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A ciência da antiguidade

nesse texto, o nascimento do tempo está associado ao início do movi-


mento dos astros. O Timeu ganhou mais tarde um grande prestígio,
principalmente durante o Renascimento: no século XVI, por exemplo,
4
aula
serviu de base para Johannes Kepler em suas obras sobre astronomia.
Aristóteles (384–322 a.C.) foi o fundador da lógica, e estabele-
ceu um conjunto de regras rígidas para que conclusões pudessem
Premissa
ser aceitas, baseadas em premissas e conclusões. Seu raciocínio
Princípio que dá base a
um raciocínio.

Silogismo

Raciocínio estruturado
a partir de duas premis-
sas das quais, por dedu-
ção, se tira uma terceira,
a conclusão.

Metafísica

Que procura conhecer


os fundamentos da rea-
lidade; trata de proble-
mas sobre o propósito e
Representação do Sistema Geocêntrico. a origem da existência e
dos seres. O início do
era estruturado em silogismo, isto é, a partir de duas premissas das uso dessa palavra se
deu com Andrônico de
quais, por dedução, se tirava uma terceira, a conclusão. Rodes, que ao organizar
Aristóteles foi, durante uma primeira fase de sua vida, discípu- os escritos de Aristóte-
les, o fez de forma espa-
lo de Platão, freqüentando a Academia por ele fundada. Com o pas- cial. Aqueles que trata-
sar dos anos, ele reconhece no mestre uma alma indisciplinada e vam de temas relaciona-
dos à physis (natureza)
irregular, que passava mais tempo em contemplação, buscando en- viam antes dos outros,.
contrar a verdade mais nas idéias, do que em contato com a realida- Assim, temas como éti-
ca e política vinham de-
de simples, que mitificava. Platão rejeitava a experiência como fon- pois da physis, metha-
te de conhecimento certo, já Aristóteles tomava sempre o fato como physis (do grego Metha
= depois, além; Physis =
ponto de partida de suas teorias, buscando na realidade um apoio física).
sólido às suas mais elevadas especulações metafísicas. Devido a
ter se tornado contrário a essa “Teoria das Idéias” de Platão,
Aristóteles funda o Liceu, que em oposição à Academia, privilegia-
va as ciências naturais. Para Aristóteles, tudo no mundo se move

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Introdução à Física

para preencher uma necessidade, entre as várias causas que deter-


minam um acontecimento, a final é a mais importante. Por exem-
plo, a causa final da chuva não é física, chove porque os seres vivos
precisam de água, a pedra cai para alcançar seu lugar natural.
Mas sua mecânica, embora baseada em observações físicas,
era essencialmente qualitativa, faltando-lhe a matematização ca-
paz de dotá-la de uma efetiva capacidade de realizar previsões.
Suas premissas cosmológicas possuíam certos erros fundamentais.
No seu modelo geocêntrico, Aristóteles acredita que a Terra é o
centro do Universo, julgando que os corpos celestes giram em tor-
no dela. Este modelo inaugura um longo reinado de modelos
cosmológicos baseados em movimentos circulares, que seriam
sucessivamente aperfeiçoados nos séculos seguintes. Para
Aristóteles, além dos quatro elementos que conhecemos na Terra
(terra, fogo, água, ar), existiria um quinto elemento celestial, a
quintessência, o éter. Este elemento seria responsável pela diferença
na natureza dos movimentos dos corpos celestes dos terrestres.
Os corpos sobre a superfície da Terra obedeceriam a leis comple-
tamente diferentes dos corpos celestes. Essa distinção foi incor-
porada pela astronomia ocidental, permanecendo como um dogma
científico e religioso durante toda a Idade Média. Somente na Re-
nascença haveria novamente uma unificação das leis da mecânica
celeste e da superfície terrestre.
Ao longo de sua trajetória intelectual, Aristóteles adaptou as
idéias de Platão às necessidades de uma ciência no sentido ociden-
tal, distinguindo o mundo Físico do Metafísico. O mundo Físico
derivaria da sistematização da experiência do mundo exterior, en-
quanto que o mundo Metafísico provém, essencialmente, da refle-
xão. Esta distinção é fundamental para a elaboração de uma ciência
capaz de descrever com fidelidade os fatos observados na natureza
exterior da reflexão puramente intelectual. A metodologia empírica
proposta por Aristóteles se assemelha em aspectos básicos com
qualquer ciência experimental e podemos dizer que a ciência oci-
dental efetivamente começou com ele. Geralmente, no estudo de

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A ciência da antiguidade

uma questão, Aristóteles procede por partes: começa a definir-lhe o


objeto; passa a enumerar-lhes as soluções históricas; propõe depois as
dúvidas; indica, em seguida, a própria solução; refuta, por último,
4
aula
as sentenças contrárias.
Aristóteles escreveu cerca de cento e vinte obras, das quais 47
sobreviveram até hoje. Muitos livros seus se perderam por serem
considerados proibidos durante a Idade Média. As obras de
Aristóteles foram as mais lidas, discutidas e comentadas da Anti-
guidade, deixando um legado inestimável para a história da
cultura, e alterando de forma definitiva o curso da história
da filosofia. ATIVIDADES

Identifique alguns dados citados no texto e sua correlação com a


astrologia e a numerologia na atualidade.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

No horóscopo chinês, cada ano pertence a um dos 12 signos que


formam o Astral Chinês, e recebe o nome de um dos 12 animais: galo,
cão, porco, rato, búfalo, tigre, gato, dragão, serpente, cavalo, cobra e
macaco, como no calendário chinês antigo. Os signos e ascendentes da
astrologia ocidental também exibem uma evidente semelhança entre
a divisão egípcia do ano em constelações. A astrologia babilônica,
conjuntamente com a Astronomia egípcia, são a base da astrologia
Ocidental. Por exemplo, Leão, Touro, Escorpião são constelações do
Zodíaco que vieram diretamente dos babilônios.
Já, segundo a numerologia, cada número ou valor numérico é
dotado de uma vibração ou essência individual e indicaria
tendências de acontecimentos ou de personalidade, apesar de
não haver qualquer evidência científica de que os números
apresentem tais propriedades. Pitágoras é considerado por
alguns numerólogos o pai da numerologia, apesar de não haver
qualquer relação entre os cálculos que formam o mapa
numerológico e o filósofo grego.

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Introdução à Física

ATIVIDADES

Identifique algum sistema atual que seja baseado no sistema de


numeração babilônico.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Existem vários exemplos de sistemas atuais baseados no


sistema babilônico com base 60. Por exemplo, nossa divisão
da circunferência em 360 graus, a hora em 60 minutos e estes
em 60 segundos e com isso o dia em 24 horas são claramente
baseados no sistema babilônico.

ATIVIDADES

Baseado nas informações sobre os sistemas numéricos descritos,


identifique qual é o nosso sistema de numeração?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Como você deve ter claramente percebido, nosso sistema de


numeração é o próprio sistema hindu. Ele foi desenvolvido
no século V d.C. pelos hindus e transmitido ao Ocidente pelos
árabes, por isso o denominamos algarismos “indu-arábicos”.
Eles foram divulgados no Ocidente por volta do ano 1000
d.C., mas os métodos de cálculo correspondentes só foram
efetivamente assimilados trezentos anos mais tarde, por
ocasião das Cruzadas.

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A ciência da antiguidade

ATIVIDADES

Relacione as frases a seguir com seus prováveis criadores da Grécia


4
aula
Antiga, e comente o que o levou a essa conclusão.
a) Quando retas paralelas são cortadas por retas transversais, as medidas
dos segmentos correspondentes determinados nas transversais são proporcionais.
b) Todas as coisas são números.
c) Só sei que nada sei.
d) Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal.
e) Se Deus pode acabar com o mal, mas não quer, é monstruoso; se quer, mas
não pode, é incapaz; se não pode nem quer, é impotente e cruel; se pode e quer,
por que não o faz?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

a) Tales de Mileto, em seu teorema sobre razão e proporção.


O Teorema de Tales afirma que quando retas paralelas são
cortadas por retas transversais, as medidas dos segmentos
correspondentes, determinados nas transversais, são
proporcionais.
b) Pitágoras, para quem o Universo seria inteiramente regido
por harmonia e número. A observação dos astros sugeriu-lhe a
idéia de que uma ordem domina o universo. Pitágoras e os
pitagóricos investigaram as relações matemáticas e descobriram
vários fundamentos da Física e da Matemática.
c) Sócrates, pois ele sempre dizia que sua sabedoria era
limitada a sua própria ignorância. Ele achava que o filósofo é
aquele que admite não entender inúmeras coisas, e que se aflige
com isso. Nesse sentido, o filósofo ainda é mais sábio do que
aqueles que se orgulham do conhecimento que têm das coisas
sobre as quais, na verdade, nada sabem.
d) Aristóteles, pois foi ele o fundador da lógica, com o seu
silogismo. Essa frase representa uma forma que ele considerava

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Introdução à Física

que mostraria o caminho correto para a investigação, o


conhecimento e as demonstrações científicas. Apesar dos
enormes avanços que produziu, a lógica aristotélica tinha
enormes limitações que se revelaram mais tarde, verdadeiros
obstáculos para o avanço da ciência.
e) Epicuro, pois em seus ensinamentos é excluída qualquer
explicação metafísica da realidade, não procurando nada nem
invocando outra origem das coisas além da natureza.

Capa da Lógica, de Aristóteles (Fonte: http://upload.wikimedia.org).

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A ciência da antiguidade

O s conhecimentos que temos hoje sobre o mundo físico


4
resultaram de um longo processo histórico de experiên-
aula
cias, descobertas, acertos e erros. Mesmo descobertas, que hoje po-
dem parecer simples para nós, como domínio do fogo e a invenção
da roda, alteraram para sempre a história da hu-
manidade. As civilizações pré-históricas e aque- CONCLUSÃO
las que fizeram a transição da história para a
história contribuíram com dados astronômicos,
com criação de símbolos e desenvolvimento matemático, extrema-
mente importante para a base da Física.
Mas, conhecimentos obtidos confundiam-se com mitos e reli-
gião. Foram os gregos que romperam com esse tipo de pensamento
alterando de forma drástica a visão do mundo do ser humano. Com
eles se deu um enorme salto científico, pois formularam racional-
mente os princípios explicativos do movimento, da constituição da
matéria, do peso do comportamento da água, etc. Foram os gregos
que abriram definitivamente as portas do desenvolvimento intelec-
tual e do conhecimento científico que temos na atualidade.

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Introdução à Física

RESUMO
Glossário
Desde o início de nossa espécie, na luta pela sobrevivência,
o homem foi aprendendo a conhecer a natureza e desvendar
seus segredos. Os primeiros grandes desenvolvimentos da
humanidade se deram pelo domínio do fogo, da agricultura da
domesticação dos animais, da criação da cerâmica, da roda, das
ferramentas metálicas, da navegação, etc. Houve um salto na qua-
lidade de vida pela diminuição dos esforços na produção de ali-
mentos, o que possibilitou, entre outras coisas, a vida em cidades.
Com o surgimento da escrita, o ser humano criou uma forma de
registrar suas idéias e de se comunicar.
O registro de dados astronômicos na antiguidade se iniciou há mi-
lênios, sobretudo no Egito e Babilônia, e deu origem aos calendári-
os. Forneceu ainda importantes alicerces aos progressos da Mecâni-
ca e ajudou a construir muitas das bases de nossa Ciência atual.
Outras civilizações como a Chinesa, a Maia, a Inca, contribuíram
com o desenvolvimento do conhecimento científico, mas é a civili-
zação Grega Antiga que é considerada como base da cultura da
civilização ocidental. Os gregos tiveram influência no sistema edu-
cacional, na filosofia, na ciência, na tecnologia, em vários outros
campos da civilização atual. Eles tentaram explicar o mundo atra-
vés, unicamente, da razão, colocando-a acima dos seus mitos e uti-
lizando-a como instrumento a serviço do próprio homem.
A busca de explicações na natureza, e não na mitologia, iniciou-se
na escola Jônica, tendo como seus expoentes três grandes filósofos
da cidade de Mileto: Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Com eles
se inicia a idéia de um elemento fundamental de que seriam feitas
todas as coisas.
A teoria atômica foi formulada por Leucipo e confirmada por
Demócrito, que afirma que a matéria seria constituída por partícu-
las minúsculas e indivisíveis, o átomo.
Para os pitagóricos a Geometria e a Matemática possuíam um papel
privilegiado, em que o Universo seria inteiramente regido por “har-

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A ciência da antiguidade

Glossário
monia e número”. Essa crença na existência de uma ordem mate-
mática por trás da natureza é bastante atual e está subentendido
nos modelos gerais da Física contemporânea. Platão, que foi mes-
4
aula
tre de Aristóteles e discípulo de Sócrates, compilou a doutrina
deste último, dando continuidade aos trabalhos desenvolvidos pe-
los pitagóricos.
Fundador da lógica, Aristóteles propunha uma metodologia empírica
semelhante em aspectos básicos com qualquer ciência experimental.
Ele buscava na realidade um apoio sólido às suas especulações
metafísicas. Apesar de alguns dos dogmas científicos e religiosos
durante toda a Idade Média terem sido baseados em suas idéias, como
a de que a Terra seria o centro do Universo, Aristóteles deixou um
legado inestimável para a história da cultura.

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, iremos estudar um período turbulento: a


decadência do Mundo Antigo e o advento da Idade Média,
que representou um enorme retrocesso para a Ciência.

99
Introdução à Física

REFERÊNCIAS

ALONSO, M. S.; FINN, E. J. Física. São Paulo: Edgard Blücher


Editora, 1999.
FEYNMAN, R. P.; LEIGHTON, R. B.; SANDS, M. The Feynman
lectures on Physics v. 1. 2 ed. Oxnard: Addison Wesley, 1964.
FRANCO, H. Curso de evolução dos conceitos da Física do
IFUSP. Disponível em <http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d/
>. Acesso em 01/11/2007.
MACEDO, Cláudio Andrade. Apostila do Curso de Introdução
à Física da UFS. São Cristóvão, 2006.
VALERIO, Mário Ernesto G. Notas de aula do Curso de Intro-
dução à Física da UFS. São Cristóvão, 2006.
http://www.sbmac.org.br/bol/bol-2/artigos/jader/jader.html.
http://scientia.artenumerica.org.

100
1
livro

A CIÊNCIA DA IDADE MÉDIA


META
5
aula
Mostrar como a ciência pode
alterar (ou ser alterada pelo) o
desenvolvimento
da sociedade.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá:
descrever as grandes
contribuições científicas do Período
Helenístico;
definir como a sociedade da Idade
Média gerou a estagnação do
conhecimento científico;
identificar como a dissociação
entre a religião e a ciência pode
contribuir para a evolução do
conhecimento;
identificar e contextualizar as
grandes contribuições científicas
ocorridas na Idade Média;
definir a visão dos pensadores da
Idade Média acerca dos
fenômenos físicos e como a
violação à liberdade de opinião e
expressão pode ser altamente
prejudicial ao desenvolvimento das
ciências e da humanidade; e
reconhecer como a ciência pode
influenciar o pensamento social e
político de um povo e vice-versa. Santo Agostinho (Fonte: http://www.suemedei-
ros.kit.net).

PRÉ-REQUISITOS
O aluno deverá fazer uma reflexão
sobre as sociedades dominadas
pela religião e o desenvolvimento
ciêntifico atual.
Introdução à Física

O lá! Você lembra que na aula passada vimos como a civi-


lização grega chegou ao seu apogeu? E que seus grandes
pensadores influenciavam diretamente na grandeza dessa socieda-
de? Pois é, na aula de hoje, veremos mesmo que a ciência não está
desvinculada das atividades políticas, culturais
e religiosas de um povo, mas é frequentemen-
INTRODUÇÃO
te influenciada por elas, e também as influen-
cia drasticamente. Veremos como o descaso
com o conhecimento e a ausência de um desenvolvimento científi-
co pode ajudar a degradar até mesmo um grande império, e que por
isso, os governantes e os lideres religiosos sempre tiveram medo do
poder que a ciência tem de instruir o povo.

Mosaíco romano, representando Alexandre III em seu cavalo, Bucéfalo (Fonte: http://
quico97.no.sapo.pt).

102
A ciência da idade média

A Grécia, particularmente a cidade de Atenas, viveu seu mo-


mento de maior esplendor cultural no século V a.C., épo-
ca de apogeu da democracia, em que a cidade combinou guerra e
desenvolvimento. Porém, as constantes guerras foram responsáveis
5
aula
por grande mortalidade, gastos e destruição, en-
fraquecendo o “mundo grego”. Como você deve
OS HELENOS
imaginar, esse enfraquecimento facilitou as in-
vasões estrangeiras. Os macedônios liderados
por Filipe II conquistaram o território grego em 338 a.C. Dois anos
depois, na seqüência do assassinato, seu filho, Alexandre, o Gran-
Preceptor
de, aos vinte anos, tornou-se rei da Macedônia e senhor de toda a
Educador particular de
Grécia. Durante o seu curto reinado de treze anos, Alexandre reali- criança ou jovem.
zou a conquista de territórios mais rápida e espetacular da Antigui-
Cânone
dade: conquistou um império que ia dos Balcãs à Índia, incluindo
também o Egito e a Báctria (região do atual Afeganistão). Fundamento, padrão.
A astronomia da Grécia antiga, como outros aspectos de sua
cultura, foi comprometida por essa invasão dos macedônios. No en-
tanto, Alexandre, que teve como preceptor o filósofo Aristóteles, era
educado nos cânones da cultura grega (o helenismo) e fez o que pôde
para levar e difundir essa cultura aos territórios que conquistava an-
tes de sua morte prematura, aos 33 anos, provavelmente malária.
Esse grande general tinha uma visão científica e cultural incrí-
vel: ele pretendia criar um grande estado multiétnico, onde os co-
nhecimentos de todos os povos, por ele conquistados (gregos, persas
e asiáticos), coexistiriam à cultura macedônica. Alexandre fundou
no Egito Alexandria em 332 a.C, considerado o início da civiliza-
ção helênica que perdurou até o final do século IV d.C.. Essa cida-
de viria a se tornar o maior centro cultural, científico e econômico
da Antigüidade por mais de 300 anos (mais ou menos como Nova
York ou Paris nos dias de hoje), até ser substituída por Roma. Lá
existiram as mais importantes instituições culturais da civilização
helênica: o Museu, diferente do que hoje conhecemos, era uma es-
pécie de universidade de sábios. Estima-se que a grande biblioteca
de Alexandria, que teria partido da biblioteca pessoal de Aristóteles,

103
Introdução à Física

concentraria mais de 400.000 rolos de papiro, podendo ter chegado


a 1.000.000. Essa biblioteca foi parcialmente destruída diversas
vezes e teria sofrido destruição completa em 641 em um grande
incêndio, uma perda imensa para a humanidade!
O período helenístico, normalmente entendido como um mo-
mento de transição entre o esplendor da civilização grega e o de-
Solstício de verão
senvolvimento da cultura romana, caracterizou-se pela difusão da
Época em que o Sol está
cultura grega numa vasta área que se estendia do mar Mediterrâneo
mais longe do equador,
ao Norte ou ao Sul. oriental à Ásia Central. Durante esse período, a Ciência alcançou
um grande desenvolvimento, não sendo ultrapassada nas suas reali-
zações durante muitos séculos. Para que você conheça alguns dos
grandes nomes da época, vou citar: na Matemática, Euclides de
Alexandria, autor de Elementos, lançou nesta obra as bases da geo-
metria como ciência, hoje conhecida como geometria euclidiana,
dos quais decorrem várias relações geométricas conhecidas, incluí-
do o famoso teorema de Pitágoras; Apolônio de Perga estudou as
seções cônicas. Heron de Alexandria (séc. II D.C.) no seu livro Pneu-
mática concebeu o precursor da máquina à vapor e apresentou o
princípio do Sifão.
O Sol cruza o equador celeste em dois pontos associados O diâmetro da
aos equinócios da esfera celeste. Esses dois pontos Terra foi medido por
correspondem aos lugares onde os dias têm a duração igual
Erastótenes Cirene
a da noite (21 de março e 22 de setembro). Hiparco se deu
conta de que havia um deslocamento lento, mas perceptível (275 a.C.-194 a.C.), e
dos equinócios. Tal fenômeno, chamado de “precessão dos incrivelmente para a
equinócios”, se deve ao fato de que o eixo de rotação da Terra época difere em me-
não é fixo. Na realidade, ele descreve um cone no espaço
nos de 1% do tama-
(em torno de uma linha imaginária e perpendicular à órbi-
ta) com período de 26.000 anos. nho real da Terra. Essa
precisão ele conseguiu
usando apenas a diferença de inclinação do Sol no solstício de
verão ao meio dia, em duas cidades de diferentes latitudes cuja
distância era conhecida. Um grande astrônomo do período
helenístico, Aristarco de Samos (310 - 230 a.C.) determinou o ta-
manho da Lua, a partir da sombra da Terra na lua durante um eclip-
se lunar, através da sua duração e da velocidade angular aparente

104
A ciência da idade média

da Lua. Com isso, também foi possível calcular a distância da Terra


à Lua e estimar a distância da Terra ao Sol. Essas medidas estavam
baseadas no diâmetro da Terra de Erastótenes, de modo que as
5
aula
demais dimensões astronômicas dela derivadas forneceram uma
razoável estimativa de sua ordem de grandeza, o que indica o grau
de refinamento atingido pela astronomia da época. Considerado o
Copérnico da época, Aristarco formulou uma teoria Heliocêntrica dos
movimentos planetários, ou seja, defendeu que o Sol era o centro e
os planetas giravam ao seu redor (inclusive a Terra), teoria que ge-
rou polêmica na época e foi contestada por Arquimedes e Hiparco
de Niceia (190 - 120 a.C.). Este último foi o descobridor do fenôme-
no conhecido como “precessão dos equinócios” e foi o responsável
pela atribuição ao ano solar da duração de 365 dias, 5 horas, 55 minu-
tos e 12 segundos, um cálculo errado apenas por 6 minutos e 26 segun-
dos. A partir de suas observações ele compilou um catálogo contendo
a localização de 1.080 estrelas, utilizado por muitos séculos.
Cláudio Ptolomeu (100 - 170 d.C.) ampliou o catálogo de
estrelas de Hiparco e calculou de maneira sistemática os raios
(relativos) e velocidades de cada planeta. Ptolomeu consolidou
o modelo geocêntrico de Aristóteles. Esse astrônomo descreve
os movimentos planetários com esferas giratórias em círculos
com movimentos uniformes. Seu modelo, aliado a alguns artifí-
cios, permitia a descrição das posições dos planetas com grande
precisão, obtendo um sucesso sem precedentes. Os cálculos e
demonstrações desse sistema encontram-se em duas obras:
Almajest, (do hispano-árabe Al-Majisti - O Grande Tratado) e
Hipótese dos Planetas, que chegaram até nós através de traduções
árabes. São atribuídas a Ptolomeu outras grandes obras: Tetrabiblos
(sobre Astrologia), Geografia e Harmonia Musical.
Mas o mais famoso cientista da época, um dos maiores pensa-
dores desse período e considerado um dos maiores gênios da anti-
guidade, foi Arquimedes de Siracusa (287 - 212 a.C.).Você já deve
ter ouvido a palavra Eureka, não? Arquimedes, que era filho de um
astrônomo, acreditava que nada do que existe é tão grande que não

105
Introdução à Física

possa ser medido. Criou um método para


No seu livro Sobre os corpos flutuantes,
Arquimedes estabeleceu as leis funda- calcular o número ð com aproximação
mentais da hidrostática (lei do empuxo), notável para a época. Considerado por
explicando por que os corpos “perdem alguns historiadores como o pai da Me-
peso” quando submersos. Segundo cons-
cânica, Arquimedes incorporou na des-
ta, Hierão, seu amigo e rei de Siracusa, lhe
pediu para determinar se uma coroa, que crição dos fenômenos observados, um
havia acabado de receber do ourives, era certo formalismo matemático, que per-
realmente de ouro ou se tratava de uma mitiu a quantificação dos fenômenos.
liga de prata, mas suas determinações não
São atribuídas a ele algumas invenções,
podiam estragar a coroa. Entrando em
uma banheira cheia para seu banho, notou tais como a rosca sem fim, a roda denta-
que a água transbordava. Ocorreu-lhe que da e a roldana (polia) móvel.
a quantidade de água transbordada era Arquimedes teria criado ainda aparatos
igual em volume à parte do corpo nela
bélicos para defender sua cidade,
mergulhada. Raciocinou então que, se
mergulhasse a coroa na água, poderia Siracusa, do poderoso exército romano,
determinar seu volume pela subida do como catapultas para lançar blocos de
liquido e, comparando este dado com o pedra sobre as galeras inimigas e um
volume de um pedaço de ouro de igual
enorme espelho para incendiar os navi-
massa. Excitado pela sua descoberta,
Arquimedes teria pulado para fora da os romanos a distância, uma vez que
banheira, e, completamente nu, corrido refletiam os raios solares. Foi também
pelas ruas de Siracusa até o palácio real Arquimedes quem desenvolveu o
aos gritos de Eureka! Eureka! (do grego
princípio da alavanca, que explica por
Achei! Achei!).
que um grande bloco de pedra pode ser
levantado por um pé de cabra, por
exemplo, que é apresentado em seu livro “Sobre o Equilíbrio dos
Planos”, em que discute a determinação do centro de gravidade
dos corpos.
O período helenístico foi marcado pela continuidade da
predominância da cultura grega nos reinos helênicos da
Macedônia, Síria e Egito. Tais reinos acabaram por ser pro-
gressivamente integrados, mais tarde, ao Império Romano. In-
felizmente para a ciência, o final do helenismo se dá com a
transição para o domínio e apogeu de Roma. Apenas textos do
século I, que usaram fontes que copiaram os textos originais,
restaram conectados a esse período.

106
A ciência da idade média

O IMPÉRIO ROMANO E A CIÊNCIA ÁRABE

“A conquista dos domínios romanos pelos “bárbaros” marca o


5
aula
fim da Antigüidade e o início da Idade Média”, que durou cerca de
mil anos. No império romano houve, em particular, grande evolu-
ção na teoria e na prática do Direito, mas os romanos não tinham
muito interesse pelas outras ciências. Esse desinteresse existia tam-
bém entre os proprietários feudais e a Igreja. Por isso, os romanos
não formaram novas instituições que buscassem especificamente
entender o mundo natural.
Como a classe rica do Império Romano era bilíngüe, os trata-
dos científico-filosóficos produzidos pela civilização grega não eram
traduzidos. Entretanto, era comum encontrar compilações resumi-
das das principais correntes do pensamento grego em latim. Esses
resumos eram lidos e discuti-
dos nos espaços públicos.
Durante o processo de
desestruturação do Império
Romano do Ocidente, houve
uma perda de contato com o
oriente e com a língua grega.
Desse modo, a Europa Oci-
dental perdeu o acesso aos tra-
tados originais dos filósofos
clássicos, ficando apenas com
as compilações traduzidas.
Imagine só, é como se nos dias
de hoje perdêssemos quase Coliseu (Fonte: http://www.portadaestrela.com).
todos os trabalhos científicos
e sobrasse apenas parte dos textos de revistas destinadas ao consu-
mo popular.
O Império Romano do Ocidente era unido pela língua latina,
mas incluía diversas culturas. Após a desintegração política de Roma
no século V, debilitado pelas migrações e invasões e isolado do

107
Introdução à Física

resto do mundo pelo império islâmico no século VII, o Ocidente


Europeu se tornou um aglomerado de populações rurais e povos
semi-nômades. O definhar da vida urbana e a desorganização polí-
tica culminaram em uma degradação da vida cultural e científica do
continente. A vida, quase sempre insegura e economicamente difí-
cil dessa primeira parte do período medieval, mantinha o homem
voltado para as dificuldades do dia-a-dia. Em meio à desagregação
do Império Romano, a Igreja conseguiu manter-se como instituição
social organizada, difundindo o cristianismo entre os povos bárba-
ros e preservando muitos elementos da cultura greco-romana, en-
tão chamada de pagã.
À medida que o cristianismo avançou no Império Romano, a civi-
lização helenística passou a representar o espírito pagão que resistia à
nova religião. Assim, a ciência permaneceu praticamente estagnada
nos domínios da Igreja Católica por muitos séculos. Porém, o espírito
grego não desapareceu com a vitória dos valores cristãos. O império
construído pelos árabes, sob a religião muçulmana desde o séculoVIII,
integrava territórios onde a ciência se tinha desenvolvido em épocas
passadas, como o Egito dos Ptolomeus e a Pérsia. Mais tarde, o Impé-
rio Islâmico passou a assimilar sistematicamente conhecimentos cien-
tíficos e tecnológicos dos países conquistados, o que contribuiu para a
Abu Jafar Mohamed ibn Musa
al-Khwarizmi, matemático recuperação dos conhecimentos da Antigüidade Clássica. Os árabes
persa-muçulmano, descobri-
dor do Sistema de Numera- impuseram uma cultura distinta a dos europeu na Idade Média, e que
ção Decimal e dos dez símbo-
los, hoje conhecidos como al-
felizmente manteve a tradição científica helênica e egípcia.
garismos indo-arábicos (Fon- Nesse período, floresceu no mundo islâmico uma cultura mui-
te: www.brasilescola.com).
to rica e uma ciência
A Europa conhece, pelos árabes, com contribuições origi-
os algarismos indo-arábicos, nais em várias áreas do
(0,1,2,3,4,5,6,7,8,9) só em 1275. conhecimento, sobretu-
do em Matemática, As-
tronomia e afins, mesmo
que sábios islâmicos tenham usado a matemática com objetivos
religiosos, como para a elaboração do calendário e para a orienta-
ção da cidade sagrada de Meca, no sentido da qual se devem reali-

108
A ciência da idade média

zar as orações. Os árabes desenvolveram, por exemplo, a álgebra


(derivado de árabe al-jabr - “reconstrução”), que não era conhecida
pelos gregos. Introduziram na Europa a bússola e os dez símbolos
5
aula
hindu-arábicos de numeração por volta de 1275.
No ano 800, Haroun Al-Rashid (aquele da história das Mil e
uma noites) fundou uma escola de ciências em Bagdá. Para Al Razi
(864-930), filósofo e talentoso médico persa, os elementos básicos
eram: criador, o espírito, a matéria, o espaço e o tempo. Em um de
seus livros chamado De negócios (Kitab-al-Asrar), ele ensinava a pre-
paração de materiais químicos e de sua utilização. No séc. 9,
Muhammad ibn Musa, em seu Movimento astral e A força da atração,
descobriu que havia uma força de atração entre os corpos celestes,
antecipando a lei universal de gravitação de Newton.
O cientista iraquiano Ibn Al - Haytham (Alhazen) discutiu a
teoria da atração entre massas, e parece que ele estava ciente da
magnitude da aceleração devido à gravidade. Alhazen, (965-1039)
que era estudioso da ótica, tornou-se o primeiro a propor que os
olhos funcionam como lentes para captar a luz. Para ele, as pessoas
vêem porque detectam a luz refletida pelos objetos, tal como se
concebe hoje. Alhazen descobre ainda que as lentes curvas aumen-
tam os objetos. Seus trabalhos influenciaram toda a óptica medie-
val e moderna, sendo o principal deles o Opticae Thesaurus. Este
livro era inspirado na obra de Ptolomeu sobre reflexão e refração e
entre vários assuntos, descreveu a estrutura do olho, o aumento
aparente dos astros no horizonte, a duração do crepúsculo do Sol, a
reflexão em espelhos esféricos. Também fez medidas detalhadas de
ângulos de incidência e refração, estudou espelhos esféricos e para-
bólicos e o papel da lente na visão. Em 1121, Al - Khazini, em O
Livro da balança da sabedoria, diferenciou entre força, massa e peso,
descobriu que a gravidade varia de acordo com a distância do cen-
tro da Terra, e acreditava ainda que peso dos corpos aumentam
com a distância ao centro da Terra.
Foram traduzidos para o árabe diversos textos clássicos de au-
tores como Aristóteles, Arquimedes, Euclides e Ptolomeu. O saber

109
Introdução à Física

do mundo grego foi parcialmente preservado no Império Islâmico,


de onde ele seria mais tarde reabsorvido com muitas inovações pelo
Ocidente, através do contato com o mundo oriental e árabe com as
Cruzadas e do movimento de Reconquista da Península Ibérica. As
traduções desses textos, pelos europeus, permitiram importantes
avanços nos conhecimentos da astronomia, da matemática, da bio-
logia e da medicina, na qual se tornaram o gérmen da evolução
intelectual européia dos séculos seguintes.
Além dos árabes, outros povos também continuaram o desen-
volvimento científico. Por exemplo, há vários registros astronômi-
cos, como o que ocorreu em 1054, em que astrônomos chineses
observaram uma estrela que ficou cerca de 4 vezes mais brilhante
do que Vênus e foi visível durante o dia, pelo período de 23 dias.
Em 1155, o matemático indiano Bhaskara (lembra-se da sua fór-
mula usada na resolução de equações de segundo grau?) descre-
veu uma roda provida de diversos recipientes de mercúrio ao lon-
go da extremidade, denominada de roda de “movimento perpé-
tuo”. O princípio de funcionamento era simples: fazer com que
um lado da roda sempre estivesse mais pesado que o outro, garan-
tindo eternas revoluções.

A EUROPA NA IDADE MÉDIA

Apesar do desenvolvimento científico dos árabes, na Europa,


esse período foi caracterizado por uma estagnação científica na Eu-
ropa. O declínio do Império Romano se deu devido a diversas dispu-
tas políticas e a uma série de invasões bárbaras. Essa fragmentação
política conduz a sociedade européia a um padrão de vida muito bai-
xo, basicamente rural e com rivalidades da nobreza feudal. A Igreja
passa, então, a exercer um importante papel político e cultural acima
dos interesses nacionais na sociedade medieval européia. Tendo tam-
bém conquistado ampla riqueza material, ao tornar-se proprietária de
aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa ociden-
tal, a Igreja pôde estender o seu poder a diferentes regiões européias.

110
A ciência da idade média

Devido ainda ao uso restrito da escrita e de livros, a ciência também


fica monopolizada pela Igreja Católica e os clérigos se tornaram os
únicos estudiosos dos conhecimentos naturais.
5
aula
Imagine só: se você quisesse estudar nesse período deveria
ser padre!!
A autoridade da Igreja impunha sua doutri-
na como verdade que não podia ser discutida.
Do mesmo modo, alguns escritores antigos, como
Aristóteles, gozavam de tratamento semelhan-
te. A esta ciência foi dado o nome de
escolástica, e sua finalidade principal era de-
monstrar a verdade da doutrina da Igreja Católi-
ca. O saber filosófico não pode mais ser caracte-
rizado como uma investigação racional em bus-
ca do conhecimento e da verdade, porque a fé
religiosa se torna o fundamento da sabedoria hu-
mana ao invés da razão. Segundo essa orienta-
ção, a verdade seria revelada por Deus através
das Sagradas Escrituras e da doutrina da Igreja.
A Igreja, temendo perder sua autoridade, repri-
mia toda idéia que poderia traçar novos cami-
nhos para a ciência, impedindo seu livre desen-
volvimento. A luta entre a Igreja e a Ciência Capa do Index Librorum Prohibitorum (Fonte: http://
refletia a luta de classes entre o feudalismo e a net.lib.byu.edu).
então progressista burguesia. Entretanto, depois
da vitória, a própria burguesia se aliou à religião, a fim de desviar
a atenção das massas populares exploradas e mantê-las em estado Clérigos
de submissão. Por isso, segue um período com poucas possibilida- Sacerdotes.
des para o desenvolvimento científico.
Escolástica
Nesse período, os sábios medievais acreditavam no sistema
geocêntrico e que a Terra tinha forma de disco. Somente no século Ensino teológico-filosó-
fico da Idade média oci-
XIII, a idéia dela ser uma esfera obteve alguma aceitação por al- dental.
guns sábios que vieram a ter conhecimento da teoria de Ptolomeu.
Porém, ainda acreditavam que a Terra era o centro do universo.

111
Introdução à Física

Uma primeira preparação para a renovação cultural e científica


se deu com Carlos Magno (747 – 814), que conseguiu reunir grande
parte da Europa sob seu domínio e decidiu, que para unificar e
fortalecer o seu império, faria uma reforma na educação. Os novos
rumos da cultura eram inevitáveis e a
Igreja se apercebia disto. O monge in-
glês Alcuíno elaborou um projeto de de-
senvolvimento escolar que buscou
reviver o saber clássico. A partir do ano
784, Carlos Magno decretou que, em
todo o império, todas as abadias devi-
am ter escolas anexas.
Após a contenção das ondas de in-
vasões estrangeiras no século X na Eu-
ropa por tribos bárbaras, seguiu-se uma
fase de relativa tranqüilidade em rela-
ção às ameaças externas, que também
Planeta Terra (Fonte: http://open-site.org). coincidiu com um período de condições
climáticas mais amenas. A Europa Oci-
dental passa então por mudanças sociais, políticas e econômicas.
Abadia Em 1179, a Igreja Católica reconheceu que as escolas cleri-
Igreja ou mosteiro diri-
cais não eram suficientes e, sem abrir mão do controle, foi permi-
gido por abade (superi- tido a licença docente a todos que fossem considerados aptos
or de ordem religiosa).
por ela. Deste modo, surgiram as escolas privadas, embora ain-
da sob o monopólio da Igreja. Na Europa, no séc. XII, algumas
das escolas se destacaram por seu alto nível de ensino e ganha-
ram a forma de Universidades.
A primeira universidade medieval fundada foi a de Bolo-
nha, em 1100, na Itália, seguida por Paris na França e Oxford e
Cambridge na Inglaterra. Em 1500 já eram mais de setenta! Esse
foi efetivamente o ponto de partida para o modelo atual de uni-
versidade, visto que não se tratavam apenas de instituições de
ensino, mas eram também locais de pesquisa e produção do sa-
ber, onde havia vigorosos debates.

112
A ciência da idade média

As ciências naturais começaram a mostrarem-se independen-


tes, porém, quem se interessasse pelos segredos da natureza e
ousasse investigá-la, ficava comprometido em perigosa associa-
5
aula
ção com os mágicos, feiticeiros e alquimistas. Mesmo com o
desprezo dos religiosos pela filosofia grega, vários pensadores
cristãos defendiam o conhecimento da filosofia grega, porque
sentiam a possibilidade de utilizá-la como instrumento a servi-
ço da religião. Para eles, a conciliação entre a filosofia grega e a
fé cristã permitiria à Igreja enfrentar os descrentes e demolir,
com argumentação lógica, as heresias, isto é, as afirmações con-
trárias à verdade, entendida como a revelação de Deus através
das doutrinas religiosas.
Daí a defesa das idéias de Platão e, principalmente, de
Aristóteles sobre o universo. Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino foram representantes deste tipo de filosofia desenvolvida
na Idade Média pelos pensadores cristãos. As novas ordens mendi-
cantes, especialmente os Dominicanos e os Franciscanos, ao contrário
das ordens monásticas, voltadas para a vida contemplativa nos mos-
teiros, se dedicavam à convivência no mundo leigo e defendiam a
fé cristã pelo uso da razão e assim contribuíram para o florescimento
intelectual.
O influxo de textos gregos, as ordens mendicantes e a multipli-
cação das universidades iriam agir conjuntamente nas cidades em
crescimento. Em 1200 já havia traduções latinas razoavelmente
precisas dos principais trabalhos dos autores da Antiguidade:
Aristóteles, Platão, Euclides, Ptolomeu, Arquimedes e Galeno (que
escreveu tratados sobre medicina). Escolásticos notáveis como:
Robert Grossteste, Roger Bacon, Alberto Magno e Duns Scot (ou
Scotus), começaram a trabalhar nas ciências contidas nesses tex-
tos, trazendo novas tendências para uma abordagem mais concreta
e empírica, representando um prelúdio do pensamento moderno.
Grossteste (1168-1253), fundador da Escola Franciscana de
Oxford, iniciou os estudos críticos da obra de Aristóteles voltados
à filosofia natural. O senso comum, baseado em Aristóteles e ali-

113
Introdução à Física

mentado pelos sentidos, já sabia que


o som era propagado por vibrações
– ondas no ar. Mas até o século XIII,
nada era considerado mais imaterial
do que a luz, a qual, no entanto, pro-
pagava calor e assim podia modifi-
car a matéria (cozinhando o barro,
derretendo o gelo, etc). Existia, as-
sim, entre os pensadores como
Grossteste a idéia, da luz ter sido o
(Fonte: http://akhen777.files.wordpress.com). primeiro elemento (baseados no
Gênesis: “Faça-se a luz”).
Grossteste explicava a estrutura do cosmos, relacionando a luz e
sua energia como a base de toda causalidade da natureza. Por esta
razão, as leis da óptica serviam de fundamento a todas as inter-
pretações da natureza.
Discípulo Grosseteste, Roger Bacon (1219-1292), também co-
nhecido como Doctor Mirabilis (Doutor admirável), deu ênfase ao
empirismo e ao uso da matemática no estudo da natureza. Ele vai
um passo além de seu tutor e descreve o método científico como
um ciclo repetido de observação, hipótese, experimentação e ne-
cessidade de verificação independente. Bacon registrava a forma
em que conduzia seus experimentos em detalhes precisos a fim de
que outros pudessem reproduzir seus experimentos e testar os re-
sultados (Não parece com o que fazemos hoje?). Seus avanços
nos estudos da Óptica, sobre focos dos espelhos côncavos, estu-
dos sobre espelhos parabólicos e o princípio da câmara escura,
possibilitaram a invenção dos óculos e seriam em breve impres-
cindíveis para a invenção de instrumentos como o telescópio e o
microscópio. Roger Bacon foi condenado pela Igreja Católica ao
encarceramento por ensinar que a experiência e a matemática eram
a base da verdadeira ciência.
O magnetismo foi um dos poucos campos que avançou durante
a Idade Média na Europa. No século XIII, Petrus Peregrinus, ou Pierre

114
A ciência da idade média

de Maricourt (c. 1220 - c. 1270/90) descreveu, em seu tratado De


Magnete (1269), diversos experimentos que realizou com ímãs. Nesta
obra, descreve uma bússola rudimentar, feita com um ímã natural
5
aula
em um disco de madeira flutuante, semelhante à inventada pelos
chineses no ano de 1090 d.C.. Em outro experimento, Peregrinus
torneou um ímã natural dando-lhe forma esférica e desenhou as li-
nhas que correspondiam a posição da agulha da bússola, obtendo
uma figura que se assemelhava aos meridianos. As anotações do francês
são consideradas os primeiros tratados escritos de acordo com o mé-
todo científico moderno.
Teodorico de Freiberg, em 1304, construiu uma esfera de vi-
dro, preencheu-a com água e estudou o desvio da luz através dela
(o efeito do arco-íris). Trezentos anos depois, Descartes usando
também esse procedimento, iria redescobrir o mesmo.
O cenário que estava se desenhando, a partir do séc. XIII, era o
do processo de passagem da física qualitativa de Aristóteles para
uma física mais quantitativa. Tal processo somente viria a se con-
solidar no século XVII. A idéia da quantificação, no entanto, deve
ser entendida como tentativa de utilizar procedimentos matemáti-
cos no entendimento dos fenômenos físicos, e não como a utiliza-
ção de instrumentos de medida (o que ainda não ocorria).
Para John Duns Scotus (1265-1308) as verdades da fé não po-
deriam ser compreendidas pela razão. A filosofia, assim, deveria
deixar de ser uma serva da teologia. Os estudos sobre lógica de
William de Ockham (1285-1349). , discípulo de Scotus, levaram-
no a defender o princípio hoje chamado de Navalha de Occam, que
nós já falamos na aula 3. Este é um princípio filosófico que reza o
seguinte: se há várias explicações igualmente válidas para um fato, então
devemos escolher a mais simples. Era um defensor do poder leigo e da
racionalidade. Segundo Ockham, em sua obra Ordinatio, todo co-
nhecimento racional tem base na lógica, de acordo com os dados
proporcionados pelos sentidos.
Acadêmicos franceses como Jean Buridan (1300 - 1358) e Nicole
d’Oresme (1323 – 1382) começaram a questionar aspectos da mecâni-

115
Introdução à Física

ca aristotélica. Em particular, Buridan desenvolveu a teoria do ímpeto,


que explicava o movimento de projéteis. Essa teoria pavimentou o
caminho para a dinâmica de Galileu e para o famoso princípio da Inércia,
de Isaac Newton. Nicole d’Oresme foi conselheiro do rei Carlos V da
França e um dos principais fundadores e divulgadores das ciências
modernas. Ele combateu fortemente a astrologia e especulou sobre a
possibilidade de haver outros mundos habitados no espaço. Oresme de-
monstrou que as razões propostas pela física aristotélica contra o mo-
vimento do planeta Terra não eram válidas e invocou o argumento da
simplicidade (da navalha de ockham) a favor da teoria de que é a Terra
que se move, e não os corpos celestiais. Ele foi o último grande intelec-
tual europeu a ter crescido antes do surgimento da Peste Negra, evento
que teve impacto bastante negativo na inovação intelectual.
Nessa mesma época, um grupo denominado de Calculatores
de Merton College de Oxford, composto por Thomas Bradwardine,
William Heytesbury, Richard Swineshead e John Dumbleton, ela-
boraram o Teorema da velocidade média. Usando uma linguagem
simplificada, este teorema estabelece que um corpo em movimento uni-
formemente acelerado percorre, num determinado intervalo de tempo, o mesmo
espaço que seria percorrido por um corpo que se deslocasse com velocidade
constante e igual à velocidade média do primeiro. Mais tarde, esse teorema
seria a base da “Lei da queda de corpos”, de Galileu.
Esses debates sobre filosofia natural estavam conduzindo a
humanidade em direção ao que hoje é considerado Ciência. Mas em
1348, a Peste Negra, uma epidemia que atingiu a Europa, a China, o
Oriente Médio e outras regiões do Mundo, até cerca de 1350, dizi-
mou cerca de um terço da população européia e proporções prova-
velmente semelhantes nas outras regiões. Por quase um século, no-
vos focos da praga e outros desastres causaram contínuo decrésci-
mo populacional. As áreas urbanas, geralmente o motor das inova-
ções intelectuais, foram especialmente afetadas. Além da Peste
Negra, a Guerra dos Cem Anos, uma série de conflitos armados,
registrados de forma intermitente durante o século XIV e o século
XV envolvendo a França e a Inglaterra, deixaram um saldo de mi-

116
A ciência da idade média

lhares de mortos em ambos os lados, e uma devastação sem prece-


dentes nos territórios e na produção agrícola francesa. Foi durante
essa Guerra que a pólvora foi pela primeira vez utilizada como arma
5
aula
em combate na Europa. Essas duas grandes calamidades para a hu-
manidade levaram este período de intenso desenvolvimento cientí-
fico a um fim repentino e que só puderam ser novamente retoma-
dos com melhores condições da população nos séc. XV.

ATIVIDADES

Quais foram as principais contribuições de Alexandre o Grande


para a Ciência?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

A poderosa figura de Alexandre pertence ao reduzido grupo


de homens que definiram o curso da história humana. Ele
fundou Alexandria, cidade que viria a converter-se num dos
grandes focos culturais da antigüidade. Educando por um dos
homens mais sábios de sua época, Aristóteles, Alexandre
sonhava em unir a cultura oriental à ocidental, fazendo o que
pôde para expandir o helenismo. Devido ao seu sonho e seus
esforços, após sua morte prematura, a influência da civilização
grega no Oriente e a orientalização do mundo grego alcançaram
sua mais alta expressão, que se prolongou até os tempos de
Roma. Grandes descobertas provenientes deste período, e
portanto contribuições indiretas de Alexandre, alteraram a
história da ciência, como as bases da geometria, a descrição
mais precisa do movimento dos planetas, a medida o diâmetro
da Terra, a primeira teoria Heliocêntrica, a descoberta da
“precessão dos equinócios” e os vários trabalhos de Arquimedes,
como as leis fundamentais da hidrostática.

117
Introdução à Física

ATIVIDADES

Durante a Idade Média, a região próspera era o Oriente Médio


Islâmico, enquanto uma Europa ignorante permanecia pobre. Agora,
naturalmente, os papéis do Oriente Médio Islâmico e do Ocidente
estão invertidos. Comente a influência da ciência nisso.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

As duas regiões durante a Idade Média eram governadas


religiosamente, uma pelo cristianismo e a outra pelo islamismo.
É muito difícil fazer ciência em um ambiente hostil ao
pensamento livre ou discordante, e assim a ciência só floresceu
naquela que não reprimia os cientistas e o pensamento
científico: o islamismo. O mundo islâmico dos séculos VIII a
XV foi o “portador” ou “transmissor” das grandes tradições
científicas clássicas, da fabulosa herança grega, até ao
renascimento europeu. Porém, na atualidade a Europa não é
mais dominada pela religião, enquanto o Oriente Médio, ainda
dominado pela cultura islâmica, entrou numa fase histórica em
que a ciência foi condenada como uma influência ocidental,
um mal a ser evitado. Os dirigentes árabes não estimulam o
investimento na ciência, e como resultado, suas sociedades não
prosperaram tanto quanto poderiam e os europeus, pelo
contrário, construíram sociedades bastante prósperas.

ATIVIDADES

Durante a Idade Média não houve evolução do conhecimento cien-


tífico? Comente sua resposta.

118
A ciência da idade média

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Com o avanço do cristianismo sobre o Império Romano, a


5
aula
ciência Européia permaneceu praticamente estagnada por
muitos séculos. Porém, o império construído pelos árabes, sob
a religião muçulmana, passou a assimilar sistematicamente
conhecimentos científicos e tecnológicos dos países
conquistados, o que contribuiu para a recuperação dos
conhecimentos da Antigüidade e manteve a tradição científica
helênica e egípcia. Mas, além das traduções dos textos da
antiguidade, floresceu no mundo islâmico uma cultura muito
rica e uma ciência com contribuições originais, sobretudo em
Matemática, Astronomia e afins. Portanto, houve uma evolução
científica desenvolvida principalmente pelos árabes.

ATIVIDADES

Descreva qual finalidade da ciência durante a Idade Média?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Durante a Idade Média, a produção de conhecimento tinha


seu centro no seio das hierarquias estabelecidas pela Igreja
Católica. O acesso à cultura e à ciência se restringia aos clérigos,
sendo esses dedicados a cultivar o estudo de fenômenos naturais
sempre do ponto de vista da religião. O conhecimento humano
deveria estar voltado para fundamentar, legitimar e difundir as
verdades contidas nas Sagradas Escrituras e, portanto, para
glorificar o Reino de Deus, o que muitas vezes distanciava-se
do pensamento racional. O conhecimento que não tivesse
exatamente essa finalidade era condenado herege.

119
Introdução à Física

ATIVIDADES
Recentemente, iniciativas vêm ocorrendo nos Estados Unidos com
o propósito de coibir a divulgação de contribuições originais de co-
nhecimentos científicos ou de aplicações tecnológicas potencialmente
utilizáveis por nações ou grupos de indivíduos ditos “terroristas”. De
acordo com essa última notícia, diretores de vários periódicos com-
prometeram-se a não publicar informações científicas que possam
ajudar terroristas na fabricação de armas biológicas.
Comente como essas iniciativas podem gerar problemas para a
ciência e para os cientistas e faça uma comparação com os fatos
apresentados nessa aula.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

O princípio da universalidade da ciência busca evitar que


cientistas sejam reféns de decisões políticas ou religiosas, como
houve durante a Idade Média. Sendo assim, essas iniciativas
podem provocar barreiras burocráticas com várias
conseqüências negativas. Por exemplo, o acesso a laboratórios
de pesquisa pode ser negado a cientistas estrangeiros, podem
surgir novas regras de sigilo para pesquisas que sempre foram
de domínio público, mas que agora são consideradas “críticas
para a segurança nacional”, o intercâmbio ou colaborações
científicas podem ser barrados ou interrompidos. Por exemplo,
estudantes ou estagiários nos EUA (que são cerca de 750 mil)
poderiam sofrer boicote, sendo “rastreados” (principalmente
aqueles oriundos de paises islâmicos). Erros inexpressivos ou
pequenos equívocos sobre os dados desses estudantes e
estagiários poderiam causar conseqüências drásticas nas suas
futuras carreiras. Isso é uma forma de perseguição, como houve
com os cientistas contrários as idéias religiosas, e que foram
condenados durante a Inquisição. E mais, essas iniciativas
podem servir como desculpa para identificar pesquisas
avançadas do Terceiro Mundo que devem ser alvos potenciais

120
A ciência da idade média

para ações de boicote, monopolizando cada vez mais o


conhecimento de ponta e a geração de riquezas apenas em
países desenvolvidos. O monopólio do saber, como foi visto, é
5
aula
uma forma de manipulação da população, que se torna menos
desenvolvida e mais explorada, pois questiona menos os
poderosos.

N o período da Idade Média, a Ciência sofreu vários impe-


dimentos por parte da Igreja Católica que impunha sua
autoridade, influindo em toda sociedade. Qualquer tentativa de con-
trariar suas doutrinas era perseguida e discrimina-
da. Apesar disso, é importante observar que as pou-
cas descobertas e teorias que surgiram nesta época CONCLUSÃO
tiveram grande relevância para desenvolvimento da
ciência, provocando uma mudança de mentalida-
de, no sentido de dissociar a ciência da religião, que estavam intima-
mente ligadas, do mesmo modo que a ciência também estava associa-
da à magia e à alquimia. Teorias que aí surgiram serviram de base para
cientistas, que vieram depois, realizarem grandes descobertas.

Mosteiro medieval em Portugal (Fonte: http://


farm2.static.flickr.com).

121
Introdução à Física

RESUMO

O período helenístico caracterizou-se pela difusão da civili-


zação grega numa vasta área, que foi ideal de Alexandre o
Grande. A Ciência alcançou um grande desenvolvimento
nesse período. Dentre seus grandes ciêntistas destacaram-se
Euclideus, Aristarco de Samos e Arquimedes. Mas, os reinos
helenísticos acabaram integrados ao Império Romano e com isso
houve uma estagnação no pensamento científico.
Os romanos, assim como os proprietários feudais e a Igreja, não
tinham muito interesse pelas ciências. Assim, ocorreu a perda ao
acesso aos tratados originais dos filósofos clássicos. Isso e o defi-
nhar da vida urbana com a desorganização política culminaram em
uma degradação da vida cultural e científica do continente Euro-
peu. A ciência ficou sob forte influência da Igreja Católica, que
aliada à burguesia, reprimia toda idéia que poderia desenvolver a
ciência, mantendo as massas populares exploradas sob ignorância e
submissas. Porém, o saber do mundo grego foi parcialmente preser-
vado no Império Islâmico, através das traduções dos textos clássi-
cos pelos árabes. É de lá que este conhecimento seria mais tarde
reabsorvido, com muitas inovações, pelo Ocidente através do con-
tato com o mundo oriental e árabe. O cientista iraquiano Alhazen é
o maior ícone dentre os cientistas árabes desse período.
Carlos Magno, no séc. 8, dá o primeiro passo para a renovação cultu-
ral, realizando a reforma educacional e criando centros de ensino,
que deram origem as Universidades. Elas, juntamente com as ordens
católicas mendicantes e a abundância de textos gregos clássicos, es-
tavam conduzindo a humanidade ao que se considera Ciência hoje.
Porém, esse desenvolvimento foi interrompido pela Peste Negra e
a Guerra dos Cem anos que dizimaram a população.

122
A ciência da idade média

PRÓXIMA AULA

Nossa próxima aula trata-se de um período caracteriza-


5
aula
do por grande desenvolvimento de todos os ramos da
Ciência e o surgimento das sociedades científicas
especializadas, com a consolidação do método científi-
co baseado na experimentação e a ruptura da ciência com a reli-
gião e também a separação entre a ciência e a filosofia.

REFERÊNCIAS

FRANCO, H. Curso de evolução dos conceitos da Física do


IFUSP. Disponível em <http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d>.
Acesso em 01/11/2007.
MACEDO, Cláudio Andrade. Apostila do Curso de Introdução
à Física da UFS. São Cristóvão, 2006.
Portal de ensino de Física da USP. Disponível em <http://
efisica.if.usp.br>, Acesso em 10/12/2007.
PRIMON, A. L. M. et al. História da ciência: da idade média à
atualidade. Psicólogo inFormação, p. 35-51, 4, 2000.
VALERIO, Mário Ernesto G. Notas de aula do Curso de Intro-
dução à Física da UFS. São Cristóvão, 2006.
http://hpdemat.vilabol.uol.com.br/Biografias.htm.
http://scientia.artenumerica.org.
http://www.ucb.br/prg/comsocial/cceh/textos_conhecimento_
debate.htm.

123
1
livro

O NASCIMENTO DA
CIÊNCIA MODERNA 6
aula
META
Mostrar em que contexto histórico
ocorreu o início da ciência
moderna e como pensavam os
cientistas daquela época.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá:
identificar como a dissociação
entre a religião e a ciência
contribuiu para a evolução do
conhecimento científico
no renascimento;
reconhecer a evolução histórica e
contextualizar as grandes
contribuições científicas ocorridas
no renascimento;
descrever as grandes
contribuições de cientistas, como
Galileu e Newton;
identificar pensamentos
racionais; e
definir a razão do surgimento das
sociedades científicas.
O homem vitruviano, de Da Vinci. (Foto: http://
www.chazit.com).
PRÉ-REQUISITOS
O aluno deverá conversar com
algumas pessoas sobre os
métodos que são utilizados para
comprovar as teorias da criação do
mundo colocada na Bíblia. Tentar
contrariá-los, mostrando outros
pontos de vista. O aluno deverá
sentir a dificuldade no debate.
Imaginar como isso poderia ser
perigoso na Idade Média.
Introdução à Física

Na aula passada, foi mostrado como o descaso com o co-


nhecimento e a ausência de um desenvolvimento cientí-
fico pode contribuir na degradação, de até mesmo, de um grande
império. Mas na aula de hoje, você verá que esta mesma ciência
pode devolver o esplendor a uma sociedade
pobre e decadente. Isso começa com um pe-
INTRODUÇÃO
ríodo efer vescente para a Europa: o
Renascimento, fase de renovação que lançou
as bases da ciência moderna.
Iremos discutir como ocorreu a ruptura da ciência com a reli-
gião e também, a separação da ciência e da filosofia.

Astrolábio

Instrumento naval an-


tigo, usado para medir
a altura dos astros aci-
ma do horizonte para
determinar a latitude e
a longitude.

Ilustração representando o heliocentrismo (Fonte: http:/


www.wisphysics.es).

126
O nascimento da ciência moderna

C om o controle da epidemia da Peste Negra e o final dos


conflitos da Guerra dos Cem Anos, a população alcança
melhores condições no séc. XV. É nesse período que surgem as
grandes navegações. Diversos setores da sociedade Ibérica estavam
6
aula
interessados nos benefícios propiciados por
elas, com os mais variados motivos políticos,
econômicos e religiosos, como por exemplo, a
O RENASCIMENTO
busca de metais preciosos, o intenso comércio
de produtos orientais e a idéia de propagar a fé cristã por
todas as regiões do mundo. Contribuíram também, para as
conquistas marítimas, os avanços efetuados na técnica de
navegação em alto-mar e o aprofundamento dos conheci-
mentos científicos. Muitos equipamentos já eram utiliza-
dos por outros povos e foram aperfeiçoados e adaptados
pelos portugueses à navegação marítima. Dentre eles es-
tavam a bússola e o astrolábio, além da caravela. (Fonte: www.dezenovevinte.net).
Este também foi um período de interesse crescente entre
os acadêmicos europeus pelos textos clássicos, que junta-
mente com o florescimento do comércio e da vida urbana,
cria um ambiente próprio para a renovação cultural. A apre-
ciação dos valores humanísticos juntamente com a inde-
pendência política e a expansão capitalista gera a contesta-
ção das velhas tradições medievais, e culminaram no movi- (Fonte: http://www.kboing.com.br).
mento artístico e científico denominado Renascimento. Com
ele, no séc. XV, a mentalidade medieval européia,
contemplativa e submissa à Igreja, dá lugar à mentalidade
moderna, com a volta da racionalidade para o entendimen-
to do mundo. O homem descobre que é capaz de decidir
por si, sente-se livre e coloca-se na posição de centro do
Universo, buscando objetividade nas suas experiências.
O aparecimento de cartas marítimas, que redefiniam o
conhecimento geográfico da época e estimularam o início
de grandes navegações, mostravam que o homem ainda ti-
nha muito a descobrir. A difusão do pensamento (Fonte: www.escolanautica.com.br)

127
Introdução à Física

renascentista é feita de forma rápida, com a divulgação das novas


idéias e descobertas pelas navegações e pela imprensa, recentemente
inventada por Johannes Gutemberg, tornou as cópias dos livros muito
mais rápidas do que com o trabalho feito pelos copistas. Esse pensa-
mento deu origem à Reforma Protestante que questionava a autorida-
de da Igreja, desafiando seus domínios e permitiu a ruptura entre a
ciência e a religião. Assim, a ciência no século XV ganha um grande
impulso para o seu desenvolvimento e para a sua prática.
Ao contrário do homem medieval, que via em Deus a razão de
todas as coisas, os renascentistas acreditavam no poder humano de
julgar, de criar e construir. Isto propicia o desenvolvimento do
racionalismo, isto é, a explicação do mundo por verdades
estabelecidas pela razão, não mais pela fé, e permite que seja desen-
volvido o espírito de observação experimental com a mente mais
aberta ao livre exame do universo, para descobrir as leis que regem os
fenômenos naturais. Por isso, a Renascença também é conhecida como
a época do Humanismo e se caracteriza por enormes progressos nas
artes, nas leis e nas ciências.
Leonardo da Vinci (1452 – 1519) atuou em
amplo espectro de atividades: foi pintor, escul-
tor, arquiteto, engenheiro, músico e cientista, bus-
cando integração entre arte e ciência, e se tornou
a figura símbolo desse período. Como cientista,
Leonardo estudou alguns fenômenos físicos en-
volvendo capilaridade, resistência do ar, plano
inclinado, dinamômetro, placas vibratórias. Em-
bora não tenha enunciado novos princípios físi-
cos, desenvolveu um sem-número de engenhos
de toda sorte, alguns como projetos de engenha-
ria de máquinas militares, bombas d’água, veícu-
los diversos, terrestres, aéreos, submarinos etc.
Por atuar em tantos campos com enorme desen-
Leonardo Da Vinci (Fonte: http:// voltura, Leonardo da Vinci é considerado por
www.museutec.org.br).
vários o maior gênio da história

128
O nascimento da ciência moderna

O magnetismo, que foi um dos poucos campos que avançou


durante a Idade Média, com os trabalhos de Petrus Peregrinus no
séc XIII, anda a passos ainda mais largos com William Gilbert (1544
6
aula
- 1603). Físico e médico inglês, Gilbert deu o nome “pólos” às ex-
tremidades do ímã. Foi ele também, o primeiro a usar os termos:
força elétrica e atração elétrica. Até 1600, pensava-se que as bús-
solas apontavam para o norte devido à es-
trela polar. Foi Gilbert quem concluiu que a O nome magnetismo remonta à
Terra era magnética e esse era o motivo pelo Grécia antiga: magnésia é uma
região da Macedônia rica em
qual as bússolas apontavam para o norte. Em magnetita.
seu trabalho De magnete, magneticisque
corporibus, et de magno magnete tellure (Sobre o Magnetismo, Corpos magné-
ticos e o Grande Ímã Terra) Gilbert descreve diversas experiências
realizadas com seu modelo de terra chamado terrella, no qual de-
monstra que o “pólo norte” (que apontava para o norte) era capaz
de atrair o pólo sul de um outro ímã.
Como médico, Gilbert tinha forte influência da medicina de
Galeno (c.100 d.C. - c. 200 d.C.), que postulava a existência de qua-
tro fluidos ou humores corpo, associados aos quatro elementos: fleu-
mático (água), sanguíneo (ar), colérico (fogo), melancólico (terra). Para
Galeno, as doenças dos seres vivos derivariam de um desequilíbrio
entre os fluidos. Gilbert, então, postulou a existência de outros flui-
dos responsáveis pelos fenômenos magnéticos. Tais fluidos, em
movimento, foram precursores dos campos e explicam a repulsão
de pólos iguais e a atração de pólos opostos. Em seu livro, Gilbert
também estuda a eletricidade estática usando âmbar (Você sabia
que foi ele quem decidiu chamar isso de eletricidade, pois o âmbar,
em grego, é chamado de elektron ou eletru em latim?). Gilbert ten-
tou explicar os fenômenos eletrostáticos com o uso de fluidos elé-
tricos. Mais tarde, Coulomb postularia a existência de dois tipos de
fluidos elétricos: o “vítreo” (excesso de cargas positivas) e o “resino-
so” (excesso de cargas negativas). Gilbert propôs ainda que forças
magnéticas atrativas guiariam o movimento dos planetas ao redor
do Sol ao longo de suas órbitas, segundo o modelo copernicano. A

129
Introdução à Física

atração gravitacional dos corpos próximos à superfície da Terra se-


ria um efeito mediado por um fluido, associado ao ar atmosférico.
A idéia de um fluido imponderável seria posteriormente refinada e
aplicada ao calor.
A mecânica celeste conheceu na Idade
Segundo Aristóteles, os céus eram divi-
Média um período de relativa estagnação.
namente perfeitos, e os corpos celestes
só podiam se mover segundo a mais Apesar da dificuldade de compreender e ex-
perfeita das formas: o círculo. plicar o movimento observado dos plane-
tas, do ponto de vista geocêntrico (a Terra
no centro do Universo), predominava durante toda a Idade Média o
sistema de Ptolomeu, o qual defendia que a Terra era um centro
imóvel onde, ao seu redor, giravam o Sol, as estrelas e os planetas.
Mas em 1510, em seu livro Commentariolus, o astrônomo e matemá-
tico polonês Nicolau Copérnico (1473 – 1543)
apresenta um primeiro esboço de sua teoria
sobre heliocentrismo, que colocou o Sol
como o centro do Sistema Solar. Essa é con-
siderada uma das mais importantes hipóte-
ses científicas de todos os tempos, tendo
constituído o ponto de partida da astrono-
mia moderna.
Copérnico identificou algumas incor-
De Revolutions, publicado em Nuremberg, em 1543 (Fonte: reções na teoria geocêntrica e abriu cami-
http://br.geocities.com).
nho para a grande revolução astronômica
do século XVI. Com sua teoria, a Terra (e o homem) não estava
mais situada num lugar adequado, como a imagem de Deus no
centro de todas as coisas. Isso teria profundas repercussões na
visão do homem sobre si mesmo e sobre
“Acreditar é mais fácil do que pensar. seu lugar na criação. Copérnico conseguiu
Daí existem muito mais crentes
evitar o confronto com a Inquisição, pois
do que pensadores.”
Bruce Calvert seu livro Revoluções dos orbes celestes, de 1543,
foi publicado somente após sua morte, em
que ele descreve toda essa sua teoria. Através de vários cálculos,
demonstra a existência das rotações da Terra em 24 h (em volta

130
O nascimento da ciência moderna

de si) e em 365 dias (em volta do Sol). Apesar de ter mostrado


que o Sol fica no centro do sistema, ele ainda achava que, como
Aristóteles, a órbita da Terra era uma circunferência perfeita.
6
aula
Tycho Brahe (1546 - 1601), astrônomo dinamarquês, continuou
o trabalho iniciado por Copérnico e corrigiu seus dados com suas
observações astronômicas. Mesmo precedendo à invenção do te-
lescópio, suas observações da posição das estrelas e dos planetas
alcançaram uma precisão sem paralelo para a época. Porém, Tycho
era contrário ao sistema de Copérnico e por isso, propôs um siste-
ma em que os planetas giram à volta do Sol, e o Sol orbita em torno
da Terra. Com base nessas observações e em seus próprios cálcu-
los, seu discípulo, o astrônomo e astrólogo Johannes Kepler (1571 -
1630) foi mais além: concluiu que nesse movimento a distância da
Terra e do Sol é variável, e assim mostrou que os planetas não se
moviam em órbitas circulares, mas sim elípticas, formulando as três
leis do movimento planetário, conhecidas como Leis de Kepler. Esse
“pequeno detalhe”, difícil de ser observado a partir da Terra, deu a
Newton uma pista para formular a teoria da gravitação universal,
50 anos mais tarde. Kepler procurou estabelecer novos limites à
astrologia, decorrentes da teoria de Copérnico e do novo status da
Terra como mais um planeta, semelhante aos demais. Procurou de-
monstrar que a meteorologia não dependia dos aspectos astrológi-
cos entre os astros, e sim de causas vindas da própria Terra. Veja
que o interessante da obra de Kepler é justamente ele ter transitado
da superstição para a ciência. Quando as observações físicas se
chocaram com o dogma, Kepler optou pelos fatos científicos, aban-
donando a superstição!
Embora a crença em Deus permanecesse no mundo começa-
va a deixar de ser “sagrado” para tornar-se um objeto de uso para
o próprio homem. O trabalho intelectual, neste período, torna-se
mais intenso e individualizado e a religiosidade uma decisão ínti-
ma. Efetivamente, o filósofo Francis Bacon (1561 – 1626) não rea-
lizou nenhum grande progresso nas ciências naturais, mas foi ele
quem primeiro esboçou uma metodologia racional para a ativida-

131
Introdução à Física

de científica. Bacon destacou-se com uma obra em que a ciência


era exaltada como benéfica para o homem: o conhecimento cien-
tífico tem por finalidade servir o homem e dar-lhe poder sobre a
natureza. O objetivo do método baconiano foi constituir uma nova
maneira de estudar os fenômenos naturais. Para Bacon, a desco-
berta de fatos verdadeiros depende da observação e da experi-
mentação regulada pelo raciocínio indutivo, e é com Bacon que
ela ganha amplitude e eficácia.
Mais radical, Giordano Bruno (1550-1600), fortemente influen-
ciado pelo texto Corpus Hermeticum, propunha uma profunda refor-
ma filosófica e religiosa que, levada às últimas conseqüências, des-
tronaria a Igreja de sua hegemonia com
relação ao conhecimento. Sua
cosmologia propunha um universo in-
finito com “inumeráveis sóis semelhan-
tes ao nosso”. Seus argumentos são
mais filosóficos e teológicos do que
astronômicos. Bruno foi perseguido
pela Igreja durante toda a sua vida, acu-
sado de negar a divindade de Cristo e
Giordano Bruno (Fonte: http://
www.renaissanceastrology.com). realizar práticas mágicas diabólicas.
Condenado pela Inquisição, ele foi
queimado vivo. Na época não havia uma posição oficial da Igreja
Católica acerca do heliocentrismo. Historiadores defendem que, por
ter misturado o heliocentrismo com sua mitologia considerada he-
rética, Bruno foi, em parte, responsável por fazer a Igreja passar a
ver as idéias heliocêntricas com desconfiança, e ele pode ter contri-
buído para iniciar a controvérsia da Igreja Católica com Galileu
Galilei.
A Teoria Heliocêntrica passou a ser rejeitada pela Igreja, po-
rém o atomismo grego foi conciliado com o cristianismo pelo abade
francês Pierre Gaessendi (1592-1655). Para ele a ordem divina do
mundo estaria presente na própria criação de suas partículas, os
átomos, mas apenas a providência divina poderia juntar as partícu-

132
O nascimento da ciência moderna

las de modo ordenado, dando origem às várias formas de vida. Com


seus argumentos, os átomos não assumiriam a forma de animais se
não fosse pela constante influência de Deus. Embora não tenha
6
aula
feito contribuições novas ao atomismo, ele o tornou menos desa-
gradável para as autoridades eclesiásticas.

GALILEU GALILEI

A história de Galileu é um exemplo céle-


bre de como a violação à liberdade de opi-
nião pode ser altamente prejudicial ao desen-
volvimento das ciências. O italiano Galileu
Galilei (1564-1642), que era professor de ma-
temática, criticava Aristóteles dizendo que “A
tradição e a autoridade dos antigos sábios não
são fontes de conhecimento científico” e que
a única maneira de compreender a natureza é
experimentando. Seu pai, um músico, tinha
um autêntico espírito de experimentador, e
estabeleceu de maneira empírica leis relati-
vas à corda vibrante. Seguindo o estilo prag-
(Fonte: http://www.lincei-celebrazioni.it).
mático do pai, Galileu já havia descoberto,
em 1593, que o período do pêndulo
independe da amplitude.
Considera-se que a física moderna foi fundada por ele, em 1589, Pragmático
ao demonstrar a lei que determina a queda dos corpos. Na época, Realista, objetivo.
se pensava que os objetos mais pesados caíam mais rápidos, regra
da teoria Aristotélica. Galileu, no famoso experimento na Torre de
Pisa, provou que mesmo que fossem leves ou pesados, todos os cor-
pos levavam precisamente o mesmo tempo para chegar ao chão. Em
1590, Galileu reuniu no livro De Motu seus experimentos sobre a
queda livre. Já em 1604, descreveu as leis da queda livre dos corpos
como um movimento uniformemente acelerado, independente de
suas densidades.

133
Introdução à Física

Galileu também aperfeiçoou o telescópio (que já era conhecido,


embora em versões rudimentares) e com ele realizou observações astro-
nômicas, descritas em sua obra Sidereus Nuncius (Mensageiro das Estrelas,
de 1610). Com o telescópio, viu manchas solares, montanhas na Lua e a
forma de Saturno, com seus anéis. Suas descobertas introduziam imper-
feições nestes astros, o que contrariava a idéia aristotélica da perfeição
geométrica dos corpos celestes, que era dogma da Igreja. Ainda publicou
outros 2 trabalhos criando mais polêmica com a igreja,: em 1612 o Dis-
curso sobre as coisas que estão sobre a água, e em 1614 a História e demonstração
sobre as manchas solares, em que concorda abertamente com a teoria
heliocêntrica de Copérnico. Por isso, enfrentou duras críticas por retirar
dos céus a perfeição bíblica. Como conseqüência, em 1616, Galileu é
advertido pelo Santo Ofício a não mais pre-
“O livro da Natureza está escrito em gar a teoria heliocêntrica.
caracteres matemáticos ...sem um
Galileu se abstém temporariamente das
conhecimento dos mesmos os homens
não poderão compreendê-lo”. teses copernicanas, porém escreve em 1623
Galileu Galilei o livro Il sagiatore (O ensaísta), no qual apa-
rece uma teoria sobre a luz e a matéria de
natureza corpuscular, que se tornariam posteriormente objeto de acu-
sações contra ele. Em 1632, ele escreve mais uma obra de fácil aces-
so e leitura, em que novamente demonstra que a Terra é móvel, que
atuam as mesmas leis naturais na Terra como nos céus, e defende o
sistema de heliocêntrico. Pronto, isso pareceu um desafio às autori-
dades da Igreja! Galileu tornou-se inimigo da Fé pela Santa Inquisição,
e foi obrigado a negar sob juramento suas teorias, sob risco de ser
queimado como herege. Para se salvar, Galileu renega suas teorias e
passa, então, a viver em prisão domiciliar até sua morte.
Mas Galileu, mesmo sob ameaça da Igreja, continuou escre-
vendo secretamente e lançou em 1638, clandestinamente na
Holanda, o Discurso e demonstrações matemáticas em torno de duas novas
ciências, pertencendo à mecânica e aos movimentos locais. Neste livro ele
descreve os primeiros conceitos sobre a resistência dos materiais,
faz considerações sobre a estrutura da matéria e sistematiza alguns
célebres problemas de cinemática: movimento uniforme, movimen-

134
O nascimento da ciência moderna

to acelerado e movimento de projéteis. O livro inclui também novas


observações sobre pêndulo e oscilações: o isocronismo do pêndulo, a
relação entre comprimento e freqüência e a ressonância entre cordas
6
aula
vibrantes idênticas. Nos últimos dois anos de sua vida, já cego, ditou
aos seus discípulos Evangelista Torricelli (1608 - 1647), que se tor-
naria o inventor do barômetro, e Vincenzo Viviani (1622 - 1703),
suas últimas idéias sobre a teoria do impacto. Foram estes dois
matemáticos italianos que fundaram em 1657 a Academia del Cimen-
to, uma das primeiras instituições científicas do mundo ocidental.
Foi Galileu quem introduziu um procedimento fun-
damental para o cientista: a necessidade de testar, com
experiências concretas, as formulações teóricas. Além
disso, o genial italiano mostrou, com sua prática, que o
cientista precisa criar situações favoráveis de observa-
ção, eliminando fatores que interfiram ou prejudiquem a
análise do fenômeno a ser estudado.
Além de privilegiar a observação para o entendimento
de um fenômeno natural, Galileu introduziu a incorpora-
ção da linguagem matemática à ciência moderna. Sua abor-
dagem matemática foi de fato tão eficaz que se tornaria a
Evangelista Torricelli (Fonte:
marca registrada da nova Física que se desenvolveria nos www.biografiasyvidas.com).
séculos XVII e XVIII. Com ela, Galileu transformou o co-
nhecimento num saber ativo, isto é, que não se limita a contemplar a
natureza, mas consegue até transformá-la através da técnica. Por outro
lado, no contexto moderno, ao contrário do que ocorreu até a Idade
Média, o conhecimento passa a ser fragmentado em ciências particula-
res, produzindo uma visão parcial e especializada do mundo.

A ECLOSÃO DA CIÊNCIA MODERNA

As transformações ocorridas a partir do Renascimento e o início


da ciência moderna levaram a um grande questionamento sobre os
critérios e métodos para aquisição do “conhecimento verdadeiro”.
Há agora duas vertentes na filosofia: o racionalismo e o empirismo.

135
Introdução à Física

Os filósofos empiristas (do grego empeiria – experiência) defen-


dem que todas as idéias humanas são provenientes dos nossos 5 sen-
tidos, o que significa que têm origem na experiência. Para os empiristas,
é a experiência que imprime as idéias no intelecto humano.
Contrapondo-se às teses dos empiristas, os racionalistas atri-
buem grande valor à matemática como instrumento de compreen-
são da realidade. A mente humana é, no
“Penso, logo existo”. racionalismo, o único instrumento capaz de chegar
René Descartes à verdade. O filósofo e matemático francês René
Descartes (1596 -1650) é um dos grandes pensa-
dores racionalistas.
Descartes concluiu que a história de um povo e sua tradição
cultural influenciam a forma como as pessoas pensam e aquilo em
que acreditam. Ele atuava em muitos campos do conhecimento,
tais como Filosofia, Medicina, Matemática. Mas por sua atuação na
filosofia, Descartes é considerado o primeiro filósofo “moderno”.
Ele recomendava: “nunca devemos nos deixar persuadir senão pela
evidência da razão”, pois, como consideravam os racionalistas, a
experiência sensorial é uma fonte de erros e confusões na complexa
realidade do mundo. O método cartesiano institui a dúvida: só se
pode dizer que existe aquilo que possa ser provado. Para ele o raci-
ocínio matemático é baseado, principalmente, na lógica dedutiva,
em que nós partimos de uma verdade para encontrarmos outras
verdades, ou seja, que uma verdade é conseqüência da outra.
Sua maior contribuição na Matemática foi a fusão da Álgebra
com a Geometria, mostrando como traduzir problemas de Geome-
tria para a Álgebra, abordando esses problemas através de um siste-
ma de coordenadas. Fato que gerou a Geometria Analítica e um
sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome (o sistema
cartesiano). Por esses feitos ele teve um papel-chave na Revolução
Científica influenciando o desenvolvimento do cálculo moderno.
Para Descartes existiriam três tipos de substância: “terra (cin-
zas), ar sutil (fumaça) e fogo”. Líquidos e gases seriam “terra” com
diferentes graus de rarefação. Desenvolveu a idéia de Gilbert, de que

136
O nascimento da ciência moderna

um ímã teria ao redor de si um fluxo de uma matéria sutil formando


um vórtice. Isso explicaria a atração de pólos opostos e a repulsão de
pólos idênticos e a atração do ferro e do aço. O sistema de fluidos do
6
aula
magnetismo também foi utilizado por ele para explicar a dinâmica do
sistema solar. O sistema solar, para Descartes, seria um vasto vórtice
de matéria rarefeita arrastando os planetas. Além do vórtice
do sistema solar, haveria outros contíguos pre-
enchendo todo o espaço do universo. Em
um turbilhão de fluido, as regiões mais
centrais possuiriam maior velocida-
de angular. Isso de fato ocorre com
os planetas mais próximos do Sol.
Descartes estudou ainda a
colisão de dois corpos, tendo con-
jeturado a conservação da quanti-
dade de movimento, ainda que no
movimento em linha reta, enunciando
as leis de movimento em seu tratado Princí-
pios de Filosofia (1644). Descartes tem uma visão
mecanicista do mundo; nela o universo todo está em movimento.
Sua descrição se resume a entender as interações básicas dos com-
ponentes do universo e formular matematicamente as leis que re-
gem esses constituintes. René Descartes imprimiu à mecânica um
novo fundamento filosófico - o mecanicismo - que serviu de alicer-
ce para os desenvolvimentos subseqüentes deste campo da Física.
Um turbilhão de novas descobertas está ocorrendo nesta épo-
ca. O holandês Willebrord Snel (1580—1626) descobre a lei da
refração da luz. No mesmo ano, o francês Blaise Pascal (1623-
1662) estuda a pressão criada pelo peso da água e dos gases e
formula o chamado Princípio de Pascal, que é usado até hoje nos
projetos de prensas hidráulicas. Em 1654, Pascal prova a existên-
cia da pressão atmosférica e, juntamente com o francês Pierre de
Fermat (1601 -1665), formula a teoria das probabilidades, que
Christiaan Huygens (1629 - 1695) amplia em 1657. Huygens que

137
Introdução à Física

era um matemático, astrônomo e físico holandês, foi, ao


lado de Galileu e Newton, outra figura importante no de-
senvolvimento da mecânica.
Entre suas contribuições estão o papel e as característi-
cas da força centrífuga, o estudo dos chamados pêndulos físi-
cos (o movimento oscilatório de corpos rígidos) e a compre-
ensão da causa do isocronismo do pêndulo, que permitiu a
construção de um instrumento para medir o tempo com pre-
cisão: o relógio de pêndulo. Ele também deu importantes con-
tribuições sobre as leis que regem o fenômeno das colisões e
já tinha conhecimento da Lei da Inércia. Com um telescópio
mais poderoso que o de Galileu, Huygens foi capaz de identi-
ficar os anéis de Saturno com clareza, e descobrir Titã, a mai-
or lua de Saturno e a segunda maior do sistema solar, em 1665.
Huygens também se dedicou ao estudo da luz e cores.
Desenvolveu uma teoria baseada na concepção de que a luz
seria um pulso não periódico propagado pelo éter. Através
dela, explicou satisfatoriamente fenômenos como a propa-
gação retilínea da luz, a refração e a reflexão. Seus estudos
podem ser conferidos em seu mais conhecido trabalho so-
(Fonte: http://www.midisegni.it).
bre o assunto, o Tratado sobre a luz. Contemporâneo de
Newton, discutiu com ele durante muitos anos por não con-
cordar, sobre vários aspectos, com sua teoria sobre luz e cores, baseada
implicitamente numa concepção corpuscular para a luz.
Em 1657, o inglês Robert Hooke (1635-1701) comprova a Lei de
Galileu de que todos os corpos caem com a mesma velocidade, soltando
uma pena e uma moeda de metal de certa altura dentro de uma bomba
de ar para criar vácuo dentro de um cilindro de vidro vertical. Em 1662,
o irlandês Robert Boyle (1635-1701) demonstra que o ar pode ser com-
primido injetando mercúrio líquido em um tubo lacrado cheio de ar.
Com a entrada do mercúrio, sobra um espaço menor para o ar, que é
espremido em um volume menor. Boyle, em seguida, dobra o peso do
mercúrio injetado. Com isso, o volume de ar fica duas vezes menor.
Essa relação entre peso e volume é conhecida como a Lei de Boyle.

138
O nascimento da ciência moderna

Outro contemporâneo de Newton, o alemão Gottfried Wilhelm


Von Leibniz (1646 - 1716), filósofo, cientista, matemático, diplo-
mata e bibliotecário, admitia uma série de causas eficientes a determi-
6
aula
nar o agir humano dentro da cadeia causal do mundo natural. Foi ele
que, em 1671, propôs a existência do éter. Demonstrou genialidade
nos campos da lei, Religião, Política, História, Literatura, Lógica,
Metafísica e Filosofia. Mas principalmente, encontrava-se séculos à
frente de sua época, no que concerne à Matemática e à Lógica.
A criação do termo “função” (1694) é atribuída a Leibniz,
que o utilizou para descrever uma quantidade relacionada a uma
curva. Em 1666 escreveu De arte combinatoria, no qual formulou
um modelo que é o precursor teórico da computação moderna.
Em 1676, Leibniz já tinha desenvolvido algumas fórmulas ele-
mentares do cálculo e tinha descoberto o teorema fundamental
do cálculo, que só foi publicado em 1677, onze anos depois da
descoberta não publicada de Newton. Devemos a Leibniz nossa
notação para diferenciais e derivadas, assim como o símbolo de
integral, que é um “S” (de soma) graficamente deformado, além
da notação de diferenciais. Leibniz organizou a Academia de Ci-
ências de Berlim, que permaneceu como uma das principais do
mundo até que os nazistas a eliminaram.

ISAAC NEWTON

No seu último livro, Galileu, que morreu no ano do nascimento


de Isaac Newton (1642 - 1727), escreveu

“o futuro nos conduzirá a uma obra mais ampla e me-


lhor e da qual nosso trabalho é apenas o começo; espíri-
tos mais aprofundados do que o meu explorarão os
rincões mais ocultos.”

139
Introdução à Física

Pode-se dizer, como veremos, que Newton, o principal arqui-


teto da Mecânica Clássica, implementou a tarefa profetizada por
Galileu. Newton foi profundamente influenciado pela visão
mecanicista do mundo, criada por Descartes.
Você já utilizou muito as idéias e Leis desenvolvidas por
Newton em seus estudos da Física no Ensino Médio. Mas ele fez
muito mais do que você provavelmente sabe.
Com 18 anos, ingressou na universidade de Cambridge, onde
estudou Matemática e Filosofia. Em 1666, a região de Cambridge
é atingida pela peste pneumônica e Newton refugia-se na propri-
edade de sua família, no campo. Esse período de isolamento foi
extremamente proveitoso. Segundo um relato seu, teria então de-
senvolvido o teorema binomial, o cálculo diferencial e integral,
teoremas sobre séries infinitas, teria
“Mesmo um contato breve com os escritos calculado a área da hipérbole, e con-
alquímicos de Newton nos permite perceber cebido as idéias da Gravitação Uni-
quão arbitrárias e fluidas são as fronteiras entre versal e de fundamentos da mecâni-
Magia e Ciência neste período. Newton, o
ca, entre outros temas. Não bastasse
último dos magos e primeiro dos físicos, possuía
afinidades profundas com ambas”. isso, ainda enunciou uma teoria da
Hugo Franco luz e das cores, que já foi citada nes-
ta aula. Em 1668, depois de ideali-
zar as leis de reflexão e refração de luz, construiu o primeiro
telescópio reflexivo.
Por trás de fenômenos aparentemente banais construiu a
base de teorias revolucionárias. Conhece a história da queda
da maçã? Newton é mesmo famoso por ela! Newton confir-
mou a hipótese de que a força de atração exercida pela Terra
para fazer a maçã cair era a mesma que fazia a Lua “cair” para
a Terra, e assim a colocava em órbita elíptica em torno de
nosso planeta. Essa teoria forneceu a base para a solução do
problema dos planetas!
Em seu famoso livro Principia Mathematica Philosophiae
Naturalis (Princípios matemáticos da Filosofia Natural), de
(Fonte: ww.criativarpg.blogspot.com). 1686, ele descreve as leis da gravidade e dos movimentos.

140
O nascimento da ciência moderna

Com a Gravitação Universal, Newton expôs os fundamentos das


leis mais importantes do movimento dos corpos, com o que lançou
as bases da mecânica científica, levando os conceitos esboçados
6
aula
por Leonardo da Vinci e desenvolvidos por Galileu, completando
também os descobrimentos de Kepler. Portanto, a lei da gravitação
explicava e unia num só sistema harmonioso toda a complexidade
da mecânica celeste. Algumas de suas leis ou definições de Newton
já estavam, em parte, compreendidas nos trabalhos de Galileu, Des-
cartes e Huygens, porém, mérito de Newton, essa foi a primeira
grande síntese da história da Física. Ele construiu uma formulação
teórica de leis e definições bem
estruturada, que contemplava todos “Se fui capaz de ver mais longe, é porque
me apoiei nos ombros de gigantes.”
os aspectos do movimento então co-
Isaac Newton
nhecidos. Assim, ele criou a possibi-
lidade de novas investigações em diversos campos.
Newton, como já dissemos, foi também o criador, junto com
Leibniz, do Cálculo Moderno, um sistema matemático para resol-
ver problemas de Física que antes não tinham solução. As idéias
de Newton sobre óptica foram publicadas em 1707 no Opticks.
Em sua abordagem essencialmente experimental, propõe uma óti-
ca, que era ao mesmo tempo corpuscular e ondulatória, que seria
reescrita séculos mais tarde pela mecânica quântica. Numa seção
desse livro intitulada de questões (queries), aparecem também di-
versas especulações a propósito da estrutura da matéria e do ca-
lor. Newton tinha também uma intensa atividade como alquimis-
ta, faceta redescoberta apenas na década de 1930. Se a mecânica
Newtoniana pode ser imediatamente identificada com a contem-
porânea, sua alquimia guarda traços fortes do animismo da nature-
za que costumamos associar à magia. O mundo, por exemplo, é
visto por ele como um grande ser vivo.
Os fundamentos lançados por Newton guiaram os estudos da
física pelos 200 anos seguintes, e a partir deles ocorreram impor-
tantes inovações científicas e técnicas. Ao longo dos séculos XVIII
e XIX, o progresso material derivado dessas inovações foi notável.

141
Introdução à Física

AS SOCIEDADES CIENTÍFICAS

Toda vez que um cientista termina um trabalho de pesquisa, ou


descobre alguma coisa nova, ele tem que divulgar seus resultados e con-
clusões para o restante da comunidade científica. É assim que a ciência
internacional funciona hoje. Isso começou há muito tempo! Historica-
mente vem da Grécia Clássica, com a invenção pelos grandes filósofos
da Academia. Em reuniões e congressos, o cientista entra em contato
direto com seus pares e submete seus resultados, idéias e especulações
aos colegas de respeito. Isso é tremendamente importante para que ele
tenha certeza se o que está propondo e anunciando é correto e aceitável
O nascimento das grandes academias de ciência coincidiu com
um desenvolvimento extraordinário das ciências naturais e com a
contemporaneidade das mais extraordinárias e influentes figuras cien-
tíficas de todos os tempos. As primeiras academias resumiam-se a en-
contros informais, em princípio regulares, na casa de um nobre ou
mecenas, onde um grupo de eruditos debatia temas que iam da poesia
à matemática, passando pela astrologia/astronomia, filosofia e medici-
na. A Academia tornou-se (ela própria) parte do método científico. Uma
teoria científica, para se afirmar, necessitava ser comunicada a um con-
junto de sábios que a podiam criticar livremente.
As primeiras foram italianas (a Itália tinha o poder, na época,
que os Estados Unidos tem hoje). Estes grupos evoluíram para so-
ciedades, mais ou menos organizadas, das quais a primeira foi a
Accademia dei Lincei, fundada em Roma em 1603. Galileu foi membro
desta academia e nela divulgou suas descobertas astronômicas. Em
1657, a grande rival de Roma, Florença, também fundou a sua
Accademia del Cimento. Essas sociedades satisfaziam os caprichos dos
seus patronos, dos quais dependiam economicamente, sem possuí-
rem uma estrutura coerente de pesquisa científica.
Nos Ensaios das experiências naturais da Accademia del Cimento, pu-
blicados em 1667, destacam-se as mais variadas experiências nas
áreas da pneumática, som, magnetismo, movimento, etc. realizadas
com os instrumentos da academia. O papel da Itália como centro da

142
O nascimento da ciência moderna

“nova ciência” terminou com a extinção da Accademia del Cimento,


infelizmente 10 anos depois de sua fundação, com uma postura, por
parte da Igreja, mais dura e repressiva de novas idéias que contrarias-
6
aula
sem os escritos de Aristóteles e Ptolomeu.
Desde 1645 que um grupo de cientistas, na
altura designados “filósofos naturais”, se reunia
em Londres, com alguma regularidade, para dis-
cutir novas idéias e comunicar resultados obti-
dos individualmente. A Inglaterra herdou o lega-
do italiano, ao criar então a Royal Society em
1662. Foi fundada por decreto real a dois anos
depois, na França, a Academie Royal des Sciences,
que depois passou a se chamar Académie des
Sciences. Participaram no início de sua fundação
cientistas como Newton, Descartes e Pascal.
Ambas existem até hoje e continuam sendo as
mais importantes em seus países. São instituições
destinadas à promoção das ciências. Seu lema
afirma a vontade de estabelecer a verdade no do-
mínio das disciplinas científicas baseando-se so-
Accademia Nazionale Dei Lincei (Fonte: http://
mente na experiência, e jamais na autoridade de www.internetculturale.it).
um indivíduo. Ser eleito como membro de uma
dessas academias representa uma das honrarias máximas na vida de
qualquer cientista.
Antes das academias, os resultados e idéias principais eram
publicados na forma de livros, que tinham pouca circulação e
nenhuma periodicidade e eram lidos por poucas pessoas. O de-
bate era realizado basicamente na forma de cartas entre colegas,
levadas por mensageiros. Uma forma de despertar o interesse e
o apoio do público ao trabalho realizado nas sociedades científi-
cas foi então a publicação periódica dos conteúdos das reuni-
ões. O primeiro exemplo deste tipo de publicações surgiu na
França em 1665, com o nome de “Journal des Savants”, mas durou
apenas três meses.

143
Introdução à Física

Estimulado pelo exemplo francês, o secretário da Royal Society,


Henry Oldenburg, pôs em circulação em Londres as “Phylosophical
Transactions”. Sua primeira edição foi publicada em março de 1665.
Na carta-dedicatória, Oldenburg exalta o potencial da ciência (bem
como dos cientistas) e se propõe a disseminar “encorajamentos,
investigações, direções e padrões que deverão animar audiências
universais”. As “Actas Filosóficas” ganharam grande notoriedade,
sendo muito procuradas no estrangeiro. Foram traduzidas para la-
tim e para várias línguas européias, multiplicando-se o número dos
autores que enviavam artigos para publicação.
Pronto: estava criado o periódico científico –
Criado o período científico. o veículo da divulgação dos documentos cientí-
Até hoje usamos o mesmo método
para divulgar a ciência. ficos a toda a comunidade de investigadores e
também ao público em geral, usado até os dias
de hoje. Como você pode imaginar, a revista científica foi vital para
o desenvolvimento da ciência! Gradativamente o latim foi substi-
tuído nessas revistas pelo
inglês, pelo italiano, francês
e alemão, que se tornaram os
idiomas da ciência; e as car-
tas informais entre cientis-
tas se institucionalizaram na
for ma de “Letters” ou
“Léttres”, publicadas hoje
pelas revistas.
A nossa Academia Bra-
sileira de Ciências tem pou-
co mais de cem anos e tam-
bém tem uma revista, os
Anais. Somos verdadeiras
crianças, quando compara-
das com a rica história de
mais de 400 anos da ciência Anais da Academia Brasileira de Ciência, publica-
ção periódica da ABC (Fonte: http://
européia. antonioanicetomonteiro.blogspot.com/).

144
O nascimento da ciência moderna

C om o surgimento da Renascença, verificamos a mudança


de atitude do homem em relação à Ciência, que começa a
deixar o ascetismo característico da Idade Média, passando a reconhecer
a importância do homem e a sua relação com o mundo natural. Além da
6
aula
visão que o homem tinha de si mesmo, mudou tam-
bém o modo pelo qual ele encararia sua ciência.
CONCLUSÃO
Não coloca mais a autoridade acima da observa-
ção e testa cada nova hipótese contra as experiên-
cias, já adquiridas.
Dentro deste contexto histórico, essa Revolução Científica ge-
rou uma moderna concepção científica, principalmente pela inserção Ascetismo

da necessidade de se testar as teorias, feitas por Galileu. Esse fato Moral religiosa que
despreza o corpo e
afetou todos os campos da ciência, inclusive mudaram as técnicas de suas sensações.
investigação, os objetivos que o cientista estabelecia para si próprio.
Grandes cientistas surgiram nesse momento, sendo Newton o físi-
co mais importante. Sua Lei da gravitação universal explicava e unia
num só sistema toda a complexidade da mecânica celeste, possibilitan-
do uma evolução gigantesca nas investigações cientificas que o proce-
deram. Devido a efervescência cientifica do momento foi necessário a
criação das sociedades científicas, para discussão, análise e divulgação
das investigações realizadas, indicando um novo papel que a Ciência
desempenharia frente à filosofia e a própria sociedade.

145
Introdução à Física

RESUMO
Com o movimento denominado Renascimento, nos séc.séculos
XV e XVI, surge a contestação das velhas tradições e o rompi-
mento da ciência com a religião. A mentalidade medieval euro-
péia dá lugar à mentalidade moderna, com a volta da racionalidade para o
entendimento do mundo. O personagem principal desse período foi
Leonardo da Vinci, com destaque para vários outros grandes cientistas
surgidos nessa época: William Gilbert, Nicolau Copérnico, Tycho Brahe,
Johannes Kepler, Giordano Bruno, Francis Bacon.
Mas é com Galileu Galilei que se dá a transição para a Ciência
Moderna, com traços claros de um novo método científico baseado
na experimentação. O Método Científico baseado na experimenta-
ção se consolida. Ocorre a ruptura da ciência com a religião (não
significa que uma não influencie a outra !!!). A modernidade então
se instaura nas ciências a partir de uma leitura do universo susten-
tada em critérios da Física, da Matemática e da Geometria.
Surgem duas vertentes na filosofia: o racionalismo e o empirismo.
Para os empiristas todas as idéias humanas são provenientes dos nos-
sos 5 sentidos. Já os racionalistas atribuem grande valor à Matemáti-
ca como instrumento de compreensão da realidade. O maior filósofo
racionalista é René Descartes (1596 -1650) , que também fez grande
contribuição na Matemática com a fusão da álgebra com a geome-
tria, criando a geometria analítica e um sistema cartesiano.
Foi Descartes também que imprimiu - o mecanicismo, que serviu de
alicerce para os desenvolvimentos subseqüentes à mecânica clássica.
Seguem uma grande quantidade de descobertas importantes como:
a lei da refração da luz por Snel, a formulação do Princípio de Pascal,
formulação da teoria das probabilidades por Pascal e Fermat. Huygens
estuda a força centrífuga e os pêndulos físicos, que permitiu a constru-
ção do relógio de pêndulo. Huygens também estuda a propagação, a
refração e a reflexão da luz. Robert Hooke comprova a Lei de Galileu
com um cilindro a vácuo, Robert Boyle demonstra a relação conhecida
como a Lei de Boyle e Leibniz escreve o teorema fundamental do cál-
culo que foi desenvolvido simultaneamente por Newton.
Newton, por trás de fenômenos aparentemente banais, cons-
truiu a base de teorias revolucionárias. Foi ele quem desenvolveu o

146
O nascimento da ciência moderna

teorema binomial, o cálculo diferencial e integral, teoremas sobre


séries infinitas, calculou a área da hipérbole e concebeu as Leis da
Gravitação Universal e de fundamentos da mecânica, entre outros
6
aula
temas. Também enunciou uma teoria corpuscular da luz. Newton
também tinha uma intensa atividade como alquimista.
Com o desenvolvimento extraordinário das ciências naturais
surge a necessidade da discussão, análise e divulgação das investi-
gações realizadas pelos pesquisadores. Assim, nascem as grandes
Academias de Ciência, que perduram até hoje, e com elas os perió-
dicos científicos, que se tornaram o meio de divulgação dos traba-
lhos realizados pelos cientistas.

ATIVIDADES

Qual era a visão dos pensadores e cientistas durante a Idade Média


e o que mudou com o Renascimento?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


Durante a Idade Média, o conhecimento humano era voltado para
fundamentar, legitimar e difundir as verdades contidas nas Sagradas
Escrituras e, portanto, distanciava-se do pensamento racional.
Qualquer outro tipo de ciência era condenado como herege.
Alguns pensadores renascentistas começaram a introduz a idéia
de que o mundo de Deus e o mundo dos homens são diferentes,
portanto, os meios de conhecimento de cada um deles deviam
ser também diferentes. O mundo terreno deveria ser explicado
pela experiência dos sentidos. Com o renascimento foi derrubada
a concepção medieval de mundo, mesmo mantendo a idéia de
que o criador de todas as coisas foi Deus, o homem renascentista
mudou a maneira de pensar sobre as criações. Passou-se para
uma ordem menos vinculado ao caráter divino ou sagrado e mais
derivada da razão. Iniciou-se a separação entre a fé e a ciência.

147
Introdução à Física

ATIVIDADES

Qual foi a mudança mais radical ocorrida nas ciências devido a


Galileu?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


Galileu introduziu a necessidade de testar, com experiências
concretas, as formulações teóricas. Isso alterou de forma radical
toda a ciência, pois a partir dele a “verdade” passa a ser buscada
através de provas (testes) científicas.

ATIVIDADES

Se Newton se baseou em trabalhos anteriores como os de Leo-


nardo da Vinci, Galileu, Kepler, qual foi sua grande inovação
científica?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Newton, baseado em outros trabalhos, conseguiu fazer com


eles a primeira grande síntese da história da Física. Sua lei da
gravitação explicava e unia num só sistema toda a
complexidade da mecânica celeste, com uma formulação
teórica de leis e definições bem estruturada, que contemplava
todos os aspectos do movimento até então conhecidos. Com
isso, Newton gerou novas possibilidades de investigações em

148
O nascimento da ciência moderna

ATIVIDADES

Defina se as frases indicam um pensamento: ou racional (R) ou


6
aula
não-racional (N)
a) ( ) Não me sinto obrigado a acreditar que o mesmo Deus que nos dotou de
sentidos, razão e intelecto, pretenda que não os utilizemos.
b) ( ) O amor é o estado em que melhor as pessoas vêem as coisas como
realmente são.
c) ( ) Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a
concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel..
d) ( ) Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas.
e) ( ) Quando você quer alguma coisa, todo o Universo conspira para que
você realize o seu desejo.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


a) (R) Essa é uma frase de Galileu Galilei. Ela fala que a busca
do conhecimento deve ser feita pela razão, afinal somos dotados
de sentidos, razão e intelecto para serem utilizados, de forma
que exalta o pensamento racional.
b) (N) Essa é uma frase de Aristóteles. Observe que ele acha
que somos influenciados pelo amor em nossa visão do mundo,
que é claramente não racional.
c) (R) Essa é uma frase de René Descartes. Nela Descartes faz um
comentário acerca de alguns pensamentos que pareciam verdadeiros,
quando se tenta prová-los tornam-se falsos, demonstrando como
deveria proceder um racionalista: provar suas hipóteses.
d) (R) Essa é uma frase de Napoleão Bonaparte. Ela mostra como
os políticos se valem da religiosidade das pessoas para manipulá-
las. Essa também é uma visão dos racionalistas sobre a religião.
e) (N) Essa é uma frase de Paulo Coelho. Nela o escritor comenta que
sua “fé” no seu desejo é auxiliada pelo “Universo”, que pode ser
tomado como um “Deus”. Esse é claramente uma forma não racional
de pensamento, visto que essa afirmação não pode ser provada.

149
Introdução à Física

ATIVIDADES

Faça uma lista com 3 razões para a criação das sociedades ci-
entíficas.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Há diversas razões para que esse tipo de congregação exista.


Dentre eles podemos citar:
1. Fazer contato direto entre cientistas
2. Divulgar os resultados científicos
3. Fazer uma análise dos resultados científicos por diversos
pesquisadores
4. Promover as ciências.
5. Estabelecer a verdade no domínio das disciplinas científicas.

PRÓXIMA AULA

Em nossa próxima aula, estudaremos sobre um período de tra-


balho intelectual muito intenso, denotando um grau crescente
de especialização com técnicas mais elaboradas. Além disso,
veremos que o conhecimento terá um aspecto mais público.

150
O nascimento da ciência moderna

REFERÊNCIAS

FIOLHAIS, C; LEONARDO, A. J. Breve história das academias


6
aula
científicas. Disponível em <http://dererummundi.blogspot.com/
2007/07/breve-histria-das-academias-cientficas.html>.
FRANCO, H. Curso de evolução dos conceitos da Física do
IFUSP. Disponível em <http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d>
Acesso em 01/11/2007.
MACEDO, C. A. Apostila do Curso de Introdução à Física da
UFS. São Cristóvão, 2006.
NATÉRCIA, F. Royal Society disponibiliza seu acervo na internet.
Cienc. Cult. v. 59, n. 1. São Paulo. Jan./Mar. 2007.
Portal de ensino de Física da USP. Disponível em <http://
efisica.if.usp.br>. Acesso em 10/12/2007.
PRIMON, A. L. M. at al. História da ciência: da Idade Média à
atualidade. Psicólogo InFormação, p. 35-51, 4, 2000.
VALERIO, M. E. G.; Notas de aula Curso de Introdução à Físi-
ca da UFS. São Cristóvão, 2006.
http://hpdemat.vilabol.uol.com.br/biografias.htm.
http://scientia.artenumerica.org.
h t t p : / / w w w. u c b . b r / p r g / c o m s o c i a l / c c e h /
textos_conhecimento_debate.htm.

151
1
livro

A CIÊNCIA DO ILUMINISMO 7
aula
META
Mostrar como a ciência moderna,
gerada nos séculos XVII e XVIII,
alterou radicalmente o pensamento
até então vigente e mudou o modo
de vida da população.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá:
definir evolução histórica e
contextualizar algumas das
grandes contribuições científicas
ocorridas nos séculos XVII,
XVIII e XIX;
reconhecer que é fundamental
conhecer as teorias do passado
para poder evoluir no presente;
compreender porque alguns
cientistas afirmam que a ciência
está limitada pela mente humana;
reconhecer as diversas áreas
científicas criadas a partir da
filosofia natural; e
identificar como a ciência se
tornou mais popular com o
Iluminismo, influenciando as artes
e a política, além de si própria.
Frontispício da Enciclopédia (1772), desenhado por Charles-
Nicolas Cochin e gravado por Bonaventure-Louis Prévost
(Fonte: http://www.arikah.net).
PRÉ-REQUISITOS
O aluno deverá ter em mãos,
um CD qualquer.
Introdução à Física

O lá, caro aluno, tudo bem? Vamos continuar a entender


como se deu a evolução do conhecimento científico?
Hoje, ficaremos sabendo um pouco do que ocorreu no período “pós-
Newton”. Você se lembra da aula anterior, que as profundas trans-
formações iniciadas ainda na Idade Média atin-
giram o seu ápice em 1687, quando Newton
INTRODUÇÃO
publicou o seu famoso livro conhecido como
Principia? Pois é, Newton resumiu nele suas
descobertas e apresentou as três leis que se tornaram, daí para fren-
te, os mandamentos da Física. Essas idéias de Newton abriram ca-
minho para um desenvolvimento científico sem igual.
Também falamos sobre as sociedades científicas surgidas em
meados do século XVII. Bem, sabe-se que em suas publicações
iniciais o modo de fazer a ciência era artesanal, bastante artesanal.
Os trabalhos eram, em geral, de um único autor, com periodici-
dade bastante irregular, e os relatos tinham tom pessoal. Não
havia separação entre amadores e profissionais. A escala da ati-
vidade científica era pequena, as oportunidades de emprego eram
raras. Uma descoberta ou invenção muitas vezes nem se dava de
forma intencional.
Pois então, após esse princípio artesanal, veremos hoje que a
atividade de pesquisa científica se profissionalizou no século XVIII
e XIX e passou a integrar, como capital, o sistema de produção,
conquistando espaço crescente nas universidades, indústrias e go-
vernos. A pesquisa se mostrou de grande utilidade para diversos
setores industriais, o que abriu os olhos da classe capitalista. Em
especial, as empresas gigantes que surgiam, frutos da concentração
de capital, tiveram a percepção da importância da pesquisa como
meio de estimular ainda mais a acumulação de capital. Houve, as-
sim, com investimentos desses empresários, um grande salto cien-
tífico, com descobertas em novas áreas.
Você notará que o espírito de excitação e exploração levou a
novas investigações teóricas e experimentais, e essas mudaram opi-
niões vigentes em um sem número de assuntos. Devido a essa

154
A ciência do iluminismo

multiplicidade de informações houve uma necessidade de


subdividisão das áreas do conhecimento, induzindo a uma maior
especialização dos cientistas. Assim, com o passar do tempo, a filo-
7
aula
sofia, que abrangia as mais diversas áreas do conhecimento, foi dan-
do lugar aos diversos ramos da ciência, que designamos hoje por:
matemática, física, química, biologia etc. Mas também veremos que
essa nova ciência foi baseada na evolução das idéias já existentes, e
que, portanto, é fundamental conhecer as teorias do passado para
poder evoluir no presente!

FILOSOFIA
NATURAL

FÍSICA QUÍMICA BIOLOGIA

ELETRICIDADE ÓPTICA TERMODINÂMICA ETC.

155
Introdução à Física

P rimeiro vamos nos focalizar no período histórico de que


estamos tratando. Estamos na Idade Moderna, período da
História do Ocidente marcado pela “revolução social”, cuja base
consiste na “substituição do modo de produção feudal pelo modo
de produção capitalista”.
Lembra-se de suas aulas de história? A
REVOLUÇÕES monarquia absolutista era um tipo de governo
muito comum na Europa ocidental entre o sé-
culo XVII e meados do Século XIX. Nela o Monarca ou Rei exer-
cia o poder absoluto com apoio do Clero. Pois então, diversos
filósofos buscavam justificar esse poder absoluto dos monarcas,
como Nicolau Maquiavel e Thomas
Hobbes, alegando que esse modelo de es-
tado seria a forma de escapar da guerra de
todos contra todos, que aconteceria caso não
houvesse um rei para centralizar o poder.
Mas é claro que outros filósofos tinham
pensamento contrário, e assim, na segunda
metade do século XVIII, surgiu o movimen-
to Iluminista. Este movimento iniciado na
França defendia o domínio da razão sobre a
visão teocêntrica que dominava a Europa
desde a Idade Média. Segundo os filósofos
iluministas, esta forma de pensamento tinha
o propósito de “iluminar as trevas” em que
se encontrava a sociedade. Os iluministas
acreditavam que a razão e a ciência seriam as
formas de explicação para todas as coisas no
universo, em contraposição à Fé.
Como a Inglaterra havia afastado a influ-
Capa de Leviatã, de Thomas Hobbes. (Fonte: http:// ência religiosa definitivamente do poder polí-
www.adventistas.com).
tico em 1688, é lá que os iluministas irão
encontrar maior liberdade de expressão para o desenvolvimento
de suas idéias. Segundo o inglês John Locke (1632-1704), o Ho-

156
A ciência do iluminismo

mem adquiria conhecimento com o passar do tempo através da


experiência empírica.
Jean le Rond d’Alembert (1717-1783) junto com Denis Diderot
7
aula
(1713-1784), dois grandes iluministas, organizaram uma enciclo-
pédia que reunia o conhecimento e o pensamento filosófico da época.
Suas pesquisas em Física relacionaram-se à mecânica racional, o
princípio fundamental da dinâmica, o problema dos três corpos,
cordas vibrantes e hidrodinâmica. D’Alembert, dentre outras coi-
sas, estudou as equações diferenciais e definiu a noção de limite,
que você usará bastante em Física. Além de d’Alembert, esse perí-
odo contou com diversos outros grandes filósofos que deram enor-
me contribuição às bases matemáticas da Física, tais como Euler,
Bernoulli, Lagrange, Laplace.
Houve uma disseminação da ciência aplicada entre a popula-
ção da Inglaterra dentro dos mais diversos segmentos sociais du-
rante o século XVIII, devido às idéias
iluministas e também através da atuação de Olha só: será que a UAB também não
Professores Itinerantes de Filosofia Mecânica terá esse papel no Brasil?
e Experimental Newtoniana, que viajavam pelo
país. A ciência ficou mais popular levando uma poderosa base inte-
lectual à população e assim mudou conceitos. Isso possibilitou, em
meados desse século, a Revolução Industrial.
Se você não se lembra, essa
revolução consistiu em um conjun-
to de mudanças tecnológicas com
profundo impacto no processo pro-
dutivo em nível econômico e soci-
al. Um dos pontos fundamentais
para o sucesso da Revolução In-
dustrial foi a construção da máqui-
na a vapor, idealizada pelo francês
Denis Papin (1647-1712) e aper-
feiçoada pelo inglês James Watt,
em 1790. (Fonte: http://www.quarteiraopaulista.com.br).

157
Introdução à Física

A máquina a vapor é um equipamento que


explora a pressão do vapor de água sobre um
êmbolo para produzir pressão e sucção. Muito
rapidamente essa máquina começou a ser em-
pregada para o bombeamento de água de minas
e para o acionamento de máquinas em moinhos
de farinha, fiações e tecelagens e na fabricação
de papel.
Fora da Europa o Iluminismo também teve for-
te influência, como na Guerra da Independência dos
Estados Unidos da América (1776) contra o domí-
Representação de Tiradentes. (Fonte: http:// nio inglês. O sucesso da independência dos Esta-
www.sejus.df.gov.br).
dos Unidos influenciou a Revolução Francesa
(1789) e as subseqüentes revoluções na Europa e
América do Sul, como a Inconfidência Mineira (1789), no Brasil.
A Revolução Francesa, a mais marcante do período, trouxe um
tempo de efervescência política que se ajustava perfeitamente a
uma abertura intelectual com novas possibilidades, e portanto no-
vas descobertas científicas.

SISTEMA MÉTRICO

O Sistema Métrico Decimal é, talvez, a mais va-


liosa herança científica que a Revolução Francesa
nos deixou. Imagine a confusão que seria se cada su-
permercado utilizasse uma forma diferente de medir
o peso de seus produtos a venda? Mas era exatamen-
te isso que ocorria naquele período. Não existia um
sistema unificado de pesos e medidas. Havia mais de
A liberdade guiando o povo, tela de Eugene Delacroix,
1830 (Fonte: http://www.artchive.com). 800 unidades de medida e muitas delas tendo nomes
iguais, mas com valores diferentes.
Em 1790 na França, um de seus deputados de sobrenome
Talleyrand propôs a constituição de um sistema unificado de pesos
e medidas que pusesse fim à enorme confusão nas unidades de

158
A ciência do iluminismo

medida. A proposta de Talleyrand foi aprovada e a Academia das


Ciências foi incumbida de criar um novo e único sistema. Com isso,
em 1799, foram fabricados os padrões do metro e do quilograma.
7
aula
Ainda hoje, o sistema métrico criado por eles é o mais usado no
mundo (e aqui no Brasil). Apesar de tornar mais fácil as operações,
não foi fácil a introdução do sistema na França e tam-
bém nos países que foram aderindo ao longo dos tem-
pos, pois era diferente do que era habitualmente usado.
Esse processo ainda não terminou. Por exemplo, os EUA
e a Inglaterra ainda usam algumas unidades “esquisi-
tas” como pé, milha, libra, galão, etc ...

DA ALQUIMIA PARA A QUÍMICA

Se alguém perguntasse a você “do que as coisas são


feitas?” O que você responderia? A resposta dos físicos é:
tudo o que existe no mundo é feito de matéria. Tudo no
mundo é matéria arranjada de modos diferentes. Tudo é
composto de pedacinhos minúsculos impossíveis de ver a
olho nu. É claro que se você já estudou, pode se aprofundar
falando dos átomos etc. Mas na Idade Média não se sabia
nada mais profundo sobre a matéria, pois ainda não havi-
am sido desenvolvidos vários equipamentos que ajuda-
ram os cientistas as saber o que eles sabem hoje.
O pensamento vigente era ainda o de Aristóteles,
que acreditava que tudo o que havia na Terra era feito
(Fontes: http://ofiel.files.wordpress.com;
de quatro elementos: água, fogo, terra e ar. A quantida- http://www.inglet.com).
de de cada um desses quatro elementos em combina-
ção é que dava à matéria suas mais diferentes aparênci-
as. Mas alguns Europeus e Orientais, durante a Idade Média, come-
çaram a entender melhor os mistérios da matéria. Esses homens
deram um passo fundamental nessa história promovendo transfor-
mações através do fogo: eles ficaram conhecidos como alquimistas.
Muitos deles acreditavam que, usando os poderes do fogo, seriam

159
Introdução à Física

capazes de purificar metais e transformá-los no mais nobre de to-


dos: o ouro.
A busca era na base de tentativa e erro, e
exigia muita paciência. Na época dos primeiros
alquimistas, não havia separação entre matéria e
espírito. Por isso, explorar as propriedades da
matéria era também explorar os mistérios do es-
pírito. E assim, os alquimistas buscavam além da
pedra filosofal, que seria a substância capaz de
fazer essas transformações, o elixir da longa vida.
Durante o século 17, pode-se perceber,
através da grande quantidade de trabalhos
publicados nesse período, que a persegui-
ção clássica da transmutação foi forte. Cla-
ro que essas idéias eram um chamariz para
Ilustração representando a alquimia, com sua associação charlatões, pois aquele que alcançasse es-
aos elementos da natureza (Fonte: http://
www.cq.ufam.edu.br). ses objetivos ficaria rico e/ou viveria mui-
tos anos. Mesmo assim, muitos investiga-
dores sérios tentaram a possibilidade da transmutação
alquímica, dentre eles Newton e Robert Boyle.
Boyle foi um dos primeiros investigadores que tentaram dar
forma científica ao atomismo dos Antigos, opondo-se à teoria dos
quatro elementos de Aristóteles. Era tam-
Boyle traz de volta a idéia dos átomos bém fascinado pelas propriedades físicas do
ar. Estendeu suas pesquisas à hidrostática,
ao som, aos fenômenos da respiração e junto de Robert Hooke cons-
truíram uma máquina pneumática para desenvolvimento de pes-
quisas com gases em 1659. Outra de suas descobertas importantes
foi a de que a água se expandia ao se congelar. Você já devia sabe
isso, não? Pois você nunca ouviu falar que não se deve deixar uma
latinha de cerveja no congelador porque ela estoura? É, a água da
cerveja ocupava um espaço menor que o gelo criado dentro da lata,
e então buuuummm!
No século XVII, química e alquimia não eram claramente defi-

160
A ciência do iluminismo

nidas. Os químicos pensavam em extrair e compreender os elemen-


tos e seus princípios essenciais. Tal conhecimento poderia ser mui-
to útil, mas a Química não tinha ainda status científico, pois era
7
aula
considerada um ofício prático. Porém, antes do início do século
XVIII, principalmente na França, surgiram sinais de que a Química
começava a se diferenciar da alquimia. Experi-
mentos com sais conduziram mudança das ve- Nasce a ciência química
lhas concepções sobre a composição baseada nos
elementos de Aristóteles por novas noções baseadas nas ações de
ácidos e bases. A partir daí, a Química foi incorporada como uma
atividade “maior” na Academia de Ciências Francesa, em 1666.
A compreensão racional sobre as interações das várias substân-
cias materiais foi um desafio para a Química no século XVIII. Parte
da motivação foi dissociar as técnicas investigativas emergentes de
experimentação tradicional associada com a alquimia. Embora a al-
quimia ainda estivesse presente, o Iluminismo, com sua ênfase na
razão, permitiu aos químicos se diferenciar dos alquimistas.
Do que é feito o fogo e por que as coisas se queimam? É a
típica pergunta que as crianças fazem e os adultos se enrolam
para responder.
Na Alemanha, Georg Stahl, professor de medicina, em 1702,
introduziu uma explicação da combustão baseada no phlogiston, que
seria uma substância sem peso do fogo. Não era exatamente o fogo,
mas era o poder motivador para as partículas de fogo. Durante o
século XVIII a teoria do phlogiston continuou a ganhar adesões.
Em 1780, vários investigadores foram conduzidos a experimen-
tos para identificar as propriedades de novos “ares” (gases) e a ex-
plorar os diferentes caminhos das substâncias químicas interagirem.
Quase todos os químicos da época acreditavam que o phlogiston era
um elemento contido nos corpos dos combustíveis e que abando-
nava esses corpos quando eles se queimavam. O inglês Joseph
Priestley não era diferente, foi dele a descoberta do gás que viria a
ser chamado de oxigênio e que conduziu a uma nova explicação da
combustão feita pelo francês Lavoisier.

161
Introdução à Física

Em uma de suas experiências, Antoine Lavoisier mostrou


que as coisas pegam fogo por causa do oxigênio que existe no ar.
Cobrindo uma vela acesa com um copo, ele demonstrou que ela
se apaga assim que o oxigênio dentro do copo é consumido pe-
las chamas.
Em seu trabalho, Lavoisier dava muita importância ao conhe-
cimento do peso exato de cada componente de suas experiências, e
isso o levou a obter conclusões que tinham passado despercebidas
a seus colegas, como o erro da “teoria do phlogiston”. Lavoisier
demonstrou que o enxofre e o fósforo aumentavam de peso quando
entravam em combustão. Em sua explicação, ele acreditava que o
fogo era um elemento sem peso que se combinava com o ar. Duran-
te a combustão ele seria liberado enquanto o ar seria fixado no
Antoine Lavoisier (Fonte: material. Essa nova explicação alegava o princípio de conservação
www.blogs.sapo.pt).
da matéria, que reforçava a importância do peso dos reagentes an-
tes e depois da reação química.
Lavoisier acabou descobrindo algo fundamental sobre a ma-
téria do mundo: que, essencialmente, as coisas não surgem do
nada, nem se destroem para sempre. As coisas apenas mudam
de forma. Você já deve ter ouvido a famosa frase dele: “Na
natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Essa é a
famosa lei da conservação de matéria!
Segundo Lavosier, as coisas do mundo eram feitas de 33 ele-
mentos, um deles justamente o oxigênio. Em 1789, ele já tinha
pesquisado o suficiente para publicar seu trabalho inovador cha-
mado Os Elementos da Química, que acabava com a idéia dos quatro
elementos. Só que, além de químico brilhante, Lavoisier era tam-
bém um nobre banqueiro e coletor de impostos. Era o ano da Revo-
lução Francesa e infelizmente para a ciência, Lavosier foi condena-
do à guilhotina. Ele morreu sem responder a pergunta fundamental
que foi proposta por ele mesmo: por que exatamente nada se perde
e tudo se transforma?
O que poderia existir no interior da matéria, capaz de resistir
até mesmo ao fogo?

162
A ciência do iluminismo

O ESTUDO DO CALOR

Parece justo considerar a Mecânica, ou seja, o estudo dos mo-


7
aula
vimentos, como a parte mais antiga da Física, não é mesmo? Ela
talvez seja a área da ciência com que todos se sentem mais familia-
rizados, dada a convivência que os humanos têm com movimentos
em seu quotidiano. Um dos interessados nessa ciência foi Henry
Cavendish, que comprovou parte da teoria de atração dos corpos
de Newton, em 1797, quando mediu a constante gravitacional.
Assim, muitos tentavam explicar a natureza baseadas em co-
nhecimentos sobre os movimentos. O matemático suíço Daniel
Bernoulli (1700-1782) não foi diferente. Ele tentou explicar o com-
portamento dos gases através da mecânica, levantando a hipótese,
em 1738, de que eles são compostos de uma infinidade de partícu-
las minúsculas sempre em movimento e que sua temperatura refle-
tia a velocidade dessas partículas. Quanto maior o calor, mais rápi-
do é o movimento. Naquela época, os conceitos de Bernoulli foram
vistos somente como especulações, e não como fatos comprova-
dos. Hoje, sabemos que ele estava correto.
Estudando matematicamente o comportamento dos gases,
James Clerk Maxwell, que é mais famoso pelos seus trabalhos em
eletromagnetismo, chegou à conclusão teórica de que
suas moléculas se movem em todas as direções e com Teoria cinética dos gases:
todas as velocidades possíveis, chocando-se elastica- como calcular a velocidade
mente entre si e contra os obstáculos. Mostrou que a dos átomos.
maioria delas, porém, se movia com velocidade inter-
mediária, ou seja, que o melhor indicador do estado de agitação
interna de um gás seria a velocidade média de suas moléculas. Isso
o levou, em 1859, a propor a Teoria cinética dos gases, em que de-
monstra como calcular a velocidade dos átomos de um gás.
Opa, parece que este estudo do movimento estava os conduzi-
do para outra área, o estudo do calor, que nós chamamos hoje de
termodinâmica! Ah, então para começar a falar sobre história da
termodinâmica devemos iniciar pelas escalas térmicas.

163
Introdução à Física

Ok, vamos lá: uma delas foi a do físico alemão Daniel Gabriel
Fahrenheit (1686-1740), que apesar de ter feitos muitas outras des-
cobertas, se tornou conhecido em todo o mundo pela escala
termométrica batizada com seu nome. Fahrenheit criou sua escala
termométrica determinando o ponto mínimo (0o F) utilizando uma
mistura de água, gelo pilado, sal e amônia. Sua contribuição mais
importante, porém, foi a substituição do álcool pelo mercúrio na
confecção dos termômetros, como aqueles que usamos até hoje.
Já o professor de astronomia su-
eco Anders Celsius, também ficou
bem conhecido pela sua escala de
temperatura, proposta pela primeira
vez em 1742. Você sabe qual é, né?
Aquela que nós brasileiros usamos
todo o tempo.
Aliás, a escala Celsius é usada em
quase todo o mundo quotidianamen-
te. Ela foi concebida de forma a que
o ponto de congelamento da água
correspondesse ao valor zero e o pon-
to de evaporação correspondesse ao
valor 100, observados na pressão at-
mosférica no nível do mar.
Mas a termodinâmica teve início
realmente só em 1824. O pioneiro nes-
se campo foi o francês Nicolas-Leonard-Sadi Carnot (1796-1832).
Carnot estava interessado nas máquinas térmicas, as quais utilizam
energia na forma de calor (gás ou vapor em expansão térmica) para
provocar a realização de um trabalho mecânico. Para ele, o calor das
caldeiras nunca era usado integralmente para produzir força e movi-
mentar engrenagens, pois uma parte sempre se perde. Carnot, então,
idealizou uma máquina, para calcular qual seria seu rendimento. Com
seus trabalhos, Carnot nos ensinou como calcular o rendimento má-
ximo dessas máquinas, que nunca chega em 100%!

164
A ciência do iluminismo

A LUZ É UMA PARTÍCULA OU UMA ONDA?

A primeira grande evolução da óptica ocorreu durante o século


7
aula
XVII, quando houve um desenvolvimento significativo da sua formu-
lação matemática, o que possibilitou a explicação dos fenômenos ob-
servados até então. Na segunda metade do século XVII, descobertas
interessantes foram realizadas e novos conceitos
foram introduzidos.
O fenômeno de difração foi descoberto por
Francesco Maria Grimaldi (1618-1663). Mas o
que é difração? Não se preocupe com detalhes,
pois você vai estudar isso mais tarde. Mas saiba
que a difração é um fenômeno que ocorre com
as ondas quando elas passam por um orifício
ou contornam um objeto cuja dimensão é da
mesma ordem de grandeza que o seu compri-
mento de onda. A difração ocorre, por exem-
plo, quando a luz não passa por um CD. Veja o (Fonte: http://upload.wikimedia.org).
reflexo em um deles. O que surge? Faixas ou
halos coloridos, não é mesmo? Isso é devido à
difração da luz por pequenos obstáculos (os sulcos do CD).
Em seguida, Robert Hooke (1635-1703) refez os experimen-
tos de Grimaldi sobre difração e observou padrões coloridos de
interferência em filmes finos. Ele propôs que a luz originava-se de
um movimento ondulatório rápido no meio, propagando-se a uma
velocidade muito grande. Surgiam assim, as primeiras idéias da te-
oria ondulatória.
Depois de vários séculos, o éter, conceito que surgiu nos tempos
antigos, tomou uma conotação propriamente científica. Ora, os ci-
entistas já haviam constatado que se um sino tocasse no vácuo, a
ausência de ar não permitia que se produzisse nenhum som. Como
explicar que a luz se propagava no vácuo, sem um meio material
capaz de transportar suas ondas? Diante deste dilema, Christiaan
Huygens recorreu à velha idéia do éter - meio no qual se propagariam

165
Introdução à Física

as ondas luminosas. Ele desenvolveu, em 1690, uma teoria baseada


na concepção de que a luz seria um pulso não periódico propagado
pelo éter. Através dela, explicou satisfatoriamente fenômenos como
a propagação retilínea da luz, a refração e a reflexão.
Mas Newton tinha um prestigio muito grande, e por isso tinha
suas idéias possuíam maior peso na avaliação das teorias científicas,
e como ele introduziu a teoria corpuscular que afirmava que “a luz é
composta de corpos muito pequenos, emitidos por substâncias brilhantes”, essa
idéia foi predominante durante muito tempo. Mesmo assim, evidên-
cias do caráter de onda da luz vieram reforçar essa teoria. Por exem-
plo, Thomas Young, em 1801, mostrou que é possível combinar duas
ondas (interferência) de água e produzir uma terceira, diferente das
anteriores, e o mesmo pode ser feito com dois raios de luz, logo a luz
também deve ser um tipo de onda! E com isso, já ao final do século
XVIII, ambas as teorias (corpuscular e ondulatória) eram aceitas, po-
rém ainda com prevalência da teoria corpuscular.

ELETRICIDADE

Antes do século 18,


os filósofos naturais es-
tudavam o poder atrati-
vo que âmbar exibia ao
ser esfregado. Os mate-
riais que exibiam o efei-
to âmbar foram chama-
dos elétricos. Para gerar
eletricidade, em quanti-
dade significante, foram
desenvolvidas as máqui-
nas de atrito, que geral-
mente realizavam a ele-
trificação por rotação de
(Fonte: http://www.cptec.inpe.br). um isolador atritado

166
A ciência do iluminismo

com um material adequado. O contato reforçado pelo atrito pro-


voca transferência de cargas entre os materiais, que são a seguir
afastados, o que aumenta a tensão elétrica entre as cargas sepa-
7
aula
radas. A máquina eletrostática mais primitiva foi desenvolvida
por Otto von Guericke, na atual Alemanha, por volta de 1663.
Durante o século XVIII, as máquinas elétricas evoluem até che-
gar a um disco rotativo de vidro que é atritado a um isolante ade-
quado. Na primeira metade desse século, os filósofos naturais co-
meçaram a fazer avanços reais na explicação do fenômeno da ele-
tricidade estática. A criação de novos instrumentos e técnicas tor-
naram possível a produção mais efetiva de resultados fascinantes
que capturaram a atenção até mesmo de reis.
Na década de 1730, Stephen Gray descobriu que o efeito elétri-
co podia ser comunicado para corpos adjacentes. Esfregando uma
rolha de cortiça em um tubo de vidro em um de seus lados, ele notou
que uma pena era atraída pela cortiça. Ele espetou um bastão na
rolha com uma bola de marfim na outra ponta e notou que a pena
ainda era atraída pela bola de marfim. Gray descobriu também que
linhas de comunicação podiam ser isoladas do solo com seda. Tais
descobertas revelaram duas categorias de substâncias: elétricas (se
friccionadas, tais como âmbar, vidro e seda) e condutoras (tais como
madeira, linha e até mesmo o corpo humano).

O excêntrico Henry Cavendish não contava com instru-


mentos adequados para as suas investigações, assim media
a força da corrente elétrica pela dor que ela produzia nele
ele mesmo! Aiiiiii!!!

O interesse pela eletricidade se espalhou pela Alemanha no


final da década de 1730. George Bose gerava faíscas e choques
elétricos para produzir efeitos dramáticos que divertiam espec-
tadores. Por exemplo, ele eletrificava a água em copos isolantes
e então obtia faíscas deles. Os experimentos de Bose inspiraram
outros a fazer novas descobertas. Uma descoberta importante
foi o condensador (Jarra de Leyden), feita independentemente

167
Introdução à Física

por Ewald Georg von Kleist e por Petrus van Musschenbroek,


em 1745. O condensador consiste em uma máquina
armazenadora de cargas elétricas. A Jarra de Leyden eram dois
corpos condutores separados por um isolante delgado.

O austríaco Franz Anton Mesmer em 1766, antes mesmo de


se tornar médico, defendia sua tese de que as forças planetári-
as afetavam o interior da matéria dos seres vivos. Mesmer
chamava isso de gravidade animal. Para ele, esse fluido uni-
versal, que não era qualificado de matéria, fluía sem empeci-
lhos quando o ser estava saudável. A doença seria resultado do
bloqueio desse fluido. Apesar de sofrer muitas críticas, uma
evidência de sua teoria podia ser comprovada através da
influência das fases da lua sobre a saúde das pessoas.

Baseado na idéia de um fluido imponderável usada por Mesmer na


medicina, o estadunidense Benjamim Franklin deu uma explicação con-
vincente da Jarra de Leyden. Diferentemente da medicina, essa idéia foi
aceita sem questionamento para explicar a eletricidade. Franklin sugeriu
que a eletricidade era uma substância sem peso que aderia a superfície
dos corpos. A quantidade de “fluxo elétrico” aderida seria proporcional a
massa do corpo. Mas o “fluxo elétrico” repelia a si próprio. Sob condi-
ções normais, o equilíbrio ocorreria entre a atração elétrica na superfí-
cie da jarra e a repulsão do fluxo. Franklin usou o fluxo elétrico para
explicar as propriedades elétricas de vidros e condutores. Os conduto-
res permitiam que o ele fluísse, enquanto que vidros armazenavam o
fluxo em suas superfícies mais facilmente que outros materiais quando
friccionados, e esse fluxo não poderia penetrar através do vidro.
Benjamin Franklin era um homem religioso, mas ao mesmo tem-
po uma figura representativa do Iluminismo. Ele planejava criar
uma academia, projeto mais tarde reelaborado, que deu origem à
Universidade da Pensilvânia. Já rico, em 1748, vendeu seus negóci-
os para ter mais tempo livre para seus estudos. Em 1751, Franklin
mostrou que a eletricidade podia magnetizar agulhas. Sua experiên-
cia mais famosa (e extremamente perigosa) foi a de fazer um papa-
gaio voar durante uma trovoada.

168
A ciência do iluminismo

Para a Franklin a explicação dos raios era a mesma dada por ele para
a Jarra de Leyden. No mar, as partículas de sal friccionavam com a água,
causando um excesso de fluxo elétrico armazenado na superfície do mar.
7
aula
A evaporação da água carregava o excesso do fluxo para as nuvens. Quan-
do as nuvens se aproximavam de nuvens de água doce, a troca ocorreria
de uma para outra como um raio. Qualquer objeto que se projetasse em
direção dessas nuvens, como árvores ou sua pipa, provocaria essa troca.
Franklin assim concluiu que os raios são fenômenos de natureza elétrica.
Seus resultados publicados, em 1752, propunham a existência
2 tipos de carga elétrica: a positiva e a negativa. Duas cargas de
sinal contrário se atrairiam e as de mesmo sinal se repeliriam.
Por seus trabalhos Franklin é o responsável pelo estabeleci-
mento de duas áreas de estudo importantes das ciências naturais:
eletricidade e meteorologia.

TEORIAS DA TERRA

Muitos dos problemas resolvidos por Newton eram complicados


e exigiam uma habilidade matemática con-
siderável, mas ele também tinha inventa-
do uma nova técnica matemática, o cál-
culo, que o ajudou a solucionar vários pro-
blemas. Ele declarava que toda matéria
era atraída por outra matéria por uma for-
ça especial, não intrínseca, que dependia
do tamanho da matéria e se enfraquecia
com o inverso do quadrado da distância (a
Força Gravitacional). Para ele, isso expli-
cava o movimento dos corpos celestes.
Na Inglaterra Newton logo ganhou (Fonte: http://br.geocities.com).
fama, mas no continente havia alguns críticos dentre os seguidores
de Descartes, que havia explicado o movimento dos astros separan-
do a realidade em dois domínios, matéria e mente. Para os cartesianos,
a idéia de que matéria poderia atrair matéria era o mesmo que dizer

169
Introdução à Física

que a matéria possuía um tipo de “força oculta”. Gottfried Leibniz


também criticava a idéia da força de atração, notando a falha de
Newton ao referir a um meio material (o éter) interferindo como o
veículo para transmitir a força atrativa, e também sobre sua crença
na intervenção divina para garantir a estabilidade do sistema.
Logo após a morte de Newton em 1727, seus trabalhos começa-
ram a ser encontrados com mais freqüência pelos educadores públicos
na França. Voltaire publicou uma descrição favorá-
Qual a origem da terra? vel à filosofia de Newton em 1733. Ele e Madame du
Châtelet publicaram uma versão popular do sistema
de Newton alguns anos mais tarde. Partidários de Newton começaram
a surgir principalmente dentre a juventude francesa, que encontrou em
suas aproximações matemáticas a explicação para fenômenos naturais
intrigantes. Vários problemas, nas décadas após 1730, surgiram como
oportunidade para os Newtonianos franceses demonstrarem o poder
de suas aproximações, incluindo o retorno do cometa Halley em 1758.
No final do século, a explicação “Newtoniana” de Pierre Simon
Laplace sobre uma irregularidade no movimento da Lua surgiu para
solucionava uma grande dúvida sobre a estabilidade do sistema solar.
O estabelecimento do sistema de Newton tornou possível uma nova
concepção de cosmos, diferentemente da própria idéia de Newton, e
adquiriu quase que um poder divino.
Embora a maioria das pessoas simplesmente aceitasse o Gênesis como
a origem da Terra, os filósofos naturais da França e da Escócia começaram
a especular por quais meios Deus a teria criado e qual o significado dessa
criação. Estas especulações ficaram conhecidas como teorias da Terra. Es-
tes escritores desafiaram a idéia comumente aceita da Terra e, com ela, a
duração da história. Perceba que, mesmo com o questionamento sobre
Gênesis, Deus ainda é o criador da Terra para esses filósofos.
Nada recebeu maior atenção dos cientistas e não houve maior con-
flito entre as filosofias naturais no século 18 do que a questão sobre o
passado e as origens da Terra. O Embaixador da França para o Egito,
Benoit de Maillet, tinha grande curiosidade sobre a região do Mediterrâ-
neo, por onde viajava bastante. Entre 1692 e 1718, convencido sobre a

170
A ciência do iluminismo

teoria de diminuição gradual das águas do mar compôs um trabalho so-


bre esse tema, no qual ele considerava que inicialmente a Terra foi total-
mente coberta pelas águas, e que estas foram baixando gradualmente.
7
aula
Vários animais aquáticos teriam mudado durante o período de recessão do
mar, como os peixes que teriam tornado suas barbatanas em pés para an-
dar sobre a terra. Ele estimou que a taxa de diminuição do nível do mar em
cerca de 0,9 m a cada 1000 anos. Seu trabalho só se tornou público em
1748, uma década após sua morte, e causou muita indignação.
Em 1749, Georges Louis Leclerc, o Conde de Buffon, publicou
o primeiro de seus três volumes da sua História Natural, uma compi-
lação de tudo o que era conhecido sobre a história natural do mundo.
Ele sugeriu que a Terra e outros planetas teriam se originado como
resultado de um cometa que teria se chocado contra o Sol. Em 1778,
publicou sua tese em um livro muito lido intitulado Épocas da Criação.
Essa década e seus acontecimentos que iriam conduzir à Revolução
Francesa deixaram Buffon livre para publicar outras idéias radicais.
Para Buffon, após a criação da
Terra a vida teria surgido somen-
te após cerca de 33000 anos, de-
pois da formação do planeta, e
os humanos mais tarde ainda,
cerca de 77000 anos depois.
Estas explicações não eram
ateístas, visto que todos estes
A criação de Adão, afresco de Michelangelo, 1511 (Fonte: www.pgnet.com.br).
autores de teorias sobre a cria-
ção da Terra acreditavam que Deus era o criador das leis naturais
que ditavam o curso da natureza, ou seja, houve uma mudança da
idéia sobre a ação direta de Deus sobre a criação. Deus operava
sobre a natureza por um “controle remoto” através de leis naturais.
Esta concepção é chamada de deismo.

Os iluministas acreditavam que Deus está presente na


natureza, portanto no próprio homem, que pode descobri-lo
através da razão.

171
Introdução à Física

AS BASES DA GEOLOGIA

Até agora essas teorias eram especulativas, sem provas reais.


Mas ao final do século XVIII, surgiu na Alemanha outra forma de
estudo da Terra: a mineralogia. Já havia nessa época uma reunião
de informações empíricas sobre os minerais, por causa da sua utili-
dade na indústria. Um esquema de classificação comum incluía 4
classes: terras, metais, sais e enxofres. Para estudar as terras, por
exemplo, os mineralogistas utilizavam testes de solubilidade em água
e precipitação das soluções, o que contribuiu para a compreensão
da interação de ácidos e bases.
Entre os mineralo-
gistas, havia uma aceita-
ção de que o oceano ori-
ginal do Gênesis era um
fluido aquoso grosso e
gelatinoso feito de mine-
rais em solução. Rochas
e outros minerais sólidos
haviam se formado pelo
tempo com sua consoli-
dação, ou seja, a transi-
ção do fluido em sólido.
O mineralogista alemão
Abraham Werner (1749-
(Fonte: http://www.fumdham.org.br).
1817), no final do sécu-
lo, coletou cuidadosa-
mente as observações de seus predecessores, mas se preocupou
com outro aspecto: criou um sistema geológico baseado no tem-
po de formação das rochas. A partir de seus dados, Werner con-
cluiu que a Terra teria mais de 6000 anos, que era inferido no
Velho Testamento. Seus trabalhos tiveram enorme influência na-
queles que estabeleceram a Geologia como uma ciência nas dé-
cadas após ele.

172
A ciência do iluminismo

ORIGENS DO UNIVERSO E DO HOMEM

A idéia de Universo de Newton era bastante estática e sua


7
aula
mecânica era baseada em alguns princípios que ele julgou eternos:
o conceito de um tempo e um espaço absoluto, e a transmissão
instantânea da atração gravitacional. Suas idéias seriam mais ou
menos a de um Universo como um grande relógio que funciona
segundo leis naturais simples (matemáticas), e que uma vez posto
em movimento por Deus, se mantém eternamente. Mas esse con-
ceito de um tempo e um espaço absoluto não durou muito tempo.
Já em 1714, Gottfreid Leibniz rejeitava essa idéia. Segundo o filó-
sofo Kant o tempo e o espaço são formas fundamentais de percep-
ção que existem como ferramentas da mente, mas que só podem
ser usadas na experiência.
Em meados do século XVIII, Kant formulou uma nova expli-
cação para a origem do sistema solar com base em leis inerentes à
própria matéria, sem intervenção de forças sobrenaturais. No final
do século, em 1796, o matemático e astrônomo Laplace publicou a
obra Exposição do Sistema do Mundo, em que enuncia sua hipótese da
formação do sistema solar que, em muitos pontos, era idêntica à de
Kant. A sua hipótese foi rapidamente aceita entre os cientistas que
a adotaram durante mais de século e meio.
Mas, a medida que se difundiam as novas concepções do uni-
verso, uma outra pergunta se sobressaía: Teria o Homem sofrido
um processo evolutivo como teria ocorrido no Universo?
Você se lembra que lá na Grécia Antiga, Anaximandro de Mileto
havia afirmado que os primeiros homens tinham origem noutras espé-
cies oriundas do mar? Pois então, nesse período os cientistas voltam a
essas idéias evolucionistas, mas agora apoiadas em observações natu-
ralistas; o primeiro deles foi o botânico Lamarck (1744-1829).
Porém, um evolucionista se destacou dentre todos; seu nome
era Charles Darwin (1809-1882). Darwin ficou conhecido pela sua
teoria sobre a evolução caracterizada como um processo de seleção
natural das espécies, através da qual só os mais aptos sobrevivem,

173
Introdução à Física

e os menos aptos são progressivamente eliminados. Com essas idéi-


as, Darwin mudou a idéia vigente de que o Homem teria sido cria-
do diretamente por Deus. Para ele, o Homem teria se originado de
primatas, que por sua vez, teriam se originado de outros seres atra-
vés da evolução das espécies. Essa teoria seria logo reforçada por
descobertas de fósseis de animais pré-históricos.
A nova ciência originada, a biologia, abriu uma visão inovado-
ra aos filósofos naturais e foi uma das marcas do final do Iluminismo
e o início da nova era chamada Romantismo. A humanidade teve
que reconhecer a existência de um mundo pré-histórico, o que de-
mandou uma completa reorientação do passado e do lugar dos hu-
manos no mundo natural!

Fosséis encontrados na região de Xingó. Acervo do Max (Fonte: www.max.org.br).

174
A ciência do iluminismo

F período do Iluminismo. Alguns dos nomes mais ilustres da7


oi determinante a relação entre as ciências e a economia no

aula
ciência estavam interessados na solução de problemas práticos que
se traduziam nas “inovações que pudessem melhorar”, por exemplo,
a Mineralogia, a técnica militar, a Medicina etc.
A ciência passou a ter apoio em todos os estratos
CONCLUSÃO
sociais e a ser vista como a grande alavanca do
progresso, do desenvolvimento e da prosperida-
de, devido à sua aplicação generalizada, começando a se transformar
numa verdadeira instituição social. Pode-se dizer que foi realmente
nesse período que a ciência mostrou uma força dinâmica de mudança
social, embora nem sempre de mudanças previstas ou desejadas.

O pensador, escultura de Auguste Rodin (Fonte:


www.artchive.com).

175
Introdução à Física

RESUMO

Na aula de hoje, vimos que o Iluminismo marca o começo


de um longo período histórico do ocidente chamado Era Mo-
derna, que se distinguiu dos demais pelo compromisso com
a busca da verdade e na confiança da razão como meio de descobrir
essa verdade. Nessa linha de pensamento, os filósofos naturais,
durante os séculos XVII, XVIII e XIX, inspirados por seus prede-
cessores, produziram avanços nos limites do conhecimento em
diversas áreas, como Física, Química, Biologia, Geologia e Medi-
cina. Por causa da diversidade de assuntos desenvolvidos, as ci-
ências começaram a ser separadas da filosofia natural em assun-
tos diversificados. Nós também, nessa aula, tivemos que passar a
examinar os temas em separado, como forma de observar o seu
desenvolvimento até sua conclusão, em lugar de seguir o desenro-
lar cronológico de todos os acontecimentos.
A Revolução Científica, iniciada no Renascimento, alastrou-
se gradualmente por toda a Europa e mesmo fora dela, em paí-
ses como os Estados Unidos, se tornando mais popular devido a
sua aplicação na solução efetiva de problemas do cotidiano. A
ciência também impulsionou revoluções sociais, já que foi fun-
damental para inovações práticas produzidas neste período, e
que mudaram o modo de vida das pessoas, como o que ocorreu
com a Revolução Industrial.
A busca de conhecimento alquímico sobre a interação das di-
versas substâncias levou à separação racional entre a alquimia e
Química, sendo que esta última passa então a ter status de ciência
nas Academias. As considerações do químico Lavoisier sobre a na-
tureza do calor e a sobre os elementos básicos alteram de forma
marcante o conhecimento da matéria e contêm direta conseqüên-
cia sobre o futuro do cosmos.
Discussões sobre a natureza da luz criaram dois seguimentos: o
primeiro, daqueles que acreditavam que ela seria uma onda e outro,
daqueles que supunham que seria formada de partículas. Esta últi-

176
A ciência do iluminismo

ma obteve uma supremacia durante muito tempo devido ao prestigio


de Newton, que era um de seus idealizadores. Devido às várias
evidências da validade da teoria ondulatória, no final do século
7
aula
XVIII, ambas as teorias foram aceitas, porém ainda com prevalência
da teoria corpuscular.
Fenômenos elétricos naturais levaram a uma nova área extre-
mamente interessante da Física (a eletri-
cidade), com a busca de muitos por ex-
plicações racionais para estes fatos. Ben-
jamin Franklin se tornou um ícone nessa
área, pois foi o primeiro a demonstrar que
o relâmpago é um fenômeno elétrico, con-
seguindo explicá-lo, como também a ou-
tros fenômenos, de forma satisfatória para
a época.
Mas dentre os diversos assuntos em
voga neste período, nada recebeu maior
atenção do que a questão sobre o passa-
do e as origens da Terra. Alguns escrito-
res começaram a desafiar a história da
Terra descrita no Gênesis, propondo no-
vas teorias especulativas sobre o
surgimento do nosso planeta, dos animais
(Fonte: http://ourworld.compuserve.com).
e dos homens. Apesar de entrarem dire-
tamente em conflito com as ordens religiosas, estas explicações não
eram ateístas, visto que todos estes autores de teorias sobre a cria-
ção da Terra acreditavam que Deus era o criador das leis naturais
que ditavam o curso da natureza.
Após muitas teorias especulativas, evidências obtidas por mi-
neralogistas e estudiosos de seres vivos, como Charles Darwin, re-
almente forçaram mudanças nas teorias sobre a criação da Terra e
da Humanidade, além da forma de interferência de Deus sobre a
natureza. A humanidade teve que fazer uma completa reorientação
do passado e do lugar dos humanos no mundo natural.

177
Introdução à Física

ATIVIDADES

Quais foram os temas mais investigados pelos cientistas no período


descrito nessa aula?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Foram diversos os temas. Vamos relembrar alguns deles.


A busca de explicações sobre a constituição da matéria que
provocou a separação racional entre a química e a alquimia.
Considerações sobre a natureza do calor que levaram a uma
vasta generalização sobre todas as forças que contém direta
conseqüência sobre o futuro do cosmos.
Explicações e aplicações de fenômenos ligados a eletricidade.
Questões sobre a história da Terra e do Cosmos, que desafiaram
a escala temporal prevista nos velhos tempos, como a teoria
evolucionária e a descoberta de fósseis (de seres pré-históricos).
E dentro desse tema, a relação entre Deus e a natureza.

ATIVIDADES

Aponte algumas teorias científicas estudadas nessa aula influencia-


das pela filosofia dos gregos antigos.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Por exemplo, a teoria atomista, que voltou com toda a força dentre
os químicos do período estudado nessa aula, já havia sido
proposta pelos gregos antigos. Também a idéia de Anaximandro
de Mileto que o Homem teria sido originado em outras espécies
oriundas do mar voltou na teoria evolucionista, mas agora estava

178
A ciência do iluminismo

baseada em observações dos naturalistas. Até mesmo a idéia


dos quatro elementos formadores da matéria de Aristóteles foi
a base das tentativas dos alquimistas e depois dos químicos de
7
aula
explicar de que elementos realmente a matéria é composta (os
elementos químicos e a tabela periódica).

ATIVIDADES

Você também pode filosofar como Kant: tente imaginar alguma


coisa que existe fora do tempo e que não tem extensão no espaço.
Comente suas idéias.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

É, acho que não dá, não é mesmo? Mesmo quando vemos filmes
de ficção científica, com seres de outros planetas e velocidades
extremas como a da luz, ou ainda, com viagens do passado ao
ao futuro, sempre estamos lidando com o tempo e espaço da
mesma maneira que conhecemos no nosso dia-a dia. O espaço
é tridimensional e existe presente, passado e futuro nos
acontecimentos. A mente humana não pode produzir tal idéia
de algo que por exemplo tenha sido criada, mas não está
localizada em um ponto do tempo ou que não ocupe uma
extensão espacial. Nada pode ser percebido exceto através
destas formas, e portanto, os limites da física são os limites da
estrutura fundamental da mente, pois é através dela que tentamos
explicar o mundo ao nosso redor.

179
Introdução à Física

ATIVIDADES

Comente o surgimento das diversas áreas científicas criadas a partir


da filosofia natural citadas nesse texto.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Vimos o surgimento da Geologia, a partir dos estudos


mineralógicos na Alemanha, a Biologia, com as teorias
evolucionistas, a separação da alquimia levando à criação da
Química e a Física se subdividindo em diversos assuntos, como
Óptica, Eletricidade, Cosmologia, Termodinâmica. Mesmo que
eles já estivessem embutidos na filosofia natural, agora cada
assunto começou a ficar tão complexo e tão cheio de dados e
teorias, que realmente foi necessário subdividir em assuntos
separados e não mais uma única filosofia natural.

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