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A palavra fato nos remete à ideia de algo verdadeiro e imutável. Um fato científico, grosso
modo, pode ser descrito como um consenso entre observadores qualificados dos mesmos
fenômenos. Portanto, não é necessariamente imutável, pois este consenso pode mudar.
Isso não é um defeito da Ciência, mas uma característica intrínseca dos métodos
científicos, como será explicado adiante.
Quando uma hipótese sobrevive repetidamente a testes que podem refutá-la, ela pode se
tornar uma lei ou princípio. Caso contrário, a hipótese deve ser abandonada ou modificada.
Um conjunto de princípios científicos que tratam de certo aspecto da realidade é dito uma
teoria científica. Note que o significado difere do uso cotidiano, em que usamos a palavra
“teoria” para nos referirmos a uma hipótese não testada.
A princípio, essa refutabilidade das teorias científicas parece ser uma fraqueza, parecendo
dar a impressão de que a Ciência não tem certeza dos fatos. Entretanto, é muito raro que
uma teoria seja refutada em favor de outra que a contradiga completamente (embora em
princípio isso possa acontecer, como no caso da Seleção Natural ou da determinação da
idade da Terra); o mais comum é que haja refinamentos da teoria anterior. Com o passar
do tempo, a tendência é que haja uma convergência em direção a teorias que se
aproximem cada vez mais da realidade natural.
Na Física, por exemplo, poderia se dizer que a Teoria da Relatividade de Einstein refutou a
Mecânica Newtoniana vigente até então. Na verdade, o que houve foi uma generalização.
Para a maioria dos fenômenos cotidianos, a Mecânica Newtoniana é uma excelente
aproximação da Teoria de Einstein. Para levar astronautas à Lua, por exemplo, não foi
necessário aplicar correções relativísticas; entretanto, a aplicação dessas correções ao
sistema GPS melhorou consideravelmente sua precisão.
Seguindo as ideias vindas desde Galileu, no século 16, o método científico busca adquirir,
organizar e aplicar novos conhecimentos, com base no pensamento racional e na
experimentação, seguindo os seguintes passos:
Algumas características são desejáveis para esses itens. A hipótese, como já citado, deve
ser refutável. Cada experimento ou observação devem ser reprodutível, de modo que haja
uma boa descrição dos procedimentos utilizados, que possa ser utilizada por outros
cientistas para realizar sua própria verificação.
Ex.: Um caso interessante e recente em que foi feita uma hipótese que depois foi
descartada é o do processo de formação de sistemas planetários e da descoberta dos
planetas extrassolares2.
1 https://oyc.yale.edu/ecology-and-evolutionary-biology/eeb-122/lecture-23
2 https://oyc.yale.edu/astronomy/astr-160/lecture-4
1.2.3 Pseudociência
Astrologia
Criacionismo
Homeopatia
Misticismo Quântico
Terraplanismo
A seguir falaremos um pouco mais sobre alguns destes tópicos. O caso da Astrologia é
peculiar, pois e inegável a importância da verificação de padrões do movimento dos
astros; nesse aspecto, foi uma precursora da Astronomia, parte importante da Física atual.
Entretanto, a hipótese de que os astros influenciam no comportamento humano não é
científica. Diversos estudos mostram que não há correlações entre características
humanas e signos (aliás, estes nem estariam certos atualmente, pois a posição das
constelações muda com o passar dos séculos).
Por mais que a Ciência avance, com um método consolidado que oferece inúmeros
resultados e aplicações, periodicamente aparecem movimentos anticientíficos, que
revolvem ideias há muito suplantadas, ou mesmo rejeitam o método em si ou seus
resultados. Tipicamente, esses movimentos têm motivações religiosas, políticas ou
financeiras. O Criacionismo e a hipótese da Terra plana, por exemplo, têm motivação
claramente religiosa. Já a negação do Aquecimento global interessa a corporações e
governos cuja economia está baseada na emissão de poluentes. O movimento
antivacinação combina vários fatores, como negação dos dados sobre a eficácia das
vacinas e teorias conspiratórias sobre a indústria farmacêutica, tendo também a influência
religiosa como componente.
De certa forma, podemos dizer que a Biologia é baseada na Química, que por sua vez está
baseada na Física, de modo que a Física é considerada a mais fundamental das ciências
naturais. Ela trata de elementos básicos da natureza, como movimento, forças, energia, a
matéria e suas partículas básicas. Assim, uma boa compreensão da Ciência começa com
uma boa compreensão da Física.
A Física, por sua vez, está fundamentada na Matemática. Como já dito, a Matemática é tida
mais como uma ferramenta científica que uma ciência em si. Uma diferença essencial da
3 http://skepdic.com/pseudosc.html
matemática é que uma verdade matemática será verdadeira em todo tempo e lugar,
enquanto o mesmo não pode ser assumido de uma teoria científica, como vimos
anteriormente, embora o objetivo do método seja chegar o mais próximo da verdade sobre
a realidade natural.
Quando ideias científicas são expressas em termos matemáticos, elas podem ser
interpretadas sem ambiguidade, e fica mais fácil comprová-las ou refutá-las por
experimentos e observações.
Este grande livro, o Universo, não pode ser entendido sem que
antes aprendamos a linguagem em que está escrito, que é a
linguagem da Matemática. Sem isso, vaga-se em vão em um
labirinto escuro. -Galileu
A estrutura matemática da Física está evidente nas diversas equações que descrevem os
mais diversos fenômenos. Ao longo da História, vários matemáticos se envolveram com
problemas de Física, e vários físicos se viram aplicando métodos de matemática antes tida
como “pura” em problemas físicos.
Talvez o melhor exemplo dessa relação íntima entre a Física e a Matemática seja o legado
de Newton, que descreveu os princípios da Mecânica ao mesmo tempo que coinventava o
Cálculo Diferencial. Mais recentemente, métodos de álgebra abstrata têm encontrado
aplicações na Mecânica Quântica.
Podemos, grosso modo, definir três momentos principais da Física, ou três “Físicas”: a
Aristotélica, a Clássica e a Moderna. O advento das Físicas Clássica e Moderna marcam
duas quebras de paradigma, em que revisões substanciais da visão da realidade natural
foram levadas a cabo.
Como já dito, inicialmente a Física era parte da Filosofia, a chamada Filosofia Natural. O
principal expoente até antes da Renascença foi Aristóteles. A crença corrente era de que
tudo no Universo era composto por quatro elementos: terra, água, ar e fogo. Cada objeto
teria seu lugar apropriado conforme sua “natureza”; se estivesse fora de seu lugar, o objeto
se “esforçaria” para voltar a esse lugar. Uma pedra solta no ar caía porque era feita
principalmente do elemento terra, e quanto mais pesada a pedra, mais terra, e portanto
maior o “esforço” para voltar à terra, caindo mais rápido. A exceção eram os corpos
celestes, que se constituíam de um quinto elemento, a “quintessência”, e seguiam leis
próprias.
Pouco tempo depois de Galileu, Newton formulou uma série princípios matemáticos para a
Física, como explicitado no título da já mencionada obra fundamental Principia
Mathematica Naturalis Philosophiae (Princípios Matemáticos da Filosofia Natural). Entre
as diversas contribuições de Newton, está a Teoria da Gravitação Universal, que mostra
que a mesma força que faz uma pedra cair também mantém os planetas em suas órbitas,
unificando, por assim dizer, as leis que regem “o céu e a terra”.
A Física Clássica, ou Newtoniana, dominou a cena até o início do século 19, quando duas
novas revoluções, a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica, foram introduzidas para
explicar certos princípios que escapavam à análise clássica, embora essa ainda seja
suficientemente adequada para explicar a maior parte dos fenômenos cotidianos.
1.4 MEDIDAS
Para escrever esses números de uma forma mais palatável, concisa e padronizada,
utilizamos potências de 10. Por exemplo:
1.4.2 Grandezas
Grandeza: é tudo que pode ser medido. Ex.: comprimento, massa, tempo, força, energia.
Medir: atribuir valor numérico e unidade a uma grandeza.
Unidades não-SI
- Unidades “toleradas” pelo SI: múltiplos de unidades SI usados no cotidiano. Ex.: hora
(1h=3600 s), are (a = 100 m²), litro (L = dm³).
- Unidades de outros sistemas: ex.: sistema britânico ou imperial. Ex.: pé (ft), “libra” (libra-
força por polegada quadrada, lbf/in² ou psi).
Prefixos: são colocados antes das unidades, agindo como multiplicadores, e são
associados a potências de 10.
Potência
Número bilhão milhão mil cem dez um décimo centésimo milésimo milionésimo bilionésimo
Prefixo giga mega kilo hecto deca - deci centi mili micro nano
símbolo G M k h da d c m n
Já fórmulas de proporção são “iguais” dos dois lados da igualdade, pois as mesmas
grandezas estão sendo multiplicadas e divididas, tipicamente identificadas por índices (1,
2) que identificam duas situações ou objetos diferentes. Ex.:
Saber com que tipo de fórmula se está lidando pode ajudar principalmente no trato com as
unidades. Nas fórmulas de proporção, basta cuidar para que as mesmas grandezas tenham
a mesma unidade. Por exemplo, na fórmula , poderíamos colocar as massas
em gramas e as velocidades em km/h ou mph, sem problema, desde que todas as massas
usem a mesma unidade.
Já nas fórmulas de definição, deve-se ter um cuidado maior, pois as unidades devem ser
consistentes entre si. Por exemplo, na fórmula , se a massa por dada em kg e a
densidade em kg/m³, o volume estará em m³. Se a densidade estivesse em g/cm³,
deveríamos, por exemplo, converter a massa para g. Na dúvida, recomenda-se utilizar as
unidades do SI.