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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL - PPG EM FILOSOFIA

Disciplina: Epistemologia Analítica I


Professor: Dr. Cláudio Gonçalves de Almeida
Mestrando: Luís Antonio Zamboni
Assunto: Fechamento epistêmico.

O REFERENCIAL OBJETIVO COMO CRITÉRIO DE VALIDAÇÃO DO


FECHAMENTO EPISTÊMICO

Luís Antonio Zamboni 1

RESUMO

O presente artigo objeta explorar o conceito de “Fechamento Epistêmico”, decorrente das meditações
cartesianas; criticar os apontamentos de Fernando Henrique Faustini Zarth, sobre o ceticismo
acadêmico; explorar as lições de Cláudio de Almeida; apresentar as dificuldades de se ter
conhecimento do presente, por dedução; apresentar o problema da dedução no tempo e no espaço; e,
discorrer sobre as raízes da crítica da crença. Para tanto se firma em uma revisão bibliográfica: das
obras Discurso do Método e Meditações de Filosofia Primeira, de René Descartes; do artigo Epistemic
closure and epistemological optimism, de Cláudio de Almeida; e, do texto Ceticismo e Princípios
Epistêmicos, de Fernando H. F. Zarth. O artigo parte do fechamento epistêmico; percorre os
apontamentos sobre o ceticismo acadêmico; demonstra o deslocamento da premissa primeira, da
esfera objetiva para a esfera subjetiva, numa tentativa de validar a crença num cenário não-cético pela
crença num cenário cético, reciprocando; aponta o problema das deduções no tempo e no espaço;
percorre as raízes da epistemologia; e, conclui sobre as justificações da crença no ceticismo e na
validade do fechamento epistêmico.

PALAVRAS CHAVE: fechamento-epistêmico, discurso-do-método, ceticismo-radical, ceticismo-


acadêmico e passado-instantâneo.

1
Luís Antonio Zamboni. Mestrando de Filosofia da PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Ano 2021.
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INTRODUÇÃO

O tema epistemologia, tido como a interrogação da crença e das justificações da crença, pode
ser tomado restritivamente, como a crítica do que foi empido (deduzindo e/ou induzindo), crido e
epistemido com o objetivo de avaliar a possibilidade ou a não-possibilidade de se ter conhecimento
verdadeiro (para os clássicos, conhecimento como crença justificada).
Assim, entre as formas de posturas filosóficas epistêmicas há o ceticismo, que tem como uma
das referências antigas Pirro de Elis, na Grécia, donde originara-se o pirronismo, como método de
suspensão de juízo, que chega ao falibilismo.
Já, do início da modernidade se tem René Descartes, que apresenta a dúvida radical e o
dualismo cartesiano, donde se obtém o “Princípio do Fechamento Epistêmico”. E, na modernidade,
ainda, tem-se, entre outros, Schopenhauer, que aponta à existência de um abismo entre o “eu” e o
“mundo exterior”. Logo, levando a suspenção de juízo quanto ao conhecimento efetivo do mundo
exterior e das “justificadas” razões das crenças.
Em recorte temático, à epistemologia racional, notam-se as implicâncias lógicas produzidas
pelo dualismo cartesiano e a incidência do “Princípio do Fechamento Epistêmico”, como a
necessidade de preservação da “Premissa Primeira”. Necessidade esta que é primeira, pois só se pode
ter crença dos próprios estados mentais.
Esta temática encontra relevância na medida que surgem tentativas, pelos não-céticos,
reciprocando, de demonstrar a inviabilidade do ceticismo-acadêmico. E, ganha mais relevância ainda,
quando esta tentativa de demonstração de inviabilidade, desloca o objeto do ceticismo da esfera
objetiva, referencial/correspondente (correspondentista), para a esfera subjetiva.
Assim, há a hipótese de ser viável a flexibilização do fechamento epistêmico, pela refutação
do ceticismo radical; e, há a hipótese de não ser viável a flexibilização do fechamento epistêmico,
pela afirmação do ceticismo radical. Justificando a crença nos cenários não-céticos e/ou nos cenários
céticos.
Para tanto, far-se-á uma revisão bibliográfica das obras Discurso do Método e Meditações de
Filosofia Primeira, Epistemic closure and epistemological optimism e Ceticismo e Princípios
Epistêmicos.
O artigo está divido em cinco capítulos: 1. Do legado cartesiano; 2. Do conceito de fechamento
epistêmico; 3. Do deslocamento do ceticismo da esfera objetiva para a esfera subjetiva; 4. O problema
da dedução no tempo e no espaço; 5. Das raízes da crítica da crença; e, Conclusão.
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Demonstrando, assim: que o deslocamento da “Premissa Primeira”, da esfera objetiva para a


esfera subjetiva, constitui uma “Petição de Princípio”; que a crença no ceticismo-radical pode ser dar
pela impossibilidade de acesso dedutivo ao mundo exterior, logo ceticismo; e, que as crenças se dão
influídas pelas evidências, pelo discurso e pelas correspondências à multiplicidade dentro do uno.

DESENVOLIMENTO

1. DO LEGADO CARTESIANO

Da obra Meditações de Filosofia Primeira e do Discurso do Método, de René Descartes, se


colhe o ceticismo-radical, tendo-se o cético-epistêmico, ou seja, o sujeito que defende o pondo de
vista que só se pode ter crença verdadeira e justificada (conhecimento) dos próprios estados mentais.
A obra de Cartesius descreve a dúvida metódica e a apresenta em três estágios (sensibilidade,
sonho, Gênio Maligno), interrogando, desde a primeira meditação, sobre a possiblidade de auto-ilusão
- que atinge a crença, tangente aos conteúdos mentais, e se aprofundando na dúvida-radical na terceira
meditação, onde hipotisa que “todos os outros além de mim sejam autômatos [...] indivíduos sem
pensamento e sem sentimento que se movem de uma maneira semelhante como me movo.”
(AVRAMIDES, 2020, pg.2).
Sendo este um problema filosófico, cético-forte, que leva à possibilidade do solipsismo2; à
possibilidade do fechamento epistêmico; do pirronismo; e, do ceticismo.

2. DO CONCEITO DE FECHAMENTO EPISTÊMICO

Assim, com base no ceticismo-radical, que reza só haver conhecimento (crença justificada)
sobre os próprios estados mentais, ou seja, sobre as próprias proposições, logo, sobre a premissa
primeira, P1, apresenta-se o “Princípio do Fechamento Epistêmico” que visa a preservação da
“Premissa Primeira”.
Nesta linha escreveu Fernando Henrique Faustini Zarth sobre o Princípio do Fechamento
Epistêmico.

2
Solipsismo é, portanto, considerado mais apropriadamente como o ponto de vista de que, em princípio, “existência”
significa para mim, minha existência e a de meus estados mentais. (THORNTON, 2019, pg.1).
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Quanto à premissa (1), ela é comumente associada ao chamado Princípio de Fechamento


Epistêmico, isto é, o cético advoga que a relação epistêmica tida com uma proposição deve
ser preservada nas proposições decorrentes dessa. Por exemplo, se eu sei que o Pedro está
nessa sala, então eu sei que há uma pessoa nessa sala. Se eu sei que estou segurando um copo
de café, então eu sei que é um copo que estou segurando. Se eu sei que isso é uma mesa,
então eu sei que isso não é uma geladeira. Em uma primeira acepção, portanto, o princípio é
assim exposto:
PFC 1: Ksp & (p  q)  Ksq4 (Se S sabe que p, e p implica q, então S sabe que q). (ZARTH,
2011, pg. 2)

Desta maneira, surge o “Princípio do Fechamento Epistêmico” e umas das bases do


“Ceticismo-Radical”.
Entretanto, tendo-se a assertiva o ““Epistemista” deve ser entendido como o não-cético,
aquele que assente à proposição de que nós podemos obter conhecimento.” (ZARTH, 2011, pg. 10)
e objetivando firmar que os céticos acadêmicos não têm êxito ao tentar demonstrar “que nós nunca
estamos justificados ao crer que não estamos em um cenário cético” (ZARTH, 2011, pg. 12),
Fernando Henrique Faustini Zarth desloca o campo da referência da crença da esfera objetiva para
esfera subjetiva e aponta que: se os céticos-acadêmicos tem justificações para “crer” no “cenário-
cético”; então, o ato justificatório fornece razões para os adversários dos céticos-acadêmicos “não-
crerem” no “cenário-cético”. Conforme segue:

1. Se S está justificado ao crer que x, então S possui razões que tornam x suficientemente
provável.
2. Se S possui razões que tornam x suficientemente provável, então S possui razões que
tornam y suficientemente provável (pois se x implica y, e x é provavelmente verdadeiro,
então y deve ser ao menos tão provavelmente verdadeiro quanto x).
3. Se S está justificado ao crer que x, então S possui razões que tornam y suficientemente
provável. (1, 2)
4. Se S possui razões que tornam y suficientemente provável, então S está justificado ao crer
que y.
5. Portanto, se S está justificado ao crer que x, então S está justificado ao crer que y. (3, 4).
(ZARTH, 2011, pg. 9).

Reciprocando, argui que os céticos-acadêmicos incorrem em petição de princípio e/ou


sucumbem diante do trilema de Agripa, de modo que Zarth chega à conclusão que não existem boas
razões para ser um cético acadêmico.
O resultado que chegamos após buscarmos, como sugerem os pirrônicos, a versão
completamente articulada do argumento canônico para o ceticismo acadêmico é que o cético
fracassa em sua defesa da tese de que nós nunca estamos justificados ao crer que não estamos
em um cenário cético, tal como a influência de um gênio maligno ou cientistas perversos. Ao
ser desafiado a validar sua segunda premissa, o cético ou incorre em petição de princípio ou
se apoia em uma hipótese legitimamente inaceitável para seu opositor. Tendo sucumbido
frente aos Modos de Agripa, concluímos então que não há boas razões para ser um cético
acadêmico. (ZARTH, 2011, pg. 12).
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3. O DESLOCAMENTO DO CETICISMO DA ESFERA OBJETIVA PARA A ESFERA


SUBJETIVA

Assim, Zarth tenta comprovar sua conclusão, transformando uma questão de justificação da
crença firmada na empiria, em uma questão de justificação e crença firmada na lógica inferencial.
Porém não demonstra a legitimidade da premissa primeira, “eu sei que Pedro está na nessa sala”.
Pois Zarth não demonstra como “sabe” que Pedro está na sala.
Apenas proclama “se eu sei que o Pedro está nessa sala, então eu sei que há uma pessoa
nessa sala.” (ZARTH, 2011, pg. 2)
Ou seja:
P “eu sei que Pedro está na sala”;
Então Q “eu sei que há uma pessoa nessa sala”.
Logo: P → Q.
Desta maneira se tem o conhecimento pelo caminho hereditário da vinculação ‘If you know
that p, and know that p entails q, then you are in a position to know that q.’ (Almeida, 2019, pg. 115)
Entretanto, tomando como válido ceticismo-radical, força-se a fazer a objeção ao verbo
“saber”:
1. Porque, pode-se estar num caso de cenário cético;
2. Porque, pode que haver apenas a crença gettierizada de que P seja verdadeiro;
3. Porque, o argumento parte de um “sei”, quando deveria partir de um “creio” (tendo-se em
vista que o verbo “saber” se consubstancia como algo decorrente da crença justificada – logo a crença
vem antes da sapiência), assim, Zarth suprime uma parte do caminho formativo do conhecimento,
pula o crer, salta direto ao saber, pula o “creio” e salta ao “sei”; e,
4. Porque, firma o “sei” como válido, com isso atinge o antecedente e compromete o
consequente.
Logo a “premissa primeira”, carregando o verbo saber, “sei”, está inadequada, porque não
demonstra a justificação da crença que sei.
Deste modo, não há conhecimento válido, nem da crença, nem do mundo exterior na
premissa primeira. O que implica na reordenação das premissas, onde:
- a premissa primeira, P1, passe a ser “Creio que Pedro está nessa sala.”;
- a premissa segunda, P2, passe a ser “Sei que Pedro está nessa sala.”; e,
- a premissa terceira, P3, é “Sei que há uma pessoa nessa sala”.
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Assim, P1 tem valor de verdade epistêmica e ontológica, porque está no subjetivo do eu,
mas, P2 e P3, pelo ceticismo-radical, não se tem valor de verdade nem de falsidade, porque
epistemicamente não posso atribuir uma boa justificação e ontologicamente não posso ter acesso
direto aos objetos exteriores.
Forçando-se assumir uma postura pirrônica ou uma admissão de que não se pode ter
conhecimento do mundo exterior, conforme leciona Schopenhauer, restando o humano o
“Fechamento Epistêmico”.

4. O PROBLEMA DA DEDUÇÃO NO TEMPO E NO ESPAÇO

Nesta linha, da impossibilidade de se ter conhecimento dedutivo ao mundo exterior,


transcreve-se o ensaio outrora apresentado na cadeira de Tópicos Especiais de Epistemologia
apresentado na Universidade Federal da Fronteira Sul.

há fração de devir entre a percepção do mundo físico e a compreensão mental do mundo


físico, ou seja a compreensão do mundo e dos objetos do mundo exterior, logo, nesta relação
de “ser” e de “devir” (vulgarmente tipo por “tempo”), não acessamos o presente do mundo
exterior, mas, somente acessamos o “passado-instantâneo”. Tal que “passado-instantâneo”
seja a memória do que fora percebida num instante presente 3, que, em tese, já não existe mais.
Deste modo, quando compreendemos o mundo exterior pode ser que ele não exista mais, à
exemplo, reduzir-se-á ao absurdo, supondo a ocorrência de um cataclismo, que fizesse tudo
desaparecer, de modo que o mundo exterior acessado não existe mais, pois, como era, já não
é, frente a knésis. Assim, “a “existência” significa para mim, minha existência e meus
estados mentais”: o solipsismo. (ZAMBONI, 2021, pg.02).

Ademais, no caso, a P2, “sei que Pedro está nessa sala”, pode ser uma crença sem

3
Concebe-se o significado de “instante” como: a menor fração aparente de devir percebível; tendo-se, como “devir” o
processo de não-ser, de ser e de não-ser; e, combinado com uma noção estável “em algo” (onde “em algo” possa ser lugar,
estado ou procedimento (processo)).
Deste modo, considerando-se o espaço (uno e estável) e (devir fluente e dinâmico), tem-se que o devir possibilita o
constructo mental de tempo.
Entretanto, considerando-se que a relação lugar e devir possa ser concebida de doutras formas:
- primeira, estático quanto ao espaço (lugar/ser) e dinâmico/fluente quanto no tempo (devir);
- segunda, estático quanto ao tempo (não-devir) e dinâmico/fluente quanto ao espaço (lugar/ser); e,
- terceira, modelável-dinâmico quanto ao espaço (lugar/ser) e modelável-dinâmico quanto ao tempo (devir). Parece que
nesta terceira se enquadraria o pensamento de Heráclito, pois, se “tudo flui”, flui lugar e flui o devir. (ZAMBONI, 2021)
Entretanto, considerando a doutrina ordinária e se considerando a racionalidade como um procedimento: filia-se na
primeira hipótese.
Pois em que pese, a mesma mente-humana não ocupar um lugar (espaço), logo pode romper a relação lugar e devir, o
processo mental de racionalidade parece ser unitário, pois, salvo melhor juízo, não se pode pensar ou despensar algo no
mesmo instante, tampouco pensar dois raciocínios contraditórios sobre o mesmo aspecto no mesmo instante, sob pena de
cair no princípio aristotélico de não contradição. Assim, o processo, melhor dizendo, o procedimento da mente e dos
estados mentais se dão num instante do devir, donde se dá a aparente noção de estaticidade de lugar, sendo que sequer
seria necessário o lugar. Tendo em vista que o processamento mental se dá no devir e não no lugar.
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justificação, se Pedro sair da sala rapidamente, sem que se perceba.


Destarte, não se tem conhecimento verdadeiro de P2.
Entretanto ZART tenta demonstrar que o ceticismo fracassa, ao tentar validar o cenário
cético, porque acaba por validar também o cenário não-cético. Porém, parece razoável refutar a
conclusão de Zarth, pois este tenta refutar o ceticismo acadêmico deslocando o objeto da referência
objetiva para a esfera subjetiva, assim, faz parecer que ao justificar o crer e o não-crer, justifica, o ter
conhecimento ou não-ter-conhecimento. Ou seja, desloca a questão da justificação da crença para a
residência de se ter ou de não se ter razões para crer, firmada em aspectos lógicos, mas não em
aspectos ontológicos. Desta maneira Zarth dá justificações tanto às crenças céticas, quanto às crenças
não-cética. Ou seja, qualquer crença é válida, desde que tenha justificação subjetiva, o que impinge
ponderar sobre o rol de critérios para aferição da qualidade e do grau de justificação.
Deste modo, Zarth, ao deslocar o conteúdo da P1, do campo objetivo para o campo subjetivo,
suprimi um aspecto referencial fundante do ceticismo (a relação do eu interior com o mundo exterior)
e cai em petição de princípio.
Assim, em P “Pedro está nessa sala” e em Q “existe uma pessoa nesta sala” se tem uma
crença justificada de que P, porque se introspectou na mente a crença de que P, logo, por inferência
lógica se (P → Q) → Q. Porém, a crença justificada também poderá ser atingida pelo trilema de
Agripa: a um, porque poderá não se ter razões para crer em P; a dois, porque P poderá cair em
argumento circular P → Q → P; e, a três porque, poder-se-á chegar ao ponto de se esvaírem as razões
e se cair em argumento circular.
Falhando, assim, a tentativa de Zarth de viabilizar um cenário não-cético, por uma questão
ontológica do dualismo cartesiano.

5. DAS RAÍZES DA CRÍTICA DA CRENÇA

Após se haver demonstrado, nos capítulos anteriores, o legado cartesiano e a importância do


dualismo para a percepção dos limites do conhecimento dedutivo e dos limites de justificação das
crenças sobre o mundo exterior. Após ter apresentado o conceito de fechamento epistêmico, como
meio de preservar a premissa primeira. Bem como, após ter demonstrado o deslocamento do
argumento da esfera subjetiva para a esfera objetiva; e, o problema da dedução no tempo e no espaço.
Adentra-se na questão propriamente epistêmica, qual seja: - O que possibilita crer que o
ceticismo encontre justificação para ser crido?
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Neste ponto se tem uma crença cética: - Não se tem acesso ao mundo exterior, por dedução,
logo, é um caso de ceticismo-radical.
E se tem a justificação desta crença, porque quando o próprio “eu-interior” racionaliza o
empido, o deduzido, o crido, o mundo exterior já sofrera o efeito do devir, logo, não se tem acesso o
presente, mas, ao passado-instantâneo.
Assim, a justificação para a crença cética-radical se firma no processo de raciocínio, firmado
na linguagem, no discurso e na memória.
Cabendo assim: retroceder ao passado longínquo, para compreender a “epistemologia” e as
“raízes de crítica epistêmica”; e, avançar até então, para compreender a justificação epistêmica para
a crença no ceticismo-radical.
Primeiramente importa lembrar que o nascimento da filosofia fora um processo evolutivo na
Grécia, onde às três classes de homens (poetas, reis da justiça e videntes) se somava mais uma classe,
a classe dos guerreiros. Esta quarta classe de homens, os guerreiros, tinha o poder da isonomia e da
isegoria antes dos combates. Assim, a palavra deixara de ser uma palavra mística, sagrada e passara
a ser uma palavra humana e terrena.
Por outro norte, importa lembrar que a filosofia nasce, também, como uma tentativa de
desvencilhamento da mística religiosa.
Destarte, a “ep.ist.em.o.l.og.ia” carrega algo reflexivo e contestador da “ap.ost.o.l.og.ia”,
sendo relevante delinear bem a raiz semântica. Neste viés, tem-se o apóstolo (ap.ost.ol.o), como
aquele que tem a crença e ostenta a crença; e, o epistemólogo-primitivo (ep.ist.em.o.l.og.o) como
aquele que não tem a crença-acabada e busca saber os motivos justiçadores da crença, capazes de
compor uma crença justificada, ou seja, o conhecimento - para platônicos, para os aristotélicos e
outros.
Destarte ocorre que a justificação da crença não se dava somente na esfera subjetiva, mas, em
tese, dava-se também na esfera objetiva, tal qual os filósofos da natureza, os pré-socráticos.
Nesta linha, note-se que o caso de Edmund Gettier também se firma numa demonstração
ontológica, pois, os celeiros são correspondentes objetivos, ou seja, busca uma justificação ontológica
para firmar a exceção a crença.
Nisso há a ligação entre: a justificação epistêmica (crença justificada) dos pré-socráticos; a
justificação de Gettier (crença justificada e não gettierizada); e, a justificação dos céticos-radicais
cartesianos. Pois, para aqueles, em tese, haveria de haver “correspondência” entre o mundo exterior
e as justificações da crença; para estes haverá de haver o reconhecimento da impossibilidade de acesso
ao mundo exterior, para justificar a crença cética.
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Assim a justificação da crença, não se dá somente com argumentos lógicos, deslocados da


esfera objetiva para a esfera subjetiva, como fez Zarth; mas, dá-se também, com argumentos
ontológicos e metafísicos, que impingem o epistemólogo ao contato com os vários pilares da filosofia,
com a pluralidade de fontes de conhecimento, com as epistemologias fronteiriças e com o múltiplo
dentro do uno, para perceber as razoabilidades das razões para a crença justificada.

CONCLUSÃO

Após breve apanhado sobre “Fechamento Epistêmico” e breve percurso pelas obras Discurso
do Método e Meditações de Filosofia Primeira, de René Descartes; pelo artigo Epistemic closure and
epistemological optimism, de Cláudio de Almeida; e, pelo texto Ceticismo e Princípios Epistêmicos,
de Fernando H. F. Zarth.
Conclui-se que Zarth chega à conclusão que “não há existem boas razões para ser um cético
acadêmico” (ZARTH, 2011, pg. 12), porque ele deslocou o objeto da justificação da crença da esfera
objetiva, correspondentista, para a esfera subjetiva, ao transformar um argumento ontológico num
argumento lógico.
Conclui-se que ao fazer isso, Zarth, incorreu em uma petição de princípio, pois, a crença está
na esfera subjetiva do sujeito, mas, as justificações da crença devem tanger a esfera objetiva, sob pena
de cair em ilusão ou de cair numa crença com fraca justificação.
Conclui-se, pelo dualismo cartesiano, eis que não se tem acesso ao mundo exterior, acessando-
se apenas, pelo raciocínio, o passado-instantâneo, logo, sendo válido o fechamento epistêmico para
preservar a premissa primeira, nascida dos próprios estados mentais, e conveniente a postura cética.

And this brings us to my motivation for claiming that Dretske’s proposed refutation of JC
(while ostensibly speaking of knowledge-closure) is misleading with regard to skepticism.
(ALMEIDA, 2019, pg. 117).
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THE PURPOSE FRAMEWORK AS A CRITERIA FOR THE VALIDATION OF THE


EPISTEMIC CLOSURE
Luis Antonio Zamboni
ABSTRACT

This article aims to explore the concept of “Epistemic Closing”, arising from Cartesian meditations;
criticize Fernando Henrique Faustini Zarth's notes on academic skepticism; explore the lessons of
Cláudio de Almeida; present the difficulties of knowing the present, by deduction; present the problem
of deduction in time and space; and, talk about the roots of the critique of belief. For this purpose, it
is based on a bibliographical review: of the works Discourse on Method and Meditations on First
Philosophy, by René Descartes; the article Epistemic closure and epistemological optimism, by
Cláudio de Almeida; and from the text Skepticism and Epistemic Principles, by Fernando H. F. Zarth.
The article starts from the epistemic closure; runs through the notes on academic skepticism;
demonstrates the shift from the first premise, from the objective sphere to the subjective sphere, in an
attempt to validate belief in a non-skeptical setting by belief in a skeptical setting, reciprocating;
points out the problem of deductions in time and space; runs through the roots of epistemology; and
concludes on the justifications for the belief in skepticism and the validity of epistemic closure..

KEYWORDS: epistemic-closure, method-discourse, radical-skepticism, academic-skepticism and


instant-past.
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