Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
REDUCIONISMO E PROGRESSO
Impactos e consequências do reducionismo no avanço científico
SÃO PAULO - SP
2022
Introdução
Há um erro extremamente comum nos pensamentos filosóficos: a indução das teorias. Este
erro ocorre quando se percebe um fenômeno, traça-se uma hipótese para explicar tal
fenômeno, e a hipótese é confirmada. A posteriori, enxergo fenômenos semelhantes ao inicial
observado, e aplico a hipótese obtida, sem questionar a generalidade de tal hipótese. Nesse
sentido, podem-se exemplificar os paradigmas na ciência, ou seja, à medida que observo
fenômenos novos, sempre, o intuitivo será aplicar os paradigmas vigentes para explicar os
fenômenos. Entretanto, isso possui consequências negativas, principalmente quando
aplicados à filosofia da ciência.
Quando induzo, a partir de um exemplo, que toda ciência deve necessariamente ser reduzida,
radicalizo meu discurso, pois aplico o indutivismo das teorias. Ou seja, se qualquer fenômeno
físico pode ser explicado através da matemática (com base em todas as observações até agora
vistas), induzo que toda física deva ser reduzida a matemática. Quando tomado por extremo
esse indutivismo, a conclusão será que qualquer ciência, como a antropologia, deve ser
explicada pela matemática. A consequência imediata é a hierarquização das ciências,
colocando as mais basais, como matemática e história, como fundamentais e essenciais para o
desenvolvimento de outras ciências.
Logo, minha tese que será apresentada aqui neste ensaio, será a busca de um equilíbrio entre
o avanço científico dado pelas revoluções científicas e as mudanças de paradigma, e o
reducionismo necessário para a explicação dos fenômenos, sem o indutivismo das teorias.
Isto é, conciliar as teorias e paradigmas vigentes para explicar os fenômenos observados a
partir da redução necessária, com o avanço científico proveniente de novas teorias. Em outras
palavras, seria gerar um método que permita uma fluidez maior entre as revoluções
científicas, sem que paradigmas limitem ou prendam cientistas.
Desse modo, definirei alguns conceitos, os quais julgo importantes para o desenvolvimento
da tese em questão:
I) Indução de teorias – Derivado da obra de Karl Popper, a indução de teorias seria aplicar a
explicação de uma hipótese para dado um fenômeno, a todos os fenômenos vistos, sejam eles
fenômenos físicos, biológicos, históricos, sociais ou até mesmo filosóficos.
II) Reducionismo parcial e reducionismo radical – Derivado da obra de Ernst Mayr, define-se
reducionismo parcial como análise, ou a redução necessária para compreender todos os
fenômenos, enquanto o reducionismo total, na obra de Mayr, é dado pelo termo
reducionismo, que se refere a hierarquização das áreas do conhecimento, isto é, explicando
todo fenômeno a partir de uma área do conhecimento.
III) Avanço científico - Derivado da obra de Thomas Kuhn, entende-se avanço científico
como revoluções científicas, e, após essas, fenômenos antes não compreendidos, agora são
passíveis de explicação.
IV) Hierarquização das teorias – O entendimento de que uma área do conhecimento, ou teoria
pode ser completamente dissecada e explicada por uma outra tida como mais essencial e
basal. Isto é, esta primeira teoria não passaria de uma aplicação de outra teoria mais essencial.
Ciência: Origem, hierarquização das teorias e métodos
Partindo do pressuposto que a espécie humana é um animal, pode-se inferir que a
classificação dos itens, fenômenos, observações e da vida, subdividindo-os em classes
hierárquicas, aplicando um juízo de valor, é natural. Verifica-se tal dado na taxonomia dos
seres vivos, e no debate sobre o conceito de vida a fim de propor uma classificação
hierárquica sobre a definição de um ser vivo. Outro exemplo, é a organização matemática da
teoria dos conjuntos: na medida em que o conjunto dos naturais passa a ser um subconjunto
dos inteiros, os números são classificados e hierarquizados.
Nesse sentido, percebe-se que, em todas as áreas do conhecimento, a espécie humana atribui
um juízo de valor, classificando-as. A priori, tal ideia se mostra positiva, pois nos permite seu
estudo e o avanço da ciência. Contudo, a hierarquização, quando extrapolada, torna-se
perigosa, de mesmo modo que hierarquizar culturas, línguas ou teorias é danoso. Hierarquizar
teorias é perigoso, pois aniquila um preceito elementar em ciência: a imparcialidade. Na
medida em que tomo uma ciência mais importante que outra, faço o conhecimento ser
parcial, favorecendo meu ponto de vista. (Entendo que ciência é imparcial enquanto análise e
observação de fenômenos, portanto, a imparcialidade, aqui representa a não hierarquização de
teorias).
Nesse contexto da classificação humana, entende-se que a ciência e a observação são
processos inerentes, pois na mesma proporção em que se observam fenômenos e não há
explicação, criam-se novas hipóteses a fim de solucionar essa curiosidade intrínseca ao
homem. Portanto, o método científico proposto por Francis Bacon é uma simples descrição
da forma com a qual a espécie humana lida com o mundo. Entretanto, criar novas teorias para
explicar fenômenos novos não é trivial, pois o mais intuitivo é explicar fenômenos a partir de
um paradigma vigente.
Karl Popper, em seu livro “A lógica da pesquisa científica”, detalha a respeito da indução, e
de como esta é falha quando procura explicar fenômenos e observações partindo de
suposições anteriores. Na visão do autor, há um problema na indução, na qual não se podem
inferir enunciados universais partindo de enunciados singulares. Isto, por um puro problema
lógico, ou seja, ainda que todos os enunciados singulares concordem e apontem para um
enunciado universal, qualquer novo enunciado singular que contraste ou discorde dos
anteriores impedirá a universalidade de tal enunciado. O autor, portanto, enxerga que a teoria
e a formulação de enunciados universais devem, necessariamente, ser anterior às
observações, e que as observações apenas comprovarão ou negarão a teoria. Isto é, o que
Popper chama de falseabilidade, tida como o delimitador do conhecimento científico.
Discordante de Popper, Alan Chalmers considera a indução como parte do progresso
científico, uma vez que gerou leis universais, portanto, entende que o início do progresso e do
método científico se deu a partir das observações. Todavia, Chalmers descreve o indutivista
como ingênuo, levando ao seguinte raciocínio: caso a observação possua um número grande
de preposições, repetidas sobre uma ampla variedade de condições e não conflite com a lei
universal derivada, será automaticamente válida, sem considerar o problema lógico da
indução descrito por David Hume e por Karl Popper.
Como exemplo da falha do método indutivista, tem-se o famigerado exemplo dos cisnes
brancos. Se todos os cisnes observados até o dado momento são brancos, induzo que todo
cisne é branco. Entretanto, caso obtenha um cisne não-branco, minha afirmação perde
credibilidade de enunciado universal.
Contudo, gostaria de ir além a respeito da indução. Grandes teorias filosóficas são
apresentadas de modo polarizado, como o empirismo, em contraste ao racionalismo. Vejo a
polarização de forma negativa, pois esta só existe pelo indutivismo das teorias científicas.
Caso enunciados particulares que corroborem com o racionalismo de Descartes sejam
verdadeiros, terei como verdade o racionalismo. Em contra partida, se tais enunciados
corroborarem com o empirismo de Hume, minha verdade universal será o empirismo. No
contexto do reducionismo, a polarização será pelo reducionismo estrito ou pela sua ausência,
o qual limita a fluidez das revoluções científicas.
Resumindo, como mostrado por Francis Bacon em seu livro “Instauratio Magna”, a indução
auxilia o progresso científico, pois gera leis, e constroem paradigmas. Nesse panorama, sem a
indução, não haveriam leis, enunciados universais ou teorias científicas e filosóficas.
Todavia, a indução é perigosa quando as teorias são polarizadas, principalmente se o
indutivista for ingênuo ao desconsiderar seu problema lógico.
Conclusão
Após entendimento, concluo que o reducionismo possui elevada importância, graças ao
método dedutivo da produção científica e ao seu poder explicativo. Entretanto, quando
surgem emergências probabilísticas, o reducionismo estrito perde seu sentido. Assim, deve
ser definido um grau de reducionismo, chamado de análise, pelo qual somente se reduz a
aquilo que é necessário. Esta delimitação de “até onde se pode reduzir” é dada pela utilidade
das partes, isto é, o quão melhor explicarei o fenômeno se reduzir, e pela área de estudo.
Complementando, induzir teorias gera polarização do reducionismo, que limita do avanço
científico e a solução será a análise, tomando como base a utilidade definida pela própria
teoria.
Esse ensaio teve como base teórica Karl Popper para a indução e seus problemas; Thomas
Kuhn para o avanço científico através das revoluções científicas; E de Ernest Mayr, em sua
visão sobre reducionismo e análise. Disto, todos os comentários e teses foram traçados a fim
de contemplar um equilíbrio entre o grau de reducionismo necessário para o melhor avanço
científico
Finalizo entendendo. que todas as vezes que polarizo minha teoria através da indução, gero
problemas para aplicar a um fenômeno, pois gero extremos, os quais não se encaixam a
nenhuma explicação. Assim sendo, o grau de equilíbrio deve ser dado sempre pelo bom senso
e pela necessidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACON, F. Instauratio Magna. Londres, 1920
SMITH, D. Categorization: The view from animal Cognition. National Library of Medicine,
2015. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4931384/ . Acesso em
28 de junho de 2022
ZHENG, X. The Arithmetical Hierarchy of Real Numbers. Wiley Online Library, 2001.
Disponível em: doi.org/10.1002/1521-3870(200101)47:1<51::AID-MALQ51>3.0.CO;2-W.
Acesso em 28 de junho de 2022