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2021-2022
FILOSOFIA
11º Ano
8.ª - Ficha de Trabalho
K. Popper
DOC. 1
Foi só depois do meu exame de doutoramento que somei dois e dois e as minhas ideias anteriores
se arrumaram. Percebi a razão por que a teoria errada da ciência que tinha ditado a lei desde Bacon
– a teoria de que as ciências naturais eram as ciências indutivas e a indução era um processo de
estabelecer ou justificar teorias através de observações ou experiências repetidas – estava tão
profundamente arreigada. A razão era que os cientistas tinham de demarcar as suas atividades das
atividades da pseudociência, bem como da teologia e da metafísica, e tinham adotado o método
indutivo de Bacon para critério de demarcação. (…) Mas eu detivera, nas minhas mãos, por muitos
anos, um critério melhor de demarcação: testabilidade ou falsificabilidade.
Assim, podia pôr de parte a indução sem ficar atrapalhado com a demarcação. E podia aplicar os
meus resultados respeitantes ao método de tentativa e erro de maneira a substituir toda a
metodologia indutiva por uma metodologia dedutiva. A falsificação ou refutação de teorias através
da falsificação ou refutação das suas consequências dedutivas era, claramente, uma inferência
dedutiva (modus tollens). Este ponto de vista implicava que as teorias científicas, se não são
falsificadas, permanecem para todo o sempre hipóteses ou conjeturas.
Portanto, todo o problema do método científico se clarificou e, com ele, o problema do progresso
científico. O progresso consistia em caminhar em direção a teorias que nos digam mais e mais –
teorias de conteúdo cada vez maior. Mas quanto mais uma teoria diz, mais exclui ou proíbe, e
maiores são as oportunidades de falsificá-la. Portanto, uma teoria com maior conteúdo é uma teoria
que pode ser mais severamente testada. Esta consideração levou a uma teoria em que o progresso
científico se revelou consistir, não na acumulação de observações, mas no derrube de teorias menos
boas e sua substituição por teorias melhores, em particular por teorias com maior conteúdo. Assim,
havia uma competição entre teorias – uma espécie de luta pela sobrevivência darwiniana.
É claro que as teorias que reclamam não ser mais do que conjeturas ou hipóteses não precisam de
justificação (e menos ainda de uma justificação por um inexistente “método de indução”, de que
ninguém ainda deu uma descrição razoável). Todavia, podemos, por vezes, dar razões para preferir
às outras uma das conjeturas em competição, à luz da sua discussão crítica. (…)
O ponto decisivo em tudo isto, o caráter hipotético de todas as teorias científicas, era, para o meu
espírito, uma consequência bastante banal da revolução einsteiniana, que tinha mostrado que nem
sequer a teoria mais bem-sucedida nos testes, como a de Newton, devia ser olhada como mais do
que uma hipótese, como mais do que uma aproximação da verdade.
Karl Popper, Busca inacabada – Autobiografia intelectual, Esfera do Caos, 2008, pp. 114-117. Ficha de
“Não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis do Universo - o único caminho é o da intuição” Albert Einstein |1
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(…) O livro [A lógica da pesquisa científica, 1933] tinha a intenção de providenciar uma teoria do
conhecimento e, ao mesmo tempo, ser um tratado de método – o método da ciência. A combinação
era possível porque eu olhava para o conhecimento humano como consistindo nas nossas teorias,
nas nossas hipóteses, nas nossas conjeturas; como sendo o produto das nossas atividades
intelectuais. É claro que há outra maneira de olhar para o “conhecimento”: podemos ver o
“conhecimento” como um “estado de espírito” subjetivo, como o estado subjetivo de um organismo.
Mas eu escolhi tratá-lo como um sistema de enunciados – teorias submetidas a discussão. O
“conhecimento”, neste sentido, é objetivo; e é hipotético ou conjetural.
Esta maneira de olhar para o conhecimento tornou possível que eu reformulasse o problema da
indução de Hume. Nessa reformulação objetiva o problema da indução já não é um problema das
nossas crenças – ou da racionalidade das nossas crenças – mas um problema de relação lógica entre
enunciados singulares (descrições de factos singulares “observáveis”) e teorias universais.
Nesta forma, o problema da indução torna-se solúvel: não há indução, porque as teorias universais
não são dedutíveis de enunciados singulares. Mas podem ser refutadas por enunciados singulares,
dado que podem estar em desacordo com descrições de factos observáveis.
Além disso, podemos falar de teorias “melhores" e “piores” num sentido objetivo mesmo antes de
as nossas teorias serem postas a prova: as teorias melhores são as que tem maior conteúdo e maior
poder explicativo (ambos relativos aos problemas que estamos a tentar resolver). E estas, mostrei
eu, são também as teorias melhor testáveis; e – se sobreviverem aos testes – as teorias melhor
testadas.
Esta solução do problema da indução dá origem a uma nova teoria do método da ciência, a uma
análise do método crítico, o método da tentativa e erro: o método de propor hipóteses ousadas e de
as expor à crítica mais severa, com o intuito de detetar os erros que possamos ter cometido.
Do ponto de vista desta metodologia, começamos a nossa investigação com problemas. Somos
sempre confrontados com uma certa situação problemática; e escolhemos um problema que
esperamos ser capazes de resolver. A solução, sempre provisória, consiste numa teoria, numa
hipótese, numa conjetura. As várias teorias em competição são comparadas e discutidas
criticamente, com o intuito de encontrar as suas deficiências; e os resultados da discussão crítica,
sempre em mudança, sempre inconclusivos, constituem o que se pode chamar “a ciência do dia”.
ortanto, não há indução: nunca argumentamos dos factos para as teorias, a menos que seja pela via
da refutação ou “falsificação”. Esta visão da ciência pode ser descrita como seletiva, como
darwiniana. (…)
Karl Popper, Busca inacabada – Autobiografia intelectual, Esfera do Caos, 2008, pp. 122-124.
Bom trabalho!
Prof. Manuel Fonseca
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Cenários de resposta:
4. Popper defende que as leis científicas não podem ser confirmadas. Contrapõe à verificabilidade
aquilo que ele considera ser «um critério melhor de demarcação: testabilidade ou
falsificabilidade». De acordo com este critério, uma hipótese é científica se puder ser falsificada,
isto é, se puder ser sujeita a testes de refutação.
5. O método crítico das conjeturas e refutações baseia-se apenas na dedução e obedece à forma
lógica do modus tollens. Se uma dada teoria for uma boa explicação da realidade (T), então
ocorrerá o que ela prevê (P); imaginemos que não ocorre o que a teoria prevê; logo, a teoria é
refutada por não ser uma boa explicação da realidade (TP, ⌐P ⌐T). Por exemplo, se a teoria
de Newton for uma boa explicação da realidade, então ocorrerá x; não ocorrendo x, podemos
concluir que a teoria de Newton não é uma boa explicação da realidade.
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7. Popper defende «o caráter hipotético de todas as teorias científicas»: uma teoria científica,
incluindo a mais bem-sucedida nos testes, é agora e sempre uma hipótese ou conjetura que,
enquanto tal, dispensa justificação.
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