-de-seguranca-publica?ciclo=cv_secretarias_de_
estado. Acesso em: 10 set. 2019.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. 2019e. Disponível em: http://mi.gov.br/historico-sedec.


Acesso em: 6 set. 2019.

BRASIL. Decreto n. 1.286, de 17 de fevereiro de 1893. Coleção de Leis do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF,
1893. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1286-17-fevereiro-
1893-524252-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 18 set. 2019.

COSTA, A.; GROSSI, B. Relações intergovernamentais e segurança pública: uma análise do fundo nacional
de segurança pública. Revista Brasileira de Segurança Pública. v. 1, n. 1, 2007. Disponível em: http://revista.
forumseguranca.org.br/index.php/rbsp/article/view/4. Acesso em: 14 ago. 2019.

DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional. Ministério da Justiça e Segurança Pública. 2019. Disponível
em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/quem-somos-1. Acesso em: 5 set. 2019.

FOUREAUX, R. Segurança pública. Salvador: JusPodivm, 2019.

JORNAL DO PORTO. v. 6, n. 68, novembro/2018. Disponível em: http://portodevitoria.com.br/scriptcase/


file/doc/codesa_arquivos/Jornal-novembro-2018.pdf. Acesso em: 6 set. 2019.

SOUZA, C. Políticas públicas: uma revisão de literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, n. 16, p. 20-45.
jul./dez. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16. Acesso em: 15 ago. 2019.
Gabarito

1 Evolução da Segurança Pública


1. “A Segurança Pública corresponde, pois, a um estado que possibilita (viabiliza) o livre
exercício dos direitos, liberdades e garantias consagrados na Constituição e na lei”
(SOUSA, 2009, p. 30).

2. Conforme estudado, a Segurança Pública abarca vários setores do conhecimento, a


união entre Estado e sociedade é importante para que os problemas relativos a Segurança
Pública sejam resolvidos, a polícia é importante nessa empreitada, contudo não pode e
nem deve agir sozinha e sim em parceria.

3. O uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio,


contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha
grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de
desenvolvimento ou privação.

4. É a violência destinada a degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças


e decisões de outra pessoa por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou
indireta, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à
saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal.

2 O direito fundamental à Segurança Pública


1.

a) É a universalidade de direitos naturais que garantem a proteção global do homem e


válido em todos os tempos. Trata-se de direitos que não estão nos textos constitucionais
ou, nem mesmo, em tratado de proteção aos direitos humanos.
É assim, reservado do direito que se sabe ter, mas que de fato existe somente no plano
natural.
b) São aqueles constituídos em um certo momento histórico, em um determinado
Estado. São direitos constitucionalmente protegidos, ou seja, estão positivados uma em
uma ordem jurídica.
c) São direitos positivados em tratados internacionais, ou seja, são direitos compreendidos
no âmbito do direito internacional público. A proteção a esses direitos é feita mediante
convenções globais, por exemplo, pacto internacional sobre direitos civis e políticos ou
regionais, por exemplo, ou a convenção americana de direitos humanos.
100 Introdução à Segurança Pública

2. Dispositivo constitucional que não pode ser alterado nem mesmo por Proposta de Emenda
à Constituição (PEC). As cláusulas pétreas inseridas na Constituição do Brasil de 1988 estão
dispostas em seu artigo 60, § 4º. São elas: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto,
universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e garantias individuais.

3. Os direitos fundamentais têm as seguintes características: universais, inalienáveis,


irrenunciabilidade, relatividade, historicidade.

Universais: Há o consenso na comunidade internacional de que todos os Estados devem


reconhecer e positivar um rol de direitos fundamentais, de maneira que estes se caracterizam
como universais.
Inalienáveis: Os direitos fundamentais são destituídos de conteúdo econômico-patrimonial,
e por esta razão são intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis, pelo que se caracterizam
como inalienáveis.
Irrenunciabilidade: Admiti-se, no entanto, em alguns casos e sob específicas condições,
a limitação voluntária ao gozo de certos direitos, desde que não implique a aniquilação do
direito fundamental, como ocorre nas hipóteses de não exercício de determinado direito a
que seu titular voluntariamente se compromete.
Relatividade: Significa que nenhum direito fundamental é absoluto, no sentido de seu gozo
não admitir restrições, uma vez que em casos concretos em que outros direitos também
consagrados na Constituição como fundamentais se apresentem em colisão com os primeiros
deverá haver a ponderação dos interesses em conflito.
Historicidade: Revela-se na circunstância que estes direitos surgem e se desenvolvem de
acordo com os valores e concepções vigentes em cada momento histórico da sociedade a
que se destina, o que possibilita a modificação de seus respectivos sentidos e conteúdos para
a adaptação à dinâmica social.

3 Segurança Pública na Administração Pública


1. O princípio da supremacia do interesse público está especialmente centrado no direito
constitucional e administrativo, que são ramos do direito público. Entendemos que o
princípio da supremacia do interesse público é o princípio que coloca o interesse da
coletividade em evidência em relação ao interesse individual.

2. Obra pública: é uma atividade estanque, com projeto que determina início e fim das
atividades. O serviço difere da execução de obras porque é uma atuação constante,
configurando comodidade prestada de forma contínua.

Poder de Polícia: trata-se de atuação restritiva do poder público, diferente da prestação de


serviço que é ampliativa.
Exploração de atividade econômica: quando o ente estatal atua no mercado, explorando
atividade econômica, submete-se às normas de direito privado, não se beneficiando das
prerrogativas de poder público.
Gabarito 101

3. No entendimento de Silva (2010), nossa Carta Constitucional estabelece que Segurança


Pública é serviço público. Quando interpreta o texto da constituição e constata a presença
das seguintes características de serviço público:

a) destinada à coletividade;
b) prestada pelo Estado;
c) regida pelo direito público.

4 Órgãos de Segurança Pública


1. A Ordem Pública é objeto da Segurança Pública, “na medida em que esta constitui um dos
instrumentos para se buscar a ordem pública” (FOUREAUX, 2019, p. 28).

Na doutrina verificamos que a Ordem Pública se divide em Segurança Pública, salubridade


pública e tranquilidade pública.
Segurança Pública:
É o conjunto de processos políticos e jurídicos destinados a garantir a ordem
pública na convivência de homens em sociedade. Está implícito no referido
conceito:
o valor garantido: O QUÊ, no caso, a convivência pacífica;
o autor da garantia: QUEM, é o Estado, detendo o monopólio do uso da força;
o risco: CONTRA O QUÊ, como sendo o antivalor, isto é, a perturbação
potencial ou efetiva da ordem pública;
4) a modalidade de poder como fator de garantia: COM O QUÊ, pelo exercício
do poder de polícia em quatro modalidades ou fases: a ordem de polícia;
consentimento de polícia; a fiscalização de polícia e a sanção de polícia.
(VALLA, 2012, p. 7)
Tranquilidade pública:
É o estágio de serenidade em que se encontra uma sociedade, tendo no clima de
convivência harmoniosa e pacífica o seu fundamento mais importante. Por isso,
a tranquilidade pública concorre para produzir o efeito agradável da situação de
bem-estar social. (VALLA, 2012, p. 4)
Salubridade pública:
A salubridade pública refere-se ao que é saudável e faz bem à saúde pública,
à saúde das pessoas, em geral, e de uma determinada comunidade, de forma
que permita o livre trânsito das pessoas, bem como a moradia e o convívio
salutar. Dessa forma, a vacina, a fiscalização em estabelecimentos do ramo
de alimentos, inspeções sanitárias, comunicação por médicos às autoridades
públicas de doenças de notificação compulsória, dentre outros, são medidas que
visam à salubridade pública. (FOUREAUX, 2019, p. 29)

2. De acordo com a Constituição Federal são cinco, mas se considerarmos o caso dos Estados
em que os Corpos de Bombeiros Militar ainda pertencem às Polícias Militares.

Na maioria dos Estados o Corpo de Bombeiros atualmente está desvinculado das Polícias
Militares, então teríamos seis órgãos nos estados – mas segundo a Constituição Federal de
1988 ainda temos a contagem de cinco.
102 Introdução à Segurança Pública

A competência de cada um dos órgãos está na própria Constituição Federal de 1988, em seu
art. 144, incisos e respectivos parágrafos.
Não há hierarquia entre os órgãos policiais.

3. Ocorre a interseção entre os dois ciclos, um ponto de encontro, em que o ciclo de polícia
encontra o ciclo da persecução criminal é no momento da quebra da ordem pública.

5 Sistema Único de Segurança Pública (SUSP)


1. Aos órgãos que constam do art. 144 da Constituição Federal de 1988, Foureaux (2019)
chamou de órgãos policiais próprios, que podem também ser chamados de órgãos policiais
de Segurança Pública, que tem por atribuição principal a preservação da ordem pública,
da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Aos outros órgãos que colaboram com a
Segurança Pública, inclusive com poder de polícia para as atividades que desenvolvem,
porém, sendo esta atividade não precipuamente de preservação da ordem pública, da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, e não estando estes órgãos elencados no art. 144
da Constituição Federal de 1988, Foureaux chamou-os de órgãos policiais impróprios.

2. A Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública (RENAESP), o Programa


nacional de qualidade de vida para Segurança Pública e defesa social (Pró-Vida) e ainda a
Matriz Curricular Nacional fazem parte do Sistema Integrado de Educação e Valorização
Profissional (Sievap), como programas. Todos visam a melhor profissionalização, educação
e a melhor qualidade de vida do profissional de Segurança Pública.

3. A finalidade vem já no art. 1º, caput da Lei do SUSP e estabelece:


Esta Lei institui o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e cria a Política
Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), com a finalidade de
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
por meio de atuação conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos órgãos de
segurança pública e defesa social da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, em articulação com a sociedade. (BRASIL, 2018, grifos nossos)
Onde há aglomeração de pessoas, seja no campo
ou na cidade, haverá a presença do crime e da

INTRODUÇÃO A SEGURANÇA PÚBLICA


violência que o acompanha, em maior ou menor
intensidade. Nesse sentido, os olhos treinados dos
profissionais de segurança pública são essenciais
para identificar esses problemas e apontar soluções
adequadas e eficientes para cada uma das formas
pelas quais o crime pode se manifestar.

A segurança pública tem sido tema recorrente e


abordado em muitos debates. Neste livro, busca-
-se trazer informações úteis e inaugurais que
permitirão ao leitor um maior aprofundamento
nesse tema. Certamente, esse é um campo fértil
para aquele que busca o extraordinário e deseja
compreender a vida em sociedade.

MARCELO TREVISAN KARPINSKI

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6525-7

58851 9 788538 765257

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