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TEORIA E

SISTEMAS
OS ATRAVESSAMENTOS FILOSÓFICOS NA PSICOLOGIA

Itala Daniela da Silva

OLÁ!
Você está na unidade Os atravessamentos Filosóficos na Psicologia.
Conheça aqui a história dos principais filósofos que influenciaram a
psicologia. Aprenda sobre os conceitos de inato e adquirido, identificando a
influência da filosofia nas concepções dicotômicas entre mente e corpo. Por
fim, entenda a natureza e os limites da ciência psicológica.

Bons estudos!

1 Raízes Filosóficas da Psicologia


Você sabia que, para compreendermos do que é composto o solo da
psicologia, precisaremos dar alguns passos para trás em busca da história
da construção científica? Esse percurso iniciará muito antes do que
chamamos de ciência propriamente dita, como concebida pela academia
(campos de formação de ensino superior e pós-graduações) na atualidade.
Essa história é extensa, e por ser longa, precisaremos realizar
alguns recortes. Infelizmente, não é possível apresentar todos os aspectos,
autores, filósofos, pensamentos e ideias que ajudaram a compor a
narrativa histórica da psicologia. As escolhas dos pensamentos que
apresentaremos sempre está circunscrita a partir do olhar daquele que
conta a história. Basta você pensar que, ao contar uma história, você
sempre escolherá o que enfatizará.
Dito isso, fica assinalado que toda e qualquer construção escrita sobre
alguma área da ciência será sempre limitada, porque haverá recortes.
Portanto, todos/as aqueles que se dedicam ao estudo de alguma área do
conhecimento, como você, estudante de psicologia, necessitarão ler, ouvir e
estudar diversos autores contando a “mesma história”. Apesar de ser a
“mesma história”, serão dadas ênfases distintas, a depender do horizonte
científico daquele que escreve.
Comentadas as considerações iniciais sobre o limite da escrita, agora
chegou a hora de você aprender sobre as bases filosóficas da psicologia.
Você conhecerá alguns dos pré-socráticos, Sócrates, Platão e Aristóteles.
Apresentarei também um pouco da história da idade média e depois
entraremos na história da idade moderna, o nascimento da ciência e o
modo como a filosofia influencia as nossas concepções sobre corpo e
mente, bem como inato e adquirido. Após essa história inicial, pensaremos
juntos sobre a natureza e os limites da psicologia.
É importante ressaltar que os filósofos não estavam pensando na
constituição da psicologia, eles estavam filosofando. Mas hoje percebemos
o quanto as ideias filosóficas, de algum modo, atravessam a psicologia que
nascerá, enquanto ciência, no século XIX.

1.1 Pré-Socráticos e Sócrates


Os primeiros filósofos da nossa cultura ocidental, que iniciaram o processo
de sistematização do conhecimento, surgiram por volta dos séculos VII-VI
a.C. Esses filósofos, chamados de pré-socráticos (porque vieram antes de
Sócrates), buscavam compreender a origem do cosmo: constituição,
princípios e leis. Esse período ficou conhecido como cosmológico. Cada
pré-socrático, a partir dos seus estudos e observações, indicava a essência,
o princípio, a origem cosmológica da natureza. Ou seja, eles buscavam
explicar a arché  (essência, origem) da physis  (natureza) (CASERTANO, 2011).
Clique abaixo e acompanhe algumas ideias dos pré-socráticos.

Tales de Mileto
De acordo com Casertano (2011), para Tales de Mileto (641-546 a.C.), “a observação e
o estudo da regularidade dos fenômenos naturais permitem que se extraia uma lei
geral” (CASERTANO, 2011, p. 40) que permite a explicação das coisas. Para ele,
observador dos fenômenos naturais, a água seria o fundamento e a origem do
cosmo. Ou seja, ela seria a arché. Isso porque a água “é o alimento das coisas e as
sementes de todas as coisas são úmidas” (CASERTANO, 2011, p. 43).
Parmênides
Parmênides (520-440 a.C.), ao contrário dos filósofos daquela época, não
acreditava que a arché fosse algum elemento da natureza. Para ele, os elementos
naturais são mutáveis, e a essência não poderia ser mutável. Logo, ele assegura
que o Ser seria o princípio, a essência. O Ser aqui não é visível na aparência.
Porque tudo que aparece é passível de mudanças. O Ser faz parte de um universo
que não pressupõe mutabilidade (CASERTANO, 2011).
Heráclito
Em contraposição a esse pensamento de imutabilidade, Heráclito (530/20 -470/60
a.C.) acreditava e defendia a mutabilidade da realidade. Para ele, tanto o ser
quanto as coisas são dinâmicas e passíveis de transformação. Sua frase mais
famosa é que “tudo flui, como as águas de um rio que nunca são as mesmas”
(CASERTANO, 2011, p. 100). Por esse motivo, ele indicava que o fogo seria
a arché (princípio) da physis (natureza/cosmo), pois a chama viva e eterna regeria
as mudanças do ser (CASERTANO, 2011).
Houve muitos outros pré-socráticos, vinte são mencionados por Osborne
(2012). Contudo, optamos por apresentar três do mais mencionados.
Apresentamo-los para que fosse possível você compreender como as
perguntas filosóficas sobre a natureza e o ser já estavam postas 600 anos
antes da era cristã.
Por falar em questões do Ser, Sócrates foi aquele que abandou as
questões sobre a natureza e se concentrou eminentemente nos problemas
do ser humano. Suas questões centrais eram: o que é o bem, a virtude e a
justiça. Sócrates, filho de mãe parteira, desenvolveu um método que ficou
conhecido como maiêutico (arte de trazer à luz, partejar). Esse método foi
utilizado por Sócrates nos encontros que ele realizava nas praças públicas.
Os diálogos críticos realizados por ele poderiam ser divididos em dois
momentos: refutação e ironia (etapa em que o filósofo enfatizava as
contradições na resposta dada pelos interlocutores às suas perguntas); a
maiêutica era a etapa em que Sócrates construía questões para que os
interlocutores pudessem reconstruir as ideias anteriormente refutadas
(COTRIM; FERNANDES, 2016).

1.2 Platão e Aristóteles


Enquanto os pré-socráticos conflitavam entre si sobre a mutabilidade ou
imutabilidade da essência da natureza, Platão indicou uma solução que
comporta as duas dimensões. Para Platão, há algo que não muda, que
permanece. Esse algo estaria no mundo inteligível, ou seja, plano das
ideias. As ideias seriam fixas, imutáveis e, portanto, a essência de tudo o
que existe. Portanto, a verdade, por ser imutável e fixa, só poderia estar no
mundo inteligível, na transcendência. Partindo desse pressuposto, a
verdade não se manifesta na dimensão visível, aparente (COTRIM;
FERNANDES, 2016).
O mundo sensível, por sua vez, seria mutável. É uma cópia imperfeita do
que existe no mundo inteligível e foi criado pelo demiurgo (espécie de deus
“artesão”). O mundo sensível é cheio de impressões e essa reprodução não
comporta a essência da verdade, apenas espelha uma parte do ser e não o
que ele é de verdade (COTRIM; FERNANDES, 2016).

Mas, então, como nós humanos, vivendo no mundo sensível,


conheceríamos as verdades eternas e imutáveis? Para Platão, para se
chegar ao conhecimento da verdade, é necessário realizar o exercício da
razão. Nesse sentido, só se atinge um conhecimento verdadeiro quando se
submete as impressões ao raciocínio. Apenas os seres humanos têm a
capacidade de realizar o exercício da razão, pois, para esse filósofo, apesar
de homens e animais possuírem impressões sobre o mundo sensível, só o
homem poderá formar conhecimento racional, transcendendo as
impressões (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Além desse pensamento dual sobre o mundo, Platão também compreende
o ser humano numa dualidade, pois é composto por alma e corpo. A
alma/mente é o bem mais precioso do ser humano, enquanto o corpo é
inferior. Essa dualidade atravessará muito fortemente as compreensões da
medicina que delineará os modos de lidar com o corpo e com a mente,
como veremos mais adiante (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Enquanto Platão acreditava que as impressões do mundo sensível geravam
distorções e não eram verdadeiras, Aristóteles defendia que o
conhecimento advém da observação da realidade. Esse conhecimento que
nasce da observação do real, do sensível, daquilo que é mutável, ficou
conhecido como método indutivo. Segundo Cotrim e Fernandes (2016, p.
228), para Aristóteles:
A finalidade da ciência deve ser a compreensão do universal, visando estabelecer
definições essenciais que possam ser utilizadas de modo generalizado. Desse
modo, a indução (operação mental que vai do particular ao geral) representa, para
Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento. É por
meio do método indutivo que o ser humano pode atingir conclusões científicas,
conceituais, de âmbito universal.

Partindo desse pressuposto, Aristóteles, contrapondo-se a Platão, defende


também que o mundo inteligível e sensível andariam juntos e constituiriam
a realidade, pois as coisas são o que são. Sendo o que são, para conhecê-
las, seria necessário partir do dado empírico, perceptível aos sentidos
(COTRIM; FERNANDES, 2016).
Esse filósofo, além de superar a cisão entre mundo sensível e inteligível,
ultrapassou também o dualismo entre corpo e mente. Aristóteles defende
que corpo e mente são indivisíveis. O filósofo também foi o primeiro a
discutir questões muito peculiares para a psicologia, como: “mente,
sentidos, sensação, memória, sono e insônia, geriatria, brevidade da vida,
juventude e velhice, vida, morte e respiração” (FREIRE, 2008, p. 38).

1.3 Idade Média


Talvez você esteja se perguntando o motivo de dedicarmos um espaço para
falar sobre a idade média. Muitas vezes escutamos alguns estudiosos
descartando a história desse tempo, pois ele está muito atrelado a Igreja
Católica como instituição social. O período é tido como séculos escuros, das
trevas, visto que o pensamento cristão exercia uma grande influência que
norteava as concepções dessa época. A idade média teve início com a
ascensão do cristianismo no ocidente. O Deus cristão (teocentrismo)
passou a ocupar o centro em todas as esferas: arte, literatura, filosofia,
educação, arquitetura e outros (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Nesse período, defendia-se que:
Toda investigação filosófica ou científica não poderia, de algum modo, contrariar
as verdades estabelecidas pela fé católica. Em outras palavras, os filósofos não
precisavam mais se dedicar à busca da verdade, pois ela já teria sido revelada por
Deus aos seres humanos. Restava-lhes, apenas, demostrar racionalmente as
verdades da fé (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 241).

A filosofia medieval pode ser dividida em: padres apostólicos, apologistas,


patrística e escolástica. A patrística tem como principal representante
Santo Agostinho, que foi influenciado por algumas ideias da filosofia
platônica. A escolástica é representada por São Tomas de Aquino, que foi
influenciado por Aristóteles (COTRIM; FERNANDES, 2016).
As construções filosóficas desse período tinham como finalidade defender
e estruturar as verdades da fé católica. Não houve contributos para o
pensamento psicológico. Contudo, só conhecendo esse período
conseguimos compreender o renascimento, o iluminismo e o fervor que
construiu a idade moderna e constituiu a nova ciência e o racionalismo
(COTRIM; FERNANDES, 2016).

1.4 Idade Moderna: renascimento e advento da


nova ciência
Após dez séculos de influência do pensamento cristão em todas as esferas
humanas, algumas alterações começaram a acontecer nesses âmbitos: nos
setores sociais, econômico, político, artístico. O movimento que contribuiu
para as alterações foi chamado de renascimento. Essa etapa propiciou o
desenvolvimento da mentalidade racionalista e o retorno do
antropocentrismo, onde o homem volta a ser o centro e não Deus
(teocentrismo), como era na Idade média.
Contudo, a Igreja não iria abrir mão tão facilmente de sua influência e
algumas obras de arte e cultura ainda reproduziam resquícios religiosos.
Além disso, nesse período a inquisição da Instituição Católica perseguiu
aqueles que se contrapunham ao pensamento defendido por ela. Uma das
mudanças essenciais foi o heliocentrismo que, diferente do catolicismo,
defendia que o sol e não a terra era o centro do universo. Cotrim e
Fernandes (2016, p. 256) indicam que:
Ao propiciar a expansão de uma mentalidade racionalista, o renascimento criou as
bases conceituais e de valores que favoreceriam o desenvolvimento da ciência no
século XVII. revelando maior disposição para investigar os problemas do mundo, o
indivíduo moderno aguçou seu espírito de observação sobre a natureza, dedicou
mais tempo à pesquisa e às experimentações, abriu a mente ao livre exame do
mundo.

Foram as bases conceituais, fundadas nessa virada histórica, que


começaram a oferecer fundamentos para a criação e fundamentação das
ciências que aconteceriam posteriormente. Nessa época, a psicologia era
essencialmente filosófica, mas essas fundamentações também iriam
oferecer as bases necessárias para que a psicologia fosse alçada
ao status de ciência nos séculos posteriores (FREIRE, 2008).

1.5 Constituição da ciência moderna


As rupturas vividas entre a idade média e moderna geraram uma certa
desorientação. Fazia-se necessário criar bases sólidas para o conhecimento
e novos conceitos de verdade, visto que as bases fundadas no pensamento
cristão tinham sido postas em xeque. Segundo Cotrim e Fernandes (2016, p.
259),
A ruptura com toda a autoridade preestabelecida de conhecimento fez com que os
pensadores modernos buscassem uma base segura, algo que garantisse a
verdade de um raciocínio. Assim, um dos principais problemas da filosofia nesse
período relacionou-se com o processo de entendimento humano e, mais
especificamente, com a seguinte questão: Que garantia posso ter de que um
pensamento é verdadeiro? Procurava-se, portanto, um método.
Iniciou-se uma busca frenética pelo método para se chegar à verdade. Na
busca pelo método do conhecimento, novas concepções de homem e de
mundo foram sendo construídas pelos pensadores da época. A filosofia,
debruçada no compromisso do conhecimento, adota novas linguagens em
que o humano passa a ser valorizado como um ser racional. O
racionalismo teve o seu triunfo, e a base científica passou a ser: observação,
experimentação e formulação de hipótese. É importante destacar que cada
filósofo construiu distintamente os seus métodos e concepções e deu
ênfases distintas também.
Francis Bacon foi um empirista que, contrário ao racionalismo da época,
enfatizou o papel das experiências sensíveis no processo de conhecimento.
Para ele, a razão só teria sentido se aplicada à experiência, e não o
contrário. Na sua obra Novum Organum,  mostrou a importância de um
método de experimentação que reduzisse os equívocos tanto do intelecto
quanto da pura experiência, aliando o melhor de ambos para a aquisição
dos conhecimentos científicos. Bacon acreditava que o avanço dos
conhecimentos e das técnicas, as mudanças sociais e políticas e o
desenvolvimento das ciências e da filosofia propiciariam uma grande
reforma do conhecimento humano (COTRIM; FERNANDES, 2016; FREIRE,
2008).

1 Organizar e controlar os dados recebidos da experiência sensível graças a experimentos


adequados de observação e experimentação.

2 Organizar e controlar os resultados observacionais e experimentais para chegar a


conhecimentos novos ou à formulação de teorias verdadeiras.

3 Desenvolver procedimentos adequados para a aplicação prática de resultados teóricos


(COTRIM; FERNANDES, 2016).

No que concerne à ciência, ele indicou que esta deveria valorizar a pesquisa
experimental, e defendeu o método indutivo. No seu método, Bacon indica
que são necessárias as seguintes etapas:
Em contraposição ao método experimental de Bacon, René
Descartes construiu um método em que desconfia das percepções e
sensações, sendo radicalmente racionalista. A rigorosidade do seu método
indica que é necessário duvidar de tudo, até reconhecer como indubitável a
própria existência. Para o filósofo, a única verdade livre de qualquer dúvida
seria o fato da existência. Sua famosa frase “Penso, logo existo” assegura
que, pensando, ele constatou que sua existência é verdadeira (COTRIM;
FERNANDES, 2016).
O modo de pensar de Descartes também estabeleceu e reforçou a
perspectiva dualista iniciada em Platão. Após aplicar o seu método, da
dúvida metódica, René Descartes concluiu que existem duas substâncias
distintas: a substância pensante (res cogitans) e a substância extensa (res
extensa). A substância pensante corresponde à esfera da consciência, e a
substância extensa, ao mundo corpóreo e material (COTRIM; FERNANDES,
2016).
Sobre o método de Descartes, ele consiste em estabelecer uma dúvida
metódica. Nesse método, o questionamento rigoroso é o fundamento do
pensamento filosófico. Ele se constitui por quatro passos. Clique abaixo
para conhecê-los.

1
2
3
4

Regra da evidência: Só aceitar algo verdadeiro se for claro e evidente.


Regra da análise: Decompor o problema em elementos mais simples ou
últimos.
Regra da síntese: Orienta ir dos objetos mais simples aos mais complexos.
Regra da enumeração: Verificar para obter absoluta segurança de que
nenhum aspecto do problema foi omitido (COTRIM; FERNANDES, 2016).

No século XVIII, a fundação do positivismo fortaleceu a ciência que se


baseia nos fatos e nas experiências. Um dos principais representantes
dessa perspectiva é o filósofo Augusto Comte. O entusiasmo positivista foi
um reflexo do espírito da época e do entusiasmo da burguesia, capitalismo
e do desenvolvimento técnico-industrial. Sobre o objetivo e as
características do positivismo, Cotrim e Fernandes (2016) resumem:
De acordo com Comte, o método positivo de investigação tem por objetivo a
pesquisa das leis gerais que regem os fenômenos naturais. Assim, o positivismo
diferencia-se do empirismo puro porque não reduz o conhecimento científico
apenas aos fatos observados. É na elaboração de leis gerais que reside o grande
ideal das ciências. com base nessas leis, o ser humano seria capaz de prever os
fenômenos naturais, podendo agir sobre a realidade (COTRIM; FERNANDES, 2016,
p. 291).

Controle, previsibilidade e generalização são as marcas do pensamento


positivista, que posteriormente influenciará, direta ou indiretamente, na
constituição das ciências. O espírito científico buscará consolidar métodos
científicos que assegurem esse tripé.
Após apresentar o pensamento de alguns filósofos, importa destacar que
muitos outros pensadores atravessaram a história da filosofia e da
construção da ciência. Todavia, fica inviável apresentar todos aqui e/ou se
delongar nas ideias dos que foram apresentados. Optamos por apresentar
alguns que julgamos importantes, na certeza de que existem outros e que
você, estudante da área psicológica, mergulhará em outros textos que
enfatizarão outros pensadores.
Nos tópicos seguintes, retomaremos alguns desses filósofos e
acrescentaremos outros, com vias a discutir sobre a influência da filosofia
na constituição da ciência psicológica.

Vimos que os pré-socráticos tinham como problema a ser investigado o


princípio fundamental, a  arché do cosmos. Já na idade moderna, o maior
objetivo dos filósofos era definir o método de chegar ao conhecimento. A
centralidade da idade moderna é a busca pelo método científico. É
importante saber as distinções e objetivos de cada período.

2 Dicotomia Mente e Corpo:


influências filosóficas e
ressonâncias na psicologia
O mundo ficou dual desde que Platão o separou. Essa
perspectiva dualista foi retomada em alguns momentos na história da
filosofia, sobretudo com René Descartes no século XVI. Para Descartes,
a substância pensante corresponde à mente, à consciência, enquanto
a substância extensa corresponde à matéria corporal (COTRIM;
FERNANDES, 2016).
Essa cisão entre mente e corpo estabeleceu um longo debate nos tratados
filosóficos. O dualismo, defendido por alguns, era negado por outros. Caso
partisse da premissa de que haveria essas duas realidades, distintas, uma
questão se colocava: como mente e corpo poderiam interagir? (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2009).
Antes de Descarte, acreditava-se que a interação entre essas duas
substâncias se dava de forma unilateral. Ou seja, a mente que comandava o
corpo. Todavia, Descartes, apesar de considerar substâncias distintas,
defendia a mútua interação entre elas, e não a
unilateralidade (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Conforme retomam Schultz e
Schultz (2009, p. 36): “Descartes afirma que a mente e o corpo, embora
distintos, são capazes de interagir dentro do organismo humano. A mente é
capaz de exercer influência sobre o corpo do mesmo modo que esse pode
influenciar a mente”.
Sobre a natureza do corpo,
Na visão de Descartes, o corpo é composto de matéria física, portanto tem
características comuns a qualquer matéria, ou seja, possui tamanho capacidade
motora. Sendo uma matéria, as leis da física e da mecânica que regem o
movimento e a ação do universo físico aplicam-se também a ele. Logo, o corpo é
semelhante a uma máquina cuja operação pode ser explicada pelas leis da
mecânica que governa o movimento dos objetos no espaço. Seguindo esse
raciocínio, Descartes prosseguiu com a explicação do funcionamento fisiológico do
corpo com base na física. Descartes foi claramente influenciado pelo espírito
mecanicista da época, refletido nos relógios mecânicos e nos robôs (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2009, p. 36).

Fazendo referências ao mecanismo dos robôs, Descartes defende que há


reações do corpo que são reflexos dos movimentos externos e não
necessariamente uma vontade da mente. Por essa constatação, por vezes o
pensador é “definido como o autor da teoria do ato de reflexo. Essa teoria é
a precursora da moderna psicologia behaviorista de estímulo-resposta”
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 36). Ainda nesse sentido, “o comportamento
reflexo não envolve pensamento nem processo cognitivo: parece ser
completamente mecânico ou automático” (SCHULTZ; SCHULTZ, p.36).
Enquanto o corpo é visto como uma máquina, a mente “não apresenta
nenhuma das propriedades da matéria, no entanto possui a capacidade de
pensamento, característica que a separa do mundo material ou físico”
(SCHULTZ; SCHULTZ, p. 38). Na interação entre corpo-mente, segundo o
filósofo, o ponto central das funções da mente é o cérebro, mais
especificamente a glândula pineal ou  conarium.  Os movimentos físicos e
mentais influenciam um e o outro mutualmente a partir desse ponto
central.
Essas discussões sobre mente e corpo irão, posteriormente, no século
XIX, influenciar a medicina, inclusive a psicologia. A visão dualista
reverberou no modo de se compreender saúde e doença, bem como suas
possíveis associações com a mente e o corpo.
Travou-se uma discussão na medicina sobre o caráter de adoecimento do
corpo, se este tinha como causa fatores endógenos ou exógenos. Desde o
século XV, os médicos Galeno e Paracelsus tinham visões distintas. Para o
primeiro, a doença tinha causas endógenas, “estaria dentro do próprio
homem, em sua constituição física ou em hábitos de vida que levassem ao
desequilíbrio” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40). Já para o médico
Paracelsus:
As doenças eram provocadas por agentes externos ao organismo. Ele propôs a
cura pelos semelhantes , baseada no princípio de que, se os processos que
ocorrem no corpo são químicos, os melhores remédios para expulsar a doença
seriam também químicos, e passou então a administrar aos doentes pequenas
doses de minerais e metais (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40).

Nos séculos seguintes, essas discussões chegaram a outras áreas da


medicina, inclusive da psicanálise e psicologia. Na psicanálise freudiana, o
determinismo psíquico reforçou “a importância dos aspectos internos do
homem” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). Essa ideia foi reforçada
pelo psicanalista Groddeck com a sua obra “Determinação psíquica e
tratamento psicanalítico das afecções orgânicas” (CASTRO; ANDRADE;
MULLER, 2016, p. 40). A supremacia da mente sobre o corpo foi reforçada
pela psicanálise, enquanto no campo médico havia uma supremacia de
cuidado com o corpo.
Apesar desse dualismo reverberar nas práticas psicológicas e médicas
contemporâneas, estudos atuais indicam a perspectiva holística como
uma saída para a cisão entre corpo e mente. Na postura holística, corpo e
mente são inseparáveis e interdependentes em aspectos psíquicos e
biológicos (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40).
Segundo Castro, Andrade e Muller (2006, p. 41):
Com o desenvolvimento das neurociências o conceito dualístico tornou-se mais
difícil de ser aceito. Por exemplo, o sistema nervoso autônomo não é tão
autônomo assim e se encontra regulado pelas estruturas límbicas junto com o
controle emocional. O sistema imune influencia e é influenciado pelo cérebro
(URSIN, 2000). O campo de estudo da psiconeuroimunologia tem suas origens no
pensamento psicossomático e tem evoluído no sentido da realização de
investigações de complexas interações entre a psique e os sistemas nervoso,
imune e endócrino.

Mais ampla do que as discussões das neurociências e da postura holística, a


concepção de doença sociossomática amplia a inter-relação entre corpo,
mente, ambiente e meio social. Nesse sentido, a medicina e a atuação
psicológica, influenciada pela postura psicossomática, sociossomática e
holística, atuam de forma a considerar a multicausalidade dos aspectos da
saúde e da doença.

Assista aí
A Organização Mundial da Saúde, desde o ano de 1947 define que a saúde
é um estado que articula o bem-estar físico, mental e social. Hoje, muitos
pesquisadores acrescentam as dimensões espirituais e culturais, sendo
saúde, então, um bem estar biopsicossocial-espiritual e cultural, e não
apenas ausência de enfermidades biológicas.

3 Discussões sobre inato e


adquirido no ser humano
Assim como as discussões de corpo e mente perduraram e perduram até
hoje na filosofia e na ciência, as questões concernentes ao que é inato e o
que é adquirido pelo ser humano ao longo da existência também se
estendem pelos séculos.
Descartes, expoente do racionalismo moderno, tratou as ideias como
inatas. Ou seja, as ideias nasceram com o sujeito pensante. Em contraponto
ao pensamento de Descartes, Jonh Lock, segundo Cotrim e Fernandes
(2016), defendeu que não existem ideias inatas; ao contrário, quando o ser
humano nasce, nossa mente é como uma tábula rasa. No nascimento,
nossa mente é como um papel em branco e, a partir das experiências
vividas no mundo, inscrevem-se nossos conhecimentos. Para adquirir
conhecimento, Lock indica as ideias de sensação e de reflexão (COTRIM;
FERNANDES, 2016). Veja suas definições clicando abaixo.


O pensamento de Jonh Lock se associa ao pensamento de mente vazia
indicada séculos atrás por Aristóteles (FREIRE, 2008). Freire (2008, p. 61),
sobre o pensamento de Lock, resume:
As sensações, imagens e ideias formam o conteúdo da mente. São adquiridas
através das impressões sensoriais, tanto do mundo externo como no interno e são
obtidas através da percepção, que já é um processo psicológico. A percepção
sensorial consciente constitui, portanto, a base do conhecimento e recebe, quase
que passivamente, a influência de estímulos externos. Na escala da aquisição do
conhecimento, distinguem se dois elementos básicos: a sensação e a percepção.
As ideias que resultam desse processo podem ser simples quando se originam de
um ou mais sentidos ou da combinação deles com a reflexão (a ideia de
comprimento). a ideia de substância composta porque não se origina de nenhum
sentido, mas da combinação de várias ideias simples.

As ideias do filósofo Lock, empirista, são claramente distintas das ideias


inatas de Platão e Descartes. Por esse motivo, podemos considerá-lo como
“o precursor do estruturalismo psicológico do século XX” (FREIRE, 2008, p.
62).
Além das discussões filosóficas sobre o modo que o conhecimento é dado à
mente humana (se inatos ou adquiridos), existe uma outra linha a ser
estudada e investigada, que diz respeito a condições comportamentais, se
essas são genéticas ou apreendidas na relação com o ambiente. Clique
abaixo e acompanhe duas tendências alinhadas com esse pensamento.

Ambientalismo-empirismo

Para o ambientalismo-empirismo, o ambiente é o responsável pelas


características dos comportamentos do ser humano. Essas concepções,
defendidas por Jonh Lock, têm um adepto fundamental no cenário da
psicologia, o psicólogo Jonh Watson. Watson, fundador do behaviorismo,
explicou o comportamento humano a partir da interação com a cultura e o
meio ambiente (PINHEIRO, 1995).

Nativismo

O nativismo, perspectiva filosófica baseada nas concepções inatas de Platão


e Descartes, considera o oposto do ambientalismo. Nessa linha, a
inteligência, personalidade e comportamentos são traços genéticos
herdados pelos genes dos respectivos genitores. Aquela famosa frase dita
no senso comum, “filho de peixe, peixinho é” é atravessada por essa lógica
nativista (PINHEIRO, 1995). Mas será que essa perspectiva é válida para o
comportamento humano? Sobretudo partindo do campo psicológico que,
ao acolher os comportamentos humanos, busca construir com os outros
novas formas de existir?

Discutir sobre essas perspectivas é de extrema importância para a


psicologia, a fim de compreender as perspectivas psicológicas que têm mais
inclinação para a linha ambientalista e/ou nativista. Essas noções básicas
fundamentarão práticas e intervenções frente ao comportamento humano.

4 Natureza e limites da psicologia


Você já ouviu alguma dessas frases? “Eu sou a psicóloga na família”; “Sou o
psicólogo dos amigos”; “Sou professora e psicóloga dos meus alunos”.
Provavelmente sim, pois é frequente as pessoas fazerem menção à
Psicologia quando realizam alguma atividade de escuta, conselho ou
persuasão. Essas frases são resquícios da popularização dos termos
psicológicos no senso comum, assim como as palavras empatia, recalque,
projeção e outras.
Primeiramente, vamos definir o que é senso comum. Ele é o conhecimento
cotidiano construído pelas pessoas num cenário de realidade. Não passa
pelo crivo da ciência e não é submetido a um método filosófico ou de
pesquisa. O conhecimento advindo do senso comum é passado de tradição
para tradição, e é assimilado por cada homem e mulher na lida com a vida
cotidiana. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 18):
Esse conhecimento do senso comum, além de sua produção característica, acaba
por se apropriar, de uma maneira muito singular, de conhecimentos produzidos
pelos outros setores do saber humano. O senso comum mistura e recicla esses
outros saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de teoria
simplificada, produzindo uma determinada visão-de-mundo. O que estamos
querendo mostrar a você é que o senso comum integra, de um modo precário
(mas esse é o seu modo), o conhecimento humano. É claro que isso não ocorre
muito rapidamente. Leva certo tempo para o conhecimento mais sofisticado e
especializado seja absorvido pelo senso comum, e nunca o é totalmente. Quando
utilizamos termos como “rapaz complexado”, “menina histérica”, “ficar neurótico”,
estamos usando termos definidos pela Psicologia científica. Não nos preocupamos
em definir as palavras usadas e nem por isso deixamos de ser entendidos pelo
outro. Podemos até estar muito próximo do conceito científico, mas, na maioria
das vezes, nem sabemos. Esses são exemplos da apropriação que o senso comum
faz da ciência.

Contudo, apesar dessas palavras e frases serem assimiladas no senso


comum e no cotidiano das pessoas, isso não faz delas psicólogos/as. Isso
porque a Psicologia é uma ciência. Mas então, o que é ciência? Essa não é
uma pergunta fácil de responder, pois como vimos na história da filosofia e
da ciência as compreensões sempre são plurais e não únicas. Existem
vários caminhos distintos para definir os problemas da ciência, como fazer
ciência e consequentemente o que é ciência.
Mas, numa perspectiva mais tradicional, ciência são os conhecimentos
submetidos a metodologias reconhecidas por filósofos e cientistas. Os
métodos científicos, que também são vários, indicam os caminhos de se
obter conhecimentos validados pela academia (centros de pesquisas). Não
se faz ciência com achismos, faz-se ciência com métodos específicos, com
pesquisas, com crivo científico. Poderíamos dizer, como comumente é
assinalado, que científicos são os conhecimentos construídos de maneira
programada, controlada e sistematizada (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).
No entanto, há métodos científicos que não pressupõem controle e
previsibilidade, como são as pesquisas de cunho social, fenomenológicas e
cartográficas (DANIELA, 2016).
Outro aspecto comumente indicado é que todos os campos científicos têm
um objeto de estudo. A Sociologia tem como objeto de estudo os
fenômenos ligados à sociedade; a Economia, os componentes econômicos;
a Astrologia, os astros. Mas, e a psicologia? Qual o seu objeto de estudo?
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), desde os primórdios da Psicologia
enquanto ciência foi difícil definir um único objeto de seu estudo, dado que
cada perspectiva que surge enfatiza aspectos distintos do humano. No
início da Psicologia Científica, o foco esteve no comportamento com os
behavioristas. Os/as psicólogos/as de base analítica (psicanálise) dirão que
é o inconsciente; aqueles de perspectiva fenomenológica, os fenômenos; os
socioconstrutivistas, as interações sociais. Enfim, passaríamos anos e anos
indicando os diferentes objetos da Psicologia, visto que ela é uma ciência
multifacetada. Um resumo coerente poderia ser o indicado por Bock,
Furtado e Teixeira (2008, p. 22):
Nossa matéria-prima, portanto, é o ser humano em todas as suas expressões, as
visíveis (o comportamento) e as invisíveis (os sentimentos), as singulares (porque
somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) - é o ser humano-
corpo, ser humano-pensamento, ser humano-afeto, ser humano-ação e tudo isso
está sintetizado no termo subjetividade.

A Psicologia é uma ciência multifacetada, em que cada linha teórica, cada


abordagem e cada perspectiva definirá suas concepções de homem, de
mundo e os seus métodos de ação. É diferente da medicina, em que as
evidências científicas indicarão a melhor ação para aquele paciente; na
psicologia, os profissionais lidam com a multiplicidade de teorias que
indicam modos distintos de lidar com o mesmo fenômeno. Mas como
indica Figueiredo (2009), essas perspectivas, embora distintas, não são
arquipélagos avulsos e desconectados.
O campo da Psicologia enquanto ciência e profissão por vezes deixa os
profissionais e estudantes de psicologia atordoados na busca de uma
unicidade. Ou seja, na busca de uma prescrição única. O professor Luís
Cláudio Figueiredo, ao falar do campo psicológico como campo de
dispersão, nos lembra que:
Os alunos, ao ingressarem no curso e entrando em contato com o currículo,
podem ficar, de início, com a expectativa de que várias disciplinas irão se organizar
harmonicamente, convergindo para uma meta comum, segundo uma concepção
compartilhada por todos os professores do que seja pensar e fazer psicologia
(FIGUEIREDO, 2009, p. 17).
Nesse sentido, ressaltamos que mesmo uma ciência, a psicologia, não se
organiza com um objeto único, mas com objetos, campos, nuances de
estudo e investigação. Cada professor/a, a partir de suas perspectivas
teóricas, indicará possíveis modos de lidar com os fenômenos advindos dos
diversos campos de atuação psicológica.
Indicar essa abertura e essa multiplicidade inerente ao campo psicológico
não autoriza os profissionais a resvalarem nos achismos do senso comum,
no dogmatismo ou no ecletismo. É necessário que as práticas profissionais
estejam subsidiadas pela abordagem (perspectiva de prática) escolhida.
Alguns profissionais e estudantes, perdidos na dispersão teórica e
metodológica, se encaminham para a prisão do senso comum “porque ela é
a mais próxima e envolvente” (FIGUEIREDO, 2009, p. 19). Outros,
os dogmáticos, se agarram em uma perspectiva teórica e fecham-se a ela
como se essa fosse a única e grande verdade. “Ensurdecem para tudo que
possa contestá-la” (FIGUEIREDO, 2009, p. 18) e não ampliam os seus
horizontes. Já os ecléticos:
[...] adotam indiscriminadamente todas as crenças, métodos, técnicas e
instrumentos disponíveis de acordo com a sua compreensão do que lhe parece
necessário para enfrentar unificadamente os desafios da prática (FIGUEIREDO,
2009, p. 18).

Nenhuma dessas alternativas é indicada, isso porque todas cerceiam a


possibilidade da construção psicológica ética e coerente. A alternativa é a
busca contínua pela elaboração de conhecimentos novos e a articulação
das teorias com a prática profissional. Trata-se de fundamentá-los em
perspectivas de prática (abordagens), articulá-los com a experiência
cotidiana e sempre viva do profissional e daqueles que buscam a
psicologia. Não dá para juntar todas as teorias psicológicas como se elas
falassem a mesma coisa, mas também não é possível fechar-se em uma
teoria como se ela comportasse a única e mais exímia verdade sobre o
comportamento humano. Importa sim definir qual será a sua abordagem e
onde está circunscrita a sua visão de mundo. Mas a partir desse eixo, é
necessário estabelecer diálogos, abrir questões, interrogar as indicações
teóricas e metodológicas.
Faz-se importante, inclusive, abrir novas questões nas abordagens e
visões de mundo majoritárias na psicologia. As perspectivas cognitivo-
comportamental, psicanalíticas, humanistas (Abordagem Centrada na
Pessoa, Gestalt Terapia) e fenomenológicas (Daseinsanalyse) nasceram em
realidades distintas da realidade brasileira, com teóricos Europeus e
Estadunidenses e em séculos diferentes do que estamos vivendo. Não se
trata de abandonar esses teóricos, trata-se de assumir essas concepções de
ser humano e de mundo, colocando novas e coerentes questões para os
nossos séculos e para o nosso povo brasileiro (SILVA; DANIELA, 2019).

Assista aí
Essa concepção de que a ciência psicológica necessita dialogar com os
cenários sociais, políticos e econômicos do seu povo, no nosso caso, o povo
brasileiro, também é sustentada pelo Código de Ética do Psicólogo/a, que
em seus “Princípios fundamentais” indica: “III. O psicólogo atuará com
responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade
política, econômica, social e cultural” (CFP, 2005).

Assista aí

É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
 conhecer os pré-socráticos e o problema da “origem”;
 estudar o dualismo que nasce com Platão;
 aprender sobre o desenvolvimento dos primeiros métodos de
conhecimento;
 entender as ressonâncias da filosofia nas discussões sobre corpo-
mente e saúde-doença;
 compreender que a Ciência Psicológica é um Campo de
Dispersão.

REFERÊNCIAS
BOCK, A. M. B. A evolução da Psicologia. In: BOCK, A. M. B. Psicologias: uma
introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.
CASERTANO, G. Os pré-socráticos. São Paulo: Loyola, 2011.
CASTRO, M. G.; ANDRADE, T. M. R.; MULLER, M. C. Conceito mente e corpo
através da história. Psicologia em Estudo [online], 2006, v. 11, n. 1, p.39-43.
COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da filosofia e manual do
professor. São Paulo: Saraiva, 2016.
DANIELA, I. O velar como des-vela-dor da vida: a possibilidade da
natalidade (re)velada no plantão psicológico. 2016. Dissertação [Mestrado
em Psicologia Clínica]. Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).
Recife: UNICAP, 2016.
FIGUEIREDO, L. C. Revisitando as psicologias: da epistemologia à ética das
práticas e discursos psicológicos. Petrópolis: Vozes, 2009.
FREIRE, I. R. Raízes da Psicologia. Petrópolis: Vozes, 2008.
PINHEIRO, M. Comportamento Humano – interação entre genes e
ambiente. Educar, n. 10, p. 53-57, Curitiba, UFPR, 1995.
SCHULTZ, S. E.; SCHULTZ, D. P. História da Psicologia Moderna. São Paulo:
Cengage Learning, 2009.
SILVA, F. E.; DANIELA, I. Graduações com viés mercadológico: implicações
para a prática psicológica no Brasil. 2019. In: Anais do II Seminário
Internacional da união Latino Americano de Entidades de
Psicologia. Disponível
em: http://www2.pol.org.br/inscricoesonline/ulapsi/2019/anais/detalhe.cfm
?id=9025. Acesso em: 03 fev. 2020.

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