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CIÊNCIA

Texto base, em caráter preliminar e de introdução ao melhor entendimento deste conceito e de seu papel no
desenvolvimento da sociedade humana. Destinado aos alunos do Ensino médio, cursistas da disciplina “Iniciação
Científica”.
Autoria: prof. Raymundo – professor das disciplinas de Iniciação Científica e de Física do CMLEM-VC, ano de 2020.

Breve histórico, com sucinta proposta de conceituação:


Observação: embora mais voltado às Ciências da Natureza emais especificamente à Física, a maior parte das ideias
aqui abordadas se aplicam à Ciência, como um todo.

A Ciência adquire o status de verdade simultâneamente ao aparecimento do capitalismo. Com o fim da idade média,
ascensão da burguesia comercial e início da revolução industrial, a ciência foi vista e utilizada pelos capitalistas como
suporte necessário aos grandes empreendimentos, sejam as navegações marítimas que possibilitaram a abertura de
novas rotas comerciais e o descobrimento do novo mundo, seja no estabelecimento de indústrias com máquinas
modernas a produzir artefatos industriais que, para seu desenvolvimento, também requeriam o emprego maciço de
conhecimentos científicos adaptados à manufatura.
Um dos fundamentos chave da Ciência é a experimentação como base do desenvolvimento de teorias científicas,
inclusive como instrumento de comprovação do valor científico das hipóteses inicialmente formuladas para
explicação e predição de fenômenos naturais. A utilização de recursos matemáticos, sobretudo nas Ciências Físicas e
da Natureza, como um todo, mediante modelos desenvolvidos para quantificação dos fenômenos, exprimindo-os
em números associados a grandezas pré-estabelecidas é outra das características marcantes do método científico.
A coleta de dados mediante observação criteriosa dos fenômenos, durante as experimentações, ainda que
fundamental, não resume toda a atividade científica, que vai muito além disso. A disponibilização de dados
confiáveis constitui-se em subsídio necessário ao desenvolvimento de hipóteses e teorias científicas que, uma vez
formuladas, requerem, para sua comprovação, novas coletas de dados. Portanto, tal procedimento é um dos
estágios imprescindíveis ao desenvolvimento racional dos trabalhos científicos, embora estes requeiram, para serem
aceitos como tal, de outros atributos fundamentais que lhes assegurem valor científico.
A observação é um dos principais pilares do moderno pensamento científico. Entretanto, conforme o texto expõe, a
observação já era praticada pelos antigos precursores da ciência, embora sem o rigor científico atual. Francis Bacon
critica muito mais a realização de observações sem critérios e atreladas a interesses pré-estabelecidos pelos grupos
humanos dominantes que propriamente a falta de observação. A partir de Galileu Galilei, principalmente, a ciência
moderna passa a praticar a observação com uma preocupação mais voltada para a eliminação de qualidades
atribuídas, no passado, aos objetos e fenômenos, decorrentes de mistificações e idéias préconcebidas entranhas ao
legítimo pensamento científico.
Galileu foi o primeiro homem a promover de forma clara a fusão entre o racionalismo e a experimentação,
estabelecendo as bases de funcionamento da ciência moderna e do denominado “Método Científico”. Este novo
método experimental-matemático pode ser descrito resumidamente da seguinte forma: a) Observação dos
fenômenos em questão; b) Formulação de hipóteses que expliquem os fenômenos observados com a utilização,
inclusive, de relações matemáticas que os quantifiquem; c) Avaliação das consequências e efeitos possíveis de tais
formulações; d) Verificação das influências das variações nos parâmetros adotados para descrição dos fenômenos,
mediante continuadas observações; e) Comprovação ou rejeição das hipóteses formuladas inicialmente.
Os opositores que Galileu tinha, nos primórdios do desenvolvimento da Ciência moderna, tinham, como concepção
de universo, idéias herdadas dos antigos filósofos gregos, sobretudo Aristóteles, adaptadas pela teologia católica.
Essa concepção de mundo atribuía propriedades diferenciadas aos fenômenos e objetos celestes em relação aos
terrestres, como resultado de especulações e idéias preconcebidas. Por outro lado, a revolução do pensamento
científico, que teve em Galileu um de seus principais expoentes, propõe uma concepção de universo em que o

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espaço é um todo homogêneo, com características e leis naturais que regem os fenômenos físicos em todas as suas
instâncias, na terra e também nos céus, configurando, assim, a perfeição de mundo, passível de ser demonstrada
com aplicação da matemática.
Para Descartes o conhecimento e a verdade podem ser acessados, basicamente, através da intuição e da dedução.
Por intuição ele entendia a concepção íntima e inata que um indivíduo faz de coisas e idéias, destituídas de atributos
que derivem de processos mentais como a imaginação e a superstição. Já com relação à dedução, Descartes a via
como uma forma confiável de vincular o conhecimento a outras verdades científicas, possibilitando a estas serem
reconhecidas dessa maneira pelos homens sábios. Conforme esse teórico, a relação entre o conhecimento certo e
pré-existente e a verdade em processo de afirmação é um meio de validar, racionalmente, idéias que não
apresentem evidências claras de certeza em si mesmas.
Outro grande pensador dessa época de “redefinição” da Ciência, Francis Bacon, propugnava que a experiência
poderia propiciar meios de utilização dos conhecimentos científicos para “manipular” fenômenos naturais com o
objetivo de agregar facilidades e comodidades à vida dos seres humanos. Tais possibilidades poderiam ser
viabilizadas a partir do domínio das condições de ocorrência de determinados eventos na natureza. A expressão
“saber é poder”, de Francis Bacon, faz referência à potencial utilização dos conhecimentos desenvolvidos pela
ciência para a conquista de vantagens financeiras e de poder para os grupos humanos que porventura os detenha
(os conhecimentos) e saiba aplicá-los em proveito próprio.
Já Isaac Newton só considera como conhecimento verdadeiramente científico aquele que pode ser deduzido dos
fenômenos naturais. Tudo mais que não puder ser constatado através da experimentação criteriosa, como as
denominadas qualidades ocultas, são descartados por ele como portadores de qualquer valor científico. Esse
destacado cientista seguiu o caminho da exclusão da metafísica (pesquisar o significado deste termo), bem como de
tudo que ele classificou como hipóteses (não provenientes da observação dos fenômenos), na construção de sua
renomada obra científica. Newton recomendou a estrita observância aos princípios defendidos pelos empiristas,
sobretudo o de que a origem do conhecimento científico está na observação atenta e criteriosa dos fenômenos, a
serem descritos, quanto às suas causas e efeitos, mediante o uso do instrumental matemático correto. Segundo
esse famoso cientista as situações particulares, após minuciosa e rigorosa análise dos fenômenos envolvidos,
poderão ter suas descrições estendidas, pelo processo científico da indução, às situações mais gerais. Para Newton o
universo é passível de ser compreendido através da observação sistemática dos fenômenos explicados pela
interpretação racional de suas causas e efeitos, constatados a partir de observações minuciosas.

Três perguntas (dentre inúmeras outras possíveis) e respostas possíveis acerca do tema “Ciência” e seu
desenvolvimento.

- Por que para muitos o grande aporte da ciência moderna (de Galileu e outros) foi a introducão da observação? É
possível concordar com ela? Que exemplos históricos mais remotos podem reforçar a resposta?
A observação é um dos principais pilares do moderno pensamento científico. Entretanto, a observação já era
praticada pelos antigos precursores da ciência, embora sem o rigor científico atual. Francis Bacon critica muito mais
a realização de observações sem critérios e atreladas a interesses pré-estabelecidos pelos grupos humanos
dominantes que propriamente a falta de observação. A partir de Galileu Galilei, principalmente, a ciência moderna
passa a praticar a observação com uma preocupação mais voltada para a eliminação de qualidades atribuídas, no
passado, aos objetos e fenômenos, decorrentes de mistificações e idéias préconcebidas incompatíveis com o
legítimo pensamento científico. Como exemplos de observações científicas que corroboram essa nova visão da
ciência para a atividade de observação, podem ser mencionados: a observação dos satélites de Júpiter, através de
telescópio, por Galileu; a queda de objetos, também estudada por Galileu; as órbitas dos planetas em torno do sol,
também estudada por Johannes Kepler; a distinção, feita por Galileu, entre dois tipos de qualidades observáveis nos
corpos (primárias e secundárias); a revolução heliocêntrica, proposta por Copérnico, para explicar o movimento dos
corpos celestes, todos supostamente em torno do sol, a partir de observações mais minuciosas que as
anteriormente realizadas.

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- Qual foi a contribuição de Galieleu para a formação da ciência moderna? Ele merece ser considerado como “pai” da
ciência moderna?
Principalmente a partir de Galileu, a ciência adquiriu caráter de maior racionalidade, como atividade humana que
visa explicar fenômenos naturais e predizer efeitos. Ao enunciar o princípio da autonomia da ciência, Galileu
assevera que a ciência é possuidora de valor próprio para identificar as verdades e que não precisa nem deve ser
submetida à aprovação de autoridade exterior para a validação de seus resultados. Ele defende o uso do método
científico como a maneira mais racional de se chegar às verdades que digam respeito ao mundo físico, tanto do
ponto de vista terrestre, quanto celeste. Para Galileu, a natureza é constituída de sistemas simples e ordenados, que
seguem procedimentos regulares, sujeitos a leis naturais e precisas que não podem ser transgredidas pela simples
vontade humana, ditada por interesses estranhos ao curso natural das coisas. Ao propor o princípio da simplicidade
da natureza, ele defende essas idéias afirmando que “a natureza não faz por muitos meios o que pode ser feito por
poucos”. Além disso, Galileu também propôs utilizar de forma clara e pioneira o “moderno método científico”,
alicerçado na experimentação criteriosa e no uso da matemática para expressar as leis naturais que regem os
fenômenos e eventos que ocorrem na natureza, sempre em busca das regularidades, como propriedades universais,
em situações particulares. Tais proposições e realizações justificam, a meu ver, o título de “pai” da ciência moderna,
conferido pelos cientistas de hoje, a Galileu Galilei.

- O que são leis da natureza no contexto da nova ciência de Galileu?


Leis da natureza são todos os conceitos e explicações científicas que descrevem os fenômenos, geralmente, mas
nem sempre, mediante o uso de relações matemáticas, e que visam evidenciar as regularidades observadas em
fenômenos particulares. Tais leis relacionam os aspectos comuns observáveis em fenômenos naturais
aparentemente possuidores de características distintas.

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